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CONCEITO • Infecções/inflamações das leptomeninges (pia-máter e aracnoide) e do espaço subaracnóideo (local onde corre o líquor) EPIDEMIOLOGIA • Os maiores causadores de meningites virais são os enterovírus, que têm potencial de causar epidemias • A maior letalidade entre as meningites bacterianas é da meningite pneumocócica • Alta letalidade nos países do 3º mundo • 5 a 10% em países em desenvolvimento • Sequelas → 10 a 20% (retardo mental, surdez ou epilepsia) • Brasil: N. meningitidis (meningite meningocócica) → S. pneumoniae → H. influenzae (nesta ordem) o Diminuição da incidência de H. influenzae com a vacinação • Entre 6 anos e 50 anos de idade, o primeiro agente etiológico é a N. meningitides e o segundo é o S. pneumoniae. • Transmissão pode ser de pessoa para pessoa por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções da nasofaringe ou ainda por contato direto com as secreções do paciente MENINGITES BACTERIANAS NEISSERIA MENINGITIDIS • Principal bactéria • Gram NEGATIVO • Distribuição mundial e potencial de ocasionar epidemias • Acomete todas as faixas etárias → com maior incidência em menores de 5 anos (lactentes 3 a 12 meses) • No Brasil: o Décadas de 70 e 80 → sorogrupos A e C e, posteriormente, ao B o A partir da década de 90, houve uma diminuição proporcional do sorogrupo B e aumento progressivo do sorogrupo C o Desde então, surtos isolados do sorogrupo C têm sido identificados e controlados no país → vacinação das crianças para este sorogrupo HAEMOPHILUS INFLUENZAE • Tipo B (Hib) • Até 1999 → era a 2ª causa de meningite bacteriana, responsável por até 95% das doenças invasivas (meningite, septicemia, pneumonia, epiglotite, celulite, artrite séptica, osteomielite e pericardite) • A partir de 2000 → introdução da vacina conjugada contra Hib → queda de 90% da incidência → conseguindo reduzir inclusive a mortalidade infantil STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE • Atualmente é a 2ª causa de meningites bacterianas, desde vacina Hib • Gram POSITIVO • Pode ocorrer em qualquer idade → sendo mais frequentes em menores de 5 anos • Letalidade mais elevada, quando comparada a N. meningitidis e Hib • No Brasil, entre os anos de 2001 e 2006, o coeficiente médio de letalidade foi de 30%, enquanto que o provocado por N. meningitidis e Hib foram 19,8 e 17,6%, respectivamente MENINGITES VIRAIS • Distribuição universal e potencial de ocasionar epidemias, principalmente Enterovírus • Sendo muito importante colher a história clínica → mais arrastada • O aumento de casos pode estar relacionado a epidemias de varicela, sarampo, caxumba e a eventos adversos pós-vacinais (reação inflamatória) MODO DE TRANSMISSÃO • Bacteriana → de pessoa a pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções da nasofaringe, ou contato direto com as secreções respiratórias do paciente • Enterovírus → fecal-oral ROTAS DE INFECÇÃO (PROVA) • Acesso direto o Em fraturas de crânio o Defeitos congênitos do tubo neural o Iatrogênicos, neurocirurgias o Principalmente por S. aureus e Streptococcus • Por contiguidade → otite, mastoidite ou sinusite (infecções de vias aéreas superiores) o Principalmente por bactérias gram positivas, como S. pneumoniae • Por via hematogênica → pode fazer em qualquer parte do corpo, pois a bactéria ganhou a corrente sanguínea. • Através de derivações liquóricas AGENTES ETIOLÓGICOS • A Listeria monocytogenes é a uma bactéria importante causadora de meningite nos extremos de idade HAEMOPHILUS INFLUENZAE • Vacinação (Hib) → reduz em 90% • Mortalidade → 3 a 6% • Germe capsulado → por isso, quando paciente esplenectomizado precisa ser revacinado NEISSERIA MENINGITIDIS • Maior causa de meningite em crianças e adultos jovens • Mortalidade → 3 a 13% • Sorogrupos → A, B, C, X, Y e W135 • Meningococcemia (difere da meningite meningocócica, tendo sintomas de pele): rash em extremidades → macular e eritematoso → petéquias → púrpura o Petéquias aparecem durante exame físico • No Ceará circula sorogrupo C Quadro para a VIDA e para a? PROVA STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE • Mais de 90 sorotipos → 18 correspondem à 82% das meningites • Foco → pneumonia, otite, mastoidite, sinusite, endocardite • Infecções sérias → esplenectomizados, mieloma múltiplo, imunossupressão, alcoolismo, desnutrição, IRC, cirrose, câncer, DM • Criança com mais de 1 episódio → screening para deficiências congênitas de imunoglobulinas, fístulas liquóricas (fratura basilar) LISTERIA MONOCYTOGENES • Mortalidade de 15 a 29% • Prevalência maior em extremos de idade (recém nascidos e idosos), imunocomprometidos, alcoólatras, CA • Transmissão → parto e TGI • Tendência a convulsão precoce de déficit focal, rombencefalite STREPTOCOCCUS AGALATIAE • Streptococcus do grupo B • Maior causa de meningite em neonatos (pode colonizar a via vaginal da mulher) • Mortalidade → 7 a 27% BACILOS GRAM NEGATIVOS • Klebsiela, E. coli, Serratia marcescens, Pseudomonas aeruginosa, Salmonella • TCE, pós-neurocirurgia, neonatos, idosos, imunocomprometidos, sepse por gram negativos, Strongyloidiase disseminada • No TCE, se tiver um ambiente sujo (ex: acidente de carro), grandes chances de presenças de bactérias (gram negativos e positivos) e fungos no SNC. OUTRAS BACTÉRIAS • Nocárdia → imunossuprimidos, câncer, TCE, neurocirurgia, doença granulomatosa crônica, sarcoidose • Anaeróbios → rara. Contiguidade → OMC, mastoidite, osteomielite, abcesso cerebral, faringite • TCE → S. aureus FISIOPATOLOGIA DAS MENINGITES BACTERIANAS • Pneumococo, haemophilus e meningococo → secretam proteases que clivam IgA secretórias na superfície da mucosa oral → caindo na corrente sanguínea • Meningococo → pili (adesinas) na superfície, que permitem aderir à mucosa e colonizarem • Resultado → bacteremia com invasão do espaço subaracnoide → fácil colonização, imunidade humoral do SNC deficiente. • As bactérias aderem ao endotélio dos capilares cerebrais, atravessam a BHE, alcançam o LCR, multiplicam-se rapidamente • Além disso tem-se poucas defesas imunes do hospedeiro nesta região, pois LCR normal tem: o Poucos leucócitos, proteínas do complemento e imunoglobulinas o Natureza líquida pouco favorável à ação neutrofílica • Ocorre então formação de exsudato purulento (devido ao acúmulo leucócitos e proteínas para tentar conter a infecção)) provocando: o Obstrução do fluxo do LCR no sistema ventricular o Redução da capacidade de reabsorção de LCR das granulações aracnoides o PROVOCANDO HIDROCEFALIA E EDEMA INTERSTICIAL QUADRO CLÍNICO MENINGITE BACTERIANA • Síndrome infecciosa aguda o Febre alta o Toxemia o Prostração • Síndrome de hipertensão intracrania (pode ter) o Cefaleia o Vômitos em jato o Edema de papila • Síndrome meningo-radicular (pode ter) o Rigidez de nuca o Opistótono o Sinal de Kernig o Sinal de Brudzinski o Sinal de Lasegue • Recém nascido e lactentes → febre ou hipotermia, irritabilidade, recusa alimentar, convulsões e abaulamento da fontanela. Podendo não apresentar os sintomas típicos. • Meningococcemia → mal estar súbito, febre alta, calafrios, prostração e manifestações hemorrágicas na pele (petéquias, equimoses) • Meningite (com ou sem meningococcemia) → febre, cefaleia intensa, náuseas, vômitos e rigidez de nuca e/ou outros sinais (Kerning e Brudzinski), consciente, sonolento, torporoso ou coma MENINGITE VIRAL • Enterovírus o Início súbito o Febre (76-100%) o Rigidez de nuca (50%) o Cefaleia e fotofobia (adultos) o Alteração no nível de consciência o Sinais neurológicos focais (convulsão, paralisia) são RAROS o Precedido de sinais e sintomas específicos (faringite, tosse, anorexia, diarreia e mialgias) EXAME FÍSICO COMPLICAÇÕES DAS MENINGITES • Imediatas → coma, convulsões, edemacerebral, choque, CIVD, parada respiratória, desidratação, pericardite, Síndrome de Watherhouse-Friderichsen, SSIHAD, abscesso cerebral, empiema subdural, gangrena periférica, óbito • Tardias → epilepsia, paralisias, hidrocefalia, déficit intelectual, perda auditiva neurossensorial, ataxia, amaurose DIAGNÓSTICO • Punção lombar • História clínica complexa e exame físico apurado • Avaliar necessidade de TC antes da punção lombar • Hemograma completo • Hemocultura • Raio x de tórax e seios da face • TC e RNM (principalmente se achar que é uma encefalite) • Otoscopia • PCR CONTRAINDICAÇÕES DA PUNÇÃO LOMBAR • Infecção de pele no local da punção (contraindicação ABSOLUTA) • Aumento da pressão intracraniana (ideal fazer um exame de imagem antes) • Suspeita de massa em medula ou intracraniana (supratentorial) (lateralização, papiledema) • Contagem de plaquetas menor que 50 mil • Sinais neurológicos focais (pupilas não reativas e dilatadas, anormalidades na motilidade ocular, paralisia da marcha, paresia de membro superior e inferior) • Diátese sanguínea incontrolável • Deformidade de coluna • Não cooperação do paciente LÍQUOR • Espaço entre a L3 e a L4 (em adultos) e L4 e L5 (em crianças) • Analisa: o Aspecto o Bioquímica o Pesquisa direta do agente etiológico o Detecção de antígeno (látex ou contra-imunoeletroforese) o PCR o Cultivo → tioglicato ou ágar sangue, chocolate e Macconkey • Líquor normal o Células → < 5mm3 o Proteínas → < 40g/dL o Glicose → 2/3 da glicemia o Pressão de abertura → entre 90 e a 180 mmHg ou até 200 cm H2O → decúbito lateral adultos LÍQUOR NAS MENINGITES BACTERIANAS LÍQUOR NAS MENINGITES VIRAIS • Pressão normal ou levemente aumentada • Pleocitose linfocítica (100 a 1000/mm3), precocemente neutrofilia (24h iniciais) • Pequeno aumento de proteína (IgG) e glicose normal • Bacterioscopia negativa • Enterovírus (80%), arbovírus, caxumba, herpes vírus • PCR enterovírus • PCR-T EXAMES DE IMAGEM • TC de Crânio e RNM não são essenciais. Só devem ser solicitados em caso de: o Pacientes com febre persistente e prolongada o Evidência clínica de hipertensão intracraniana o Achados neurológicos focais o Convulsão o Aumento da circunferência craniana em neonatos o Persistência da disfunção neurológica o Persistência da anormalidade dos parâmetros do LCR TRATAMENTO Cai não, beleza? TRATAMENTO DE SUPORTE • Combater o choque séptico → reposição SF e drogas vasoativas • Monitorização vigorosa (graves → UTI, PVC) • Convulsão: Diazepam → hidantal • Correção de distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básico • Medidas de redução da hipertensão intracraniana → manitol, furosemida, cabeceira a 30º, hiperventilação (PaCO2 entre 27 e 30mmHg) e neurocirurgia • Anticonvulsivantes • Ventilação mecânica, se necessário • SSIHAD → restrição hídrica PREVENÇÃO MENINGITE MENINGOCÓCICA • Mais de 10% tem contato com outro caso conhecido • Portadores são estimados em 5 a 10% sobre condições não epidêmicas e de 40 a 90% de populações fechadas (ex: recrutamento militar) • Quimioprofilaxia o É recomendada em contactantes próximos, intradomiciliares, profissionais de creches e qualquer pessoa exposta à secreção oral do paciente (ressuscitação boca a boca, entubação traqueal e manejo do tubo endotraqueal) o Não é recomendada em escolas ou local de trabalho o Deve ser administrada o mais breve possível, dentro de 24h se possível, até 14 dias após o contato. (PROVA) o Rifampicina, ceftriaxona ou ciprofloxacina • Isolamento o Quarto privativo ou coorte de pacientes com o mesmo agente etiológico. Distância mínima entre 2 pacientes ≥ 1m. A porta pode permanecer aberta o Uso de máscara se houver aproximação ao paciente, numa distância menor que 1m. São recomendadas para todas as vezes que os profissionais visitantes e acompanhantes entrarem no quarto. o Transporte dos pacientes deve ser limitado ao mínimo possível. Quando for necessário, o paciente dever usar máscara • Imunoprofilaxia o Vacina conjugada Meningococo C ▪ 3, 5 e 7 meses ou 3 e 5 meses ▪ > 1 ano → dose única o Polissacarídica → A, C, Y e W135 MENINGITE POR H. INFLUENZAE • Quimioprofilaxia o Recomendada em contatos domiciliares onde residam crianças < 48 meses que não tenham completado esquema de vacinação e contactantes em creches ou escolas em que tenham ocorrido 2 casos de doença invasiva por Hib nos últimos 60 dias o Rifampicina • Imunoprofilaxia o A vacinação contribuiu para diminuir a incidência de MBA por Hib, com diminuição das taxas acima de 90% nos últimos anos o Vacina conjugada ▪ 2, 4 e 6 meses, combinada com DTP ▪ 2, 4, 6 meses e 18 meses, combinada com DPaT + pólio inativada + Hepatite B MENINGITE POR S. PNEUMONIAE • Imunoprofilaxia o Vacina conjugada → 2,4, 6 meses e reforço após 12 meses o Vacina polissacarídica 23-valente ▪ Recomendada em pacientes com 65 anos e acima, pacientes entre 2 e 64 anos com doença crônica cardiovascular, pulmonar, renal, DM, alcoolismo, asplenia funcional ou anatômica ▪ Imunodeprimidos → acima de 2 anos com infecção pelo HIV, doença maligna hematológica ou generalizada, síndrome nefrótica, imunossupressão química e transplantados PONTOS A GUARDAR • Suspeitar? Sempre • Bloqueio de contactantes? Calma, primeiro preciso de um diagnóstico etiológico • Início do tratamento empírico antes da transferência (não reduz sensibilidade do gram do LCR) • Estabilização hemodinâmica COMO SERÁ SUA ABORDAGEM NUM CASO DE SUSPEITA DE MENINGITE? • Máscara cirúrgica para fazer anamnese e exame físico SEMPRE! • Investigar tempo de início dos sintomas, ordem de aparecimento dos sintomas e questionar ativamente sobre quadros virais anteriores com ou sem diarreia, traumas ou quedas e contatos com pessoas com sintomas semelhantes • Exame físico (Sinais de irritação meníngea, presença de febre, sinais de sepse e lesões de pele) • Idealmente hemograma com plaquetas antes da punção lombar • Mandar preparar a primeira dose de ceftriaxona injetável e proceder a punção lombar • O resultado inicial da punção irá lhe direcionar para as orientações de antimicrobianos, necessidade de bloqueio e prognóstico • Seja rápido e assertivo
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