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Sagarana de Guimarães Rosa

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Sagarana de Guimarães Rosa
Lançado em 1946 
Movimento Modernismo
A dimensão lendária e mítica das sagas mostra-se, ao longo das histórias, na presença constante da superstição, da sabedoria popular e proverbial, da ambientação fantástica e mágica. Mitos indígenas e de origem africana convivem com crendices populares, em que as aparentes “desrazões” do homem simples do sertão são apresentadas ao leitor como temática de alta literatura.
Ambientado inteiramente no sertão mineiro, a paisagem é uma das personagens principais das narrativas, ao lado do minucioso trabalho com a linguagem. Centenas de espécies de animais e plantas são descritas com precisão, e é baseado na abordagem detalhada do regional que Rosa busca atingir questões universais, como a formação da sociedade brasileira.
As nove histórias de Sagarana envolvem os temas das questões sertanejas, da fome, da violência — principalmente da violência contra a mulher —, das vinganças, da jagunçagem, de um Brasil “de dentro”, desconhecido das instituições e das leis por escrito.
As relações entre as personagens estabelecem-se com base na regra e no costume, que convivem com o mítico, com o fantástico, com o mágico, com a sabedoria popular e proverbial. Para escrever as narrativas, Rosa recolheu causos e histórias dos próprios moradores da região.
Resumo dos contos 
O burrinho pedrês
O fazendeiro Major Saulo determina que seus homens levem uma grande quantidade de bois para comercialização em uma cidade distante. Para cumprir a tarefa, convoca seus vaqueiros mais experientes, montados em cavalos jovens e fortes. Acompanha a condução o burrinho Sete-de-Ouros, velho e fraco. Depois de uma chuva torrencial, um pequeno riacho, que foi facilmente superado na ida, torna-se rio caudaloso no retorno dos vaqueiros à fazenda. O único animal a escapar da correnteza é justamente o burrinho, que conta com sua experiência para poupar suas forças e deixar-se levar pelas águas ao invés de tentar lutar contra elas, como fizeram os outros.
A volta do marido pródigo
O mulato Lalino Salãthiel vive no interior de Minas mas sonha com aventuras amorosas em terras cariocas. Junta algum dinheiro e parte, deixando para trás a esposa Maria Rita. Depois de algum tempo, terminam o dinheiro e a empolgação, e ele retorna. Encontra Maria Rita envolvida com o espanhol Ramiro. Lalino se envolve então nas disputas políticas locais e, com a vitória de seu candidato, consegue a expulsão dos estrangeiros. Alcança também o perdão de Maria Rita.
Sarapalha
Os primos Ribeiro e Argemiro vivem isolados, com seu cachorro Jiló, em Sarapalha, lugarejo do interior de Minas Gerais. Sofrem com a malária, doença que lhes provoca febre e tremedeiras. Para Ribeiro, a dor maior vem do fato de ter sido abandonado pela esposa Maria Luísa, que fugiu com outro homem. Durante as intermináveis conversas que mantêm para tentar distrair da doença, Argemiro confessa ter sentido igual amor pela moça, embora sem jamais faltar com o respeito ao primo. Ribeiro, decepcionado com o que considera uma traição, expulsa o parente de suas terras.
Duelo
Voltando de uma pescaria mal sucedida, Turíbio Todo flagra sua mulher Dona Silivana com o ex-militar Cassiano Gomes. Contém seu ímpeto e adia a vingança. No entanto, ao executá-la, acaba por assassinar o irmão de Cassiano, fugindo em seguida. Segue-se uma grande perseguição pelo interior de Minas, que dura até Turíbio se retirar para São Paulo. Cassiano, sofrendo do coração, é obrigado a interromper sua busca no lugarejo do Mosquito. Ali, torna-se amigo de Timpim Vinte-e-Um, homem simples que recebe o auxílio financeiro de Cassiano para comprar remédio para sua família. Em troca, Cassiano, pouco antes de morrer, pede a Timpim que vingue seu irmão. Turíbio fica sabendo da morte de seu perseguidor e retorna a Minas. No caminho para a casa de Silivana, encontra Timpim, que cumpre a promessa feita a Cassiano.
Minha gente
O narrador é um inspetor escolar que, de férias, visita a fazenda de seu Tio Emílio no interior de Minas. Lá, reencontra a prima Maria Irma, namorada de infância, e tenta retomar a aventura amorosa. A moça consegue fazer com que a atenção do primo seja atraída para a amiga Armanda, noiva de Ramiro, rapaz pretendido por ela. O narrador, aficionado do jogo de xadrez, se vê vítima de uma jogadora perspicaz nas estratégias amorosas. Ela consegue fazer com que Armanda se interesse pelo narrador, deixando Ramiro livre para ela. O final feliz é composto pelo duplo casamento.
São Marcos
Izé, o narrador, faz pouco caso das crendices populares, não perdendo a oportunidade de passar diante da casa de certo João Mangolô, negro tido como feiticeiro, para zombar de seus feitos. Durante um passeio, vê-se repentinamente cego. Seguindo certa lenda, reza a oração de São Marcos, que tem fama de ser poderosa. Orientado pelo olfato, pela audição e pelo tato, aproxima-se da casa do feiticeiro. Consegue avançar sobre este e recupera a visão no momento em que o negro retira a venda dos olhos de um
boneco. Izé se despede de Mangolô e parte, agora um pouco mais crédulo.
Corpo fechado
No lugarejo da Laginha vive Manuel Fulô, que tem duas paixões: sua noiva Das Dores e uma mulinha de estimação, a Beija-Fulô, cobiçada por Antonico das Pedras, que tem fama de feiticeiro. Targino, um valentão local, avista Das Dores e comunica a Manuel Fulô o desejo de dormir com ela antes do casamento. Para impedir essa ofensa, Manuel teria que enfrentar o valentão. O narrador, médico local e amigo de Manuel Fulô, não encontra meio de ajudá-lo. O rapaz recorre a Antonico, que fecha seu corpo com feitiço. No duelo com Targino, Manuel escapa por milagre dos tiros que lhe são dirigidos e fere mortalmente o rival com uma pequena faca. Depois desse feito, torna-se o novo valentão do lugar.
Conversa de bois
 O menino Tiãozinho vive um drama: seu pai, entrevado, nada pode fazer contra os amores que a esposa mantém com Agenor Soronho, condutor de carros de boi. Quando o pai morre, Tiãozinho ajuda a transportar o corpo a um cemitério próximo, com outras mercadorias. Pelo caminho, Agenor prenuncia a vida que o menino teria dali por diante, agora sob suas ordens, na condição de padrasto. A crueldade que Agenor demonstra para com o menino, manifesta-se também no trato com os bois de carga. Estes se comunicam entre si e articulam uma forma de matar o carreiro. Aproveitam-se de um cochilo de Agenor e, sacudindo o carro, derrubam-no e passam com as rodas sobre ele. Sem desconfiar de nada, Tiãozinho se desespera, enquanto os bois lançam berros triunfais.
A hora e a vez de Augusto 
Matraga. Augusto Esteves é um fazendeiro de comportamento violento. Gasta dinheiro com jogos e prostitutas, maltrata a esposa Dionóra, despreza a filha e enfrenta seus opositores com a ajuda dos capangas que o acompanham. A esposa foge com outro homem, enquanto seus empregados o abandonam, reclamando o pagamento de salários atrasados. Augusto vai tirar satisfações e acaba agredido por eles. Durante a surra, atira-se de um barranco e é dado como morto. No entanto, é encontrado por um casal de negros que cuida dele. 
Durante a convalescença, Augusto reflete sobre sua vida e se penitencia dos pecados cometidos. Recuperado, parte para uma pequena propriedade que possui no Tombador, lugar distante, passando a servir o casal de negros, trabalhando arduamente. Certo dia, aparece no lugar o cangaceiro Joãozinho Bem-Bem, que simpatiza com Augusto e o convida a participar de seu bando. Augusto recusa. Tempos depois, sente irresistível desejo de partir. Segue sem rumo, até reencontrar o bando de cangaceiros no lugarejo do Rala-Coco. Quando vê a ameaça de Joãozinho Bem-Bem de fazer mal a um homem velho e à sua família, Augusto sente que chegou sua hora de concluir a remissão de seus pecados. Enfrenta o bando e vence o líder, morrendo em seguida.

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