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cidadania e direito modulo 2

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CIDADANIA E 
DIREITOS SOCIAIS 
(Módulo 2) 
 
 
2 Todo o material desta disciplina foi produzido pela Fatej e é protegido pela Lei 9.610/98, 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
III. Breve nota sobre as constituições brasileiras ................................................................... 3 
IV. A carta cidadã de 1988, os direitos sociais e o surgimento da seguridade social ............... 6 
4.1 Dos princípios da Seguridade Social ....................................................................... 8 
4.1.1 Dos princípios constitucionais da Seguridade Social ....................................... 8 
4.2.2. Influencia das Convenções da OIT na Seguridade Social brasileira .............. 11 
 
sendo proibida a reproduçãototal e parcial ou divulgação comercial sem a autorização prévia desta Instituição de Ensino. 3 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO 2 
 
 
 
 
III. Breve nota sobre as constituições brasileiras 
 
O Brasil já teve oito Constituições que refletiam em suas linhas mestras os contextos 
político-econômico-sociais do país desde a sua independência. A influência do passado nas 
“Constituições” é defendida, ferrenhamente, pelo filósofo alemão Karl Marx: “Os homens 
fazem a sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob 
aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição 
de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”.1 
A primeira Constituição foi de 1824 cujo texto foi proposto e outorgado por Dom 
Pedro I, na época Imperador. O Brasil ainda era um Império com poder centralizado na figura 
do Imperador e esta Carta instituiu Quatro Poderes: Executivo, Judiciário, Executivo e 
Moderador, este último exercido por Dom Pedro I. Timidamente, os direitos civis estavam 
previsto no artigo 72 e incisos da Carta e, no campo dos direitos sociais, havia a previsão da 
igualdade de todos perante a lei (art. 179 inciso XIII2) além de já prever contribuições ao 
Estado a fim de ajudar no custeio das despesas (artigo 179 inciso XV3). 
Durou sessenta e cinco anos até ser revogada pela Constituição de 1891, logo após a 
Proclamação da República. A nova Constituição transformou as províncias em Estados, 
garantindo-lhes uma maior autonomia na tomada de decisões. Devidamente promulgada, 
extinguiu o poder centralizador do Governante exercido através do Poder Moderador e 
passou a dar ao Brasil feições de uma República Presidencialista. Apesar de extremamente 
 
 
1 MARX, Karl. O 18º Brumário de Luís Bonaparte – Os Pensadores. – 2ª edição – Editora Abril – São Paulo, 1978. 
2 “XIII – A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, o recompensará em proporção dos 
merecimentos de cada um” 
3 “XV – Ninguém será exemplo de contribuir para as despesas do Estados em proporção dos seus haveres” 
4 Todo o material desta disciplina foi produzido pela Fatej e é protegido pela Lei 9.610/98, 
 
 
 
avançada para a época, não obteve grande eficácia pois a letra da lei não condizia com a 
realidade social que o país enfrentava. 
Em 1917, o Brasil registrou muitas mobilizações das mais variadas classes sociais que 
reivindicavam o reconhecimento da questão social do trabalho, a sua regulamentação e a 
necessidade da adoção de leis sociais. Vale mencionar as meditações de Jorge Street, 
membro do Centro Industrial do Brasil e destacado revolucionário: 
“Preliminarmenteé necessário ficar bem estabelecido que os industriai 
estão de perfeito acordo com a conveniência e mesmo a necessidade 
de uma legislação que regule do melhor modo possível a situações 
recíproca do operariado e do patronato nas suas relações com o 
trabalho nacional(...) Umdospontosmais importantes para a vida de 
nossa indústria (...) é a questão do número de horas de trabalho (...) 
Em nenhum dos grandes países industriais do mundo foi ainda 
resolvido este assunto, no sentido dasoito horas. Aqui, no Brasil, com o 
nosso temperamento latino cheio de humanitarismo sensível, é esta 
importante e grave questão encarada mais pelo seu lado simpático e 
afetivo(...). Nos países em que a legislação é perfeita, a criança não é 
deixada no abandono (...) uma legislação escolar e profissional 
correlata e obrigatória a ampara e protege. 
Nós, industriais, absolutamentenão nosopomos a quesejam votadas 
leis de proteção aosoperários, maslançamostodo umapelo formalao 
Congresso brasileiro, para que essas leis sejam leis vivificadoras e de 
pacificação e não leis de destruição! (...) Penso ter demonstrado que 
absolutamente não sou contrário a leis que favoreçam os operários e 
quetornemmais tolerável e humana a sua existência. Combato, sim, a 
exagerada tendência que temos de, ou nada fazer, ou fazer “bom 
demais”!”.4 
Em 1934, nos primeiros anos da Era Vargas, foi promulgada a Constituição que por 
menos tempo vigorou. A Constituição de 16 de julho de 1934 introduziu o voto secreto, criou 
a Justiça do Trabalho, permitiu o voto feminino e apareceu em um tempo de grande ascensão 
do fascismo e do comunismo no mundo. Os verdadeiros direitos sociais começaram a raiar. 
Introduzindo normas até então extremamente originais, o preambulo da Constituição já 
 
 
4 STREET, Jorge. Idéias Sociais de Jorge Street. Brasília. Senado Federal: Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 
1980. P. 369-398 – texto originalmente publicado no Jornal do Comércio em 10/09/1917. 
sendo proibida a reproduçãototal e parcial ou divulgação comercial sem a autorização prévia desta Instituição de Ensino. 5 
 
 
 
 
 
 
 
previa a organização de um regime democrático, que pudesse assegurar à Nação o direito a 
liberdade, a unidade, a justiça e o bem estar social econômico representando um grande 
avanço nas idéias dos direitos sociais. Como o mandato de presidente terminaria em 1938 e 
com a intenção de permanecer no Poder, Getúlio Vargas deu o golpe de Estado, e tornou-se 
um ditador em 1937. Neste ano, uma nova Constituição foi então elaborada sob a alegação 
de que havia a necessidade de proteger a nação brasileira da ameaça comunista que assolava 
o mundo, instituindo o chamado “Estado Novo”. Sem a adesão ou a resistência popular e com 
o apoio do Comando das Forças Armadas, a Constituição de 1937 aboliu o sistema 
representativo e somente foi utilizada como instrumento para atingir os objetivos políticos e 
pessoais do grupo apoiador do Presidente Vargas. 
Com a ocorrência da II Guerra Mundial, a população brasileira tomou as ruas do país 
pressionando o Governo a fim de que tomasse medidas mais efetivas contra o nazi-facismo 
que bombardeara navios brasileiros e estremeceram o Governo Vargas. 
Seguindo os acontecimentos mundiais onde já se sentia a necessidade de positivação 
dos direitos fundamentais e a queda do regime ditatorial imposto por Getúlio Vargas, houve a 
promulgação de uma nova Constituição em 1946, que se destacou pelo restabelecimento do 
jogo democrático colocando novamente em um patamar mais elevado os direitos civis, 
políticos e sociais, deixando para trás o período ditatorial instituído por Vargas. O Brasil 
passou a ser chamado de Estados Unidos do Brasil e o Congresso Nacional passou a tomar 
feições de uma Assembléia Constituinte, sendo considerada uma carta constitucional 
extremamente avançada para a época. 
A Constituição de 1946 vigorou até 1964, quando ocorreu o Golpe Militar. Após 1964, 
os militares passaram a editar emendas e Atos Institucionais que asseguravam o exercício do 
Poder. Os militares pressionavam o Congresso Nacional para que fosse editada, o mais breve 
possível, uma Carta que lhe desse amparo legal. Em 1967 foi aprovada a nova Constituição 
Brasileira e institucionalizou o regime da Ditadura Militar. Considerada representante máxima 
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da antidemocracia, a Constituição de 1967 somente foi revogada em 1969, que por sua vez 
foirevogada em 1988, quando a ditadura já havia acabado. 
 
IV. A carta cidadã de 1988, os direitos sociais e o 
surgimento da seguridade social 
Após o Brasil passar por um longo período ditatorial, marcado pelo desaparecimento e 
morte de inúmeros opositores ao sistema político vigente à época, houve uma renovação do 
compromisso das autoridades brasileiras pela garantia e efetivação dos direitos 
fundamentais. 
Analisando o contexto nacional e com base em experiências continentais européias, a 
Constituição Federal Brasileira foi desenvolvida e promulgada em 5 de outubro de 1988, 
trazendo uma nova concepção de Constituição, não apenas adstrita à questões políticas, mas 
também ressaltando que os direitos fundamentais independem de normatização legislativa 
pois possuem eficácia imediata, além de trazer os chamados “direitos sociais” previsto nos 
artigos 6º e 7º da Constituição Federal que, embora exuberantemente previsto na Carta 
Cidadã, possui grandes dificuldades para ser efetivamente realizado e garantido. 
Citando Stern e Cruz Villalon, Canotilho preleciona que “sem esta positivação jurídico- 
constitucional, os direitos do homem são esperanças, aspirações, idéias, impulsos ou, até por 
vezes, mera retórica política, mas não direitos protegidos sob a forma de normas (regras e 
princípios) de direito constitucional” e ainda conclui: “onde não existir Constituição, não 
haverá direitos fundamentais”.5 
A intenção do constituinte originário ao positivar estes direitos sociais, conforme 
preleciona Fabio Zambitte Ibrahim, era “criar um sistema protetivo até então inexistente em 
 
 
 
5 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6ª edição revista e ampliada. São Paulo: Editora 
Malheiros, 1996. p. 497. 
sendo proibida a reproduçãototal e parcial ou divulgação comercial sem a autorização prévia desta Instituição de Ensino. 7 
 
 
 
 
 
 
 
nosso país, já que o Estado, pelo novo conceito, seria o responsável pela criação de uma teia 
de proteção capaz de atender aos anseios e necessidades de todos na área social”.6 
É um conjunto de instrumentos que visa a transformação social através de um 
conglomerado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e particulares(através das 
contribuições) visando assegurar o disposto no artigo 194 caput da Constituição Federal, que 
ora transcreve-se: “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de 
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à 
saúde, à previdência e à assistência social”. 
Ao analisar esta definição constitucional, entende-se denota-se que a Seguridade 
Social busca garantir a existência de condições mínimas para a sobrevivência de todos os 
cidadãos, objetivando o bem estar comum,a redução das desigualdades sociais causadas pela 
insuficiência de recursos financeiros, além da procura constante em se atingir a justiça social. 
Sergio Pinto Martins, por sua vez, assim conceitua: 
 
“O Direito da Seguridade Social é um conjunto de princípios, de regras 
e de instituições destinados a estabelecer um sistema de proteção 
social aos indivíduos contra contingências que os impeçam de prover 
as suasnecessidadespessoaisbásicas edesuasfamílias, integrado por 
ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, visando 
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência social e a à 
assistência social” 7 
No que tange a estas definições, é de fundamental importância 
mencionar que um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, segundo o 
artigo 3º inciso IV da Carta Magna , é “promover o bem de todos, sem preconceito de origem, 
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” 
 
 
 
 
 
6 IBRAHIM, Fábio Zambitte. RESUMO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO – 12ª edição – Rio de Janeiro – Editora 
Impetus, 2012 – p.01. 
7 MARTINS, Sérgio Pinto. DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL -18ª edição - São Paulo - Editora Atlas:2002 – p. 05 
8 Todo o material desta disciplina foi produzido pela Fatej e é protegido pela Lei 9.610/98, 
 
 
 
Do exame de tal dispositivo constitucional, entende-se que a tutela da Seguridade 
Social não constitui uma benevolência por parte do Estado àquelas pessoas que acabam por 
se encontrar em um estado de necessidade, mas sim uma expressão da solidariedade de toda 
a coletividade, correspondente a um interesse público imediato e direto. 
A Seguridade Social divide-se em três ramos: a Previdência Social, a Saúde e a 
Assistência Social, regidos autonomamente pela Constituição Federal e nomeiam como 
sujeito ativo da relação jurídica ora estabelecida o cidadão que dela necessite e como sujeito 
passivo (aquele que tem a obrigação de oferecer a contraprestação) a União, os Estados, o 
Distrito Federal, os Municípios e a sociedade em geral, sendo que o a contraprestação serão 
os benefícios previdenciários que devem ser pagos em dinheiro. 
4.1 Dos princípios da Seguridade Social 
 
Para conhecer e discutir os benefícios previdenciários se faz necessário o estudo e 
debate dos princípios norteadores dos interesses gerais da coletividade sob o enfoque da 
Previdência Social e como eles oferecem o sustentáculo desta ciência jurídica. 
O termo “princípio” tem origem latina e provém de “primum” (primeiro) + “capere” 
(capturar, apreender). “Primum Capere” significa “colocar em primeiro lugar”. 
Os princípios são utilizados como alicerces fundamentais do ordenamento jurídico 
pátrio e estabelecem balizas para a correta aplicação e entendimento do sentido da norma 
jurídica pertinente ao caso concreto. 
Existem os princípios gerais, hauridos da Constituição Federal, e os princípios 
exclusivos que, apesar de encontrarem a sua fundamentação na Carta Magna, dependem de 
normas infraconstitucionais que lhe dêem o comando necessário. 
4.1.1 Dos princípios constitucionais da Seguridade Social 
 
O princípio da DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, conforme já mencionado 
anteriormente neste estudo, é considerado o suporte mais importante de qualquer 
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ordenamento jurídico e possui uma tripla interpretação pois é endereçado para o Estado, 
para o aplicador da lei e para a sociedade a fim de reconhecer a dignidade inerente a todos os 
homens e de seus direitos inalienáveis e iguais que constituem o fundamento da justiça, da 
paz no mundo e da justiça. O constituinte, ao estabelecer no artigo 1º da Constituição Federal 
a dignidade da pessoa humana como um pilar do Estado Democrático de Direito do Brasil, 
abriu a oportunidade de que toda a normatividade internacional que tratar dos Direitos 
Humanos (que não deixa de ter em seu bojo a dignidade da pessoa humana) tem o status de 
emenda constitucional, tamanha a sua importância8. Os direitos humanos e a dignidade da 
pessoa humana prevalecem...existem antes mesmo do que a própria Constituição Federal. 
O princípio da IGUALDADE encontra a sua expressão maior no artigo 1º e 2º da 
Declaração Universal dos Direitos Humanos e no artigo 5º caput da Constituição Federal de 
1988, no sentido de que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. 
Este princípio visa coibir que, na aplicação da norma, tenha-se como resultado a criação de 
privilégios ou discriminações arbitrárias e desarrazoadas entre pessoas na mesma situação, 
deixando de ser dado um tratamento equitativo idealizado pela noção de justiça. 
Não seria exagero nenhum concluir que o princípio da igualdade, na mesma toada do 
princípio da dignidade da pessoa humana, constitui outra viga-mestra da norma material 
mundial, presente nos já mencionados artigos 1º e 2º da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos: 
“Artigo I 
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São 
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às 
outras comespírito de fraternidade. 
Artigo II 
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades 
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, 
 
 
 
8 Inteligência do parágrafo 3º do artigo 5º da Constituição Federal de 1988. 
10 Todo o material desta disciplina foi produzido pela Fatej e é protegido pela Lei 9.610/98, 
 
 
 
seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra 
natureza, origemnacionalou social, riqueza, nascimento, ou qualquer 
outra condição.". 
Pertencente dos quadros do Supremo Tribunal Federal (STF), a Ministra Carmen Lúcia 
Antunes Rocha, em artigo9 produzido em 1996 e de forma primorosa, assim discorreu sobre o 
princípio da igualdade: 
"Poressa constatação histórica irrefutáveléque, desdea década de 60 
especialmente, começou a se fazer patente, aosque tinham olhos com 
que ver claro, que o Direito Constitucional acanhava-se em sua 
concepção meramente formal do princípio denominado da isonomia, 
despojado de instrumentos de promoção da igualdade jurídica como 
vinha sendo até então cuidado. Concluiu-se, então, que proibir a 
discriminação não era bastante para se ter a efetividade do princípio 
da igualdade jurídica. O que naquele modelo se tinha e se tem é tão- 
somenteo princípio da vedação da desigualdade, ou da invalidade do 
comportamento motivado por preconceito manifesto ou comprovado 
(ou comprovável), o que não pode ser considerado o mesmo que 
garantir a igualdade jurídica. [...] Urgia, pois, que se promovesse 
constitucionalmente, por uma remodelação da concepção adotada 
pelo sistema normativo democrático, a igualdade jurídica efetiva, a 
dizer, promotora da igualação. Os iguais mais iguais que os outros já 
tinham conquistado o ‘privilégio’ da igualdade. E os desiguais, ou 
aqueles histórica e culturalmente desigualados, sujeitos permanentes 
do Direito formal, maspáriasdo Direito aplicado, quenão conseguiam 
ascender à igualdade jurídica desejada." 
Nos dizeres de Rui Barbosa, na célebre obra “Oração aos moços”: 
 
“A regra da igualdade não consiste senão em aquinhoar 
desigualmente aos desiguais, na medida em que sejam desiguais. 
Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é 
que se acha a verdadeira lei da igualdade. Tratar como desiguais a 
iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualmente flagrante, e 
não igualdade real” 
O princípio da ANALOGIA, apesar de não previsto 
expressamente na Constituição Federal, está previsto no artigo 4º da Lei de Introdução ao 
 
 
9 ROCHA, Carmen Lúcia Antunes. Ação Afirmativa: o Conteúdo Democrático do Princípio da Igualdade Jurídica. 
Revista Trimestral de Direito Público n. 15, p. 85-99, 1996. 
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Código Civil que assim estabelece: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo 
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito". Este princípio pressupõe a 
existência de uma lacuna na lei, cabendo ao julgador aplicá-lo com extrema cautela 
observado caso a caso. Apesar de alguns ramos do Direito não autorizar a aplicação deste 
princípio, a exemplo do Direito Penal, ele tem sido aplicado constantemente no Direito 
Previdenciário pelos Tribunais pátrios: 
PROCESSO CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. OFENSA AO ARTIGO 460 DO CPC. 
APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DO ARTIGO 515, § 3º, DO CPC. 
AVERBAÇÃO DETEMPO DE SERVIÇO. EXERCÍCIO DA ATIVIDADERURAL. 
APOSENTADORIA INTEGRAL POR TEMPO DE SERVIÇO. REQUISITOS 
NÃO PREENCHIDOS. 1. É nula a sentença quecondiciona a implantação 
da aposentadoria à comprovação, na via administrativa, dos requisitos 
legais, tendo em vista que a legislação processual impõe que a 
sentença deve ser certa, a teor do artigo 460, § único do CPC. 2. 
Desnecessária a restituição dos autos à instância de origem para 
prolação de novo julgamento, eis que a questão ventilada pode ser 
imediatamente apreciada pelo Tribunal, incidindo na espécie, por 
analogia, a regra do § 3º do artigo 515 do Código de Processo Civil. 3. 
É firme o entendimento desta Décima Turma de que para o 
reconhecimento do trabalho rural, não se exige que a prova material 
abranja todo o período decarência, desdeque haja prova testemunhal 
apta a ampliar a eficácia probatória dos documentos, como no caso 
dos autos. 4. O período de atividade rural anterior à vigência da Lei nº 
8.213/91 deve ser computado como tempo de serviço, mas não pode 
ser considerado para efeito de carência (art. 55, § 2º). 5. O autor não 
cumpriu os requisitos necessários à concessão do benefício de 
aposentadoria, nos termos do artigo 53, inciso II, da Lei nº 8.213/91. 6. 
Preliminar acolhida. Procedência parcial do pedido.(TRF-3 - AC: 4860 
SP 0004860-15.2011.4.03.9999, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL 
LUCIA URSAIA, Data de Julgamento: 18/09/2012, DÉCIMA TURMA) 
 
4.2.2. Influencia das Convenções da OIT na Seguridade Social brasileira. 
 
Criada através do Tratado de Versalhes em 1919, a OIT (Organização Internacional do 
Trabalho) é responsável pela criação de convenções e de recomendações internacionais 
relacionadas ao trabalho sujeitas às ratificações pelos países membros da Organização. Após 
a ratificação da Convenção, o país signatário se compromete a cumprir o nela determinado 
12 Todo o material desta disciplina foi produzido pela Fatej e é protegido pela Lei 9.610/98, 
 
 
 
 
além de enviar periodicamente um relatório do trabalho que vem sendo desenvolvido pela 
Nação para a concretização dos objetivos. 
4.2.2.1 Convenção 102 da OIT 
 
Elaborada em Genebra e em vigor no âmbito internacional desde 27 de abril de 1955, 
esta Convenção somente foi ratificada pelo Poder Legislativo brasileiro em 15 de junho de 
2008, através do Decreto Legislativo no. 269 do Congresso Nacional passando então a 
incorporar o ordenamento jurídico pátrio. Versando exclusivamente sobre as normas que 
regulamentam a Seguridade Social dos países signatários, esta Convenção traz as normas 
mínimas que devem ser asseguradas no caso de acometimento de doenças mórbidas de 
qualquer origem, gravidez e parte, concessão de auxílio-doença, auxílio ao segurado na 
velhice e o afastamento por acidente do trabalho dentre outros. Ministro da Previdência 
Social à época da ratificação, José Barroso Pimentel, afirmou que a ratificação representa: 
“um comprometimento social do Brasil com os padrões mínimos de 
prestação de serviços previdenciários reconhecidos como necessários 
pela comunidade internacional” e salientou que “o Brasil já oferece 
bem mais benefícios previdenciários que os estabelecidos pela 
Convenção 102, aprovada pela OITem 1952(...) A ratificação consolida 
o nosso país como referencia em Previdência Social na América Latina, 
estimulando outros países a fazerem o mesmo”10 . 
À frente do determinado pela Convenção, a Previdência Social brasileira já possuía 
importantes avanços. Apenas a título de exemplificação: a Convenção determina que as 
regras para estabelecer o valor dos benefícios de aposentadoria e pensão devem preservar, 
pelo menos, 40% do salário de contribuição médio do obreiro. Já as fórmulas adotadas pela 
Previdência Social do Brasil garantem a preservação de 70% a 100% do valor médio na 
aposentadoria por idade11 
11 O valor da aposentadoria por idade é de 70% do salário de benefício acrescido de mais 1% sobre cada ano a 
mais de pagamento ao INSS nos termos do artigo 50 da Lei 8.213/91. 
 
10 Disponível em: http://www.mpas.gov.br/arquivos/office/3 _090713-142809-858.pdf - acessado em 13 de 
outubro de 2013. 
 
 
 
 
 
http://www.mpas.gov.br/arquivos/office/3_090713-142809-858.pdf

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