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1. Mudanças Físicas e Cognitivas Uma dos maiores objetivos da gerontologia é o envelhecimento bem-sucedido, ou seja, a meta é extrair mais da vida. Rosenthal comemorou seu 70 anos com um bar mitzvah – cerimônia do 13.º ano judeu. Ele, que se aposentou aos 65 anos, afirmou que o fundamental na vida é “livrar-se de tudo que não é importante e gastar tempo com que interessa”. Apesar da maioria dos idosos serem saudáveis e ativos, há um declínio das capacidades físicas e da saúde. Pode-se afirmar que, após 65 anos, se inicia um declínio mais intenso da reserva orgânica, do sistema imunológico e da força muscular. Isto pode desencadear uma grande suscetibilidade às doenças crônicas, agudas, bem como ao câncer e problemas cardíacos. Cabe destacar, no entanto, que os cuidados com a saúde e a qualidade da assistência médica podem interferir de forma a minorar estas ou outras doenças. Outro aspecto a ser considerado diz respeito à necessidade de sono, que tende a diminuir, bem como podem aparecer disfunções sexuais e, por outro lado, as habilidades lingüísticas tendem a aumentar até a idade muito avançada. No entanto, o sistema nervoso tende a ficar mais lento, devido à perda de substância cerebral, como também há um aumento no tempo de processamento e de reação. Assim, é freqüente ocorrer falhas na memória, embora isto esteja mais relacionado a alguns aspectos e neste sentido, a memória de longo alcance é mais durável, enquanto que a operacional ou curta é a primeira a desacelerar. A demência é uma doença que pode aparecer na velhice, principalmente nos mais idosos. O Alzheimer, a depressão ou as drogas podem desencadear a demência. Algumas teorias ou modelos do envelhecimento destacam os aspectos biológicos. Segundo Griffa (2001) são elas: a) Teorias Genéticas: consideram o ciclo vital como determinado; b) Teoria da Mutação somática: apontam a existência de um acúmulo gradual de células modificadas, que não funcionam mais normalmente; c) Teorias Biológicas: evidenciam o acúmulo progressivo de elementos tóxicos em células e órgãos; d) Teorias Imunológicas: indicam que os anticorpos perdem a capacidade de distinguir proteínas próprias e estranhas, atacando-as. Outras mudanças físicas podem ocorrer como a perda de pigmentação, textura e elasticidade da pele; os pelos tornam-se mais finos e brancos, diminuição da estatura; rarefação dos ossos e as modificações corporais são mais notórias entre os 75 e 80 anos de idade. Essas mudanças podem provocar no indivíduo sentimentos de inferioridade frente a uma sociedade que nega a velhice e cultiva o corpo jovem. Por outro lado, percebe-se que mesmo que a inteligência e a memória sofram desgastes, a maioria dos idosos encontra formas compensatórias, intensificando seus interesses, valores filosóficos ou estéticos, e o mais importante é manter a cognição funcionando. Atividades recomendadas: 1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os principais aspectos referentes ao período estudado. 2) Pesquise em livros ou bases de dados relevantes, informações sobre como as pessoas em idade avançada estão vivendo e quais as tendências e fatores que têm interferido no envelhecimento da população e no rápido crescimento da expectativa de vida. 3) Reflita no exemplo de exercício a seguir: “ Nossos órgãos dos sentidos e músculos enfraquecem com a idade. Presumivelmente, as mudanças no sistema nervoso explicam porque há séculos os idosos são descritos como esquecidos, confusos, tolos e distraídos. Não há óculos e cadeiras de rodas para essas deficiências, mas um ambiente cuidadosamente planejado pode torná-las menos perturbadoras.O esquecimento é provavelmente o sintoma mais óbvio. O que acontece fica mais claro quando tentamos fazer algo que aprendemos quando crianças- dobraduras de papel em forma de chapéu, ou a seqüência de posições no jogo de barbante. Quando falhamos dizemos –Isso não volta mais! No mesmo sentido, as palavras não voltam quando tentamos relembrar um poema, nem as notas musicais ao tentarmos tocar algo de memória, num instrumento musical.” Viva bem a Velhice - Skinner e Vaughn (1985) Com base no texto acima, sobre a velhice, é correto dizer que: I- O declínio das funções sensoriais é observado na velhice. A preocupação com o corpo e o declínio físico manifesta-se claramente nas conversas das pessoas idosas. II- A perda de memória mais significativa nesta fase relaciona-se com a memória imediata. Por exemplo, alguns não conseguem se lembrar do que comeram no jantar, mas retêm a informação mnemônica do acontecido muitos anos antes. III- A inteligência cristalizada é mais prejudicada nesta fase, onde se incluem as habilidades de vocabulário e compreensão da linguagem. IV- A capacidade de aprender está preservada no idoso, apesar de que muitos podem perder essa capacidade, porque se fecham a novas experiências com medo da frustração. Alternativas: Apenas I e III estão corretas. Apenas II e IV estão corretas. Apenas I, II e III estão corretas. Apenas II, III e IV estão corretas. Apenas I, II e IV estão corretas. A alternativa correta é (E). Justificativa: as medidas de inteligência cristalizada (dependente do conhecimento acumulado), bem como as habilidades lingüísticas aumentam até a idade muito avançada. 2. Mudanças Psicossociais “...O tempo é implacável. A cada segundo que passa nos tornamos alguém diferente. Presente vira passado, futuro vira presente. TIC-TAC. Surgem problemas, surpresas, emoções, realidade, desejos e seguimos em frente, tomando decisões, trilhando caminhos, transformando e sendo transformados, muitas vezes sem perceber. TIC-TAC. Alguns amadurecem jovialmente, outros envelhecem imaturos. TIC-TAC. Fazemos planos, lutamos para colocá-los em prática, comemoramos êxitos, desistimos de tudo, sofremos derrotas, juntamos os cacos, reconstruímos a partir do zero. TIC-TAC...” “Espetáculo do Tempo” (Dílson Branco) O fenômeno de envelhecimento demográfico e as demandas sociais específicas dele decorrentes tornaram a velhice um tema privilegiado de investigação no mundo contemporâneo. Questões como “se muda a personalidade” das pessoas na terceira idade, são evidenciadas. Entre outros, Erikson se debruça sobre a personalidade, dentro de uma perspectiva psicossocial e propõe a velhice como a oitava crise. Nela, ou seja, no último estágio psicossocial, o indivíduo se depara com uma opção entre a integridade do ego e o desespero ou desesperança e a partir dessa avaliará a própria vida. É muito comum nesta etapa da vida que a maioria das pessoas examinem, reflitam e façam um último “balanço” sobre a própria vida. Se diante dessa análise, o indivíduo sentir-se satisfeito com a vida que viveu, estiver em paz consigo mesmo, ou seja, apresentar um sentimento de realização e satisfação, achando que lidou de maneira adequada com os acertos e erros da vida, pode-se dizer que ele tem a integridade de ego e conquistou a virtude da sabedoria, aceitando o seu lugar e o seu passado. Caso contrário, quando a pessoa se depara com um sentimento de frustração, porque perdeu oportunidades e se arrepende de seus erros, percebe que não há mais tempo para corrigi-los, então se sentirá desesperançada. Ainda segundo o referido autor, as pessoas idosas precisam fazer mais do que refletir sobre o passado, precisam continuar ativas, participantes, buscando desafios e estímulos no seu ambiente. Portanto, como afirmado anteriormente, a força básica associada a essa fase final do desenvolvimento é a sabedoria que, derivada da integridade do ego, é expressa na preocupação desprendida com o todo da vida. Ela é transmitida às próximas gerações numa integração de experiências que é mais bem descrita pela palavra “herança”. Outro aspecto a ser destacado é que muitos idosos param de se preocupar com uma série de convenções sociais,com as repercussões do que “pensa, fala, sente e faz” e muitos afirmam que isso é algo permitido nesta idade. Os relacionamentos sociais são muito importantes para os idosos, embora a freqüência do contato social decline na velhice. Em muitos casos, a rede social do idoso fica esgarçada, já que ocorrem muitas perdas e rupturas. Com a perda de pessoas significativas como os cônjuges, parentes e amigos, alguns papéis sociais deixam de ser exercidos e muitos dos idosos recorrem à religião como forma de transcendência e encontram nela novas possibilidades de compreensão da vida, de esperança e alegria. Griffa (2001) descreve algumas das principais teorias ou modelos do envelhecimento destacando os aspectos psicossociais. Entre elas, a teoria personal-espiritualista propõe que o idoso espera cada vez menos da vida e, portanto, intensifica sua sensação de transitoriedade, ficando cada vez menos impressionado com os acontecimentos, isto é, não leva-os tanto a sério, em função da sabedoria recentemente adquirida. Alguns estudos indicam que a religiosidade e a espiritualidade se relacionam com a saúde e bem estar e diminuição de mortalidade. Outras teorias sobre o envelhecimento apontadas pela autora mencionada, são, o Desapego, que nos informa que há uma diminuição do interesse por atividades e objetos, um abandono dos papéis. Nesta perspectiva, envelhecer bem é desapegar-se das coisas ao seu redor. Ocorre, então, uma libertação da busca de conquistas, como a dos bens materiais e do status, desacelera-se a corrida por ascensão e o ego preenche-se com o que está próximo, no presente, sem urgências. O modelo da Atividade, que relaciona o envelhecer bem a um envelhecer ativo e; a Teoria dos Novos Papéis, em que a ênfase é na diminuição da atividade, com conseqüente busca de novos papéis, que no momento não são mais impostos; mas consideram as motivações pessoais e a capacidade física. De acordo com o modelo da Continuidade, o melhor envelhecimento é aquele em que a pessoa envelhece como viveu, e; a da Teoria da Descontinuidade, entende exatamente de forma contrária, as mudanças podem gerar novas formas de envelhecer bem. Cabe encerrar, lembrando que muitas pessoas nesta fase, ainda sofrem de forma intensa com o preconceito e estigmas, fruto de uma sociedade que valoriza o novo. As singularidades da vivência do velho apontam a falência do projeto de vida que a ideologia defende, justifica e vende. Alguns autores afirmam que o preconceito contra a velhice é mais forte do que o preconceito racial, porque é incorporado sem crítica, envolve toda a sociedade e é aceito pelas próprias pessoas de idade. Muitas vezes, a velhice é temida, pois o idoso nos lembra de nossa própria fragilidade e da enfermidade de nossa existência. Finalmente, parece que um envelhecer criativo implica no desenvolvimento de uma filosofia adequada de vida ao longo do processo evolutivo, tanto quanto a manutenção de uma identidade psicológica que permita ao indivíduo considerável autonomia funcional. Atividades recomendadas: 1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os principais aspectos referentes ao período estudado. 2) O SESC tem um programa direcionado à terceira idade que é renomado e reconhecido nacionalmente. Pesquise na mídia eletrônica este e outras ações que atendam a terceira idade. Em seguida, analise os programas ou atividades, confrontando com as teorias ou modelos de envelhecimento abordados por Griffa (2001). 3) Reflita no exemplo de exercício a seguir: Leia o trecho da música, a seguir: O homem velho deixa vida e morte para trás Cabeça e prumo segue rumo e nunca, nunca mais. O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais O homem velho é o rei dos animais. Os filhos, filmes, livros, ditos como um vendaval. Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual. “O Velho Homem” (Caetano Veloso) A partir dos versos lidos e das reflexões propostas por Griffa (2001), analise as proposições abaixo: I- Erikson enfatiza a culminação do processo de separação/individuação e substituição do vínculo de dependência simbiótica com a temporalidade; seu limite é poder romper com o tempo. II- Nesta fase do desenvolvimento humano, Erik Erikson afirma que duas virtudes são adquiridas: renúncia e sabedoria, “uma preocupação informada e imparcial com a própria vida diante da própria morte”. III- Nesta fase do desenvolvimento humano, Erik Erikson postula que há a visão retrospectiva e avaliação da própria vida, a integridade de ego é alcançada quando há a aceitação das limitações e frustrações nas fases anteriores, ou seja, ocorre a ressignifição da própria vida. Assinale a alternativa correta: (A) Apenas I está correta. (B) Apenas III está correta. (C) Apenas I e III estão corretas. (D) Apenas II e III estão corretas. (E) Todas as alternativas estão corretas A alternativa correta é a letra (D) Justificativa: Neste período, a maioria das pessoas percebe- se submetidas à temporalidade; e o limite é não poder romper com o tempo. 3. A morte nas diferentes etapas do desenvolvimento humano: representações históricas, sociais e culturais. Um Cavaleiro e seu Escudeiro voltam das Cruzadas. O país está assolado pela peste. Eles se encontram com a morte e o Cavaleiro faz um trato com ela: enquanto conseguir contê-la numa partida de xadrez, sua vida será poupada. Na viagem pela terra natal, encontram artistas, fanáticos, ladrões, patifes, mas por toda parte a presença da morte, empenhada em ganhar o jogo por meios lícitos e ilícitos. No fim, todos, menos os artistas, são arrebanhados por ela.(*) Desde os tempos remotos o homem se intriga com a morte e busca vencê-la. A partir da consciência de sua mortalidade, de sua finitude, o homem tenta encontrar meios para conseguir a vida eterna, ou melhor, a juventude eterna. A imortalidade, por outro lado, também é alvo de heróis, artistas, etc. Outra forma de lidar com a morte podem ser os mecanismos de defesa: negação, deslocamento, racionalização. E há outras pessoas que já estão mortas, estando vivas, é a chamada morte em vida. Ao nascer, já se morre um pouco quando, por exemplo, a mãe se afasta, é a morte como ausência, perda, separação. Para a criança, definir a morte é algo complexo, porque ao mesmo tempo em que ela percebe o não-movimento, a possibilidade de reversão está presente. Tal fantasia, também está no imaginário de outras pessoas, exemplo disso são os jovens ou adolescentes que tentam o suicídio, acreditando poder morrer só um pouco. À medida que a criança cresce, seus animais, alguns parentes e mesmo os amigos morrem; na televisão a violência, o sangue e a morte são evidenciados e passa-se a conviver com a idéia de que a morte só ocorre com o outro. Outro fator presente na infância é o sentimento de culpa pela morte do outro, ao vincular seus desejos à morte de fato. Para muitos adultos, isto também acontece; mais no plano emocional do que racional. Os adolescentes se sentem fortes e distantes da morte. Para eles, a morte dos amigos em acidentes, uso indevido de drogas entre outros, representa o fracasso, a fraqueza e a imperícia. No entanto, se nessa fase ela parece estar tão distante, eles desafiam-na constantemente. Na fase adulta, alguns motivos de morte são os ataques cardíacos fulminantes e, na fase seguinte, no balanço de ganhos e perdas, emerge a possibilidade de “minha morte”, que neste momento pode engendrar a ressignificação da vida. Na terceira idade, com as perdas corporais, financeiras, separações, etc, há que se fazer uma escolha: a ênfase será na vida ou na morte? Segundo Kovács (2002) a morte numa perspectiva biológica é o fim da existência e não da matéria e, do ponto de vista da medicina, é a interrupção completae definitiva das funções vitais. Algumas pessoas já viveram situações muito próximas da morte e relataram questões como: sensação de paz, experiência extracorpórea, encontros com seres-iluminados. Muitas pessoas buscam na experiência religiosa uma forma de obter um conforto maior para lidar com a morte, vista como finitude. Atividades recomendadas: 1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os principais aspectos referentes à morte. 2) No início da discussão sobre a morte, encontra-se uma parte da sinopse (*) do filme O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman. Assista ao filme e, em seguida, relacione a trama aos conceitos abordados por Kovács, sobre a morte. 3) Reflita no exemplo de exercício a seguir: Autora consagrada, Maria Júlia Kovács (2002) contribui significativamente para a compreensão sobre as questões relativas às atitudes diante da morte, dentro da perspectiva histórica, social e cultural. Sobre o tema, reflita nas afirmações a seguir e assinale a afirmação falsa: a) A consciência da própria morte é uma importante conquista constitutiva do homem b) MORIN (1970) afirma que é nas atitudes e crenças diante da morte que o homem exprime o que a vida tem de mais fundamental c) MELTZER (1984) afirma que a morte é o inimigo que os vivos passam suas vidas tentando superar e derrotar para sempre, sem idéia da conseqüência disso d) Segundo VOVELLE (1985) as representações da morte são culturais e envolvem o imaginário coletivo e) MORIN (1970) faz uma análise das crenças, dos ritos, das magias e da religião e conclui que nenhum desses fatores estão associados às representações da morte. A afirmação falsa é (E) Justificativa: Todos estes aspectos desempenham um importante papel. Ritos, práticas e crenças representam o setor mais primitivo de nossa civilização. À religião cabe socializar e dirigir os ritos de morte. O sacrifício liga a vida e a morte, sendo a força da vida resultante dos aspectos fecundos da morte. Os ritos levam para uma vida nova, passando pela morte e separação, pois representam um renascimento e uma reintegração na sociedade. 4- A Morte, a separação, as perdas e o processo de luto. Carruagem da Morte (Face da Morte) A carruagem de fogo começa a viajar Você não pode ver não pode ao menos tocar Na carruagem da morte todos vai ter que embarcar O seu destino é incerto depende do condutor Pode subir ao céu ou queimar eternamente Fulano até que era gente Mas conduziu muito mal Pelo caminho do crime O destino é sempre fatal Caiu na cadeia então difícil acreditar Quatro portões pra passar O mano vai se fechar Não adianta tentar Não da pra escapar... Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/face-da-morte/face-da-morte-carruagem-da-morte.html#ixzz1I1b7nyn9> Acesso em 25 de mar. 2011. Se por um lado, a morte se associa com sentimentos como dor, tristeza, medo, perda, ruptura e interrupção, por outro lado, permite que a pessoa entre em contato como a sua potência, capacidade de amar, de se vincular e estar vivo. O grande historiador francês Philippe Ariés, mencionado por Kovács (2002), descreveu várias representações da morte. A Morte Domada, em que há o lamento da vida, a busca do perdão dos companheiros e a absolvição sacramental. O medo com o que vem após a morte, inferno, castigo eterno, entre outros caracterizam a Morte de Si Mesmo. Com o avanço da medicina, emergem questões como os segredos da vida e da morte do cadáver, que providencia matéria-prima para alguns remédios, fertiliza a terra e transmite vida, é a chamada Vida no cadáver, Vida na Morte. A Morte do Outro representa a possibilidade de evasão, liberação, fuga para o além; mas também a ruptura insuportável e a separação e, no mundo contemporâneo, temos a Morte Invertida, é a morte como fato que não deve ser percebido, é vergonhoso e representa o fracasso. O Luto é entendido como um processo que congrega uma série de reações diante de uma perda. Segundo Bowlby (1985) o processo de luto contempla quatro fases. Na primeira, o enlutado vive uma sensação de entorpecimento diante da notícia da perda, que pode ser acompanhado de tensão, raiva ou pânico. Chama-se fase de choque. Em seguida, pode ocorrer ao enlutado que tudo é uma ilusão ou um pesadelo. A pessoa tem a sensação de que o morto pode voltar, ou tudo não passou de um sonho, porque há um anseio por reencontrar a pessoa morta, é a fase de desejo e busca da figura perdida. Na fase de desorganização e desespero, o enlutado se depara, ou constata com a perda como definitiva, emerge o desespero de sobreviver sem a pessoa perdida. E, finalmente, a última fase de alguma organização, o enlutado aceita a perda se conscientiza da necessidade de reconstrução e continuidade de sua vida. Geralmente, há uma diminuição da depressão e da desesperança, um investimento afetivo na vida, e muitas vezes, as pessoas precisam fazer adaptações, como por exemplo, aprender ou desenvolver novas habilidades que antes eram exercidas pela pessoa que morreu. Segundo Kovács (2002), durante o período de elaboração do luto podem ocorrer distúrbios alimentares ou de sono. Um número grande de enlutados apresenta quadros somáticos e doenças graves depois do luto. O tempo de luto é variável e em alguns casos, podem durar anos, em outros nunca termina. De acordo com Bowlby (1979), um luto torna-se patológico quando há dificuldade de expressar abertamente todos os sentimentos envolvidos na situação de perda e quando a pessoa manifesta as características do enlutamento de forma prolongada e severa. Bowlby (1979) destaca alguns aspectos que interferem no processo de elaboração de luto. A identidade e papel da pessoa morta; a idade e o sexo do enlutado; as causas e circunstâncias da perda; as circunstâncias sociais e psicológicas do enlutado, na época e após a perda e; a personalidade do enlutado. O luto antecipatório, diz respeito ao processo de luto que ocorre com a pessoa ainda viva, mas que, por uma doença grave ou incapacitação parou de exercer papéis ou funções. Essas perdas já têm que ser elaboradas, com ela ainda viva, de ambos os lados. Nesses casos, é comum a morte ser vista como um alívio, mas também, pode eliciar sentimentos de culpa. Quanto ao luto infantil, Kovács (2002), afirma que sofre influências do processo de luto dos adultos e também do nível de informação que a criança recebe. Informações sonegadas e confusas, como dizer que a pessoa foi morar no céu ou que a fada veio buscar, atrapalham o processo de luto. Respostas que escamoteiam o caráter de permanência da morte, como, por exemplo, dizer que a pessoa foi viajar, acaba por não permitir que a elaboração da perda ocorra, porque a criança vai esperar a volta do morto. Outro aspecto a ser destacado é o fato de alguns pais esconderem os seus sentimentos para não entristecer a criança. Isso pode causar mais problemas, pois ela sente que também não deve manifestar seus sentimentos. A criança passa pelas mesmas fases do luto que o adulto, conforme elucidado acima, choque; desejo e busca da pessoa; desorganização e desespero e; alguma organização. Isto é possível, desde que ela esteja de posse dos esclarecimentos de que necessita e que devem ser fornecidos levando-se em conta o seu nível cognitivo e sua capacidade de compreensão. A continência e apoio são extremamente importantes. A separação é uma experiência universal que todos conhecem e vivem desde a infância, mas nem por isso, é uma vivência fácil. Na separação dos casais, uma das maiores dificuldades é elaborar o divórcio emocional, ou seja, é preciso matar o outro dentro de si e aceitar que se morreu dentro do outro. Envolve vários sentimentos ambivalentes como, amor e ódio. Nesses casos, há também uma série de outras mortes presentes e lutos a serem elaborados, como: alteração no padrão social e econômico, eventuais mudanças de residência, alteraçõesnas redes sociais e de identidade, entre outros. Segundo Kovács (2002), alguns mecanismos de defesa podem ser acionados em caso de separação, tais como: agressividade (ódio, raiva, desvalorização), indiferença (pouco importa); fuga para adiante (mantendo várias atividades profissionais, de lazer, ou sociais); estoicismo (conformação, resignação). O luto tem que ser elaborado no processo de separação, do contrário, os casais não conseguem se separar de fato e, muitas vezes, passam a viver a morte em vida, já que ficam estagnados e não se reorganizam frente à nova situação. Muitas disputas judiciais, na área de família, são alicerçadas em lutos não resolvidos. Além desses, a doença pode propiciar o contato do indivíduo com a sua finitude, embora nem sempre corresponda com a realidade. A morte pode aparecer também, enquanto diminuição das funções, dificuldade para a realização de atividades ou interrupção de carreira. A morte social pode ser vivida a partir do afastamento dos amigos que por não saberem conviver com uma determinada limitação, se afastam. A hospitalização, por si só, pode ser sentida como uma morte ligada ao afastamento da casa, da família, e sentida como uma invasão de privacidade e solidão. É importante destacar que a expressão de sentimentos, desidentificação e reinvestimento quando ocorrem numa ambiente acolhedor, como a psicoterapia, pode contribuir grandemente no processo de experiências com a morte. Atividades recomendadas: 1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os principais aspectos referentes à morte. 2) Conheça na íntegra o rap “Carruagem da Morte”, entrando no site acima mencionado. Em seguida, faça uma relação teórico-prática com a teoria estudada sobre a morte, em Kovács (2002). 3) Reflita no exemplo de exercício a seguir: Analise as afirmações abaixo sobre o processo de luto a partir da obra de Kovács (2002): I - O processo de luto é um conjunto de reações diante de uma perda. Inclui fases como: choque; desejo e busca da figura perdida; desorganização e desespero; fase de alguma organização. II - O tempo de luto é variável e em alguns casos pode durar anos. O traço mais permanente no luto é um sentimento de solidão. III - Para realizar-se o processo de luto é necessário: uma desidentificação e um desligamento dos sentimentos em relação ao morto; aceitação da inevitabilidade da morte; quando possível um substituto para a libido desinvestida. IV - Luto antecipatório refere-se ao processo de perda de pessoas muito jovens e que, portanto, invertem o padrão natural dos acontecimentos vitais. V - No luto patológico há a exacerbação dos processos presentes no luto normal, com uma duração muito longa e com características de obsessividade. Assinale a alternativa correta: a) Apenas as afirmações II e IV estão corretas. b) Apenas as afirmações I, II e III estão corretas. c) Apenas as afirmações I, II, III e V estão corretas. d) Apenas as afirmações I e II estão corretas. e) Apenas as afirmações III, IV e IV estão corretas. A alternativa correta é a (C) – Justificativa: Alternativa IV está errada porque o luto antecipatório refere-se ao processo que ocorre com a pessoa ainda viva e de ambos os lados, as perdas (atividades, do parceiro sexual, colega de trabalho) tem de ser elaboradas.
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