Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Um jornal dos trabalhadores na luta pelo socialismo|Brasil, setembro de 2021, nº 242, ano 21 |R$ 2,00 www.averdade.org.br FORA BOLSONARO Pátria do genocida é �ilhos comPátria do genocida é �ilhos com mansões e povo com fomemansões e povo com fome Pátria do genocida é �ilhos com mansões e povo com fome Enquanto 14 mil famílias são despejadas no Brasil, três filhos do presidente compram mansões em Brasília. Essa é a pátria amada que o fascista, os partidos do Centrão e os generais defendem: 19,1 milhões vivendo na extrema pobreza e 42 bilio- nários aumentando suas fortunas diariamente. Páginas 2, 3 e 8 Governo quer acabar com direito de férias Página 6 Bispo Dom Vicente Ferreira: a opção pelos pobres é uma questão de fé Página 5 Página 12 MEC ignora centenário do maior educador do Brasil Jorge Ferreira Arquivo JAV/RJ Família da Ocupação Devanir José de Carvalho, em Diadema (SP). Tiveram que ocupar terreno abandonado para conquistar direito à moradia 2 BRASIL End.: Rua Carneiro Vilela, nº 138, 1º andar, Espinheiro, Recife, Pernambuco, Brasil, CEP: 52.050-030 - Telefones: (81) 3427-9367 e 3031-6445 - E-mail: contato@averdade.org.br - Diretor de Redação: Luiz A. Falcão, Projeto gráfico: Guita Kozmhinsky, Jornalista Responsável: Rafael Freire (MTE-PB: 2.570) - Sucursais: SP: (11) 5918-9579, RJ: (21) 98083-4994, MG: (31) 97592-0130 e 99133-0983, BA: (71) 99373-4921 e 9 (75) 99170-3514, SE: (79) 99977-6769, AL: (82) 99660-5667 e 99832-5747, PB: (83) 99900-9050, RN , CE: (85) 98549-9667 e 99759-2295, PI: (86) 9988-9914, PA: (91) 98130-3117,: (84) 99688-4375 AM: (92) 98222-3265, RS: (51) 98197-0054 e 98156-5063, PR: (41) 99233-3111, SC: (48) 99822-2216, GO: (62) 98257-3427 e 98154-0530, MT: (65) 98138-0811, DF: (61) 98226-2706 Setembro de 2021 FRASE DO MÊS A plenária debateu ainda a importância do crescimento or- gânico dos núcleos da Unidade Popular em Caruaru e região, e a expansão com novos filia- dos, pois o momento reafirma a necessidade cada vez maior de uma alternativa verdadeira- mente comprometida com as lutas do povo e que não conci- lie com a política entreguista e neoliberal. Militantes da Unidade Po- pular (UP) em Caruaru estive- ram reunidos em plenária mu- nicipal para debater a constru- ção do partido na cidade e as lu- tas populares. O evento se ini- ciou às 19h, no auditório do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sintra- con) e o clima da militância en- toando palavras de ordem foi de muita combatividade e ani- mação. O objetivo da plenária foi discutir a situação atual do país, as lutas do povo pelo Fora Bol- sonaro e as novas tarefas de or- ganização para o avanço do partido na região do Agreste Pernambucano. A presidenta do Diretório Municipal fez uma saudação aos presentes com um apanhado histórico da construção da UP, apresenta- ção da linha política e desta- cando a participação dos movi- mentos sociais e de todas/os que apoiaram essa construção no país. A atividade contou com a participação da presidenta mu- nicipal da UP, a professora Va- léria Pires; Iany Morais, da União da Juventude Rebelião; Rafael Wanderley, advogado, militante do Movimento Luta de Classes; e Samuel Timóteo, dirigente do Sintracon; além de militantes do Sindlimp, o Movimento de Mulheres Olga Benario, da UJR, da UESC e do MLC. Nossa principal tarefa é, assim, organizar em cada can- to um partido político sólido e cada vez mais combativo, e que possa enfrentar essa políti- ca neoliberal que tem como ob- jetivo acabar com os sonhos, com os serviços públicos e as políticas públicas sociais que foram conquistadas pelo povo pobre e trabalhador do nosso país! Lene Correia Caruaru (PE) denunciam violência Brigadas de A Verdade Mariane Vincenzi Rio de Janeiro O Jacarezinho é uma co- munidade com uma história muito rica. O local primeira- mente funcionou como um quilombo, que abrigou escra- vos que queriam fugir dos en- genhos próximos. Eventual- mente se expandiu e virou mo- radia para os trabalhadores das indústrias que se estabele- ciam pela região. Há famílias que moram há gerações no lo- cal. Além disso, a favela tem uma história de resistência e organização política durante a ditadura muito forte. Em julho, foram arreca- dados 14 kg de alimento e ven- didos 35 jornais. Já na segun- da brigada, realizada no mês de agosto, foram vendidos 30 jornais e arrecadados 21 kg de alimento. “É um local de mui- ta solidariedade. O povo que mora aqui entende a dificulda- de, entende o que é faltar arroz e feijão, por isso as pessoas do- am, são muito solícitas, mes- mo com famílias grandes, che- ias de criança, filhos e netos para cuidar”, relata Mayla, mi- litante da UJR e ex-moradora do Jacarezinho. Nos últimos dois meses, os militantes da Unidade Po- pular (UP) e da União da Ju- ventude Rebelião (UJR) do Rio de Janeiro realizaram du- as brigadas do jornal A Verda- de, junto com arrecadações porta-em-porta de alimentos para as campanhas de solida- riedade do MLB, na favela do Jacarezinho, na Zona Norte, palco da maior chacina reali- zada pela polícia militar na his- tória. Christian, militante da Unidade Popular presente na brigada, acredita que “é muito importante fazer brigada nes- ses locais. As pessoas nem sempre têm dinheiro para com- prar o jornal, mas o contato com a população é fundamen- tal para entender a realidade do nosso povo”. Ao andar pelo local, per- cebe-se logo a grande insatis- fação com a realidade atual e com o governo genocida de Bolsonaro. O interesse pelo jornal A Verdade é grande por- que o conteúdo apresentado conversa diretamente com a realidade daquele lugar. As pessoas sabem qual o papel do Estado na violência que eles sofrem no dia a dia, entendem a ação da milícia nesses locais e sabem a relação dela com o presidente, veem todos os dias como a elite fica cada vez ma- is rica e a situação do povo po- bre não melhora. Ao verem is- so escrito no jornal, desper- tam o interesse em debater e conversar. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 28/08/2021 “Os mais pobres consomem menos do que os mais ricos. Mas a in�lação das famílias mais pobres é maior do que a in�lação das famílias mais ricas.” Unidade Popular realiza plenária em Caruaru Em Maceió, era feriado, mas, mesmo assim, as lide- ranças do MLB visitaram 100 residências no Vale do Regi- naldo e realizaram uma mobi- lização na comunidade entre- gando o panfleto nacional e convocando os moradores pa- ra cobrar cestas básicas na Se- cretaria de Assistência Social do Estado. As famílias da Ocupação Carlos Marighella, em Salva- dor, foram à Secretaria de Pro- moção Social e Combate à Po- breza e conquistaram 280 ces- tas básicas. Em Belém do Pará, deze- nas de famílias se concentra- ram na frente da Fundação Pa- pa João XXIII (Secretaria Mu- nicipal de Assistência Social). Depois de muita pressão, uma comissão do movimento foi recebida para apresentar as re- ivindicações. “Nossos filhos estão passando fome e o que nos resta é a luta”, afirmou Valderez Cardoso, moradora do bairro da Maracangalha. Ao final, conseguiram garan- tir da Funpapa 200 cestas bási- cas até o dia 18 de setembro. Já no Sul do país, em fren- te ao Mercado Público de Flo- rianópolis, os militantes do MLB distribuíram panfletos, realizaram brigada do jornal A Verdade e utilizaram a cai- xa de som para conscientizar as pessoas sobre a causa da ca- restia, da fome e da miséria vi- vidas. Em Belo Horizonte, o MLB conquistou três vitórias na ocupação da Conab: cestas básicas para as famílias que participaram da atividade; uma ação emergencial para envio de alimentos da agri- cultura familiar do interior de Minas Gerais para as ocupa- ções urbanas da Capital. Os coordenadores nacio- nais do MLB Kleber Santos (PE) e Poliana Souza (MG) resumiram a jornada da se- guinte maneira: “Realizamos este ato ho- je para denunciar a situação crítica que nosso povo tem vi- vido e apontar a urgente ne- cessidadede derrubada do go- verno federal. Paulo Guedes, com sua política antipovo, não se importa com o descon- trole da economia, com o au- mento exacerbado dos pre- ços, com a alta das contas de energia. Enquanto isso, mi- lhões de brasileiros não têm onde morar, o que comer e on- de trabalhar. A situação é difí- cil e, por isso, devemos nos mobilizar contra essa política da fome e do desemprego”. Para João Batista, coor- denador do MLB no estado, “o ato de hoje mostrou que só com pressão popular seremos ouvidos. Já cansamos de espe- rar por promessas e viemos buscar nossa alimentação pa- ra passar o mês de setembro. Mas, pagando aluguel caro e sofrendo com o botijão de gás a R$ 100, com um aumento de 56% no preço do arroz, de 35% na carne, nós precisa- mos de moradia digna para não passar fome e ter um teto para dormir”. Em Fortaleza, o movi- mento solicitou 100 cestas bá- sicas e comida para 30 crian- ças da Ocupação Dragão do Mar e foram recebidos pelo su- perintende da Conab, que afir- mou o compromisso de aju- dar. “Como podemos viver com R$ 375,00 do auxílio? Nossas crianças estão passan- do fome, tendo apenas duas refeições ao dia. Se não fosse a, estávamos pedindo comida na rua”, declarou Carlos Xavi- er, da Coordenação do MLB. Queops Damasceno, Coord. Nacional do MLB Em João Pessoa, na Paraí- ba, a ação aconteceu no Cen- tro Administrativo Munici- pal. Cerca de 70 famílias ocu- param o gabinete do prefeito reivindicando 400 cestas bási- cas e abertura de um canal per- manente sobre a política habi- tacional da Prefeitura. Uma comissão foi atendida pelo se- cretário de Gestão Governa- mental e pela secretária de Ha- bitação, que garantiram ces- tas básicas para as famílias presentes ao ato, além de ou- tras reuniões para tratar sobre todas as demandas. A militância do MLB na Região Metropolitana de Reci- fe se concentrou na sede da Ceasa, na Capital, com mais de 400 pessoas, e foi dura- mente reprimida pela vigilân- cia terceirizada do local. Com- panheiros da direção do movi- mento foram agredidos com socos e várias pessoas do mo- vimento sofreram com casse- tetes e spray de pimenta, in- clusive nas crianças. Depois de todo esse embate, as famí- lias conquistaram cestas bási- cas e foi feito um ato político em frente à Ceasa para denun- ciar a truculência, as mazelas da sociedade capitalista e o go- verno do fascista Bolsonaro. Também conquistando reunião, no Rio de Janeiro, o MLB organizou manifesta- ções na capital, Campos e Ma- caé. Cerca de 80 famílias ca- minharam da Conab até o pré- dio da Ocupação João Cândi- do, no Centro do Rio, entoan- do palavras de ordem como “Por alimento, não tenho me- do! Viva João Cândido, o Almirante Negro”. A marcha dos sem-teto em Natal, no Rio Grande do Norte, reuniu centenas de fa- mílias das Ocupações Emma- nuel Bezerra, Valdete Guerra e Margarida Maria Alves e se encerrou com a entrega de uma carta com as pautas do movimento na Prefeitura de Natal e na Assembleia Legis- lativa, onde será encaminha- da uma audiência pública so- bre a questão. No Brasil, são quase 600 mil brasileiros e brasileiras que morreram vítimas da Co- vid-19, mais de 30 milhões de pessoas abaixo da linha da po- breza e mais de 125 milhões vivendo com insegurança ali- mentar, mesmo o país sendo um dos principais produtores e exportadores de grãos e car- ne no mundo. Além disso, há um crescente e insustentável aumento dos preços de itens básicos do cotidiano, como os alimentos, o gás de cozinha e o combustível. Em meio a essa situação, em São Paulo, 60 famílias do MLB se organizaram e leva- ram suas panelas vazias para sede regional da Conab e fize- ram bastante agitação com ca- ixa de som, jornal A Verdade e panfletos. A superintenden- te da Companhia recebeu as famílias e agendou uma reu- nião para negociar uma quan- tidade de cestas básicas a se- rem disponibilizadas para o movimento. O Movimento de Lu- ta nos Bairros, Vi- l a s e F a v e l a s (MLB) realizou, no dia 27 de agosto, a Jornada Nacional de Luta Con- tra a Fome e a Carestia. Nas principais capitais do país, o movimento ocupou as sedes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), bem como gabinetes e secretarias de prefeituras para reivindicar o fornecimento de alimentos para o povo pobre e denunciar a política de miséria e desem- prego do Governo Bolsonaro. �MLB ocupa Conab e reivindica alimentos para os pobres Jornada do MLB contra a fome no Rio de Janeiro JAV/RJ 3BRASIL Setembro de 2021 Pátria não é povo passando fome e trabalhadores sem direitos Na educação, o fascista quer acabar com as cotas para os negros, os quilombolas e os indígenas, mas defende o pri- vilégio de sua “filhota” entrar no Colégio Militar sem fazer sequer um teste. Na pátria do governo fas- cista, o verde e o amarelo da nossa bandeira são usados pa- ra esconder a subserviência aos Estados Unidos e o enri- quecimento de uma minoria de exploradores do povo. Veja- mos: de março a junho deste ano, um seleto grupo de pes- soas – 42 bilionários – aumen- taram suas fortunas em R$ 34 bilhões e 1% da população mais rica detém metade de toda a ri- queza do Brasil, mostram o re- latório da Riqueza Global e a Oxfam. O banqueiro Paulo Gue- des, atual ministro da Econo- mia, aumenta os juros para os donos das empresas de car- tões de crédito esfolarem o po- vo e declara que “não adianta chorar, que não há problema em pagar uma conta de ener- gia mais cara”. É um hipócri- ta, pois a conta de energia on- de mora é paga pelo povo. Ademais, o povo está sem di- nheiro para comprar feijão e pagar aluguel, como vai con- seguir reservar mais dinheiro para novos reajustes na ener- gia elétrica? Alguns se perguntam co- mo um governo pode ser tão ir- responsável e incapaz? O obje- tivo do fascista (e de sua milí- cia) é mergulhar a nação no ca- os para se apresentar como sal- vador e se tornar o Hitler do Brasil. Os generais, almirantes e brigadeiros são cumplices des- se genocídio e da destruição da nação brasileira. Só se preo- cupam com os polpudos salá- rios dos seis mil cargos que ocupam, com as mordomias e as safadezas de Brasília. A es- sa conivência com a corrup- ção e com o autoritarismo defi- nem como respeito às quatro linhas da Constituição. Hoje, 19,1 milhões de pes- soas vivem na extrema- pobreza e 61 milhões na po- breza, revela estudo da Uni- versidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pois bem, uma pessoa com fome, mesmo vacinada, tem imuni- dade baixa e está vulnerável a qualquer vírus. Juraram nos seus meios de comunicação que com as reformas da Previdência e Tra- balhista, que retiraram vários direitos dos trabalhadores, a si- tuação iria melhorar, teríamos mais empregos e melhores sa- lários. Mentiram descarada- mente! A verdade: nenhum tra- balhador consegue mais se aposentar no Brasil e o salário é tão baixo que o preço de uma cesta básica consome mais de 55% do atual salário mínimo. Não bastasse, apro- vam outra reforma para retirar mais direitos dos trabalhado- res e tornar ainda mais precá- rias as condições de vida e de trabalho da classe operária. Essas injustiças eles cha- mam de pátria amada! Na pátria dos fascistas, a Amazônia, maior floresta do mundo, é queimada para virar pasto para os reis do gado ou para as grandes madeireiras roubarem nossas árvores e as mineradoras internacionais, nossos minérios. Pátria não é roubar os direi- tos dos trabalhadores e deixar centenas de milhares de pes- soas sem vacina para fazer ne- gociatas e cobrar comissões da Covaxin e da Pfizer e su- perfaturar máscaras e cloro- quina. Entretanto, três filhos do presidente da República com- praram mansões. Flávio Bol- sonaro adquiriu uma luxuosa residência no Lago Sul de Bra- sília por R$ 6 milhões. Sua no- va residência tem quatro suí- tes, hidromassagem, piscina, pisos revestidos de mármores, academia, spa e espaço gour- met. Já o Jair Renan não quisficar atrás e se mudou para uma imensa mansão no Lago Sul, avaliada em R$ 3,2 mi- lhões, com 1.200 metros qua- drados, dois pisos e quatro suí- tes. Um terceiro filho, Carlos Bolsonaro, comprou um luxu- oso apartamento também em Brasília por R$ 470 mil e pa- gou à vista. O pai desses riqui- nhos mora no Palácio da Alvo- rada, não paga aluguel, faz churrasco com picanha de R$ 1.500 o quilo e passeia nas praias do litoral paulista e de Santa Catarina, tudo à custa dos cofres públicos. Uma pátria com o litro da gasolina custando R$ 7,00; o botijão de gás mais de R$ 100 e aumentos constantes na con- ta de luz e nos preços dos ali- mentos. Pátria não é uma minoria de ricos banqueiros assalta- rem os cofres públicos, gran- des empresários cobrarem pre- ços abusivos e trabalhadores com salários miseráveis ou de- sempregados. Uma pátria com 15 mi- lhões de pessoas desemprega- das e 25% da força de trabalho desalentada, subocupada ou sem emprego. Pátria não é reduzir o va- lor do auxílio emergencial pa- ra garantir subsídios e juros pa- ra os especuladores. Pátria é defender o patri- mônio público, e não dilapi- dá-lo, como faz hoje esse go- verno entreguista com os Cor- reios, a Eletrobrás e a Petro- bras. Pátria é defender o direito dos que trabalham, e não dos exploradores. Não bastasse, 14.301 fa- mílias foram despejadas por não terem dinheiro para pagar o aluguel, estão morando nas ruas como bichos sem dono. A burguesia, uma minoria de super-ricos que vivem da exploração do trabalhador bra- sileiro, dos imensos lucros com a exportação do agrone- gócio e da venda das riquezas do país, diz que ama o Brasil, mas o que adoram é o dinhei- ro, o lucro acima da vida. A soberania nacional dos fascistas é uma ilusão, pois o presidente e seus filhos cho- ram diante da bandeira dos Estados Unidos. A Ford fe- chou a fábrica no Brasil, demi- tiu cinco mil operários, dei- xou milhares de famílias de- samparadas e o presidente, em vez de defender os interes- ses nacionais, declarou que o mercado era soberano. Diante do apagão, a or- dem e o progresso que defen- dem é apagar a luz e acender um candeeiro ou lampião. exploração capitalista O que é pátria? Pátria não é massacrar o povo, impor uma ditadura e distribuir ministérios e bi- lhões do Orçamento para os partidos do Centrão. Nessa pátria fascista, a in- dústria nacional é destruída, a ciência abandonada e a cultura incendiada, como evidenciou a cinemateca em São Paulo e o Museu Nacional no Rio de Ja- neiro. Do outro lado, 6 em cada 10 famílias brasileiras vivem em insegurança alimentar, o que quer dizer que não têm o que comer todos os dias. Des- de que o ex-capitão (expulso do Exército em 1988) assu- miu a presidência do país, a pobreza e a miséria não param de crescer. Ditadura para defender Pátria é garantir a sobre- vivência dos pobres, e não massacrá-los, jogá-los no de- sespero. Pátria é emprego, salário digno, comida, cultura, saúde e educação. Pátria é vida, e não geno- cídio, é democracia, e não dita- dura. Pátria é toda família ter di- reito de morar dignamente, e não os filhos do presidente comprando mansões. A Pátria é do povo, e não de uma família que faz racha- dinhas e quer vender o Brasil ao capital privado nacional e estrangeiro. Pátria é o poder do povo, e não de uma minoria de ricos! Lula Falcão é membro do Comitê Central do PCR O genocida, os deputa-dos e senadores do Centrão e os generais fascistas enchem a boca e gri- tam: “Pátria amada”. Mas que Pátria é essa que defendem? Os serviços públicos, co- mo tudo na sociedade, são fru- to do trabalho e dos impostos da classe trabalhadora. É um direito de todos(as). Por isso, a luta contra a Reforma Admi- nistrativa é uma luta de to- dos(as) que desejam garantir seus direitos a serviços públi- cos de qualidade na saúde, na educação, no transporte, e ver os impostos que são pa- gos pelos trabalhadores se re- verterem na construção de uma vida melhor para o povo. Os ricos, donos das em- presas privadas, dos planos privados, dos colégios parti- culares, das grandes constru- toras, que vivem em suas mansões, muitos fora do Bra- sil, não precisam de serviços públicos. Pelo contrário, eles querem mais é abocanhar os mercados abertos com as pri- vatizações e a extinção de ser- viços públicos. Para a classe trabalhadora só resta o cami- nho da luta por seu direito de ter serviços de qualidade e, dessa maneira, garantir uma vida digna para suas famílias. Por isso, hoje, derrotar a Re- forma Administrativa (PEC 32), com a unidade e a mobi- lização dos trabalhadores dos setores públicos e privados, é uma tarefa fundamental. Com a velha falácia usa- da por governos anteriores de “modernizar” o Estado e tor- ná-lo mais eficiente, o Gover- no Bolsonaro/Guedes quer aprofundar a política de pri- vatizações e repasse de di- nheiro público para o setor privado. Essa tal moderniza- ção, que pretende extinção de órgãos públicos, precariza- ção dos serviços, retirada de direitos dos servidores, redu- ção salarial, fim da estabili- dade, entre outras propostas, só interessa àqueles que que- rem entregar de vez o país e suas riquezas aos financistas e aos monopólios nacionais e internacionais. Expressões como “diminuição do Esta- do” e “mais eficiência da má- quina pública” só escondem a ganância daqueles que sem- pre usufruíram desse Estado para aumentar seus lucros e suas propriedades. Desde o começo do go- verno do fascista Jair Bolso- naro, a Constituição Cidadã de 1988, que teve uma ampla participação popular, vem sendo atacada pelos partidos de direita e pelas empresas privadas com o objetivo de derrotar as conquistas obti- das pela classe trabalhadora organizada. O Governo Bol- sonaro aprofundou esses ata- ques aos direitos dos traba- lhadores e trouxe enormes re- trocessos para o país. Prova disso foram as reformas tra- balhista e previdenciária, que retiraram direitos seculares da classe trabalhadora, extin- tos por um Congresso Nacio- nal reacionário e corrupto. Seguindo a política neo- liberal do ministro Guedes e dos banqueiros, Bolsonaro agora aponta seus canhões contra os servidores e os ser- viços públicos com a Refor- ma Administrativa (PEC 32), que significa um desmonte do Estado brasileiro maior do que aquele que presenciamos no governo de Fernando Hen- rique Cardoso (PSDB) com a ideia de “Estado mínimo”, “carreiras típicas de Estado”, que só geraram menos servi- ços públicos de qualidade e mais lucros para o setor pri- vado. Num momento de cala- midade sanitária, mesmo com o negacionismo crimi- noso e corrupto do Governo Bolsonaro, o Sistema Único de Saúde (SUS), criado pela Constituinte de 1988, pro- vou, mais uma vez, o quanto são necessários serviços pú- blicos de qualidade, com pro- fissionais bem pagos e com condições decentes de traba- lho. Nessa pandemia, o SUS foi responsável pelo trata- mento de mais de 70% dos do- entes da Covid-19. Reforma Administrativa piora serviço público Luiz Falcão Victor Madeira, RJ Jorge Ferreira Ato do MLB contra a cares�a e a fome em São Paulo A Verdade – Como é ser um parlamentar combativo em uma cidade conservadora co- mo Curitiba? Renato Freitas – Ah, é nadar contra a corrente, né? É bater de frente com os grandes em- presários, os donos do poder, as famílias tradicionais que há séculos comandam os des- tinos políticos da cidade. É ser uma persona non grata, ser um estranho no ninho, ser hostilizado em todos os espa- ços que você está. Por exem- plo, a Guarda Municipal me prendeu injustamente dias atrás. Na primeira sessão da Quantas vezes você já foi pre- so desde que se tornou par- lamentar? Por que você acha que a Guarda Munici- pal faz essas investidas con- tra você? Ocorreu duas vezes. Isso é, na verdade, a ponta de um ice- berg e a base dele é a minha própria constituição enquan- to um jovem negro de perife- ria. A ação policial, a violên- cia policial,construiu o meu olhar sobre a realidade. Mes- mo eu estando investido de uma função pública tão rele- vante como a de representan- te popular, a GM, que não é eleita, que não passa por ne- nhum critério mais rigoroso de concurso público, se achou no poder de esfregar li- teralmente meu rosto no chão, no meio da rua, na fren- te de todas as pessoas, sem motivo algum – por uma su- posta desobediência, desaca- to ou qualquer critério subje- tivo inventado na hora para justificar a ação.Câmara dos Vereadores após a prisão injusta, truculenta, violenta e racista da GM, o que foi feito? Homenagea- ram a Guarda. No outro dia, homenagearam a Polícia Mi- litar, dando o recado de que lado a Câmara de Vereadores de Curitiba está no meio de qualquer conflito entre mim e as forças de segurança públi- ca, por mais que eu tenha si- do vítima de uma injustiça. Para eles é isso: eu tenho que ser de algum modo elimina- do porque eu não tô favore- cendo o funcionamento da máquina. O momento que a gente tá vi- vendo no país é de acirramen- to das forças. A extrema direi- ta que tá hoje no poder repre- senta as milícias do Rio de Ja- neiro, que são o excesso da vi- olência policial organizado e naturalizado, talvez mais do que isso, a essência desse sis- tema, de direito penal subter- râneo, que é o do dia a dia que opera em base de tortura, fun- ciona desde que nós conhece- mos o direito penal, embora nunca tenha sido exatamente legal, é generalizado. Essa mi- lícia, essa força demasiada que o Estado usa para contro- lar as periferias, tomou o po- der nacional e declarou guerra a qualquer um que possa ser um empecilho para esse plano de hegemonia. Os movimen- tos sociais organizados são, com certeza, os protagonistas dessa resistência, junto com a Educação de forma geral, os inimigos do Estado. Olha aí o exemplo do Galo, que ficou todo esse tempo preso acusa- do de botar fogo numa está- tua, enquanto o próprio Mi- nistério do Meio Ambiente fa- vorece ações de desmatamen- to e de queimada ilegal. Isso é um absurdo, é uma despro- porcionalidade, é uma decla- ração aberta e expressa de guerra da elite brasileira mili- onária escravocrata à popula- ção pobre brasileira. Quais são as pautas que ori- entam seu trabalho como parlamentar? Um dos eixos principais do nosso mandato é moradia, en- tendida como um direito sem o qual os outros direitos não são exercidos. O direito à saú- de, por exemplo, depende de um endereço fixo da Unidade de Saúde mais próxima da sua casa, a educação do mesmo modo, se você não tem para- deiro, se você não tem uma ca- sa, se você está em condição de rua, não tem a menor con- dição de estar regularmente matriculado em um colégio. Sem a moradia adequada os outros direitos acabam sendo prejudicados. O terceiro eixo é a ques- tão de política econômica de emprego, que tem em vista a economia solidária, as coo- perativas, as cozinhas comu- nitárias, dentro das ocupa- ções urbanas, que é uma área de atuação nossa também. A gente acredita que é possível um arranjo econômico que dê conta com maior eficácia do emprego. Se não o pleno emprego, porque enquanto vereador do município isso está além da nossa possibili- dade, ao menos abreviar o mundo de organização eco- nômica que a gente quer em comunidades menores, como são as ocupações de Curitiba, fabricando sua própria moe- da, buscando a troca e a inte- gração dessas comunidades para que o dinheiro que elas produzem a partir do seu tra- balho circule principalmente entre elas mesmas, gerando renda e emprego. A gente ten- ta fazer isso a partir da econo- mia solidária. O segundo ponto é a segu- rança pública, entendendo que no país mais violento do mundo, um dos países mais desiguais do mundo e que tem uma das menores taxas de mo- bilidade social do mundo, as coisas só podem se manter nu- ma pretensa e superficial or- dem, numa paz jurídica, por- que o Estado promove subter- raneamente uma guerra con- tra os mais pobres. Como você vê a criminaliza- ção da luta social nesse mo- mento? 4 BRASILSetembro de 2021 ‘‘A elite brasileira é milionária e escravocrata’’ Renato Freitas apresenta-se como mais um jovem comum da periferia brasileira. Filho de mãe nordestina, seu pai, já falecido, foi mais uma vítima do sistema carcerário brasileiro. Atualmente, é mestre em Direito e vereador em Curitiba. Ele conversou com o jornal A Verdade sobre as prisões que sofreu e a criminalização das lutas sociais. Carolyne Melo (Paraná) Esta situação se agrava quando vemos o número de pessoas presas no Brasil. Se- gundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2005, a população carcerária era de 361 mil pessoas, já o levanta- mento feito pelo FBSP mos- trou que esse número saltou para 759.518, em 2020. Des- tes, mais de 30% são presos provisórios que sequer foram condenados. Além disso, es- tas prisões são caracterizadas por uma enorme violência; há nas instituições uma “natura- lização” das agressões, da vio- lência e da tortura, como parte da punição. Para se ter uma ide- ia, de agosto de 2018 a maio de 2019, segundo levantamento feito pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, 931 pessoas, ou três pessoas por dia, denunciaram terem si- do agredidas física ou psicolo- gicamente após a prisão. Des- ses, 82% eram pretos e pardos. Na edição de junho de 2021 do jornal A Verdade, pu- blicamos uma matéria sobre a origem do Exército, seu histó- rico golpista a serviço dos ri- cos e o papel das polícias na re- pressão ao povo pobre. Neste mês, falaremos um pouco so- bre os resultados dessa crimi- nalização que tem matado e en- carcerado cada vez mais pre- tos e pobres pelo país e qual de- ve ser o papel da esquerda nes- se cenário. Alguns dados nos provam essa denúncia: segundo o info- gráfico do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, produzido pelo Fórum Brasi- leiro de Segurança Pública (FBSP), que se baseia em in- formações fornecidas pelas se- cretarias de segurança públi- cas estaduais, pelas polícias civil, militar e federal, somen- te em 2020 a polícia matou 6.416 pessoas. Desses, 78,9% eram negros e 76,2% tinham entre 12 e 29 anos. Por isso, não é uma guerra necessariamente às drogas que o Estado e as Forças Arma- das fazem. Declararam, na ver- dade, uma guerra às pessoas que moram nas periferias, aos negros e pobres. Esta triste rea- lidade é bem exemplificada no trecho da música Periferia é periferia, do grupo de rap Ra- cionais MC's: “A droga chega de avião ou pelo porto e cais, não conheço pobre dono de ae- roporto e mais, fico triste por saber e ver, que quem morre no dia a dia é igual a eu e a vo- cê”. Além disso, um estudo ex- clusivo feito pelo Condege (entidade que reúne defenso- res públicos de todo país e a Defensoria Pública do Rio de Janeiro), no início deste ano, mostrou que o reconhecimen- to fotográfico que é por vezes utilizado como única prova pa- ra prender alguém, além de apresentar falhas, possui um alvo em comum: 83% dos pre- sos injustamente por reconhe- cimento fotográfico no Brasil são negros e pobres. Sobre isso, a pesquisado- ra e ativista Juliana Borges co- menta em seu livro O que é en- carceramento em massa: “[...] abolida a escravidão no país, como prática legalizada de hie- rarquização racial e social, ou- tros foram os mecanismos e aparatos que se constituíram e se reorganizaram [...] como forma de garantir controle so- cial, tendo como foco os gru- pos subalternizados estrutu- ralmente”. Vale dizer que a maior par- te dos presos o são por crimes patrimoniais (roubos e peque- nos furtos) e a outra parcela es- tá ligada à chamada guerra às drogas. Somado a isso, segun- do o CNJ, há mais de 300 mil mandados de prisão penden- tes de cumprimento em todo o país e, em sua maioria, pelos mesmos motivos dos que já es- tão presos. Como vemos, nes- tes dois casos, não são presos nem os bandidos de colarinho branco, que roubam milhões através da corrupção, nem os verdadeiros traficantesde dro- gas, que não moram nas fave- las (por exemplo, os donos dos helicópteros de cocaína). A base ideológica dessa guerra é o racismo, que é utili- zado como justificativa para todas essas atrocidades. Cri- ando, assim, um inimigo raci- almente construído, servindo à classe dominante como ins- trumento de imobilismo soci- al e de controle, pois proíbe a organização e a revolta de par- te da população. Por isso, es- ses dados revelam a importân- cia de aliar a luta antirracista à luta anticapitalista e a urgên- cia de se pensar um novo mo- delo de segurança pública. É tarefa da esquerda lutar contra todo esse processo e de- fender um outro modelo de se- gurança pública e de socieda- de, que tenha no centro os inte- resses da imensa maioria da população. Parte da sensação que as pessoas têm nas perife- rias de que todos os políticos são iguais, não se trata apenas de um distanciamento da polí- tica, mas do fato de que a situ- ação de vida nestes lugares pouco se modificou favora- velmente com o passar dos anos para a grande maioria que lá mora. Ou seja, saíram e entraram governos, mesmo os ditos de esquerda, e não ga- rantiram que a situação nas pe- riferias avançasse, apesar das promessas de mudanças e me- lhorias. E, quando falamos de segurança pública, temos um dos principais exemplos disso. Essa situação gera uma enorme descrença na possibi- lidade de mudança a favor do povo. Por isso, temos um tra- balho imenso, pois este senti- mento pode ser captado pelo fascismo (como vem aconte- cendo) ou pode ser captado pe- las reais forças populares e de esquerda, que precisam traba- lhar para transformar esta imensa indignação em mobi- lização e em lutas sociais de grande envergadura, que pos- sam alterar as estruturas soci- ais em nosso país. Ideias co- mo a de punição aos tortura- dores, desmilitarização das po- lícias militares e controle soci- al das forças armadas devem assumir grande espaço na pau- ta da esquerda, que deve ter a habilidade de traduzi-las e co- nectá-las às pautas da luta quo- tidiana do nosso povo. da Unidade Popular e Mariana Fernandes, Leonardo Péricles Racismo e repressão aos pobres JAV/PR Vereador Renato Freitas e Carolyne Melo A imprensa popular é um óti- mo caminho para combater- mos o latifúndio da comuni- cação que existe no Brasil. Os grandes meios de comu- nicação, geralmente, estão atrelados ao poder do capi- tal. E mostrarão aquilo que interessa a quem domina. Nesse sentido, o jornal A Verdade faz um bonito tra- balho de resistência porque mostra o “real”. Aquilo que, de fato, está acontecendo nas manifestações, nas ruas, no Brasil das minorias. A Verdade – Como o senhor analisa a situação política, econômica e social do Bra- sil atualmente? Esse assunto é muito sério. A manipulação de pautas re- ligiosas para justificar um poder, um governo é proble- mático. Sabemos que nossa fé não pode se omitir em rela- ção às questões políticas. No entanto, o que vemos? Grupos que, em nome de um suposto serviço a Deus, dis- seminam o ódio, apologias das armas, exclusão dos ma- is vulneráveis, degradação do meio ambiente. A qual Deus serve essa gente? Cer- tamente, não ao Deus de Je- sus Cristo. Portanto, em mui- tos casos, vemos uma visão equivocada de cristianismo, manipulando a boa vontade de nossa gente. Precisamos investir, e muito, numa for- mação bem fundamentada de nossos cristãos. Baseada na Palavra de Deus, que nos mostra Jesus Cristo sempre do lado das pessoas feridas. Nesse sentido, a opção pelos pobres é uma questão de fé. Qual é o maior mandamen- to? Amar a Deus e nossos ir- mãos. É triste ver, hoje, cris- tãos trocando o verbo amar por armar. O Cristianismo ou continua sendo uma pre- sença radical contra toda e qualquer violência ou ele se perderá. Somos seguidores de Jesus, o príncipe da paz, que matou toda a inimizade (Cfr. Ef 2,14). A força de transformação vem do povo. Não espere- mos mudanças substanciais dos que dominam, dos que acumulam dinheiro, das mul- tinacionais e das lideranças políticas que estão atreladas a elas. Esses já estão bem es- tabelecidos e não aceitarão cortes em suas ostentações. Nosso caminho, se quere- mos um futuro mais justo e solidário, defendendo uma Ecologia Integral, passa pe- la voz das minorias, dos mo- vimentos sociais, das agen- das de nossas comunidades indígenas, dos quilombolas, dos pequenos agricultores e produtores. O agronegócio e a mineração, por exemplo, estão a serviço de quem? Além das manifestações nas ruas, os setores populares precisam se organizar em re- des. Vejam que belo exem- plo os acampamentos dos povos indígenas em Brasí- lia, na busca firme pela de- marcação de suas terras e contra o Marco Temporal. Muito bem lembrada essa passagem bíblica. “Vós sois o sal da terra... vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13-14). No caso cristão, nossa voca- ção exige testemunho do Rei- no de Deus. Buscar a justiça e a paz significa denunciar tudo aquilo que está na con- tramão do Evangelho e pro- por alternativas de vida em abundância para todos. Tam- bém as outras religiões, cren- ças têm suas fontes de inspi- ração que ressaltam a sacra- lidade da vida. A Fratelli Tut- ti, Todos Irmãos, é um gran- de convite para que todas as religiões lutem pela cultura da amizade social e da fra- ternidade. Como fazer isso? As atitudes pessoais contam muito, mas numa sociedade tão poliédrica como a nossa, devemos participar, fortale- cer as redes democráticas, a beleza de ser comunidade que busca o bem comum. Ou seja, juntar nosso culto com o compromisso com as transformações sociais em todos os campos. São louvá- veis as iniciativas do Papa Francisco em construir, com os jovens do mundo inteiro, uma economia de Francisco e Clara, em buscar um pacto global pela educação, em exigir das lideranças inter- nacionais urgentes decisões em relação à conversão eco- lógica, como vemos na Lau- dato Sì. A Conferência Naci- onal dos Bispos do Brasil, CNBB, insiste no Pacto pela Vida e pelo Brasil. Ou seja, movimentos fortes estão acontecendo. Resta cada um de nós nos comprometer- mos, dar nosso testemunho na realidade na qual esta- mos inseridos. O senhor atua junto às co- munidades atingidas pela mineração, em especial, na região de Brumadinho, que sofre os efeitos do crime ocorrido em 2019. Qual a re- alidade dos atingidos hoje? A mineração tem um modo de operar muito violento em nossos territórios. Ela leva as riquezas e deixa, sobretu- do, com seus crimes, a natu- reza destruída e as comuni- dades desamparadas. É uma pena que Mariana e Bruma- dinho não “serviram” como exemplos para um modo di- ferente, capaz de mudar esse extrativismo que mata. Mui- to triste! A luta de quem re- siste chega à exaustão. Mui- tas vezes nossas lideranças adoecem, desiludidas por não verem resultados. O Go- verno de Minas Gerais, jun- tamente com as entidades de justiça, que deveriam estar do lado dos atingidos, fize- ram um acordo com a Vale, no caso de Brumadinho e, agora, o mesmo ocorrerá em Mariana. E isso é noticiado como grandes conquistas. No entanto, a gente sabe que as comunidades atingidas e o meio ambiente gritam por mudanças. Cremos, muito, na formação dos coletivos, nas associações dos familia- res, nos movimentos pela so- berania de nossos povos, etc. São instâncias de resistênci- as que não deixam a chama da memória das vítimas (19, em Mariana; 272, em Bru- madinho), da presença junto às comunidades e da profe- cia se apagarem diante da mi- nério-dependên-cia. Os tra- balhos da Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário, que abrange todo o Vale do Paraopeba, cuja sede está em Brumadinho, é um bom exemplo que vem da Arqui- diocese de Belo Horizonte. Como as igrejas e pessoas religiosas devem vivenciar sua fé e ser sal, fermento e luz? O acordo entre o governo de Minas Gerais e a Vale não traz nenhuma repara- ção, mas propicia a cons- trução do Rodoanel, que vai beneficiara própria mi- neradora. O que o senhor pensa dessa medida? Uma parte das pessoas reli- giosas votaram em Bolso- naro enganadas por um “discurso cristão”. O que o senhor pensa da necessida- de da igreja assumir a op- ção pelos pobres? Desde o primeiro momento que soubemos desse acordo, fomos radicalmente contra. Não se faz acordo a partir de um crime de uma multinaci- onal poderosíssima como a Vale. O que pedimos é justi- ça. Infelizmente o Estado tem se tornado cada vez mais subalterno aos interesses pri- vados. E esquece sua missão de proteger o povo e o meio ambiente. Vivemos um neo- colonialismo muito agressi- vo. É por isso que nosso futu- ro, no caso de Minas Gerais, vai se tornando cada vez ma- is obscuro. Minas tinha que banir a mineração, em nome da preservação de suas fon- tes hídricas, de suas belezas ecológicas, de suas tradições culturais e de fé, da agroeco- logia, etc. Enquanto essa mi- neração que está aí continuar mandando e desmandando, o que se abrirá serão bura- cos, no solo e no coração das pessoas. Nas recentes manifesta- ções que estão ocorrendo no Brasil, o jornal A Verda- de vem realizando cobertu- ra ao vivo dos atos. Como o senhor avalia o trabalho de uma imprensa popular pa- ra se contrapor aos grandes monopólios midiáticos? Qual deve ser o papel dos setores populares para su- perarmos este momento di- fícil? Dom Vicente Ferreira – Atravessamos uma crise mundial imposta pela pan- demia da Covid-19. Antes disso, já sabíamos dos inú- meros problemas socioam- bientais de uma globaliza- ção capitalista neoliberal que privilegia poucos gru- pos, deixando milhões de pessoas em situações vulne- ráveis. No Brasil, reconhe- cemos que a desigualdade so- cial sempre foi uma chaga dolorosa. E, com o atual ce- nário político, os problemas estão aumentando. A fome, o desemprego, as inúmeras e expressivas degradações am- bientais, revelam um dramá- tico momento da nossa his- tória nacional. Se, por um la- do, temos uma elite que não abre mão de seus privilégios, por outro, os movimentos po- pulares lutam por transfor- mações estruturais, tendo em vista o direito dos pobres e da natureza. Vivemos um grande embate. E não há dú- vida de que boa parte das ins- tâncias políticas brasileiras querem manter a meritocra- cia, a começar pelos discur- sos e atitudes do presidente da República, com suas me- didas que sacrificam, sobre- tudo, os trabalhadores, os mais pobres e o meio ambi- ente. Por isso, é urgente que gestemos, democraticamen- te, um novo Brasil. 5BRASIL Setembro de 2021 Dom Vicente Ferreira: “O que pedimos é justiça” Consideramos urgente a organização das mulheres brasi- leiras em prol da ruptura com o sistema capitalista que mata mulheres diariamente, pelo machismo, pelo desemprego e pela fome, pela miséria. Por isso, convocamos todas as companheiras do Movi- mento de Mulheres Olga Benario a construírem coletivamente este 2º Encontro, que será sediado nas Ocupações Manoel Aleixo e Helenira Preta 2. Neste ano, nosso Movimento completa uma década de lu- tas em todo o Brasil. Organizamos creches comunitárias, la- vanderias, diversos atos contra o assédio nos locais de traba- lho e de estudo; ocupamos secretarias e prédios abandona- dos e hoje construímos seis casas de referência para a mulher. Atuamos em 19 estados com muita combatividade e quere- mos ampliar nosso trabalho. É com muita alegria e espírito revolucionário que o Movi- mento de Mulheres Olga Benario convoca suas militantes para o 2º Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Olga Bena- rio, que acontecerá na cidade de Mauá (SP) nos dias 19, 20 e 21 de novembro de 2021. Importante garantirmos �nanças para que representan- tes de todos os estados participem para dar coesão nacional ao trabalho, planejar nossas tarefas e as lutas para o próximo período. Aguardamos todas em São Paulo! É pela vida das mulhe- res! Pelo justo, pelo bom, pelo melhor do mundo! Devido à pandemia de Covid-19 não poderemos fazer um encontro massivo. Por isso, cada estado terá uma cota de par- ticipantes e deverá priorizar a participação de companheiras imunizadas, além de garantir �nanças para taxa de inscrição e compra de máscaras PFF2, que devem ser utilizadas em to- dos os momentos do evento. Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario Em entrevista exclusiva ao jornal A Verdade, Dom Vicente Ferreira fala sobre temas de grande relevância no cenário político nacional, como as lutas populares contra o autorita- rismo e a defesa da democracia e do meio ambiente, em par- ticular no caso da mineração em Minas Gerais, o papel da imprensa popular e a relação entre religião e política. Redação Minas Gerais Dom Vicente Ferreira, natural de Alegre (ES), é bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte. Acompanha a Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário, cuja sede está em Brumadinho. Membro da Comissão Episcopal para Eco- logia Integral e Mineração e da Comissão de Cultura e Edu- cação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Bra- sil). Poeta e escritor, apresenta o programa Versos e Preces. Movimento Olga Benario realizará 2º Encontro Nacional em novembro ABH Dom Vicente Ferreria 6 TRABALHADOR UNIDOSetembro de 2021 Governo quer acabar com direito de férias O que muda com a MP? O Requip permite a con- tratação, por dois anos, sem carteira assinada e sem vín- culo empregatício; no lugar do salário, o trabalhador con- tratado receberá uma bolsa no valor de meio salário míni- mo (R$ 550,00), não tem di- reito a férias remuneradas (te- rá descanso de 30 dias sem re- muneração), nem 13º salá- rio. Também não tem direito à FGTS nem INSS (ou seja, o tempo não contará pra apo- sentadoria), além de redução do valor da hora extra. A nova aposta do presi- dente para favorecimento dos empresários aprofunda as per- cas da reforma trabalhista, ga- rantindo maiores lucros aos patrões, tanto com a retirada de direitos históricos, como 13º salário e férias remunera- das, quanto com a isenção e redução de impostos. A justi- ficativa? Geração de empre- gos. Mais uma falácia da bur- guesia defendida pelo geno- cida e militares. A verdade é que o desemprego cresce e quem tem a sorte de estar em- pregado vê seu salário ser de- vorado pela inflação. O que tá ruim pode piorar Já o Priore, paga salários de até R$ 2.200,00, não paga 13º salário e reduz a multa do FGTS de 40% para 20%. Também não dá direito aos 50% dos salários devidos em caso de demissão antes do prazo de vigência estipulado no contrato. E enquanto para os tra- balhadores a coisa aperta “por conta da crise”, para os patrões só mamata: vai lu- crar mais, pagando menos e dando menos direitos aos tra- balhadores e também tendo redução no Imposto de Ren- da de Pessoa Jurídica e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. O Movimento Luta de Classes (MLC) convoca to- das as trabalhadoras e traba- lhadores do Brasil a se uni- rem contra as reformas dos patrões, cujo único interesse é aumentar a exploração con- tra nossa classe. Venha se or- ganizar conosco e conhecer o programa de mudanças ur- gentes necessárias a liberta- ção da classe trabalhadora do nosso país! Só a luta muda a vida Movimento Luta de Classes (MLC) Além de tudo isso, a MP ainda protege o empregador que descumprir as normas de saúde e segurança do traba- lho e em caso de trabalho aná- logo à escravidão. No primeiro caso, o empregador receberá apenas orientações e, no se- gundo caso, não há mais pe- na de prisão; apenas multa e só se for flagrado pelos audi- tores fiscais duas vezes. Também o acesso do tra- balhador à Justiça do Traba- lho será dificultado, pois a justiça gratuita só será con- cedida em caso de compro- vação de baixa renda famili- ar (renda per capita mensal de até meio salário mínimo), forçando o trabalhador a não buscar os seus direitos. A Medida Provisória cria dois programas para o empregador: o Regime Espe- cial de Qualificação e Inclu-são Produtiva (Requip) e o Programa Primeira Oportu- nidade e Reinserção no Emprego (Priore). Ambos têm como principal público alvo os jovens de 18 a 29 anos, os que mais sofrem com o desemprego e se tor- nam, assim, presas fáceis. E m maio de 2020, au- ge da primeira onda da pandemia da Co- vid-19 no Brasil, en- quanto o Governo Federal ironizava o potencial do coro- navírus e rebatia o isolamen- to social, em reunião minis- terial, Ricardo Sales, então ministro do Meio Ambiente, sugeriu a Bolsonaro que apro- veitasse o momento sanitário para “passar a boiada”. E o presidente genocida tem cumprido à risca sua reco- mendação. A mais nova boiada a pas- sar foi a MP 1045/2021, ou minirreforma trabalhista, aprovada com folga na Câma- ra dos Deputados no dia 11 de agosto, quando a mídia es- tava entretida com a encena- ção do desfile de canhões do Exército e a loucura do voto impresso. Assim, tirando o foco da votação, a MP seguiu aprovada para o Senado, on- de espera votação. Não dá pra esperar 2022 para tirar esses ladrões assas- sinos do poder. Precisamos ocupar as ruas, praças, fave- las, locais de trabalho, para dialogar com os trabalhado- res e trabalhadoras e organi- zá-los para a luta. Somando-se o Requip e Priore, os patrões podem pre- encher até 40% da mão de obra em condições “mais que precárias”. Assim, o que veremos, a longo prazo, é a demissão dos trabalhadores mais antigos e “mais caros” para a empresa e sua substi- tuição por empregados sem vínculo ou com vínculo fra- gilizado, aprofundando a cri- se para os trabalhadores. MLC realiza plenária e elege Coordenação no RS No dia 22 de agosto, a militância do Movimento Luta de Classes (MLC) no Rio Grande do Sul realizou, no Sindicato dos Municipá- rios de Porto Alegre (Sim- pa), sua plenária estadual pa- ra apresentar a cartilha do MLC e debater a conjuntura, além de eleger uma nova Coor- denação Estadual. A plenária ficou marca- da por falas de muita luta e combatividade, que ressal- taram a importância da clas- se trabalhadora estar organi- zada nas mais diversas cate- gorias e lutando pela cons- trução do socialismo. Foi ressaltada a necessidade de cada trabalhador conhecer seu sindicato, levando a li- nha política do movimento para denunciar os sindicatos pelegos, fortalecer os que são de luta e criar sindicatos nas categorias que não têm representação sindical. Redação RS Em seguida, os camara- das que fizeram parte da me- sa, Vinícius Stone e Thainá Battesini, falaram sobre co- mo têm sido a organização e atuação do MLC no Rio Grande do Sul, utilizando co- mo exemplo a participação na greve e nas eleições do CPERS (Sindicato dos Tra- balhadores em Educação do Rio Grande do Sul), a partir do núcleo de Passo Fundo. A plenária foi realizada de forma híbrida (presenci- al e online), com o objetivo de garantir a presença de ca- maradas de outras cidades, como Canoas, Canela e Encruzilhada do Sul, e tam- bém contou com a partici- pação, diretamente de Belo Horizonte, do companheiro Renato Campos, da Coor- denação Nacional do MLC. Renato abriu a plenária apre- sentando o histórico das lu- tas do movimento sindical no Brasil. O companheiro Vinícius Stone afirmou que “a bur- guesia passa a vida toda nos dizendo que a gente tem que abaixar a cabeça, que não po- de ser protagonista da nossa própria história, da nossa própria luta, por isso vários companheiros não se sentem à vontade para falar nos espa- ços, mas esse espaço aqui é onde nós vamos, coletiva- mente, ser protagonistas na luta contra a exploração e pe- la construção de uma socie- dade mais justa!”. Ao final da atividade, foi eleita uma Coordenação Estadual provisória e dele- gados para participarem da Plenária Nacional, que acontecerá em setembro. Estão encarregados desta coordenação sete camara- das: Henrique Vieira, Letí- cia Voigt, Rodrigo Fuscal- do, Stefan Chamorro, Thai- ná Battesini, Vanise Roca e Vinícius Stone. Salário dos militares ultrapassa R$ 39,2 mil, enquanto milhões passam fome Mas, afinal, onde estão os “supersalários” que Paulo Guedes tanto fala para defen- der a PEC 32? Quem recebe os salários acima do teto cons- titucional, que é de R$ 39,2 mil, são os juízes, os genera- is, os almirantes, os marecha- is e os ministros que não en- trarão na Reforma Adminis- trativa. Em maio deste ano, o banqueiro Guedes ainda pu- blicou a portaria nº 4.975/21, que autoriza o acúmulo de vencimentos por pessoas que ocupam cargos de confiança no governo. Enquanto isso, o mesmo Paulo Guedes reduziu o valor do auxílio emergencial para R$ 150,00. Chegamos à mar- ca de mais de 15 milhões de desempregados, mais de 27 milhões de brasileiros pas- sando fome. Nas praças e cal- çadas das cidades se tornou “comum” encontrar famílias vivendo nas ruas, no frio e chuva. Por meio da portaria 4.975/21, o salário do presi- dente Bolsonaro passou a ser de R$ 41,2 mil, aumento de 6%, já para o vice-presiden- te, general Hamilton Mou- rão, o aumento foi de 62%, passando a ter salário de R$ 63,5 mil. Os generais mi- nistros tiveram aumento na casa dos 60% nos seus salári- os. O general Walter Braga Netto, passou a ter um salário de R$ 66 mil; O general Luiz Eduardo Ramos, salário de R$ 66,4 mil; o general Au- gusto Heleno tem salário de R$ 63 mil. Em junho, todos receberam o valor retroativo de abril e parte do 13º salário, significando o montante de mais de R $100 mil em um único mês. Além disso, as aposentadorias e pensões con- tinuam sendo pagas, R$ 21 mil para os generais; R$ 30,2 mil para os marechais. O au- mento também beneficia o general Silva e Luna, que ho- je preside a Petrobras e que só de salário recebe o valor de R$ 226 mil. Não temos alternativa, se- não a organização do povo po- bre, a unidade de toda classe trabalhadora para derrubar es- te governo fascista, genoci- da, corrupto e que só tem compromisso com os ricos. Assim, como conclama o hi- no da Internacional Comu- nista: “De pé, ó vítimas da fo- me/ De pé, famélicos da ter- ra/ Sejamos nós que conquis- temos/ A terra mãe livre e co- mum!”. Movimento Luta de Classes (MLC) - PE Desde o início do Gover- no Bolsonaro, o sofrimento do povo só cresce. Os fatos re- velam que, para o governo fe- deral, os generais e seus alia- dos na Câmara dos Deputa- dos e Senado, o importante não é salvar o povo. O que va- le mais é garantir o lucro dos bancos e grandes empresas, manter os altos salários do Alto Comando das Forças Armadas, magistrados, par- lamentares e ministros. Dei- xar os ricos ainda mais ricos para garantir o financiamento de suas campanhas eleitorais e seus esquemas de corrup- ção. Seguindo o programado por Bolsonaro, general Mou- rão, Paulo Guedes (ministro da Economia) e com total apoio dos presidentes da Câ- mara de Deputados e Senado Federal – Arthur Lira (PP- AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a agenda de pri- vatizações e retirada de direi- tos trabalhistas avança. É exemplo da privatização dos Correios, empresa com 98 mil servidores e que gerou lu- cro de R $1,5 bilhão só em 2020. Encontra-se em tramita- ção no Congresso a Reforma Administrativa (PEC 32/20), que acaba com o funcionalis- mo público, retira a estabili- dade, congela salários, per- mite a terceirização e a priva- tização abertamente. Os de- fensores da reforma afirmam que o funcionalismo público é responsável por quebrar os cofres da união, uma mentira deslavada. A realidade é que a base salarial da maioria dos servidores é de R $ 2.500.00 (segundo o Ipea). Examinan- do as esferas federal, estadu- al e municipal, 53,1% dos ser- vidores recebem abaixo do valor estimado pelo Dieese para o sustento de uma famí- lia, que seria de R$ 5.351,11. Camila Falcão, Jorge Ferreira Passeata contra reirada de direitos 7JUVENTUDE Setembro de 2021 UFRGS aprova destituição do interventor Essa sessão histórica foi fruto de 11 meses de uma longa luta, desde que o fas- cista Jair Bolsonaronomeou a chapa de Carlos Bulhões e Patrícia Pranke para a Reito- ria da UFRGS, em 16 de se- tembro de 2020. Essa nomea- ção contrariou a vontade dos estudantes, professores e téc- nico-administrativos, que re- chaçaram amplamente a cha- pa, colocando-a em último lu- gar na lista tríplice e, antes, na consulta para a Reitoria, com apenas 11,8% dos votos, mesmo com a falta de pari- dade. Sem o apoio da comuni- dade, Bulhões buscou os bas- tidores da política bolsona- rista no Congresso, em con- versas com o deputado Bibo Nunes (PSL) e acordos até hoje não esclarecidos. Dessa forma, Bulhões vendeu a alma de nossa universidade em troca de sua nomeação. Não é à toa que a gestão interventora se mostrou um braço da política fascista e au- toritária do Governo Bolso- naro dentro da UFRGS. Isso se evidencia na maneira anti- científica que os intervento- res atuam frente ao combate à pandemia, realizando reu- niões presenciais sem másca- ras e distanciamento, po- sando para fotos sem másca- ras e insistindo na realização da aplicação de um vestibular presencial quando estávamos no auge da pandemia, o que foi impedido pela comuni- dade acadêmica. Também se evidencia na expulsão de 195 estudantes cotistas, mostrando que os in- terventores na UFRGS se ali- nham com o ministro da Edu- cação Mi l ton R ibe i ro , quando este diz que as uni- versidades deveriam ser “para poucos”. Não bastasse isso, a gestão interventora es- conde o orçamento da uni- versidade e não denuncia os cortes para não afrontar seus padrinhos políticos. Em resposta a isso, o Con- sun elegeu uma comissão es- pecial que analisou as altera- ções e formulou uma resolu- ção, aprovada em 12 de mar- ço, que anulou a nova estru- tura e deu 30 dias para que a Reitoria encaminhasse as me- didas necessárias para o re- torno à estrutura anterior. Essa resolução foi desrespei- tada pelo interventor, e uma nova comissão foi eleita para debater medidas diante das contínuas afrontas aos órgãos e estatutos da UFRGS. Os de- bates da comissão resultaram num parecer que recomendou ao Consun uma série de medi- das, incluindo a proposição de destituição do interventor. No dia 13 de agosto, o pe- dido de destituição foi apro- vado pelo Consun, medida inédita na história da univer- sidade, resultado de uma luta ininterrupta vanguardeada pe- los estudantes e pelo Movi- mento Correnteza, que parti- cipou de ambas as comissões especiais do Consun e cons- truiu mobilizações de rua desde o início da intervenção. N o dia 13 de agosto, o Conselho Uni- versitário (Con- sun) da Universi- dade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aprovou a proposição de destituição dos interventores na Reitoria, por 59 votos favoráveis contra sete contrários e cinco abs- tenções. Só a luta coletiva e orga- nizada dos estudantes, técni- cos e professores é capaz de derrubar os interventores, na UFRGS e em todas as outras instituições de ensino. E, além disso, garantir uma uni- versidade verdadeiramente democrática, que dê voz a to- dos que a constroem, com pa- ridade não só na consulta para a Reitoria, mas também na composição de todos os seus órgãos colegiados. E é só atra- vés da luta que vamos cons- truir uma universidade que seja para todos, e não para poucos! e Sam Paz, militantes do Movimento Correnteza Cauã Roca Antunes Ainda assim, essa luta não chegou ao fim. A aprova- ção no Consun foi uma grande vitória política, mas o pedido de destituição ainda precisa passar pelo Ministé- rio da Educação. Por isso, é necessário que os estudantes estejam cada vez mais mobi- lizados e construindo mani- festações cada vez maiores. Universidade deve ser para todos e todas Isis Mustafa e Tarcísio de Lucca – UJR, SP “A universidade deveria, na verdade, ser para poucos”, disse o ministro da Educação de Bolsonaro, Milton Ribei- ro, em entrevista à TV Brasil no dia 9 de agosto. Essa fala não surpreende, vinda de um governo que cortou R$ 2,2 bi- lhões da Educação neste ano e deixou as universidades e institutos federais próximos do fechamento, com milhões de estudantes sem saber se po- derão concluir sua formação. Para complementar sua fala odiosa, o ministro ainda afirmou que “tem muito enge- nheiro ou advogado dirigin- do Uber porque não conse- gue colocação devida. Se fos- se um técnico de informática, conseguiria emprego”. O que o ministro não fala é que o seu governo é responsável por bater recordes de desem- prego, que hoje atinge quase 15 milhões de brasileiros, ti- rando a comida da mesa e a perspectiva dos jovens. Tenta esconder que só há desem- prego porque os grandes capi- talistas e latifundiários que lu- cram com o trabalho do povo preferem colocar famílias in- teiras no olho da rua do que abrir mão dos seus vultosos caprichos. A culpa do desem- prego não é dos estudantes, a culpa é do capitalismo! Além disso, o Governo Bolsonaro defende não só uma universidade para pou- cos, mas uma educação para poucos. Desde que foi eleito, o governo corta verbas da edu- cação superior e básica, cri- ando um cenário de caos, on- de não há estrutura mínima pa- ra o pleno funcionamento das escolas e universidades e tam- pouco dinheiro para a assis- tência estudantil, preparando o terreno para a privatização da educação pública. Bolso- naro quer que os trabalhado- res tenham uma educação que não ensine a pensar e ter auto- nomia, somente seguir or- dens e apertar parafusos. A verdade é que Milton Ribeiro, Bolsonaro e seus ge- nerais querem fechar as uni- versidades públicas porque sa- bem que é lá dentro que se ges- ta a resistência à sua política fascista. Na história do país, os estudantes cumprem um papel combativo, vanguarde- ando a organização da juven- tude contra os ditadores, for- talecem a luta da classe traba- lhadora por liberdade. E esse é mais um dos mo- tivos pelo qual devemos for- talecer a luta contra esse go- verno nas ruas. Precisamos derrotar esse governo fascis- ta, para derrubar esse projeto elitista de educação que não serve para o nosso povo, e pa- ra construir no seu lugar uma educação que seja livre, sem as amarras do vestibular, uma educação socialmente refe- renciada, no qual aprende- mos a ser donos do nosso pró- prio destino, em que os estu- dantes terão condição de se dedicar integralmente ao estu- do sem se preocupar com a fo- me e o desemprego; onde de- senvolveremos ciência para resolver os reais problemas da nossa sociedade e desen- volver o nosso país. O povo brasileiro não quer universi- dades para poucos, o povo quer universidade para todos! O Congresso prosseguiu com os debates sobre a im- portância dos núcleos de estu- do e de luta da UJR. Nesse de- bate, vários jovens expressa- ram que a União da Juventu- de Rebelião é essa organiza- ção de revolucionários do Bra- sil, por isso, uma das tarefas fundamentais é a de compa- recer às reuniões da juventu- de, colaborar com a sua cons- trução material, organizar gru- pos de estudos como forma de propagandear, estudar e di- fundir a teoria revolucionária, além de tirar planos de estudo individual como forma de aprofundar o estudo cotidia- no no marxismo-leninismo. Nos dias 21 e 22 de agos- to aconteceu, em Salvador (BA), o Congresso Estadual da União da Juventude Rebe- lião (UJR), reafirmando o le- ma do último Congresso Naci- onal, que ocorreu em 2019, também na Bahia: “Unir a ju- ventude para derrotar o fas- cismo”. O Congresso contou com a presença da Coordena- ção Nacional da UJR, que contribuiu com os debates e reafirmou a necessidade de organizar a juventude contra o fascismo no Brasil. A abertura ocorreu na Ocupação Carlos Marighella, onde se iniciaram as ativida- des com o plenário entoando A Internacional. O encontro foi marcado por um grande espírito de combatividade e rebeldia da juventude baia- na. Debateu-se a conjuntura política do Brasil e a impor- tância da agitação e da pro- paganda revolucionárias nes- te momento em que cresce a indignaçãoda juventude con- tra o sistema capitalista que mata cada vez mais os jovens do país. Os militantes presentes apontaram a necessidade da ampliação dos grupos de bri- gadas nos bairros, além de au- mentar a quantidade de cotas individuais dos militantes, co- mo forma de fazer com que a imprensa independente e re- volucionária que a UJR cons- trói, o jornal A Verdade, che- gue nas mãos de milhares de trabalhadores descontentes. Em seguida, como parte da atividade do Congresso, or- ganizou-se uma passeata em defesa dos direitos da juven- tude, pelo Fora Bolsonaro e contra o capitalismo. A passe- ata foi apoiada pelos traba- lhadores que viram os mili- tantes da UJR nas ruas contra o fascismo. A importância da autos- sustentação material da orga- nização revolucionária tam- bém foi um tema bastante de- batido, levantando-se tam- bém sobre a importância da contribuição individual, além de iniciativas e planejamen- tos nos núcleos. Iniciativas co- mo os pedágios realizados ao longo da semana foram sau- dados pelos delegados. O Congresso Estadual também debateu sobre a importância da linha revolucionária da UJR estar presente nas enti- dades estudantis, nas univer- sidades, nas escolas e nos mo- vimentos sociais como forma de influenciar cada vez mais setores diversos da sociedade para a luta popular. Ao término dos debates, foi eleita a nova Coordenação Estadual da UJR, com a tare- fa de organizar a juventude ba- iana contra o fascismo no pró- ximo período. Coordenação Estadual da UJR na Bahia UJR realiza Congresso Estadual na Bahia JAV/RS Estudantes da UFRGS em protesto em Porto Alegre Ser jovem é ser revolucionário: Congresso da UJR JAV/BA 8 LUTA POPULARSetembro de 2021 Sem dinheiro para aluguel, milhares de famílias são despejadas Claudiane Lopes e Fernando Alves Em Fortaleza, atualmente, são 205 mil pessoas que não têm onde morar. A falta de uma política habi- tacional dos governos estadual e municipal faz com que milhares de famílias pobres estejam morando em praças, viadutos, em áreas de risco, moradias pre- cárias ou em ocupações. Mariane Werneck de Almeida, moradora do bair- ro Bom Jesus, em Porto Alegre (RS), está recome- çando a vida, após passar pelo processo de perda do emprego no início da pandemia. “Não consegui mais trabalhar de carteira assinada, daí tive que me rein- ventar. Trabalhava no ramo óptico. Fiquei um perío- do, literalmente, sem casa para morar entre os meses de junho e agosto de 2020. Cheguei a morar em uma casa de acolhimento e de lá pra cá fiquei migrando entre trabalhos informais. Trabalhei em um restau- rante em troca de alimentação e moradia de julho a novembro. Como o estabelecimento era novo e o pe- ríodo não era bom, não vingou e acabou fechando. No início deste ano, continuei desempregada, resol- vi fazer o curso de cuidadora de idosos. Consegui uma colocação duas vezes por semana como cuida- dora. Surgiu a possibilidade de limpar a casa de uma pessoa duas vezes por semana. Com isso, consegui alugar uma kitnet, que juntando água, luz e aluguel, dá R$ 600”, disse Mariane. As ocupações urbanas do MLB demonstram a força da luta popular contra o sistema que explora e oprime o povo pobre de nossas cidades. Elas são um espaço de resistência, de acolhimento, de irmandade e solidariedade de classe. Nelas nasce um germe do poder popular, da firmeza da luta organizada e cole- tiva de homens, mulheres e de jovens, que, na sua maioria, são de pessoas negras. Por isso, enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito! Muitas outras ocupações virão! “A gente trabalha uma vida toda e não consegue pagar nada. Água, luz, gás, aluguel, carne. No fim do mês, a conta não fecha! Os governantes jogam a culpa na pandemia, mas a coisa já estava feia antes. Menos pra eles, é claro, que sempre teve tudo certo para o Bolsonaro e sua família. Esses dias, o filho de- le comprou até uma mansão de 6 milhões de reais”, afirma Cida, coordenadora do MLB em São Bernar- do do Campo. São Paulo tem hoje mais de 1 milhão de famílias sem-teto. “Não tem como conseguir casa nesse go- verno se não for ocupando. Aluguel não dá para pa- gar, financiamento não dá para pagar. O jeito é ocu- par para sobreviver, ter onde criar os filhos”, diz Ka- tia da Silva, coordenadora da Ocupação Devanir Jo- sé de Carvalho, do Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), em Diadema, no ABC Pau- lista. Nos últimos dias de agosto, esta ocupação foi vitoriosa e conquistou 150 casas e mais a despropri- ação de um terreno de 10 mil m². O déficit habitacional brasileiro atingiu a marca de 8 milhões de moradias em 2019, segundo o IBGE. Outra situação grave é o número de moradias precárias (barracas de ruas e casas feitas com pape- lão e madeirite, por exemplo), contabilizado em cer- ca de 900 mil habitações. O segundo estado com maior déficit habitacio- nal é o Rio de Janeiro, com mais de 500 mil moradi- as. Milhares de famílias fluminenses vivem com ape- nas R$ 375,00 de auxílio emergencial e não têm con- dições de pagar aluguel e muito menos ter uma mora- dia digna. O perfil da população de rua no Brasil mudou com o advento da pandemia, pois, com o aumento do desemprego e do corte no auxílio emergencial, fa- mílias inteiras fizeram das ruas a sua moradia. São mães e pais de família que foram obrigados a fazer a difícil escolha entre pagar o aluguel e as contas ou co- locar comida na mesa. Crise se espalha em todo o Brasil O cenário nas ruas das grandes cidades per- mite encontrar um povo que luta e resiste para sobreviver. Debaixo de marquises e viadutos, em praças, prédios ou casas de- socupadas, o número de moradores de rua no Brasil aumentou visivelmente, fruto da crise do capitalismo, aprofundada pela pandemia. Segundo o último estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado em março de 2020, o nú- mero de pessoas nessa situação havia chegado a 222 mil, e que tendia a aumentar com a política econô- mica de Jair Bolsonaro e de Paulo Guedes. Um estudo realizado pela Fundação João Pinhe- iro mostra que em quase 300 mil moradias do Esta- do do Rio de Janeiro as famílias que ganham até três salários mínimos gastam pelo menos 30% da sua ren- da pagando aluguel. Já em Minas Gerais são aproxi- madamente 500 mil famílias sem moradia, sendo que dessas, 200 mil se encontram em Belo Horizon- te e região metropolitana. Patrícia Ribeiro Pereira, 43 anos, chegou a mo- rar 22 dias nas ruas de BH, com o marido e três fi- lhos. Desempregados e sem nenhuma fonte de ren- da, ela e o marido não conseguiram pagar o aluguel de R$ 700, no bairro Santa Cruz, na Região Nordes- te de Belo Horizonte. Eles moram na Ocupação Ca- rolina Maria de Jesus, no Centro da cidade, desde março de 2020. “Aqui fui muito bem acolhida, pude tomar banho, num primeiro momento, e hoje tenho um teto para viver com minha família. Se não fosse isso, provavelmente ainda estaríamos em situação de rua”, relatou Patrícia. Nordeste tem grande déficit habitacional Já Maria José Lopes, 35 anos, diarista, analfabe- ta, mora no bairro São Conrado, em Aracaju (SE), com mais 7 pessoas. Ela morava na Ocupação João Mulungu, estabelecida em novembro de 2020 no Centro da cidade, até maio de 2021, quando foi vio- lentamente depejada. “Antes de ir para ocupação, eu não estava conseguindo me sustentar, pagar aluguel. Eu ia para a feira com os meus filhos para pegar 'car- reto', tentar ajudar o pessoal e ganhar alguma gorje- ta. Quando a polícia mandou a gente sair do prédio, precisei voltar a viver com o meu companheiro. O di- nheiro é muito pouco para mim, meus filhos e meu neto. Não é uma relação tranquila, vivo sendo humi- lhada com todas as palavras, algumas que doem mais do que uma surra. Me sinto uma pessoa excluída do mundo, não aguento mais. Na ocupação eu me sen- tia protegida, cuidada, todo mundo me tratava bem, gostava de mim”. Com um déficit de 2,4 milhões de moradias, a situação no Nordeste também é grave. Edilma dos SantosAlves, moradora da cidade de João Pessoa (PB), faz parte desta estatística. “Há mais de dez anos sou cadastrada no programa de habitação Mi- nha Casa, Minha Vida e, todo ano, faço a renovação do cadastro. Sempre que anunciam a entrega de um empreendimento, fico na expectativa de sair o meu nome, mas, até agora, nada. Só nos mandam aguar- dar. Enquanto isso, continuo morando em uma casa de um cômodo só, pagando R$ 200 de aluguel para dividir esse espaço com sete filhos e um companhei- ro. Estou desempregada, vivo de bicos, fazendo faxi- nas diárias em casa de família e, quando não tem, saio para catar para reciclagem”. Sem uma política de controle dos preços dos alu- guéis, os valores aumentam superando a inflação, assim, quem pagava um aluguel de R$ 1.000, em 2020, agora está pagando em torno de R$ 1.370. Se- gundo o IBGE, de janeiro a maio de 2021, os preços da locação de imóveis sofreram uma elevação de 4,81%. Lutar pela vida Em um ano e meio de pandemia, milhares de fa- mílias pobres se organizaram no Movimento de Lu- ta nos Bairros, Vilas e Favelas para participar da luta pela casa própria e sair do aluguel ou das ruas. Neste período, o MLB realizou 15 ocupações urbanas. Em São Paulo: Manoel Aleixo (Mauá), Padre Leo Co- missari (São Bernardo do Campo), Ocupação dos Imigrantes (Capital) e Devanir José de Carvalho (Di- adema); em Natal (RN): Emmanuel Bezerra, Valde- te Guerra e Margarida Maria Alves; em Belo Hori- zonte (MG): Carlos Marighella, Carolina Maria de Jesus e Manoel Aleixo; em Aracaju (SE): João Mu- lungu; em Jaboatão dos Guararapes (PE): Paulo Frei- re; em Salvador (BA): Carlos Marighella; no Rio de Janeiro (RJ): João Cândido; e Dragão do Mar, em Fortaleza (CE). Uma hora após a ocupa- ção, a Polícia Militar entrou no prédio e agiu de forma tru- culenta com os ocupantes, ameaçando a todo momento atirar, apontando suas armas para crianças, mulheres e ido- sos. Após perceber a resistên- cia do movimento, prendeu do- is militantes da coordenação, agredindo-os e mantendo-os detidos por uma hora. Contu- do, não conseguiram intimi- dar o povo aguerrido, que deci- diu não sair do prédio e, final- mente, nossos camaradas fo- ram liberados. A ocupação tem vida, aco- lhimento e cultura A ocupação foi ganhando vida e apoio jurídico e políti- co. No primeiro dia recebe- mos uma visita de uma comis- são de advogados. Após três di- as de resistência, foi realizado, no dia 11 de agosto, um ato po- lítico em apoio à ocupação. A participação dos camaradas de diversos movimentos sociais e forças políticas intensificou a luta por moradia digna às famí- lias da ocupação. Na madrugada do dia 8 de agosto, cerca de 100 famílias de diversos bairros da perife- ria das cidades de Fortaleza e Caucaia, organizadas pelo Mo- vimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), ocu- param um prédio abandonado no Centro da Capital que está abandonado há sete anos. A no- va moradia foi batizada de Ocupação Chico da Matilde – Dragão Mar. O nome é uma homenagem ao líder da luta pela libertação dos negros es- cravizados no Ceará, primeiro estado no Brasil a abolir a es- cravatura. A primeira reunião de ne- gociação ocorreu em 12 de agosto com a secretária da Pro- teção Social, Justiça, Mulhe- res e Direitos Humanos do Go- verno do Estado, Socorro França. O movimento reivin- dicou a moradia para 100 famí- lias que estão na Ocupação Dragão do Mar. A segunda reu- nião ocorreu no 19. Foram apresentadas três propostas que estão sendo analisadas pe- la Prefeitura e o Governo do Estado: 1. A doação de um pré- dio no Centro que esteja com dívida de IPTU há anos, para ser destinado à moradia; 2. Destinação de alguns aparta- mentos do Minha Casa, Mi- nha Vida; 3. Doação de um ter- reno público onde possam ser construídas casas em regime de mutirão com os militantes do MLB. A arte popular e de rua en- trou na Ocupação Dragão do Mar e encantou as famílias. O grupo de teatro “As 10 graças” e o estudante de Teatro Glayd- son dos Santos, alegraram as sextas culturais na ocupação. Foi inaugurada também a cre- che batizada de Francisca Ber- nardo, em homenagem à mili- tante do MLB que faleceu em 2020, vítima de Covid-19. Além disso, foi criado um gru- po de teatro, foram feitas ofici- nas de crochê e batuque de ma- racatu, e constotuiu-se um gru- po de formação dos jovens com a União da Juventude Re- belião (UJR) e um núcleo do Movimento de Mulheres Olga Benario. As famílias ainda têm todos os sábados plantão jurí- dico ofertado pelos estudantes de Direito da UFC e apoio psi- cológico semanal. “A Ocupação Dragão do Mar nasce em um momento em que a pandemia de Covid- 19 ainda continua e a maioria do nosso povo pobre vive com apenas o auxílio emergencial no valor de R$ 375,00. Só em Fortaleza, atualmente, são 205 mil pessoas que não têm onde morar. A falta de uma po- lítica habitacional dos gover- nos estadual e municipal faz com que milhares de famílias pobres estejam morando em praças, viadutos, em áreas de risco e moradias precárias. O direito à moradia digna é nega- do aos pobres, por isso nossa única alternativa é ocupar os espaços vazios sem função so- cial e transformar em local de resistência, luta e moradia po- pular”, declara Carlos Xavier, coordenador da Ocupação e do MLB. Fortaleza: nasce a Ocupação Dragão do Mar Recação Ceará João Ba�sta Edilma Alves: R$ 200 por um cômodo 9INTERNACIONAL Setembro de 2021 O lucro, o mesmo cau- sador desta catástrofe, não será jamais sua solução. Como vimos agora na pan- demia do coronavírus, a opção pelo lucro apenas faz morrer a população mais vul- nerável, corrói o tecido soci- al acabando com a solidarie- dade e enriquece uma mino- ria de bilionários que se beneficia da situação de desespero das pessoas. A principal evidência sobre a situação climática atual reportada pelos cien- tistas é de que cada uma das últimas quatro décadas foi sucessivamente mais quente do que qualquer década ante- rior desde 1850, ou seja, é inegável que a temperatura do planeta vem progressiva- mente au-mentando de maneira acelerada nos últi- mos anos. A temperatura glo- bal da superfície foi 1,09° C mais alta na década de 2011- 2020 do que no período de 1850-1900, com aumentos maiores na terra (1,59°C) do que no oceano (0,88°C). Os cientistas também são categóricos em afirmar que o aumento da concentra- ção dos chamados gases do efeito estufa na atmosfera (greenhouse gas – GHG) é a causa principal para o aque- cimento da terra. Esses gases são o dióxido de car- bono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N20), usualmente subpro- dutos da atividade industri- al, o que condiciona que é a ação das empresas capitalis- tas na busca por lucro o que está sendo determinante para o aumento da tempera- tura global. A não redução de gases do efeito estufa, especial- mente o gás carbônico, tam- bém tem alterado a capaci- dade da terra e dos oceanos em assentar naturalmente este gás, retirando-o da atmosfera. Nos possíveis cenários em que a emissão de CO2 se mantenha alta, a terra e os oceanos podem reduzir sua capacidade de processar o gás para até 38% da capacidade atual. Este é um fator importante, pois reduz a capacidade de reno- vação natural dos processos químicos que ocorrem na atmosfera, tornando irrever- síveis algumas mudanças. Dessa maneira, muitas mudanças climáticas devi- das às emissões passadas e futuras de gases de efeito estufa serão irreversíveis por séculos e até milênios, espe- cialmente as mudanças no oceano, nas coberturas de gelo e no nível global do mar. Algumas regiões de lati- tude média e semiárida terão maior aumento na tempera- tura nos dias mais quentes, cerca de 1,5 a 2 vezes superi- or à taxa de aquecimento glo- bal. Este é um fenômeno que também deve ocorrer na cha- mada Região de Monções da América do Sul (SAMS, pela sigla em inglês), região que compreende o centro- oeste e parte do sul do Bra- sil, quase todo o Paraguai
Compartilhar