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Aula 00 Direito Processual Civil p/ Polícia Civil-DF (Delegado) Professor: Gabriel Borges Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 45 DIREITO PROCESSUAL CIVIL P/ DELEGADO DA PC-DF AULA 00: JURISDIÇÃO Apresentação do curso Primeiramente, quero dizer que é um grande prazer encarar este desafio com vocês. Faremos um curso de teoria e exercícios voltado para o concurso do DELEGADO DA PC-DF. Faremos um curso bastante didático, deixando de lado a linguagem excessivamente técnica e a formalidade. Utilizaremos recursos visuais: marcadores de texto, negrito e muitas questões de concurso, no corpo da aula, bem como ao final. As questões são de provas passadas e eventualmente inéditas (elaboradas pelo próprio professor). O objetivo é preparar o candidato para resolução de questões no grau de complexidade que a banca tem atribuído aos certames mais concorridos. O curso visa a preparar os candidatos para o cargo de DELEGADO. Será um curso de 04 encontros, além deste, em que iremos trabalhar todo o conteúdo exigido pela FUNDAÇÃO UNIVERSA, por meio de teoria e exercícios de concursos anteriores. Além das questões elaboradas pela FUNDAÇÃO UNIVERSA, resolveremos questões de outras bancas, para darmos ao conteúdo um tratamento completo e com foco na sua preparação para o certame. Sobre o Prof. Gabriel Borges O Professor Gabriel Borges graduou-se em Jornalismo e Direito, cursou pós- graduação em Direito Público e Mestrado em Relações Internacionais. Em 2008 foi aprovado no concurso de Analista de Comércio Exterior, sendo lotado de imediato no Gabinete do Ministro, onde trabalhou com a redação de pronunciamentos para autoridades do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Realizou estudos na Escola Superior de Guerra – ESG, e em julho de 2011 tornou-se o primeiro servidor do ciclo de gestão a integrar a Consultoria Jurídica junto ao MDIC. No ano de 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 45 2012, foi aprovado para o cargo de Consultor Legislativo do Senado. Em maio de 2014, tomou posse no Senado. OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Grupos de rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram os cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe adquirindo os cursos honestamente através do site Estratégia Concursos ;-) Vamos ao nosso cronograma. DIREITO PROCESSUAL CIVIL P/ DELEGADO DA PC-D AULA CONTEÚDO DATA Aula 0 Jurisdição: natureza; conceito; características; espécies; problemática da jurisdição voluntária; princípios; equivalentes jurisdicionais (autotutela, autocomposição, mediação e arbitragem). 8/1 Aula 1 Competência. Conceito, critérios de distribuição, espécies. Identificação do foro competente. Modificações (conexão, continência, prevenção), perpetuatio jurisdictionis, conflitos positivos e negativos. Competência interna e internacional (concorrente e exclusiva), homologação de sentença estrangeira. Competência da justiça federal. 15/1 Aula 2 Estrutura constitucional (poder judiciário, organização judiciária, atividade jurisdicional, atividades essenciais à justiça); Jurisdição constitucional das liberdades e seus principais mecanismos: habeas corpus no processo civil; mandado de segurança individual e coletivo; 22/1 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 45 habeas data; ação popular; ação civil pública; natureza, conceitos, hipóteses de cabimento e detalhes procedimentais de cada modalidade. Aula 3 Continuação da Aula 02. Tutela. Tutelas jurídica e jurisdicional; tutelas processual e satisfativa; tutelas inicial e final. Tutelas de urgência: conceito, espécies, extensão, profundidade. Antecipação dos efeitos da tutela: natureza, conceito, características e limites. 29/1 Aula 4 Tutela cautelar: natureza e conceito; distinção em relação à antecipação de tutela. Poder geral de cautela. Cautelares inominadas: pressupostos, espécies, procedimento cautelar. Cautelares nominadas (detalhes e procedimentos): arresto, sequestro, caução, busca e apreensão, exibição, produção antecipada de provas, protestos, notificações e interpelações, atentado. 5/2 SUMÁRIO PÁGINA 1. Apresentação 02 2. Cronograma 03 3. Capítulo I: Jurisdição Introdução 1. Equivalentes Jurisdicionais 1.1. Classificação 1.1.1 Jurisdição voluntária versus jurisdição contenciosa 1.1.2. Classificação dos procedimentos de jurisdição voluntária 1.2. Escopos da jurisdição 1.3. Princípios inerentes à jurisdição 1.3.1. Investidura 1.3.2. Territorialidade 1.3.3. Indelegabilidade 06 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 45 1.3.4. Inevitabilidade 1.3.5. Inafastabilidade 1.3.6. Juiz Natural 1.4. Características 4. Resumo 33 5. Questões comentadas 36 6. Lista das questões apresentadas 42 7. Gabarito 43 8. Bibliografia 44 CAPÍTULO I: DA JURISDIÇÂO São quatro os institutos que estruturam o processo civil, a saber: a jurisdição, a ação, a defesa e o processo. Eles são elementos nucleares para a ciência processual, pois possuem uma relação direta ou indiretamente com as demais normas. JURISDIÇÃO AÇÃO DEFESA PROCESSO É uma atividade típica do Estado, em que o juiz busca pacificar os litígios, aplicando, ao caso concreto, normas legais. Direito de iniciar, participar e obter, do Poder Judiciário, uma resposta ao processo. Direito de resposta – ampla defesa e contraditório. Encadeamento de atos que visa um fim – resposta judicial ao pedido formulado. INTRODUÇÃO O conflito é uma característica inerente do ser humano. Quando não havia um Estado organizado, a solução dos conflitos dava-se pela atuação dos próprios interessados - aquele que dispusesse de maior força ou sagacidade vencia a disputa. A solução dos conflitos consolidava-se, desse modo, por instrumentos parciais. A partir da consolidação do Estado, passou a existir um poder central para a solução dos conflitos, o poder estatal. Ao poder judiciário, não participante do litígio, 60575261390Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 45 portanto imparcial, atribuiu-se a função de aplicar a lei, em regra abstrata, em busca da pacificação social. Atribuiu-se a ele o chamado poder jurisdicional. Percebam, então, que a consolidação de um poder central veio acompanhada de um sistema que desse segurança jurídica à sua população, sob risco de o poder central ser mera peça de manobra de forças preponderantes. São duas figuras indissociáveis: 1) O Poder Central (Estatal) e 2) a instituição de um controle imparcial da conduta dos jurisdicionados. Imaginem a existência de uma sociedade onde não há segurança jurídica, onde não se sabe ao certo como garantir a propriedade sobre seus bens e a justeza no conflito com seus pares... Esse cenário impediria os indivíduos de buscarem prosperidade porque estariam voltados, a todo momento, para questões de segurança. A jurisdição veio dar ao Estado a legitimidade para agir em nome do interesse público e ao jurisdicionado a segurança jurídica para prosperar. Em seu conceito tradicional, jurisdição é o poder de resolver um conflito entre as partes, substituindo a vontade delas pela da lei. Ela tem como característica a substitutividade, que consiste em dizer que o Estado, na figura do juiz, ao solucionar a lide, estaria substituindo a vontade das partes, proibindo a elas de estarem, em regra, fazendo valer a justiça do mais forte. No entanto, não é somente quando há conflito entre as partes que o poder estatal atua, nem é sempre que há substituição da vontade das partes. Na concepção moderna, jurisdição é a atuação estatal ao caso concreto; uma atuação com caráter de definitividade – diz respeito à imutabilidade da sentença, que faz coisa julgada material –, objetivando a pacificação social. Assim, a jurisdição consiste no poder conferido ao estado, por meio dos seus representantes, de atuar no caso concreto quando há situação que não pôde ser dirimida no plano extrajudicial, revelando a necessidade da intervenção do estado para que a pendenga estabelecida seja solucionada. De modo sucinto, Marcus Vinícius R. Gonçalves define Jurisdição como a: “Função do Estado, pela qual ele, no intuito de solucionar os conflitos de interesse em 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 45 caráter coativo, aplica a lei geral e abstrata aos casos concretos que lhe são submetidos”. (Direito Processual Civil Esquematizado). Há entendimento da doutrina de que o poder jurisdicional não se restringe a dizer o direito (juris-dicção), alcança também a imposição do direito (juris-satisfação). Obviamente, não é suficiente esperar que o Estado apenas diga o caminho a ser trilhado, espera-se que o poder estatal faça o direito ser efetivamente aplicado. Por isso, o Estado- juiz, por meio do seu poder jurisdicional, tem a capacidade de impor suas decisões. É um poder coativo. Dúvida: Qual dos três poderes, da clássica divisão montesquiana, é responsável pela jurisdição? Ela é atribuída ao poder judiciário como função típica, mas também a outros poderes, como função atípica. Exemplo: processo de impeachment, que pode ser conduzido pelo legislativo, ou das sindicâncias, pelo poder executivo. “A jurisdição é função atribuída a terceiro imparcial (a) de realizar o Direito de modo imperativo (b) e criativo (c), reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas (d) concretamente deduzidas (e), em decisão insuscetível de controle externo (f) e com aptidão para tornar-se indiscutível (g).” (Curso de Direito Processual Civil, vol. I. Didier Jr., Fredie, pág. 83) Esse conceito moderno apresentado por Didier deve ser analisado, pois está de acordo com a realidade das transformações por que passou o Estado. Vejamos cada elemento elencado no conceito. a) Terceiro imparcial: na solução da lide utiliza-se a técnica de heterocomposição – o conflito é solucionado por um agente exterior à relação conflituosa original. Os sujeitos do processo submetem a terceiro seu conflito, em busca de solução. Chiovenda chama essa heterocomposição de substutividade, sendo esta a característica que diferencia jurisdição das outras funções estatais. 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 45 Ok! E o que é substutividade? Bem pessoal, como falamos há pouco a substitutividade consiste em dizer que o Estado, na figura do juiz, ao solucionar a lide, está substituindo a vontade das partes, já que elas estariam proibidas de, em regra, fazer valer a justiça do mais forte (característica do conceito de jurisdição tradicional). É importante não se confundir neutralidade com imparcialidade. Neutralidade é o mito que se sustenta na possibilidade de o juiz não ter vontade inconsciente; segundo a qual predominaria a vontade dos sujeitos processuais e não o interesse geral da justiça. A imparcialidade, por seu turno, determina que o magistrado não pode ter interesse na lide, bem como possui o dever de tratar as partes com igualdade, garantindo o contraditório em paridade de armas. b) Manifestação de Poder: a jurisdição coloca-se de modo imperativo, aplicando o direito a situações que são levadas ao Estado, ao órgão jurisdicional. c) Atividade criativa: “cria-se a norma jurídica do caso concreto, bem como se cria, muitas vezes, a própria regra abstrata que deve regular o caso concreto.” (Curso de Direito Processual Civil, vol. I. Didier Jr., Fredie, pág. 86). As normas não são capazes de determinar todas as decisões dos Tribunais. Há necessidade de interpretação ou confirmação da consistência dos textos normativos quando aplicados ao caso concreto. Dessa forma, cabe aos Tribunais interpretar, construir e distinguir os casos para formulação da decisão. Eles exercem um papel singular na produção normativa. (TJ ES 2011) Acerca da função jurisdicional, da ação e suas características, julgue o item seguinte. A função jurisdicional é, em regra, de índole substitutiva, ou seja, substitui-se a vontade privada por uma atividade pública. a) Certo b) Errado Gabarito: Certo 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 45 d) Técnica de tutela: a jurisdição é considerada uma importante técnica de tutela de direitos. A proteção jurídica deve contemplar todas as situações jurídicas. e) Situação jurídica concreta: a jurisdição atua em situações concretas. Exemplo: ameaça de lesão a direitos (em que se requer uma tutela inibitória). f) Impossibilidade de controle externoda função jurisdicional: uma das características da função jurisdicional é a capacidade de produzir a última decisão sobre o caso concreto deduzido em juízo: ao caso aplica-se o Direito sem que aja possibilidade de apreciação, controle de outro poder. A jurisdição é controlada, somente, pela própria jurisdição. g) Aptidão para tornar-se indiscutível: sabemos que a coisa julgada é uma situação jurídica referente às decisões jurisdicionais, exclusivamente. Só uma decisão judicial pode vir a ser indiscutível e imutável pela coisa julgada material. No entanto, não podemos deduzir que somente haverá jurisdição se houver coisa julgada, pois esta é uma opção política do Estado. Há casos em que o legislador não retira das decisões a aptidão de submeter-se à coisa julgada, mas isso não aniquila a jurisdicionalidade das decisões. Ora, a coisa julgada é um elemento a posteriori da decisão e, portanto, não pode ser elemento ou característica de existir da decisão. É fato que somente a jurisdição possui a característica da definitividade – diz respeito ao caráter de imutabilidade da sentença, que faz coisa julgada material (característica do conceito moderno de jurisdição). No intuito de preencher todas as possíveis formas de ser cobrado o conceito de jurisdição, vamos compreendê-lo de uma outra perspectiva. A doutrina diz que a jurisdição é o poder que o estado avocou para si de dizer o direito, de fazer justiça, em substituição aos particulares. Podemos, na realidade, dizer que a jurisdição é poder, função e atividade. É poder devido à capacidade de imposição das decisões às partes pelo Estado – o poder decorre da potestade (força para impor sua decisão) do Estado exercida de maneira definitiva sobre as partes litigantes. Função por cumprir a finalidade de fazer valer a ordem jurídica em face de um conflito. Por último, é atividade por 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 45 consistir em uma série de manifestações (atos) externas e ordenadas que resultam na declaração do direito e na concretização do que foi pleiteado. Atente-se para o fato de que o poder da jurisdição se subdivide em três espécies: o poder de decisão, o de coerção e o de documentação. No poder de decisão, o Estado- juiz deve conhecer a pendenga judicial, colher provas e decidi-la. É o poder do Estado- juiz de analisar, verificar e decidir o litígio – poder de decisão. O segundo [de coerção], diz respeito ao poder do Estado-juiz em impor à parte vencida o cumprimento da decisão por ele proferida. O poder de documentação, por sua vez, ocorre quando o Estado-juiz documenta os atos processuais. Vejamos como o tema já foi abordado em prova. (DPE BA) No Direito Processual Civil Brasileiro, a jurisdição compreende três poderes, que são o de A) decisão, o de coerção e o de documentação. B) coerção, o de documentação e o de exposição. C) documentação, o de exposição e o de disposição. D) exposição, o de disposição e o de decisão. E) disposição, o de decisão e o de coerção. Gabarito: A 1. EQUIVALENTES JURISDICIONAIS O Estado não detém exclusividade na solução de conflitos. Existem formas alternativas: autotutela, autocomposição, arbitragem. A autotutela (autodefesa) é a forma mais antiga de se resolver conflitos. Ocorre o sacrifício integral do interesse de uma das partes, pelo uso da força da outra parte. Assim, a autotutela ocorre quando a própria parte busca afirmar seu interesse impondo-o à parte contrária. Podemos considerar que a autotutela, de certo modo, permite o exercício de coerção por um particular em defesa de seus interesses. Modernamente, tem-se buscado restringir as formas de exercício da autotutela, transferindo para o Estado 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 45 as diversas formas de coerção. O Direito prevê casos excepcionais em que pode ser empregada: legítima defesa (art. 188, I, do CC), desforço imediato no esbulho (art. 1.210, parágrafo 1o do CC). A autotutela pode ser totalmente revista pelo poder judiciário. A autocomposição consiste no acordo entre as partes envolvidas no conflito para chegar a uma solução, ou seja, o conflito é solucionado pelas partes sem a intervenção de agentes externos no processo de pacificação da lide. A autocomposição ocorre quando há o despojamento unilateral em favor de outrem (da vontade por este almejada); quando há aceitação ou resignação de um dos sujeitos aos interesses do outro ou quando há concessão recíproca efetuada pelas partes. Em tese, não há de se falar em coerção dos indivíduos. As modalidades de autocomposição são três: renúncia, aceitação (resignação/submissão) e a transação. A renúncia ocorre quando o titular do direito, unilateralmente, dele de despoja em favor de outrem. A aceitação, por sua vez, ocorre quando um dos sujeitos reconhece o direito do outro, passando a guiar-se pela plena consonância com este reconhecimento. Já a transação ocorre quando os sujeitos que se consideram titulares do direito pleiteado solucionam a lide por meio de concessões recíprocas. A arbitragem é uma técnica de solução de conflitos em que as partes buscam em uma terceira pessoa a solução do litígio. Dessa forma, a arbitragem ocorre quando a fixação da solução da lide entre as partes é entregue a um terceiro, denominado árbitro, em geral escolhido pelas partes. No direito brasileiro, a arbitragem somente pode se dirigir a acertamento de direitos patrimoniais disponíveis. É o que aduz o art. 1º da Lei 9.307/96 que regula a arbitragem: “as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.” A arbitragem possui caráter voluntário podendo ser de direito ou de equidade, a critério das partes, que poderão escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública. Igualmente, poderão as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio. 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 45 As partes interessadas podem, por exemplo, submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. A cláusula compromissória (prévia e abstrata) é a convenção por meio da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. Deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira. Nos contratos de adesão, a cláusula compromissóriasó terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória. Já o compromisso arbitral (posterior e concreta) é o estabelecimento posterior ao conflito que esse será solucionado por meio da arbitragem. Art. 6º da Lei 9.307/96: Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, convocando-a para, em dia, hora e local certos, firmar o compromisso arbitral. O compromisso arbitral pode ser judicial ou extrajudicial. O compromisso arbitral judicial celebra-se por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal, onde tem curso a demanda. O compromisso arbitral extrajudicial é celebrado por escrito particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público. Obs.: brevemente falemos da mediação: A mediação é uma conduta pela qual um terceiro coloca-se entre as partes e tenta conduzi-los à solução autocomposta. Didier 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 45 aduz “tratar-se de uma técnica para catalisar a autocomposição” (Curso de Direito Processual Civil, vol. I. Didier Jr., Fredie, pág. 94). 1.1. CLASSIFICAÇÃO A jurisdição é una e indivisível, mas é comum dividi-la para efeitos didáticos, quanto ao objeto, à hierarquia, ao órgão. Também é dividida em contenciosa e voluntária. Quanto ao objeto, a jurisdição pode ser civil ou penal. São de natureza civil todas as que não tenham caráter penal. Há doutrinadores que discordam da limitação a essas duas espécies e incluem as outras esferas jurisdicionais na classificação: trabalhista, penal militar, eleitoral. Quanto à hierarquia, classifica-se em inferior ou superior. Inferior é a que tem a chamada competência originária, ou seja, que recebe o processo primeiro; a superior tem atuação recursal. Relativamente ao órgão que a exerce, poderá ser especial e comum. Especial é definida pela Constituição Federal com base na matéria a ser tratada: Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho e Justiça Militar; sendo a comum todo o restante (daí, falar-se em competência residual). A Justiça Comum é composta pela Justiça Federal e pela Justiça Estadual. JURISDIÇÃO: pode ser nacional ou internacional. Vejamos: Jurisdição Nacional: UNA Jurisdição Internacional Jurisdição Comum Jurisdição Federal e Estadual. Dividem-se em jurisdição civil e penal. Jurisdição Especial Jurisdição trabalhista, eleitoral e militar. 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 45 Jurisdição UNA: Adotada no Brasil: Poder Judiciário exerce a jurisdição com exclusividade (causas comuns e administrativas). As causas que envolvem o Estado são julgadas pelo Poder Judiciário. Jurisdição DUAL: Adotada, por exemplo, na França. Tribunais Judiciários (causas comuns) e Tribunais Administrativos (causas administrativas). As causas que envolvem o Estado são julgadas pelo Poder Administrativo. A jurisdição também poderá ter natureza contenciosa ou voluntária. Essa é a única divisão abordada no CPC. Contenciosa é a rotineira; enquanto na voluntária não há, em tese, conflito de interesses (exemplo: homologação de acordo previamente firmado entre as partes). Nessa espécie, o interessado ou interessados buscam a prestação jurisdicional do Estado quando não podem alcançar seus objetivos sozinhos. Em prova, vejam como foi cobrado o assunto: (TJ – CE 2011/ Adaptada) Sobre jurisdição e ação é correto dizer que: a) Pelo princípio da aderência os juízes e tribunais exercem a atividade jurisdicional apenas no território nacional. Essa atividade é repartida de acordo com as regras de competência. COMENTÁRIOS: A questão está correta. Percebam que o princípio da aderência ligado ao princípio internacional da não ingerência em assuntos de outros povos impõe os limites territoriais do País para exercício da jurisdição pelo Estado-juiz nacional. Gabarito: A 1.1.1. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA VERSUS JURISDIÇÃO CONTENCIOSA 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 45 Art. 1° do CPC: A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece. Como falamos, a jurisdição pode ser: contenciosa ou voluntária. Vejamos cada uma delas. Em regra, a jurisdição contenciosa decorre de processo judicial. Ela é marcada pelo litígio entre as partes, que, por sua vez, termina com a sentença de mérito. Sua decisão pode ser, e comumente o é, traumática porque beneficia uma das partes somente, causando prejuízo à outra. A jurisdição voluntária, também conhecida como administrativa ou integrativa, é uma atividade estatal de integração e fiscalização. Em verdade, não é voluntária: há obrigatoriedade, em regra, de participação do Poder Judiciário para integrar as vontades e, dessa maneira, tornar apta a produção de seus efeitos. As garantias fundamentais do processo são aplicadas à jurisdição voluntária e também aos magistrados, que estão atrelados a dois elementos: a) Inquisitoriedade: o magistrado poderá decidir de modo contrário à vontade das partes. b) Possibilidade de decisão fundada em equidade (art. 1.109 do CPC): não se observa na decisão a legalidade estrita. A sentença é baseada nos critérios de conveniência e oportunidade. O órgão jurisdicional tem ampla discricionariedade na condução e na decisão do processo em jurisdição voluntária. 1.1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA 1 – Receptícios: a atividade judicial limita-se a registrar, documentar ou comunicar manifestações de vontade. Exemplo: notificações, protestos. 2 – Probatórios: a atividade jurisdicional limita-se à produção da prova. Exemplo: justificação. 3 – Declaratórios: o magistrado limita-se a declarar a existência ou inexistência de uma situação jurídica. Exemplo: da posse em nome do nascituro. 4 – Constitutivos: a criação, modificação ou extinção de uma situação jurídica 60575261390Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 45 dependem da concorrência da vontade do magistrado, por meio de autorizações, homologações, aprovações. Exemplo: interdição. 5 – Executórios: o magistrado deve exercer uma atividade prática que modifica o mundo exterior. Exemplo: alienações de coisas. 6 – Tutelares: a proteção de interesses de determinadas pessoas que se encontram em situação de desamparo é confiada ao Poder Judiciário – poderá instaurar os procedimentos ex officio. Exemplo: Nomeação de curadores. Jurisdição voluntária como administração pública de interesses privados Quanto à natureza da jurisdição voluntária, há divergência se ela é de administração pública de interesses privados ou se de atividade jurisdicional. a) Como administração pública – linha que tem crescido na doutrina brasileira – parte-se do pressuposto de que a jurisdição voluntária não é jurisdição, mas sim administração pública de interesse privado. Isso porque não existe lide a ser resolvida nem a possibilidade de substitutividade – o magistrado insere-se entre as partes do negócio jurídico e não as substitui. Além disso, por não ocorrer a jurisdição, não se falaria em coisa julgada, mas em preclusão. b) Como atividade jurisdicional: a jurisdição voluntária tem natureza de atividade jurisdicional. Pode ocorrer relação conflituosa nessa modalidade de jurisdição. Os casos de jurisdição voluntária são conflituosos em potencial e, por isso, submetem-se ao poder judiciário. Vamos, logo abaixo, analisar um pouco mais sobre esse assunto: jurisdição voluntária como administração pública de interesses privados e jurisdição voluntária como atividade jurisdicional. 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 45 Na doutrina brasileira, discute-se se a questão de que a jurisdição voluntária não seria jurisdição, mas administração pública de interesses privados realizada pelo Poder Judiciário. Essa construção doutrinaria parte da premissa, como exposto no quadro acima, de que a jurisdição voluntária, por não possuir lide a ser solucionada, não pode ser considerada jurisdição. Também não poderíamos falar em substitutividade uma das características da jurisdição, porque o juiz não substitui os sujeitos processuais, e, sim, insere-se entre os participantes do negócio jurídico. Desse modo, porque não há conflito, não existem sujeitos processuais, só meros interessados. Não havendo jurisdição, não haveria que se falar em ação nem em processo, mas em requerimento e procedimento. Igualmente, não existindo jurisdição, não há coisa julgada, mas preclusão. Essa corrente ainda fundamenta o seu pensamento no art. 1.111 do CPC: a sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias supervenientes. Diferenças doutrinárias acerca da jurisdição voluntária Ju ri sd iç ão v o lu n tá ri a Doutrina majoritária (clássica) Doutrina minoritária (moderna) Não há jurisdição Há jurisdição Não existem partes no processo, meros interessados Há partes Não há ação nem processo, mas requerimento e procedimento Há processo Não faz coisa julgada, mas preclusão Há coisa julgada É uma atividade administrativa É uma atividade jurisdicional 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 45 Não há substutividade; juiz é administrador Há substutividade: juiz é juiz Vejam como foi cobrado em prova: (TJ - ES 2011) A jurisdição civil pode ser contenciosa ou voluntária, esta também denominada graciosa ou administrativa. Ambas as jurisdições são exercidas por juízes, cuja atividade é regulada pelo Código de Processo Civil, muito embora a jurisdição voluntária se caracterize pela administração de interesses privados pelos órgãos jurisdicionais, ou seja, não existe lide ou litígio a ser dirimido judicialmente. a) Certo b) Errado COMENTÁRIOS: Correto. Percebam que a banca considerou correta a questão da ausência de litígio na jurisdição, um elemento que destacamos em nossa aula, mas que tem sido combatido pela doutrina moderna. No enunciado da questão, a jurisdição voluntária é também nomeada de administrativa, mais uma característica da doutrina clássica. A banca cobrou a questão em prova para Juiz do Trabalho em 2012: (TRT 11ª Região 2012/ Adaptada) Sobre jurisdição, é correto afirmar: c) Nos procedimentos não contenciosos, há função jurisdicional apenas sob um ponto de vista estritamente formal. COMENTÁRIOS: Correto. Entre as opções oferecidas pela banca (“a” a “e”), considerou-se correta a letra “c”, que citamos. Desse modo, o entendimento da banca, clássico e majoritário, é de que a jurisdição voluntária é jurisdição apenas em seu aspecto formal, já que relativamente ao conteúdo pode ser entendida como administração de interesses particulares pelo Poder Judiciário. 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 45 A Teoria Revisionista, por seu turno, considera a Jurisdição Voluntária uma jurisdição propriamente dita, já que é possível a ocorrência da lide. Relativamente à existência da lide, o STJ já se pronunciou de acordo com esta teoria, afirmando que o litígio pode ou não estar presente na jurisdição administrativa, mas não é essencial para a propositura da ação. Sentido em que se manifestaram consagrados autores como Alexandre de Freitas Câmara e Fredie Didier. É exemplo de jurisdição voluntária a separação consensual, já que o ato judicial irá conferir validade ao negócio jurídico que se realizar. Mas acidentalmente pode haver conflito na separação consensual; diz-se acidentalmente porque não é parte essencial do negócio jurídico. Percebam a diferença, na qualidade de voluntária, a jurisdição não tem como aspecto essencial a lide, mas é um possível elemento acidental, ou seja, que pode vir a ocorrer num dado momento; enquanto na qualidade de contenciosa, a lide está virtual/real e essencialmente ligada à jurisdição. Didier cita os casos de interdição e de retificação de registro como procedimentos de jurisdição voluntária que normalmente dão ensejo a controvérsias. De fato não são raros os casos em que surgem questões que devem ser solucionadas pelo magistrado, por exemplo, as divergências entre o pai e o menor que queira se emancipar (jurisdição voluntária com lide acidental). “É por isso que se impõe a citação dos possíveis interessados, que podem, de fato, não opor qualquer resistência, mas nãoestão impedidos de fazê-lo. São frequentes os casos em que, em pleno domínio da jurisdição voluntária, surgem verdadeiras questões a demandar juízo do magistrado.” (Didier) Outra distinção que pode ser considerada entre Jurisdição Voluntária e Contenciosa refere-se, ainda, à pretensão. Nesse aspecto, vale destacar: pode haver processo sem lide, mas não há processo sem pretensão. O Juiz exerce a função jurisdicional quando provocado – esta provocação é que chamamos de pretensão e, por meio dela, dá-se a integração da jurisdição voluntária ou da jurisdição contenciosa. Não se debrucem em demasia sobre estas contradições, pelo menos, não para o concurso. Como bem disse Leonardo Greco, “todos esses critérios são imperfeitos, 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 45 porque a jurisdição voluntária abrange uma variedade tão heterogênea de procedimentos, nos quais sempre vamos encontrar o desmentido de um ou de outro desses critérios”. Leiam este elucidativo acórdão do STJ, em que grifamos os trechos mais importantes sobre a matéria: [...] não parece adequado afirmar categoricamente que na jurisdição voluntária não há bem litigioso e tampouco lide. A mais recente doutrina processualista tem ressaltado o equívoco em se qualificar a chamada jurisdição administrativa de atividade não jurisdicional em razão da suposta ausência de lide. Afirma-se, modernamente, que a jurisdição voluntária não equivale a demanda sem lide. O litígio pode ou não verificar-se no seio da jurisdição administrativa: ele apenas não é essencial para a propositura da ação. [...] Para ilustrar a atenuação que se verifica na diferenciação entre a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa, transcrevo trecho da obra de Leonardo Greco (GRECO, Leonardo. Jurisdição Voluntária Moderna. São Paulo: Editora Dialética, 2003, p. 23): Apesar das divergências de opinião, há algumas características que geralmente são apontadas pela doutrina para diferenciar a jurisdição contenciosa e a jurisdição voluntária. Na primeira haveria lide, na segunda não; na primeira haveria partes em posições subjetivas antagônicas, na segunda apenas um ou mais interessados concordantes em suas postulações; a primeira incidiria sobre situações fáticas preexistentes, enquanto a segunda teria caráter constitutivo; a primeira seria repressiva e a segunda preventiva; na primeira, a atividade judicial seria substitutiva da vontade das partes, na segunda os interessados dependeriam da concorrência da vontade estatal manifestada pelo juiz, sem a qual não poderiam isoladamente alcançar o efeito jurídico almejado; na primeira o juiz tutelaria direitos subjetivos, enquanto na segunda, meros interesses; na primeira, os procedimentos previstos em lei não seriam exaustivos, na segunda o juiz somente poderia atuar com expressa previsão legal; na primeira haveria formação da coisa julgada, na segunda não; na primeira o juiz estaria adstrito ao pedido do autor, enquanto na segunda o juiz poderia agir de ofício ou adotar providência diversa da que lhe fosse requerida. Todos esses critérios são imperfeitos, porque a jurisdição voluntária abrange uma variedade tão heterogênea de procedimentos, nos quais sempre vamos encontrar o desmentido de um ou de outro desses critérios. REsp 942.658-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 2.6.2011. 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 45 Sugiro que façamos, agora, a leitura dos artigos do CPC que tratam das disposições gerais da Jurisdição Voluntária e que são aplicados subsidiariamente às leis específicas. TÍTULO II DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1.103. Quando este Código não estabelecer procedimento especial, regem a jurisdição voluntária as disposições constantes deste Capítulo. Art. 1.104. O procedimento terá início por provocação do interessado ou do Ministério Público, cabendo-lhes formular o pedido em requerimento dirigido ao juiz, devidamente instruído com os documentos necessários e com a indicação da providência judicial. Art. 1.105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como o Ministério Público. Art. 1.106. O prazo para responder é de 10 (dez) dias. Art. 1.107. Os interessados podem produzir as provas destinadas a demonstrar as suas alegações; mas ao juiz é lícito investigar livremente os fatos e ordenar de ofício a realização de quaisquer provas. Art. 1.108. A Fazenda Pública será sempre ouvida nos casos em que tiver interesse. Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna. Art. 1.110. Da sentença caberá apelação. Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 45 produzidos, se ocorrerem circunstâncias supervenientes. Art. 1.112. Processar-se-á na forma estabelecida neste Capítulo o pedido de: I - emancipação; II - sub-rogação; III - alienação, arrendamento ou oneração de bens dotais, de menores, de órfãos e de interditos; IV - alienação, locação e administração da coisa comum; V - alienação de quinhão em coisa comum; VI - extinção de usufruto e de fideicomisso. 1.2. ESCOPOS DA JURISDIÇÃO O estudo da jurisdição pode ter em consideração os objetivos que persegue. Distinguindo-se em: escopo jurídico, social, educacional e político. O escopo jurídico decorre da efetiva aplicação da vontade da lei, dando fim à lide. Já está vencido o entendimento de que esse seria o único objetivo da jurisdição (aplicação da lei; fim do conflito). No escopo social, pretende-se a pacificação social, de modo que se resolva a lide de caráter social. Nesse escopo, a jurisdição não tem como intenção fundamental a solução do conflito jurídico, mas a solução no plano fático, que traga a maior satisfação possível às partes. A transação consiste, assim, em excelente modo de alcançar esses objetivos, porque ocorre a partir da cessão mútua de interesses e tende a extinguir o conflito sem imposição severa a alguma das partes (solução do conflito (fático); satisfação das partes). O escopo educacional deriva da função de divulgar (ensinar) a todos os jurisdicionados, incluindo-se – obviamente – as partes envolvidas no processo, quais os seus direitos e deveres. É escopo bem amplo, que ganhou importância nos julgados contemporâneos, que se revestem de verdadeiro caráter didático. Os mais importantes julgamentos são acompanhados por meios de comunicação, que os tornam acessíveisa 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 45 grande número de indivíduos (divulgação dos direitos e deveres de todos os jurisdicionados). O escopo político, por sua vez, prisma pelo bom funcionamento jurisdicional que eleva a credibilidade do Estado perante os indivíduos e, desse modo, estimula a participação democrática por meio do processo (estimula a participação democrática). 1.3. PRINCÍPIOS INERENTES À JURISDIÇÃO 1.3.1. INVESTIDURA O Poder Judiciário possui um caráter inanimado e, por isso, necessita escolher pessoas para representar o Estado no exercício concreto da atividade jurisdicional. Investido do poder jurisdicional, o juiz (sujeito escolhido para ser o agente público representante do Estado), também chamado de Estado-Juiz, é o responsável pela solução da lide. No Brasil, existem duas maneiras de obter a investidura: o concurso público (art. 93, I, CF) e indicação do Poder Executivo (quinto constitucional – art. 94 da CF). Somente a autoridade investida de poder jurisdicional pode exercer a jurisdição. Tanto a jurisdição civil, voluntária como a contenciosa é exercida pelos Juízes, em todo o território nacional – a jurisdição é UNA. Veja como foi cobrado o assunto. (Furnas) Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais. Assim sobre jurisdição é correto afirmar que a jurisdição A) civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional. B) civil é contenciosa e involuntária e é exercida pelos juízes, em todo o território nacional. C) civil é voluntária, exercida pelos juízes de paz, em todo o território nacional e 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 45 internacional. D) militar, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes estaduais, em todo o território nacional. E) civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional e internacional. COMENTÁRIOS: Letra a é a correta. A jurisdição, seja contenciosa ou voluntária, é exercida pelos juízes. Os juízes são investidos de jurisdição para atuar em todo o território nacional conforme sua competência. O erro da letra B está em mencionar jurisdição involuntária, modalidade que não existe. Na letra C, o erro está em mencionar os juízes de paz como aqueles investidos de jurisdição. Erro da letra D: A jurisdição militar é da competência dos Juízes-Auditores, integrante da Justiça Militar da União (vide Lei nº 8.457, de 4 de setembro de 1992), não pelos juízes estaduais. Erro da letra E: Os juízes nacionais não têm jurisdição internacional. Gabarito: A (Procurador Maricá-RJ) A jurisdição é entendida como o: A) poder do juiz em prolatar sentenças B) poder do juiz em efetivar pretensões C) poder do juiz em possibilitar a todos uma prestação jurisdicional D) poder-dever-atribuição do Estado em possibilitar a todos uma prestação jurisdicional E) poder do STF, na solução superior das demandas. COMENTÁRIOS: 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 45 1.3.2. TERRITORIALIDADE A autoridade dos juízes será exercida nos limites territoriais do seu Estado. Assim, a jurisdição é exercida em um dado território (art. 107 e 230). Existem, no entanto, exceções ao princípio da territorialidade. Situações em que o juízo poderá praticar atos fora de sua comarca ou seção judiciária. Um exemplo é a citação pelo correio (art. 222, caput, CPC). Esse princípio é uma forma de limitação do exercício da jurisdição. 1.3.3. INDELEGABILIDADE Deve ser analisado por meio de dois prismas, o externo, tendo a Constituição Federal atribuído a função jurisdicional ao Poder Judiciário, não pode delegar tal função a outros poderes ou órgãos. Exceção: “função estatal atípica”; e o interno, em que a competência atribuída a um órgão jurisdicional para analisar uma demanda não poderá ser delegada a outro. O exercício da função jurisdicional não pode ser delegado. Não é possível delegar o poder decisório a outro órgão, pois violaria a regra da competência e o princípio do juiz natural. No entanto, existem hipóteses de delegação a outros poderes judiciais, como o poder de execução das decisões. 1.3.4. INEVITABILIDADE O princípio da inevitabilidade ocorre em dois momentos distintos. Primeiro, quando os sujeitos do processo sofrem a vinculação obrigatória ao processo judicial, ou Único item com resposta adequada é a letra “D”. Já que a jurisdição confere ao Estado-juiz mais do que um poder, mas um dever, uma atribuição de prestar a tutela jurisdicional pleiteada. Gabarito: D 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 45 seja, uma vez integrantes da relação jurídica processual, os sujeitos não podem, independendo de concordância ou vontade, deixar de cumprir o chamado jurisdicional. Segundo, em consequência da integração obrigatória, os sujeitos ficam em um estado de sujeição – suportam todos os efeitos da decisão judicial, mais uma vez, independentemente de gostar ou concordar com ela. Devem as partes submeter-se à decisão do órgão jurisdicional. 1.3.5. INAFASTABILIDADE De acordo com o inciso XXXV do art. 5o da CF, a lei não pode excluir da apreciação do Poder Judiciário nenhuma lesão ou ameaça de direito. O acesso à ordem jurídica adequada não pode ser negado a quem tem justo direito ameaçado ou prejudicado. Esse princípio também pode ser analisado sob o aspecto da relação entre a jurisdição e a solução administrativa de conflitos. Nessa visão, o sujeito não é obrigado a utilizar os mecanismos administrativos antes de provocar o poder judiciário em razão de ameaça de lesão ou lesão ao direito. No entanto, há exceções, como: Nas questões desportivas: art. 217, § 1° da CF: O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. O juiz não pode invocar a lacuna da lei e deixar de julgar o processo. Não é necessário esgotar as vias administrativas para provocar o Poder Judiciário. O interessado pode procurar tanto a via administrativa como a judiciária. 1.3.6. JUIZ NATURAL O princípio do juiz natural apresenta duas facetas: a primeira relacionada ao órgão jurisdicionale a segunda com a pessoa do juiz – a imparcialidade do magistrado. O primeiro aspecto do princípio quer assegurar que os processos sejam julgados pelo juízo competente, ou seja, que a competência constitucional preestabelecida seja 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 45 cumprida. Já o segundo aspecto surge para garantir que o juiz responsável pelo julgamento da demanda seja imparcial. Trata-se da essencial exigência de imparcialidade que permite que o julgamento do processo seja justo. Em razão dessa segunda faceta, as leis processuais estabelecem as causas de impedimento e suspeição do magistrado. - Hipóteses de impedimento do Juiz: de que for parte; em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha; que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão; quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consanguíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau; quando cônjuge, parente, consanguíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau; quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa. - Hipóteses de suspeição do Juiz: amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes; alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau; herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes; receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa. É uma cláusula do devido processo legal. Uma garantia fundamental implícita que se origina da conjugação dos seguintes dispositivos constitucionais: o dispositivo que proíbe o tribunal ou juízo de exceção é o que determina que ninguém poderá ser processado senão pela autoridade competente. Ele se caracteriza pelo aspecto formal, objetivo, substantivo e material. A determinação de um juízo não pode ocorrer post facto ou ad personam. Assim, os critérios para a sua determinação devem ser impessoais, objetivos e pré- estabelecidos. A garantia do juiz natural advém dos princípios da imparcialidade e da independência atribuída aos magistrados. As garantias do juiz natural são respeitadas por 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 45 meio das regras de distribuição – critérios prévios, objetivos, gerais e aleatórios para a identificação do juízo responsável pela causa. O desrespeito ao princípio da distribuição implicará incompetência absoluta do juízo. Não viola o princípio do juiz natural a criação de varas especializadas, as regras por prerrogativa de função, a instituição de Câmaras de Férias em tribunais. Dúvida: Por que não há violação ao princípio do juiz natural nos casos citados? Porque nos três casos acima são situações em que as regras são gerais, abstratas e impessoais. - Art. 5º, CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção. Comentários: Aos Tribunais de exceção (juízo extraordinário) contrapõe-se o juiz natural, pré-constituído pela Constituição Federal e por Lei. Em uma primeira acepção, o princípio do juiz natural apresenta duplo significado: 1) Somente o juiz é o órgão investido de jurisdição; 2) Impede a criação de Tribunais de Exceção e ad hoc, para o julgamento de causas penais e civis. Modernamente, porém, este princípio passa a englobar a proibição de subtrair o juiz competente. Assim, a garantia 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 45 desdobra-se em três conceitos: 1) Só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela CF; 2) Ninguém pode ser julgado por tribunal constituído após a ocorrência do fato; 3) Entre os juízes pré-constituídos vigora a ordem taxativa de competências que exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que seja. Vejamos: O tribunal (ou juízo) de exceção é aquele formado temporariamente para julgar: a) Um caso específico – Tribunal ad hoc; b) Após o delito ter sido cometido designa o juízo – ex post facto; c) Para um indivíduo específico – ad personam. Exemplo de Tribunal de exceção: Tribunal de Nuremberg criado pelos aliados para julgar os nazistas pelos crimes cometidos na 2° Guerra Mundial. É constituído ao oposto dos princípios constitucionais do direito processual civil – do contraditório e da ampla defesa, do juiz natural. E qual o problema dos tribunais de exceção? O primeiro é que eles invariavelmente não são imparciais. O segundo é que a pessoa, ao ser julgada por um tribunal de exceção, perde algumas das garantias do processo, como a do duplo grau de jurisdição e do juiz natural. Terceiro, o Tribunal de exceção não necessariamente é formado por juristas, podendo ser composto por qualquer 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 45 pessoa, ferindo, dessa forma a garantia constitucional do juiz competente: (...) LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5°). Veja como o tema já foi cobrado. (Procurador Itaboraí-RJ) A jurisdição, em todos os países, é informada por alguns princípios fundamentais universalmente reconhecidos, como: A) aderência ao território, indelegabilidade, inafastabilidade, juiz natural B) investidura, indelegabilidade, juiz natural C) competência, investidura, aderência ao território, indelegabilidade, inafastabilidade, juiz natural, inércia D) aderência ao território, indelegabilidade, inafastabilidade, juiz natural, inércia E) investidura, aderência ao território, indelegabilidade, inafastabilidade, juiz natural, inércia. COMENTÁRIOS: Percebam que a banca considerou correto o item que expôs os princípios corretamente e de modo mais completo: letra E. O erro da letra “c” está em considerar a competência um princípio, quando na verdade é um limite à jurisdição. Gabarito: E 1.4.CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO 1.4.1. UNIDADE Para a consagrada doutrina clássica, a jurisdição é uma função exclusiva do Poder Judiciário, exercida pelo magistrado, que decide monocraticamente ou por órgãos 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 45 colegiados. A jurisdição é o poder-dever de o Estado dizer e realizar o direito, consistente num poder uno. Há uma jurisdição por Estado. Só há uma função jurisdicional, de outro modo, se houvesse várias jurisdições, estaríamos diante de várias soberanias, portanto, de vários Estados. Contudo, nada impede que esse poder, que é uno, seja exercido por diversos órgãos, que recebem cada qual suas competências. O poder é uno, mas pode ser limitado pelas competências. Assim, a jurisdição, como já foi dito, é UNA. É importante ressaltar que a distribuição funcional da jurisdição em órgão não faz com que ela perca sua característica de unidade. Essa distribuição tem efeito organizacional. 1.4.2. SECUNDARIEDADE A Jurisdição tem a característica da secundariedade por ser acionada quando surge um litígio. Num primeiro momento, espera-se que o Direito seja realizado independente do poder judiciário. Exemplo: regra geral, o locatário paga o aluguel sem que o locador recorra à justiça, assim como o pai paga a prestação alimentícia ao seu filho. Percebam que nesses dois casos, o direito é realizado sem a atuação do judiciário. Contudo, se o pai ou o locatário deixam de cumprir com os seus deveres, a outra parte poderá provocar o judiciário para ter o seu direito garantido. E é nesse contexto que se diz ter a jurisdição a característica de secundariedade. Uma observação a ser considerada é o fato de que, atualmente, se observa no judiciário a perda dessa característica, já que há um aumento considerado de demandas judiciais sem que nenhuma medida extrajudicial tenha sido tomada anteriormente. Esse fenômeno ocorre com frequência, por exemplo, no INSS, em que a parte busca o benefício previdenciário direto no judiciário sem que qualquer pedido administrativo tenha sido feito anteriormente. 1.4.3. SUBSTITUTIVIDADE 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 45 Trabalhamos a substituvidade no início da aula. No entanto, vamos falar mais sobre essa característica. Regra geral, as relações jurídicas se formam, desenvolvem e extinguem sem dar origem a litígios. É o que acontece, por exemplo, nos instrumentos extrajudiciais da transação (concessões mútuas) e da conciliação (transação obtida em audiência). O Estado é chamado a atuar somente quando frustradas as tentativas de conciliação extrajudiciais. Assim, quando o Estado participa do litígio, ele é um terceiro que substitui a vontade daqueles diretamente interessados na relação de direito material, teremos, assim, a característica da substitutividade. 1.4.4. IMPARCIALIDADE Aqueles que integram a jurisdição e o próprio Estado-Juiz devem ser imparciais para que o exercício da jurisdição seja legítimo. Deve predominar, no exercício da jurisdição, o interesse geral, a igualdade entre as partes tanto de tratamento como de oportunidade em participar no convencimento do juiz. Por isso se diz que a jurisdição é uma atividade imparcial do Estado. Atente-se para o fato de que ao advogado, ainda que indispensável, não se exige imparcialidade, como também não é exigida dos demais agentes. Eles, por atuarem no interesse da parte, devem ser parciais. 1.4.5. CRIATIVIDADE O Estado-Juiz, ao final do julgamento de uma lide, inova a ordem jurídica ao criar uma norma individual que passará a atuar no caso concreto. Essa norma será uma sentença ou um acórdão. Regra geral, nela o juiz declara o direito, que aplica a norma aos fatos. No entanto, a prestação jurisdicional vai além, e inova o mundo jurídico. O Estado-Juiz não somente aplica a lei ao caso concreto, há um processo de criação, pelo qual se exige do juiz uma postura ativa, fazendo com que ele analise cada caso e suas especificidades de modo a encontrar uma solução consensual com os preceitos constitucionais e legais. Por isso que a jurisdição tem um caráter criativo. 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 45 1.4.6. INÉRCIA O Estado só pronunciará o direito se provocado, pois a jurisdição tem como uma de suas características a inércia – daí vem o ditado “a justiça não socorre aos que dormem”. No entanto, uma vez que o Estado-juiz seja provocado, ele agirá por impulso oficial, de ofício. Existem exceções à inércia – exemplo: o juiz pode determinar que se inicie o inventário, se nenhum dos legitimados o requerer no prazo legal. Art. 989. O juiz determinará, de ofício, que se inicie o inventário, se nenhuma das pessoas mencionadas nos artigos antecedentes o requerer no prazo legal. 1.4.7. DEFINITIVIDADE Essa característica permite a jurisdição ser tornar imutável. A essa característica dá-se o nome de coisa julgada. A estabilidade concedida à jurisdição varia de acordo com sua natureza. As decisões de mérito são as que gozam do maior grau de estabilidade: a coisa julgada material – garantia fundamental do cidadão. Apesar de elevado grau de estabilidade, o próprio ordenamento jurídico prevê exceções. Exemplo disso, temos nos casos em que a ação rescisória é cabível. Já as decisões que não analisam o mérito (coisa julgada formal) têm um grau de estabilidade reduzido, pois nas decisões em que não se decide o mérito, não há o impedimento de que haja nova propositura da demanda, podendo o juiz decidir de modo contrário ao proferido na primeira sentença. RESUMO - Conceito de jurisdição: a jurisdição consiste no poder conferido ao estado, por meio dos seus representantes, de atuar no caso concreto quando há situação que não pôde ser dirimida no plano extrajudicial, revelando a necessidade da intervenção do estado para que a pendenga estabelecida seja solucionada. 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 45 Conceitos clássicos A substitutividade consiste em dizer que o Estado, na figura do juiz, ao solucionar a lide, estaria substituindo a vontade das partes, proibidas que elas estariam de, em regra, fazer valer a justiça do mais forte (característica do conceito de jurisdição tradicional). A definitividade diz respeito ao caráter de imutabilidade da sentença, quefaz coisa julgada material (característica do conceito moderno de jurisdição). - Equivalentes jurisdicionais: o Estado não detém exclusividade na solução de conflitos. Existem as conhecidas formas alternativas: autotutela, autocomposição e arbitragem. Autotutela (Autodefesa) Forma mais antiga de resolver conflitos. Ocorre o sacrifício integral do interesse de uma das partes, pelo uso da força da outra parte. O Código Civil prevê casos excepcionais em que pode ser empregada. Exemplos: legítima defesa (art. 188, I, do CC) e desforço imediato no esbulho (art. 1.210, parágrafo 1º do CC). Essa forma de solução de controvérsia pode ser totalmente revista pelo poder judiciário. Essa característica é um elemento marcante da autotutela. Autocomposição Consiste no comum acordo entre as partes envolvidas no conflito para chegar a uma solução. Classifica-se em unilateral, quando há renúncia ou submissão de uma das partes. E bilateral, o que é mais comum, ambas as partes abrem mão de uma parcela de sua pretensão em favor da outra – é a transação. Arbitragem Viabiliza-se quando há concordância entre as partes de submeter o conflito, ou a questão, ao árbitro (terceiro imparcial, que, por acordo das partes litigantes, resolve uma questão). Os motivos que levam os contratantes a optarem pela arbitragem em detrimento da jurisdição são, principalmente, rapidez e economia. Os árbitros não são condicionados a muitos formalismos, podem ser autorizados pelas partes a, até mesmo, decidirem por equidade ou utilizarem leis específicas. - Classificação da jurisdição: civil ou penal; inferior ou superior; especial ou comum; contenciosa ou voluntária. - Contenciosa é a rotineira, a tradicional; enquanto na voluntária não há conflito de interesses. 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 45 - Princípios inerentes à jurisdição: investidura, territorialidade, indelegabilidade, inevitabilidade e do juiz natural. JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E VOLUNTÁRIA RESUMIDAMENTE De acordo com o art. 1° do CPC: A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece. Jurisdição Contenciosa: Pressupõe conflito entre as partes a ser solucionado pelo magistrado. É por meio da jurisdição contenciosa que se alcança uma solução para a lide. Formação de litígio, sujeitos com interesses opostos e jurisdição compondo e solucionando o conflito. - Características: Unidade, imparcialidade, secundariedade, substitutividade, instrumentalidade. - Princípios: Improrrogabilidade, indeclinabilidade, juiz natural. Relação Processual Triangular da Jurisdição Contenciosa: JUIZ AUTOR RÉU Jurisdição Voluntária: Não existe litígio entre as partes. Nesse caso, há homologação de pedidos que não impliquem litígio, ou seja, não se resolve conflitos, mas apenas tutela interesses. Participação do Estado, requerentes com interesses comuns e jurisdição integrando e validando o negócio jurídico. Relação Processual Não-Triangular da Jurisdição Voluntária: INTERESSADOS JUIZ 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 45 P ri n cí p io d o J u iz N at u ra l - O princípio do juiz natural apresenta duas facetas: a primeira relacionada ao órgão jurisdicional e a segunda com a pessoa do juiz – a imparcialidade do magistrado. - Juiz Natural possui competência constitucional e foi investido de maneira regular na jurisdição. Juiz Natural em sentido Formal 1) Garantia da proibição da existência de Tribunais de exceção. 2) Respeito às regras de competência: (...) LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5°, CF). Juiz Natural em sentido Material 1) Imparcialidade do juiz – ver comentários nos itens 1.3.6 e 1.4.4 dessa aula. QUESTÔES COMENTADAS 01. (PC DF) Quanto a ação, jurisdição e processo, assinale a alternativa correta. a) Quanto à sua existência, a relação jurídica processual depende de relação jurídica material. b) Ação é a reação do próprio direito material violado ou ameaçado de lesão. c) Na jurisdição voluntária, não são aplicados os efeitos da revelia. d) Na jurisdição contenciosa, sempre serão aplicados os efeitos da revelia. e) Todo processo é iniciado e desenvolvido por impulso da parte, em obediência ao princípio da inércia. COMENTÁRIOS: Letra A. Errada. Há muito a doutrina distingue a relação processual da material, podendo uma parte ser demandada em face de outra ao atender os pressupostos e requisitos processuais, independentemente da existência de relação material. 60575261390 Direito Processual Civil ʹ PC DF Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges ʹ Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 37 de 45 Letra B. Errada. As teorias da ação predominantes na doutrina ou em vigor no CPC distinguem direito processual de direito material, de modo que a propositura da ação independe da comprovação do direito material. Letra C. Correta. A jurisdição voluntária caracteriza-se pela administração de interesses privados, é também chamada de administrativa ou integrativa. Saber se lhe são aplicados os efeitos da revelia é questão polêmica, sobre o que discordam muitos doutrinadores. A banca do seu concurso demonstrou, nessa questão, concordância com os juristas que entendem não ser aplicáveis os efeitos da revelia à jurisdição voluntária, de modo que o fato alegado por um dos interessados, quando não contestado pelo outro, não obriga o juiz a aceitá-lo como verdadeiro. Letra D. Errada. A situações que impedem o reconhecimento automático dos efeitos da revelia. Do CPC: Art. 319. Se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor. Art. 320. A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo antecedente: I - se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II - se o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público, que a lei considere indispensável à prova do ato. Letra E. Errada. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial (artigo 262 do CPC). Gabarito: C 02. (TRT 19ª Região) A respeito da jurisdição e da ação, considere: I. Nenhum juiz prestará tutela jurisdicional, senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais. II. O direito de ação é objetivo, decorre de uma pretensão e depende da existência do direito que se pretende fazer reconhecido e executado.
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