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1 TUTORIA 1 – “POSITIVO, E AGORA? ” Discorrer sobre a história natural da Zyca vírus, sd. da rubéola congênita e sífilis, atentando-se a sintomatologia, tratamento, impactos para saúde pública e período de incubação; Discorrer sobre a transmissão vertical; (Zyca vírus, sd. da rubéola congênita e sífilis) Determinar os principais meios de prevenção e o papel da Atenção Primária nisso; Caracterizar clinicamente sd alcoólica fetal; Descrever os principais teratogênicos e os seus riscos para a gestação; Reconhecer as principais causas de retardo do crescimento uterino; Explicar as formas de atuação dos agentes causadores de malformações congênitas; Compreender a importância do acolhimento e orientação as gestantes e puérperas, principalmente, as menores de idade; Identificar a importância do acompanhamento pré-natal na prevenção e identificação de fatores de risco para malformações congênitas e prematuridade (caracterizar os exames de triagem e diagnostico precoce) DISCORRER SOBRE A HISTÓRIA NATURAL, ATENTANDO-SE A SINTOMATOLOGIA, TRATAMENTO, IMPACTOS PARA SAÚDE PÚBLICA, PERÍODO DE INCUBAÇÃO, TRANSMISSÃO VERTICAL E PREVENÇÃO. 1. Zyca Vírus - História Natural O ZIKV foi isolado pela primeira vez em 1947 na floresta de Zika, no Uganda, a partir de uma amostra de soro de um macaco Rhesus que servia de sentinela para estudo vigilância da febre-amarela . Após análise filogenética do genoma viral, percebeu-se que provavelmente o vírus surgiu nesta localidade em torno de 1920, e após duas fases de migração para o Oeste Africano deu início as duas linhagens africanas. Do Uganda, o vírus terá migrado na década de 1940 para a Ásia e aí originou a linhagem asiática, com surtos registados na Indonésia e a epidemia na Micronésia. A linhagem asiática também foi a responsável pelos casos de transmissão autótone deste vírus, recentemente ocorridos no Brasil. 2 Em fevereiro de 2014, pela primeira vez nas Américas, casos da doença foram reportados na Ilha de Páscoa (território Chileno no Oceano Pacífico), provavelmente relacionado com o surto na Micronésia e na PF.20 Em 2015 foi confirmada a circulação do vírus no Nordeste do Brasil a partir de isolamento viral em casos suspeitos de dengue. Em 1º de fevereiro de 2016, a OMS decretou a infecção por ZIKA uma emergência em saúde pública de preocupação mundial, em virtude das alterações neurológicas reportadas (síndrome de Guillain-Barré) e de um surto de microcefalia, reportados no Brasil em 2015, após eventos semelhantes na Polinésia Francesa em 2014 (WHO, 2016). - Sintomatologia e período de incubação O período de incubação do ZIKV pode variar de 3 a 12 dias após a picada. O período de incubação extrínseco do ZIKV varia de sete a 10 dias, enquanto o período de incubação intrínseco, de três a 12 dias As manifestações clínicas da doença podem variar dependendo da localidade, sendo frequente uma síndrome ‘tipo-dengue’. Infeções assintomáticas também são descritas a partir de resultados de inquéritos sorológicos. Tem causado doença febril, acompanhada por discreta ocorrência de outros sintomas gerais, tais como cefaleia, exantema, mal-estar, edema e dores articulares, por vezes intensas. Os sintomas incluíam artralgia, edema de extremidades, febre baixa, rash maculopapular frequentemente pruriginoso, dores de cabeça, dor retro-orbitária, sem conjuntivite purulenta, vertigem, mialgia e distúrbio digestivo. Estima-se que 80% dos humanos infectados não apresentam sintomas. As manifestações clínicas são diversas: febre, conjuntivite, cefaleia, mialgia, artralgia náusea e erupção cutânea (Marano et al., 2015). Embora os casos de complicações em decorrência ao ZIKV sejam incomuns, a infecção por tal arbovírus foi relacionada à Síndrome de Guillain-Barré e à microcefalia em neonatos cujas mães tiveram contato com o vírus preferivelmente no primeiro trimestre da gestação. - Tratamento De um modo geral, é realizada a conduta de hidratação e repouso, porém, para os casos de dor e febre, é 3 desaconselhável o uso ou indicação de anti-inflamatórios não esteroides em função do risco aumentado de complicações hemorrágicas (SINGHI et al., 2007) descritas nas infecções, principalmente no DEN e ZIKA, pois são provocadas por flavivírus. Além disso, até o momento, não há tratamento antiviral específico para essas arboviroses. O fármaco de escolha é o paracetamol, podendo ser utilizada a dipirona para alívio da dor e febre (ZAMMARCHI et al., 2015; CHOWDHURY, et al. 2012; BRASIL, 2015). O paracetamol deve ser usado com cautela, principalmente em pessoas com doenças hepáticas. Nos casos da dor refratária à dipirona e ao paracetamol, podem ser utilizados os analgésicos opioides como cloridrato de tramadol e codeína, esta última pode ser associada à dipirona e ao paracetamol nos casos de dor não responsiva à monoterapia. As doses de dipirona e paracetamol são de acordo com os padrões recomendados, estando atento às doses máximas. O tramadol está indicado para dor moderada a intensa que não tenha respondido ao uso da dipirona, paracetamol ou associação com codeína, que deve ser usado com cautela em idosos, pacientes com histórico de convulsões, doença hepática e renal (AHRENSTORF et al., 2008). Para um melhor efeito, a posologia deve ser individualizada, ajustando- a à intensidade da dor e à sensibilidade individual do paciente. Inicialmente deve ser selecionada a menor dose analgésica eficaz (BRASIL, 2015). Nos casos de Síndrome de Guillain-Barré (SGB) o tratamento dos portadores ou suspeitos dessa doença, deve ser monitorizado em unidades de cuidados intensivos pelo risco de evolução de paralisia da musculatura respiratória. As opções terapêuticas para a SGB incluem plasmaferese ou imunoglobulina hiperimune intravenosa: ambas são dispendiosas, mas diminuem o tempo até a recuperação(4) . - Transmissão vertical 1. Durante a gestação (intra uterina); 2. No trabalho de parto (pelo contato com as secreções cérvico- vaginais e sangue materno); 3. Através da amamentação. A contaminação do feto ou do recém-nascido pela mãe pode ser causada por vírus, bactérias, protozoários, autoanticorpos, drogas, medicamentos e hormônios capazes de atravessar as barreiras placentária, do sangue e/ou do leite materno. 4 Ainda que o principal mecanismo de transmissão do ZIKV para humanos seja através do repasto sanguíneo do vetor infectado, foram reportados casos de transmissão intrauterina, sexual via sêmen, e a partir de transfusão sanguínea (Kumar et al., 2016; Sampathkumar e Sanchez, 2016). O vírus também pôde ser isolado do leite materno, urina e saliva, embora a transmissão por meio desses materiais não tenha sido notificada. Os achados do RNA do Zika vírus no líquido amniótico de fetos com microcefalia 40,52,54 e no tecido cerebral de fetos e bebês com microcefalia 55,94,95 , bem como as altas taxas de microcefalia entre bebês nascidos de mães com infecção aguda pelo zika vírus comprovada, 69 fornecem fortes evidências ligando a microcefalia à infecção materna pelo zika vírus. O momento da epidemia de Zika vírus e microcefalia no Brasil 96,97 e na Polinésia Francesa 41indicam que o maior risco de microcefalia é no primeiro trimestre. Em relatos de casos de microcefalia, a infecção materna documentada pelo zika vírus ocorreu com mais frequência entre 7 e 13 semanas de gestação, mas em alguns casos ocorreu até 18 semanas de gestação. Um relatório preliminar do Brasil indicou que anormalidades fetais detectadas por ultrassonografia estavam presentes em 29% das mulheres com infecção pelo vírus Zika durante a gravidez. 69 Perda fetal precoce e morte fetal foram observadas em associação com infecção materna que ocorreu entre 6 e 32 semanas de gestação. 54,69 Anomalias oculares foram relatadas em lactentescom microcefalia no Brasil. 69,98-100 No maior estudo com exames oftalmológicos abrangentes de bebês com microcefalia, anormalidades oculares foram encontradas em 10 de 29 pacientes (35%). 100As anormalidades oculares mais comuns foram manchas pigmentares focais, atrofia coriorretiniana e anormalidades do nervo óptico (hipoplasia e escavação severa do disco óptico). Outras manifestações oculares neste e em outros estudos de caso incluíram perda do reflexo foveal, atrofia macular neurorretiniana, subluxação do cristalino e coloboma da íris. Permanece desconhecido se as manifestações oculares ocorrem após a infecção congênita pelo zika vírus em bebês sem microcefalia. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 5 - Diagnóstico O diagnóstico pode ser realizado em fase aguda (mesmo 10 dias após o início dos sintomas) pela deteção de RNA viral em amostras biológicas (sangue ou urina) utilizando técnicas de RT-PCR. Podem também ser realizados testes serológicos com detecção de IgM e IgG no soro dos doentes,sendo o diagnóstico dificultado neste caso, pelo elevado número de falsos-positivos por reacção cruzada com outras infecções por flavivírus, como o vírus do Dengue (endémico nas mesmas regiões). - Prevenção Assim como acontece com outros flavivírus transmitidos por mosquitos, o tratamento para a infecção não complicada pelo zika vírus concentra-se nos sintomas. Não existe vacina contra o zika vírus; assim, as medidas de prevenção e controle centram-se em evitar picadas de mosquitos, reduzir a transmissão sexual e controlar o mosquito vetor. Métodos de prevenção potencialmente eficazes que se concentram na redução de infecções entre mulheres grávidas incluem evitar viagens desnecessárias a áreas de transmissão contínua do zika vírus, evitar o contato sexual desprotegido com parceiros em risco de infecção pelo zika vírus, 103 e usar repelente de mosquitos, tratamento com permetrina para roupas, 120 mosquiteiros, 121 telas nas janelas, 122.123 e ar condicionado. 124.125O controle mais eficaz do vetor de A. aegypti depende de uma abordagem integrada que envolve a eliminação de criadouros do mosquito A. aegypti , aplicação de larvicidas e aplicação de inseticidas para matar mosquitos adultos. No entanto, cada uma dessas abordagens tem limitações substanciais. As comunidades são frequentemente mobilizadas para reduzir os criadouros de A. aegypti , mas essa estratégia freqüentemente falha, em parte devido à participação inconsistente entre as famílias e à presença de criadouros secretos em ambientes urbanos modernos. 126,127 Os programas de controle da dengue fazem uso extensivo de pulverização de inseticida peridoméstico durante os surtos, mas poucas evidências sustentam sua eficácia como uma única intervenção de controle. 128A aplicação de larvicidas 129 e pulverização residual interna 129.130 foram eficazes em alguns ambientes. Dadas essas limitações, recomenda-se uma abordagem integrada de prevenção e controle de vetores combinada com a detecção oportuna da doença, a comunicação de informações atualizadas e corretas https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 6 e o desenvolvimento de uma resposta rápida que envolva a comunidade. 131 - Papel da Atenção Primária Importante esclarecer, que na gravidez, a presença de infecção exantemática, rash cutâneo ou febre, sem causa aparente não determina, obrigatoriamente, o diagnóstico da microcefalia fetal. Isto não exime que se proceda uma acurada investigação etiológica, devendo a gestante ser classificada de acordo com os parâmetros da classificação de risco pré-natal e notificadas imediatamente, ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde - CIEVS. Profissionais que atuam na atenção básica (UBS/USF/NASF) devem fornecer acolhimento às gestantes e garantir o bom andamento das gestações, bem como, realizar adequada abordagem aos seus familiares, sobretudo quando houver suspeita de Zika e diagnóstico de microcefalia intrauterina e, quando necessário, encaminhar para acompanhamento psicológico. O cuidado à gestante com relato de doença exantemática deve ser realizado seguindo os seguintes passos: I. Acolhimento à gestante; II. Avaliar sinais e sintomas de Arboviroses; III. Realizar a Notificação no Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN e Registro de Eventos em Saúde Pública – RESP; IV. Iniciar o Pré-natal de Risco Habitual com complementação de exames; V. Vinculação à Maternidade, segundo Plano Terapêutico Singular da Gestante. O total de consultas deverá ser de, no mínimo, 6 (seis), com acompanhamento intercalado entre médico e enfermeiro. Sempre que possível, as consultas devem ser realizadas conforme o seguinte cronograma: Até 28ª semana – mensalmente; Da 28ª até a 36ª semana – quinzenalmente; Da 36ª até a 41ª semana – semanalmente. 2. Síndrome da Rubéola Congênita - História Natural O vírus da rubéola é um RNA-vírus pertencente à família Togaviridae, gênero Rubivirus. São descritos pelo menos sete genótipos do vírus da rubéola, pertencentes a duas clades, https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1602113 7 mas todos são classificados como um único sorotipo. O homem é o único hospedeiro natural conhecido. Na década de 1960 a 1970, antes da vacinação universal para as crianças nos países desenvolvidos, o pico de incidência da rubéola endêmica era verificado em crianças de 5 a 9 anos de idade, no final do inverno e início da primavera, que corresponde aos meses de março, abril e maio no hemisfério norte, e setembro, outubro e novembro nas regiões temperadas do hemisfério sul. O mesmo ocorria durante os anos epidêmicos. Há poucos dados sobre a incidência de rubéola, mas informações de inquéritos soroepidemiológicos indicavam que cerca de 10 a 20% das mulheres em idade fértil ainda podiam ser suscetíveis à infecção. Epidemias amplas que acometiam grande quantidade de pessoas eram verificadas a cada 6 a 9 anos. A vacinação modificou a epidemiologia da rubéola. Dados da Organização Pan- Americana de Saúde (OPAS) mostram que, nas Américas, entre 1998 e 2006, os casos confirmados de rubéola diminuíram 98%, de 135.947 para 2.998. Entretanto, em 2007, epidemias foram observadas na Argentina, Brasil e Chile, atingindo especialmente os grupos não vacinados (Figura 28.1). No Brasil, a rubéola é uma doença de notificação compulsória desde 1996. Em 1997, foram notificados cerca de 30 mil casos confirmados de rubéola e, em 2002, observou-se diminuição de 95%, para 1.480 casos. O coeficiente de incidência em mulheres chegou a 6,3 por 100 mil na faixa etária de 20 a 29 anos, em 2001, que foi um ano epidêmico. A queda observada seguiu-se à vacinação em massa das mulheres em idade fértil em 2001 e 2002, além da vacinação das crianças a partir de 1992 (Figura 28.2). Em 2007, uma nova epidemia ocorreu em vários estados brasileiros, mas acometendoprincipalmente homens não vacinados. Foram registrados 8.277 casos, com 68,7% em homens e a faixa etária mais acometida foi entre 20 e 29 anos (52% dos casos). A epidemia alastrou-se rapidamente para quase todos os estados brasileiros, em especial, nos grandes centros urbanos (Figura 28.3). Em 2008, foi realizada uma campanha de vacinação da rubéola em adultos, sendo vacinadas 65,9 milhões de pessoas. Desde 2009 não foram notificados casos de rubéola adquirida no Brasil, sendo os últimos casos notificados em dezembro de 2008. O país 8 alcançou a meta da eliminação da rubéola e da síndrome da rubéola congênita em 2010. No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram um aumento do número de casos de SRC subsequente à epidemia de 2001, com o coeficiente de incidência atingindo 3,3 casos por 100 mil habitantes, muito mais elevado do que aqueles observados nos anos não epidêmicos, ao redor de 0,1 a 0,5 por 100 mil habitantes (Figura 28.5). No Brasil, desde 2010, não houve mais casos notificados de síndrome da rubéola congênita. - Sintomatologia A infecção materna na gravidez pode resultar na reabsorção do embrião, em abortamento espontâneo, no nascimento de um natimorto e na infecção da placenta e do feto levando à SRC. Em algumas situações, o feto pode não estar comprometido e a gestação resultar no nascimento de um bebê normal. As manifestações clínicas da rubéola congênita podem ser divididas em transitórias, permanentes e tardias. Elas podem estar presentes em quase todos os órgãos e tecidos fetais. Deve ser lembrado que, em mais de 50% dos casos, a infecção pode ser silenciosa no recém-nascido e as manifestações surgirão posteriormente. As manifestações transitórias aparecem em recém-nascidos e lactentes, são autolimitadas, melhoram em dias ou semanas e podem estar associadas com as manifestações permanentes. Incluem o baixo peso de nascimento e a prematuridade; o retardo de crescimento intrauterino, que pode estar presente em mais de 50% dos recém-nascidos infectados; exantema; icterícia; hepatoesplenomegalia; trombocitopenia; pneumonite intersticial; miocardite; meningoencefalite; e alterações ósseas. Algumas dessas manifestações estão associadas com o aumento da mortalidade no primeiro ano de vida: prematuridade extrema, lesões cardíacas graves, hepatite rapidamente progressiva, meningoencefalite grave e pneumonia intersticial extensa. Entre as alterações permanentes, destacam-se a surdez; as malformações cardíacas, em que as mais frequentes são a persistência do ducto arterioso e a hipoplasia da artéria pulmonar; as alterações oculares como a catarata congênita e a retinopatia pigmentar (em sal e pimenta), a microcefalia e o retardo do crescimento e do desenvolvimento pós-natal. As malformações cardíacas estão presentes em mais de 50% dos fetos infectados nos dois primeiros meses de gestação. A incidência de surdez é subestimada nos primeiros meses de vida, mas é a 9 manifestação mais comum da SRC e frequentemente bilateral. Entre os problemas oculares, a retinopatia é o mais encontrado. O seguimento em longo prazo de crianças com SRC mostrou que a infecção viral persistente, a reativação viral, a insuficiência vascular e os agravos imunológicos podem levar à progressão das lesões pré-existentes e ao aparecimento de novas lesões, durante a infância, a adolescência e mesmo na idade adulta. Essas manifestações são de início tardio e incluem endocrinopatias, surdez, efeitos vasculares e progressão da doença neurológica. O diabetes melito dependente de insulina atinge cerca de 20% dos pacientes com SRC, na idade adulta. As disfunções da tireoide, como hipertireoidismo, hipotireoidismo e tireoidite, são observadas em 5% dos adultos. Nos olhos, o glaucoma, o ceratocone, a hidropisia da córnea e a neovascularização da retina pioram o prognóstico da visão nas pessoas acometidas. Ainda devem ser mencionados distúrbios do sistema nervoso como o autismo e os problemas vasculares com acometimento das artérias coronárias, renais, cerebrais e periféricas. A panencefalite progressiva de início tardio, semelhante àquela do sarampo, inicia-se, em geral, na segunda década de vida. - Tratamento Não há tratamento específico para a rubéola. A utilização de analgésicos e antitérmicos pode amenizar as manifestações clínicas e dar conforto aos pacientes. Manifestações clínicas decorrentes de complicações graves mas raras da rubéola, como a miocardite, a pericardite e a anemia hemolítica, devem ser tratadas com medidas específicas. - Prevenção A vacina da rubéola está disponível em preparação combinada com o vírus do sarampo (vacina dupla viral), combinada com os vírus da caxumba e do sarampo (vacina tríplice viral) ou ainda combinada com os vírus do sarampo, caxumba e varicela (vacina tetraviral). A vacina contra a rubéola, em qualquer uma de suas apresentações, é bastante imunogênica. Cerca de 95% das crianças com mais de 1 ano, adolescentes e adultos desenvolvem anticorpos após uma única dose da vacina. Mais de 90% dos indivíduos vacinados com uma única dose da vacina ficam protegidos para as manifestações clínicas da doença e viremia, e essa proteção é bastante duradoura, quase sempre permanente. No Brasil, o Programa Nacional de Imunização (Calendário Nacional de 10 Vacinação 2014) preconiza a primeira dose da vacina tríplice viral aos 12 meses de vida. Em razão da possibilidade da presença de anticorpos maternos em crianças menores, com a interferência na imunidade pela vacinação, toda dose administrada em crianças antes de 1 ano de vida deve ser desconsiderada. Uma segunda dose de vacina, a vacina tetraviral, deve ser administrada aos 15 meses de idade nas crianças que já tenham recebido a primeira dose da vacina tríplice viral. Os adolescentes não vacinados devem receber duas doses da vacina tríplice viral. Para os adultos, está recomendada uma dose de vacina tríplice viral. Para os indivíduos aos quais se indicam duas doses da vacina, o intervalo mínimo entre elas é de um mês. Mulheres em idade fértil devem ter sua condição vacinal cuidadosamente avaliada e a vacina deve ser administrada para aquelas ainda não vacinadas. - Transmissão vertical Após a transmissão por via respiratória do vírus da rubéola, há uma replicação viral na nasofaringe e em linfonodos regionais. Cerca de 5 a 7 dias após a infecção, ocorre uma viremia com a disseminação do vírus para todo o organismo. A infecção da placenta e do feto ocorre durante a viremia. O fator que mais influencia o risco de infecção fetal e de malformações congênitas é a idade gestacional na época da infecção materna. Assim, as lesões fetais são raras quando a infecção materna for adquirida após o primeiro trimestre da gravidez. O risco de malformações é de cerca de 90% se a infecção materna ocorrer até 11 semanas de idade gestacional e é de 33% se ocorrer entre 11 e 12 semanas. O risco no primeiro trimestre, como um todo, é de 69%. Já no segundo trimestre, é de 54% entre 13 e 16 semanas e 25% a partir da 16ª semana até o final do 2º trimestre. Após o segundo trimestre, pode ocorrer infecção fetal, e ela é frequente até o final da gravidez, mas o risco de malformações é praticamente zero. Esses dados são baseados no seguimento das crianças norte-americanas acometidas no surto de rubéola da década de 1960. O risco de transmissão intrauterina do vírus da rubéola nas reinfecções é muito baixo. A imunidade produzida pela primeira infecção pelo vírus selvagem da rubéola ou pelo vírus vacinal é duradoura e acredita-se que, se houver 11 reinfeção, a viremia estará ausente ou será muito reduzida. A viremia é necessária para a infecção da placenta e do feto. 3. Sífilis - História Natural A sífilis é mais frequente em adultos sexualmente ativos. A doença não tem predileçãoracial ou de gênero; associa-se a fatores socioeconômicos, condições higiênicas precárias e, principalmente, comportamento sexual de risco. No Brasil, apenas a sífilis congênita é de notificação compulsória, desde 1986. Porém, as informações sobre incidência são limitadas; há subnotificação de casos e falta de padronização de critérios de definição de caso até 1998. O agente etiológico é o Treponema pallidum, bactéria que pode simular várias doenças e processos autoimunes, sendo, por esse motivo, conhecida como “a grande imitadora”. A doença é classificada em primária, secundária, latente e tardia, ou terciária. Em geral, adota-se a classificação como recente, quando tem até um ano de evolução, e tardia, após esse período. - Sintomatologia A doença é classificada em primária, secundária, latente e tardia, ou terciária. Em geral, adota-se a classificação como recente, quando tem até um ano de evolução, e tardia, após esse período. A sífilis é, também, classificada em duas fases: a recente, com duração aproximada de um ano, compreendendo as manifestações primárias e secundárias e o início da latência, e a fase tardia, caracterizada pela latência tardia e pelos quadros clínicos da sífilis terciária. *Sífilis recente O cancro duro, ou sífilis primária, é a lesão inicial da sífilis, que surge cerca de 10 a 90 dias após o período de incubação e caracteriza-se por ulceração indolor, com base rasa e limpa, bordas elevadas e induradas. A presença de linfonodos de maior volume, indolores e com localização unilateral na região inguinal é relativamente frequente. Quando não tratado, o cancro persiste, em média, 1 a 6 semanas, desaparecendo espontaneamente após esse período. O quadro clínico que caracteriza o período secundário surge 4 a 10 semanas depois do início do cancro. Os pacientes podem 12 apresentar mal-estar, febre, mialgia, artralgia, rash generalizado, lesões papulosas, papuloescamosas, queda de pelos e cabelos, lesões mucosas (Essas lesões são extremamente contagiosas e, em geral, divididas em três diferentes tipos clínicos: condilomata lata, ou condiloma plano, placas mucosas e faringite. O condiloma plano é encontrado principalmente na região anogenital; caracteriza- se por pápulas íntegras ou erosadas, isoladas ou confluentes. Essas lesões são com frequência confundidas com verrugas (condiloma) genitais.) e linfadenopatia. Nesse período, mais de 30% dos pacientes apresentam líquido cefalorraquidiano (LCR) com valores anormais, evidenciando acometimento precoce do SNC. Mesmo sem tratamento, as lesões cutâneas e manifestações sistêmicas desaparecem de modo espontâneo e, a partir desse momento, o paciente entra no estágio latente. *Sífilis latente Nesse estágio não ocorrem manifestações clínicas ou alterações radiológicas; somente a sorologia é positiva – os títulos são variáveis, dependendo do tempo de evolução. *Sífilis terciária Podem surgir lesões gomosas, cardiovasculares e/ou neurológicas Antes do advento da penicilina, 23 a 87% dos casos de sífilis progrediam para doença neurológica. Os quadros neurológicos mais importantes são: ■ Meningite sifilítica aguda: ocorre no primeiro ano após a infecção. ■ Neurossífilis parenquimatosa: caracterizada por tabes dorsalis, paralisia geral e atrofia óptica. ■ Paralisia geral: caracterizada por sintomas psiquiátricos e/ou neurológicos. *Sífilis congênita Baixo peso ao nascer, dificuldade respiratória, irritabilidade, choro débil, rinorreia sanguinolenta, linfadenopatia, osteocondrite, hepatoesplenomegalia, anemia, icterícia, trombocitopenia e pseudoparalisia de Parrot. Já a sífilis congênita tardia ocorre depois dos dois anos de idade. Corresponde à sífilis adquirida tardiamente do adulto, 13 apresentando lesões similares às dessa fase, como sifílides nodulares, goma e periostite. ■ Ceratite intersticial: é a manifestação mais comum e mais grave desse estágio. Acomete, geralmente, os dois olhos, causando fotofobia, dor ocular e diminuição da acuidade visual. O tratamento antissifilítico não influencia na evolução desse quadro. ■ Articulação de Clutton: caracteriza-se por sinovite indolor, afetando a articulação dos joelhos. O principal achado radiológico é o aumento do espaço intra-articular. ■ Envolvimento ósseo: verifica-se periostite dos ossos longos, principalmente da tíbia, que se torna aumentada de tamanho e apresenta curvatura anteroposterior (“tíbia em lâmina de sabre”). ■ Surdez, por lesão do oitavo par craniano: achado frequente na maioria dos casos; o acometimento é bilateral. O processo inicia-se com tinitus, vertigem e déficit auditivo que evolui gradualmente para a surdez. ■ Neurossífilis: a principal manifestação é a paralisia geral juvenil, que se inicia entre os seis e 21 anos de idade. - Tratamento *Sífilis primária Administra-se penicilina G benzatina, na dose total de 2.400.000 UI, por via intramuscular, em dose única – faz-se 1.200.000 UI em cada glúteo. Se o paciente for alérgico a penicilina, recomenda-se tetraciclina ou eritromicina, 500 mg por via oral, de 6 em 6 horas, durante 15 dias. Outra alternativa importante para os doentes alérgicos a penicilina é a Ceftriaxona, na dose de 250 mg ou 1 g diário, a cada 2 dias, durante 10 dias. A azitromicina também pode ser utilizada nos casos de alergia a penicilina. Porém, são comumente relatados casos de sífilis resistentes a essa última droga. *Sífilis secundária Penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, por via intramuscular, uma vez por semana, durante duas semanas, na dose total de 4.800.000 UI. A tetraciclina ou a eritromicina, durante 30 dias, é recomendada para pacientes que tenham alergia à penicilina. 14 *Sífilis terciária Penicilina G benzatina 2.400.000 UI, por via intramuscular, uma vez por semana, durante três semanas, na dose total de 7.200.000 UI. *Neurossífilis O tratamento é hospitalar, com penicilina cristalina, 4 milhões de unidades, por via endovenosa, de 4 em 4 horas, durante 15 dias. Nos casos de neurossífilis assintomática recomenda-se tratamento ambulatorial com penicilina G procaína – 600.000 UI, por via intramuscular, em dose única, diária, durante 20 dias. Nos casos de alergia à penicilina utilizam-se: ■ Cloranfenicol: 500 mg, de 6 em 6 horas, por via oral, durante 15 dias. ou: ■ Doxiciclina: 100 mg, 12 em 12 horas, por via oral, durante 15 dias. *Mulheres grávidas O tratamento é o mesmo recomendado para as não grávidas, exceto as tetraciclinas. *Crianças Apresentando sífilis adquirida em: ■ Fase recente: penicilina G benzatina, 50.000 UI/kg, por via intramuscular, em dose única. ■ Fase tardia: 50.000 UI/kg de peso, por via intramuscular. Repete-se a mesma dose depois de três semanas. Se houver alergia à penicilina, administra-se eritromicina, na dose de 50 a 100 mg/kg de peso, durante 15 a 30 dias, se for recente ou tardia. *Sífilis congênita Sintomática O tratamento é hospitalar, com penicilina cristalina, na dose de 50 a 100.000 UI/kg de peso por dia, por via endovenosa. Até a primeira semana de vida, dividir a dose total em duas aplicações diárias. Na segunda semana de vida, divide- -se a dose total em três aplicações diárias. Já na terceira semana, recomenda-se dividir a dose em quatro aplicações diárias. O período mínimo de tratamento da sífilis congênita sintomática é de 10 dias. 15 Neurossífilis Na criança sintomática e/ou com liquor alterado e/ou sorologia positiva, recomenda-se tratamento hospitalar com penicilina cristalina – 50 a 100.000 UI/kg de peso/dia, por via endovenosa, durante 14 dias. Poderá ser feito tratamento ambulatorial com penicilina G procaína, 50.000 UI/kg de peso/ dia, por via intramuscular, em dose única, durante 14 dias. Em todos os casos de sífilis com alergia à penicilina,recomenda-se tentar a dessensibilização ao antibiótico, e os procedimentos para isso podem ser encontrados nos manuais de doenças sexualmente transmissíveis (DST) do Ministério da Saúde. São raros os casos documentados de resistência do treponema à penicilina. - Transmissão vertical A sífilis, também denominada lues, é uma doença infectocontagiosa, com manifestações cutâneas e sistêmicas, evolução crônica e transmissão predominantemente sexual. A transmissão congênita ocorre por via transplacentária ou hematogênica e, com menos frequência, através de transfusões sanguíneas ou inoculação acidental. O homem é o único reservatório conhecido. CARACTERIZAR CLINICAMENTE SD ALCOÓLICA FETAL; O alcoolismo é um problema de abuso de droga que afeta 1% a 2% das mulheres em idade fértil. O consumo de álcool, tanto moderado como alto, durante o início da gravidez, pode levar a alterações do crescimento e da morfogênese do feto; quanto maior a ingestão, mais graves os sinais. Crianças filhos de mães alcoólatras crônicas apresentam um padrão específico de defeitos que inclui deficiência do crescimento pré e pós- natal, retardamento mental e outras anomalias. Microcefalia, fissuras palpebrais curtas, pregas epicânticas, hipoplasia do maxilar, nariz curto, lábio superior delgado, sulcos da palma da mão anormais, anomalias das articulações e doença congênita do coração também estão presentes na maioria das crianças. Este padrão de anomalias - a síndrome do alcoolismo fetal (SAF) - é detectado em uma a duas crianças em 1.000 nascimentos vivos. A incidência de SAF está relacionada com a população estudada. E necessário experiência clínica para fazer um diagnóstico preciso da SAF, pois as anomalias físicas nas crianças afetadas são inespecíficas. Não obstante, o padrão geral das características clínicas presentes é único, 16 mas pode variar de sutil a grave. O abuso do álcool pela mãe é a causa mais comum de retardamento mental. O consumo moderado de álcool (p. ex., 28,5ml a 59ml por dia) pode ocasionar dificuldades comportamentais e de aprendizado. O termo efeitos do alcoolismo fetal foi introduzido depois do fato de muitas crianças expostas ao álcool no útero não apresentarem características disfórmicas externas, mas deficiências no neurodesenvolvimento. O termo preferido para toda a abrangência dos efeitos do álcool no período pré-natal é distúrbio do espectro do álcool fetal. Estima-se que a prevalência deste distúrbio na população em geral possa ser superior a 1%. O período suscetível do desenvolvimento cerebral cobre a maior parte da gestação; por isto, o melhor conselho é abster-se totalmente de álcool durante a gravide. O espectro de alterações fetais ligadas ao álcool ocorre enquanto o feto está se desenvolvendo in útero. Isto significa que se pode tratar como sendo um distúrbio do desenvolvimento. Quando a gestante ingere uma bebida alcoólica as concentrações de álcool no sangue fetal são equivalentes aos níveis maternos uma a duas horas depois da ingestão pela gestante (18). O tempo de exposição do feto ao álcool ingerido pela gestante acha-se prolongado quer pela reduzida capacidade metabólica fetal ou pelo fato de que sua eliminação para o líquido amniótico o torna em verdadeiro reservatório de etanol (19). Durante o período embrionário (da nidação até a 8ª semana de idade gestacional), o álcool atua provocando alteração na divisão, proliferação, migração e diferenciação celular que se traduzem pelo aparecimento de malformações grosseiras. Durante o período fetal (da 9ª até a 14ª semana de idade gestacional) sua ação provoca alterações principalmente no sistema nervoso central (19). Sendo o cérebro um órgão bastante complexo, com vários tipos de células, como células do córtex, do lobo frontal, do cerebelo e ponte, seu comprometimento pode se apresentar de diversas maneiras. Outrossim, são vários os possíveis mecanismos de ação do álcool no sistema nervoso central, incluindo alteração da expressão genética devida a modificações epigenéticas, interferência na migração das células da crista neural, toxicidade celular através das espécies reativas de oxigênio, apoptose neuronal, danos à glia e astrócitos tróficos (células que orientam a migração dos neurônios) interrompendo ou alterando sua migração de modo que esses neurônios não estarão nos seus lugares adequados em fase precoce do 17 desenvolvimento, e ativação inapropriada da microglia (20). Mas talvez o mais importante seja a morte neuronal. Os principais locais onde ocorrem as lesões são: cerebelo (hipoplasia), corpo caloso (alteração da forma, tamanho ou até agenesia), diminuição do volume dos gânglios da base, córtex, hipotálamo, tálamo, hipocampo e área septal, sendo que as primeiras cinco semanas constituem o período de maior risco (19). Essas alterações se traduzem clinicamente como microencefalia e microcefalia (19,20). Por outro lado, o tipo e gravidade dos defeitos congênitos induzidos pela exposição pré-natal ao álcool são largamente dependentes do padrão de exposição, da dose, e do estágio de desenvolvimento do embrião ou do feto no momento da exposição. O recém-nascido com SAF completa apresenta três características básicas: dismorfismos faciais, deficiência de crescimento e comprometimento neurológico. 1 - Os dismorfismos faciais são os seguintes: fissuras palpebrais pequenas, ausência de filtro nasal e borda vermelha do lábio O fenótipo facial resultante da exposição pré-natal ao álcool corresponde às anormalidades cerebrais, de modo que quanto mais acentuada for a dismorfia facial mais intenso será o comprometimento neurológico. Outras malformações faciais são também assinaladas como fronte estreita, hipoplasia hemifacial, hipotelorismo ou hipertelorismo, hipoplasia maxilar e mandibular, prognatismo, ptose palpebral, prega epicantal, nariz pequeno e antevertido, ponte nasal larga e rebaixada, palato em ogiva, aplasia de úvula, hipoplasia de esmalte, dentes pequenos, má oclusão dentária, fenda labial e/ou palatina, micrognatia e orelhas em abano, mal posicionadas e malformadas superior fina. A deficiência de crescimento implica no peso ao nascer abaixo do percentil 10 da curva de crescimento intrauterino, comprimento ao nascer abaixo do 10º. percentil da curva de crescimento e índice de massa corpórea também abaixo do percentil 10 . A identificação do comprometimento neurológico no período neonatal baseia-se principalmente na ocorrência de perímetro cefálico inferior ao percentil 10 e presença de anomalias estruturais do cérebro . Dentre estas, pode-se encontrar hipoplasia até agenesia do corpo caloso que é descrita como uma das anomalias do SNC mais frequentes. 18 Essa ausência leva desde a inexistência de sintomas até quadros de deficiência mental de graus variados, convulsões e déficits motores. Na criança maior verifica-se envolvimento cognitivo, que pode variar desde grave comprometimento intelectual (QI<70) a déficits selecionados, como o déficit de atenção e hiperatividade (presente em 50% a 80% dos casos), déficit de funções executivas, de memória, habilidade visual-motora diminuída e pobre performance acadêmica. São frequentes os problemas no aprendizado de matemática, atrasos na linguagem e motricidade, dificuldades de integração social e comunicação, e risco aumentado de doenças psiquiátricas na vida adulta, problemas com a lei, abuso de álcool e uso de drogas ilícitas. Uma alta taxa de autismo, bem acima daquela esperada, é também observada. A exposição pré-natal ao álcool altera o desenvolvimento do sistema imune e as respostas imunes aos agravos do início da vida extrauterina com consequências para a saúde pelo resto da vida . Outras anomalias congênitas também podem ocorrer como: defeitos cardíacos (transposição de grandes vasos,defeitos septais), problemas renais, alterações oculares, esqueléticas (pé torto), hemangiomas, espina bífida . DESCREVER OS PRINCIPAIS TERATOGÊNICOS E OS SEUS RISCOS PARA A GESTAÇÃO; 19 Drogas As drogas variam consideravelmente em sua teratogenicidade. Alguns teratógenos, como a talidomida, causam uma perturbação grave do desenvolvimento quando administrados durante o período da organogênese de certas partes do embrião (p. ex., a talidomida). Outros teratógenos causam retardo mental e do crescimento e outras anomalias quando usados em quantidades excessivas durante o desenvolvimento (p. ex., álcool). O uso de remédios, prescritos ou não por um médico, durante a gravidez é surpreendentemente alto. Cerca de 40% a 90% das mulheres grávidas consomem pelo menos um remédio durante a gravidez. Vários estudos indicaram que algumas mulheres grávidas tomam, em média, quatro remédios, excluindo os suplementos nutricionais, e cerca de metade destas mulheres os toma durante o primeiro trimestre. Entre as mulheres que fumam e bebem muito, o consumo de remédios também tende a ser mais alto durante o período crítico do desenvolvimento. Apesar disto, menos de 2% das anomalias congênitas são causados por remédios e produtos químicos. Já foi mostrado que somente uns poucos remédios são agentes teratogênicos em humanos. Apesar de somente 7% a 10% das anomalias serem causadas por teratógenos identificados, novos agentes continuam a ser identificados. É melhor as mulheres evitarem qualquer medicação durante o primeiro trimestre da gestação, a menos que haja uma forte razão médica, e, neste caso, somente quando se sabe que esta medicação é razoavelmente segura para o embrião humano. A razão para este cuidado é que, apesar de estudos bem controlados de certas drogas (p. ex., maconha,) não terem demonstrado risco teratogênico para embriões humanos, seu uso prejudica o embrião (diminuição do peso ao nascimento). Tabagismo O tabagismo materno é uma causa bem demonstrada de retardo do crescimento intrauterino (IUGR - intrauterine growth retardatiori). A despeito dos avisos de que fumar cigarros é prejudicial para o feto, algumas mulheres continuam a fumar durante a gravidez. Em grandes fumantes de cigarros (20 ou mais por dia), o parto prematuro é duas vezes mais frequente do que nas mães que não fumam, e seus filhos pesam menos do que o normal. Baixo peso ao nascimento (abaixo de 2.000 g) é o principal prognóstico de morte infantil. Em um estudo de casos controlados, houve um 20 pequeno aumento na incidência de crianças com defeitos conotruncais cardíacos e deficiências dos membros associadas tanto ao tabagismo materno como ao paterno. Além disso, há evidências de que o tabagismo materno pode causar anomalias do trato urinário, bem como problemas comportamentais e crescimento físico diminuído. A nicotina contrai os vasos sanguíneos do útero, causando diminuição do fluxo sanguíneo para o mesmo, reduzindo o suprimento de oxigênio e de nutrientes disponíveis para o embrião/feto a partir do sangue materno presente no espaço interviloso da placenta. A deficiência resultante no embrião prejudica o crescimento celular e pode ter um efeito adverso sobre o desenvolvimento mental. Altos níveis de carhoxiemoglobina, resultante do tabagismo, aparecem no sangue materno e do feto, podendo alterar a capacidade do sangue de transportar oxigênio. Em consequência, a hipóxia fetal (diminuição dos níveis de oxigênio abaixo do normal) crônica pode ocorrer e afetar o crescimento e o desenvolvimento do feto. Tranquilizantes A talidomida é um teratógeno potente. Durante certo tempo, este agente hipnótico foi amplamente usado na Alemanha Ocidental e na Austrália como tranquilizante e sedativo, mas, hoje em dia, é usado por suas propriedades imunossupressoras. A epidemia da talidomida começou em 1959. Foi estimado que quase 12.000 crianças nasceram com defeitos causados por esta droga. Devido ao fato de a talidomida não ser uma droga aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, lá ocorreram relativamente poucas anomalias. A característica típica da síndrome da talidomida é a meromelia - focomelia ou "membros de foca", por exemplo, mas as anomalias variaram desde a amelia (ausência dos membros), passando por estágios intermediários do desenvolvimento (membros rudimentares), até a micromelia (membros anormalmente pequenos e/ou curtos). A talidomida foi introduzida, no final dos anos 1950, como um sedativo. A droga era dada às mulheres grávidas para combater os sintomas do enjoo matinal. Mas o uso durante a gestação restringiu o crescimento dos membros dos bebês, que nasceram com má formação nas pernas e braços. Em torno de 10 mil bebês nasceram com defeitos físicos em todo o mundo até que a droga fosse tirada de circulação em 1962. 21 Agentes antineoplásicos O metotrexato, um antagonista do ácido fólico e um derivado de aminopterina, é um conhecido e potente teratogênico que produz grandes anomalias congênitas. Ele é mais usado como um agente único ou em uma terapia combinada para doenças neoplásicas; entretanto, ele pode ser indicado para paciente com doenças reumáticas graves, incluindo artrite reumatoide. Múltiplas anomalias esqueléticas e outras anomalias congênitas estavam presentes em uma criança nascida de uma mulher que havia tentado terminar a gravidez tomando metotrexato. Antibióticos As tetraciclinas cruzam a membrana placentária e se depositam nos ossos e nos dentes do embrião nos locais de calcificação ativa. Quantidades não maiores que 1 g por dia de tetraciclina, durante o terceiro trimestre da gravidez, podem produzir manchas amarelas dos dentes decíduos e/ou nos dentes permanentes. A terapia com tetraciclina, do quarto ao décimo mês da gravidez, também pode causar defeitos dos dentes (p. ex., hipoplasia do esmalte), descoloração amarela ou marrom dos dentes e diminuição do crescimento dos ossos longos. A calcificação dos dentes permanentes começa ao nascimento e, à exceção dos terceiros molares, termina dos 7 aos 8 anos de idade; portanto, a terapia prolongada com tetraciclina durante a infância pode afetar os dentes permanentes. Foi relatada surdez em filhos de mães tratados com altas doses de estreptomicina e diidroestreptomicina como agentes antituberculose. Foram relatados mais de 30 casos de deficiência auditiva e de danos ao oitavo nervo craniano em crianças expostas a derivados da estreptomicina no útero. A penicilina tem sido amplamente utilizada durante a gravidez, parecendo não causar danos ao embrião e ao feto. Anticoagulantes Todos os anticoagulantes, com exceção da heparina, atravessam a membrana placentária e podem causar hemorragia no embrião ou ao feto. A varfarina e outros derivados da cumarina são antagonistas da vitamina K. A varfarina é usada no tratamento de doença tromboembolítica e em pacientes com válvulas cardíacas artificiais. A varfarina é indubitavelmente um teratógeno. Há relatos de crianças com hipoplasia da cartilagem nasal, epífises pontilhadas e vários defeitos do SNC, cujas mães tomaram este anticoagulante 22 durante o período crítico do desenvolvimento do embrião. O período de maior sensibilidade fica entre 6 e 12 semanas após a fertilização - 8 a 14 semanas após o último período menstrual normal. A exposição durante o segundo e o terceiro trimestres pode resultar em retardamento mental, atrofia óptica e microcefalia. A heparina não é um teratógeno. Além disto, ela não cruza a membrana placentária. Citomegalovírus A infecção pelo citomegalovírus (CMV) é a infecção viral mais comum do feto humano ocorrendo em aproximadamente 1% dos recém-natos. Como esta infecção parece ser fatal quando afeta o embrião, acredita-se que a maioria destas gestações termina em abortoespontâneo quando a infecção ocorre durante o primeiro trimestre. Bebês recémnascidos infectados durante o início do período fetal geralmente não apresentam sinais clínicos e somente são identificados em programas de levantamento epidemiológico. Em fase posterior da gravidez, a infecção por CMV pode resultar em IUGR (Retardo de crescimento intrauterino), microftalmia, coriorretinite, cegueira, microcefalia, calcificação cerebral, retardamento mental, surdez, paralisia cerebral e hepatoesplenomegalia. De particular interesse são os casos assintomáticos de infecção pelo CMV, frequentemente associados a distúrbios de audição, neurológicos e neurocomportamentais na infância. Herpes Simples (HSV) Foi relatado que a infecção materna por HSV, no início da gravidez, triplica a frequência de abortos, e a infecção após a 20ª semana está associada a uma maior frequência de prematuros. Geralmente, a infecção do feto por HSV ocorre em período muito tardio da gravidez, provavelmente com mais frequência durante o parto. As anormalidades congênitas observadas em recém-nascidos incluem lesões cutâneas e, em alguns casos, microcefalia, microftalmia, espasticidade, displasia da retina e retardamento mental. HIV Este retrovírus causa a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Há informações conflitantes quanto aos efeitos sobre o feto causados pela infecção no útero com o HIV. Algumas das anomalias congênitas relatadas são falta de crescimento, microcefalia e características craniofaciais específicas. A maioria dos casos de transmissão do vírus da 23 mãe para o filho provavelmente ocorre durante o parto. A amamentação aumenta o risco de transmissão do vírus para o recém-nascido. Prevenir a transmissão do vírus para as mulheres e seus filhos é de importância óbvia, por causa dos efeitos potenciais sobre o feto e as crianças. Por fatores mecânicos O líquido amniótico absorve pressões mecânicas, assim protegendo o embrião da maioria dos traumas externos. Uma redução significativa na quantidade de líquido amniótico (oligoidrâmnio) pode levar a uma deformação dos membros induzida mecanicamente, como, por exemplo, hiperextensão do joelho. O deslocamento congênito do quadril e o pé torto podem ser causados por forças mecânicas, particularmente em um útero malformado. Tais deformações podem ser causadas por qualquer fator que restrinja a mobilidade do feto, causando, desta maneira, uma compressão prolongada e uma postura anormal. Amputações intra-uterinas e outras anomalias causadas por constrição localizada durante o crescimento do feto podem resultar de faixas amnióticas - anéis formados em consequência da ruptura do âmnio no início da gravidez. Agentes Psicológicos As tarefas ocupacionais podem resultar em um estresse a qual afeta o psicológico e a saúde mental da grávida. Os estudos avaliados, indicam que a frequência de partos prematuros e o retardo de crescimento aumenta à medida que diminui o controle e aumenta a demanda. Relatam, também, maior risco para abortamentos, malformações e mortalidade no primeiro ano de vida. Deve -se considerar o trabalho de executivas, advogadas, médicas, publicitárias e administradoras, além de outras atividades com alta carga de estresse e pressão psicológica, como de risco para parto prematuro e baixo peso ao nascer. Por outro lado, é evidente que a grávida desempenha as atividades profissionais com a mesma eficiência de quando não grávida. No entanto, para avaliação do impacto psicológico, é necessária uma análise individual, pois vários fatores entram em jogo, devendo ser considerada a motivação pessoal para o trabalho, as características da atividade, os componentes emocionais acumulados durante a vida, os chamados eventos estressantes de vida e os conteúdos próprios da gravidez. Diante das dificuldades encontradas no ambiente de trabalho, a gestante pode apresentar um 24 sentimento de inadequação, comprometendo o cumprimento satisfatório de atividades antes exercidas com facilidade. Entre os aspectos emocionais da gravidez, destaca -se a ansiedade, como sentimento dominante e de evolução progressiva com o avançar da gestação, agravada por qualquer condição estressante externa, o que poderá ocasionar alterações psíquicas ou somáticas. EXPLICAR AS FORMAS DE ATUAÇÃO DOS AGENTES CAUSADORES DE MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS; Ao se considerar a possível teratogenicidade de um agente, como uma droga ou um composto químico, três princípios importantes devem ser considerados: • Os períodos críticos do desenvolvimento. • A dosagem da droga ou composto químico. • O genótipo (constituição genética) do embrião. O estágio do desenvolvimento do embrião durante o qual um agente, tal como uma droga ou vírus, está presente, determina a susceptibilidade a um teratógeno (Fig. 20-15). O período mais crítico do desenvolvimento é quando a divisão e a diferenciação celular e a morfogênese estão em seu ponto máximo. A Tabela 20-7 indica as freqüências relativas de anomalias de certos órgãos. O período mais crítico do desenvolvimento do cérebro vai de 3 a 16 semanas, mas seu desenvolvimento pode ser perturbado depois deste período, pois o cérebro está em diferenciação e desenvolvimento rápido ao nascimento e continua a fazê-lo durante os 2 primeiros anos de vida. Os teratógenos podem produzir retardo mental durante os períodos embrionário e fetal. O desenvolvimento dos dentes continua muito tempo após o nascimento (Capítulo 19); portanto, o desenvolvimento dos dentes permanentes pode ser perturbado por tetraciclinas a partir das 18 semanas (pré-natal) até os 16 anos. O sistema esquelético tem um período crítico de desenvolvimento prolongado, que se estende até a infância; assim, o crescimento dos tecidos esqueléticos constitui uma boa medida do crescimento geral. Perturbações ambientais durante as duas primeiras semanas após a fertilização podem interferir na clivagem do zigoto e na implantação do blastocisto, e/ou causar morte precoce e aborto espontâneo do embrião; entretanto, não há indicações de que causem anomalias congênitas em embriões humanos 25 (Fig. 20-15). Os teratógenos em ação durante as 2 primeiras semanas matam o embrião ou seus efeitos perturbadores são compensados pelas poderosas propriedades reguladoras do embrião inicial. A maior parte do desenvolvimento durante as primeiras 2 semanas envolve a formação de estruturas extra- embrionárias, como o âmnio, o saco vitelino e o saco coriônico (Capítulo 3). O desenvolvimento do embrião é mais facilmente perturbado durante a formação dos tecidos e órgãos (Figs. 20- 15 e 20-16). Durante este período organogenético (Capítulo 5), os agentes teratogênicos podem induzir grandes anomalias congênitas. Quando presentes durante o período embrionário, os microrganismos freqüentemente matam o embrião. É provável que defeitos fisiológicos, como pequenas anomalias morfológicas da orelha externa e distúrbios funcionais, como retardamento mental, por exemplo, resultem da perturbação do desenvolvimento durante o período fetal. Sabe-se que alguns microrganismos, o Toxoplasma gondii, por exemplo, causam anomalias congênitas graves, particularmente no cérebro e nos olhos, quando infectam o feto (Figs. 20-22 e 20- 23; Tabela 20-6). Cada parte, tecido e órgão de um embrião tem um período crítico durante o qual seu desenvolvimento pode ser perturbado (Fig. 20-15). O tipo de anomalia congênita produzida depende de quais partes, tecidos e órgãos são mais suscetíveis no momento da ação do teratógeno. Os seguintes exemplos mostram que teratógenos podem afetar diferentes sistemas de órgãos que estão em desenvolvimento simultâneo: • Altos níveis de radiação produzem anomalias do SNC (cérebro e medula espinhal) e dos olhos. • 0 vírus da rubéola causa defeitos dos olhos(glaucoma e catarata), surdez e anomalias cardíacas. • A talidomida induz defeitos dos membros e várias outras anomalias. No início do período crítico do desenvolvimento dos membros, ela causa defeitos graves, como a meromelia - ausência de parte dos membros superiores e/o u inferiores (Fig. 20-20). Mais tarde, no período sensível, a talidomida causa defeitos discretos a moderados dos membros, como, por exemplo, hipoplasia do rádio e da ulna. Não há evidências clínicas de que a talidomida seja capaz de lesar o embrião quando administrada depois do período crítico do desenvolvimento. Cronologias do desenvolvimento embriológico, como mostrado na Figura 20-15, são úteis quando se analisa a causa dos defeitos congênitos humanos; entretanto, é errôneo presumir que as anomalias sempre resultam de um único evento ocorrido durante o período 26 crítico, ou que, usando estas tabelas, seja possível determinar o dia no qual a anomalia foi produzida. Tudo o que se pode afirmar é que a perturbação do desenvolvimento pelo teratógeno tem que ocorrer antes do término do período crítico do tecido, parte ou órgão envolvido. O período crítico do desenvolvimento dos membros, por exemplo, é de 24 a 36 dias após a fertilização. Dosagem de Droga ou do Composto Químico Pesquisas com animais mostraram que há uma relação dose- resposta para os teratógenos; entretanto, a dose usada em animais para produzir anomalias é freqüentemente muito maior do que aquelas às quais os seres humanos estão expostos. Conseqüentemente, os estudos com animais não se aplicam diretamente à gravidez do ser humano . Para uma droga ser considerada um teratógeno humano é necessário observar a existência de uma relação dose-resposta; isto é, quanto maior a exposição durante a gravidez, mais grave é o efeito fenotípico. Genótipo (Constituição Genética) do Embrião Há numerosos exemplos em animais experimentais e vários casos suspeitos em seres humanos que demonstram existir diferenças genéticas na resposta a um teratógeno. A fenitoína, por exemplo, é um teratógeno humano bem conhecido (Tabela 20-6). Cinco por cento a 10% dos embriões expostos a esta medicação anticonvulsivante apresentam a síndrome da hidantoína fetal (Fig. 20-19). Entretanto, cerca de um terço dos embriões expostos tem somente algumas anomalias congênitas, e mais da metade dos embriões não são afetados. Parece, portanto, que o genótipo do embrião determina se um agente teratogênico perturbará seu desenvolvimento. Quando se trata de causas conhecidas para um defeito congênito, a genética ocupa um lugar de destaque. As alterações genéticas que levam a síndromes de malformações múltiplas podem ser vistas como um continuum, desde mutações em um único gene, passando por deleções de um pequeno número de genes ligados (como as síndromes de gene contíguos) até as aneuploidias cromossômicas parciais ou de cromossomos inteiros. Nas três últimas situações, a mudança genética envolve o aumento ou diminuição da dosagem de 27 muitos genes simultaneamente, sendo os genes remanescentes estrutural e funcionalmente normais. Entretanto, no primeiro caso (alterações monogênicas que seguem um padrão de herança mendeliano), os genes responsáveis podem estar alterados de diversas maneiras: afetando o nível, a especificidade e a regulação de suas expressões e da expressão de seus produtos gênicos. Malformações congênitas isoladas também podem ser resultado de causas genéticas e não genéticas. Entretanto, é menos provável que resultem de anormalidades cromossômicas e deleções de genes contíguos do que as malformações múltiplas. Além disso, há evidências de que muitas malformações isoladas são multifatoriais, nas quais um ou muitos fatores de suscetibilidade genética se combinam com eventos aleatórios do desenvolvimento e com fatores ambientais para gerar o defeito congênito [6]. Com relação a fatores de risco envolvidos nas causas genéticas de malformações, está bem estabelecido que a idade materna avançada seja um fator de risco para o surgimento de aneuploidias, visto que aumenta as chances de erros da divisão meiótica envolvida na produção dos gametas femininos com o passar da idade. Ainda vale lembrar que a presença de consanguinidade entre os pais é um fator relevante, pois as doenças autossômicas recessivas têm ocorrência maior quando há taxas elevadas de consanguinidade na população. - Fatores biológicos Os efeitos teratogênicos desses agentes não só podem estar associados com a inibição da mitose, efeitos citotóxicos ou um evento vascular disruptivo do embrião ou feto, como também ao processo de reparo que pode causar calcificação ou cicatrização [13]. Os microrganismos que podem causar malformações nos embriões ou fetos são capazes de atravessar a membrana placentária penetrando, assim, na circulação sanguínea do concepto em desenvolvimento. - Fatores físicos e mecânicos Os fatores físicos são correlacionados com fenômenos físicos que podem induzir a anomalias congênitas e os fatores mecânicos são resultantes de pressões intrauterina anormais impostas ao feto que podem levar a deformações. A radiação ionizante (Raio X) é uma classe de radiação caracterizada por ondas de alta frequência, usada em diagnósticos de imagem e 28 em terapias. Essas ondas eletromagnéticas possuem energia suficiente para provocar ionização e consequentemente danos teciduais - Fatores químicos Devido à grande diversidade de vias embriológicas, receptores de membrana e mecanismos de ação destes agentes químicos, seus efeitos e os órgãos afetados variam significativamente. Existe um consenso de que o momento mais crítico para a teratogênese é o que corresponde ao período de organogênese (quarta a oitava semana de desenvolvimento embriológico); porém, ao longo de toda a gestação o concepto pode ser afetado. RECONHECER AS PRINCIPAIS CAUSAS DE RETARDO DO CRESCIMENTO UTERINO; A causa mais comum de RCIU (80% a 90% dos casos), passível de ação preventiva e terapêutica no futuro, é o déficit de passagem de nutrientes e oxigênio através da placenta para o feto19. Portanto, o transporte e o metabolismo placentário são fundamentais para a nutrição e oxigenação do feto, atuando a placenta como um órgão limite entre as condições maternas e as necessidades fetais. Existem múltiplos fatores etiológicos de restrição de crescimento fetal, envolvendo mecanismos complexos, que dificultam a compreensão da sua fisiopatologia. Dentre eles destacam-se os maternos, fetais e placentários. Fatores maternos: idade, raça, altura, baixo nível socioeconômico e cultural, má adaptação cardiovascular, transtornos do estado nutricional, baixo peso pré-gestacional ou ganho insuficiente de peso durante a gestação, altitude elevada, paridade, duração da gestação, tabagismo, abuso de álcool, uso de drogas ilícitas ou teratogênicas, cirurgia bariátrica, hemoglobinopatias, anemias, doenças hipertensivas, diabetes complicado por vasculopatias, lúpus eritematoso sistêmico, doenças renais crônicas, trombofilias, cardiopatias cianóticas, doenças intersticiais pulmonares e irradiação. Fatores fetais: o crescimento fetal é determinado primariamente pelo potencial genético, que pode ser bloqueado, modificado ou desviado por um conjunto de fatores que atuam sobre o metabolismo fetal e o processo organogenético, reduzindo a taxa de utilização de nutrientes 29 por unidade de peso e diminuindo permanentemente o número de células. Isso ocorre nas condições genéticas como as síndromes de Down, de Edwards, de Patau, de Turner e nas triploidias, além das situações de mosaicismos placentários, doenças gênicas como a síndrome de Cornelia de Lange. Também estão relacionadas entre as causas fetais as infecções como toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes, sífilise malária. Fatores placentários: a insuficiência vascular uteroplacentária diminui o fluxo e determina o RCIU por mecanismos como redução da pressão de perfusão, aumento da resistência vascular placentária e diminuição da superfície vascular de trocas. Pode ocorrer em condições como artéria umbilical única, anormalidade uterina (útero bicorno, septado), anormalidade do sítio de implantação (placenta prévia), placenta circunvalada, inserção velamentosa de cordão umbilical, tumores (corioangioma), síndrome de transfusão fetal, mosaico placentário e infartos da placenta. Há dois tipos de CIUR: - Tipo I, em que o concepto apresenta CIUR simétrico, proporcionado, cujas causas são intrínsecas (anomalias congênitas) e extrínsecas (infecções pré-natais e casos de desnutrição materna intensa, desde o início da gestação). Constitui cerca de 20,0% dos casos de CIUR e é, sem dúvida, de pior prognóstico, embora alguns mais favoráveis se relacionem a fatores constitucionais. O tratamento intra- útero, na maioria das vezes, como se pode depreender, é praticamente inexistente. Em geral, para o tipo I, simétrico, harmônico, não há tratamento. Constitui, portanto, o grupo de pior prognóstico, com mortalidade perinatal elevada, apresentando, em caso de sobrevida, seqüelas neurológicas de maior gravidade que as dos assimétricos. - Tipo II, representado pelo concepto assimétrico, desproporcionado, cujo perímetro cefálico é normal ou pouco menor que o de infantes hígidos, enquanto que a medida da circunferência abdominal é nitidamente abaixo do esperado. Neste grupo, o fator determinante do CIUR intervém tardiamente e mecanismos de adaptação da circulação fetal são acionados no sentido de poupar órgãos mais nobres, como o cérebro e o miocárdio, em detrimento das vísceras, da musculatura esquelética e do tecido celular subcutâneo. O tipo II engloba 80,0% dos casos de CIUR. A hipertensão 30 arterial e a desnutrição materna, no final da gestação, são causas responsáveis pelo CIUR assimétrico, seguidas pela gemelidade e por entidades maternas ocasionadoras de diminuição da oxigenção do espaço interviloso, como as cardiopatias cianóticas, as colagenoses, as anemias severas, o diabetes melito grave, além das grandes altitudes. Nos casos tipo II, assimétrico, desarmônico, a conduta expectante restringir-se-á às condições materno-fetais e de maturidade. Em situações maternas adversas (hipertensão não controlável, hemorragia grave) e fetais (anoxia), e também na vigência de maturidade do concepto, é impositiva a antecipção do parto. Quanto à etiologia, das causas conhecidas, sem dúvida, a hipertensão arterial materna destaca-se como a principal, embora ainda existam grandes dificuldades em se determinar os diferentes tipos de hipertensão durante o ciclo gravídico- puerperal. Neste sentido, Lin et al.6 destacaram que é a hipertensão arterial persistente, independente de sua etiologia, a responsável pelo prejuízo ao crescimento fetal. Acrescente-se, contudo, que a etiologia da hipertensão relaciona-se com o prognóstico perinatal. Assim, a sobreposição da moléstia hipertensiva específica da gravidez à hipertensão arterial de base é que origina os distúrbios mais graves ao crescimento fetal. Com relação ao estado nutricional, é bem conhecida sua influência sobre o peso de nascimento. O concepto desnutrido é depletado tanto de nutrientes essenciais, como de alguns específicos, particularmente o ferro e o ácido fólico7. Existem várias outras patologias maternas que podem interferir no crescimento fetal: as cardiopatias gravemente descompensadas ou cianóticas; o diabetes melito com vasculopatia universal ou na concomitância de malformações; as doenças renais crônicas, as auto-imunes (principalmente o lúpus eritematoso sistêmico) e as anemias severas. Também figuram como causa de CIUR as anomalias de placenta e anexos, além de drogas de uso terapêutico, como os anticonvulsivantes. Os defeitos congênitos também determinam crescimento intra-uterino inadequado, destacando-se as cromossomopatias, os defeitos do tubo neural, alguns tipos de anomalias cardíacas e várias síndromes dismórficas8. Classicamente, as infecções pré- natais são citadas como responsáveis por cerca de 10% dos casos de CIUR, sendo as principais a toxoplasmose, a rubéola e a citomegalia9 . Além das causas enumeradas, é mister ressaltar que, em 30% a 40% dos casos, a etiologia permanece indefinida. 31 COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DO ACOLHIMENTO E ORIENTAÇÃO AS GESTANTES E PUÉRPERAS, PRINCIPALMENTE, AS MENORES DE IDADE; & IDENTIFICAR A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL NA PREVENÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE FATORES DE RISCO PARA MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS E PREMATURIDADE (CARACTERIZAR OS EXAMES DE TRIAGEM E DIAGNOSTICO PRECOCE) Exames obrigatórios e exames especiais Sangue Determinar o tipo sanguíneo da gestante (importante para outras providências, caso o fator Rh seja negativo), dosar hormônios e anticorpos da tireoide, detectar possíveis infecções (como sífilis, HIV, hepatites A, B e C), verificar se a gestante não tem anemia, dosar os níveis de açúcar no sangue e definir se a paciente corre ou não o risco de contrair doenças como rubéola, citomegalovirose e toxoplasmose. Também é feita uma pesquisa de trombofilias congênitas, essencial para prevenir o trabalho de parto prematuro e alertar para doenças hipertensivas da gestação, como pré-eclâmpsia e help síndrome, que podem causar óbito fetal. A critério do médico, o exame de sangue pode ser repetido várias vezes ao longo da gestação, mas deve ser solicitado, no mínimo, uma vez a cada trimestre. Urina Detectar uma eventual infecção urinária e a presença de proteínas que podem indicar tendência a desenvolver pré- eclâmpsia. Útil também no acompanhamento de gestantes diabéticas. Fezes Investigar a presença de parasitas no intestino que podem provocar, entre outros problemas, anemia. Entre 5ª e a 8ª semana de gestação Ultrassonografia intravaginal Visualizar o embrião e o saco gestacional, calcular o tempo de gravidez e a data provável do parto. Normalmente, se realizado após a sexta semana, possibilita ainda ouvir os batimentos cardíacos do embrião. 32 Entre a 11ª e a 14ª semana de gestação Ultrassonografia da transluscência nucal O principal objetivo desse exame é a medicação da espessura de um fluido entre a pela e a gordura da nuca do bebê. O resultado aponta uma menor ou maior chance de haver anomalias, sendo a principal delas a Síndrome de Down. Nesse mesmo exame, verifica-se uma eventual ausência do osso nasal, que pode ser também um indício de alteração cromossômica. Outras finalidades são: medir o bebê, atestar sua vitalidade pela ausculta dos batimentos cardíacos e observar o ducto venoso, um vaso que pode dar aos médicos sinais de possíveis problemas cardíacos. Se o exame apontar a possibilidade de alguma alteração cromossômica no feto, o médico deverá solicitar exames complementares. Entre a 20ª e a 22ª semana de gestação Ultrassonografia morfológica Além de medir o feto e estimar seu peso, esse exame analisa os órgãos do bebê, que, a essa altura, já se encontram formados. Na maioria dos casos, é possível visualizar o sexo da criança. Se o aparelho usado for de tecnologia 3D ou 4D, consegue-se até mesmo observar seus traços faciais. Entre a 24ª e a 28ª semana de gestação Triagem de diabetes gestacional Verificar se a paciente desenvolveu diabetes gestacional, uma doença que requer cuidados especiais e possível antecipação do parto. O exame é conhecido como curva de tolerância glicêmica ou teste oral de tolerância à glicose. No laboratório, a gestante bebe um copo de glicose e depois é submetida a algumas coletas de sangue para análise. Entre a 34ª e a 37ª semana de gestação Triagem de estreptococobeta-hemolítico Trata-se da análise laboratorial de uma amostra de secreção vaginal e outra do reto para rastreio de uma eventual infecção causada pela bactéria estreptococo do grupo B, que pode ser passada para o bebê durante o nascimento e provocar até a morte do recém-nascido. O tratamento, para os casos positivos, consiste na administração de antibióticos para a gestante no dia do parto. 33 Ultrassonografia do terceiro semestre Esse exame é importante para acompanhar o tamanho, o peso e a posição do feto. Ele também avalia a maturidade da placenta e a quantidade de líquido aminiótico. Pode ser realizado com tecnologia Doppler, um recurso que facilita a detecção de problemas na gestação. O número de ultrassonografias no último trimestre de gravidez depende das necessidades de cada paciente e da conduta particular do médico, portanto, esse exame poderá ocorrer mais de uma vez. Exames especiais Alteração no resultado de um dos exames comuns do pré-natal (citados acima), gravidez após os 35 anos, gestantes com doenças prévias (como lúpus, câncer, doenças do colágeno etc.), grávidas com diabetes ou hipertensão, histórico de doenças hereditárias na família e gestação de múltiplos. Essas são algumas das situações consideradas de risco pelos médicos e que levam à necessidade de um pré-natal ainda mais cuidadoso tanto em relação à frequência de consultas quanto à realização de exames específicos. Conheça alguns dos testes adicionais, que podem ser solicitados, se a paciente necessitar de uma assistência intensiva: Teste de Coombs Quando o fator Rh da mãe é negativo e o do pai positivo, a mulher deve solicitar esse teste, feito por exame de sangue. Ele revela se houve contato entre o sangue materno e o do bebê para que seja iniciado o tratamento antes que o feto se prejudique. Isso porque a incompatibilidade sanguínea pode levar à eritroblastose fetal, quando o corpo da mãe destrói as hemoglobinas do bebê e pode levar à morte, Realizado mensalmente, em jejum de três horas. Biópsia do vilo corial (11ª a 14ª semana): Solicitada normalmente quando existe a suspeita de alterações cromossômicas no feto. A dúvida pode surgir, por exemplo, após o exame de ultrassonografia de translucência nucal. O procedimento consiste na análise de uma amostra da placenta, coletada por uma agulha, que é inserida através do abdômen da gestante. O exame apresenta um risco pequeno de provocar aborto. 34 Amniocentese (a partir da 13ª semana): Semelhante à biópsia do vilo corial, também objetiva a constatação de anormalidades genéticas no feto. Nesse exame, porém, a amostra analisada é do líquido amniótico, que envolve o bebê. Assim como no exame anterior, existe o perigo de causar um aborto. Ultrassonografia transvaginal (a partir da 12ª semana): Indicada quando a gestação tem alto risco de prematuridade, como no caso de gêmeos, tem como finalidade checar as condições do colo do útero. Se houver probabilidade de ele se romper, o que pode levar ao parto prematuro, o médico avalia a possibilidade de realizar uma cerclagem uterina (cirurgia que costura o colo do útero para reforçar seu fechamento). Fibronectina fetal (18ª à 24ª): É uma análise da secreção vaginal para avaliar a chance de nascimento prematuro. Realizada em mulheres de alto risco para parto prematuro, como as que tiveram o problema em gestação anterior ou apresentam o encurtamento do colo uterino. Ecocardiografia fetal (a partir da 28ª semana): Com um aparelho de ultrassonografia, observa-se detalhadamente o funcionamento do coração do bebê. Esse exame vem sendo cada vez mais adotado pelos médicos como uma rotina, dentro do pré-natal, mesmo para pacientes de baixo risco. Entretanto, muitos obstetras ainda o requisitam apenas para situações específicas, em que a probabilidade de anomalias cardíacas no feto é maior. Alguns desses casos ocorrem se a mãe tem alguma malformação congênita do coração ou quando é constatada uma alteração cromossômica no feto. Perfil biofísico fetal (após a 28ª semana) Realizado por aparelho de ultrassom, esse exame é solicitado quando existe a suspeita de o desenvolvimento do bebê estar comprometido. Indicado nas gestações de alto risco, ele avalia movimentos respiratórios, movimentos dos membros, tônus 35 muscular, reatividade da frequência cardíaca e volume do líquido amniótico.
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