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Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 1 Apostila Administração de RH CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO EAD Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 2 Sumário CAPÍTULO 1: TÓPICOS I DE RH (GESTÃO DE PESSOAS) ............................................ 3 1. CONTEXTO HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA ÁREA DE GESTÃO DE PESSOAS ......................................................................................................................... 3 1.1 Cinco décadas de RH ................................................................... 4 1.2 Modelos de Gestão de Pessoas ................................................... 6 1.3 Gestão Estratégica de Pessoas .................................................... 6 CAPÍTULO 2: TÓPICOS II DE RH (GESTÃO DE PESSOAS) ......................................... 24 1. GESTÃO POR COMPETÊNCIAS ..................................................................... 3 2. CONSULTORIA INTERNA DE RH ..................................................................... 3 3. MUDANÇA ORGANIZACIONAL ................................................................... 3 4. AVALIAÇÃO DE RESULTADOS DE GESTÃO DE PESSOAS ............................ 3 CAPÍTULO 3: TÓPICOS III DE RH (GESTÃO DE PESSOAS) ........................................ 41 1. DEMISSÃO E CONTRATO PSICOLÓGICO .................................................... 3 1.1 Demissão ......................................................................................... 4 1.2 Contrato Psicológico ..................................................................... 4 2. GESTÃO DE TALENTOS ................................................................................... 3 Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 3 CAPÍTULO 1 TÓPICOS I DE RH (GESTÃO DE PESSOAS) 1. CONTEXTO HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA ÁREA DE GESTÃO DE PESSOAS 1.1 Cinco décadas de RH1 A história da gestão de pessoas no Brasil pode ser contada tendo como marcos as diversas soluções, por ela desenvolvidas, para atender às necessidades das organizações. Desde o “departamento de pessoal” até a “gestão de recursos humanos”, a gestão de pessoas sofreu profundas transformações. a) Pré-história. As primeiras notícias sobre gestão de pessoas no Brasil datam do final do século XIX e começo do século XX. No contexto internacional, ocorria um movimento de industrialização e mecanização. No Brasil, a economia era dominada pelas atividades agrícolas e o nível de industrialização era incipiente, mas o país se urbanizava e a migração interna crescia vigorosamente. O fim da escravidão gerava um 1 LACOMBE, B M. B.; BENDASSOLLI, P. 5 décadas de RH. GV executivo, v.3, n3, ago/out. 2004. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 4 enorme contingente de indivíduos sem trabalho, enquanto imigrantes europeus completavam a força de trabalho disponível. De forma geral, o nível de qualificação era baixo e a atitude geral, dócil. A autoridade dos patrões era sagrada e a distância entre patrão e empregado, intransponível. Nesse contexto predominavam as empresas familiares, paternalistas e autocráticas, e a gestão de pessoas apresentava grandes variações caso a caso. O departamento de pessoal, ainda em estado embrionário de desenvolvimento, tinha como principal, senão única, atividade a manutenção de um livro de registros, no qual se anotavam os nomes, salários, contratações e demissões dos empregados. b) Era Vargas A alteração desse quadro só vai ocorrer algumas décadas mais tarde, no período entre- guerras. No mundo, os governos passam a intervir cada vez mais na economia. Sindicatos são organizados e pressionam o poder público pela promulgação de leis favoráveis aos trabalhadores. No Brasil, durante o governo Getúlio Vargas, ocorre a criação do Ministério do Trabalho e da CLT. Entretanto, apesar de os sindicatos terem também aqui se fortalecido, viviam no Brasil uma situação diferente da existente em outros países, em função de sua relação de dependência do Estado. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 5 A industrialização avança e inicia-se a disseminação dos princípios de administração científica e dos manuais de tempos e movimentos. Nesse período, a gestão de pessoas ainda se caracteriza pelo perfil paternalista e autocrá- tico do período anterior. As grandes empresas procuravam padronizar a produção e minimizar custos. É nesse momento que surgem no Brasil os departamentos de pessoal, chefiados por advogados ou engenheiros, que passam a cuidar das rotinas trabalhistas, da seleção e demissão, e da folha de pagamento. De seu lado, as pequenas empresas são conduzidas de maneira informal, com pouca atenção às questões relacionadas à gestão de pessoas. c) Pós-guerra O período posterior ao término da Segunda Guerra Mundial é marcado pelo crescimento econômico na Europa e nos Estados Unidos. O modelo de Estado de Bem-Estar Social se dissemina, tendo como base pactos firmados entre governo, empresários e sindicatos. Tal condição é favorável para as empresas, que vêem sua produção e vendas aumentarem, o que lhes permite pagar salários cada vez maiores. Para os empregados, a situação também é favorável, havendo poucas greves e conflitos. Enquanto isso, no Brasil, investe- se pesadamente em obras civis e de infra-estrutura. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 6 A indústria cresce, e o país recebe filiais de diversas multinacionais. No entanto, o crescimento econômico não acontece de forma contínua. Problemas com a balança de pagamentos, aliados aos problemas políticos do final da década de cinqüenta e início da década de sessenta, trazem instabilidade para o mercado de trabalho. O contexto mais complexo gera reflexos na gestão de pessoas, que se torna mais sofisticada. Temas como gerenciamento de carreira, remuneração e treinamento passam a ser tratados com maior atenção. d) Mudanças na década de setenta O quadro mantém-se praticamente inalterado até o início da década de setenta, quando acontece o choque do petróleo. No mundo, as bases que permitiram o crescimento se desestabilizam e a condição de pleno emprego é colocada em xeque pela recessão. No Brasil, o ciclo acelerado de crescimento é interrompido e passa-se a viver um período de instabilidade econômica, que alterna momentos de crescimento e momentos de estagna- ção. Os sindicatos se fortalecem e assumem posturas cada vez mais combativas. A gestão de pessoas se caracteriza por um forte componente de “rotinização”, uma variante da administração científica, que separa o planejamento da execução e do controle. Persistem as lacunas de treinamento e desenvolvimento, enquanto cresce o controle do trabalho por parte de capatazes e supervisores. A ação do departamento de pessoal continua sendo discreta e secundária, embora seu escopo de trabalho tenha sido ampliado. Suas atividades são rigidamente condicionadas pela legislação trabalhista, pelas diretrizes fixadas pela alta direção e pelos condicionantes tecnológicos da produção. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 7 e) Avanço da retórica na década de oitenta As décadas de oitenta e noventa são marcadas pelo fenômeno da globalização. No mundo, a desregulamentação e a queda de barreiras comerciais obriga as grandes corporações a reestruturar as operações mundiais e a buscar patamares mais altos de competitividade.O mesmo movimento ocorre no Brasil, ainda que com uma década de defasagem em relação aos países desenvolvidos. A gestão de pessoas responde ao novo contexto com mudanças de foco e escopo. Nas grandes organizações, o departamento de pessoal cede espaço ao departamento de recursos humanos. Populariza-se o conceito de alinhamento estratégico da área de gestão de pessoas com os objetivos de negócios da empresa. Muitos gerentes e diretores de recursos humanos passam a ter voz ativa nas decisões corporativas. f) Mirando o futuro Se os novos tempos demandam, de todos os tipos de organizações, novas formas de gerenciar pessoas, a pergunta que se coloca é: para que possa contribuir de maneira efetiva para os resultados organizacionais, quais são as ações possíveis para a área específica de Recursos Humanos? O primeiro diz respeito às atividades tradicionais do antigo DP, basicamente as funções operacionais de seleção, treinamento, desenvolvimento e remuneração, que vêm sendo, nas grandes empresas, cada vez mais terceirizadas. Nas pequenas e médias empresas, a área, muitas vezes ainda denominada DP, continua tendo sua atuação restrita a um foco técnico, com pouca participação nas decisões estratégicas. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 8 Um segundo foco de atenção e das ações da área específica de RH nas empresas diz respeito a uma reflexão conceitual profunda e à retomada de uma ação transformadora sobre o novo cenário organizacional, algo que vai muito além de contratar, treinar e remunerar. Inclui-se, nesse caso, a discussão sobre os limites do modelo da ARH e de suas perigosas contradições internas. Isso porque se, por um lado, ele insufla um novo credo à função de recursos humanos, baseado em idéias de participação, envolvimento, comportamento humano e qualidade, por outro tem forte compromisso com a realização das estratégias da organização, que, como se sabe, nem sempre coincidem com essas idéias. Isso nos leva à conclusão de que a ARH pode ser mais forte como discurso, isto é, como resposta em nível simbólico, do que como prática. Portanto, o grande desafio da área é a busca de explicitação para as contradições presentes nos modelos conceituais sobre gestão de pessoas, como o modelo da ARH, e do questionamento sobre o papel que a área poderá, de fato, desempenhar diante dessas contradições, para que o profissional da área não seja cobrado, exclusivamente, por alguma coisa que compete a todos na organização, a saber, a gestão de pessoas. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 9 ATIVIDADE A partir da leitura do texto, registre os principais pontos de cada etapa da evolução da área de Gestão de Pessoas. FASE EVOLUCIONÁRIA PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Pré-história Era Vargas Pós-guerra Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 10 Mudanças na década de setenta Década de oitenta Mirando o futuro Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 11 1.2 Modelos de Gestão de Pessoas2 O modelo de gestão de pessoas é a maneira pela qual uma empresa se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano do trabalho. Para isso, a empresa se estrutura definindo princípios, estratégias, políticas e práticas ou processos de gestão. Através desses mecanismos, diretrizes são implementadas e orientam-se os estilos de atuação dos gestores em sua relação com aqueles que nela trabalham. O desempenho que se espera das pessoas no trabalho e o modelo de gestão correspondente são determinados por fatores internos e externos ao contexto organizacional. Dentre os fatores internos, destacam-se o produto, a cultura e a estrutura organizacional. Quanto aos fatores externos, a cultura de trabalho de dada sociedade, sua legislação trabalhista e o papel conferido ao Estado e aos demais agentes que atuam nas relações de trabalho vão estabelecer os limites nos quais o modelo de gestão de pessoas poderá atuar. (FISCHER, 2002)3. A área de gestão de pessoas assume um novo papel na era atual, na qual cada vez mais se volta aos objetivos, missão e resultado das organizações. Logo, o modelo de gestão de pessoas como gestão estratégica irá balizar as tomadas de decisão, na busca e atração e manutenção de talentos capazes de impulsionar a mudança nas 2 ANDRADE, A. P. V. de; MACÊDO, A. P. F. de. O modelo de gestão de pessoas de uma instituição de educação profissional do RN: um estudo de caso. Disponível em < http://www.convibra.org/upload/paper/2012/34/2012_34_5121.pdf> 3 FISCHER, André Luiz. Um resgate conceitual e histórico dos modelos de gestão de pessoas. In: Fleury, M.T.L . As pessoas nas organização. São Paulo: Gente, 2002. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 12 organizações (TAVARES, 2010)4. De acordo com Fischer (2002), nas décadas de 1970 e 80, um novo critério de efetividade foi introduzido na modelagem dos sistemas de gestão de recursos humanos: seu caráter estratégico. Para Albuquerque (1987)5, a necessidade de se pensar em recursos humanos de forma estratégica decorreu, principalmente, do reconhecimento da importância de se considerar o ambiente externo na formulação das estratégias de negócios, e da existência de um gap entre as necessidades previstas para a implantação destas estratégias e as realidades que as organizações enfrentavam em termos de pessoas para implantá-las. Essa linha de pensamento trouxe novo conceito articulador do modelo de gestão: a busca de orientação estratégica para as políticas e práticas de RH. Para utilizar essa abordagem, é preciso intensificar os esforços de adaptação do modelo às necessidades da empresa, tornando-se insuficientes as soluções padronizadas capazes de atender a qualquer organização em qualquer tempo. Segundo Marras (2000)6, a gestão estratégica de pessoas é a gestão que privilegia como objetivo fundamentais, através de suas intervenções, a otimização dos resultados finais da empresa e da qualidade dos talentos que a compõem. O modelo de gestão de pessoas articulado por competências surgiu com o advento da era da competividade e das mudanças ocorridas nos mercados internacionais a partir da década de 1980. Nesse modelo, a vantagem competitiva, reengenharia e a reestruturação predominam na 4 TAVARES, Denise de Lourdes de Andrade. A política de Gestão de pessoas da UFPA:Em sintonia com o gerencialismo? 2010. 122 p. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2010. 5 ALBUQUERQUE, L. G. O papel estratégico de recursos humanos. São Paulo, 1987. Tese - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo. 6 MARRAS, Jean Pierre. Admistração de Recursos Humanos: do operacional ao estratégico. São Paulo: Futura, 2000. 332p. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 13 busca de estabelecer um relacionamento direto entre o desempenho das pessoas e os resultados organizacionais (FISCHER, 2002). 1.3 Gestão Estratégica de Pessoas7 A gestão estratégica pressupõe a necessidade de um processo decisório no presente, a partir de estudos e análises do ambiente interno e externo, que irão proporcionar melhores decisões futuras. A terminologia “gestão”, segundo Saconi (2001, p. 359) traz um significado de “ação ou efeito de gerir, gerenciar”. Logo, se é uma “ação”, precisa ser praticada por alguém que rege e/ou administra bense serviços. Gestão, portanto implica em ação, que obviamente vem imbuída de uma intencionalidade, podendo ser encontrada em todos os setores. Os avanços observados nas últimas décadas têm levado as organizações a buscarem novas formas de gestão com o intuito de melhorar o desempenho, alcançar resultados e atingir a missão institucional para o pleno atendimento das necessidades dos clientes. Nota-se também que o sucesso das organizações modernas depende, e muito, do investimento nas pessoas, com a identificação, aproveitamento e desenvolvimento do capital intelectual. 8A qualificação, agora, não é simplesmente “estoque de conhecimentos e habilidades”, mas competência e capacidade de agir, intervir, decidir em situações nem sempre previstas ou previsíveis. O desempenho e a própria produtividade global passam a depender em muito dessa capacidade e agilidade de julgamento e de resolução de problemas, que emergem de dois tipos de aprendizagem: organizacional e 7 RUBIO¹, Alessandra Cristina; DE ALCÂNTARA GONZAGA, Regina Aparecida; GUIMARÃES, Thiago Silva. GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS–FATOR CHAVE DE SUCESSO PARA AS ORGANIZAÇÕES. 8 https://www.ipog.edu.br/download-arquivo-site.sp?arquivo=gestao-estrategica- de-pessoas-815983.pdf. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 14 individual. As atividades intelectuais e de serviço agora ocupam pontos críticos nas cadeias de valor da maioria das organizações – a despeito dela estar no setor de serviços ou manufatureiro. Nesse contexto, as atividades baseadas em conhecimento, como pesquisa e desenvolvimento, pesquisa de marketing, projeto de produto, propaganda e distribuições, estão hoje no centro das ações organizacionais constituindo aspectos estratégicos determinantes para o sucesso do negócio. A estratégia para o sucesso e o bom desempenho depende, portanto, de uma estrutura funcional capacitada, que esteja em constante aperfeiçoamento e inserida num processo de informação que agregue novas ideias e conhecimento às aptidões já existentes. É a criação de conhecimento e a sua aplicação aos objetivos organizacionais que permite à empresa adequarse às mudanças do ambiente externo e formular novas estratégias. No atual contexto, os funcionários assumiram um papel preponderante na busca de vantagem competitiva, o que foi determinante para o surgimento da Administração Estratégica de Recursos Humanos (AERH), que é definida por Dessler9 (2004) como a união da administração de recursos humanos com metas e objetivos estratégicos para melhorar o desempenho da empresa e desenvolver culturas organizacionais que encorajam a inovação e a flexibilidade. 9 DESSLER, Gary. Administração de Recursos Humanos. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2004. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 15 Diante disso, Marras (2000), destaca que a função de recursos humanos como parceira estratégica da organização inclui a participação desta área na formulação das estratégias da empresa, assim como na implementação dessa estratégia por meio da aplicação consistente dos instrumentos de Gestão de Pessoas. A AERH tem como principal foco de atuação a otimização dos resultados da empresa e o desenvolvimento das pessoas que dela fazem parte (MARRAS, 2000). Neste contexto, o modelo de gestão de pessoas nas organizações vem se transformando e adquirindo importância. Resumidos por Fischer (2002, p. 173), os modelos originaram-se com uma administração burocrática e controladora, realizada pelos Departamentos de Pessoal. Mais adiante, a psicologia e o estudo do comportamento humano foram incorporados nas práticas de gestão, visando melhorar a produtividade dos trabalhadores através da liderança e da motivação. O planejamento da alocação de pessoas, o treinamento, os processos de recrutamento e seleção, metodologias de avaliação dos empregados e políticas de remuneração e benefícios, passaram a ser as principais funções dos Departamentos de Recursos Humanos. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 16 CAPÍTULO 2 TÓPICOS II DE RH (GESTÃO DE PESSOAS) 1. GESTÃO POR COMPETÊNCIAS10 O conceito de competência foi proposto de forma estruturada pela primeira vez em 1973, David McClelland11 (1973), na busca de uma abordagem mais efetiva que os testes de inteligência nos processos de escolha de pessoas para as organizações. O conceito foi rapidamente ampliado para dar suporte a processos de avaliação e para orientar ações de desenvolvimento profissional. Outro expoente na estruturação do conceito é Boyatzis12 (1982:13) que a partir da caracterização das demandas de determinado cargo na organização, procura fixar ações ou comportamentos efetivos esperados. Mas, são autores como Le Boterf13 (1994, 2000, 2001 e 2003) e Zarifian (1996 e 2001) que exploram o conceito de competência associado à idéia de agregação de valor e entrega a determinado contexto de forma independente do cargo, isto é, a partir da própria pessoa. 10 DUTRA, Joel; FISCHER, André; RUAS, Roberto; NAKATA, Lina. Absorção do conceito de competência em gestão de pessoas: a percepção de profissionais e as orientações adotadas pelas empresas. In: ENANPAD, 30, 2006, Salvador. Anais .... Salvador: ANPAD, 2006. 11 McCLELLAND, David C. Testing for Competence rather than Intelligence. American Psychologist, p. 1-14, jan. 1973. 12 BOYATZIS, Richard E. The Competent Management: A Model for Effective Performance. Nova York: Wiley & Sons, 1982. 13 LE BOTERF, Guy. De La Compétence: essi sur um Attracteur Étrange. Paris: Éditions d’ Organisation, 1994. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 17 Para alguns autores, a maioria de origem norte americana, que desenvolveram seus trabalhos nos anos 70, 80 e 90, competência é o conjunto de qualificações que permite à pessoa uma performance superior em um trabalho ou situação. Graças aos trabalhos desenvolvidos por Le Boterf (1994), Zarifian14 (1996) e Fleury1516 (1995), foi possível contestar a definição de competência associada às qualificações necessárias para um determinado cargo e procurar associar competência às realizações das pessoas e ao que elas provêm, produzem e/ou entregam ao meio onde se inserem (FLEURY, 2000 e 2002, RUAS1718, 2002 e 2005 e DUTRA1920, 2001 e 2004). Para Le Boterf (1994, 200021 e 200122), por exemplo, a competência não é um estado ou um conhecimento que se tem, nem é resultado de treinamento, na verdade, competência é mobilizar conhecimentos e experiências para atender as demandas e exigências de um determinado contexto, marcado geralmente pelas relações de trabalho, cultura da empresa, imprevistos, limitações de tempo e de recursos etc. 14 ZARIFIAN, Philippe. “A gestão da e pela competência”. Material de apoio ao Seminário Internacional Educação Profissional, Trabalho e Competência. Rio de Janeiro: Ciet, 1996. 15 FLEURY, A. e FLEURY, M. T. L. Estratégias empresariais e formação de competências. São Paulo: Atlas, 2000. 16 FISCHER, André L. “Um resgate conceitual e histórico dos modelos de gestão de pessoas”. In: FLEURY, M. T. e outros. As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002. 17 RUAS, Roberto L. “Gestão por competências: uma contribuição à estratégia das organizações”. In: RUAS, Roberto L. et al. Aprendizagem Organizacional e competências. Porto Alegre: Bookman, 2005. 18 Gestão das competências gerenciais e a aprendizagem nas organizações. Documento preliminar preparado como material de apoio aos Cursos de Extensão doPrograma de PósGraduação e Pesquisas em Administração da UFRGS, 2002. 19-------------- Gestão de pessoas com base em competências”. In: DUTRA, J. S. Gestão por competências. São Paulo: Gente, 2001. 20 -------------- Competências. São Paulo: Atlas, 2004. 21 -------------- L’ Ingénierie des Compétences. Paris: Éditions d’ Organisation, 2000. 22 -------------- Construire les Compétences Individuelles et Collectives. Paris: Éditions d’ Organisation, 2001. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 18 Atualmente, os autores procuram pensar a competência como a somatória dessas duas linhas, ou seja, como as características da pessoa podem ajudá-la a entregar com maior facilidade (McLAGAN23, 1997, e PARRY24, 1996). Outra linha importante é a de autores que discutem a questão da competência associada à atuação da pessoa em áreas de conforto profissional, usando seus pontos fortes e tendo maiores possibilidades de realização e felicidade (SCHEIN25, 1990, e DERR26, 1988). No Brasil temos diversos autores que vêm trabalhando a competência integrando diferentes escolas, como, por exemplo: Fleury (2000 e 2002), Ruas (2002 e 2005), Dutra (2001 e 2004) e Hipólito27 (2001). Essas abordagens integradoras têm gerado no Brasil, a partir dos anos 90, um uso ampliado do conceito de competência, tanto na adaptação de sistemas desenvolvidos pelas matrizes de empresas multinacionais estrangeiras quanto na modernização de sistemas de gestão de pessoas pelas empresas nacionais. Segundo Dutra (2004), nesse período se inicia um novo olhar para a gestão de pessoas, buscando não só sua integração com os objetivos estratégicos da empresa, mas também a integração da gestão de pessoas em si. “Os grandes avanços vieram quando começamos a utilizar, com maior ênfase, o conceito de competência como entrega e agregação de valor, e a ele incorporamos conceitos complementares: o de complexidade e o de espaço ocupacional. A incorporação desses conceitos permitiu estender o uso da competência para trabalhar com 23 McLAGAN, P. Competencies: The Next Generation. Training and Development, p. 40-47, maio 1997. 24 PARRY, S. B. “The Quest for Competencies”. In: Training, p. 48-54, julho 1996 25 SCHEIN, Edgar H. Career Anchors: Discovering your Real Values. Califórnia: University Associates, 1990. 26 DERR, Clyde B. Managing the New Careerist. San Francisco: Jossey-Bass, 1988. 27 -------------- Administração salarial: a remuneração por competência como diferencial competitivo. São Paulo: Atlas, 2001. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 19 questões ligadas a carreira e remuneração. Durante a segunda metade da década de 90, foi possível observar a rápida evolução do uso do conceito no aprimoramento da gestão de pessoas. Hoje, a articulação entre os conceitos de competência, complexidade e espaço ocupacional permite maior envolvimento dos gestores na administração de pessoas e melhor avaliação das repercussões de suas decisões” (DUTRA, 2004:35). 2. CONSULTORIA INTERNA DE RH28 Quando o termo consultoria é empregado, tem-se a ideia de que sua utilização é recente, contudo a atividade de consultoria é desenvolvida há algum tempo e vem ganhado espaço tanto através de empresas que se constituem para esse fim, como por profissionais autônomos e na, na última década do século passado, conquistou seu espaço nas empresas sendo desenvolvida internamente. A evolução da prática de consultoria passou a ser um modelo encontrado nas organizações em resposta à necessidade de uma maior contribuição de forma mais dinâmica e presencial, principalmente, na gestão de pessoas (COSTA LEITE29 et al, 2000; CROCCO30, 2005). Segundo ORLICKAS31 (2001) a consultoria, de uma forma ampla, é o fornecimento de determinada prestação de serviço, em geral por um profissional muito qualificado e conhecedor do tema para um determinado 28http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos08/173_CONSULTORIA_INTERNA_DE_REC URSOS_HUMANOS.pdf 29 COSTA LEITE, L. A. M.; CARVALHO, I, V.; OLIVEIRA, J. L. C. R. ; ROHM, R. H. D. (2005) Consultoria em gestão de pessoas. Rio de janeiro: FGV. 30 CROCCO, L.; GTTTMANN, ERIK. (2005) Consultoria Empresarial; Rio de Janeiro: Saraiva. 31 ORLICKAS, E. (2001). Consultoria Interna de Recursos Humanos. 4 ed. São Paulo: Futura. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 20 cliente. Já na opinião de KUBR32 (1986), Consultoria é o serviço prestado por pessoa ou grupo de pessoas independente e qualificadas para a identificação e investigação de problemas de forma a recomendar a ação adequada a proporcionar auxílio na implantação dessas recomendações. Como visto desenvolve, implanta e viabiliza um projeto de acordo com a necessidade específica de cada cliente, depois de ser realizado um diagnóstico para levantar as necessidades do cliente, identificar soluções e recomendar ações. A implantação do processo de Consultoria Interna de Recursos Humanos possui como principal objetivo descentralizar as informações da organização facilitando a tramitação da comunicação e oferecendo ao seu cliente interno melhor atendimento aproximando-se dele e conhecendo as suas reais necessidades, o que reduz o ciclo de tempo do serviço prestado. Outro objetivo importante da Consultoria Interna de Recursos Humanos é antecipar tendências de RH e ter sua atuação de acordo com suas estratégias e com as da organização. A Consultoria Interna de Recursos Humanos detecta os interesses e as necessidades do cliente interno empregando de maneira eficiente as informações recebidas para desenvolver estratégias globais, aprimorando os produtos oferecidos aos recursos humanos. 32 KUBR, M. (1986) Consultoria: um guia para a profissão. Rio de Janeiro: Guanabara. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 21 O processo de Consultoria Interna de RH pode ser definido quanto ao grau de aprofundamento que será empreendido. A expectativa manifestada sobre o tipo de atendimento desejado pode não estar clara ou não ser compreendida no momento em que o cliente solicita ao consultor interno que contribua com a realização de um trabalho de consultoria em sua área. É possível delinear dois tipos de amplitude de atuação, são eles: Consultoria vital – Instaurada com o objetivo de modificar conjunturas abrangentes e de importância estratégica. O alcance de resultados positivos é essencial para a evolução ou mesmo a sobrevivência da área ou organização e consultoria focal – Implementada com o intuito de sanar ocorrências específicas de caráter aparente e pouco profundo, salientadas pelo cliente como significativas, porém não vitais (ELTZ E VEIT33, 1999). Com base em ORLICKAS (2001), alguns pontos importantes para a implantação de um processo de Consultoria Interna: 1. Executando um Benchmark: É um processo positivo e ativo para alterar os procedimentos da organização de uma forma estruturada e obter um melhor desempenho. Pode ser realizado através de visitas técnicas às empresas como também freqüentando grupos informais de RH, porém, sem deixar de lado o cuidado de se analisar o que pode e o que não pode ser adaptado às necessidades de sua empresa. 33 ELTZ, F.; VEIT, M. (1999) Consultoria Interna. Salvador: Casa da Qualidade. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 22 2. Conscientização de todos: Os colaboradores, em geral, precisam receber todas as informações referentes à necessidade, ao objetivoe às conseqüências do processo de implantação da Consultoria Interna de Recursos Humanos. É absolutamente imprescindível para o seu sucesso. Quando todos os colaboradores estiverem conscientes de que esse trabalho tem por finalidade colaborar com eles próprios, aproximá-los e melhor atendê- los, todas as outras fases acontecerão naturalmente, com facilidade. Essa conscientização pode ser realizada mediante workshops, ou seja, treinamentos em grupo de acordo com a técnica dominada pelo instrutor, ou seminários e, é nesse momento inicial, que podemos notar os possíveis resistentes ao processo. Cabe ressaltar que a aceitação e o envolvimento do novo modelo não acontecerão de imediato, e terão que ser realizados muitos workshops e seminários para tal, entendendo-se que essa preocupação de conscientizar a todos deve ser contínua. 3. Desburocratização e Racionalização: Uma das formas de eliminar os dificultadores da implantação da Consultoria Interna de Recursos Humanos é desburocratizar e racionalizar os processos de administração de pessoal como, por exemplo, folha de pagamento e controles legal-jurídicos. A terceirização das funções-meio da Área de Recursos Humanos está crescendo cada vez mais porque a desburocratização está atrelada à inovação dos sistemas, composta pela criação de um banco de dados e pelo investimento em softwares e hardwares. Tarefas como controle de ponto, por exemplo, podem ser informatizadas. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 23 4. Políticas de RH bem definidas: Consultar o RH corporativo a todo instante prejudica o trabalho do consultor. Logo, é extremamente importante que a organização possua suas políticas bem definidas porque, dessa maneira, ele consegue trabalhar sem muitas interferências, administrando apenas exceções. 5. Aplicação da técnica do Job Rotation: Com a finalidade de evitar que o Consultor perca a sua identidade funcional e, ao mesmo tempo, enriqueça a sua atuação conhecendo outras áreas da organização, o Job Rotation deve ser aplicado. Ele consiste na rotatividade dos Consultores Internos pelos diversos setores da empresa. 6. Sustentação administrativa e funcional: O Consultor possui como principal função planejar a solução das questões e nelas atuar estrategicamente. Portanto, é fundamental que a empresa possua sustentação, como sistemas informatizados e apoio logístico de analistas e auxiliares para colaborar com os trabalhos dos Consultores. 7. Capacitação de cada profissional de RH: As empresas estão exigindo, cada vez mais, profissionais com perfil generalista. Essa multifuncionalidade consiste no profissional que, ao mesmo tempo, conhece os processos de seleção, treinamento e benefícios e projetos de remuneração, incluindo programas de estatística para efetuar pesquisas salariais. Este treinamento pode ser realizado participando de grupos de estudos e conhecendo a realidade de outras empresas. A maioria das empresas realiza essa etapa internamente, com trocas de experiências entre colegas. Ao contrário do que muitos pensam somente isso não torna a Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 24 empresa atuante no modelo de Consultoria Interna de Recursos Humanos. 8. Definição do papel do consultor interno: Para que a implantação do processo de Consultoria Interna de Recursos Humanos tenha sucesso, é necessário, logo de imediato, definir o novo papel do Consultor Interno, para evitar distorções no futuro. Deve ficar claro que sua função é de assessoramento estratégico aos clientes internos, colaborando, acompanhando na solução de problemas e nas tendências de RH, participando em processos determinados de seu cliente, assessorando as áreas no levantamento de necessidades de treinamento, assim como colaborar na identificação de novos talentos, oferecer suporte na execução de programas específicos de cargos, salários, benefícios, entre outros. O Consultor também tem como papel, em algumas empresas, o contato com todos os colaboradores buscando ouví-los em suas necessidades. Gerentes de Linha como gestores de seus recursos humanos: Esse é um dos pontos mais importantes do processo. Nele, a administração de faltas, atrasos, admissões e demissões passam a ser de responsabilidade dos Gerentes de Linha. Tornar a área de recursos humanos uma Business Unit: Esse processo dinamiza os planos de RH para que eles possam caminhar junto com o negócio-fim da organização, pois torna a Área de RH uma unidade de negócio, como todas as demais áreas da empresa. 9. Revisões e Avaliações: Para a empresa adequar as novas situações vividas à sua realidade, elas necessitam realizar constantes revisões e reavaliações do processo para corrigi-lo e aperfeiçoá-lo, pois o que pode ser favorável à empresa hoje, pode não ser amanhã. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 25 É importante ressaltar as resistências à implantação da Consultoria Interna de Recursos Humanos. Os seres humanos, na maioria das vezes, sentem-se inseguros e ansiosos quando encaram um processo de mudança. Isso também se aplica ao processo de Consultoria Interna de Recursos Humanos e é previsível, natural. É fundamental possuir sensibilidade para identificar essas emoções, compreendê-las e encará-las como parte do processo normal apoiando o cliente interno quando ele se expressar. Pessoas com um perfil conservador são as que apresentam resistências em maior grau, são os dificultadores do processo. O consultor de identificá- los e administrá-los e a empresa deve capacitar seus consultores para tal, minimizando o insucesso do processo. Quando o clima inadequado se instala na empresa é porque nem sempre os gerentes conseguem lidar com mudanças de forma natural e acabam transmitindo sua insegurança aos outros. Isso gera uma ótica de pessimismo em relação às mudanças, pois os profissionais, com medo de errar, não tomam decisões, evidenciando as resistências. Resistir, na realidade, é ter receio de perder o controle, o poder e a segurança. É um processo emocional e por trás dele estão sentimentos. Administrar a resistência é um grande desafio a ser vencido para o sucesso da implantação de Consultoria Interna de Recursos Humanos. Deve-se entender que ela não é uma adversária a ser derrubada e que se for considerada como tal, somente se intensificará. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 26 Algumas empresas, a fim de minimizar as resistências, têm realizado workshops de conscientização e palestras informativas de maneira constante. Pode acontecer que um cliente interno não concorda com a função de administrar seus próprios recursos humanos porque acredita que essa função é da Área de RH (OLIVEIRA34, 2006). Mostrando o objetivo do trabalho e salientando que ele conhece melhor que ninguém seus colaboradores é uma boa forma de quebrar esse quadro. Em algumas ocasiões, pode ser necessário a implementação do processo de Consultoria Interna da alta cúpula da empresa. Porém, isso prejudica sua qualidade, podendo gerar falta de comprometimento de todos (consultor, cliente e colaboradores) nos futuros trabalhos. Isso deve ser realizado junto à alta direção. 3. MUDANÇA ORGANIZACIONAL35 A mudança é uma característica de toda organização. É um fenômeno multidimensional devendo ser apreendido nos diversos níveis em que ocorre. O tema está presente na literatura há anos e o ritmo e a força com que as condições do ambiente têm mudado atribuem uma velocidade de mudança cada vez maior às organizações (LIMA & BRESSAN36, 2003). Isto tem chamado a atenção dos autores e diversas definições são encontradas para otema. 34 OLIVEIRA, D. P. R. (2006). Manual de Consultoria Empresarial. 6 ed. São Paulo: Atlas. 35 SOUZA, Maíra; VASCONCELOS, Lisian; BORGES-ANDRADE, Jairo. Pesquisa sobre Mudança nas Organizações: a Produção Brasileira em Micro Comportamento Organizacional. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 9, 2, jul-dez 2009 36 Lima, S. M. V. & Bressan, C. L. (2003). Mudança organizacional: uma introdução. In S. M. V. Lima (Ed.), Mudança Organizacional - teoria e gestão (17-63). Rio de Janeiro: Editora FGV Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 27 Lima e Bressan (2003) abordam o conceito de mudança como: [...] qualquer alteração, planejada ou não, nos componentes organizacionais - pessoas, trabalho, estrutura formal, cultura - ou nas relações entre a organização e seu ambiente, que possa ter conseqüências relevantes, de natureza positiva ou negativa, para a eficiência, eficácia e/ou sustentabilidade organizacional. (p.25). Esta definição considera características organizacionais (macro) e individuais (micro) das mudanças e aspectos interno e externo (contextuais) às organizações. Considerando o nível micro da disciplina Comportamento Organizacional, é fundamental compreender a influência que as mudanças, externas, internas, micro e macro, exercem no comportamento dos indivíduos que fazem parte das organizações, já que, de acordo com Lima e Bressan (2003), é praticamente impossível que essas mudanças não afetem as pessoas nos seus locais de trabalho. Assim sendo, será considerada aqui qualquer mudança organizacional que afete o comportamento dos indivíduos no trabalho, gerando reações positivas ou negativas, resistências e adaptações. Além disso, considerar-se- ão também as percepções e as crenças individuais sobre os processos de transição, uma vez que essas também poderão influenciar as atitudes individuais frente à mudança. De acordo com Motta (1997)37, as mudanças organizacionais podem ser analisadas de acordo com diferentes perspectivas: (1) perspectiva estrutural (focada nas estruturas formais de responsabilidade e autoridade); (2) perspectiva tecnológica (utilização de recursos materiais e intelectuais, 37 MOTTA, P. R. Transformação organizacional: A teoria e a prática de inovar. 1. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 28 além de alteração de processos produtivos e tecnologia); (3) perspectiva estratégica (baseada na redefinição da missão e objetivos empresariais, e formas pelas quais as organizações planejam suas ações); (4) perspectiva humana (alterações nas atitudes, comportamento e a forma de participação dos indivíduos); (5) perspectiva cultural (internalização de novos valores, na busca de um novo senso de identidade organizacional); e (6) perspectiva política (redistribuição do poder dentro da empresa). Por sua vez, Chiavenato38 (1996) divide as mudanças organizacionais em quatro tipos: (1) físicas, incluindo instalações e equipamentos, métodos e processos de trabalho, produtos ou serviços; (2) lógicas, incluindo missão, objetivos e estratégias organizacionais, além de novas soluções; (3) estruturais, relacionadas às estruturas de cargos, níveis hierárquicos e redes de comunicação empresarial; e (4) comportamentais, referentes às atitudes das pessoas, aos conhecimentos e habilidades dos colaboradores, às relações interpessoais e sociais, e aos paradigmas organizacionais. De modo geral, mudança organizacional engloba alterações fundamentais nos padrões de trabalho, nos valores dos indivíduos e no comportamento humano, como respostas a modificações estratégicas, de recursos ou tecnológicas (HERZOG39, 1991). A mudança pode ser considerada como um ônus, pois envolve alterações significativas na maneira como os indivíduos agem e pensam, tornando-a, ao mesmo tempo, incerta e arriscada. Ao mesmo tempo, pode 38 CHIAVENATO, I. Os novos paradigmas: Como as mudanças estão mexendo com as empresas. 1. ed. São Paulo: Atlas, 1996. 39 HERZOG, J. P. People: The critical factor in managing change. Journal of Systems Management, v. 42, n. 3, p. 6-11, 1991. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 29 ser considerada como uma fonte de novas possibilidades, sendo que as organizações de alto desempenho mudam rapidamente para se adequarem às necessidades dos clientes, que são constantemente modificadas, e ao ambiente competitivo dinâmico da atualidade (MOTTA, 1997). Lewin40 (1952) propõe um modelo de três fases para interpretar o processo de mudança: descongelamento, movimento e recongelamento. Na fase de descongelamento, as forças propulsoras (contrárias ao status quo) são estimuladas, enquanto as forças restritivas (que impedem o movimento para fora do equilíbrio) são desestimuladas. Após esta primeira etapa, a mudança é implementada (etapa do movimento), e, finalmente, para garantir que a mesma seja concretizada, ocorre a terceira etapa, de modo a garantir a permanência do novo estado no longo prazo. Vários autores concordam que um dos maiores obstáculos na implementação bem-sucedida de mudanças nas organizações é um processo social conhecido como resistência à mudança. De acordo com Lewin (1952), a resistência à mudança seria o resultado da tendência de um indivíduo ou de um grupo a se opor às forças sociais que objetivam conduzir o sistema para um novo patamar de equilíbrio. Complementarmente, Robbins41 (2004) explica que a resistência parte tanto dos indivíduos quanto da própria organização. Ainda segundo este mesmo autor, em algumas situações, a resistência tem seu lado positivo, 40 LEWIN, K. Field theory in social science: Selected theoretical papers. London: Tavistock Publications, 1952. 41 ROBBINS, S. P. Fundamentos do comportamento organizacional. 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 30 pois é a mesma que traz estabilidade e previsibilidade ao comportamento organizacional, além de trazer discussões sobre determinadas decisões, resultando em uma decisão melhor; porém, a resistência tende a dificultar a adaptação e o progresso de uma organização. Nesta mesma linha, Motta (1997) e Silva e Vergara42 (2003) argumentam que a resistência é um processo comum, e tem seus aspectos positivos, ao inibir imposições unilaterais e ser uma fonte de crítica e criatividade, assim como aspectos negativos, já que impede a concretização de algumas mudanças na organização. A resistência às mudanças pode ser dividida em duas categorias, sendo a primeira aquela que ocorre a nível individual e a outra, a nível organizacional. A resistência por parte dos indivíduos da organização ocorre por várias razões, entre elas o hábito (o ser humano tende a responder frente à mudança como tem costume de fazê-lo); a segurança (mudanças fazem com que as pessoas sintam-se ameaçadas); fatores econômicos (quando há dúvida a respeito de queda de rendimentos pessoais); medo do desconhecido (em um processo de mudança, o que era conhecido passa a ser ambíguo e incerto); e por causa do processo seletivo de informações (para não mudarem suas percepções de mundo, os indivíduos tendem a ignorar informações que possam questionar suas formas de pensar). Já a resistência organizacional ocorre pelos seguintes motivos: inércia estrutural (a própria estrutura da empresa tende a manter a estabilidade, através de processos de seleção que dão preferência a certas características pessoais na contratação,ou por meio de treinamentos que visam socializar novos funcionários, entre outros exemplos); foco limitado de mudança (como os 42 SILVA, J. R. G.; VERGARA, S. C. Sentimentos, subjetividade e supostas resistências à mudança organizacional. Revista de Administração de Empresas, v. 43, n. 3, p. 10- 21, 2003. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 31 sistemas que formam uma organização são interdependentes, mudanças que se limitam a alguns subsistemas tendem a ser anuladas pelos demais); inércia do grupo (geralmente as normas grupais influenciam iniciativas de mudanças de comportamentos a nível individual); ameaça à especialização (algumas mudanças ameaçam certos grupos especialistas em determinados assuntos); ameaça às relações de poder estabelecidas (mudanças podem representar redistribuição de autoridade dentro da organização); ameaça às alocações de recursos estabelecidas (mudanças podem representar realocações de recursos organizacionais, fazendo com que determinados grupos que antes eram beneficiados sintam-se ameaçados) (ROBBINS, 2004). 4. AVALIAÇÃO DE RESULTADOS DE GESTÃO DE PESSOAS43 O processo de avaliação de RH, presente na literatura nacional e estrangeira (LACOMBE, 2005; BECKER et al, 2001; FITZ-ENZ, 2000), tem como ponto de partida os objetivos estratégicos da organização, visando à compreensão da cadeia de valor de RH, ou seja, o processo pelo qual os recursos humanos da empresa criam valor, para atingir os propósitos estratégicos. Com o uso de indicadores, esse processo pode ser acompanhado, verificando se cada meta intermediária está sendo atingida e, conseqüentemente, se o RH está cumprindo seu papel na estratégia da empresa. Com base nesses resultados, podem ser tomadas as medidas necessárias para que a contribuição da área seja efetiva, tanto em relação à eficiência, quanto em relação à criação de valor. , 43 TASCHNER, G. B.; PIELLUSCH, M. A avaliação de resultados em RH no setor hoteleiro: um estudo nas maiores redes no Brasil. O&S, Salvador, v.16, n.51, p. 665- 686, Outubro/Dezembro 2009 Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 32 A seguir, lista-se alguns indicadores de resultados de Recursos Humanos:44 a) Índice de Rotatividade (Turnover) O Índice de Rotatividade — também conhecido como Turnover — indica a quantidade de colaboradores que saem e que entram na empresa, em um determinado período. Esse indicador serve como base para várias análises, pois pode apontar uma baixa atratividade da empresa em relação à concorrência e, neste caso, é preciso revisar as políticas já aplicadas, a fim de evitar a perda de bons profissionais. b) Absenteísmo O absenteísmo é mais um importante indicador de RH. Medir as taxas de ausência dos colaboradores é fundamental, bem como compreender quais são os motivos dessas faltas ou atrasos. Os casos médicos exigem mais cuidado, pois podem estar relacionados às condições de trabalho, saúde e ergonomia oferecidas pela empresa. Porém, o absenteísmo também pode estar vinculado a problemas pessoais, como conflitos com colegas e gestores, endividamento ou dependência química. Assim, os absenteístas devem ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar, contando com médicos e assistentes sociais. Com o suporte adequado, o profissional pode vencer as dificuldades e voltar a ter uma performance positiva. 44 https://www.metadados.com.br/blog/index.php/2016/05/20/medindo-a-gestao- de-recursos-humanos-os-indicadores-fundamentais-em-rh/ Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 33 c) Custos de rotatividade Os custos da rotatividade abrangem todas as despesas referentes ao pagamento das rescisões contratuais, incluindo multas e tributos. Soma-se a esse valor os gastos para a reposição do profissional desligado, por meio de novos processos seletivos. Além disso, é preciso incluir o investimento feito em treinamentos e qualificação. De fato, esse custo deve ser encarado com um desperdício. Por isso, a importância de manter a taxa de rotatividade sob controle, dentro das métricas definidas no planejamento estratégico. d) Índice de reclamações trabalhistas Esse indicador também evidencia aspectos relacionados à gestão, à obediência, à legislação trabalhista e à seriedade das políticas internas. Algumas situações são bastante típicas e geram reclamações, como as condições de trabalho — envolvendo periculosidade, insalubridade, segurança, ergonomia e saúde —, além dos atrasos nos pagamentos e nos recolhimentos do INSS e FGTS, as horas extras e seus reflexos, os adicionais, a equiparação salarial e o assédio moral. e) Clima Organizacional O indicador de Clima Organizacional é conseguido por meio de uma pesquisa específica, conduzida junto aos colaboradores, de modo que todos tenham a oportunidade de responder a questões sobre o relacionamento com os gestores, as oportunidades de crescimento profissional, o acesso a recursos necessários à realização das tarefas cotidianas, o contentamento com as políticas de remuneração e benefícios, o incentivo ao aprendizado e às ações de reconhecimento e valorização do Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 34 indivíduo, por exemplo. Como a pesquisa adota notas para classificar o grau de satisfação das equipes, é fácil perceber quais são os pontos fortes da gestão de pessoas e, principalmente, quais as práticas e estratégias que precisam de ajustes imediatos. f) ROI em Treinamentos (Retorno sobre o Investimento em Treinamentos) O ROI — Retorno sobre Investimento — compara os valores gastos em capacitação e melhorias obtidas nos processos e rotinas de trabalho. Ou seja, este indicador mensura a colaboração dos cursos para a redução de problemas, perdas, falhas, atrasos, retrabalhos e acidentes. Assim, estabelece uma relação entre as despesas e os prejuízos financeiros evitados e os investimentos na qualificação das equipes. É uma informação importante para assegurar a manutenção e ampliação das verbas liberadas para os programas de treinamento. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 35 CAPÍTULO 3 TÓPICOS III DE RH (GESTÃO DE PESSOAS) 1. DEMISSÃO E CONTRATO PSICOLÓGICO 1.2 Demissão45 Notícias de downsizing e demissão em massa são freqüentes na mídia. O acompanhamento do número de demissões anunciadas por empresas nos Estados Unidos nos últimos 15 anos, realizado por uma consultoria americana de recolocação, a Challenger, Gary e Christmas46 (2004), revela que, em 2001, ano do atentado terrorista às torres gêmeas de Nova York, observou-se o número mais elevado dos dados, com notícias que somam dois milhões de pessoas demitidas naquele ano. Depois do atentado, as notícias sobre pessoas demitidas passam a médias anuais de 1.466.000 e 1.236.000 nos dois anos seguintes. Antes de 2001, na década de 90, as notícias relatavam uma média de 500 mil pessoas demitidas anualmente nos Estados Unidos. É importante esclarecermos a definição de demissão considerada. Ao nos referirmos à demissão, estamos falando do evento que remove o indivíduo de seu emprego remunerado contra a sua vontade (Latack e Dozier47, 1986; Latack, Kinicki e Prissia48, 1995). Já desemprego é o estado que 45 TONELLI, Maria J.; PLIOPAS, Ana L.; FONSECA, Priscila. Doces práticas para matar. In: ENANPAD, 29, 2005, Brasília. Anais .... Brasília: ANPAD, 2005. 46 CHALLENGER, GARY and CHRISTMAS. New Challenger cauge: moving average fallsto 3-year low [mensagem pessoal]. Mensagem recebida em 09 abr. 2004. 47 LATACK, J.C. DOZIER, J. B. After the ax falls: job loss as a career transition. Academy of Management Review, Ohio, v. 11, n. 2, p. 375-392, 1986. 48 LATACK, J. C. KINICKI, A. J.; PRUSSIA, G. E. An integrative process model of coping with job loss. Academy of Management Review, Briarcliff Manor, v. 20, n. 2, p. 311- 342, Apr. 1995. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 36 ocorre depois do evento demissão. A definição apresentada por Galeazzi49 (2000, p. 71) de que desempregado é aquele que se encontra em uma situação involuntária de não-trabalho por falta de oportunidade ou que exerça um trabalho irregular com desejo de mudança nos parece bastante adequada, já que incluí entre os desempregados também os que têm atividade irregular. Downsizing, portanto, refere-se à diminuição do tamanho da organização (CALDAS50, 2000; TOMASKO51, 1992) que pode ocorrer de várias maneiras como transferências, congelamento de contratações e incentivo a aposentadorias, porém, a maneira mais usual de diminuir o tamanho organizacional é o enxugamento ou demissões em massa (CALDAS, 2000; TOMASKO, 1992; FREEMAN, KIM E CAMERON52, 1993). Nessa perspectiva, é fundamental frisar alguns atributos do downsizing: em primeiro lugar, trata-se de uma iniciativa intencional, cujo objetivo é melhorar o desempenho organizacional. Além disso, o downsizing pode ser uma ação proativa ou reativa, cujo objetivo é conter custos ou aumentar a competitividade (FREEMAN E CAMERON, 1993). A organização enfrenta problemas por aumento da competitividade e diminuição de mercados e realiza downsizing como uma estratégia de sobrevivência (CALDAS, 2000). Entre os mecanismos de downsizing, o mais comum é a demissão de pessoas. Observamos, portanto, que enxugamentos ou demissões de pessoas são uma das maneiras de realizar o downsizing (CAMERON53, 1993; CALDAS, 49 GALEAZZI, I. Precarização do trabalho. In: CATTANI, A.D. (Org.) Trabalho e tecnologia: dicionário crítico. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 268-274. 50 CALDAS, M.P. Demissão: causas, efeitos e alternativas para empresa e indivíduo. São Paulo: Atlas, 2000. 51 TOMASKO, R. M. Downsizing: reformulando e redimensionando sua empresa para o futuro. São Paulo: Makron Books, 1992 52 FREEMAN, S., KIM, S., CAMERON, K.S. Organizational downsizing: a convergence and reorientation framework. Organization Science, Linthicum, v. 4, n.1, p. 10-29, Feb. 1993. 53 CAMERON, K. Strategies for successful organizational downsizing. Human Resource Management, Ann Arbor, v. 33, n. 2, p. 189-212, Summer 1993. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 37 2000). Uma questão que chama a atenção dos autores sobre o tema é que a prática de enxugamento de pessoal tornou- 3 se uma característica abrangente e duradoura, ou seja, as organizações buscam constantemente a redução de despesas em geral, demitindo pessoas (CALDAS, 2000). Vale ressaltar que tratamos neste estudo de demissões dentro do contexto de downsizing, ou seja, demissões que ocorrem segundo uma iniciativa intencional para melhoria do desempenho da organização. 1.2 Contrato Psicológico O termo “contrato psicológico” foi utilizado formalmente pela primeira vez por Argyris, em seu livro Understanding Organizational Behaviour (1960). Ele acreditava que os empregados e as organizações criavam contratos psicológicos que permitiam a expressão e a gratificação de necessidades mútuas, através de acordos implícitos. Quando os empregados percebiam que os supervisores (ou capatazes) respeitavam seus direitos ao desenvolvimento, ao crescimento e os permitiam ter iniciativa, estes em troca, também respeitavam o direito de a organização se desenvolver (CONWAY e BRINER54, 2005). Posteriormente, diversos autores e pesquisadores utilizaram o termo sem haver, entretanto, a adoção de uma definição única e padronizada. Schein55 (1980) entende que o contrato psicológico consiste na existência de um conjunto de expectativas, não escritas, operando continuamente entre cada membro de uma organização e os seus vários gestores, além dos demais membros desta organização. 54 CONWAY, Neil e BRINER, Rob B. Understanding psychological contracts at work: a critical evaluation of theory and research. New York: Oxford, 2005. 226 p. 55 SCHEIN, Edgar H. Organizational Psychology. 3rd ed. Englewood Cliffs: Prentice- Hall, 1980. 274 p. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 38 Rousseau56 (1995) define o contrato psicológico como as crenças dos indivíduos sobre os termos do acordo de troca, que estabelecem com suas organizações. A autora também se refere ao contrato psicológico como modelos mentais que os indivíduos utilizam para organizar eventos como promessas, auto-afirmação e confiança. Estes modelos teriam como função principal orientar os indivíduos sobre quais eventos devem esperar que ocorram na organização e como interpretá-los. As crenças do indivíduo passam a fazer parte do contrato psicológico, quando ele percebe que deve à organização certa contribuição (por ex.: dedicação, lealdade, sacrifícios) em troca de certos benefícios (salário, segurança no trabalho, etc.). Para Rousseau (1995) os contratos psicológicos diferem do conceito geral de expectativas, pois são promissórios e recíprocos, já que as promessas de comportamento futuro, por parte da organização, são dependentes de uma ação recíproca do empregado. Rousseau (1995) caracteriza dois tipos de contratos: os transacionais e os relacionais. Eles se formam através da diversidade da natureza das trocas percebidas pelos empregados e pelo tempo de contratação (finito ou indeterminado) estabelecido pela organização. Os dois tipos apresentados seriam extremidades de um contínuo que permite acomodar as mais diversas naturezas de contratos. O contrato transacional costuma ser estabelecido com término específico, de curto prazo, a base de troca é monetária e o envolvimento entre as partes é limitado. Enquanto o contrato relacional foca em uma relação sem prazo de término estabelecido, envolve obrigações no longo prazo, é baseado não apenas em trocas monetárias, 5 mas também, sócio-emocionais, requerendo investimentos de 56 ROUSSEAU, Denise M. e GRELLER, M. M. Human resource practices: administrative contract makers. Human Resource Management, v. 33, n. 3, p. 385-401, 1994. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 39 ambas as partes que costumam ser percebidos como barreiras à saída. A distinção na natureza dos contratos, transacional ou relacional, traz implicações para a forma como um empregado percebe que seu contrato foi violado e contribui para determinar sua resposta a esta percepção (MORRISON e ROBINSON57, 1997). Cada contrato psicológico é único, pois se desenvolve a partir das necessidades do indivíduo; entretanto, de acordo com Rousseau (1995), algumas vezes ocorrem contratos psicológicos compartilhados, chamados de contratos normativos. São situações onde os indivíduos interpretam seus compromissos e obrigações de forma similar, e para tal deve haver um alto grau de interação e compartilhamento de informações entre os indivíduos, além de um ambiente social comum a todos. 2. GESTÃO DE TALENTOS5859 O talento define-se como a capacidade inata para a realização de uma tarefa. O talento resulta de competências técnicas e comportamentais (AÇÃO), da motivação e entusiasmo (PAIXÃO) e da capacidade de antecipação e orientação, sabendo para onde vai (VISÃO). O talento tem umpapel estratégico na valorização do capital humano na organização. Na atual conjuntura, a gestão de talentos é crucial para a gestão de recursos humanos. Detectar profissionais com talento, saber retê- los, geri-los e desenvolve-los é uma tarefa difícil. Os profissionais com talento são uma vantagem competitiva, acrescentam valor ao negócio produzindo 57 MORRISON, Elizabeth W. e ROBINSON, Sandra L. When employees feel betrayed: a model of how psychological contract violation develops. The Academy of Management Review, v. 22, n. 1, p. 226, 1997. 58 Camara, P. B., Guerra, P. B., & Rodrigues, J. V. (2010). Novo Humanator - Recursos Humanos e Sucesso Empresarial. D. Quixote. 59 Tansley, C., Harris, L., Stewart, J., Turner, P.,. (Outubro de 2006). Talent Management - Understanding the Dimentions. Londres: Change Agenda CIPD. Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 40 ativos intangíveis. Os profissionais com talento, em regra, apresentam melhores níveis de desempenho, rentabilidade mais elevada, têm enfoque no crescimento pessoal, adaptam-se à mudança e geram mudança, exigem grande qualidade e consistência das chefias, são proativos e têm paixão pela ação e pela mudança. A gestão de talento implica uma estratégia sinérgica que, mais do que dizer respeito ao departamento de recursos humanos, obriga ao envolvimento de toda a organização, e visa atrair, desenvolver e reter o talento. Para que uma organização consiga atrair talento tem necessariamente que ter uma reputação no mercado ligada a uma cultura de desempenho. A imagem da organização deve refletir uma proposta de valor para potenciais colaboradores talentosos. A organização deve desenvolver competências que sejam identificadas pelos talentos como uma organização em que ambicionem trabalhar. O estilo de gestão, o sistema de recompensas, a aposta na formação dos colaboradores, os padrões de comportamento e de atitudes, a gestão do binómio vida pessoal – vida profissional, são características que interferem na captação de profissionais talentosos. A captação de talento para a organização pode, e deve, ser feita interna e externamente. É fundamental que a organização consiga reter talento. Falhar neste ponto traz custos avultados para a organização, na medida em que o investimento na captação e desenvolvimento do talento é elevado. Sistemas de recompensas adequadas, a promoção do desenvolvimento do colaborador, promoverem a motivação e criar laços psicológicos entre a Guia do Curso | CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO Escola Ludwig – Centro de Ensino Galeano. 41 organização e o colaborador são peças chave para a retenção do talento. Estes profissionais tendem a serem sensíveis a estilos de gestão desadequados e é frequente que vejam neste fator um motivo para abandonar a organização. Desenvolver o talento significa mais do que promover formação adequada e ajustada aos colaboradores. Desenvolver o talento significa promover planos de ação que visem um desenvolvimento permanente e altamente personalizado. Falamos de mentoring e de coaching. O mentoring, na sua essência, visa à retenção dos colaboradores, pois, caracteriza-se pelo acompanhamento do profissional com talento por um profissional experiente que o orientará na sua vida profissional, garantindo- lhe apoio e o seu desenvolvimento. O coaching é outra das ferramentas disponíveis para desenvolver um profissional talentoso. Sendo um processo contínuo de acompanhamento do colaborador, que tem como objetivo melhorar resultados, otimizando os pontos fortes e minimizando os pontos fracos do colaborador é, paralelamente com o mentoring, uma excelente ferramenta de desenvolvimento de talento nas organizações, que poderá garantir a retenção do talento.