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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI ESPIRITO SANTO PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM 1 1 SUMÁRIO 1. A RELAÇÃO DA PSICOLOGIA COM A EDUCAÇÃO ............................. 2 1.1. Contribuição da psicologia para a educação..................................... 4 1.2. A importância da Psicologia da Aprendizagem ................................. 7 2. PRINCIPAIS CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM ........................................................................................................ 8 3. LINGUAGEM E PENSAMENTO ............................................................ 17 4. O CONCEITO DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO ................................ 24 4.1- Conceito de Psicologia da Educação: ............................................. 25 4.2- Definição de Psicopedagogia: ......................................................... 26 4.3- Definição de Psicologia da Criança: ................................................ 26 4.4- Aprendizagem informal e formal ..................................................... 27 4.5- Ensino X Instrução .......................................................................... 29 4.6- Modelos de Ensino Formal: ............................................................. 30 4.7- Domínios da aprendizagem ............................................................ 31 4.8- Princípios da aprendizagem ............................................................ 32 4.9- Fatores que influenciam na aprendizagem ..................................... 32 4.10- Família e os fatores psicossociais ................................................... 36 4.11- O professor e o processo de ensino-aprendizagem ........................ 36 5. CONTRIBUIÇÃO DO PSICÓLOGO NA ESCOLA ................................. 38 6. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 46 2 1. A RELAÇÃO DA PSICOLOGIA COM A EDUCAÇÃO Fonte: www.minutopsicologia.com.br A aprendizagem é o processo através do qual a criança se apropria ativamente do conteúdo da experiência humana, daquilo que o seu grupo social conhece. Para que a criança aprenda, ela necessitará interagir com outros seres humanos, especialmente com os adultos e com outras crianças mais experientes. Nas inúmeras interações em que envolve desde o nascimento, a criança vai gradativamente ampliando suas formas de lidar com o mundo e vai construindo significados para as suas ações e para as experiências que vivem. Com o uso da linguagem, esses significados ganham maior abrangência, dando origem a conceitos, ou seja, significados partilhados por grande parte do grupo social. A linguagem, além disso. Irá integrar-se ao pensamento, formando uma importante base sobre a qual se desenvolverá o funcionamento intelectual. O pensamento pode ser entendido, desta forma, como um diálogo interiorizado. Objetos e conceitos existem, inicialmente, sob a forma de eventos externos aos indivíduos. Para se apropriar desses objetos e conceitos é preciso que a criança identifique as características, propriedades, e finalidades dos mesmos. A apropriação 3 pressupõe, portanto, gradativa interiorização. Através desse processo, é possível aprender o significado da própria atividade humana, que se encontra sintetizada em objetos e conceitos. Assim, ao se analisar uma mesa, pode-se notar que ela resume, em si, anos de trabalho e tecnologia: é preciso maquinário apropriado para lixar a madeira, instrumentos como o martelo e chaves de fenda para monta-la, apetrechos para refina-la, como lixa e verniz. Entender o que se significa uma mesa implica conhecer as suas principais características e finalidades – mesa para jogar, comer, estudar etc. -, compreendendo o quanto de esforço foi necessário para concebe-la e realiza-la. A Psicologia da Aprendizagem estuda o complexo processo pelo qual as formas de pensar e os conhecimentos existentes numa sociedade são apropriados pela criança. Para que se possa entender esse processo é necessário reconhecer a natureza social da aprendizagem. Como já foi dito, as operações cognitivas (aquelas envolvidas no processo de conhecer) são sempre ativamente construídas na interação com outros indivíduos. Em geral, o adulto ou a criança mais experiente fornece ajuda direta à criança, orientando-a e mostrando-lhe como proceder através de gestos e instruções verbais, em situações interativas. Na interação adulto-criança, gradativamente, a fala social trazida pelo adulto vai sendo incorporada pela criança e o seu comportamento passa a ser, então, orientado por uma fala interna, que planeja a sua ação. Nesse momento, a fala está fundida com o pensamento da criança, está integrada às suas operações intelectuais. Reconhece-se, dessa maneira, que as pessoas, em especial as crianças, aprendem através de ações partilhadas mediadas pela linguagem e pela instrução. A interação entre adultos e crianças, e entre crianças, portanto, é fundamental na aprendizagem. A Psicologia da Aprendizagem, aplicada à educação e ao ensino, busca mostrar como, através da interação entre professor e alunos, é possível a aquisição do saber e da cultura acumulados. O papel do professor nesse processo é fundamental. Ele procura estruturar condições para ocorrência de interações professor-alunos-objeto de estudo, que levem à apropriação do conhecimento. De maneira geral, portanto, essa visão de 4 aprendizagem reconhece tanto a natureza social da aquisição do conhecimento como o papel preponderante que nela tem o adulto. Estas considerações, em conjunto, têm sérias implicações para a educação: procede-se, na aprendizagem, do social para o individual, através de sucessivos estágios de internalização, com o auxílio de adultos ou de companheiros mais experientes. 1.1. Contribuição da psicologia para a educação Fonte: veselajashkola.ru A psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano e seus processos mentais, ou seja, ela estuda o que motiva o comportamento humano, o que o sustenta, o que o finaliza, e seus processos mentais, que passam pela sensação, emoção, percepção, aprendizagem, inteligência. A psicologia encontra-se, como uma das disciplinas que precisa ajudar o professor a desenvolver conhecimento e habilidades, além de competências, atitudes e valores que o possibilite ir construindo seus saberes-fazeres docentes, a partir das necessidades e desafios que o ensino, como prático social, lhes coloca no cotidiano. Dessa forma, poderá contribuir para que o professor desenvolva a capacidade de 5 investigar a própria atividade, para, a partir dela, construir e transformar os seus saberes-fazeres docentes, num processo contínuo de construção de sua identidade como professor. Ao transmitir o conhecimento para os alunos o professor desempenhará também a função de formador da personalidade de seus alunos no processo ensino- aprendizagem, pois o aluno por sua vez é um sujeito ativo de seu processo de formação e desenvolvimento intelectual, afetivo e social; e o professor tem o papel de mediador do processo de formação do aluno; a mediação própria do trabalho do professor é favorecer/propiciar a inter-relação(encontro/confronto) entre sujeito (aluno) e o objeto de seu conhecimento(conteúdo escolar); nessa mediação, o saber do aluno é uma dimensão importante do seu processo de conhecimento(processo de ensino-aprendizagem). A perspectiva sócio construtivista concebe o ensino como uma intervenção intencional nos processos intelectuais, sociais e afetivos do aluno, buscando sua relação consciente e ativa com os objetos de conhecimento. Esse entendimento implica, resumidamente, afirmar que o objetivo maior do ensino é a construção do conhecimento pelo aluno, de modo que todas as ações devemestar voltadas para sua eficácia do ponto de vista dos resultados no conhecimento e desenvolvimento do aluno. Tais ações devem pôr o aluno, sujeito do processo, em atividade diante do meio externo, no qual deve ser ‘inserido’ no processo como objeto de conhecimento, ou seja, o aluno deve ter com esse meio (que são os conteúdos escolares) uma relação ativa, uma espécie de desafio que o leve a um desejo de conhecê-lo. Partindo da visão da personalidade como constituída com base em um processo relacional, que, portanto, se forma também nas relações dentro da escola. Percebe-se então que, dessa maneira a aliança entre Educação e Psicologia é incontestável e bastante antiga, não tendo sido preciso esperar o momento recente da constituição da Psicologia como ciência independente da grande mãe, a Filosofia, para buscar respostas sobre como se aprende, quem é o sujeito da aprendizagem, como se deve ensinar, levando em conta as características psicológicas dos alunos, se é ou não válido aplicar punições e prêmios, qual é a importância da informação no 6 desenvolvimento humano, em que consiste o ato de comunicação, o que interessa e dá prazer ao aluno quanto ao aprendizado escolar. No entanto qualquer que seja o ângulo dessa reflexão, constata-se que, em nosso viver, a relação com o outro é uma questão central. Por conta dessa questão, a travessia do homem e da humanidade em geral, foi sempre marcada por aproximações, afastamentos, simpatias, antipatias, egoísmo, altruísmo, ódio, amor etc. Isso faz com que permanentemente estejamos preocupados em saber muitas coisas sobre o indivíduo: o que pensa, de que gosta, quais são suas forças e fraquezas, como pode ser agradado, seduzido, manipulado, emocionado, ou, ainda, como pode sair do egoísmo e ir ao encontro do outro, compor com outros uma coletividade, enfim, como pode ser educado para comunicar-se e conviver fraternal e cooperativamente com seus semelhantes. Assim a psicologia também, aplica à educação e ao ensino, busca mostrar como, através da interação entre professor e alunos, entre os alunos, é possível a aquisição do saber e da cultura acumulados. Por tanto papel do professor nesse processo, é fundamental. Ele procura estruturar condições para a ocorrência de interações professor-alunos-objeto de estudo, que levam à apropriação do conhecimento. A sua contribuição no campo Educacional, é um tema cativante e desafiador que permanece atual e proporcionando estudos e pesquisas de vários e renomados cientistas. Ocupa papel de fundamental importância e tende a intensificar-se cada vez mais. Deve-se lembrar sempre que essas contribuições precisam ser caracterizadas como um espaço de reflexão envolvendo a realidade escolar, assim como um espaço propício para a expressão das angústias e das ansiedades inerentes ao processo de formação. A Psicologia no âmbito da escolar deve também contribuir para otimizar as relações entre professores e alunos, além dos pais, direção e demais pessoas que interagem nesse ambiente. É neste contexto e neste lugar que a Psicologia poderá contribuir para uma visão mais abrangente dos processos educativos que se passam no contexto educacional. Pois, uma vez que, as contribuições da psicologia inserida 7 na equipe educacional, prepara os conteúdos a serem ensinados visando estabelecer outros e novos patamares para a compreensão dos fatos que ocorrem no dia a dia da escola, propiciando uma reflexão conjunta que possibilite o levantamento de estratégias que venham a sanar as dificuldades enfrentadas. 1.2. A importância da Psicologia da Aprendizagem Fonte: biradambirbebek.com A importância da Psicologia no processo ensino-aprendizagem reside no reconhecimento de que a educação é um fenômeno verdadeiramente complexo e o seu impacto no desenvolvimento humano obriga que se considere a globalidade e a diversidade das práticas educativas em que o ser humano se encontra imerso, isto porque a educação se desdobra em múltiplos contextos nos quais as pessoas vivem e participam definidos como âmbitos educativos. Assim a psicologia da aprendizagem, aplica à educação e ao ensino, busca mostrar como, através da interação entre professor e alunos, entre os alunos, é possível a aquisição do saber e da cultura acumulados. 8 O papel do professor nesse processo é fundamental. Ele procura estruturar condições para a ocorrência de interações professor-alunos-objeto de estudo, que levam à apropriação do conhecimento. De maneira geral, portanto, essa visão de aprendizagem reconhece tanto a natureza social da aquisição do conhecimento como o papel preponderante que nela tem o adulto. Estas considerações, em conjunto, têm sérias implicações para a educação: procede-se, na aprendizagem, do social para o individual, através de sucessivos estágios de internalização, com o auxílio de adultos ou de companheiros mais experientes. O outro pressuposto e a psicologia da aprendizagem, onde está é o processo através do qual a criança se própria ativamente do conteúdo da experiência humana, daquilo que o seu grupo social conhece. A Psicologia no âmbito escolar deve também contribuir para aperfeiçoar as relações entre professores e alunos, além dos pais, direção e demais pessoas que interagem nesse ambiente. É neste contexto e neste lugar que a Psicologia poderá contribuir. 2. PRINCIPAIS CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM Fonte: www.psicologiaexplica.com.br 9 O Campo do Desenvolvimento e da Aprendizagem é vasto quando se tenta compreender os aspectos que envolvem a vida do ser humano. No entanto, alguns autores se dispuseram a estudar esses aspectos e assim instituir maneiras específicas de se trabalhar com as crianças de uma forma que se possa colaborar com o seu desenvolvimento típico, bem como garantir uma aprendizagem satisfatória ao longo de sua vida nos aspectos escolares. O desenvolvimento humano ocorre desde os primórdios da humanidade, mas o aspecto científico do homem só passou a ser estudado por volta do século XIX. Em 1877, Charles Darwin publica um artigo baseado em algumas anotações que fez de seu filho durante os primeiros anos de sua vida, iniciando assim os estudos científicos sobre o desenvolvimento humano. A partir disto, os autores se ocupam em compreender o homem mediante o “estudo científico de como as pessoas mudam, bem como das características que permanecem razoavelmente estáveis durante toda a vida. No início dos estudos sobre o desenvolvimento humano, os responsáveis por esta tarefa consideravam que o desenvolvimento ocorria apenas na fase da infância. Atualmente, a maioria dos cientistas do desenvolvimento reconhece e estuda o desenvolvimento ao longo da vida do sujeito, tendo seu fim apenas com o final da vida do mesmo. É o que se conhece pelo desenvolvimento do ciclo da vida, pois não basta apenas entender como se dá este desenvolvimento durante a infância, mas também como ele continua a ocorrer durante a fase adulta e atualmente, o estudo científico do envelhecimento faz parte deste campo vasto que busca a compreensão cada vez mais detalhada da vida do ser humano. Em todos os campos de estudo sobre o ser humano, há que se considerar as diferenças de pensamentos e abordagens que tentam cada um de sua maneira explicar tais fenômenos. No campo do desenvolvimento, a história se encarrega de mostrar como as discussões evoluíram ao longo do tempo. Mas o que intriga a todos é a relação entre os aspectos individuais do sujeito versus os aspectos do ambiente. O que influencia mais no desenvolvimento humano? Seria suas características individuais, sua personalidade, seus aspectos biológicos? Ou seria os aspectos do 10 ambiente, o contexto em que este sujeito vive que teria maior poder de influência sobre sua vida? Mas chegar a uma conclusão não é simples,por isso as diversas abordagens teóricas existem atualmente para que cada uma possa contribuir à sua maneira para a compreensão do desenvolvimento humano. O que há de consenso entre estas abordagens são as etapas em que o desenvolvimento ocorre, cada uma com suas nomenclaturas específicas, porém indicando basicamente as mesmas fases do ciclo vital. Conjunto de estágios bastante usados principalmente por psicólogos desenvolvimentistas, cada um desses estágios seria constituído por diferentes mudanças biológicas, cognitivas e sociais. Estas fases seriam: Pré-natal (da concepção ao nascimento); Primeira infância (do nascimento aos 2 anos); Infância (2 aos 12 anos); Adolescência (12 aos 18 anos); Idade adulta jovem (18 aos 40 anos); Idade adulta média (40 aos 65 anos); e Idade adulta tardia (acima de 65 anos). Vale ressaltar que essas idades são apenas idades médias, significando que cada pessoa irá passar por essas fases de desenvolvimento em idades específicas para a sua realidade. Ou seja, essa seria a ordem de desenvolvimento que ocorre com todas as pessoas, a direção é a mesma para todos, o que muda é o tempo de mudança de uma fase para outra. Cada indivíduo irá ter seu tempo de desenvolvimento, uns mais rápidos, outros nem tanto. O período pré-natal e a primeira infância são as fases da vida do ser humano que vai desde a concepção até os 2 anos de idade. Essa é uma fase em que as mudanças ocorrem não só para o feto, e em seguida a criança, mas há uma mudança na vida de todos os envolvidos no fato. O desenvolvimento pré-natal se divide em três estágios: germinal, embrionário e fetal. 11 Após a concepção, tanto fatores ambientais quanto genéticos irão influenciar o desenvolvimento. Mas como o ambiente influencia o desenvolvimento? Por meio do ambiente da mãe, ou seja, tudo o que a mãe faz pode influenciar de alguma forma o desenvolvimento do feto. O uso de bebidas alcoólicas, drogas e todos os comportamentos chamados comportamentos de risco podem de alguma forma prejudicar o desenvolvimento sadio da criança. Os principais riscos que uma criança corre neste caso são, entre outros, o retardamento mental e anormalidades faciais. A idade da mãe também é um fator a ser considerado no caso de uma gravidez. Existem alguns problemas relacionados à idade da mãe. Uma gravidez antes dos 15 anos, ou acima dos 40 anos pode levar a uma prematuridade, baixo peso. A prematuridade pode ocasionar em problemas pulmonares da criança, pois os pulmões não se desenvolvem adequadamente, além de uma prematuridade também no sistema digestivo e imunológico. Logo ao nascerem, as crianças apresentam apenas movimentos reflexos, ou seja, os chamados automatismos primários, em que não há controle sobre os movimentos. Alguns destes movimentos têm características que garantem a sobrevivência da criança, tais como a sucção e a respiração, que são respostas não aprendidas, mas são indispensáveis. Os demais movimentos reflexos tendem a desaparecer em poucos meses de vida. Fonte: espacodomquixote.com.br 12 Durante a infância a criança aprende a controlar os movimentos, aprende a sentar, a engatinhar e enfim a andar. O desenvolvimento sensorial/perceptual depende do desenvolvimento do cérebro. Se as trajetórias visuais não se desenvolvem no período de bebê, a visão fica permanentemente perdida. As redes neurais que são utilizadas ficam mais fortes, já as que não são utilizadas são eliminadas. As mudanças que ocorrem ao longo do tempo podem ser entendidas de duas formas, uma quantitativa e outra qualitativa. As mudanças quantitativas durante o desenvolvimento são aquelas que correspondem às mudanças numéricas ou de quantidade como, por exemplo, o peso e a altura da pessoa, aquilo que se pode mensurar ao longo do tempo. Já as mudanças qualitativas são aquelas que ocorrem no nível de estrutura ou organização. São marcadas pelo surgimento de novos mecanismos (cognitivos, por exemplo) que permitem à criança se adaptar aos novos desafios que lhe são impostos. Concomitante ao estudo do desenvolvimento humano há que se considerar os aspectos da aprendizagem que ocorrem principalmente a partir das mudanças no sujeito. Direta ou indiretamente, as tradicionais áreas da Psicologia da Educação têm estudado e pesquisado situações que possam ser relacionadas à aprendizagem. Pode-se considerar como Teorias da Aprendizagem os diversos modelos existentes que procuram explicar o processo de aprendizagem nos indivíduos. Apesar da existência de diversas teorias que se ocupam de explicar o processo de aprendizagem, as que apresentam maior destaque atualmente na educação são as teorias desenvolvidas por Jean Piaget e Lev Vygotsky. A Epistemologia Genética desenvolvida por Piaget foi desenvolvida por meio da experiência com crianças desde o nascimento até a adolescência, tendo como premissa o fato de que o conhecimento é construído a partir da interação do sujeito com seu meio, a partir de estruturas existentes. Já os estudos de Vygotsky se baseiam na dialética das interações do sujeito com o outro e com o meio para que possa ocorrer o desenvolvimento sócio cognitivo. A teoria cognitiva de Piaget é baseada em dois de seus interesses, a filosofia e a biologia, supondo assim que o desenvolvimento cognitivo se originava da adaptação 13 da criança ao seu ambiente, e assim buscando promover sua sobrevivência por meio da tentativa de aprender sobre seu ambiente. Isso transforma a criança em alguém que busca o conhecimento e a compreensão do mundo, mas com uma característica importante para Piaget, que é o fato da criança operar sobre este mundo. O conhecimento da criança é organizado como esquemas, que são estruturas indispensáveis para o conhecimento das pessoas, objetos, eventos entre outras coisas. Sendo assim, estes esquemas permitem que o ser humano organize e interprete as informações sobre o mundo. Na memória do ser humano (memória de longo prazo) existem esquemas para conceitos como livros ou cachorros; esquemas para eventos, como ir a um restaurante; e esquemas para ações, como andar de bicicleta. Apesar de Vygotsky e seus seguidores considerarem que a estrutura dos estágios desenvolvida por Piaget seja correta, há que se considerar uma diferença básica entre estes dois autores. Para Piaget a estruturação do organismo ocorre antes do desenvolvimento, já para Vygotsky, o desenvolvimento das estruturas mentais superiores é gerado a partir do processo de aprendizagem do sujeito. Os aspectos sociais da abordagem de Vygotsky são claros e diretos. A aprendizagem ocorre com as outras pessoas, sejam os pais, os professores ou as pessoas mais próximas da criança. A cultura influencia tanto quanto os processos do desenvolvimento cognitivo infantil, pelo fato de que o desenvolvimento acontece dentro deste contexto cultural. No geral, o que se entende por aprendizagem é a capacidade que o sujeito apresenta, no seu dia a dia, de dar respostas adaptadas às solicitações e desafios que lhes são impostos durante sua interação com o meio. Atualmente, a aprendizagem é compreendida como um processo global, dinâmico, contínuo, individual, gradativo e cumulativo. De acordo com as características escolares, há a necessidade de que o aluno seja um processador ativo da informação que lhe é transmitida, não basta apenas ser um receptor passivo do conhecimento, o aluno precisa decodificar o que lhe é ensinado e assim absorver este conhecimento. São duas as principais teorias da 14 aprendizagem: o Behaviorismo e a Teoria da aprendizagem social, mas pode-se considerar o Construtivismo também como uma das mais importantes atualmente. De acordo com o pensamento dos autores behavioristas, a conduta do sujeito é passível de observação e mensuração. O início dos trabalhos desta abordagemocorreu com John Watson (1878-1958) e Ivan Pavlov (1849-1936), porém o estabelecimento dos princípios e da Teoria são creditados à Burruhs Skinner (1904- 1990), fato que representa uma renovação do comportamentalismo watsoniano. Uma das pesquisas mais notável de Skinner é a respeito dos diferentes programas de reforço que foram desenvolvidos a partir da “Caixa de Skinner”, em que o papel necessário do reforço no comportamento operante foi demonstrado a partir das experiências com a pressão na barra pelo rato, que recebia comida toda vez que dava a resposta correta. Mas Skinner deixou claro que o reforço do mundo real nem sempre é consistente ou contínuo, no entanto, a aprendizagem ocorre e os comportamentos persistem, ainda que reforçados só intermitentemente. Para esta Teoria os comportamentos do ser humano são aprendidos, e com isso, o aspecto da aprendizagem passa a ter grande importância. O ambiente passa a ter um papel fundamental, pois o homem passa a ser produto do meio. No aspecto do ensino, ao se seguir as características do Behaviorismo, é preciso preparar e organizar as contingências de reforço que irão facilitar a aquisição dos esquemas e dos diferentes tipos de condutas desejadas. Esse planejamento e organização das contingências ficaria a cargo do professor. As pesquisas comportamentais concentram-se na aprendizagem associativa, em que se forma uma ligação mental entre dois fatos. Dois tipos de aprendizagem associativa são o condicionamento clássico e o condicionamento operante Para Skinner (2006), a principal característica do condicionamento clássico é que uma pessoa ou um animal aprende uma resposta reflexiva a um estímulo que originalmente não a provocava, depois que o estímulo é repetidamente associado a outro que provoca a resposta. Este tipo de aprendizagem foi descrito inicialmente a partir dos estudos de Pavlov em seus estudos com cães, que aprendiam a salivar quando ouviam uma sineta que tocava na hora da alimentação. 15 O autor coloca ainda que, no caso do condicionamento operante, um comportamento originalmente acidental (por exemplo, o sorriso), torna-se uma resposta condicionada, ou seja, o sujeito aprende com as consequências de “operar” sobre o ambiente. A partir dos estudos com ratos e pombos, Skinner afirmava que os mesmos princípios poderiam ser aplicados aos seres humanos. Com isso, chegou à conclusão de que o sujeito tende a repetir uma resposta que foi reforçada, e ao contrário, tente a suprimir uma resposta que foi punida. Em contrapartida surge a Teoria da Aprendizagem Social, que tem como característica considerar que as crianças aprendem comportamentos sociais a partir da observação e imitação de modelos. Tem como seu principal representante Albert Bandura (1925), e pode ser considerada uma forma de comportamentalismo menos extrema que a de Skinner, que reflete e reforça o impacto do interesse renovado pelos fatores cognitivos. Outra diferença é que a Teoria da Aprendizagem Social considera o aprendiz como sujeito ativo, com isso, a pessoa atua sobre o ambiente, e em até certo ponto, cria o ambiente. A abordagem de Bandura estuda o comportamento tal como é formado e modificado em situações sociais, ou seja, na interação com outras pessoas. Reconhece a importância da cognição, consideram as respostas cognitivas às percepções, em vez de respostas basicamente automáticas ao reforço ou à punição, como centrais para o desenvolvimento. Fonte: www.maleshok.ru 16 Essa imitação realizada pelas crianças no processo de aprendizagem depende do que elas percebem que é valorizado em sua cultura. Nem sempre o reforço está presente, e a criança pode aprender determinado tipo de comportamento na ausência de reforço diretamente vivenciado. Com isso, aprende-se pela observação do comportamento e das consequências deste comportamento de outra pessoa. Consequentemente, esta capacidade de aprender pelo exemplo supõe a aptidão de antecipar e avaliar consequências apenas observadas em outras pessoas e ainda não vivenciadas. As pesquisas de Bandura sobre a auto eficácia trouxeram discussões sobre uma forma de as pessoas enfrentarem as situações cotidianas. Essa auto eficácia seria o sentido de autoestima ou de valor próprio de um sujeito, a sensação de adequação e eficiência em tratar dos problemas da vida. Sujeitos com auto eficácia elevada apresentam a capacidade de lidar com todos os eventos de sua vida, eles esperam superar obstáculos e, como resultado, buscam desafios, perseveram e mantêm um alto nível de confiança em sua aptidão para ter êxito. A terceira das teorias aqui abordadas é o Construtivismo, que é compreendido como a corrente teórica da educação que explica como a inteligência humana se desenvolve. Neste ponto, suas discussões são construídas partindo do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre indivíduo e meio. É uma teoria que surge a partir dos estudos da Epistemologia Genética de Jean Piaget e da Teoria Sócio--histórica de Lev Vygotsky. Estas influências levaram à crença de que o homem não nasce inteligente, mas que também não é um sujeito passivo no mundo. Mesmo sendo estimulado pelo meio externo, o homem é capaz de agir sobre estes estímulos para construir e organizar o seu próprio conhecimento. Quanto mais ele age sobre o meio, mais elaborada será sua organização cognitiva. De acordo com a teoria piagetiana, para conhecer os objetos, o sujeito tem que agir sobre eles e, por conseguinte, transformá-los: tem que deslocá-los, agrupá-los, combiná-los, separá-los e juntá-los. 17 Neste sentido, o conhecimento não é nem uma cópia interior dos objetos, ou acontecimentos do real, nem meros reflexos desses objetos e acontecimentos que se imporiam ao sujeito. Partindo deste princípio, a aprendizagem é considerada uma constante busca do significado das coisas. Esse significado é construído a partir da globalidade e das partes que constituem aquilo que se quer conhecer. Como ponto fundamental de aprendizagem, aprender é construir o seu próprio significado e não encontrar respostas certas dadas por outra pessoa. 3. LINGUAGEM E PENSAMENTO Fonte: www.escolapsicologia.com Só os seres humanos utilizam a palavra para se comunicar. Ninguém nasce falando, porém, nossa capacidade de linguagem começa logo após este fato. Independente da cultura, ou do idioma, as crianças passam pelas mesmas etapas de desenvolvimento da linguagem. 18 Os bebês não falam, mas de alguma forma se comunicam, e isso se dá pelo choro, seja porque estão com fome, ou porque estão com dor. Por volta dos 6 ou 7 meses começam os primeiros balbucios, que são repetições rítmicas de várias sílabas. Ao longo dos próximos meses essas sílabas começam a evoluir para cada vez mais próximo das palavras da língua nativa da criança. As primeiras palavras surgem por volta do primeiro ano de vida, sendo estas dirigidas aos cuidadores e objetos de seu dia a dia. Após um tempo, ocorre a superextensão que é a aplicação de uma palavra recentemente aprendida a objetos que não estão incluídos no seu significado, e também ocorre a subextensão, que é a incapacidade de aplicar a nova palavra a objetos que estão incluídos no seu significado. O próximo passo do desenvolvimento da palavra é a combinação das palavras em frases, e isso ocorre por volta dos 18 e os 24 meses (fala telegráfica). Dizem frases de duas palavras, constituídas na maioria das vezes por verbos e substantivos. A criança não consegue desenvolver uma fala normal sem a exposição à fala humana, por isso os cuidadores são fundamentais para este processo, sendo que as experiências vividas pela criança desempenham papel importante na aquisição da linguagem. Por essas e outras, há razões para se acreditar que tanto a natureza quanto o ambientefornecem influências interativas no processo de desenvolvimento da linguagem. Durante o desenvolvimento infantil, o marco exclusivo do ser humano é a linguagem. Vygotsky (1978) coloca o uso da linguagem como central em tudo o que o sujeito aprende. Todo o processo de desenvolvimento ocorre com as crianças ouvindo a fala de outras pessoas, na maioria das vezes os pais. A aprendizagem ocorre quando as palavras ouvidas migram para o interior e assim se tornam a fala dirigida a si mesma. Linguagem e comunicação estão ligadas, envolvendo manifestações complexas e diversas da personalidade do ser humano. A comunicação é feita por intermédio dos sinais e símbolos utilizados pela linguagem, neste caso há sempre um transmissor da mensagem, a mensagem propriamente dita, e um receptor. 19 A capacidade de utilizar a linguagem como meio de comunicação avança rapidamente, com as primeiras palavras as crianças adquirem a capacidade de “querer” conversar com todo mundo. Mas a comunicação exatamente como se conhece exige da criança uma capacidade de compreensão de sons, ritmo, e a formação de frases gramaticalmente corretas. Além disso, compreender o significado das palavras é essencial. A linguagem tem a capacidade de possibilitar a formação de uma consciência social, pois ela assegura uma adaptação comum, dos membros da comunidade à realidade exterior, permitindo assim ao indivíduo atualizar os seus conceitos, formular ideias comuns que irão facilitar a comunicação com outras pessoas e com o meio ambiente. Durante seus estudos, Piaget demonstra justamente o que foi dito anteriormente, pois a diferença encontrada por ele entre o pensamento infantil e o pensamento adulto era mais qualitativa do que quantitativa. Por isso, não é a quantidade de fala que a criança apresenta, mas sim a capacidade de compreensão do que está dizendo que faz com que ela evolua no processo de desenvolvimento de sua linguagem. Assim como Griggs (2009), Belsky (2010) apresenta alguns desafios da linguagem que a criança deve superar ao longo do desenvolvimento da linguagem. São cinco tipos de desafios que indicam as características da fala em cada estágio: fonemas, morfemas, sintaxe, semântica, super-regularização, e super/subextensão. Vamos às características principais de cada um destes estágios: - Fonemas: são sons individuais das palavras e a criança tem dificuldade para articular sons, e só consegue articular fonemas isolados. - Morfemas: é a menor unidade de significado em um determinado idioma, por exemplo, a palavra meninos contém dois morfemas: menino e o sufixo do plural “s”. - Sintaxe: é o sistema de regras gramaticais de um determinado idioma, é um momento em que a criança comete erros na aplicação de regras gramaticais para formar frases. - Semântica: mudanças mais surpreendentes, pois é o momento em que se começa a compreender o significado das palavras, as crianças passam de um 20 vocabulário de três ou quatro palavras quando na idade de 1 ano para cerca de 10.000 palavras em torno dos 6 anos. - Super-regularização: os erros mais evidentes nas crianças são a respeito do uso dos plurais nas palavras e também das noções temporais. Super/subextensão: a superextensão ocorre quando as crianças utilizam excessivamente um rótulo verbal, por exemplo, chamar todos os idosos do sexo masculino de vovô. Já a subextensão se caracteriza por a criança tornar categorias de substantivos demasiado estreitas, como considerar que apenas o seu animal de estimação é um cão, os outros cães da vizinhança devem ser chamados de outra forma. Fonte: www.ibccoaching.com.br A linguagem funciona como um processo de afirmação do “eu” em relação aos “outros”, sendo este um dos motivos por se considerar importante o diálogo e a comunicação na humanidade. Sendo a linguagem como um conjunto de sinais intencionalmente expressivos, ela é considerada um instrumento de pensamento, de expressão emocional e de interação social. Vygostky apresenta em seu livro “Pensamento e Linguagem” alguns aspectos da teoria de William Stern sobre o desenvolvimento da linguagem. Stern distingue três 21 raízes da fala, a tendência expressiva, a social e a intencional. As duas primeiras são consideradas a base dos rudimentos de fala que podem ser observadas entre os animais, porém a terceira é especificamente humana. A intencionalidade seria, neste contexto, uma meta voltada para um determinado conteúdo ou significado. Independente da abordagem utilizada para estudar a relação entre pensamento e fala, há a necessidade de se considerar o estudo da fala interior. A fala egocêntrica descrita por Piaget apresenta a função de acompanhar a atividade da criança, bem como função de descarga emocional e função planejadora, transformando-se em pensamento propriamente dito. A fala egocêntrica é a fala interior, é a fala em sua trajetória para a interiorização, ligada à organização do comportamento da criança. Exemplo que pode ser expresso quando uma criança de 3 anos diz “Não toque!” Enquanto se aproxima do fogão. A interiorização da fala ocorre porque sua função muda. Seu desenvolvimento deveria ter três fases, de acordo com Vygotsky: fala exterior, fala egocêntrica, fala interior. Coloca ainda que o desenvolvimento da fala segue a mesma direção e obedece às mesmas leis que permeiam o desenvolvimento das outras operações mentais que envolvem o uso de signos, exemplos dessas operações mentais são o ato de contar e a memorização mnemônica. São quatro os estágios que podem ser atribuídos ao desenvolvimento dessas operações, e serão descritos agora. O primeiro deles é o estágio natural ou primitivo, que corresponde à fala pré- intelectual e ao pensamento pré-verbal. Em seguida, advém o estágio chamado de psicologia ingênua que surge da experiência da criança com as propriedades físicas de seu próprio corpo e dos objetos que estão a sua volta, bem como da aplicação dessa experiência ao uso de instrumentos. O terceiro estágio surge da acumulação gradual da experiência psicológica ingênua e tem como característica os signos exteriores, ou seja, operações externas que são auxiliares na solução de problemas internos. Uma característica marcante neste estágio é a criança contar com o auxílio dos dedos, e no desenvolvimento da fala este estágio se caracteriza pelo uso da fala egocêntrica. O quarto e último estágio é chamado de crescimento interior. Ocorre a interiorização das operações externas e passam por uma profunda mudança no 22 processo. Tem como características a capacidade da criança em contar mentalmente, operando com relações extrínsecas e signos interiores. No desenvolvimento da fala este estágio corresponde ao estágio final da fala interior, silenciosa. Em relação à forma, a fala interior pode se aproximar muito da fala exterior, ou mesmo tornar-se igual a esta, quando serve de preparação para a fala exterior, por exemplo, quando um palestrante repassa mentalmente a conferência que irá proferir. Ao contrário do que muitos psicólogos pensam, a linguagem interior não é simplesmente uma linguagem para si. No ato intelectual, a tomada de decisão transcorre muito rapidamente, às vezes em décimos de segundos. Com essa velocidade se torna impossível dizer a si mesmo toda uma frase e muito menos todo um raciocínio. Durante o estudo genético do pensamento e da fala, a relação entre ambos apresenta algumas mudanças, não sendo um progresso paralelo. O pensamento e a palavra não são ligados por um elo primário. Ao longo da evolução do pensamento e da fala, tem início uma conexão entre ambos, que depois se modifica e se desenvolve. Porém, o autor acrescenta que o significado de uma palavra representa uma relação tão estreita do pensamento e da linguagem, que é difícil dizer se é um fenômeno da fala ou um fenômeno do pensamento. Apalavra determina e isola um significado, ela envolve organização de pensamento e direção dos processos mentais para um fim ou propósito estabelecido. Para que a palavra possa funcionar como um estímulo mental e elaboração do pensamento, ela precisa possuir conteúdo afetivo, ou seja, deve ter significado. A comunicação direta entre duas mentes é impossível, esta comunicação ocorre de forma indireta, ou seja, primeiro o pensamento deve passar pelos significados e depois pelas palavras. O pensamento é gerado pela motivação, pelos desejos e pelas necessidades do sujeito. Assim, para compreender a outra pessoa, não basta apenas entender as palavras que são ditas. Há a necessidade de compreender o seu pensamento. Mas em algumas situações nem isto é o suficiente, pois pode ser necessário compreender a motivação desta pessoa. 23 E os deficientes auditivos? Como fica a relação linguagem X pensamento nestes sujeitos? Os deficientes auditivos são destituídos de linguagem, e são exemplo de pensamento sem linguagem. Considerando pessoas que trabalham com arte, criação, essas dizem que em muitos de seus momentos mais inspirados, pensam com imagens mentais, se não com palavras. A partir do exposto, e segundo as discussões realizadas principalmente por Vygotsky, é possível considerar que o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, pelos instrumentos linguísticos do pensamento e pela experiência social e cultural do sujeito em questão. A compreensão das relações entre a linguagem e o pensamento é essencial para se entender o processo de desenvolvimento intelectual. A linguagem não pode ser considerada apenas uma expressão do conhecimento adquirido, a inter-relação existente entre pensamento e linguagem resulta em proporcionar recursos mútuos. A linguagem tem função essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo. A comunicação é a base de todo progresso e a educação sem ser comunicação deixa de ter sentido, pois o indivíduo se desenvolve e se atualiza na medida em que se comunica com os outros. 24 4. O CONCEITO DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Fonte: www.abrapso.org.br O interesse pela educação, suas condições e seus problemas, foi sempre uma constante entre filósofos, políticos, educadores e psicólogos. Com o desenvolvimento da Psicologia como Ciência e como área de atuação profissional, no final do século XIX, várias perspectivas se abriram, fato que também ocorreu à chamada Psicologia Educacional. Durante as 3 primeiras décadas do século XX a psicologia aplicada à educação teve enorme desenvolvimento. Nos EUA destacava-se a necessidade de um novo profissional, capaz de atuar como intermediário entre a psicologia e a educação. Três áreas destacaram-se: as pesquisas experimentais da aprendizagem; o estudo e a medida das diferenças individuais; psicologia da criança. Até a década de 50, a Psicologia da educação aparece como a 'rainha' das ciências da educação. Seu conceito: uma área de aplicação da psicologia na educação. Psicologia Educacional era um ramo especial da Psicologia, preocupado com a natureza, as 25 condições, os resultados e a avaliação e retenção da aprendizagem escolar. Ela deveria ser uma disciplina autônoma, com sua própria teoria e metodologia. Durante a década de 50, o panorama muda. Começa-se a duvidar da aplicabilidade educativa das grandes teorias da aprendizagem, elaboradas durante a 1ª metade do século XX. Prenuncia-se uma crise ... Surgem outras disciplinas educativas tão importante a educação quanto a psicologia, e esta precisa ceder espaço. Na década de 70, assume o seu caráter multidisciplinar, que conserva até hoje. Não mais é considerada como a psicologia aplicada a Educação. Atualmente, a Psicologia da Educação é considerada um ramo tanto da Psicologia como da Educação, e caracteriza-se como uma área de investigação dos problemas e fenômenos educacionais, a partir de um entendimento psicológico. 4.1- Conceito de Psicologia da Educação: Quando se fala, hoje, em 'Psicologia da Educação', vários termos são utilizados indiscriminadamente como sinônimos, tais como: psicopedagogia, psicologia escolar, psicologia da educação, psicologia da criança, etc. A lista poderia ser alongada. Esta imprecisão na linguagem, e esta confusão entre disciplinas ou atividades não são exatamente passíveis de sobreposição, pois cada qual têm suas definições e limitações. A Psicologia da Educação tem por objeto de estudo todos os aspectos das situações da educação, sob a ótica psicológica, assim como as relações existentes entre as situações educacionais e os diferentes fatores que as determinam. Seu domínio é constituído pela análise psicológica de todas as facetas da realidade educativa e não apenas a aplicação da psicologia à educação. Seu maior objetivo é constatar ou compreender e explicar o que se passa no seio da situação de educação. Por isso, tanto psicólogos quanto pedagogos podem possuir tal especialização profissional. 26 A Psicologia da Educação faz parte dos componentes específicos das ciências da Educação, tal como a sociologia da educação ou a didática. Compõem um núcleo, cuja finalidade é estudar os processos educativos. Atualmente, rejeita-se a ideia de que a Psicologia da Educação seja resumida a um simples campo de emprego da Psicologia; ela deve, ao contrário, atender simultaneamente aos processos psicológicos e às características das situações educativas. Ela estuda os processos educativos com tripla finalidade: Contribuir à elaboração de uma teoria explicativa dos processos educativos – nível teórico; Elaborar modelos e programas de intervenção - nível tecnológico; Dar lugar a uma prática educativa coerente com as propostas teóricas formuladas -nível prático. 4.2- Definição de Psicopedagogia: Especialização dentro da Pedagogia e/ou Psicologia que trata dos distúrbios de aprendizagem (crianças que possuem dificuldades para aprender). 4.3- Definição de Psicologia da Criança: Também chamada de Psicologia Evolutiva ou Psicologia do Desenvolvimento Humano, estuda as leis gerais da evolução da criança, as sucessivas etapas de seu desenvolvimento nas quatro grandes áreas: cognitiva, afetiva, social e psicomotora. 27 4.4- Aprendizagem informal e formal Fonte: ec.europa.eu Aprendizagem é a aquisição de novos comportamentos, que são incorporados ao repertório individual de cada pessoa, que deverá apresentar, desse modo, capacidades e habilidades não existentes anteriormente. Além de adquirir comportamentos novos, através da aprendizagem, uma pessoa poderá também modificar comportamentos anteriormente adquiridos. Aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maturo, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência; envolve os hábitos que formamos, os aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais, além dos fenômenos que ocorrem na escola. A aprendizagem é parte de um processo social de comunicação - a educação - e apresenta os seguintes elementos: Comunicador ou emissor: professor, enquanto transmissor de informações ou agente do conhecimento. O comunicador tem uma 28 participação ativa no processo educativo, devendo estar motivado e ter pleno conhecimento da mensagem que irá transmitir a seus alunos. Mensagem: conteúdo educativo, conhecimentos e informações a serem transmitidas. A mensagem deve ser adequada, clara e precisa para ser bem entendida. Receptor da mensagem: aluno. O receptor não tem um papel passivo; deve ser um construtor crítico dos conhecimentos e informações que lhe são transmitidos. Meio ambiente: meio escolar, familiar e social, onde se efetiva o processo de ensino-aprendizagem. O meio ambiente deve serestimulador da aprendizagem e propício ao bom desenvolvimento do processo educativo. Aprendizagem significativa: é interessante destacar que não basta apenas 'ensinar'; é preciso oportunizar aos nossos educandos uma aprendizagem significativa. Ou seja, para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial do educando, é necessário que ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida, sendo capaz de reconhecer as situações em que aplicará o novo conhecimento. Como medir a aprendizagem? Como a aprendizagem se concretiza em termos de comportamento, para avaliar o que alguém aprendeu é preciso observar o seu desempenho. Esta é a concepção das escolas mais tradicionais, onde a 'prova' era a única capaz de verificar o aprendizado, inferindo sobre sua ocorrência. Mas será esta a melhor e mais fidedigna maneira de verificar o aprendizado? Atualmente, têm-se realizado importantes mudanças no modo de pensar em relação à aprendizagem escolar, tendo como resultados esforços para combinar várias interpretações. A prova já não parece mais tão fidedigna assim, pois ela pode representar uma mudança temporária de comportamento e não uma mudança duradoura. Estamos permanentemente em estado de aprendizagem. O declínio da curva se dá porque começa a haver um enfraquecimento neuro-hormonal no indivíduo. 29 Devido a esse enfraquecimento alguns envelhecem mais cedo, enquanto outros permanecem perfeitamente lúcidos até uma idade muito avançada. 4.5- Ensino X Instrução Fonte: nova-escola-producao.s3.amazonaws.com ENSINAR: fazer com que as pessoas aprendam; fazer com que outros saibam, adquiram conhecimentos ou mudem atitudes. A aprendizagem é seu produto final. INSTRUIR: manipular deliberadamente o ambiente de outros, para torná-lo capaz de aprender, sob condições específicas (aprendizagem escolar). Este é um conceito ultrapassado. Desta diferença entre ensinar e instruir, pode-se dizer que existem dois tipos de aprendizagem: informal e formal. Aprendizagem Formal: processo que é direcionado, orientado e previamente planejado e organizado (sala de aula); advém da instrução. 30 Aprendizagem Informal: processo que é de natureza incidental, não-dirigido, e carente de controle. Resultam da experiência no ambiente de vida (fora da escola); advém do ensino. A Psicologia da Educação exerce seu papel mais relacionada à aprendizagem formal. 4.6- Modelos de Ensino Formal: Um modelo de ensino formal inclui um conjunto de procedimentos para que se realize o ensino. Pode resumir-se em seus componentes fundamentais: professor, aluno e conteúdo. Existem 4 modelos básicos: Modelo Clássico: ênfase dada no professor, enquanto um transmissor de conteúdo. A educação consiste em transmissão de ideias selecionadas, organizadas e não de acordo com o interesse do aluno. O aluno é apenas um recipiente passivo. Modelo Tecnológico: ênfase na educação como transmissora de conteúdo; o conteúdo é o centro do processo. O aluno é um recipiente de informações. A educação se preocupa com aspectos observáveis e mensuráveis e o professor é o responsável por essa concretização. Modelo Personalizado: ênfase no aluno. O ensino se processa em função do desenvolvimento e interesse dos alunos. A educação é um processo progressivo e o professor oferece assistência ao aluno, enquanto um facilitador da aprendizagem. Modelo Interacional: apresenta um equilíbrio entre os componentes do modelo. O professor cria um clima de diálogo e troca experiências e valores com seus alunos. O conteúdo consiste na análise crítica de problemas reais e sociais. O aluno é ativo em sua aprendizagem. 31 4.7- Domínios da aprendizagem A aprendizagem abrange 3 domínios fundamentais: intelectual ou cognitivo; afetivo-social; sensório-psiconeurológico. A inteligência e a idade mental (e não a cronológica) são domínios decisivos à aprendizagem humana. Inteligência: capacidade de interagir com o meio ambiente e adaptar-se a ele; se desenvolve através de fases, ao longo da vida, que se sucedem em uma mesma ordem, mas devido as diferenças individuais, podem ser alcançadas em idades diferentes para cada pessoa, dependendo do ritmo de desenvolvimento. As pessoas são todas diferentes e únicas. As diferenças são determinadas pelas influências genéticas, bioquímicas de seu próprio organismo e por estímulos do ambiente em que vivem, bem como pela interação de todas as experiências sociais que tiveram desde o nascimento. A personalidade de cada indivíduo vai se formando/se desenvolvendo; portanto, cada aluno que chega a escola/universidade já possui sua personalidade bem definida. As características psicológicas momentâneas, tais como o humor, as emoções e os sentimentos, também são domínios fundamentais à aprendizagem humana. Da mesma forma, um certo amadurecimento social (relacionamento interpessoal e intrapessoal) é elemento igualmente importante neste processo de ensino- aprendizagem. A integração das funções neuropsicológicas é fundamental à aprendizagem. Para tanto, a estimulação é comprovadamente importante, já que crianças que viveram seus primeiros anos de vida em ambientes pobres de estímulos sofreram danos graves de desenvolvimento, principalmente em seus elementos sensoriais (audição, visão, tato, gustação, olfato), neurológicos (maturação neurológica), psicomotores (esquema corporal, lateralidade, equilíbrio) e linguísticos (fala). 32 4.8- Princípios da aprendizagem 1º princípio: “universalidade” - a aprendizagem é co-extensiva à própria vida, ocorre durante todo o desenvolvimento do indivíduo. Na vida humana a aprendizagem se inicia antes do nascimento e se prolonga até a morte. 2º princípio: A aprendizagem é um processo constante/contínuo. 3º princípio: “gradatividade” - A aprendizagem é gradual, isto é, aprende-se pouco a pouco. 4º princípio: “processo pessoal/individual” - cada indivíduo tem seu ritmo próprio de aprendizagem (ritmo biológico) que, aliado ao seu esquema próprio de ação, irá constituir sua individualidade. Por isso, tem fundo genético e também ambiental, dependendo de vários fatores: dos esquemas de ação inatos do indivíduo; do estágio de maturação de seu sistema nervoso; de seu tipo psicológico constitucional (introvertido ou extrovertido); de seu grau de envolvimento; além das questões ambientais. 5º princípio: “processo cumulativo” - as novas aprendizagens do indivíduo dependem de suas experiências anteriores. As primeiras aprendizagens servem de pré-requisitos para as subsequentes. Cada nova aprendizagem vai se juntar ao repertório de conhecimentos e de experiências que o indivíduo já possui, indo construir sua bagagem cultural. 6º princípio: “processo integrativo e dinâmico” - esse processo de acumulação de conhecimentos não é estático. A cada nova aprendizagem o indivíduo reorganiza suas ideias, estabelece relações entre as aprendizagens, faz juízos de valor. 4.9- Fatores que influenciam na aprendizagem Saúde física e mental: para que seja capaz de aprender, a pessoa deve apresentar um bom estado físico geral; deve estar gozando de boa saúde, com seu sistema nervoso e todos os órgãos dos sentidos. As perturbações na área física, como na sensorial e na área nervosa poderão constituir-se em distúrbios da aprendizagem. Febre, dores de cabeça, disritmias (ausências mentais) são exemplos disto. 33 Motivação: é o fator de querer aprender; o interesse é a mola propulsora da aprendizagem. O indivíduo pode querer aprender por vários motivos: para satisfazer a sua necessidade biológica de exercício físico e liberar energia; por ser estimulada pelos órgãos dos sentidos, através de cores alegres; por sentir-se inteligente e bem consigo mesmo ao resolver uma atividade mental; por sentir necessidadede conquistar uma boa classificação na escola (status social e pessoal, admiração). Prévio domínio: domínio de certos conhecimentos, habilidades e experiências anteriores, possuindo relativa vantagem em relação aos que não os possuem. Maturação: é o processo de diferenciações estruturais e funcionais do organismo, levando a padrões específicos de comportamento. A maturação neurológica se dá por etapas sucessivas e na mesma sequência (Leis céfalo-caudal e Próximo-distal). A maturação cria condições à aprendizagem, havendo uma interação entre ambas. Inteligência: capacidade para assimilar e compreender informações e conhecimentos; para estabelecer relações entre vários desses conhecimentos; para criar e inventar coisas novas, com base nas já conhecidas; para raciocinar com lógica na resolução de problemas. Concentração e atenção: capacidade de fixar-se em um assunto/tarefa. Desta capacidade dependerá a facilidade maior ou menor para aprender. Memória: a retenção da aprendizagem é aspecto essencial à aprendizagem, pois quando a pessoa precisar de um conhecimento ela deverá ser capaz de resgatá-los da memória, usando os conhecimentos anteriormente adquiridos. No entanto, quem aprende está sujeito a esquecer o que aprendeu. O esquecimento se dá por vários motivos: pela fragilidade ou deficiência na aprendizagem, causada por estudo ineficiente, falta de atenção; pela tentativa de evocação do fato memorizado através de um critério diferente do usado na fixação da 34 aprendizagem; pelo desuso das informações; por um componente emocional que não permite a memorização da informação ou a 'esconde' no subconsciente. A aprendizagem é produto de uma interação complexa e contínua entre hereditariedade e o meio ambiente. Este processo pode ser influenciado tanto na vida pré-natal como na vida pós-natal. As causas podem ser inúmeras: químicas, físicas, imunológicas, infecciosas, familiar, afetivas e socioeconômicas. Os elementos hereditários que influenciam na aprendizagem são chamados de fatores genéticos e encontram-se na inscrição do programa biológico da pessoa - herança. Está presente em toda parte: determina o grau de sensibilidade dos órgãos efetores aos estímulos indutores; condiciona o aparecimento de doenças familiares capazes de prejudicar a aprendizagem (insônia, depressão, síndrome de down, asma) e ainda pode indiretamente intervir nos fatores ambientais, garantindo maior ou menor resistência do organismo aos agravos do meio. Fatores neuroendócrinos: O hipotálamo é destacado como o local controlador do sistema endócrino. Podemos considerar o hipotálamo como um centro integrador de mensagens, controlando a função da glândula hipófise na produção e liberação dos hormônios de todas as glândulas do organismo e possibilitando a criança explorar seu potencial genético, de desenvolvimento e de aprendizagem. Neuro-Hormônio Adenocorticotrófico - ACTH: é liberado pelo hipotálamo; sua secreção acompanha um ritmo circadiano gerado por um ritmo cerebral intrínseco, ligado a alteração de luz (dia e noite), sono, estresse físico e emocional. Fatores ambientais: O meio ambiente na qual a pessoa está inserida exerce influências particularmente poderosas, contribuindo positivamente à realização do plano genético ou negativamente, apresentando obstáculos. O ambiente compreende tantas condições da vida material, estando em primeiro lugar a alimentação e sua utilização (nutrição), quanto pelo ambiente físico (socioeconômico, estilo de vida) e o ambiente familiar e cultural, cujo elemento fundamental é constituído pela relação afetiva primária e o estímulo materno. Na interação da hereditariedade e do meio ambiente, quando o meio é normal e favorável pode-se calcular que 80 a 90 % da variabilidade natural da espécie 35 humana, nos limites da normalidade, se realizam segundo o programa genético pré- determinado, entretanto, quando o meio é desfavorável e heterogêneo, a hereditariedade pode cair a 60 %. Nutrição: Em relação a alimentação, o leite é a nutrição natural inicial para todos, e a qualidade desse leite tem condições para satisfazer o potencial genético ao crescimento e à aprendizagem. A alimentação saudável é a balanceada, com proteína suficiente, além da presença de hidratos de carbono, gorduras, sais minerais e vitaminas. É preciso ter presente que só o crescimento consome 40% das calorias fornecidas à criança. Deve-se fornecer energia à criança para atender às necessidades de metabolismo basal; ação dinâmico-específica dos alimentos; perda calórica pelos excreta; atividade muscular; crescimento. Para que a aprendizagem também seja beneficiada, a nutrição do indivíduo deve ser balanceada e saudável. Essa energia é, então, transmitida através dos macro nutrientes: Vitaminas; proteínas; hidratos do carbono; sais minerais; gorduras. Dois aspectos relacionados a alimentação que exercem influências: A superalimentação: aceleração e envelhecimento precoces do crescimento; variáveis psicológicas. A subalimentação: quando é global (fornecimento calórico abaixo de 1/3), o crescimento é bloqueado de forma completa. Quando a sobrevida é possível, se traduz pelo aspecto clínico de marasmo. Quando se refere especificamente sobre a proteína, continuando o fornecimento calórico global tolerável, o crescimento estatural é bloqueado - desnutrição proteica. Variáveis sócio-econômico-culturais: As variáveis socioeconômicas exercem importante influência: renda per capita, a idade dos pais, o tamanho da família, condições de habitação e saneamento, escolaridade, higiene; cultura dos pais (influi na alimentação da criança). Dada a melhoria nas condições de vida, tais como a urbanização, melhoria nos cuidados médicos, maior ingestão alimentar de nutrientes, vestuário menos restritivo, 36 entre outros fatores, existe uma forte tendência para que as crianças das gerações que nos sucedem alcancem uma maturação mais cedo. Esta tendência de aceleração secular pode ser vista nos estudos de Monteiro (1996), que demonstra que as crianças brasileiras estão maturando cada vez mais cedo, em todas as classes sociais, onde as regiões sul e sudeste do país são as que mais crescem. 4.10- Família e os fatores psicossociais Outro aspecto importante, diz respeito ao ambiente familiar, que comporta elementos diversos, de ordem psicológica particular, mas também de ordem cultural segundo o nível intelectual, os conhecimentos adquiridos através dos pais, a herança dos costumes, etc. Acima de tudo, intervém a relação afetiva precoce da mãe com a criança desde os primeiros instantes da vida. A qualidade dessa ligação afetiva condiciona em grande parte o relacionamento da mãe e, consequentemente, a qualidade de sua conduta com a alimentação, proteção física, estímulo psíquico e cultural da criança. A carência afetiva consiste na falta de carinho e de solicitação afetiva materna, perturbando ou mesmo impedindo o vínculo mãe e filho, determinando o aparecimento de uma síndrome complexa com reflexos no seu desenvolvimento neuropsicomotor, no crescimento e no estado emocional, e por consequência, na aprendizagem. 4.11- O professor e o processo de ensino-aprendizagem Quando inserido no processo de ensino-aprendizagem (sala de aula), o professor poderá vir a assumir vários papéis sociais. A Psicologia da Educação, após longos anos de pesquisa a respeito deste assunto, identificou alguns papéis claros, assumidos por professores em seu trabalho diário junto a uma classe de alunos. Grupo de papéis Negativos: 37 Bode expiatório: sente-se alvo de hostilidades, recusado por seus alunos; perde sua estabilidade emocional. Requer uma grande dose de segurança interior para aceitar esta situação e ainda permanecer no posto. Este professor poderá ter 2 tipos de comportamento: a contrahostilidade e a necessidade de constante submissão para com a vontade de seus alunos para ser aceito. Inspetor e disciplinador: sente-se o distribuidor e o executor da justiça; valoriza desempenhos, classifica alunos, promove-os e rebaixa-os. É o grande responsável pela conduta em sala de aula, faz o papel de inspetor. Julga o certo e o errado, administrando recompensas e punições. Grupo de papéis Autoritários: Substituto da autoridade paterna: assume o papel de orientador dos alunos, orientando a todos de igual maneira. Não é nem paternalista demais, nem rígido demais. Mantém um bom e equilibrado nível de relações afetuosas com todos. Fonte de informações: sua função é transferir conhecimentos para os alunos; é aquele que sabe. Se orienta em termos acadêmicos em sua abordagem. Forja uma concepção passiva do aluno quando se vê como o único que sabe tudo. Líder de grupo: professor que se coloca como líder. Pode assumir a liderança do grupo de 2 formas: autocrática ou democrática, ambas envolvem o sistema de status no grupo. Cidadão modelo: sua função vai além de transmitir conhecimentos; se coloca como mentor moral, ético, social e político de seus alunos. Dá sempre bom exemplo de comportamento social, utilizando-o para ensinar. Não separa sua vida provada da profissional. Grupo de papéis de Proteção: Terapeuta: é um orientador e higienista mental do grupo; responsável pela prevenção e ajustamento de problemas, além de promotor de um 38 meio favorável à aprendizagem; aceita as diferenças e promove aulas com atmosfera de aceitação emocional. Acredita que a experiência pessoal e todos os aspectos da vida afetam a aprendizagem. Amigo e confidente: é amigo e caloroso, convidando a todos a confidências e a participar das dificuldades do grupo. Leva tudo ao plano da amizade pessoal. É acessível e compreensivo, deixando o aluno contar suas dificuldades e problemas em um meio neutro. O excesso ocorre quando o professor usufrui satisfação primária à resposta afetiva do aluno para com ele. Gera-se um conflito entre o papel de professor e de amigo. 5. CONTRIBUIÇÃO DO PSICÓLOGO NA ESCOLA Fonte: www.psicologiaexplica.com.br Embora pareça ser claro para os psicólogos a importância de um profissional de psicologia em assuntos relacionados à educação, isso não é tão evidente para a 39 maioria das pessoas que associam a Psicologia unicamente com o tema da saúde mental. Boa parte das pessoas tem a ideia de que psicólogos são apenas clínicos que lidam com saúde mental. Aliás, pensam isso na melhor das hipóteses, pois muitas vezes ainda encontramos pessoas que mantêm o estereótipo (preconceituoso) de que os psicólogos “trabalham com loucos”. Embora a formação do Psicólogo no Brasil esteja, na maioria das vezes, voltada para uma perspectiva mais clínica e de saúde mental, a Psicologia tem muito a contribuir para os processos educacionais. O Psicólogo é o profissional que durante sua formação tem a possibilidade de aprender sobre o desenvolvimento humano, relações interpessoais, e mecanismos e processos de aprendizagem de modo mais aprofundado. Nesse sentido, é também o profissional que pode contribuir de muitas maneiras para os processos de ensino e de aprendizagem. Assim, o Psicólogo Educacional/Escolar pode contribuir com os demais profissionais envolvidos em atividades educacionais (professores, diretores, coordenadores, educadores) oferecendo contribuições da Psicologia (do Desenvolvimento, Aprendizagem, Ensino, Social), para melhorias nos processos de ensino e de aprendizagem. O Psicólogo pode atuar em todos os segmentos do sistema educacional, realizando diagnósticos e intervenções preventivas ou corretivas, em grupos ou de forma individual. Em sua atuação, deve considerar não apenas os aspectos individuais dos alunos, mas também aspectos do corpo docente, do currículo, projetos políticos pedagógicos, métodos de ensino, políticas educacionais e demais características institucionais. O psicólogo pode contribuir muito para a educação, mas como bem sabemos nem todas as escolas (principalmente as públicas) contam com um psicólogo atualmente. Esse fato que vem sendo tema recorrente de discussões políticas e acadêmicas tem origens históricas. Aliás, historicamente, a profissão de psicólogo surge no Brasil por razões educacionais. Os primeiros laboratórios de Psicologia no Brasil foram criados por pedagogos nas Escolas Normais com fins de pesquisas em Psicologia Educacional no começo do século XX. 40 No entanto, com o passar dos anos e algumas questões que merecem melhor discussão em outros artigos, a psicologia, no Brasil, foi se afastando aos poucos e cada vez mais da Educação, deixando vago um espaço em que poderia contribuir de muitos modos. Uma das críticas que a Psicologia recebeu com relação ao seu trabalho nas escolas e que fez com que muitos psicólogos se afastassem deste campo de atuação nos anos 1970 em 1980 foi a de uma prática individualizante e que culpabilizava exclusivamente os próprios alunos (e suas famílias) por suas dificuldades de aprendizagem, sem levar em consideração todas as demais variáveis escolares (como professores e métodos de ensino). Todas essas críticas foram culminando em muitas mudanças na forma de compreensão dos problemas escolares e das dificuldades de aprendizagem. Atualmente a prática em Psicologia Escolar e Educacional é muito diferente daquela utilizada durante os anos 1970 e 1980. No entanto, a atuação de psicólogos na área de educação ainda carece de espaço, uma vez que são poucos os psicólogos escolares em escolas públicas, e mesmo nas escolas particulares ainda são escassos os espaços para esses profissionais. É importante ressaltar que o psicólogo pode trabalhar não só com crianças com dificuldades de aprendizagem, mas também pode auxiliar na formação continuada de professores, contribuindo, por exemplo, com os conhecimentos de psicologia da aprendizagem e do ensino, psicologia do desenvolvimento e psicologia cognitiva para melhorar os processos educacionais. Os psicólogos em escolas não devem realizar uma prática clínica, isto é, de tratamento de problemas emocionais, familiares, distúrbios etc., mas devem se ocupar de uma análise mais macroscópica que busque compreender os processos educacionais que levam a algumas crianças apresentar dificuldades enquanto outras não apresentam dificuldades. Essas questões podem ser em virtude de problemas das crianças sim, mas também podem ser (e na maioria das vezes são) problemas relacionados a métodos de ensino, professores ou demais condições da escola. Um bom psicólogo escolar/educacional pode auxiliar na identificação dessas características e então fornecer alternativas coerentes com a situação escolar como, por exemplo, realizar horários de orientações com os professores, planejar e executar 41 projetos educacionais, analisar e orientar sobre métodos de ensino e propostas pedagógicas, realizar atividades de grupo com as crianças, ou em casos que sejam necessários realizar atendimento individualizado das crianças. Dentre as várias possibilidades de atuação de Psicólogos escolares, eles podem contribuir para: Melhorar o desempenho escolar, a motivação e o engajamento de alunos; Realizar avaliações psicológicas e acadêmicas; Monitorar o progresso dos alunos; Diminuir os encaminhamentos inadequados para a educação especial; Avaliar as necessidades emocionais e comportamentais de estudantes; Promover a resolução de problemas e conflitos; Planejar programas de educação individualizada apropriadas para alunos com deficiência; Modificar e adaptar currículos e formas de instrução; Ajustar as salas de aula e rotinas para melhorar o engajamento dos alunos e a aprendizagem; Comunicar de forma eficaz com os pais sobreo progresso do aluno e orientá-los sobre questões educacionais; Prevenir o bullying e outras formas de violência; Avaliar o clima da escola e melhorar a conectividade na escola entre equipe escolar, alunos e família; Reforçar as parcerias Família-Escola; Ajudar as famílias a entender as necessidades de aprendizagem e saúde mental de seus filhos. A Psicologia pode ajudar e muito nos processos educacionais, sejam dentro ou fora da escola. O papel do psicólogo na escola é mostrar aos professores, baseando-se nas ideias da psicologia sócio histórica, a importância que eles têm para constituir a personalidade de seus alunos. Ou seja, mostrar-lhes que as suas atitudes, relações, 42 afetos, comportamentos com eles farão parte do que os constituirão como pessoa, ou seja, determinarão as suas personalidades. É necessário o professor ter consciência que a subjetividade de seus alunos, assim de como qualquer outro ser humano, será formado nas suas inter-relações. São suas experiências cotidianas, os sentidos que cada um dá para elas, é que formará a sua individualidade. Deve-se divulgar, levar o conhecimento de como se forma a subjetividade do aluno. Esta que, para a psicologia sócio histórica, é formada através das apropriações que as pessoas fazem das objetivações dos seres humanos. Essas [objetivações] que são produtos da atividade social humana ao longo da história, por exemplo, linguagem, instrumentos. Assim, o ser humano a partir do momento em que se apropria das objetivações humanas com a indispensável ajuda de outro ser humano, transforma-as como seu, atribuindo sentidos a elas, se autoproduzindo e reproduzindo essas objetivações- a cultura humana. Os processos de objetivações e apropriações se constituem como mola propulsora tanto do desenvolvimento sócio histórico da subjetividade, quanto do desenvolvimento da sociedade, do gênero humano. Assim, é importante que os professores entendam que a subjetividade do indivíduo é formada através de uma relação dialética entre subjetividade e objetividade. O indivíduo apropria-se das objetivações e atribui sentido a elas. Objetividade e subjetividade se determinam, se relacionam. A construção da subjetividade individual se dá através do processo de apropriação do significado social e da atribuição de sentidos; o indivíduo converte o que é intersubjetivo para o plano intra-subjetivo e vice-versa. Nesse pensamento há algo muito importante a se considerar, e sem dúvida nos impõe uma reflexão. Cada indivíduo torna intra-subjetivo o que é intersubjetivo e torna intersubjetivo o que lhe é intra-subjetivo, entendemos que a maneira como as pessoas se relacionam conosco, como elas nos tratam, como elas nos caracterizam será apropriado por nós, quando atribuímos sentidos a isso. A maneira como nos relacionamos com o outro foi determinada também por nossas experiências interpessoais. Assim, pode-se pensar que a maneira como o professor trata o aluno será de suma importância para como ele tratará a si mesmo e como tratará as outras 43 pessoas. Se um professor rotula um aluno de incompetente, irresponsável e desprovido de inteligência, poderá determinar que o aluno se sinta e se veja realmente como o professor lhe intitulou. Eis aqui, talvez, uma das causas da dificuldade de aprendizagem, pois, que aluno terá confiança em seus estudos e em suas potencialidades se há outro que lhe diz que isso não lhe cabe. A noção de que o indivíduo para conseguir construir sua subjetividade depende do outro que lhe facilite, lhe transmita, direta ou indiretamente, as apropriações das objetivações humanas também são de suma importância. O indivíduo depende do outro para objetivar essa apropriação. Dessa forma deve ser entendido que não há subjetividade sem que intersubjetividade. O aluno para poder aprender, objetivar o que o professor lhe ensina, necessita que este consiga mediar essa apropriação. Cabe ao professor transmitir o conhecimento ao aluno de maneira que ele consiga apropriar dele. Fonte: www.bls.gov Não há aprendizado na escola sem professor, assim, este tem um papel importante no desenvolvimento intelectual do aluno e se os alunos não têm bom rendimento escolar, cabe ao professor também rever a parte que lhe cabe nesse baixo 44 rendimento estudantil. Ambos, professor e aluno fazem parte desse processo de objetivação do saber construído sócio historicamente. Cabe ao psicólogo escolar mostrar aos professores que a maneira como eles tratam seus alunos é importante. Levar o conhecimento de que a subjetividade do aluno está em constante formação, nas inter-relações, e que se o aluno não apresenta um bom comportamento isso não é algo inerente a ele, ou a um grupo que ele pertença, mas sim, foi construído no seu contexto histórico, e determinado por ele. Assim, a subjetividade do aluno, da pessoa, é vista como unidade do diverso (de todas as suas relações), síntese de múltiplas determinações, indissociável da intersubjetividade (relações entre os homens), construída pela sua apropriação da cultura humana, ou seja, resultado da atividade social humana (das objetivações humanas-linguagem, instrumentos, utensílios, comportamentos, pensamentos). Dessa forma, mostra-lhes que o homem é um ser social, construído. Ele não nasce com as suas características individuais, com suas potencialidades, inteligência, deficiências e limitações, pois, antes de construir sua subjetividade ele se encontra em um contexto coletivo, onde necessita apropriar da cultura humana. São suas experiências e os sentidos atribuídos a ela que formará à sua maneira de ser, sua subjetividade, está determinada pelo seu meio e pelos sentidos do sujeito, pertencente a um contexto político, econômico e historicamente construído. Pode-se pensar, então, no fracasso escolar não como um problema do indivíduo, algo inerente dele, mas fruto das relações que ele mantém e manteve em seu desenvolvimento. Cabe ao psicólogo escolar, promover reflexões a respeito de práticas sociais e escolares que produzem os problemas de aprendizagem; se perguntar quem é este sujeito escolar, de onde veio, como estudou, quais oportunidades teve, quais os professores passaram por sua história e como se deu essas relações. Além de tentar despertar a reflexão dos vários fatores que interferem na produção da queixa escolar, procurando entender qual o local que o aluno se insere na relação com a escola. Possibilitar que o professor considere a importância da sua relação com o aluno na construção da sua subjetividade e remover obstáculos da aprendizagem. Entendendo que problemas de aprendizagem devem ser entendidos 45 no conjunto de relações institucionais, históricas, psicológicas e pedagógicas que constitui a escola. O psicólogo escolar deve criar condições para que os docentes repensem e problematizem suas práticas; ajuda-los na compreensão do importante papel que tem como agentes da história; auxiliar na compreensão crítica em relação ao psiquismo, desenvolvimento humano, e de suas articulações com a aprendizagem e as relações sociais. Acreditamos que esta visão de homem (ser construído pelas e nas suas relações) é de suma importância para que os professores não culpabilizem os alunos pelos seus fracassos escolares, atribuindo a eles limitações ou deficiências. Assim, o professor pode se ver envolvido nesse processo de educação, assim como também ser responsável pelo fracasso de seus alunos. Não com o intuito de retirar a responsabilidade do aluno, da família, e atribuí-la aos professores, mas, mostrar-lhes que professores também determinam, nas suas maneiras de relacionar-se com o aluno, o modo de ser dele. Dessa forma, o psicólogo atribui ao professor a importância de sua atividade na formação da constituição da subjetividade do sujeito. Transmitindo, assim, o pensamento de
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