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Doença de Chagas Ou tripanossomíase americana ou esquizotripanose, causada pelo Trypanosoma cruzi, é uma antroponose frequente nas Américas, descoberta pelo cientista Carlos Chagas, que investigou a biologia do parasito nos hospedeiros, seus reservatórios, patogenia e sintomatologia na fase aguda da doença, no Brasil, é um problema médico-social grave, atinge ≃ 8 milhões de habitantes, principalmente os que residem em condições precárias, segundo a OMS, é uma das principais causas de morte súbita na fase mais produtiva do cidadão - o chagásico é um indivíduo marginalizado, sendo um problema social e sobrecarga para órgãos de previdência social, com aposentadorias precoces. Morfologia HOSPEDEIRO VERTEBRADO: intracelularmente há formas amastigotas e, extracelularmente, tripomastigotas no sangue circulante, ambas infectantes para células in vitro e vertebrados, ao MET, as formas evolutivas do T. cruzi possuem cinetoplasto, mitocôndria modificada rica em DNA, que nomeia a classe Kinetoplastida, na qual estão os tripanossomatídeos - a análise do DNA extracelular é usada para caracterização bioquímica de amostras ou cepas de T. cruzi - os tripomastigotas sanguíneos tem polimorfismo que se correlacionam com características fisiológicas do parasito. Experimentalmente, diferentes populações de T. cruzi tem ao longo da infecção tripomastigotas sanguíneos delgados, intermediários ou largos, são observadas diferenças de comportamento entre cepas com predominância de um tipo de morfologia. - formas delgadas: mais infectantes, desenvolvendo parasitemias mais precoces e sensíveis à ação de anticorpos circulantes, assim, seriam destruídos por eles ou desapareceriam da circulação para um novo ciclo celular, são menos capazes de desenvolver no vetor e parasitam células do sistema mononuclear fagocitário (SMF) do baço, fígado e medula óssea - cepas são macrofagotrópicas; - formas largas: menos infectantes, demoram mais a penetrar nas células, desenvolve parasitemias mais tardias e resistentes à ação de anticorpos circulantes, permanecem mais tempo na corrente circulatória, cepas tem tropismo para células musculares lisa, cardíaca e esquelética, (miotrópicas). Formas delgadas seriam mais frequentes no início da infecção do hospedeiro vertebrado e gradualmente substituídas pelas formas largas, menos sensíveis à ação de anticorpos e predominariam na fase mais tardia, quando a imunidade se estabelece. HOSPEDEIRO INVERTEBRADO: inicialmente há formas arredondadas com flagelo circundando o corpo (esferomastigotas) no estômago e intestino do triatomíneo, epimastigotas no intestino e tripomastigotas no reto, o tripomastigota metacíclico é a mais natural de infecção nos vertebrados. Biologia O ciclo biológico é heteroxênico, passando o parasito por multiplicação intracelular no hospedeiro vertebrado e extracelular no inseto vetor. HOSPEDEIRO VERTEBRADO: amastigotas, epimastigotas e tripomastigotas interagem com suas células, os tripomastigotas metacíclicos eliminados nas fezes e urina, durante ou logo após o repasto sanguíneo, penetram pelo local da picada e interagem com células do SMF da pele ou mucosas, onde transformam-se em amastigotas, e multiplicam-se por divisão binária simples, a seguir, ocorre diferenciação dos amastigotas em tripomastigotas, que são liberados da célula hospedeira caindo no interstício. Estes caem na corrente circulatória, atingem outras células para cumprir novo ciclo celular, são destruídos por mecanismos imunológicos ou ingeridos por triatomíneos, onde cumprirão seu ciclo extracelular, assim, na fase aguda, a parasitemia é elevada podendo ser fatal. Quando o hospedeiro desenvolve resposta imune eficaz, diminui a parasitemia e inicia a fase crônica, há poucos parasitos na circulação, a evolução e o desenvolvimento das formas clínicas ocorrem lentamente (após 10-15 anos de infecção ou mais) - a interação entre parasito e célula hospedeira ocorre em 3 fase sucessivas: 1. adesão celular: reconhecimento e contato membrana-membrana; 2. interiorização: formação de pseudópodes e do vacúolo fagocitário, a concentração de Ca2+ auxilia na penetração do parasita na célula hospedeira e facilita a chegada dos lisossomos para as proximidades do parasita, unido a membrana do vacúolo fagocitário; 3. fenômenos intracelulares: quando as epimastigotas são destruídas no fagolisossomo e os tripomastigotas sobrevivem, resistindo às ações das enzimas lisossômicas, desenvolvendo-se no citoplasma, onde se transformam em amastigotas, multiplicadas por divisão binária simples a cada 12 horas, totalizando 9 gerações (540 parasitos), que se diferenciarão em tripomastigotas pelo alongamento - a célula hospedeira, repleta de parasitos, se rompe, liberando no interstício os tripomastigotas ou amastigotas e detritos celulares da célula hospedeira. ACIDENTES DE LABORATÓRIO: pode ocorrer entre pesquisadores e técnicos que trabalham com o parasito, no sangue de animais, pessoas infectadas, meios de cultura ou vetor. TRANSMISSÃO ORAL: pode ser na amamentação, pois o T. cruzi já foi encontrado em leite materno na fase aguda, animais ingerindo triatomíneos infectados, canibalismo entre diferentes espécies de animais, pessoas ingerindo alimentos contaminados com fezes ou urina de vetores; COITO: não comprovado em humanos, há relatos de tripomastigotas na menstruação de mulheres chagásicas e no esperma de cobaios infectados - experimentalmente, demonstrou-se infecção após depositar o T. cruzi em vagina de ratas; TRANSPLANTE: pode desencadear fase aguda grave, pois o indivíduo que recebe um órgão transplantado infectado, torna drogas imunossupressoras e se torna menos resistente à infecção. FASE AGUDA: sintomática ou assintomática, ambas relacionadas com o estado imunológico do hospedeiro, há predomínio da sintomática na 1a infância, levando à morte em ≃ 10% dos casos devido à meningoencefalite ou falência cardíaca pela miocardite aguda difusa, inicia com manifestações locais, quando o T. cruzi penetra na conjuntiva (sinal de Romaña) ou na pele (chagoma de inoculação) - estas estão em 50% dos casos agudos em 4-10 dias após a picada do barbeiro, regredindo em 1-2 meses, linfonodos-satélites são comprometidos e forma-se o complexo cutâneo e/ou conjuntivo-linfonodal. sinal de Romaña: edema bipalpebral unilateral, congestão conjuntival, linfadenite-satélite, com linfonodos pré-auriculares, submandibulares e outros aumentados de volume, palpáveis, celulite do tecido gorduroso periorbitário e palpebral e presença de vários parasitos intra e extracelulares; complexo cutâneo-linfonodal: aparecimento do chagoma primário e da linfadenite-satélite, aquele é uma inflamação aguda local na derme e hipoderme no ponto de inoculação do parasito, microscopicamente, lembra um furúnculo, seguida de regressão lenta acompanhada de descamação. As manifestações gerais são: febre, edema localizado e generalizado, poliadenia, hepatomegalia, esplenomegalia, às vezes, insuficiência cardíaca e perturbações neurológicas, alguns não normalizam o ECG, mantendo sintomatologia cardíaca - perturbações neurológicas são raras e consequência da meningoencefalite que ocorre em crianças muito jovens e pacientes imunossuprimidos. FASE CRÔNICA ASSINTOMÁTICA: sobreviventes passam por longo período assintomático (10-30 anos), fase de forma indeterminada (latente), comum em ≃ 50% dos pacientes, caracterizada por: positividade de exames sorológicos e parasitológicos, ausência de sintomas/sinais da doença, ECG convencional normal e coração, esôfago e cólon radiologicamente normais - na maioria dos casos, há cardite discreta e intensa denervação do SNA, esta forma parece estar em atividade pela presença de anticorpos líticos, apesar disso, há registros de morte súbita. Manifestações clínicas HOSPEDEIRO INVERTEBRADO: os triatomíneos se infectam ao ingerir tripomastigotas presentes na corrente circulatória do hospedeiro vertebrado no hematofagismo, no estômago do inseto se transformam em esferomastigotas, no intestino médio, se multiplicam por divisão bináriasimples, sendo responsáveis pela manutenção da infecção no vetor, e, no reto, epimastigotas se diferenciam em tripomastigotas sendo eliminados nas fezes ou na urina. Os tripomastigotas sanguíneos ingeridos se transformam em esferomastigotas no estômago do vetor, circundados ou não por flagelo, atuando no ciclo biológico do vetor, posteriormente, se transformam em tripomastigotas metacíclicos infectantes ou em epimastigotas de 2 tipos: curtos, que se multiplicam por divisão binária simples e se transformam em esferomastigotas que dariam os tripomastigotas metacíclicos, ou longos, que não se multiplicam e nem se diferenciam. TRANSMISSÃO POR VETOR: maior importância epidemiológica, ocorre pela penetração de tripomastigotas metacíclicos (eliminados nas fezes ou na urina de triatomíneos, durante o hematofagismo) em solução de continuidade da pele ou mucosa; TRANSFUSÃO SANGUÍNEA: frequente em grandes cidades, onde a prevalência da infecção é alta; TRANSMISSÃO CONGÊNITA: há ninhos de amastigotas na placenta, que liberariam tripomastigotas que chegariam à circulação fetal, o diagnóstico é feito pelo encontro do T. cruzi na placenta ou pesquisa de anticorpos IgM anti-T. cruzi no soro do recém-nascido pela RIFI ou ELISA; Mecanismos de transmissão forma cardíaca; forma digestiva; forma nervosa. FASE CRÔNICA SINTOMÁTICA: após permanecerem assintomáticos por anos, há sintomatologia relacionada com sistemas cardiocirculatório (forma cardíaca), digestivo (forma digestiva) ou ambos (cardiodigestiva ou mista), há reativação intensa do processo inflamatório, com dano desses órgãos. Na cardiopatia chagásica crônica assintomática destaca-se insuficiência cardíaca congestiva (ICC) devido à diminuição da massa muscular destruída pela substituição por áreas de fibrose interrompendo fibras e fascículos, à destruição do SNA simpático e parassimpático e ao exsudato inflamatório em atividade - outro fator responsável pelas arritmias é a lesão vorticilar ou aneurisma de ponta, encontrada no ápice dos ventrículos, na qual há pobreza de células musculares com herniação do endocárdio. Devido ao retardamento da circulação e da hipóxia, existem fenômenos tromboembólicos, há trombos cardíacos em 76% dos casos que desenvolvem insuficiência cardíaca, mas também podem estar nas veias dos membros inferiores, e, a partir deles, desprendem-se êmbolos que podem originar infartos no coração, pulmões, rins, baço, encéfalo, etc., causando morte súbita. O comprometimento do SNA regulador das contrações cardíacas causa perturbações na formação e propagação dos estímulos, quando mecanismos de compensação cardíacos não superam as deficiências da força de contração, há quadro de ICC, que inclui dispneia de esforço, insônia, congestão visceral e edema dos membros inferiores evoluindo em dispneia contínua, anasarca e morte - os pacientes tem cardiomegalia intensa. É ≃ 7-11% dos casos, há alterações morfológicas e funcionais, como a incoordenação motora caracterizando megaesôfago e megacólon. megaesôfago: prevalente em homens entre 20-40 anos residentes na zona rural endêmica, com sintomas de: disfagia, odinofagia, dor retroesternal, regurgitação, pirose, soluço, tosse e sialose. megacólon: prevalente em homens entre 30-60 anos, compreende dilatações dos cólons, mais frequentes depois do megaesôfago, o diagnóstico tardio porque a obstipação é encontrada em outras patias digestivas, as complicações mais graves são: obstrução intestinal e perfuração, levando à peritonite. Pacientes com quadro clínico dominante de manifestações neurológicas (alterações psicológicas, comportamentais e perda de memória), o mecanismo patogênico básico seria denervação, agregados de células gliais e linfóides sem parasitas, mas, na fase crônica a perda ou diminuição dos neurônios pode resultar da isquemia devido à ICC e arritmias cardíacas, e de processos auto-imunes. Patogênese e patologia DOENÇA DE CHAGAS TRANSFUSIONAL A fase aguda é semelhante a de pacientes infectados pelos triatomíneos, exceto pela ausência do chagoma de inoculação, a incubação é de 20-40 dias, com febre em 60-80% dos pacientes, muitas vezes é mal diagnosticada e confundida com infecções bacterianas, entre os sintomas: linfadenopatia e esplenomegalia, palidez, edema periorbital e dos membros, hepatomegalia e exantema, pelo ECG, há distúrbios cardíacos, taquicardia e outras alterações cardíacas, em casos mais graves não- tratados e nos imunossuprimidos, pode causar morte. No SN, há sonolência, fadiga e tremores, que, em pacientes imunossuprimidos podem progredir para contrações involuntárias irregulares e ataques tipo epilépticos devido a meningoencefalites de mau prognóstico - ≃ 20% dos pacientes são assintomáticos, assim, em pacientes não-tratados o desaparecimento dos sintomas ocorre entre 6-8 semanas ou até 4 meses, podendo evoluir para forma indeterminada ou fase crônica sintomática cardíaca e/ou digestiva. DOENÇA DE CHAGAS CONGÊNITA Transmitida na gravidez causa abortamentos, partos prematuros com bebês de baixo peso e natimortalidade, fatores como: cepa do parasito e lesões prévias da placenta facilitam a penetração do parasito, localizada nas células de Hofbauer no estroma vilositário, o T. cruzi pode atingir a circulação fetal chegando às células e órgãos do feto, macroscopicamente, a placenta tem aumento de volume e peso, palidez, edemaciada, cotilédones volumosos e esbranquiçados. Microscopicamente, as lesões são abundantes e disseminadas, há placentite chagásica associada ou não a focos de necrose e presença do parasita nas células macrofágicas, livres no estroma vilositário e na placa corial - nos casos de DCC com feto a termo, este é assintomático ou tem baixo peso, hepatoesplenomegalia, meteorismo, abdome distendido, alterações da crase sanguínea e sinais de ICC. Em natimortos, há hidropsia e maceração, hepatoesplenomegalia, hidrotórax, hidroperitônio e micropoliadenia, presença do parasita no SNC, trato esofagogastrointestinal, coração e pele, as causas de morte são: meningoencefalite, miocardite e infecções intercorrentes, e o diagnóstico é feito pela pesquisa de IgM no soro do recém-nascido, ou isolamento do parasita do sangue do cordão umbilical. DOENÇA DE CHAGAS NO PACIENTE IMUNOSSUPRIMIDO encefalite multifocal de aspecto necrotizante; forma tumoral com múltiplas lesões necrótico-hemorrágicas no cérebro; vários parasitas no interior de macrófagos, células gliais e neurônios. O envolvimento do SNC é marcante e grave diferindo das lesões neuronais em 3 aspectos: O diagnóstico é feito por métodos de detecção de imagem que sugerem também toxoplasmose, sendo necessário um diagnóstico diferencial, o tratamento é complexo devido à toxicidade das drogas e à gravidade dos efeitos colaterais, é fundamental que ambos sejam feitos de forma precoce para facilitar o sucesso terapêutico. forma indeterminada; forma cardíaca; aumento de volume e peso (cardiomegalia); congestão com espessamento nodulares branco-peroláceos no epicárdio ao longo das coronárias; hipertrofia das paredes ventriculares e atriais; dilatação dos anéis das válvulas tricúspide e mitral; presença da lesão vorticilar; miocardite crônica fibrosante em focos sistematizados e fibrilopoese difusa intersticial interfascicular; despopulação neuronal grave devido à perineurite, periganglionite e ganglionite; fenômenos regressivos das miocélulas; raros ninhos de amastigotas. forma digestiva. Vários fatores atuam direta ou indiretamente no aparecimento das lesões produzidas pelo T. cruzi, devido ao parasito ou ao hospedeiro, assim, os mecanismos pelos quais o T. cruzi determina as lesões são multifatoriais e deles depende o aparecimento ou não das formas anatomoclínicas. FASE AGUDA: a partir da porta de entrada o T. cruzi pode parasitar qualquer célula, como: macrófagos (maior chance de adesão), células de Schwann, microglia, fibroblastos e células musculares lisas estriadas, o parasito ao se multiplicar pode sofrer degeneração, liberando-se no interstício em amastigota, epimastigota ou tripomastigota,junto a organelas citoplasmáticas, devido a imunógenos e outras substâncias liberadas pela célula há inflamação aguda focal, que estabelece imunidade na 2a semana. O coração pode ser lesado intensamente, há alto parasitismo e ninhos de amastigotas em células musculares, histiócitos, fibroblastos, células gliais e raramente neurônios dos plexos nervosos, e seu rompimento leva a miocardite, predomina o exsudato inflamatório de células mononucleadas, a presença de focos inflamatórios é proporcional aos ninhos de parasitas, desse modo, a inflamação focal pode se estender e tornar difusa e grave. Macroscopicamente, há aumento da área cardíaca devido ao hidropericárdio e ao coração que fica globoso, flácido e congesto pela inflamação dos 3 folhetos (pericárdio, miocárdio e endocárdio). FASE CRÔNICA: dividida em: Indivíduos que sobrevivem à fase aguda assintomática ou sintomática evoluem para fase crônica e permanecem assintomáticos ou com infecção latente por anos. 20-30 anos após a infecção há cardiopatia chagásica crônica (CCC) sintomática que pode levá-lo à morte, o coração mostra: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. O tubo digestivo, na fase aguda, é atingido pelo T. cruzi que parasita células musculares, fibroblastos e o SN intramural, surgem sinais de incoordenação motora com alteração da secreção e absorção, e, nos casos mais graves, 10-20 anos após a infecção, em 20-30% dos pacientes surge megaesôfago e megacólon - dilatações permanentes e difusas de vísceras ocas ou canais, acompanhados ou não de alongamento da parede, não provocados por obstrução mecânica e cujo substrato anatômico seria despopulação neuronal intrínseca do órgão. A víscera oca com mega inclui: dilatação permanente e às vezes alongamento; espessamento das musculares; alterações da mucosa; porção terminal sem lesão aparente; parasitismo acentuado das células musculares e dos plexos nervosos; miosite, periganglionite, ganglionite, perineurite e neurite em focos sistematizados; fibrilopoese focal e difusa; hipertrofia das células musculares íntegras da camada muscular interna; inflamação crônica da mucosa e submucosa, às vezes com ulcerações e/ou perfurações. alterações morfofuncionais das glândulas intestinais que secretam hormônios; alterações do reflexo peristáltico intrínseco com relação ao extrínseco; alterações da neurossecreção dos gânglios simpáticos, que permanecem íntegros interferindo na motilidade e condutibilidade das células musculares; fibrose difusa, presente na CCC e nos megas, causa incapacidade contrátil do órgão. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Entre fatores patogenéticos e fisiopatológicos, destaca-se a denervação parassimpática no coração e nos megas chagásicos, e também: 1. 2. 3. 4. Nas fases aguda e crônica de doenças inflamatórias, os componentes da matriz extracelular estão relacionados com as respostas imunitárias, formam uma rede tridimensional envolvendo cada célula muscular, suas modificações constantes e dinâmicas, dependem de estímulos fisiológicos, homeostáticos e imunológicos, devido a agressões por agentes patógenos responsáveis pelas doenças fibrosantes. O fibroblasto é responsável pela síntese de tipos de colágeno, as integrinas atuam nas funções da matriz, a transmissão de impulsos da matriz para a célula ocorre por via receptores específicos transmembranas que conectam com o citoesqueleto, - nos megas e na CCC fibrosante, a neoformação congênita aumenta com a evolução da doença e modifica a fisionomia do órgão levando-o à disfunção. Diagnóstico AUTOIMUNIDADE: lesões progressivas associadas a fenômenos degenerativos intensos em pacientes com baixa parasitemia na fase crônica com formas clínicas graves, sugerem que a autoimunidade atua na gênese das lesões, pois os tecidos e órgãos do hospedeiro adquirem componentes do parasito sendo reconhecidos por anticorpos e células que atuariam sobre ele, segundo métodos mais sensíveis para detecção do parasito, sua presença nas lesões inicia o processo degenerativo e desencadeia fenômenos de auto-agressão. FASE AGUDA exames parasitológicos; exames sorológicos; exame de sangue a fresco: gota de sangue colocada entre lâmina e lamínula; exame de sangue em gota espessa: mais chances de detectar o parasito por concentrar maior quantidade de sangue em um mesmo espaço; esfregaço sanguíneo corado pelo Giemsa: observa a morfologia do parasito em parasitemia muito elevada; cultura de sangue ou material de biópsia; em meios próprios ou meios bifásicos de ágar sangue; inoculação do sangue: creme leucocitário, camada de leucócitos entre plasma e camada inferior de hemácias após centrifugação do sangue colhido com anticoagulante, pode ter parasitas; métodos de concentração: o método de Strout, consiste em deixar o sangue coagular e retrair o coágulo, onde retiram-se parasitos, concentrando-se no soro, que pode ser centrifugado para exame do sedimento ou inoculação em animais de laboratório. reação de precipitação ou precipitina: indicada na fase aguda, tem ≃ 95% de sensibilidade a partir do 7o dia de infecção, é uma reação específica de execução simples, realizada em tubo capilar, com antígeno homólogo, formando precipitado na interface do antígeno com o soro, pela reação antígeno-anticorpo; reação de imunofluorescência indireta (RIFI): alta sensibilidade a partir do 15o dia de infecção, detectando anticorpos IgM, é uma reação sorológica para o diagnóstico da fase aguda; enzime-linked-immunosorbent-assay (ELISA): detecta classes específicas de anticorpos, indicada para a fase aguda, utilizando conjugado anti-IgM. CLÍNICO: suspeita da fase aguda, quando há sinais de porta de entrada (sinal de Romaña e/ou Chagoma de inoculação) com febre irregular ou ausente, taquicardia, adenopatia-satélite ou generalizada, hepatoesplenomegalia, edema generalizado ou dos pés, já a fase crônica é apontada para alterações cardíacas com sinais de insuficiência cardíaca confirmadas pelo ECG e alterações digestivas, do esôfago e do cólon, ambos exigem confirmação por métodos laboratoriais. LABORATORIAL: os métodos tem diferentes resultados na fase aguda ou crônica, na primeira, há alta parasitemia, anticorpos inespecíficos e início de formação de anticorpos específicos (IgM e IgG) que podem atingir níveis elevados, recomenda-se pesquisa direta e/ou indireta do parasito, na segunda, há baixíssima parasitemia e anticorpos específicos (IgG), recomendam-se métodos sorológicos ou pesquisa do parasito por métodos indiretos, principalmente em sorologia duvidosa ou para verificar a eficácia de tratamento. Imunidade A infecção por T. cruzi mobiliza mecanismos humorais e celulares da resposta imune inata e adquirida, o parasita passa a ser combatido, persistindo no hospedeiro com multiplicação reduzida, lesões teciduais resultantes da atividade imunológica prolongada acumulam-se, podendo desencadear formas clínicas da doença. IMUNIDADE HUMORAL: atua no controle da infecção, uma forte ativação do sistema imunológico ocorre na fase aguda, no 1o estágio há mobilização do sistema imune para conter o parasito e os danos da infecção, o parasito promove a ativação inespecífica de macrófagos e células NK acompanhado de ativação de linfócitos T e produção de imunoglobulinas. O surgimento de IgM e IgG são precoces (7-15 dias após a infecção) atingindo níveis elevados a partir do 5o dia de infecção coincidindo com aumento da parasitemia, > 3 meses após a infecção e depois da queda da parasitemia, os níveis de IgM diminuem até desaparecem, são raros casos de IgM positiva na fase crônica, mas, anticorpos IgG aumentam por meses e decrescem lentamente estabilizando-se em níveis variáveis. Há correlação entre altos níveis de IgM e cardiopatia chagásica crônica, níveis elevados de IgA e forma digestiva e níveis elevados de IgE anti-T. cruzi com a forma cardíaca, na fase crônica, o mecanismo de LMCo atua na manutenção da parasitemia em níveis subpatentes, assim, os anticorpos líticos (IgG1 e IgG2) atuam sobre tripomastigotas vivos e estão em infecções ativas. Anticorpos que reconhecem o epítopo terminalcontendo galactosil Ⲁ 1-3- galactose tem atividade lítica sobre o parasito independente de complemento, elevando-se na fase aguda e permanecem altos na crônica. IMUNIDADE CELULAR: o parasito ativa as células NK para sintetizarem o IFN-Ɣ, importante mediador da resistência à infecção e passa a ser produzida por células T CD4+ e T CD8+, as citocinas IL-12 e TNF-Ⲁ e IFN-Ɣ cooperam nessa interação, a IL-10 é produzida pelos macrófagos na infecção, portanto, o balanço dessas respostas determina o curso da infecção aguda. As células T CD4+ atuam na proteção contra a infecção por T. cruzi na fase aguda da infecção, devido à produção de citocinas e ao estímulo de produção de anticorpos líticos que auxiliam na destruição dos parasitas, as células T CD8+ participam mais na fase crônica e na gênese das lesões, associadas a citólise, fibrose tecidual e às manifestações cardíacas e intestinais. FASE CRÔNICA exames parasitológicos; exame sorológicos; xenodiagnóstico: diagnóstico indireto quando se quer detectar o parasito na fase crônica, pode ser natural, colocando-se triatomíneos bem adaptados às cepas locais do T. cruzi para sugar o braço do paciente, ou artificial, indicado em pacientes sensíveis à picada de barbeiros ou para estudos com triatomíneos e o parasito fora do hospedeiro; hemocultura: utiliza 30 mL de sangue heparinizado de cada paciente, o sedimento lavado com meio LIT para eliminar possíveis anticorpos, é distribuído em 6 tubos de rosca com 6 mL de LIT, o material deve ser mantido a 28oC, homogeneizado a cada 48 horas e examinado quinzenalmente até 60 dias ou mais. Evidencia anticorpos específicos no soro do paciente, o sangue pode ser colhido por punção venosa, na colheita em papel, a reação deve ser feita em até 30 dias para não diminuir título de anticorpos. reação de fixação de complemento (RFC): usa antígeno homólogo (extrato de formas de cultura do parasito sob diferentes preparações); LAYANE SILVA método parasitológico-molecular. reações de imunofluorescência indireta (RIFI): reage sobre antígenos fixos em lâmina, anticorpos do soro do paciente adicionados posteriormente do conjugado, assim, a fluorescência é visível por equipamento adequado adaptado ao microscópio, revelando a presença de anticorpos; reação de hemaglutinação indireta (RHA): simples e sensível, atua o soro do paciente sobre hemácias sensibilizadas com antígenos de T. cruzi, na presença de anticorpos específicos, há aglutinação; enzime-linked-immunosorbent-assay (ELISA): método imunoenzimático com mecanismo semelhante à RIFI, porém o conjugado é marcado com uma enzima, este interage com o substrato adequado da cor à reação, o que permite leitura com espectrofotômetro adequado para leitura em placas, permite a pesquisa de classes específicas de anticorpos, oferece vantagens por permitir a realização de vários testes simu e uma completa automatização; lise mediada por complemento (LMCo): detecta anticorpos líticos que agem sobre tripomastigotas vivos reconhecendo uma molécula de 360kd na membrana do parasita, lisando-se na presença de complemento humano - indicativos de infecção ativa; pesquisa de anticorpos antitripomastigotas vivos (AATV): técnica de imunofluorescência realizada em microplacas, empregando suspensão padronizada de tripomastigotas vivos para detectar cura pela detecção de anticorpos líticos, para leitura utiliza-se aparelho de citometria de fluxo, onde se quantifica anticorpos presentes no soro do paciente capazes de se ligar a epítopos na superfície de tripomastigotas vivos - anticorpos antitripomastigotas vivos (AATV) estão associados à proteção. reação em cadeia da polimerase (PCR): amplificação in vitro de fragmentos de kDNA de T. cruzi em amostras de sangue, soro ou tecidos do paciente infectado, capaz de detectar quantidade de DNA de uma célula do parasita Profilaxia melhoria das habitações rurais: as casas podem ser rebocadas e caiadas, visto que a melhoria habitacional é uma medida paliativa, todavia, casas de alvenaria recém-construídas são povoadas por triatomíneos, quando mantida desorganização, lixo e esconderijos para os barbeiros - o peridomicílio atua na manutenção de grandes populações de triatomíneos próximos às moradias, por isso, a melhoria habitacional deve estender-se aos seus anexos; combate ao barbeiro: uso de inseticidas eficientes promove a curto prazo a eliminação dos triatomíneos; controle do doador de sangue: selecionar os doadores por exames sorológicos e exclusão dos positivos ou suspeitos, e adição ao sangue de violeta-de-genciana ou cristal-violeta na concentração de 1:4000, ambas após 24 horas, podem efetuar a quimioprofilaxia da transmissão do T. cruzi, por transfusão de sangue; controle de transmissão congênita: recém-nascido de mãe com sorologia positiva para T. cruzi deveria ser examinado logo após o nascimento, para pesquisa de IgM anti-T. cruzi e, se positivo, tratar imediatamente. Intimamente ligada à melhoria das condições de vida e à modificação do hábito de destruição da fauna e flora, sendo necessário modificar a estrutura agrária brasileira e a educação sanitária, as medidas básicas para evitar grande número de doenças, são: Critério de cura parasitológicos: xenodiagnóstico e hemocultura; parasitológico molecular (PCR); sorológicos convencionais; sorológicos não-convencionais. Parâmetros (clínicos e laboratoriais) para verificação da eficácia do tratamento de um paciente, de valor limitado, especialmente na fase crônica da infecção, quando o paciente pode ser assintomático ou ter lesões viscerais irreversíveis, são métodos de exames laboratoriais: 1. 2. 3. 4. Está "curado" o paciente com negativação parasitológica, negativação da sorologia convencional, LMCo e pesquisa de AATV, pois foi verificado pacientes com exames parasitológicos negativos e sorologia convencional com títulos persistentemente baixos, voltaram a apresentar positividade dos exames parasitológicos e elevação dos títulos sorológicos em tempo variável após o fim do tratamento, ainda, pode se considerar "dissociado", àqueles pacientes com resultados dos exames parasitológicos negativos, sorologia convencional positiva e não-convencional negativa. biocenose silvestre: tatus, gambás, roedores e respectivos ninhos forneciam abrigo e alimentos para os triatomíneos; biocenose domiciliar: cão, gato, humanos e frestas da cafua fornecem abrigo e alimento para os barbeiros. Segundo a OMS, a doença de Chagas atinge 16-18 milhões de habitantes de 18 países, causando 21.000 mortes anuais e incidência de 300.000 novos casos por ano, no Brasil, há ≃ 6 milhões de infectados, ela se distribui em 2 zonas ecológicas: Cone Sul, onde os vetores vivem em habitações humanas, e o sul da América do Norte, América Central e México, onde o vetor vive dentro e fora do domicílio - o T. cruzi circula entre mamíferos passando obrigatoriamente pelos triatomíneos. A existência do protozoário está relacionada com a presença e hábitos desses insetos, inicialmente, era uma doença exclusiva de animais e triatomíneos silvestres, assim passou para humanos, na medida em que estes modificaram ou destruíram o ciclo silvestre natural e construíram a cafua na zona rural, os triatomíneos se adaptaram e colonizaram, tornando-se uma zoonose típica, cujos elos da cadeia epidemiológica são: mamíferos silvestres, ninhos, triatomíneos silvestres, T. cruzi, cafua, mamíferos domésticos, triatomíneos domiciliados, humanos. Epidemiologia Biocenose: associação de seres de espécies diferentes numa área alimentar ou abrigo. Tratamento A terapêutica é parcialmente ineficaz, diversas drogas vem sendo testadas em animais e no homem, mas nenhuma suprime a infecção pelo T. cruzi e promove cura definitiva nos pacientes, 2 tem sido usadas (nifurtimox ou Lampit e o benzonidazol ou Rochagan) nos casos agudos por transmissão natural, transfusão sanguínea ou acidental, reagudização por qualquer droga ou doenças imunossupressoras e na prevenção da transmissão por transplantes de órgãos. Assim, diminui ou elimina precocemente a infecção,sendo mais fácil na fase aguda ou infecção recente, deve-se esclarecer ao paciente o período prolongado de uso, as reações de toxicidade que provocam e diminuem a parasitemia e os ciclos endógenos, haverá redução da evolução da doença. NIFURTIMOX: age contra formas sanguíneas e parcialmente contra formas teciduais, é administrado via oral, sob a forma de comprimidos na dose de 8-12 mg/kg por dia até 90 dias; efeitos colaterais: anorexia, emagrecimento, náuseas, vômitos, alergia cutânea, parestesias irreversíveis, polineuropatia. BENZONIDAZOL: efeitos contras formas sanguíneas, em comprimidos, por via oral, na dose de 5-8 mg/kg por dia, durante até 60 dias. efeitos colaterais: anorexia, perda de peso, vertigens, dermatites urticariformes, cefaléia, sonolência e dores abdominais, hiperexcitabilidade, depressão medular, polineuropatia.
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