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Reflexões sobre a psicanálise e a morte

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Reflexões sobre a psicanálise e a morte
Morte e Desenvolvimento Humano – Cap.06 
No ser humano encontramos um espectro imaginário, que vai da VIDA até a MORTE. Em cada polo, suas peculiaridades. 
No extremo Vida: o amor, a solidariedade, o vigor, a dignidade, a construção de si mesmo e do mundo, a criatividade, a preocupação com o bem de si e dos outros, o aproveitar e tornar a vida o mais rica possível para todos.
No extremo Morte: o ódio, a destrutividade, a inveja, a competição ambiciosa, o desrespeito, a indignidade, a corrupção, a desumanidade, a guerra.
Em todo tempo esses elementos estão opondo-se e mutualmente coexistindo em cada indivíduo de uma maneira peculiar. Antíteses como, solidariedade e inveja, criatividade e destruição, e etc. 
Na visão da psicanálise, não existe a divisão em polo bom e mau (moralismo). Mas existe um mundo em que devemos conviver com todos os aspectos humanos. 
Os juízos de valor dependerão da cultura, do momento, do indivíduo.
O psicanalista pode e deve lutar pela vida, como ser humano e como profissional, não ignorar os fatos e abandonar.
Mas a própria psicanálise descobriu que a melhor forma de lutar contra a morte, fortalecendo olado da vida, é evitar juízos de valores, aconselhar, condicionar, educar, ou qualquer outra atitude que não seja fazer o indivíduo (e a sociedade, em colaboração com outras disciplinas), tomar consciência daquilo que lhe é inconsciente. 
O Terror diante do “Não-saber”
A psicanálise descobriu que existe uma sobredeterminação em nossas vidas, derivada de instâncias inconscientes. Isso provocou uma ferida narcísica na humanidade.
A tomada de consciência da morte, da finitude do ser humano, constitui-se em outra ferida, está ainda mais aterrorizante.
Perante o terror de não saber sobre a morte o homem cria as suas “verdades”. Criamos teorias sobre fatos que estão fora de nosso controle. 
As pessoas tornam a fé uma ciência, e outras ainda, acabam tornando a ciência uma religião. 
Muitos matam aqueles que se opõe a sua crença, seja ela científica ou não. 
Contudo, muitos limitam as ciências, falam sobre a tolerância religiosa, mostram as invariantes nas várias abordagens psicológicas, e etc. 
As Fantasias Inconscientes sobre a Morte 
No trabalho psicanalítico verificamos que as fantasias inconscientes sobre o que seria a morte não são muito abrangentes: 
1) o reencontro com pessoas queridas mortas (por esse motivo, é comum crianças e adolescentes tentarem matar-se, após uma perca significativa); 
2) o encontro com outras figuras idealizadas, como Deus ou algo similar;
3) a ida para um mundo paradisíaco, regulado pelo princípio do prazer e onde não existe sofrimento; 
4) a volta ao útero materno, numa espécie de parto ao contrário, onde não existem desejos e necessidades. 
Contudo, ao lado dessas fantasias prazerosas, existem outras aterrorizantes, relacionadas ao inferno ou similares.
Essas fantasias terroríficas persecutórias, têm a ver com sentimento de culpa e remorso. 
São fantasias consideradas “normal” no ser humano. 
Um grande questionamento é levado. Poderia existir algum tipo de representação da morte? 
Para Freud, não. Já que a pessoa nunca passou por essa experiência. Porém, em seu inconsciente tem representações da castração, perda do amor, do objeto. 
Para os kleinianos, existe o medo da morte, relacionado a pulsão de morte. 
Pulsão de Vida x Pulsão de Morte
Aqui entramos em outro assunto controvertido: existe ou não uma pulsão de morte, que se contrapõe e ao mesmo tempo se funde com Eros, a pulsão de vida. 
Conceito utilizado por Freud, Melanie Klein e alguns continuadores. 
De acordo com Freud, vivemos constantemente num estado de conflito entre Eros e Tanatos, pulsões de vida e pulsões de morte. 
Pulsões de vida: levam ao crescimento, desenvolvimento, integração, reprodução, manutenção da vida; 
Pulsôes de morte: levam a desintegração, tentando levar o indivíduo para um estado inorgânico, a morte. 
Esses dois grupos de pulsões estão "fundidos", funcionando sempre juntos, complementando-se e opondo-se, num processo dialético.
Quando ocorre a “desfusão” das pulsões, e a de morte se encontra livre, predominantemente, o indivíduo se encontrará em situações de grande sofrimento, podendo manifestar-se nas áreas som ética, mental e social. Chega a levar o indivíduo a loucura, suicídio ou morte precoce.
Tanatos sempre vence o indivíduo, levando-o a morte. Porém, dentro do parâmetro espécie, Eros ganha perpetuando a espécie. 
Muitas vezes as pessoas sentem-se meros instrumentos de perpetuação da espécie. 
Vivemos em um mundo em que somos frágeis e sem muita importância em comparação a complexidade e grandeza do Universo. 
Mesmo contendo poder e inteligência o homem não pode controlar a verdade de que, a Terra, o Sistema Solar e o próprio Universo podem ter um fim. 
Existe um grande pessimismo freudiano e psicanalítico. Pode ser por que Freud esteve na Segunda Guerra Mundial. 
Impotência x Onipotência
Ante a percepção de nossa impotência, por vezes "percepção" inconsciente, nos defendemos através da onipotência. 
A certeza de uma vida pós-morte pode ser resultado desse segundo mecanismo.
Muito profissionais, trilaham o caminho de suas profissões com o objetivo de “vencer” a morte. Isso, causa frustração, desleixo e sofrimento. 
Médicos, muitas vezes, que tem esse objetivo, quando estão com um paciente e não veem saída de saírem vitoriosos nessa batalha, abandonam esses pacientes e se perde a esperança de um dia “vencer” a morte. 
Isso leva tanto o profissional da saúde sofrer, quanto o próprio paciente que é impedido de viver momentos bons perto de sua morte. 
“a sabedoria de viver consiste em sabermos usar nosso vigor, nossa potência, conscientes de nossas potencialidades e limitações.”
As Sabotagens Internas
Temos uma grande criatividade para sabotar nossa felicidade. 
Para aprofundar: ler sobre os conceitos psicanalíticos de masoquismo e narcisismo; conceitos de pós-kleinianos de narcisismo destrutivo. 
Na prática, lembre-se: 
As coisas que deixou de fazer, as que fez de maneira errada, as brigas inúteis, os estragos desgastantes, sem qualquer objetivo, as fantasias persecutórias, os lapsos autocondenatórios, os sentimentos de culpa absurdos, os ataques invejosos e destrutivos contra si mesmo e contra os outros.
Teoria da inveja de Melanie Klein 
Em uma perspectiva mais grupal, esses conceitos auxiliam na compreensão de guerras, torturas, sacrifícios, morticínios e etc. 
Morte Física e Outras Mortes
A morte está sempre presente em nossas vidas, e das mais variadas maneiras. 
A morte física será a última, mas teremos mortes parciais ou totais nas áreas somática, mental e social, que se interpenetram. 
“Micromortes da vida cotidiana”
Na área mental, podemos ter as psicoses. 
Na área somática o próprio suicídio ou impossibilidade de simbolização. 
Na área social, as patologias sociais. 
Tentando Combater a Morte
A humanidade tem descoberto recursos para adiar a morte. 
Nunca saberemos como terminará a luta constante entre vida e morte.
Muitas mudanças já ocorreram na sociedade, fatos que eram a verdade, hoje são considerados errados e vise versa. 
Não podemos ficar passivos diante de Tanatos: devemos estar sempre alertas, denunciando seus mecanismos, comumente sutis, de insinuarem-se, tanto no nível individual como social. 
Para isso não precisamos ser psicanalistas: temos de ser cidadãos, exercendo nossos direitos, conquistados a tanto custo, em lutas memoráveis que se estenderam por gerações.
O Processo de Luto
A psicanálise contribui grandemente para a melhor compreensão do processo de luto. 
Observa-se que o objeto morto se instala no ego do enlutado, funcionando como objeto de ao mesmo tempo como protetor e perseguidor. Tudo por conta da ambivalência e dualidade dos seres humanos. 
Durante o trabalho de luto, o ser humano deve recolher sua libido, suas fantasias destrutivas.
Para Freud: a “energia” volta0se para o próprio ego. 
Para kleinianos: as fantasias inconscientes decorrentes dessa perda reativam fantasias anteriores,e o objeto introjetado passa a funcionar num padrão decorrente daquelas fantasias somadas à situação particular com esse ou outros objetos perdidos no passado.
Na perspectiva clínica, levanta-se a possibilidade de haver lutos mal elaborado, cheio de culpa, que pode levar a lutos patológico ou quadros melancólicos. 
Os indivíduos começam a viver como mortos, resultado da identificação com o morto. 
As fantasias suicidas, ou o suicídio exitoso, são formas de eliminar esse objeto aterrorizante: mas, para eliminá-lo, o ser humano tem de eliminar-se como um todo
Muitos sintomas não se manifestam na área mental, mas principalmente na somática. 
Muitos fatores dificultam a elaboração: 
· Negação da morte, o terror que ela inspira;
· Falta de rituais que auxiliem na sua elaboração; 
· Falta de auxílio individual.
O luto mal elaborado é “contagioso”, principalmente para crianças, que acabam convivendo com os pais em estado melancólico e deforma verbal ou não transmitem este estado. 
Reações de Aniversário
Reações de aniversário é uma forma peculiar de manifestação do processo de luto mal elaborado.
Trata-se de fenômenos que, eliciados por uma data, fazem o indivíduo passar por processos variados de manifestação de conflitos: ansiedade, tristeza, surtos psicóticos, ideias ou tentativas de suicídio, somatizações.
Podem ocorrer: 
1. Aniversário de morte 
2. Quando o enlutado atinge a idade de morte da pessoa que se foi
3. Quando os filhos do enlutado atingem a idade que o enlutado perdeu a pessoa
4. Data de abortos ou na data em que deveria nascer uma criança abortada
Normalmente, passadas as datas tudo volta ao “normal”. 
Conclusões
O trabalho psicanalítico, ao desvendar as fantasias inconscientes em relação à morte nos auxilia a compreender o fenômeno da morte. 
A morte deve ser aceita como um fato da vida. 
O rever a própria vida, reconhecendo e aceitando seus limites, seus "fracassos" e sua criatividade, fazem com que os indivíduos vivam realmente, intensamente, o restante de suas vidas, e morram em paz.
Pag. 106 até 109 – sugestões de leitura

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