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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DO SERTÃO NÚCLEO DE MEDICINA VETERINÁRIA MEDICINA VETERINÁRIA PREVENTIVA E SAÚDE PÚBLICA Beatriz da Paixão Santos1, Gleice Cardozo Dantas2, Renã Tavares dos Santos Junior3, Paula Regina Barros de Lima4 1Aluna do curso de graduação em medicina veterinária da UFS/Campus Sertão. 2Aluna do curso de graduação em medicina veterinária da UFS/Campus Sertão. 3Aluno do curso de graduação em medicina veterinária da UFS/Campus Sertão. 4Professora da UFS/Campus Sertão. RELATO DE CASO: LEUCEMIA VIRAL FELINA Introdução A leucemia viral felina é caracterizada como uma doença infecciosa muito comum entre os gatos, causada pelo vírus da leucemia felina (FeLV). O vírus da leucemia viral felina é distribuído mundialmente na população felina, infectando basicamente gatos domésticos, porém há relatos em felinos selvagens. O convívio entre os gatos de rua, abrigos e residências com muitos gatos portadores, facilita a disseminação do vírus, uma vez que o mesmo é transmitido por via oronasal, a partir da saliva e secreções nasais. Gatos mais velhos são mais resistentes à infecção por FeLV, mas podem ser infectados diante de altas concentrações virais (Leite et al., 2013). A idade em que o gato foi infectado é o principal fator que estabelece se o animal exposto ao vírus da FeLV irá ou não desenvolver a doença. Gatinhos jovens infectados em torno dos 4-5 meses, são mais suscetíveis à infecção por FeLV, pois é nessa idade que os animais começam a desenvolver resistência à infecção. Ainda assim, os gatos adultos que forem expostos por um longo intervalo de tempo acabam tornando-se suscetíveis à doença (Turras, 2014). O FeLV pertence à família Retroviridae, subfamília Oncoviridae, e gênero Gamma retrovirus. Possui como material genético RNA de fita simples, o qual é transcrito em provírus (DNA viral) pela enzima transcriptase reversa na célula do hospedeiro e é integrado no genoma da célula infectada (Figueiredo & Araújo Júnior, 2011). Os gatos com maior risco à infecção são machos, não castrados, felinos que possuem acesso à rua, que vivem em locais com outros gatos, dos quais não se tem conhecimento se são infectados ou não, e até mesmo gatis. Um gato infectado pode viver por anos, desde que seja fornecido um suporte e tratamento adequado ao mesmo, mas para isso deve-se ter conhecimento da situação do animal: se é positivo ou não para o FeLV. Por isso o diagnóstico correto é um dos fatores cruciais nessa doença. Sendo assim, devido a sua importância na clínica de felinos e sua frequência, este relato de caso tem o intuito apresentar uma revisão de literatura sobre o FeLV, abordando sinais clínicos, suspeita clínica, diagnóstico, incluindo o diferencial, exames complementares, tratamento, prognóstico e profilaxia. Relato de caso No dia 10 de setembro de 2021, chegou ao Hospital da UFS campus do sertão um felino, 2 pcb, macho, com 3 anos de idade, não castrado, pesando 2,5kg, sem histórico de vacina para FeLV. Segundo o relato do tutor, o animal vive a maioria do tempo dentro de casa, porém, há algumas semanas conseguiu fugir pulando o muro e ao retornar, o dono percebeu vários ferimentos na pele que acredita ter sido ocasionada por algum conflito com um outro gato de rua. Após alguns dias, o tutor começou a perceber que o animal estava apático, não se alimentava e havia notado uma acentuada perda de peso. Na anamnese observou-se desidratação grave, febre com temperatura de 40,5°C, escore corporal baixo (escore 2), mucosas pálidas e discretamente ictéricas, apatia, problemas respiratórios e estomatites. A suspeita clínica foi leucemia viral felina, sendo levantados como diagnósticos diferenciais: Fiv, infecções bacterianas, parasitárias, virais e doenças neoplásicas não virais. Em relação ao diagnóstico, foram realizados hemograma, bioquímica sérica e teste para detecção de antígenos de FeLV por ELISA. No hemograma as alterações hematológicas encontradas foram anemia do tipo normocítica normocrômica, arregenerativa, trombocitopenia e leucopenia grave, o perfil bioquímico apresentou hipoalbuminemia e hiperglobulinemia, o teste ELISA detectou o antígeno p27 circulante na corrente sanguínea, sendo então, o resultado positivo para FeLV. O animal precisou ser internado e devido a desidratação foi submetido a fluidoterapia intravenosa com solução fisiológica, Glicopan Gold como suporte nutricional e transfusão sanguínea. Durante o tempo no hospital foi utilizado o seguinte protocolo medicamentoso: Dipirona e amoxicilina com clavulanato de potássio 20 mg/kg, para impedir possíveis infecções secundárias. O tutor autorizou apenas um dia internação levando-o para casa no dia seguinte mesmo sem haver melhora, com tratamento domiciliar prescrito, Interferon ômega felino com a função de inibir a replicação do vírus ao diminuir sua viabilidade e aumentando a apoptose das células infectadas, Glicopan Gold na tentativa de melhorar o suporte nutricional do animal, Lysin Cat SF, um suplemento vitamínico para reposição de lisina e um aminoácido essencial que contribui para a manutenção da fisiologia do sistema respiratório dos felinos e Metronidazol, um antibiótico para tratamento das lesões orais (estomatite) e para solucionar as infecções secundárias. Passados 4 dias, o tutor entrou em contato, onde foi relatado o óbito do animal, provavelmente, pelo estado já debilitado em que se encontrava e pelas alterações clínicas ocasionadas pelo vírus, como as alterações neoplásicas e a imunossupressão severa. O prognóstico já era ruim, devido ao animal ser positivo para FeLV. Vale lembrar que o tratamento do FeLV não resulta em cura, apenas em remissão, uma vez que o vírus permanece viável no organismo, desta forma há possibilidade de contágio e podem ocorrer remissões. Pacientes infectados com FeLV, mas sem sinais clínicos podem permanecer assintomáticos por meses ou anos. Gatos com qualquer doença relacionada ao FeLV têm prognóstico reservado. O prognóstico de gatos persistentemente virêmicos é ruim, a maioria desenvolve a doença, e cerca de a 70 a 90% morrem dentro de 18 meses a 3 anos. Profilaxia É de suma importância a disseminação de educação entre os proprietários e os médicos veterinários, a realização de testes de diagnóstico, vacinações e disponibilizar maiores informações sobre a infecção para os proprietários são algumas das ações que podem fazer com que a disseminação da doença diminua. Evitar que gatos perambulem pelas ruas é o mais recomendado, uma vez que podem contrair a doença por contato com animais positivos. Em abrigos coletivos, evitar o 3 compartilhamento de bebedouros e comedouros entre gatos infectados e não infectados. A eficácia da vacina é questionada, mas é recomendado o uso dela em animais que não foram expostos ao FeLV. Referências Bibliográficas COSTA, T. F, et al. Leucemia felina - relato de caso. VI Colóquio Técnico Científico de Saúde Única, Ciências Agrárias e Meio Ambiente. Bom Despacho/MG. 2018. FIGUEIREDO, A. S. & ARAÚJO JÚNIOR, J. P. 2011. Vírus da leucemia felina: análise da classificação da infecção, das técnicas de diagnóstico e da eficácia da vacinação com o emprego de técnicas sensíveis de detecção viral. Ciência Rural, 41, 1952-1959. LEITE RC. Retroviroses dos animais domésticos. Vet. e Zootec. 2013; 20 (Edição Comemorativa): 73-92. GUNN-MOORE DA, REED N. CNS disease in the cat: current knowledge of infectious causes. J Feline Med Surg. 2011 Nov;13(11):824-36. LITTLE, Susan E. O gato: Medicina Interna. Rio de Janeiro: Roca, 2015. MATESCO, V. C. Infecção pelo vírus da leucemia felina. 2014. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) - Universidade Federaldo Rio Grande do Sul Faculdade de veterinária, [S. l.], 2014. PAES, B. G. E. Manifestação neurológica de leucemia felina (felv) - relato de caso. XII Mostra Científica FAMEZ & I Mostra Regional de Ciências Agrárias, Campo Grande, MS, 2019. PAULA, E. M. N.; CRUZ, C. A.; MORAES, F. C.; SOUSA, D. B.; MEIRELLES-BARTOLI, R. B. Características epidemiológicas da Leucemia Viral Felina. Pubvet, [S. l.], p. 1-27, 14 ago. 2014. TURRAS, D. C. C. M. Estudo da prevalência de FIV/FeLV numa população de 88 gatos errantes da região metropolitana de Lisboa. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.Faculdade de Medicina Veterinária Lisboa 2014. 53p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária). ZÓRTEA, M. V. Infecção secundária ao vírus da leucemia felina em gato domiciliado: relato de caso, Curitibanos, 27 jun. 2019.
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