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fundamentos_da_educacao_infantil_aulas01_a_04

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Palavra da professora-autora 
 
Olá estudante, seja bem-vindo, seja bem-vinda à disciplina Fundamentos 
Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil! 
Para a sua prática profissional, é imprescindível conhecer os fundamentos 
teóricos e metodológicos que embasam a educação infantil. Por meio desse 
conhecimento, que o influenciará ao longo da vida, você entenderá a importância 
dessa etapa para o desenvolvimento do sujeito. 
Durante o módulo, será de grande relevância expor as reflexões 
adquiridas ao longo da disciplina. A sua participação no ambiente virtual de 
aprendizagem contribuirá com a sua instrução e a dos seus colegas. Lembre-se, 
as mídias disponibilizadas pelo curso o ajudará a se tornar um grande 
profissional. Portanto, não deixe de acessá-las. 
 
Bons estudos! 
 
Profa. Grazielle Tavares 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 1 – Concepção de educação infantil 
Olá! Esta é a nossa primeira aula da disciplina Fundamentos Teóricos e 
Metodológicos da Educação Infantil. Nesse encontro, você conhecerá diferentes 
concepções de educação infantil, bem como as mudanças desse processo na 
história. Aprenderá sobre os diferentes conceitos de crianças abordados ao 
longo do tempo, que influenciaram a educação. Vamos à aula? 
 
 
 
Figura 1.1: Crianças e a educação Fonte: © Freepik 
 
Ao longo do tempo, as concepções sobre Educação Infantil (EI) passaram 
por alterações, em função dos diferentes entendimentos sobre esses conceitos. 
Dessa forma, se modificou o percurso da EI em todo o mundo. 
 
 
 
Concepção de infância 
A concepção sobre a infância em séculos anteriores é distinta da 
empregada atualmente, pois houve uma construção histórica e social para que 
se alterasse esse tratamento. Em cada período histórico a criança era vista com 
uma abordagem diferenciada. 
Causa estranheza tratar a criança de forma indiferente, ou percebê-la 
como um adulto em miniatura, no entanto, era algo natural nos séculos 
passados. Dessa forma, a organização social de um período, é fator 
preponderante para o sentimento relacionado à criança. As alterações ocorridas 
no decorrer dos tempos influenciaram o modo como atualmente é concebida a 
primeira infância. 
Por meio da arte é possível observar o modo como a infância e a família 
eram vistas da sociedade medieval até os dias atuais. O historiador francês 
Philippe Ariès, dedicou-se a esse estudo, por meio da análise de obras de arte, 
ou seja, a iconografia de vários séculos. Tal estudo foi publicado no livro História 
Social da Criança e da Família (2006). 
 
Glossário 
Iconografia: repertório de imagens próprio de uma obra, gênero de arte, artista 
ou período artístico. 
 
Com base nesse estudo de Ariès, Kramer (1987) distingue a criança em 
três categorias, conforme o contexto social: 
 
 evolução histórica do sentimento de criança, relata a forma como o infante 
era percebido conforme o contexto social, econômico e político; 
 a descoberta da infância, desvenda sentimentos de infância diferenciados da 
fase anterior, pois está embasado nos pensamentos pedagógicos 
tradicionais e da escola nova; 
 a concepção atual de infância, que demonstra a criança como um sujeito que 
possui direitos. 
 
A seguir será relatado, minuciosamente, as particularidades de cada uma 
dessas concepções. 
 Evolução histórica do sentimento de ser criança 
 
O conceito de infância ao longo dos séculos foi fonte de estudo do 
historiador Philippe Ariès, que, para observar como as crianças eram 
representadas, investigou minuciosamente obras de arte. 
Ariès (2006) constatou que, durante a Idade Média, a criança era pouco 
representada, inclusive nas pinturas. Provavelmente, isso não ocorria pela falta 
de habilidade dos pintores, mas sim porque acreditavam que não havia espaço 
para a criança no mundo dos adultos. O autor complementa que a criança em 
diferentes cenários era vista como adulto em escala menor, não havia 
diferenciação em traços ou modo de ser. Nas raras obras em que era 
apresentada a nudez, o artista exprimia músculos na composição dos pequenos 
sujeitos. Observe a figura a seguir e perceba essas características. 
 
 
Figura 1.2: Domenico Ghirlandaio (1449–1494) 
Fonte: © Bass Museum of Art / Wikimedia Commons 
 
Crianças com características de adultos são representadas em outras 
obras. Ariès (2006, p. 17) analisou o quadro O Evangelho, em que Jesus pede 
que deixe vir às criancinhas e observou os personagens representados pelo 
artista da seguinte forma: “agrupados em torno de Jesus oito verdadeiros 
homens, sem nenhuma das características da infância; eles foram simplesmente 
reproduzidos numa escala menor. Apenas seu tamanho os distingue dos 
adultos”. 
É notório o sentimento relacionado à infância, diferenciado da concepção 
atual, uma vez que não se refere ao sentimento de acolhimento, mas ao modo 
como o adulto pode se distinguir da criança. Ariès (2006) aponta em seus 
estudos que a infância era um período de passagem, que logo até mesmo as 
lembranças eram perdidas. No entanto, o pesquisador relata que aos poucos é 
possível observar representações da infância mais próxima ao sentimento atual. 
A respeito de uma percepção da infância similar à da atualidade, Kramer 
(1987) comenta que o sentimento para representar a infância é contraditório, 
pois os adultos consideram a criança inocente, ingênua e graciosa, ao mesmo 
tempo a infância é percebida como o momento em que é necessário cuidados, 
já que as crianças são vistas como imperfeitas e incompletas, por essa razão 
necessitam de cuidados para crescer de forma saudável e aprender habilidades 
sociais para viverem em sociedade. 
Na Idade Média, a criança era um mistério que não podia ser profanado 
pelos adultos, ao mesmo tempo em que não possuía humanidade, que só 
conseguiria chegar ao patamar social se fosse levada ou conduzida à casa de 
outra pessoa, que promoveria seu aprendizado. Esse costume de distanciar o 
infante da família ocorreu até aproximadamente o final da Idade Média (século 
XV). 
 
A descoberta da infância 
 
A concepção da infância sofreu profundas alterações ao longo dos 
séculos. Nas sociedades mais antigas, quando uma criança era abandonada, 
buscava-se dentro do próprio parentesco, alguém que assumisse a 
responsabilidade de cuidar dela. Na Idade Antiga, o papel da mãe mercenária 
foi criado com o intuito de cuidar dos infantes, no entanto, na maioria dos casos, 
por falta de saúde e higiene, eles acabavam falecendo. 
Pelo percurso histórico é possível observar nas obras analisadas por Ariès 
(2006), que demonstram nitidamente a falta de afeição com os pequenos, pelo 
menos na Inglaterra, pois logo que completavam sete anos, eram enviados para 
casa de outras pessoas, para fazerem serviços pesados, onde permaneciam por 
aproximadamente nove anos. O intuito dessa ação era proporcionar às crianças, 
oportunidades de aprenderem boas maneiras. Nesse período, o serviço 
doméstico estava intrinsicamente ligado à aprendizagem. 
Nas Idades Média e Moderna, a prática utilizada era de transferir os 
rejeitados para as igrejas e hospitais de caridade. Nos muros destes locais, havia 
as “rodas dos expostos” (cilindros giratórios feitos de madeira), que serviam para 
expor os rejeitados, no intuito de serem doados. 
É importante ressaltar que algumas mães que não podiam ficar com os 
filhos, ou não os queriam, os entregavam nesse espaço. Era uma forma de se 
livrar do problema, de forma oculta, sem ser observada. Nas cidades que não 
dispunham desse mecanismo, os desprezados eram deixados na porta da igreja. 
 
 
Figura 1.3: Roda dos expostos 
Fonte: © Fiore Silvestro Barbato / Wikimedia Commons 
 
A cultura criada naquela época, em relação ao modo como as crianças eram 
tratadas, disseminava a ideia de precariedade no atendimento voltado a elas, 
como se estivessem substituindo o papel da família. Infelizmente, essa 
concepção
sobre os espaços destinados a esse atendimento, perpetua nos dias 
de hoje. Tanto é que muitos acreditam que não é necessário uma formação para 
atender o público infantil, dando a impressão de que é um atendimento fácil e 
que qualquer pessoa está habilitada a exercer. 
http://www.flickr.com/people/81227945@N00
A análise detalhada da Idade Média até a Modernidade, realizada por 
Ariès, possibilita o entendimento sobre a infância e as mudanças de sua 
concepção ao longo dos séculos. Observa-se o reflexo desses conceitos nos 
dias atuais, pelo modo como as crianças eram trajadas. No século XIII, logo que 
a criança deixava o cueiro (pano macio utilizado para enrolar o corpo do bebê), 
era vestida como as demais pessoas de sua condição. Assim, pode-se observar 
que não havia distinção entre a infância e os adultos. 
Sobre o vestuário infantil Ariès (2006) chegou à conclusão que no século 
XVI, as crianças eram vestidas como adultos em miniatura, passando para as 
roupas utilizadas nos dias atuais. A mudança no traje beneficiou primeiramente 
os meninos, no segundo momento, as meninas puderam utilizar vestimentas 
conforme sua faixa etária. Durante muito tempo a infância foi contemplada e 
vivenciada pelos meninos nobres ou burgueses. Os demais, filhos de 
camponeses, artesãos ou crianças do povo, não mudaram sua forma de se 
vestir, bem como continuavam a serem tratados como adultos em miniaturas. 
 Estudante, esse ponto é importante para refletir sobre os trajes da 
atualidade. Muitas crianças, especialmente as meninas, usam roupas com 
características de adulto. Parece que a sociedade está retrocedendo, uma vez 
que leva a criança para o mundo adulto, sem que ela esteja preparada para 
vivenciar atitudes que não fazem parte do universo infantil. 
Ao longo dos séculos, a concepção de criança se alterou. Inicialmente, a 
sociedade não dispensava atenção a elas. Até mesmo quando falecia, a mãe 
tratava com naturalidade, pois o índice de mortalidade infantil era muito alto, 
devido às condições sanitárias precárias. “Era extremamente alto o índice de 
mortalidade infantil que atingia as populações e, por isso, a morte das crianças 
era considerada natural” (KRAMER, 1987, p.17). Em razão dessa situação, os 
pais não se apegavam aos seus filhos, uma vez que havia grandes chances de 
eles não ultrapassarem a primeira infância, por isso o pequeno que morria, logo 
era substituído por outro ser humano. Como disse anteriormente, a criança era 
considerada adulto em miniatura e pouca atenção lhe era oferecida. 
Essa situação começou a se alterar a partir do século XVI, com os 
avanços científicos que contribuíram para amenizar tal realidade, ao menos 
entre a classe dominante. Período em que a escola se tornou a instituição 
responsável por atender a criança. Dessa forma, ela era separada do convívio 
com o adulto, para ser orientada visando o seu futuro. Os pais, ao menos das 
classes mais abastadas, começam a ver os filhos da mesma forma e a oferecer 
as mesmas condições para que tivessem boas oportunidades na posteridade. 
Essa situação, proporcionada principalmente pelas reformas religiosas 
católicas e protestantes, trouxe um novo olhar sobre a criança e sua 
aprendizagem. O movimento trouxe a paparicação da criança, como se ela fosse 
a diversão do adulto, ou até mesmo um animal de estimação. Contudo, havia o 
cuidado para as crianças não ficarem sempre na presença dos adultos, até 
mesmo durante as refeições, pois acreditava-se que o fato de estarem próximas 
poderia torná-las mal-educadas e mimadas. 
No século XVII, a prática da paparicação estava sendo deixada de lado 
pelas pessoas que possuíam mais posses, pois receberam recomendações dos 
educadores e moralistas, preocupados com a disciplina, para não mimarem as 
crianças, para elas não ficarem “mal criadas”. Contudo, os sujeitos com menos 
recursos, por não terem acesso a essa nova forma de pensar, não aplicavam na 
educação de seus filhos. Logo, essas crianças apresentavam atitudes 
inadequadas, que não condiziam com o esperado no âmbito social. Os pais 
receberam o rótulo de não se importarem com os seus descendentes. 
O modo como é concebida a família se altera, a criança, além de receber 
atenção, precisa de guarita e orientação. Para tanto, foi conduzida para o meio 
escolar, onde ficou protegida, ao mesmo tempo em que foi educada para 
conviver em sociedade. 
Conforme aponta Àries (2006), a partir do século XVII a elite de 
pensadores e moralistas recomenda uma nova forma de pensar a infância. 
Afirmavam que as crianças bem educadas, ou seja, aquelas provenientes de 
família de posses, deveriam ser poupadas da imoralidade, isto é, deveriam ser 
separadas da convivência com os adultos. A falta de preparo e a rudeza seriam 
traços específicos das camadas populares. 
Estudante, perceba que ainda nos dias de hoje muitos conhecimentos 
inovadores restringem-se à elite. Dificilmente pessoas com menos condições 
financeiras, têm acesso a essas informações. Logo, o movimento que existia 
anteriormente, continua nos dias de hoje. 
 
 
Figura 1.4: Pierre-Auguste Renoir (1841–1919) 
Fonte: © Google Cultural Institute / Wikimedia Commons 
 
Nesse âmbito, foi percebida a necessidade de estudos psicológicos e 
morais relacionados ao educar, pois havia a necessidade de corrigir as crianças 
que não apresentavam o comportamento desejado, ou seja, que não possuíam 
boas maneiras. Esse sistema escolar preocupa-se com o comportamento de 
seus alunos e procura modos de contribuir com a sua disciplina fora de sala de 
aula. 
 Com o aumento do número de crianças, uma nova estrutura familiar 
começa a ser formar, pois aumentou o total de filhos no mesmo núcleo. Eles 
tornaram-se importantes para seus pais, que se preocupavam com seu 
desempenho, com a educação, com a carreira e com seu futuro. No entanto, 
essa família própria do século XVII, ainda não definiu a criança como 
personagem principal da casa. Apesar dessas mudanças, ainda é possível 
verificar que o grupo familiar conservava a sociabilidade ao seu redor. 
A partir do século XVIII, a família passa a se preocupar com a criança, 
principalmente no que tange à saúde e à educação, situação que promoveu a 
diminuição dos índices de mortalidade. Tais cuidados a princípio beneficiaram a 
burguesia, as crianças mais pobres ainda eram direcionadas para o trabalho. 
Com o decorrer do tempo, todos tiveram acesso a essa visão, mas nem todos 
puderam se beneficiar dessas melhorias. Kramer (2003) aponta que tal mudança 
https://www.google.com/culturalinstitute/asset-viewer/aAGBKKw5YC7_2Q
ocorreu devido ao contexto social no qual o sujeito se encontrava. Ela destaca 
dois pontos que promoveram as seguintes alterações: 
1º) representa o avanço científico que levou à diminuição da mortalidade 
infantil, no século XVIII; 
2º) retrata o sentimento moderno de infância, ao perceber a criança como 
um ser humano frágil e ingênuo, que precisa de carinho e atenção. 
 
 
Figura 1.5: Pierre-Auguste Renoir (1841–1919) 
Fonte: © Domínio Público / Wikimedia Commons 
 
Na medida em que as relações sociais, familiares e de trabalho se 
alteraram, a infância passou a ser compreendida de outra forma. A princípio a 
criança deveria ser produtiva desde a tenra idade. Com o passar do tempo, a 
criança passa a ser vista como quem precisa ter suas necessidades atendidas e 
respeitadas, sua concepção torna-se particular, com especificidades diferentes 
das dos adultos. 
Estudante você observou que nessa etapa, os pais passaram a ver a 
criança como investimento. Por isso, a família preocupa-se com a formação e 
com a aprendizagem escolar dos filhos. Dessa forma, os pais ocupam os filhos 
com atividades diferenciadas e programações culturais, que os tornem 
competitivos para o mundo do trabalho. 
Concepção da infância atual 
A concepção atual da infância altera-se com o modo como a família é 
concebida. Anteriormente,
era compartilhada pela comunidade, atualmente, é 
uma ação singular pertencente ao núcleo familiar. A ideia era passar valores 
relacionados à obediência e às boas maneiras, ou seja, a preocupação com o 
cuidar. Uma nova estrutura familiar surge, pois aumentou o número de crianças 
vivendo na mesma residência. Com esse novo olhar, a família foca-se em sua 
intimidade e nas próprias vinculações. 
Somente com a família moderna, é possível ver um grupo solitário, 
constituído pelos pais e filhos, em que o desenvolvimento da criança é visto 
como importante para prepará-la para o mundo adulto. Por essa razão, os pais 
se esforçam para oportunizar formação de qualidade para seus descendentes. 
Tal sentimento é similar ao padrão burguês, que se tornou universal. 
A ideia da infância aparece com a sociedade capitalista, conforme aponta 
Kramer (2003). Na sociedade feudal, assim que passava o período de alta taxa 
de mortalidade, a criança precisava contribuir com a família, por isso exigia que 
ela produzisse como um adulto. Já na concepção burguesa, a criança precisava 
ser cuidada, ir para a escola e se preparar para exercer o ofício conforme a sua 
formação. Ou seja, o filho é encaminhado após a sua formação. 
As relações sociais e de compartilhamentos das responsabilidades são 
disseminados em prol dessa nova estrutura. A família se fecha, ou seja, há 
preocupação com os membros que fazem parte dessa constituição. Os pais 
passam a centralizar suas atenções nos filhos, e preocupam-se em desenvolvê-
los para obterem bom desempenho escolar. 
Segundo Ariès (2006), no contexto familiar atual, os pais e filhos primam 
pela vida privada, e afastam-se das relações sociais, ou seja, distanciam dos 
vizinhos, das amizades e das tradições. Esse esforço em separar-se de outras 
pessoas, denota a dificuldade em viver em um meio que a pressão social com 
cobranças e imposições são grandes, por isso, a dificuldade em suporta-las. A 
infância concebida pela classe dominante baseia-se na padronização da 
infância, criada por meio do critério de idade e atitudes relacionadas a essa faixa 
etária. Essas características representam o papel da infância assumida 
socialmente. Por isso, a partir da Industrialização, as mães começaram a 
necessitar de um local para deixar seus filhos enquanto estivessem trabalhando. 
Com apoio de associações, por exemplo, conquistaram esse lugar formal e 
menos insalubre. 
A família da atualidade passou a viver de forma isolada e se preocupa 
com as próprias necessidades. Ela também preserva as crianças de situações 
que possam ferir sua inocência, e as direcionam a espaços que possam adquirir 
conhecimentos e habilidades que colaboram com o seu desenvolvimento. Em 
decorrência dessa nova postura, há a necessidade de terceirizar a 
responsabilidade da educação de seus filhos e orientá-los para receber 
formação adequada. Dessa forma, os pais buscam instituições de ensino, para 
contribuir com a formação de seus descendentes. 
Após o final da Primeira Guerra Mundial (1918), prospera a ideia de 
respeito ao desenvolvimento infantil. Tal situação culmina no movimento 
denominado Escola Nova, que tinha como norte o respeito às especificidades 
das crianças, com intuito de desenvolver características do pensamento infantil. 
 Essa concepção referente à educação entende a igualdade entre todas 
as crianças, independente da classe social, que proporciona as mesmas 
condições escolares, padroniza a faixa etária, cria padrões de comportamentos 
esperados conforme os anos de vida do aluno. Logo, a família é responsável por 
qualquer conduta fora dos parâmetros desejados, pois o “reduto familiar, então, 
torna-se cada vez mais privado e, progressivamente, esta instituição vai 
assumindo funções antes preenchidas pela comunidade” (KRAMER, 1987, p. 
18). 
 
 
Figura 1.6: A criança na modernidade Fonte: ©Freepik 
 
Do início dos anos 1920 até fins dos anos 1930, surgem pesquisadores 
que produzem visões diferenciadas sobre o mundo da criança, apropriando-se 
gradativamente das concepções psicológicas, para entender e aprender como 
atuar com os pequenos. 
A partir do fim da Segunda Grande Guerra (1945), a criança começa a ser 
entendida como um ser que possui direitos que devem ser respeitados, para 
desenvolver-se plenamente. Tal fato é confirmado com a Organização das 
Nações Unidas (ONU) que promulga em 1959, a Declaração dos Direitos da 
Criança. 
Na concepção atual ressalta a criança como possuidora de direitos, que 
precisam ser conhecidos para serem respeitados. Há leis que regulamentam as 
ações que podem ou não ser realizadas, para que adultos e crianças tenham 
conhecimentos desses itens para não terem seus direitos violados. Dessa forma, 
é visível que essas mudanças visam proteger e cuidar das crianças para que se 
desenvolvam saudavelmente. 
 
Nessa aula, você conheceu diferentes concepções da infância e como 
elas se alteraram ao longo dos séculos. É importante lembrar que, a princípio, 
os pais não nutriam pela sua prole o sentimento de filho; após o desmame, o 
pequeno era conduzido para aprender com outra família. O atendimento a essa 
faixa etária acontecia de forma espontânea e improvisada, uma vez que uma 
família atendia aos filhos de outra. Esse era o meio de ensinar as atitudes 
necessárias para viver em sociedade. 
Você também viu que somente a partir do século XVII, famílias com mais 
condições recebiam orientações de moralistas e educadores para modificar o 
modo como estavam educando seus filhos. Para que essas crianças fossem 
consideradas bem educadas era necessário encaminhá-las para as instituições 
escolares. Nesses locais, a infância podia ser vivenciada, ao mesmo tempo em 
que recebiam formação para exercer uma profissão. Não se esqueça de que 
mesmo com esses avanços ainda permanecia o contato com grupo, vizinhos, 
sociedade em geral. Tal ruptura só ocorreu na sociedade moderna. 
Durante a aula você também pôde perceber que nos dias atuais, a família 
vive de forma privada. Além disso, você aprendeu que a criança possui 
importância para seus pais, que passam a percebê-la como um investimento, 
que necessita de cuidados com a saúde e preparo na área educacional, para ter 
uma bela carreira e colher bons frutos no futuro. Os infantes frequentam escolas 
e são preparados para a vida em sociedade. A institucionalização familiar tornou-
se responsável por ações anteriormente realizadas pela comunidade. 
 
Atividade de aprendizagem 
Com base na aula apresentada, elabore um breve texto refletindo sobre as 
condições de vida da criança no período que ela era considerada adulto em 
miniatura. 
 
Aula 2 – O processo histórico da 
educação infantil no Brasil 
 
 
 
 
 
Olá! Seja bem-vindo, seja bem-vinda à segunda aula da disciplina Fundamentos 
Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil. Durante a aula, você aprenderá 
sobre o processo histórico de educação infantil no Brasil. Então, vamos para o 
aprendizado? 
 
 
 
 
Figura 2.1: Educação infantil Fonte: © Freepik 
 
As concepções sobre a educação infantil no Brasil sofreram modificações 
ao longo dos anos. Para entendê-las é necessário conhecer o conceito de cuidar 
e os modelos educacionais criados e implantados ao longo dos anos. 
 O conceito relacionado à infância no Brasil e a atenção despendida ao 
atendimento da criança, sofreram mudanças desde o descobrimento, em 1500, 
até os dias de hoje. Na história do país é possível verificar as iniciativas 
relacionadas à criança, compreender o motivo que levou ao seu aparecimento e 
identificar as propostas relacionadas às classes com maior poderio econômico. 
Para fins didáticos, esse percurso é distinguido nas seguintes etapas: 
 chegada dos portugueses a 1930; 
 década de 1930 a 1980; 
 anos 1980 aos dias de hoje. 
 
Da chegada dos portugueses a 1930 
 No período compreendido do Descobrimento do Brasil até
1884, o 
foco era o atendimento às crianças de 0 a 6 anos, sem o objetivo de desenvolvê-
las. Nesse primeiro momento, aconteciam: a roda dos expostos para os 
pequenos e a Escola de Aprendizes Marinheiros para maiores de 12 anos 
(KRAMER, 1987). 
O papel de educar estava direcionado à família, especialmente à mulher, 
que tinha a função de conduzir a criança para o mundo do adulto. Caso a criança 
não tivesse mãe, essa atribuição era transferida para algum parente; não 
havendo, era entregue a uma instituição, normalmente religiosa, que cuidava da 
criança. Nesse local, era utilizada a roda dos expostos, também conhecida como 
a roda dos rejeitados. A grande maioria das crianças colocadas ali eram brancas 
e eram destinadas para a adoção, porém, com relação às crianças negras, o 
objetivo era tão somente evitar que elas fossem escravizadas. 
Os higienistas foram os primeiros a se preocupar com a infância. Para 
eles os altos índices de mortalidade infantil estavam ligados aos filhos ilegítimos, 
ou à falta de conhecimento da mãe. “Os poucos projetos desenvolvidos durante 
aquele 20 período tinham, portanto, um caráter preconceituoso e valorizavam 
diferentemente as crianças negras (filhas de escravos) e as elites (filhas de 
senhores)” (KRAMER, 1987, p. 52). . 
 
Glossário 
Higienista - médicos especialistas em resguardar a saúde, criando medidas para 
a prevenção de doenças. 
 
Entre 1874 e 1889, iniciou a preocupação com as crianças em grupos 
privados e distintos como os das damas e dos médicos, mas não na 
administração pública. “A ideia de proteger a infância começava a despertar, mas 
o atendimento se restringia a iniciativas isoladas e que tinham, portanto, um 
caráter localizado” (Kramer, 1987, p. 53). Sugeria-se o atendimento aos 
desvalidos, mas ocorria de forma isolada. Essas ações não conseguiam atingir 
o grande número de casos de saúde no Brasil. 
A partir do início do século XX, com a vinda de imigrantes europeus para 
trabalhar nas fábricas brasileiras, principalmente italianos, muitos com 
qualificação profissional e politizados pelo contato com movimentos operários 
que aconteciam na Europa, os trabalhadores passam a reclamar por melhores 
condições de trabalho e de vida. Para acalmá-los, seus patrões oferecem 
benefícios como a criação de vilas operárias, clubes esportivos e creches, que 
eram indicadas por sanitaristas para manter as crianças saudáveis, ou seja, livre 
das epidemias. Na realidade, a preocupação era com a reprodução e 
preservação da mão de obra operária. 
Algumas damas de classes mais abastadas reuniam-se em associações 
e prontificavam-se a ensinar as mulheres com menos condições, a serem boas 
donas de casa e a cuidarem de seus filhos. Essas senhoras criaram inúmeras 
creches, mas acreditavam que o melhor caminho era a educação direta com a 
mãe. 
 
Concomitantemente a essa situação, surge o movimento em função da 
puericultura e escolarização, que começam a criar envergadura. Tal 
característica era de alguns grupos, que tinham a intenção de diminuir a apatia 
frente aos problemas da infância. Diante de tal situação, foi fundado em 1899, o 
Instituto de Proteção à Infância do Brasil, com sede no Rio de Janeiro. Seu 
objetivo era elaborar leis, regulamentar o serviço de ama de leite, atender as 
crianças com até oito anos e criar creches e jardins de infância. “A fundação do 
instituto foi contemporânea a uma certa movimentação entorno da criação de 
creches, jardins de infância, maternidade e da realização de encontros e 
publicações” (KRAMER, 1979, p. 54). 
 
Glossário 
Puericultura - conjunto de noções e técnicas voltadas para o cuidado médico, 
higiênico, nutricional, psicológico etc., das crianças pequenas, da gestação até 
quatro ou cinco anos de idade. 
 
 Em 1919, por iniciativa da equipe do Instituto, foi criado o 
Departamento da Criança no Brasil. o local foi “criado e mantido em termos de 
recursos por Moncorvo Filho, sem receber qualquer auxílio do Estado ou da 
municipalidade [...]” (KRAMER, 1987, p. 55. Com todas as ações direcionadas 
para as pessoas menos favorecidas, esse espaço tinha como função apoiar 
iniciativas voltadas às crianças e às mulheres grávidas; promover 
conhecimentos e congressos; e aplicar leis. 
Os órgãos governamentais modificaram suas ações a favor dos pobres e 
desvalidos, em razão do preparativo para a comemoração do Centenário da 
Independência, em 1922. Ocasião em que foi organizado o Primeiro Congresso 
Brasileiro de Proteção à Infância. O objetivo dessa ação foi tratar de pormenores 
que envolviam a criança, direta ou indiretamente e, suas relações com a família, 
a sociedade e o Estado. Acreditava-se que o atendimento direcionado à infância 
resolveria os problemas sociais e renovaria a sociedade. 
Nos anos 1920, a educação das crianças pequenas era de 
responsabilidade da família, que se responsabilizava em desenvolvê-las para 
viver em sociedade. Cartaxo (2013, p. 31) aponta que: Naquele período 
(transição para o período industrial), o papel da mãe e das outras mulheres era 
o de cuidar da criança, atendendo-lhe no seu desenvolvimento físico a fim de 
que essa crescesse e assumisse seu papel social no mundo dos adultos. 
(CARTAXO, 2013, p. 31) 
 No período seguinte, a mão de obra feminina passa a ser exigida no 
ambiente profissional, devido ao momento de industrialização e urbanização dos 
centros urbanos, “a criança passa a ser atendida por terceiros, ficando a maior 
parte do tempo fora do contato com os pais” (CARTAXO, 2013, p. 32). As 
mulheres ficam parte de seus dias trabalhando fora do lar e, o contato com os 
filhos se torna cada vez mais escasso. 
O atendimento à criança foi terceirizado pelas instituições religiosas e 
filantrópicas, com o intuito de ajudar a mãe com os cuidados dos filhos. Nessa 
época a educação infantil estava voltada ao assistencialismo, não havia 
programa para o atendimento dessas crianças. “Para responder a essa situação, 
creches e pré-escolas foram criadas. Porém, o atendimento visava, 
prioritariamente, combater a pobreza e a mortalidade infantil” (CARTAXO, 2013, 
p. 35). 
 
Figura 2.2: Alunos na sala de aula 
Fonte: © Freepik 
 
Esse atendimento era destinado para as mães trabalhadoras, ou seja, 
eram essencialmente assistencialistas. A prioridade eram os cuidados básicos 
com a higiene, segurança e nutrição da criança. A educação, quando havia, era 
voltada para o “adestramento” das crianças, ou seja, eram educadas para a 
disciplina e a obediência. Vale ressaltar que “[...] o papel da mãe e das mulheres 
era o de cuidar da criança, atendendo-lhe no seu desenvolvimento físico a fim 
de que essa crescesse e assumisse seu papel social no mundo dos adultos” 
(CARTAXO, 2013, p. 31). 
Inicialmente, a mão de obra feminina dirigiu-se para a indústria, já que a 
masculina estava voltada para a lavoura. Por haver a necessidade de um espaço 
para deixar os filhos, os sindicatos lutaram para conquistar um local, onde os 
filhos pudessem ficar até o fim do horário de trabalho. “Para responder a essa 
situação, creches e pré-escolas foram criadas. Porém, o atendimento visava, 
prioritariamente, combater a pobreza e a mortalidade infantil” (CARTAXO, 2013, 
p. 35). Ressalta-se que a origem da educação infantil, nasce com o conceito de 
ajudar e não no sentido de educar. 
 
Década de 1930 a 1980 
Na década de 1930, Getúlio Vargas instaura o Estado Novo, refletindo na 
concepção das instituições dirigidas à educação, saúde e política. Assume de 
modo compartilhado com instituições particulares e religiosas, a 
responsabilidade direcionada a esses setores. Valorizou-se a criança, pois a ela 
cabia desenvolver-se para transformar o país. Ainda hoje é possível ouvir no 
âmbito escolar frases direcionadas à criança: “O país está em suas mãos”. 
Kramer (1987, p. 57) aponta que o infante era considerado sem classe social e 
que “[...] o Estado que se tinha em vista
engrandecer era uma entidade 
apresentada como se não tivessem ligadas aos interesses de uma classe social, 
e como se pudesse superar conflitos e divergências existentes entre as classes 
sociais que a compunham”. 
A educação anteriormente direcionada à elite, torna-se democrática. O 
discurso proferido é que a ascensão social ocorre por meio do ensino, direito 
adquirido por todos. Concomitantemente, a esse período articulam-se 
fundamentos direcionados a psicologia do desenvolvimento, em especial o da 
Escola Nova. Esse movimento não tratava especificamente da primeira infância. 
Ressalta-se que “naquele momento, as crianças de zero a seis anos, porém, 
eram assistidas basicamente por instituições de caráter médico, sendo muito 
poucas as iniciativas educacionais a elas destinadas” (KRAMER, 1987, p. 57). 
O Estado se mostrava autoritário e preocupado com as crianças de baixa 
renda, por isso ele defendia o cuidado com os infantes, reforçando a 
necessidade da criação de pessoas fortes e sadias, que contribuiriam com o 
país. 
O discurso oficial da época do Estado Novo era que [...] têm relacionado 
permanentemente a assistência médico-pedagógica à criança com o 
desenvolvimento da nação. Há, no entanto, diferença significativa no que diz 
respeito aos setores que se devem responsabilizar pelo atendimento: ora a 
ênfase recai sobre a iniciativa oficial, ora sobre a particular, ora sobre ambas, 
ora sobre a própria população. (KRAMER, 1979, p. 59). 
Salienta-se que, nessa época, a preocupação com a criança mantem-se 
na concepção abstrata de infância. Contudo, cresce o número de setores 
destinados a esse atendimento, com a criação de espaços como jardins de 
infância, lactários e maternais. 
A tônica de tal momento é médica, que tinha o intuito de prevenir e 
remediar possíveis situações relacionadas à criança. No entanto, qualquer 
situação diferente relacionada ao meio, a família era responsabilizada por essas 
situações desgastantes. Não se levava em conta as disparidades entre 
diferentes núcleos familiares, oriundos de classes sociais diferentes. Com essa 
situação, o governo mantinha-se neutro, e se eximia de situação que pudesse 
culpá-lo. 
Na década de 1940, foram criados diferentes órgãos oficiais voltados à 
assistência infantil. Você verá a seguir, a forma como as crianças eram atendidas 
por esses órgãos. 
 Departamento Nacional da Criança: criado em 1940, vinculado ao 
Ministério da Saúde, seu objetivo era coordenar ações relativas à 
proteção da infância, adolescência e maternidade. “A tendência de 
suas ações era médico-higiênica e desenvolveu várias campanhas de 
vacinação e de combate à desnutrição, pesquisas de cunho médico e 
palestras populares para mães, fortalecendo o papel da mulher no lar 
com o cuidado com os filhos” (Cartaxo, 2006, p. 45). 
 Serviço de Assistência a Menores: criado em 1941, vinculado ao 
Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores, dirigido ao atendimento 
aos menores de 18 anos, abandonados e delinquentes. Em 1964, 
foi extinto, por não conseguir cumprir com suas tarefas. Com as 
mesmas atribuições, surge a Fundação Social do Bem-Estar do Menor 
(FUNABEM). 
 Legião Brasileira de Assistência (LBA): criada em 1942, seu objetivo 
era disponibilizar serviços sociais à família e às crianças. Essa ação 
seria conjunta entre a esfera particular e pública. Em 1974, tornou-se 
uma fundação, com unidades implantadas em todo o Brasil, nas quais 
eram assistidas crianças de 0 a 6 anos, por meio de um projeto 
denominado Casulo. Atendia carências nutricionais e realizava 
atividades recreativas. 
 Organização Mundial para Educação Pré-Escolar (OMEP): criada em 
1953, no Rio de Janeiro. Atendia crianças de 0 a 7 anos, independente 
da classe social, com ações direcionadas à consciência sobre a 
necessidade da criação da educação infantil. 
 Coordenação de Educação Pré-Escolar (COEPRE): originada em 
1975, pelo Ministério da Educação e Cultura. Tentativa de criar um 
programa escolar para crianças pequenas. Realizou seminários para 
diagnóstico da educação pré-escolar no Brasil, com intuito de provocar 
a existência de programas para nortear o país. 
 Em 1950, o Departamento Nacional da Criança identificou que a 
mortalidade infantil era resultado da incompetência das mães. Ou seja, era 
necessário “domesticar” as pessoas das classes menos favorecidas, com os 
princípios da classe média, a fim de torná-las mais “civilizadas”. Em nenhum 
momento, a real situação econômica, que envolve moradia, alimentação e outros 
itens necessários para o bem viver, foi verificada e discutida. 
Nessa época, chega às creches a vertente psicanalista, que defendia a 
importância do afeto da mãe com o filho, para o desenvolvimento saudável da 
criança. As mães que precisavam deixar seus pequenos sentiam-se culpadas, 
pois acreditavam que tal atitude poderia promover danos irreparáveis. “A relação 
entre a situação econômica precária e o ato de delegar a outrem a educação das 
crianças propiciou o surgimento da conotação negativa do atendimento à criança 
fora da família” (CARTAXO, 2013, p. 37). 
Na década de 1960, surge a educação compensatória, que nada mais é 
que um modelo de criança média, que deveria ser seguido pela sociedade. 
Aquele que não se enquadrava nesse padrão era estigmatizado como carente e 
inferior. Nessa época verificou-se que [...] a homogeneidade da escola tem 
excluído muitas crianças do processo de ensino-aprendizagem. Começam a ser 
valorizadas as diferenças no modo como são selecionados os conhecimentos, a 
consideração pelas riquezas e experiências socioculturais, as diferenças 
subjetivas das crianças e suas histórias de vida”. (BARBOSA; HORN, 2008, p. 
29). 
 
 
Acreditava-se que para desenvolver-se era necessário frequentar a 
creche, agora responsável por promover essa mudança. Entretanto, tal 
responsabilidade não é dever da escola, envolve outros eixos mais complexos, 
que exigem mudanças políticas e sociais que não cabe à instituição escolar. 
Na década de 1970, eleva-se o número de movimentos sociais que 
exigem maior quantidade de creches, por parte do Estado. Em alguns lugares, 
como São Paulo, houve gradativamente a expansão de instituições que atendem 
crianças. 
Ressalta-se nesse período, a criação do Projeto Casulo, que tinha como 
objetivo “atender às crianças [...], proporcionar às mães tempo livre para 
ingressar no mercado de trabalho, de modo a que possam elevar a renda 
familiar” (Kramer, 1987, p. 76). 
Implantadas em todo o território nacional, as unidades atendiam as 
crianças de quatro a oito horas diárias, conforme as condições locais. Promovia 
atividades recreativas específicas a sua faixa etária, sem foco direcionado à 
escolarização futura, e preocupava-se com as carências nutricionais. A falta de 
recursos humanos foi o maior desafio desse projeto. 
 
Anos 1980 aos dias de hoje 
 
 Na década de 1980, universalizou-se a ideia de que todas as crianças 
pequenas, independente da classe social, devem ser beneficiadas com o 
atendimento promovido pela creche. Com a pressão realizada por movimentos 
sociais e feministas, a Constituição de 1988, reconheceu a educação das 
creches como direito da criança e dever do Estado. 
 Nos anos 1990, “[...] o MEC realizou vários seminários e debates, 
envolvendo a participação de vários segmentos da sociedade, com o propósito 
de construir uma nova concepção para a educação de crianças de 0 a 6 anos” 
(Cartaxo, 2013, p. 48). A legislação foi revisada, para atender com maior 
qualidade a educação infantil, pois a concepção da criança alterou-se. Momento 
em que as pessoas percebem a importância das instituições infantis para o 
desenvolvimento do sujeito, e o estado assume tal responsabilidade. 
 
 
Figura 2.5: Educação infantil acessível para todos Fonte: ©Freepik 
Vários documentos são elaborados visando à melhoria da educação: 
 
 Estatuto
da Criança e do Adolescente. 
 Lei de Diretrizes e Bases da Educação. 
 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. 
 Diretrizes Operacionais para a Educação Infantil. 
 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da 
Educação Básica. 
 Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil – 2006. 
 Política Nacional de Educação Infantil. 
 Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício em Educação 
Infantil. 
 Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil. 
 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 
 
Os documentos visam ampliar e garantir a educação infantil e oferecê-la 
com qualidade. Dessa forma, “[...] a escola deve sair da sua função de 
transmissora de conhecimentos a serem acumulados para assumir a capacidade 
de atuar e organizar os conhecimentos em função das questões que se 
levantem” (BARBOSA; HORN, 2008, p. 28). Para tanto, é necessário que os 
profissionais que atuam com essa faixa etária tenham qualificação e preparo 
acadêmico. Assim, conseguem proporcionar atividades embasadas em estudos 
relacionados a essas áreas, saindo do improviso e de ações relacionadas ao 
senso comum. 
Passou-se de uma concepção segundo a qual as crianças eram vistas 
como seres em falta, incompletos, apenas a serem protegidos, para uma 
concepção das crianças como protagonistas do seu desenvolvimento, realizado 
por meio de uma interlocução ativa com seus pares, com os adultos que as 
rodeiam, com o ambiente no qual estão inseridas (BARBOSA; HORN, 2008, p. 
28). 
 A concepção de educação infantil atual proporcionou mudanças 
significativas na utilização dos espaços, nas atividades empregadas, na 
formação dos professores e principalmente no modo como é entendida a criança. 
Agora é um local direcionado ao aprendizado e ao desenvolvimento do sujeito. 
Todas as ações estão direcionadas para garantir que o aluno evolua em seu 
aprendizado e obtenha bons resultados. 
A educação infantil no Brasil foi marcada pelo caráter preconceituoso, a 
princípio utilizada por pessoas desfavorecidas economicamente e consideradas 
ignorantes pela classe dominante. Da Roda dos Expostos às ações empregadas 
até o início da década de 1980, evidencia-se que as crianças mais pobres eram 
levadas a esses espaços com o intuito de seus progenitores se livrarem de um 
problema, ou trabalhar para garantir melhor renda para a família. Somente a 
partir do fim dos anos 1980, a educação infantil passa a ser entendida como o 
espaço direcionado ao desenvolvimento do sujeito. Após esse período, vários 
estudos, pesquisas, congressos são proferidos com o intuito de refletir sobre o 
ensino das crianças pequenas. Tais ações culminaram na elaboração de 
documentos por parte do Estado, que finalmente assume a responsabilidade de 
garantir ensino de qualidade para a educação infantil. 
 
 
Atividades de Aprendizagem 
A partir de 1980, algumas mudanças ocorreram no âmbito relacionado à 
educação infantil. Quais foram as principais transformações? 
 
 
 
 
1 
 
 
Aula 3 – Determinações Legais para a Educação Infantil no 
cenário educacional brasileiro 
 
As determinações legais orientam o sistema educacional brasileiro, 
apontam como deve ser conduzido o ensino no país e os avanços em relação à 
educação infantil. 
 
Estatuto da Criança e do Adolescente 
Historicamente, a concepção de criança sofreu alterações. Atualmente, o 
infante é considerado um sujeito com direitos, portanto, necessita que a 
legislação reze sobre tal conceito e dirija a ele atenção e proteção necessárias 
para viver em ambiente salutar e digno, que contribua plenamente para o seu 
desenvolvimento. Por isso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado 
em 1990, determina os direitos e deveres correspondentes a essa faixa etária. 
 
 
 
 
O ECA surge com o intuito de regular a Constituição Federal de 1988, 
mais especificamente o art. 227, que trata sobre a proteção integral e o princípio 
da prioridade absoluta. Sua formulação apresenta duas propostas fundamentais: 
a primeira concerne direito à criança, tratada anteriormente como mero sujeito 
que sofria intervenção da família e do Estado; a segunda, aponta para a 
necessidade da criação de uma nova política pública de atendimento a esse 
público, com a descentralização política administrativa, ou seja, a sua 
municipalização, aliada a ações da sociedade civil. 
Glossário 
Rezar: fazer uma determinação; dar uma ordem: isto é o que reza a lei. 
 
Olá! Seja bem-vindo à terceira aula da disciplina Fundamentos 
Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil. Durante a aula, você 
conhecerá o Estatuto da criança e do Adolescente e as Leis de Diretrizes e 
Bases da Educação. Estudante, que tal irmos para o aprendizado? 
 
 
2 
 
Tais ações serão essenciais para oferecer o alicerce necessário para 
minimizar os efeitos relacionados à marginalidade para um público desprovido 
de assistência, vulnerável e envolto na exclusão social. 
Diante desse contexto, a falta de cuidados com as crianças, por diferentes 
sujeitos que a negligenciaram, seja em nível familiar, social ou mesmo do 
Estado, faz-se necessário proporcionar aos infantes atenção e proteção, e que 
lhes sejam concedidos seus direitos fundamentais, minimizando os efeitos 
relacionados ao abandono social. 
 
 
 
 
 
Esses apontamentos podem ser observados no Estatuto da Criança e do 
Adolescente, conforme os artigos abaixo: 
Art. 2º. Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até 
doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e 
dezoito anos de idade. 
Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos 
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção 
integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por 
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes 
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em 
condições de liberdade e de dignidade. 
 Assim, no referido Estatuto observa-se o apontamento claro e 
objetivo sobre a faixa etária considerada como criança e adolescente. Tais 
idades podem sofrer alterações se forem observadas sobre o crivo da psicologia 
e da pedagogia. 
Além disso, nota-se outro ponto interessante, quando refere a substituição 
da designação anterior de menor, que era discriminatória e pejorativa, para a 
aplicação da denominação de criança e adolescente, que concede a esse sujeito 
o direito à cidadania e à dignidade. 
 
Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do 
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos 
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao 
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. 
Glossário 
Exclusão social: é o distanciamento de uma pessoa ou grupo que esteja em 
situação desfavorável ou vulnerável em relação aos demais indivíduos e 
grupos da sociedade. 
 
 
 
3 
 
 
 
Nesse ponto está evidente a necessidade da ação conjunta de todas as 
esferas sociais, para propiciar meios de oportunizar a promoção e defesa dos 
direitos das crianças e dos adolescentes. 
Vale ressaltar que a família foi a primeira a ser selecionada para 
desenvolver tal ação, haja vista que todo o empenho às ações deve ocorrer 
preferencialmente nesse âmbito. 
Ademais, aponta como direito a convivência familiar, pois é considerada 
como essencial para o progresso integral do sujeito. 
A proteção à criança e ao adolescente, estabelecida no Art. 70 do Estatuto 
da Criança e do Adolescente, consiste em dar proteção à vida e à saúde dessas 
pessoas, oportunizar o desenvolvimento harmonioso e condições dignas de 
existência. Ademais, o Estatuto reza sobre a atenção despendida para o bem- 
estar da gestante e da parturiente,
de modo que sejam oportunizados meios para 
o desenvolvimento saudável do bebê. Nesse sentido, considera-se o cuidado 
com a vacinação, a odontologia e os tratamentos médicos. 
 
 
 
Figura 3.1: Vacinação de crianças 
Fonte: Istockphoto 
 
 
Atenção! 
O Estatuto da Criança e do Adolescente é um documento importantíssimo em 
sua totalidade, pois versa sobre questões específicas da criança e do 
adolescente. 
 
 
 
4 
 
Em relação à liberdade, o art. 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente 
prevê que a criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à 
dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como 
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas 
leis. Dessa forma, é inviolável que essas ações sejam respeitadas. No próximo 
artigo é tratado de forma específica o direito que rege a liberdade. 
 Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: 
 I - ir,vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, 
ressalvadas as restrições legais; 
 II – opinião e expressão; 
 III - crença e culto religioso; 
 IV – brincar, praticar esportes e divertir-se; 
 V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; 
 VI - participar da vida política, na forma da lei; 
 VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. 
 
Assim sendo, o referido artigo evidencia o cuidado com os sujeitos 
menores de dezoito anos, no que tange à liberdade e à participação da vida 
social e interação com seus pares. Ressalta-se a preocupação do inciso III, ao 
apontar a liberdade de crença e culto religioso. Dessa forma, ações dirigidas ao 
público mais vulnerável não podem ter como pano de fundo a religiosidade. Em 
caso de atividades beneficentes, os órgãos religiosos não podem impor sua 
forma de pensar às crianças ou aos adolescentes, tampouco utilizarem de 
barganhas para oferecer o serviço. Devem, sim, zelar para que as ações 
desenvolvidas sejam laicas e ecumênicas, em qualquer espaço, principalmente 
na escola. 
Veja o que prevê o artigo do Estatuto que segue: 
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do 
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, 
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”. Cabe a todos zelar 
pela integridade física e humana de todos os sujeitos com menos de 
dezoito anos. Respeitar essas pessoas e agir em sua defesa, caso seja 
violada. Os sujeitos que descumprirem esse ponto do Estatuto 
poderão ser encaminhados para programas oficiais, a tratamento 
 
 
5 
 
psicológico, a cursos ou programas de orientação ou receber 
advertência. Tais ações serão encaminhadas pelo Conselho Tutelar. 
 
 
No art. 53 do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente são 
apontados o Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer. Nesse 
capítulo, particularmente, são evidenciados aspectos relacionados à educação. 
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao 
pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da 
cidadania e qualificação para o trabalho. 
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do 
processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas 
educacionais. 
Como pode observar, esse artigo enfatiza a atenção à cidadania e ao 
desenvolvimento pleno do sujeito, oportunizando ações pedagógicas destinadas 
a tal fim. 
Ressalta-se a importância da participação da família nesse processo, de 
forma a contribuir com definições importantes para esse processo, uma vez que 
é indelegável o papel da família no preparo dos sujeitos para a sociedade. 
Assim, nada mais justo que a cooperação na elaboração de regimentos 
escolares e outras ações próprias da escola. 
O próximo artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente refere-se à 
educação infantil. 
“Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao 
adolescente: 
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero 
a cinco anos de idade”. 
 
 
Esse ponto sofreu alteração após o ensino de nove anos ser promulgado. 
Ao Poder Público cabe se adequar para atender à demanda da matrícula na pré-
escola. Talvez seja pelo fato da educação infantil não ser obrigatória que o artigo 
56 menciona como responsabilidade dos dirigentes do ensino fundamental 
comunicar sobre casos envolvendo maus-tratos. Em nenhum momento se dirigiu 
para as instituições que atendem crianças de zero a cinco anos. Dá a entender 
que a preocupação recai no Ensino Fundamental, desconsiderando outras 
etapas, principalmente a infantil. 
 
 
6 
 
Os artigos mencionados são os mais empregados no âmbito educacional, 
principalmente na Educação Infantil. 
 
Você sabia? 
Que o ECA coloca o Brasil em posição de destaque entre os demais países do 
mundo por ser considerado uma das leis mais avançadas na defesa dos direitos 
das crianças e dos adolescentes. 
 
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) de 1996 
regulamenta o fundamento, a estrutura e a normatização do sistema educacional 
no âmbito nacional. A primeira versão ocorreu em 1961 (Lei nº 4.024/61), a última 
em 1996 (Lei nº 9.394/96). Tal caminho foi trilhado no final do Estado Novo, em 
1946, mas somente com a Constituição de 1988 concedeu à União o direito de 
legislar sobre a educação nacional. A LDB 9.394/96 regulamenta todos os níveis 
de ensino, reitera o direito à educação garantido pela Constituição Federal, 
determina os princípios da educação e os deveres do Estado, em se tratando 
das responsabilidades entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios. 
 Quando criada, a LDB de 1996 respaldou-se na Constituição 
Federal de 1988, nela consta os “direitos sociais à educação, saúde, 
alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à 
maternidade e infância e à assistência aos desamparados”. Essas legislações 
foram essenciais para o sistema educacional brasileiro, uma vez que aponta para 
ascensão em relação às conquistas relacionadas ao bem comum, denotando a 
preocupação em regulamentar esse processo e a busca em proporcionar tais 
direitos. Ressalta-se que, durante esses anos, a LDB sofreu inúmeras 
alterações. 
O art. 205 da Constituição Federal estabelece que: 
“A educação, é direito de todos e dever do Estado e da família, 
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, 
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o 
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. 
A educação infantil, entendida como dever do Estado e da família, deve 
buscar diálogos constantes com a sociedade, para oportunizar troca de 
 
 
7 
 
informações sobre a criança. No entanto, é papel específico das instituições 
escolares ampliar as vivências das crianças e enriquecê-las com saberes 
diferenciados para expandir suas referências pessoais. Ademais, também é 
papel da escola propiciar a integração social, por meio da convivência com seus 
pares e com adultos. 
 
 Figura 3.2: Capa da Constituição do Brasil de 1988 
Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bandeira_do_Brasil_Constiti%C3%A7%
C3%A3o_do_Brasil.JPG 
 
 Com o intuito de pensar na educação e garantir a sua qualidade, o 
Estado assume a responsabilidade de delimitar sobre a formação e 
sistematização do conhecimento no âmbito nacional. Dessa forma, a mesma 
temática poderia ser trabalhada em diferentes lugares do país, uma vez que se 
parte “[...] do pressuposto que uma lei é um ornamento jurídico de aplicação 
universal que deve ser obedecida por todos os membros de uma sociedade” 
(NASCIMENTO, 2005, p. 101). Assim, ocorreu a reestruturação e 
renormatização do sistema educacional brasileiro. 
 
 Com a criação da LDB não se encerrou o assunto sobre o sistema
educativo, pois havia a necessidade de refletir sobre o processo envolto em suas 
 
 
8 
 
especificidades. Essa abertura oportunizou reflexões acerca de suas nuances 
com enfoque na educação. De modo geral, não há dúvidas que o discurso dessa 
lei denota progressivos avanços educacionais no Brasil, pois há interesse em 
oferecer qualidade no ensino, sem distinguir classes sociais. Tal interesse 
observa-se no art. 3º da Lei de Diretrizes e Bases: 
“Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes 
princípios: 
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na 
escola; 
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a 
cultura, o pensamento, a arte e o saber; 
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; 
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; 
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; 
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 
VII - valorização do profissional da educação escolar; 
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei 
e da legislação dos sistemas de ensino; 
IX - garantia de padrão de qualidade; 
X - valorização da experiência extra-escolar; 
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as 
práticas sociais”. 
Os princípios acima perpassam todos os níveis de educação, inclusive a 
infantil. Dessa forma, esses conceitos precisam ser aplicados no âmbito escolar, 
em se tratando da documentação vigente dessas instituições. Logo, são regras 
preestabelecidas pelo Ministério da Educação que devem ser aplicadas no dia a 
dia, aliando as especificidades locais. Tais orientações devem nortear o Projeto 
Político Pedagógico (PPP) do ambiente escolar que de forma alguma pode se 
dissociar da LDB/1996. Aos Estados e Municípios cabem deliberar sobre a 
Proposta Pedagógica de suas instituições. Essas especificações podem ser 
verificadas no art.15 da LDB: 
 
 
9 
 
[...] essa lei deixa explícito que às unidades escolares 
públicas de educação básicas integradas ao sistema 
serão assegurados graus de autonomia pedagógica e 
administrativa, além de autonomia financeira, desde que 
sejam seguidas as normas gerais de direito financeiro 
público (CARTAXO, 2013, p. 168). 
 
Ao verificar o processo histórico, é visível o posicionamento do Estado 
brasileiro que se eximia de assumir a responsabilidade pela garantia da 
educação. Na LDB/1996 é possível observar claramente a mudança dessa 
atitude, por meio do seu art. 40: 
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 
(dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: 
a) pré-escola; 
b) ensino fundamental; 
c) ensino médio; 
A inserção da pré-escola na educação infantil denota o reconhecimento 
de que os princípios educacionais na tenra idade são importantes para o 
desenvolvimento do sujeito. Nascimento (2005, p. 102) corrobora esse 
entendimento ao afirmar que “A educação infantil integra a educação básica 
juntamente com o ensino fundamental e médio. Ou seja, por lei, a educação 
infantil é um nível de ensino [...]”. Apesar de tais avanços, que incube o poder 
público de garantir a educação básica gratuita, ela não contempla as fases 
iniciais da educação infantil. Assim, as crianças de menor faixa etária não são 
enquadradas nessas especificações. 
Em outro ponto da lei, mais especificamente no art. 21, novamente é 
ressaltada a composição da educação escolar, sendo o ensino infantil integrado 
à educação básica: 
I – educação básica, formada pela educação infantil, ensino 
fundamental e ensino médio; 
II – educação superior. 
 
Na LDB/1996 é possível observar a importância que a Educação Infantil 
assume na contemporaneidade, uma vez que uma nova concepção de infância 
é instaurada socialmente. 
 
 
10 
 
Dessa forma, a criança é concebida de forma única e, neste sentido, 
torna-se necessário pensar no ensino direcionado para a sua faixa etária. 
Por isso, a educação infantil foi colocada em destaque, inexistente nas 
legislações anteriores, sendo criada a Seção II, do Capítulo II da Educação 
Básica, específica para ela, levando em conta as particularidades próprias do 
infante e atribuindo significado às ações que consideram o desenvolvimento 
integral do sujeito. Tal aspecto pode ser observado no artigo que segue: 
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem 
como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) 
anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, 
complementando a ação da família e da comunidade. 
 
Figura 3.3: Desenvolvimento integral da criança 
Fonte: Shutterstock 
 
Sabendo-se das singularidades das crianças referentes a cada etapa de 
seu desenvolvimento, a LDB no seu art. 30 procurou segmentar a oferta do 
atendimento ao infante da seguinte forma: creches, ou entidades equivalentes, 
para crianças de até três anos de idade; pré-escolas para as crianças de 4 a 5 
anos de idade. “Embora a educação infantil seja parte integrante da educação 
básica, sua especificidade é pouco reconhecida, para não dizer desconsiderada. 
Aliás, com relação à especificidade, a única diferença apontada pela lei entre a 
creche e a pré-escola diz respeito à faixa etária” (NASCIMENTO, 2005, p. 107). 
Ações referentes à escolarização na educação infantil, apontadas na LDB, 
precisam ter posicionamento cauteloso, uma vez que é necessária a junção do 
cuidado e da assistência no processo educativo, quando se refere a crianças 
pequenas. 
 
 
11 
 
Além disso, é importante propiciar reflexões acerca do processo educativo 
que ocorre na creche, para não correr o risco de primar somente pelos aspectos 
referentes ao cuidar. 
Assim, “O assentado na LDB corre o risco de desconsiderar as ações de 
assistência e do cuidado pelo fato de privilegiar o educativo por meio da 
escolarização” (NASCIMENTO, 2005, p. 108). Esse posicionamento pode ser 
identificado no artigo abaixo: 
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as 
seguintes regras comuns: 
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento 
das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao 
ensino fundamental; 
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída 
por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional; 
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para 
o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral; 
IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, 
exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de 
horas; 
V - expedição de documentação que permita atestar os processos de 
desenvolvimento e aprendizagem da criança. 
Glossário 
Assentado: que é membro de um assentamento, local onde estão acampados 
trabalhadores rurais. 
 
Na LDB é claro o posicionamento sobre as práticas de avaliação 
referentes à promoção, seleção e classificação, principalmente no que tange às 
práticas que retêm a criança que não está alfabetizada na educação infantil, 
impedindo sua ida para o ensino fundamental. 
O processo avaliativo pressupõe atitudes referentes à observação e ao 
modo como será registrado o desenvolvimento do infante. Essas atitudes 
promovem reflexões sobre a prática que deve ser adotada para atingir os 
objetivos propostos, bem como refletirá no aperfeiçoamento do profissional. 
A LDB utiliza sete artigos para fazer considerações importantes sobre o 
papel do profissional da Educação, passando a privilegiar o perfil do professor. 
Assim sendo, o art. 62 determina que “a formação de docentes para atuar 
na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de 
graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, 
 
 
12 
 
admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação 
infantil e nos cinco primeiros anos do
ensino fundamental, a oferecida em nível 
médio, na modalidade normal”. 
Desse modo, é possível observar na legislação que o magistério é a 
formação mínima exigida ao profissional que atuará na educação infantil e na 
primeira etapa do ensino fundamental. 
Para os outros níveis, a exigência é o ensino superior, apesar da 
LDB/1996 apontar que, se o professor tiver apenas o nível médio, na modalidade 
normal, pode lecionar nas etapas referidas. Esse posicionamento dá a entender 
que não é necessário diploma para atuar com as crianças pequenas. 
Dessa forma, identifica-se com o modo como historicamente a educação 
é concebida, ou seja, está intrinsecamente ligada ao fazer doméstico. Por esse 
viés, parece que o ensino infantil é desvalorizado, pois não há a necessidade de 
utilizar os conhecimentos presentes no mundo acadêmico nesse tipo de 
trabalho. “Embora a educação infantil seja parte integrante da educação básica, 
sua especificidade é pouco reconhecida, para não dizer que é desconsiderada” 
(NASCIMENTO, 2005, p. 107). 
Atualmente, a LDB/1996 foca-se na questão específica dos professores e 
procura valorizar o profissional, por meio de planos de carreiras, progressão 
funcional, aperfeiçoamento contínuo, piso salarial, período reservado para 
estudos, planejamento e avaliação dos conteúdos ministrados. 
Para promover essa valorização, a legislação estabelece o regime de 
colaboração entre União, Estados e Municípios, de modo que haja colaboração 
entre eles para a organização de seus sistemas de ensino. 
A esse respeito, Nascimento (2005, p. 105) afirma que “A questão, no 
entanto, diz respeito à ausência de uma definição precisa das fontes de recursos 
que farão com que a educação infantil efetivamente se constitua em um 
atendimento de caráter nacional”. 
Nesse sentido, notam-se avanços significativos em relação a pontos 
sobre a educação infantil na LDB/1996. As suas especificidades denotam o 
reconhecimento dessa etapa da educação, principalmente em se tratando do 
modo como são expostos pontos importantes na legislação. 
Desse modo, a legislação tem o intuito de formar cidadãos, mas há que 
ter o cuidado para não escolarizar o ensino infantil, ou voltar-se ao 
 
 
13 
 
assistencialismo. Logo, há a necessidade de trabalhar harmoniosamente com o 
cuidar ao mesmo tempo que emprega propostas relacionadas ao educar. 
A Constituição Federal de 1988 foi o primeiro documento a apontar a 
educação como dever do Estado Brasileiro. Em 1990, o Estatuto da Criança e 
do Adolescente (ECA), foi criado para nortear novas concepções relacionadas 
com a infância. Depois, surgiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), 
promulgada em 1996, que determina sobre o sistema educacional brasileiro. 
Suas orientações concernem ao modo como deve ser conduzido o ensino no 
país. 
Nesse contexto, notam-se avanços significativos em relação à concepção 
relacionada com a criança, principalmente quando se refere às determinações 
legais. Da Constituição de 1988 às Leis de Diretrizes e Bases de 1996, é notória 
a preocupação em perceber as nuances direcionadas à educação de torná-la 
obrigatória, com clareza e equidade para o ensino nacional. 
Assim, o caráter doméstico e desprovido de profissionalismo é rechaçado, 
ou seja, é orientado para o fazer, o trabalho, pelo viés pedagógico. As leis 
mencionadas são referências bibliográficas imprescindíveis para compor seu 
acervo profissional e orientá-lo em seu trabalho pedagógico. 
 
Atividade de aprendizagem 
 
1) Segundo a LDB, quais diferenças podem ser apontadas entre a creche e a 
pré-escola? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
 
 
Aula 4 – As Diretrizes e o Referencial Curricular Nacional da 
Educação Infantil 
 
 
 
 
O Referencial Curricular Nacional (RCNEI) foi criado para embasar as 
ações referentes à educação infantil, apresentando-lhe possibilidades 
diferenciadas das empregadas no âmbito escolar. 
 
Características do Referencial Curricular Nacional 
 
 
Olá! Seja bem-vindo, seja bem-vinda, à quarta aula da disciplina 
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil. Durante a 
aula, você conhecerá as Diretrizes e o Referencial Curricular Nacional da 
Educação Infantil. Então, vamos mergulhar neste aprendizado? 
 
 
15 
 
Figura 4.1: Capa da Introdução do Referencial Curricular Nacional 
Fonte: Portal do MEC 
 
O Referencial Curricular Nacional (RCNEI), criado em 1998, constitui um 
conjunto de referências e orientações que buscam propiciar práticas educativas 
de qualidade. Sua função visa socializar informações, promover discussões e 
pesquisas e contribuir para a educação infantil em seus diferentes sistemas. 
Nesse documento a proposta é aberta, flexível e não é obrigatória, ou seja, pode 
ser adaptada conforme as especificidades de cada recôndito do país. 
A primeira versão foi analisada por quinhentos especialistas que 
apontaram as conquistas políticas referentes à educação infantil e a inseriram 
no sistema de ensino regular, atualmente conhecido como Educação Básica. 
 
Sua função é contribuir com as políticas e programas de educação 
infantil, socializando informações, discussões e pesquisas, 
subsidiando o trabalho educativo de técnicos, professores e demais 
profissionais da educação infantil e apoiando os sistemas de ensino 
estaduais e municipais (MEC, 1998, p. 15). 
 
O Referencial aponta a importância de a educação infantil ser reconhecida 
e apoiada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), no entanto há muito 
a ser conquistado. 
Assim, entre os estudiosos sobre o Referencial destaca-se a crítica de 
que “A estrutura do documento foi considerada complexa. O excesso de 
divisões, títulos e subtítulos prejudica a compreensão do todo. Alguns tópicos 
estão fora de lugar, alguns repetidos” (CERISARA, 2005, p. 25). 
O documento é a primeira proposta voltada para a educação infantil, 
constituído por objetivos gerais e específicos, conteúdos e ações didáticas 
direcionadas para crianças de 0 a 6 anos de idade, e refere os aspectos 
históricos, relacionados ao assistencialismo e ao educar, de forma superficial e 
polarizada. 
A concepção do RCNEI está embasada nas teorias de Piaget, Vygotsky 
e Wallon. Logo, a fundamentação baseia-se na psicologia cognitiva, quase que 
prioritariamente de base piagetiana. 
 
 
16 
 
O termo empregado pelos seus autores é “construtivismo socialmente 
determinado”, respaldado no construtivismo do desenvolvimento, do ensino e da 
aprendizagem. Muitos pesquisadores, que avaliaram o referencial, comentam 
que a sua base teórica é confusa e pouco aprofundada. Algumas vezes, as 
abordagens são contraditórias, simplificadas ou até mesmo mal-empregadas. 
Tais situações geram problemas de coerência e entendimento, 
principalmente por dar a impressão de que o processo de ensino-aprendizagem 
tradicional pode ocorrer antes do tempo da maturidade da criança (CERISARA, 
2005). 
 A estrutura do documento apresenta-se da seguinte forma: 
 
 Volume 1: Documento introdutório 
 Volume 2: Formação pessoal e social 
 Volume 3: Conhecimento de mundo 
 
No primeiro documento, é apresentada a diferença entre creche e pré-
escola, sendo que a primeira se refere a crianças de 0 a 3 anos e a segunda de 
4 a 5 anos. Ele relata, brevemente, sobre o preconceito existente quando se faz 
referência à creche, destinada a crianças oriundas de famílias humildes, e ao 
jardim de infância, voltado para a classe privilegiada. 
No segundo momento, enfatiza os seguintes aspectos: criança, educar, 
cuidar, brincar, professor de educação infantil, organização por idade, 
organização em âmbitos e eixos, bem como a instituição e o projeto educativo. 
Refere também as relações familiares, os objetivos gerais da educação infantil, 
a importância da observação, o registro e a avaliação. 
Nos volumes dois e três, em cada área de trabalho, pode se verificar 
alguma
variação, mas em sua maioria são apresentados os seguintes tópicos: 
as concepções vigentes nas instituições de educação infantil; a concepção do 
eixo ou da área; a aprendizagem na área; os objetivos, os conteúdos, os critérios 
de avaliação e as orientações didáticas para crianças de 0 a 3 anos e de 3 a 6 
anos; e a bibliografia. 
O segundo volume, denominado “Formação Pessoal e Social”, é 
composto pelos seguintes assuntos: Conhecimento de si e do outro; Movimento 
 
 
17 
 
e Brincar, que tratam de vivências relacionadas ao desenvolvimento afetivo e 
global e seus esquemas simbólicos. 
O terceiro volume intitulado “Conhecimento do Mundo”, é constituído 
pelos temas: Artes Visuais; Língua Escrita e Língua Oral; Música; Matemática; 
Natureza e Sociedade. As linguagens são escolhidas por representar parte da 
produção cultural, enfatizando-se as diferentes linguagens em contato com a 
cultura. 
No que concerne à divisão em eixos de trabalho e em áreas, é priorizado 
o aspecto cognitivo sobre os demais aspectos relacionados ao ser humano, 
como ser integrado e único. 
Esse rompimento pode levar ao equívoco de trabalhar com o 
conhecimento de forma fragmentada, ou então, levar os profissionais da área 
que atendem “crianças de 0 a 6 anos a usarem o documento ‘Desenvolvimento 
Pessoal e Social’, e aqueles que atendem crianças de 4 a 6 anos o de ‘Ampliação 
do Universo Cultural” (CERISARA, 2005, p. 32). 
Os conceitos abordados no RCNEI propõem oportunizar práticas que 
favorecem o pensar, o sentir e o compreender a realidade na qual a criança está 
inserida. 
No entanto, a sua estrutura baseia-se no modelo tradicional escolar, 
pautado pelo modo instrumental de trabalho dos professores. E em cada eixo, o 
documento organiza-se por meio de objetivos, conteúdos, critérios de avaliação 
e orientações didáticas. 
Assim sendo, os conceitos dessa organização podem levar o professor a 
tratar as crianças como pequenos alunos e a exigir o comportamento e a 
aprendizagem equivalente ao ensino fundamental, situação essa que fere o 
desenvolvimento do infante. 
No documento nota-se, ainda, o intuito de tratar a educação infantil da 
mesma forma que a do ensino fundamental, ou melhor, foca-se o ensino e o 
modo como se trabalha com essa etapa de desenvolvimento. 
Contudo, tal concepção é um “[...] retrocesso em relação ao avanço já 
encaminhado na educação infantil, de que o trabalho com crianças pequenas em 
contexto educativo deve assumir a educação e o cuidado enquanto binômios 
indissociáveis, e não o ensino” (CERISARA, 2005, p. 28). 
 
 
18 
 
Logo, nessas concepções há especificidades claras que as distinguem, 
mas que não são respeitadas, pois a educação deve focar o respeito às etapas 
de desenvolvimento e criar situações lúdicas, prazerosas para que ocorra o 
aprendizado pleno do sujeito. 
Em vários trechos do texto é possível identificar a terminologia que dá a 
impressão do desejo de promover a escolarização do aluno desde os primeiros 
dias de vida. 
Contudo, o eixo principal refere-se à criança e a todo o seu entorno, que 
precisa ser acolhedor e criativo, sem a burocracia e o controle mantido pela 
intervenção do adulto. 
Quanto ao texto escrito, não há clareza em relação ao interlocutor, ou 
seja, para quem foi escrito o documento? Em alguns momentos da leitura, dá a 
entender que o destinatário é a equipe gestora, em outros parece que é dirigida 
aos professores. 
Assim, enfatiza-se a linguagem simplificada e o teor que se assemelha a 
receitas que devem ser seguidas, e não promovem reflexões que favorecem o 
aprendizado (CERISARA, 2005). 
O referencial refere as concepções históricas da criança em um processo 
histórico, a princípio destinado às famílias humildes. Anteriormente, o 
assistencialismo estava fortemente presente, sendo que esse documento propõe 
modificar tal conceito. 
Para tanto, são necessárias reflexões sobre a criança e a classe social, 
bem como a responsabilidade assumida pelo Estado e pela sociedade. Cerisara 
(2005, p. 29), acerca do parecer, considera que: 
 
[...] predomina no RCNEI uma concepção abstrata e reducionista que 
a vê unicamente como aluno, pois apesar de ter uma concepção de 
histórico-social, o documento não toma a criança como princípio 
educativo, uma vez que privilegia mais o “sujeito escolar” que o “sujeito 
criança”. 
 
O entendimento de que a criança possui direitos fica alheio a essa 
concepção; dessa forma, não há menção à importância da felicidade e da 
cidadania em relação à criança. 
O documento considera o infante como ser abstrato que frequenta a 
instituição escolar, e não o coloca como sujeito que tem desejos, sonhos, 
 
 
19 
 
vontades e constrói a singularidade de sua história, sem deixar de ser criança, 
independentemente de sua condição financeira, histórica, física, ou qualquer 
especificidade pertinente a ela. 
 
 
Figura 4.2: Criança em situação lúdica 
Fonte: PublicDomainPictures 
 
No decorrer do documento, há diversas concepções referentes à primeira 
infância. Parte-se do modo como cada um entende o que é necessário trabalhar 
para o desenvolvimento da tenra idade. 
Alguns pareceres tiveram a intenção de apontar as diferentes concepções 
de criança e de contextualizá-las. Cerisara (2005, p. 30) afirma que “Em vários 
pareceres é indicado que no transcorrer do documento há várias concepções de 
criança sem que seja possível relacionar as concepções teóricas apresentadas 
com o conteúdo das demais partes da referida proposta”. 
Alguns consideram que o atendimento à infância deve ser iniciado com os 
procedimentos físicos, uma vez que o infante é frágil e precisa de cuidados, o 
que significa priorizar o aspecto relacionado ao cuidar. 
De acordo com o RCNEI (1998, p. 18), “Essas práticas tolhem a 
possibilidade de independência e as oportunidades de as crianças aprenderem 
o cuidado de si, do outro e do ambiente”. 
Todavia, as concepções que não se restringem a esse olhar entendem 
que esses cuidados não se referem somente à proteção, à saúde e à 
alimentação da criança, mas também à interação, à segurança, ao brincar, ao 
explorar o espaço e descobrir as possibilidades que o local apresenta. 
 
 
20 
 
Há ainda concepções que concentram as práticas no aspecto emocional, 
nesse caso, a cobrança recai sobre os profissionais, que são induzidos a ter a 
mesma postura que os pais das crianças. 
Em alguns casos, o foco das relações da criança é apenas o adulto, sem 
o ampliar para outros contextos. Diante dessas concepções, observa-se um 
contraste entre a relação do cuidar e a do educar: ora o cuidado é enaltecido, 
num momento, ora o educar é reverenciado, no momento seguinte. 
Para tanto, é preciso repensar as concepções de criança, como um sujeito 
histórico e social que faz parte de um contexto familiar que, por sua vez, está 
inserido em um contexto cultural e histórico. 
Assim, além das características comuns às crianças, importa conhecer e 
respeitar as particularidades individuais delas, no que se refere à forma única 
como sentem e pensam o mundo. 
A análise do processo histórico possibilita observar que, inicialmente, as 
concepções do cuidar foram predominantes, pois a tônica era colocada no 
assistencialismo. 
O cuidado estava relacionado com atitudes, auxiliar as crianças nas 
tarefas que não desenvolviam sozinhas, proteção, higiene e nutrição. Ora, tais 
ações podiam ser executadas por qualquer pessoa, não necessitavam de 
profissionalização para realizá-las. 
No entanto, o ato de cuidar, entendido como elemento essencial na 
interação com a criança pequena, possibilita criar vínculo afetivo. 
Ao profissional da educação cabe desvendar as nuances que podem ser 
expressas pelo aluno, por meio do cuidado, “principalmente, as necessidades 
das crianças que, quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas 
importantes sobre a qualidade do que estão recebendo”

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