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Organizado por CP Iuris ISBN 978-85-5805-012-8 DIREITO CIVIL 2ª edição Brasília CP Iuris 2021 SOBRE OS AUTORES AURÉLIO BOURET. Advogado especialista em Direito Privado. Professor de Direito Civil da Escola da Magistratura do Rio de Janeiro – EMERJ e de diversos cursos preparatórios para concurso público. MATHEUS ZULIANI. Juiz de Direito Substituto do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Aprovado no concurso para Procurador da Imprensa Oficial – SP, do Município de Guarulhos e de Barretos. Coautor do Código de Processo Civil na Perspectiva da Magistratura – Editora RT. Pós-graduação lato senso no Complexo Educacional Damásio de Jesus. Professor Assistente do Curso Preparatório da OAB do Complexo Educacional Damásio de Jesus (2007/2009) e na Faculdade de Direito Damásio de Jesus (2007/2009) na matéria de Direito Civil. Coordenador dos Professores Assistentes do Complexo Educacional Damásio de Jesus (2009). Professor de direito Civil no Instituto Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro (TJDFT). Conclusão do curso de formação de formadores na ENFAM (2015), Professor de Direito Civil na ESMA – Escola Superior da Magistratura do DF e Professor de Diversos cursos preparatórios para carreiras jurídicas. PAULO CESAR BATISTA DOS SANTOS. Graduado pelo Centro Universitário de Brasília – UniCeub (2001). Mestrando em Direito Constitucional Comparado pela Universidade de Samford, Alabama, nos Estados Unidos (2015-2020). Especialista em Direito Notarial e Registral pela Escola Paulista da Magistratura/SP (2018-2019). Pós-Graduado em Direito Constitucional pela Escola Superior do Ministério Público Federal – DF (2002). Juiz de Direito do Tribunal de Justiça da Bahia, de 2004 a 2007. Juiz de Direito do Tribunal de Justiça de São Paulo desde 2007. Juiz Titular da 37ª Vara Cível do Foro Central de São Paulo - SP, desde 2019. Juiz Assessor da Corregedoria-Geral da Justiça do TJSP, no biênio 2018–2019. Juiz Instrutor no Supremo Tribunal Federal desde setembro de 2019. Professor de cursos de pós- graduação. Coautor de obras na área de Direitos Reais. SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB) ................................ 8 1. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB) .................................................................... 8 1.1. Vigência e validade das normas ................................................................................................... 8 1.2. Revogação da lei e suas formas .................................................................................................... 9 1.3. Repristinação .............................................................................................................................. 10 1.4. Normas gerais e normas especiais .............................................................................................. 10 1.5. Da integração das normas .......................................................................................................... 10 1.6. Da equidade ................................................................................................................................ 12 1.7. Da aplicação e interpretação das normas jurídicas .................................................................... 12 1.8. Da irretroatividade das leis ......................................................................................................... 13 1.9. Conflito de leis no tempo ............................................................................................................ 13 1.10. Da vigência da lei no espaço ..................................................................................................... 14 CAPÍTULO 2 – DA PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL ............................................................................... 16 1. DOS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO CÓDIGO CIVIL ........................................................................................... 16 1.1. Socialidade .................................................................................................................................. 16 1.2. Eticidade ..................................................................................................................................... 16 1.3. Operabilidade ............................................................................................................................. 17 1.4. Direito civil constitucional ........................................................................................................... 17 1.5. Diálogo das fontes ...................................................................................................................... 17 2. DAS PESSOAS .......................................................................................................................................... 18 2.1. Da personalidade jurídica ........................................................................................................... 18 2.2. Do nascituro ................................................................................................................................ 18 2.3. Da capacidade ............................................................................................................................ 19 2.4. Da incapacidade ......................................................................................................................... 20 2.5. Maioridade civil .......................................................................................................................... 23 2.6. Da extinção da personalidade jurídica – morte .......................................................................... 26 2.7. Direitos da personalidade ........................................................................................................... 28 2.8. Das pessoas jurídicas - aspectos gerais ...................................................................................... 38 2.9. Do domicílio ................................................................................................................................ 48 2.10. Dos bens .................................................................................................................................... 50 2.11. Dos fatos jurídicos ..................................................................................................................... 55 2.12. Dos atos ilícitos e lícitos ............................................................................................................ 71 2.13. Da prescrição e da decadência ................................................................................................. 73 CAPÍTULO 3 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES ............................................................................................ 83 1. TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES ................................................................................................................ 83 1.1. Introdução ................................................................................................................................... 83 1.2. Diferença entre direitos reais e direitos obrigacionais................................................................ 84 1.3. Figuras híbridas ........................................................................................................................... 85 1.4. Relação jurídica obrigacional ...................................................................................................... 86 1.5. Teoria dualista das obrigações (Brinz) ........................................................................................ 87 1.6. Obrigação como um processo .....................................................................................................88 2. ATOS UNILATERAIS ................................................................................................................................... 89 2.1. Introdução ................................................................................................................................... 89 2.2. Promessa de recompensa ........................................................................................................... 89 2.3. Gestão de negócios ..................................................................................................................... 90 2.4. Pagamento indevido ................................................................................................................... 91 2.5. Enriquecimento sem causa ......................................................................................................... 91 3. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES................................................................................................................ 92 3.1. Classificação básica das obrigações ........................................................................................... 92 3.2. Classificação especial das obrigações ......................................................................................... 92 4. OBRIGAÇÕES DE DAR ................................................................................................................................ 93 4.1. Introdução ................................................................................................................................... 93 4.2. Obrigação de dar coisa certa ...................................................................................................... 94 4.3. Obrigação de dar coisa incerta ................................................................................................... 97 5. OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER .......................................................................................................... 97 5.1. Obrigação de fazer ...................................................................................................................... 97 5.2. Obrigação de não fazer ............................................................................................................... 99 6. OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS E FACULTATIVAS ............................................................................................. 100 6.1. Obrigações Alternativas ............................................................................................................ 100 6.2. Obrigações Facultativas ............................................................................................................ 101 7. OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS ...................................................................................................... 101 7.1. Dispositivos relevantes.............................................................................................................. 102 7.2. Remissão ou perdão .................................................................................................................. 102 7.3. Perda do objeto e fim da indivisibilidade .................................................................................. 103 8. OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS ........................................................................................................................ 103 8.1. Introdução ................................................................................................................................. 103 8.2. Da Solidariedade Ativa .............................................................................................................. 104 8.3. Da Solidariedade Passiva .......................................................................................................... 106 9. ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES ........................................................................................................... 107 9.1. Introdução ................................................................................................................................. 107 9.2. Pagamento direto ..................................................................................................................... 108 9.3. Das formas especiais de pagamento e das formas de pagamento indireto ............................. 113 10. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES ............................................................................................................ 121 10.1. Introdução............................................................................................................................... 121 10.2. Cessão de crédito .................................................................................................................... 122 10.3. Cessão de débito (assunção de dívida) ................................................................................... 123 10.4. Cessão de contratos ................................................................................................................ 124 11. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES ....................................................................................................... 125 11.1. Introdução............................................................................................................................... 125 11.2. Inadimplemento por ato culposo do devedor (artigo 389 do CC) ........................................... 125 11.3. Inadimplemento por fato não imputável ao devedor ............................................................. 128 11.4. Cláusula penal e arras ............................................................................................................. 129 QUESTÕES ............................................................................................................................................... 130 GABARITO ............................................................................................................................................... 137 CAPÍTULO 4 — DIREITO DOS CONTRATOS: TEORIA GERAL DOS CONTRATOS ..................................... 139 1. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS ....................................................................................................................... 139 1.1. Introdução ao estudo dos contratos ......................................................................................... 139 1.2. Função Social dos Contratos ..................................................................................................... 140 2. PRINCIPIOLOGIA CONTRATUAL ................................................................................................................. 141 2.1. Princípio da autonomia da vontade .......................................................................................... 141 2.2. Princípio da supremacia da ordem pública .............................................................................. 143 2.3. Princípio do consensualismo ..................................................................................................... 144 2.4. Princípio da relatividade dos contratos ................................................................................... 145 2.5. Princípio da obrigatoriedade dos contratos ............................................................................. 145 2.6. Princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva ............................................. 145 2.7. Princípio da boa-fé e probidade ................................................................................................ 147 3. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS .................................................................................................................. 151 3.1. Introdução ................................................................................................................................151 3.2. Fases para a formação dos contratos ....................................................................................... 151 4. FORMAS CONTRATUAIS .......................................................................................................................... 153 4.1. Contrato preliminar .................................................................................................................. 153 4.2. Estipulação em favor de terceiros – artigos 436 a 438 do CC .................................................. 155 4.3. Promessa de fato de terceiro – artigos 439 e 440 do CC ......................................................... 155 4.4. Contrato aleatório – Artigos 458 a 461 do CC ......................................................................... 156 5. VÍCIOS REDIBITÓRIOS E EVICÇÃO ............................................................................................................... 157 5.1. Definição de vícios redibitórios ................................................................................................. 157 5.2. Evicção – Garantia implícita imposta ao alienante.................................................................. 159 6. REVISÃO DOS CONTRATOS ....................................................................................................................... 160 6.1. Teoria da imprevisão ................................................................................................................ 161 6.2. Teoria da quebra da base objetiva do negócio (art. 6º, V, CDC) ............................................... 161 7. COVID-19 E IMPACTOS NOS CONTRATOS .................................................................................................... 162 7.1. Institutos Pertinentes ................................................................................................................ 162 7.2. Três grupos ou hipóteses de contratos ..................................................................................... 163 CAPÍTULO 5 – DIREITO DOS CONTRATOS: CONTRATOS EM ESPÉCIE .................................................. 166 1. COMPRE E VENDA .................................................................................................................................. 166 1.1. Conceito .................................................................................................................................... 166 1.2. Natureza jurídica ...................................................................................................................... 166 1.3. Elementos constitutivos ............................................................................................................ 166 1.4. Estrutura sinalagmática e os efeitos da compra e venda ......................................................... 167 1.5. Restrições à autonomia privada na compra e venda ................................................................ 168 1.6. Regras especiais da compra e venda ........................................................................................ 170 1.7. Cláusulas especiais da compra e venda .................................................................................... 172 1.8. Terrenos da Marinha ................................................................................................................ 175 2. TROCA OU PERMUTA .............................................................................................................................. 176 2.1. Conceito .................................................................................................................................... 176 2.2. Troca entre ascendentes e descendentes ................................................................................. 177 3. CONTRATO ESTIMÁTORIO ........................................................................................................................ 177 3.1. Conceito .................................................................................................................................... 177 3.2. Natureza jurídica ...................................................................................................................... 177 3.3. Responsabilidade pela perda da coisa consignada ................................................................... 178 4. DOAÇÃO .............................................................................................................................................. 178 4.1. Introdução ................................................................................................................................. 178 4.2. Modalidades de doação ............................................................................................................ 179 4.3. Promessa de doação ................................................................................................................. 183 4.4. Revogação da doação ............................................................................................................... 183 5. LOCAÇÃO DE COISAS NO CÓDIGO CIVIL ...................................................................................................... 184 5.1. Introdução ................................................................................................................................. 184 5.2. Deveres das partes numa locação ............................................................................................ 185 5.3. Extinção do contrato de locação ............................................................................................... 185 6. EMPRÉSTIMO: COMODATO E MÚTUO ........................................................................................................ 186 6.1. Introdução ................................................................................................................................. 186 7. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ......................................................................................................................... 189 7.1. Introdução ................................................................................................................................. 189 7.2. Regras da prestação e serviço no CC/02 ................................................................................... 189 7.3. Extinção do contrato de prestação de serviço .......................................................................... 190 7.4. Tutela externa do contrato ....................................................................................................... 190 7.5. Prestação de serviço agrícola ................................................................................................... 191 8. CONTRATO DE EMPREITADA..................................................................................................................... 191 8.1. Introdução ................................................................................................................................. 191 8.2. Regras da empreitada no CC/02 ............................................................................................... 191 8.3. Sub-empreitada ........................................................................................................................ 193 9. CONTRATO DE DEPÓSITO......................................................................................................................... 193 9.1. Introdução ................................................................................................................................. 193 9.2. Regras quanto ao depósito voluntário ...................................................................................... 194 9.3. Depósito necessário ..................................................................................................................195 10. MANDATO ......................................................................................................................................... 195 10.1. Introdução............................................................................................................................... 195 10.2. Principais classificações do mandato ...................................................................................... 196 10.3. Principais regras do mandato no CC/02 ................................................................................. 197 10.4. Obrigações do mandatário ..................................................................................................... 197 10.5. Obrigações do mandante ........................................................................................................ 198 10.6. Substabelecimento .................................................................................................................. 198 10.7. Extinção do contrato de mandato .......................................................................................... 198 11. CONTRATO DE COMISSÃO; AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO; CORRETAGEM .............................................................. 199 11.1. Contrato de comissão ............................................................................................................. 199 11.2. Contrato de agência e distribuição ......................................................................................... 200 11.3. Corretagem ............................................................................................................................. 201 12. CONTRATO DE TRANSPORTE .................................................................................................................. 202 12.1. Introdução............................................................................................................................... 202 12.2. Regras gerais previstas no Código Civil ................................................................................... 202 13. CONTRATO DE SEGURO ......................................................................................................................... 207 13.1. Introdução............................................................................................................................... 207 13.2. Regras gerais do seguro no Código Civil ................................................................................. 207 13.3. Seguro de dano ....................................................................................................................... 210 13.4. Seguro de pessoa .................................................................................................................... 214 14. CONSTITUIÇÃO DE RENDA E JOGO E APOSTA .............................................................................................. 215 14.1. Constituição de renda ............................................................................................................. 215 14.2. Jogo e aposta .......................................................................................................................... 216 15. CONTRATO DE FIANÇA .......................................................................................................................... 216 15.1. Introdução............................................................................................................................... 216 15.2. Efeitos e regras da fiança no Código Civil ............................................................................... 217 15.3. Classificação da fiança quanto a sua extensão....................................................................... 219 16. TRANSAÇÃO E COMPROMISSO ................................................................................................................ 219 16.1. Transação ............................................................................................................................... 219 16.2. Compromisso .......................................................................................................................... 221 QUESTÕES ............................................................................................................................................... 222 GABARITO ............................................................................................................................................... 229 CAPÍTULO 6 — DIREITO DAS COISAS .................................................................................................. 231 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 231 1.1. Direitos Reais x Direitos Pessoais (obrigacionais) ..................................................................... 231 1.2. Demais diferenças entre os direitos reais e os direitos pessoais patrimoniais ......................... 232 2. DA POSSE ............................................................................................................................................ 233 2.1. Natureza jurídica da posse........................................................................................................ 233 2.2. Diferenças entre posse e detenção ........................................................................................... 233 2.3. Principais classificações da posse ............................................................................................. 234 2.4. Efeitos materiais e processuais da posse .................................................................................. 236 2.5. Posse e responsabilidade .......................................................................................................... 237 2.6. Posse e processo civil ................................................................................................................ 237 2.7. A legítima defesa da posse e o desforço imediato .................................................................... 239 2.8. Forma de aquisição, transmissão e perda da posse ................................................................. 239 2.9. Composse .................................................................................................................................. 240 3. PROPRIEDADE ....................................................................................................................................... 240 3.1. Conceito .................................................................................................................................... 240 3.2. Principais características do direito de propriedade ................................................................. 240 3.3. Função social e socioambiental da propriedade ....................................................................... 241 3.4. Desapropriação judicial privada por posse-trabalho ................................................................ 242 3.5. Diferença entre propriedade resolúvel e propriedade fiduciária .............................................. 243 3.6. Formas de aquisição da propriedade imóvel ............................................................................ 243 3.7. Formas de aquisição da propriedade móvel ............................................................................. 250 4. DIREITO DE VIZINHANÇA ......................................................................................................................... 253 4.1. Conceito .................................................................................................................................... 253 4.2. Uso anormal da propriedade ....................................................................................................254 4.3. Árvores limítrofes ...................................................................................................................... 254 4.4. Passagem forçada e da passagem de cabos e tubulações ....................................................... 255 4.5. Águas ........................................................................................................................................ 255 4.6. Direito de tapagem e limites entre prédios............................................................................... 256 4.7. Direito de construir ................................................................................................................... 257 5. DO CONDOMÍNIO .................................................................................................................................. 258 5.1. Conceito .................................................................................................................................... 258 5.2. Condomínio voluntário ou convencional ................................................................................... 259 5.3. Condomínio necessário ............................................................................................................. 260 5.4. Condomínio edilício ................................................................................................................... 260 6. DIREITO REAL DE AQUISIÇÃO DO PROMITENTE COMPRADOR ........................................................................... 266 7. DIREITOS REAIS DE GOZO OU FRUIÇÃO ....................................................................................................... 267 7.1. Introdução ................................................................................................................................. 267 7.2. Superfície .................................................................................................................................. 267 7.3. Servidões ................................................................................................................................... 268 7.4. Usufruto .................................................................................................................................... 270 7.5. Uso ............................................................................................................................................ 272 7.6. Habitação .................................................................................................................................. 272 7.7. Concessões especiais para uso e moradia ................................................................................ 273 8. DIREITOS REAIS DE GARANTIA ................................................................................................................... 273 8.1. Introdução ................................................................................................................................. 273 8.2. Penhor ....................................................................................................................................... 274 8.3. Hipoteca .................................................................................................................................... 279 8.4. Anticrese ................................................................................................................................... 282 8.5. Alienação fiduciária em garantia .............................................................................................. 282 9. DA LAJE ............................................................................................................................................... 286 QUESTÕES ............................................................................................................................................... 286 COMENTÁRIOS ......................................................................................................................................... 293 CAPÍTULO 7 — RESPONSABILIDADE CIVIL .......................................................................................... 296 1. DISPOSIÇÕES GERAIS E CLASSIFICAÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................ 296 2. DOS ELEMENTOS OU PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................... 297 3. DA CONDUTA HUMANA .......................................................................................................................... 298 4. DA CULPA EM SENTIDO AMPLO ................................................................................................................. 298 5. DO NEXO DE CAUSALIDADE ...................................................................................................................... 299 6. DAS EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE ............................................................................................. 300 7. DO DANO OU PREJUÍZO........................................................................................................................... 302 8. DO DANO MATERIAL .............................................................................................................................. 302 8.1 Teoria do desvio produtivo do consumidor ................................................................................ 306 9. DANO ESTÉTICO .................................................................................................................................... 307 10. DANO MORAL COLETIVO ....................................................................................................................... 307 11. DANOS SOCIAIS ................................................................................................................................... 308 12. DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE .................................................................................................... 308 13. DANO BUMERANGUE ........................................................................................................................... 309 14. DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATO DE TERCEIRO .................................................................................... 309 15. DA RESPONSABILIDADE DO INCAPAZ ........................................................................................................ 311 16. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO DONO OU DETENTOR DE ANIMAIS ................................................................ 311 17. RESPONSABILIDADE CIVIL DO DONO DO PRÉDIO OU CONSTRUÇÃO POR SUA RUÍNA ............................................ 312 18. DA CLÁUSULA DE NÃO DE INDENIZAR ....................................................................................................... 312 CAPÍTULO 8 – DIREITO DAS FAMÍLIAS ................................................................................................ 314 1. DIREITO DE FAMÍLIA ............................................................................................................................... 314 1.1. Introdução Ao Direito De Família .............................................................................................. 314 1.2. Princípios do direito de família ................................................................................................. 314 1.3. Concepção constitucional da família e os tipos de famílias ...................................................... 318 1.4. Informativos de Jurisprudência ................................................................................................. 322 2. CASAMENTO ........................................................................................................................................ 325 2.1. Conceito e natureza jurídica .....................................................................................................325 2.2. Princípios específicos aplicáveis ao casamento ........................................................................ 326 2.3. Capacidade para o casamento ................................................................................................. 327 2.4. Impedimentos matrimoniais e causas suspensivas .................................................................. 328 2.5. Processo de habilitação e celebração do casamento................................................................ 331 2.6. Espécies de casamentos ............................................................................................................ 334 2.7. Invalidação do casamento ........................................................................................................ 336 2.8. Efeitos do casamento ................................................................................................................ 340 2.9. Provas do casamento ................................................................................................................ 340 2.10. Informativos de Jurisprudência ............................................................................................... 341 3. REGIME DE BENS ................................................................................................................................... 342 3.1. Disposições gerais ..................................................................................................................... 342 3.2. Regras gerais quanto ao regime de bens .................................................................................. 343 3.3. Pacto antenupcial ..................................................................................................................... 345 3.4. Regime de bens em espécie ...................................................................................................... 345 3.5. Informativos de Jurisprudência ................................................................................................. 352 4. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL E DO VÍNCULO MATRIMONIAL .............................................................. 355 4.1. Disposições gerais ..................................................................................................................... 355 4.2. Do fim da sociedade conjugal ................................................................................................... 356 4.3. Da dissolução do vínculo matrimonial ...................................................................................... 361 4.4. Discussão de culpa no divórcio ................................................................................................. 362 4.5. O uso do nome após a EC 66 ..................................................................................................... 363 4.6. Dissolução do casamento por morte presumida ...................................................................... 364 4.7. Divórcio e prestação de alimentos ............................................................................................ 364 4.8. Informativos de Jurisprudência ................................................................................................. 365 5. PARENTESCO ........................................................................................................................................ 366 5.1. Relações de parentesco ............................................................................................................ 366 5.2. Graus de parentesco ................................................................................................................. 367 5.3. Filiação ...................................................................................................................................... 368 5.4. Informativos de Jurisprudência ................................................................................................. 381 6. PODER FAMILIAR E A PROTEÇÃO AOS FILHOS ............................................................................................... 382 6.1. Poder familiar ........................................................................................................................... 382 6.2. Proteção aos filhos: a guarda ................................................................................................... 387 6.3. Informativos de Jurisprudência ................................................................................................. 390 7. ALIMENTOS .......................................................................................................................................... 392 7.1. Considerações gerais ................................................................................................................ 392 7.2. Informativos de Jurisprudência ................................................................................................. 401 8. TUTELA E CURATELA ............................................................................................................................... 403 8.1. Considerações gerais ................................................................................................................ 403 8.2. Tomada de decisão apoiada ..................................................................................................... 410 8.3. Informativos de Jurisprudência ................................................................................................. 411 9. UNIÃO ESTÁVEL..................................................................................................................................... 412 9.1. Considerações gerais ................................................................................................................ 412 9.2. Evolução da união estável ........................................................................................................ 413 9.3. A união estável no código civil .................................................................................................. 416 9.4. A união estável e o denominado namoro qualificado .............................................................. 418 9.5. Questões polêmicas quanto à união estável............................................................................. 419 9.6. Informativos de Jurisprudência ................................................................................................. 420 QUESTÕES ............................................................................................................................................... 421 COMENTÁRIOS ......................................................................................................................................... 423 CAPÍTULO 9 – DIREITO DAS SUCESSÕES ............................................................................................. 436 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS SUCESSÕES .................................................................................................. 436 1.1. Abertura da sucessão ............................................................................................................... 437 1.2. Direito das sucessões e o princípio de saisine .......................................................................... 438 1.3. Espécies de sucessões ............................................................................................................... 438 1.4. Vocação hereditária e classificação dos herdeiros ................................................................... 439 1.5. Diferenças entre herança e legado ........................................................................................... 442 1.6. Procedimento previsto no ncpc para o direito das sucessões ................................................... 442 1.7. Informativos de Jurisprudência................................................................................................. 443 2. SUCESSÃO HEREDITÁRIA .......................................................................................................................... 444 2.1. A herança e meação: diferenciação .......................................................................................... 444 2.2. Administração da herança ........................................................................................................ 445 2.3. Herança jacente e herança vacante ......................................................................................... 445 2.4. Aceitação e renúncia da herança .............................................................................................. 447 2.5. Excluídos da sucessão: indignidade sucessória e deserdação ................................................... 449 2.6. Ação de petição de herança ...................................................................................................... 451 2.7. Informativos de Jurisprudência ................................................................................................. 452 3. SUCESSÃO LEGÍTIMA .............................................................................................................................. 453 3.1. Considerações gerais ................................................................................................................ 453 3.2. Sucessão dos descendentes (por cabeça ou direito próprio e por representação) e concorrência do cônjuge e do companheiro .......................................................................................................... 454 3.3. Sucessão dos ascendentes e concorrência do cônjuge e do companheiro................................ 458 3.4. Sucessão do cônjuge e do companheiro isoladamente ............................................................ 459 3.5. Sucessão dos colaterais ............................................................................................................ 461 3.6. Informativos de Jurisprudência ................................................................................................. 462 4. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA ..................................................................................................................... 463 4.1. Conceito de testamento e características ................................................................................. 463 4.2. Modalidades ordinárias de testamento .................................................................................... 466 4.3. Modalidades especiais do testamento ..................................................................................... 470 4.4. Codicilo ...................................................................................................................................... 471 4.5. Disposições testamentárias ...................................................................................................... 471 4.6. Legado ...................................................................................................................................... 473 4.7. Substituições testamentárias .................................................................................................... 476 4.8. Redução das disposições testamentárias ................................................................................. 478 4.9. Revogação do testamento ........................................................................................................ 478 4.10. Rompimento do testamento ................................................................................................... 479 4.11. Testamenteiro ......................................................................................................................... 480 4.12. Informativos de Jurisprudência ............................................................................................... 481 5. INVENTÁRIO E PARTILHA.......................................................................................................................... 482 5.1. Considerações gerais ................................................................................................................ 482 5.2. Inventário judicial ..................................................................................................................... 483 5.3. Inventário extrajudicial ............................................................................................................. 490 5.4. Pena de sonegados ................................................................................................................... 492 5.5. Pagamento das dívidas ............................................................................................................. 493 5.6. Colação ou conferência ............................................................................................................. 493 5.7. Redução das doações inoficiosas .............................................................................................. 496 5.8. Partilha ..................................................................................................................................... 496 5.9. Garantia dos quinhões hereditários .......................................................................................... 498 5.10. Anulação, rescisão e nulidade da partilha .............................................................................. 499 5.11. Informativos de Jurisprudência ............................................................................................... 499 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 514 Matheus Zuliani 8 CAPÍTULO 1 – LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB) 1. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB) 1.1. VIGÊNCIA E VALIDADE DAS NORMAS A vigência da lei ocorre a partir do momento em que ela passa a ter força coercitiva, ou seja, a partir do instante em que todas as pessoas devem obedecê-la. Não se pode confundir a vigência da lei com a sua existência. Pode ser que a lei exista, todavia, ainda não esteja em vigor. Assim, o primeiro passo é a existência da lei, uma vez que não tem como exigir a obrigatoriedade da lei sem que ela exista. A lei passa a existir com sua promulgação. Após a sua promulgação, é possível que ela entre em vigor nessa mesma data ou em data distinta, a depender da vontade do legislador. A regra é que a lei passe a vigorar em todo o território dentro do prazo de 45 dias depois de oficialmente publicada. É o que dispõe o art. 1º da LINDB. Denomina-se vacatio legis o prazo entre o início da existência da lei e o início de sua vigência, caso exista esse intervalo. Trata-se de um período necessário para que a sociedade se habitue tanto com a lei quanto com o regime jurídico que ela impõe. Nesse sentido, em atenção ao princípio da obrigatoriedade da lei, ninguém pode alegar seu desconhecimento. Entende-se que esse princípio não é absoluto, uma vez que há exceção, como o caso do erro de direito, em que a parte negociante poderia revogá-lo, desde que não tenha o objetivo de descumprir a lei (CC, art. 139, III). Há uma corrente que entende que a vacatio legis é imprescindível em leis que tenham relevante repercussão, não podendo ela entrar em vigor na data da publicação (art. 8ª caput da LC 95/1998). Por fim, ainda sobre a vacatio legis, é importante mencionar a forma de contagem. Dispõe a Lei Complementar nº 95/1998, que trata sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, em seu art.8º, §1º que “a contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral”. Isto é, inclui-se o primeiro e o último dia, entrando a lei em vigor no dia subsequente à consumação integral do prazo. Por isso, não se pode confundir com os prazos processuais do Código de Processo Civil, no qual não se inclui a data da publicação na contagem. A lei que nasce e que tem data certa para entrar em vigor pode sofrer alteração em seu texto antes da vigência ou depois da vigência. A LINDB trata das duas situações. Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo dos dispositivos alterados começará a correr da nova publicação (LINDB, art. 1º, § 3º). Em outras palavras, a vacatio se reinicia para esses dispositivos alterados, dando nova oportunidade de se familiarizar com a lei. Agora, se as correções forem em texto de lei já em vigor consideram-se lei nova (LINDB, art. 1º, § 4º). Existe uma questão que pode gerar dúvidas em concurso por confundir a parte técnica com o que comumente se fala ou se aplica. Alguns entendem que vigência e vigor são situações distintas. Vigor é a força da lei, da norma. Vigência é a norma que já esteve em vigor, mas que agora não tem mais aplicabilidade. Assim, no cenário em que vivemos, o CPC/73 não Matheus Zuliani 9 possui mais vigência. Todavia, em maior número, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, vigência é o termo utilizado para indicar a norma que tem força, ou seja, sinônimo de vigor1. Para finalizar a questão da vigência da lei é importante lembrar que uma lei pode ingressar no território nacional em um prazo e no estrangeiro em outro. No concurso da Magistratura do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em 2010, o examinador fez a seguinte pergunta: é possível que um mesmo fato seja regulamentado por duas leis distintas? A resposta para essa indagação está no art. 1º, §1º da LINDB, uma vez que “nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada”. Assim, se a lei tem uma vacatio de 45 dias, no 60º dia da sua publicação terá validade no Brasil, mas ainda não no estrangeiro, o que acarreta a aplicação da lei antiga para uma situação e a lei nova na mesma situação, só dependendo o local em que o fato for praticado. 1.2. REVOGAÇÃO DA LEI E SUAS FORMAS Revogar significa anular, invalidar, desfazer, desvigorar. Em outras palavras, significa tornar sem efeito uma lei ou qualquer outra norma jurídica. É a supressão da força obrigatória da lei, retirando sua eficácia. A revogação da lei tem previsão no art. 2º da LINDB, existindo quatros formas de se revogar uma lei que está em vigor. A revogação pode ser total, parcial, expressa ou tácita. A revogação total, também conhecida como ab-rogação, ocorre quando uma lei nova regula inteiramente a matéria da lei anterior, ou então, quando existir incompatibilidade entre elas. A revogação parcial, denominada de derrogação, acontece quando apenas parte da lei é tida como sem efeito, permanecendo parte dela em vigor. Ex.: o novo Código de Processo Civil derrogou alguns dispositivos do Código Civil, por exemplo, o art. 227. A revogação pode ser, ainda, expressa ou tácita. A revogação expressa é aquela que taxativamente se diz qual norma está revogada. O art. 9º da Lei Complementar nº 98/1995, com a redação da Lei Complementar nº 107/2001, estabelece que “a cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas”. Essa é uma forma de revogação expressa. A tácita, ao contrário, ocorre quando há incompatibilidade entre elas. Diz o art. 2º, §1º da LINDB, que ocorre essa forma de revogação quando “seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria que tratava a lei anterior”. Quando se fala em revogação, questiona-se se o costume pode revogar norma. No Direito Brasileiro, não existe a possibilidade de retirar o efeito de uma lei em razão de um costume. É a chamada supremacia da lei sobre os costumes. O desuetudo, ou seja, o costume negativo (desuso) não revoga lei2. Ele pode, em outro giro, ser considerado um método de integração para fins de julgamento. Por fim, é importante mencionar que lei temporária é aquela que nasce com termo prefixado de duração ou com um objetivo a ser cumprido. A lei já nasce com um prazo para perder sua vigência. Ela é uma exceção ao princípio da continuidade, já que não tem eficácia 1 Ao verificar uma questão que trata da diferença entre vigor e vigência, lembre-se dessa celeuma para responder. 2 STJ: “A eventual tolerância ou a indiferença na repressão criminal, bem assim o pretenso desuso não se apresentam, em nosso sistema jurídico-penal, como causa de atipia (Precedentes). II - A norma incriminadora não pode ser neutralizada ou se considerada revogada em decorrência de, v.g., desvirtuada atuação policial (art. 2º, caput da LICC). Recurso conhecido e provido”. (REsp 146.360/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 19.10.1999, DJ 08.11.1999 p. 85+. Matheus Zuliani 10 continua, ou seja, não precisa de uma lei para revogá-la, pois seu fim tem um prazo certo, determinado. 1.3. REPRISTINAÇÃO Repristinação significa restaurar a vigência de uma lei pelo fato de a lei revogadora ter perdido a sua vigência. É o que dispõe o art. 2º, §3º da LINDB: “salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”. Desta forma, em regra, não há repristinação no ordenamento jurídico vigente. Todavia, esse efeito pode acontecer quando o legislador fizer constar essa previsão na lei revogadora. Desta forma, se ficar consignado na lei revogadora que um de seus efeitos é ressuscitar a lei revogada, verifica-se o efeito repristinatório da lei. Alguns doutrinadores fazem a distinção entre repristinação e efeito repristinatório. O efeito repristinatório é estudado no campo do Direito Constitucional, mais especificadamente em controle concentrado de constitucionalidade. Ex.: Lei “A” foi revogada pela Lei “B”. Posteriormente, o STF declara a inconstitucionalidade da Lei “B”, restaurando-se os efeitos da norma revogada, já que a norma revogadora será considerada como nunca tivesse existido. É o que preleciona o artigo 27 da Lei nº 9.868/99. A decisão de inconstitucionalidade é declaratória e possui efeitos retroativos, ex tunc, concretizando-se com a chamada modulação dos efeitos da decisão. 1.4. NORMAS GERAIS E NORMAS ESPECIAIS Há uma classificação de normas no art. 2º, §2° da LINDB em que se entende por norma especial aquela que possui um conteúdo especializado dentro de um ramo do direito (por exemplo, Lei de Alimentos, Código de Defesa do Consumidor). Já a norma geral aborda o conteúdo de um ramo do direito de maneira geral. A norma geral não revoga a especial e a norma especial não revoga a geral. Tais normas caminharão conjuntamente. A norma especial pode revogar a geral de duas formas: de forma explícita, ou então, de forma implícita. A revogação expressa ou explicita ocorre quando há previsão de que a norma especial está revogando a geral. A revogação implícita, por sua vez, acontece no momento em que regula a mesma matéria que a geral, modificando o seu conteúdo. Pode ser que uma lei especial contenha uma parte específica e outra parte geral que também está disposta em um Código, sem que haja, entre elas, contradição. Nesse caso, ambas continuarão em vigor, coexistindo. 1.5. DA INTEGRAÇÃO DAS NORMAS Pelo fato lógico de que o legislador não consegue prevertodos os acontecimentos, seja para o presente seja para o futuro, e da mesma forma que o juiz não pode ser furtar ao seu mister de julgar alegando ausência de norma legal sobre o assunto, é que existe o instrumento de integração das normas, permitindo-se que haja o preenchimento de lacunas (CPC, art. 140). Dispõe o art. 4º da LINDB: “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. O juiz não pode deixar de decidir uma questão alegando que não existe norma regulamentadora para aquele caso em concreto (julgamento non liquet). Trata-se do princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional. Matheus Zuliani 11 O fenômeno da subsunção se perfaz no encaixe perfeito da norma ao caso concreto. Contudo, na ausência da subsunção o juiz deverá se valer da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito. Com isso, não deixa nenhum caso sem solução. A doutrina defende que existe uma hierarquia entre os instrumentos de integração da norma, devendo ser aplicada em primeiro lugar a analogia, depois os costumes, e por fim, os princípios gerais de direito. Diz que a analogia tem preferência em razão do sistema brasileiro adotar a supremacia da lei escrita. 1.5.1. ANALOGIA Consiste a analogia na busca da solução em outra norma que é similar ao caso desprovido de lei. Utiliza-se de uma norma ou conjunto de normas aproximadas a um caso. A analogia pode ser classificada como analogia legal e analogia jurídica. A analogia legal, segundo os ensinamentos de Limongi França, é exatamente a aplicação de uma lei àquele caso em específico. Cita-se como exemplo o caso da convalidação do negócio jurídico praticado com o vício da lesão. Dispõe o § 2º do art. 157 do Código Civil que “não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito”. Porém, e se o caso for cometido em estado de perigo? O Código Civil não traz a convalidação do negócio praticado em estado de perigo. Assim, a doutrina e a jurisprudência se valendo da analogia legal permitem a utilização da convalidação também para o estado de perigo. Inclusive, o enunciado 148 da III Jornada de Direito Civil é nesse sentido. A analogia jurídica é diversa. Consiste em utilizar-se de princípios, conceitos, preceitos consagrados pela doutrina e pela jurisprudência a um caso em específico. Cumpre mencionar que para alguns doutrinadores, a analogia jurídica se constitui na aplicação dos princípios gerais do direito. Há diferença entre a analogia e a interpretação extensiva. A interpretação extensiva visa adequar o que o legislador realmente pretendia com aquela norma, ou seja, a norma diz menos do que deveria. É o caso do art. 12 do Código Civil, em caso de violação aos direitos da personalidade do de cujus, o cônjuge se torna lesado de forma indireta (dano por ricochete), e tem legitimidade para postular em juízo. Em face dessa regra, deve-se aplicar uma interpretação extensiva para garantir ao companheiro o mesmo direito previsto ao cônjuge. 1.5.2. COSTUMES O costume é a conduta reiterada, de forma lícita, e que possui relevância no mundo jurídico. Assim, um determinado costume pode ser aplicado com forma de integração desde que apresente esses elementos, ou seja, a prática reiterada (elemento objetivo) e observância da lei (elemento subjetivo), com relevância no ordenamento jurídico. Os costumes podem ser classificados como contra legem, praeter legem, secundum legem, e por fim, costume judiciário. O costume contra legem é o que contraria a lei. O costume praeter legem é aquele que preenche os requisitos para servir como método integrativo, ou seja, a conduta reiterada, de forma lícita, e que possui relevância no mundo jurídico. Já o costume secundum legem é aquele em que a sua aplicação é imposta pela lei. Caracteriza o ato emulativo – aquele praticado com abuso do direito – o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim Matheus Zuliani 12 econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (CC, art. 187). Isto é, se a pessoa excede o bom costume pratica abuso do direito e comete ato ilícito. Alguns doutrinares ainda trazem o costume judiciário, também conhecido como jurisprudência sedimentada. Atualmente vivemos em uma era de precedentes obrigatórios, súmulas vinculantes e não vinculantes, repercussões gerais e jurisprudências uníssonas. Há casos, como a súmula vinculante, recursos repetitivos e repercussões gerais, em que o juiz não pode se recusar a aplicar o precedente. Outros, como jurisprudência sedimentada e súmulas não vinculantes, embora não tenham observância obrigatória, são considerados costumes jurídicos a serem seguidos na ausência de lei específica sobre o tema. 1.5.3. PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO Segundo sustenta Miguel Reale, os princípios constituem verdadeiros pilares fundantes do ordenamento jurídico. O artigo 8º do Código de Processo Civil trabalha com a ideia de que os princípios devem ser compulsoriamente observados. Os princípios Gerais de Direito são crenças jurídicas já consolidadas na sociedade e que são universalmente aceitas, como a regra de que ninguém pode ser valer da própria torpeza para se beneficiar, nem se enriquecer indevidamente à custa de terceiro, dentre outros. 1.6. DA EQUIDADE A equidade não é método de integração das normas, sendo considerado um recurso de julgamento na aplicação das leis. A equidade é o julgamento com senso de justiça, com bom senso. Para que se aplique a equidade, a lei precisa autorizar o magistrado a fazê-lo (CPC, art. 140, parágrafo único). Alguns doutrinadores entendem que há diferença entre julgamento por equidade e julgamento com equidade. O primeiro é a aplicação da equidade em si, quando a lei autorizar. O segundo e o julgamento com senso de justiça, com bom senso. Entende-se que o julgamento com equidade é ínsito a toda decisão judicial proferida. 1.7. DA APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS A hermenêutica consiste na teoria científica de interpretar e descobrir o sentido da norma jurídica, fixando seu alcance. Na interpretação, observa-se a verdadeira essência da norma jurídica, ou seja, o que verdadeiramente se pretende alcançar. É a chamada mens legis, isso é, a real intenção da lei. Há diversos métodos e critérios de interpretação. Dentre eles podemos citar a interpretação autêntica, doutrinária, jurisprudencial, gramatical, lógica, ontológica, histórica, sistemática, e por fim, a teleológica. A interpretação autêntica é a feita pelo próprio legislador por meio de outro ato normativo. A doutrinária é elaborada pelos estudiosos do direito, como doutores, mestres e livre docente. A interpretação jurisprudencial é feita pelos Tribunais. Quanto aos meios, a interpretação gramatical é mais pobre de todas, pois leva em conta o sentido literal da palavra. A ontológica busca a essência da lei, sua razão de ser (ratio legis). Na interpretação histórica se investigam os antecedentes da lei, analisando o processo legislativo. A interpretação sistemática é a que faz a interpretação de acordo com as demais normas presentes no ordenamento jurídico. Por fim, a teleológica (sociológica) busca a finalidade da lei diante da Matheus Zuliani 13 nova perspectiva social. Carlos Roberto Gonçalves diz que essa interpretação é endereça ao magistrado e consta do art. 5º da LINDB, quando diz que “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. 1.8. DA IRRETROATIVIDADE DAS LEIS A regra é que a lei não retroage, abarcando apenas as situações jurídicascriadas a partir da sua vigência. Trata-se de um princípio que visa dar estabilidade e segurança ao ordenamento jurídico, preservando situações já consolidadas sob a lei antiga, em que o interesse particular deve prevalecer. Denomina-se de regra do tempus regit actum. Todavia, essas regras não são absolutas, podendo sofrer mitigações no âmbito do Direito Penal, por exemplo. Observa-se, por fim, o art. 5º, inciso XXXVI da Constituição Federal que determina: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Nessa mesma linha, temos o disposto no art. 6º da LINDB que prevê: “a lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”. 1.8.1. DO ATO JURÍDICO O ato jurídico perfeito e acabado é aquele que já se consumou perante a lei vigente do tempo em que se efetuou. Pense em um contrato de compra e venda de bem imóvel, sem escritura lavrada porque o imóvel tem valor de 28 salários vigentes (CC, art. 108) e com registro realizado. Posteriormente ao ato, vem uma lei que altera a obrigação de lavrar escritura para os negócios que tenham como objeto imóvel acima de 20 salários. Essa lei não vai atingir aquele contrato celebrado. 1.8.2. DIREITO ADQUIRIDO Consiste no direito que já se incorporou ao patrimônio e a personalidade de seu titular, podendo ser exercido a qualquer momento. Para ser considerado “direito adquirido” mister se faz a presença de dois requisitos: a existência de um fato e a existência de uma norma que faça originar direito do fato. Enquanto não estiverem presentes esses elementos, não há direito adquirido, mas expectativa de direito. 1.8.3. DA COISA JULGADA A coisa julgada é a decisão que não comporta mais recurso, tendo atingido o trânsito em julgado. Assim, uma lei nova não pode alterar aquilo que já foi apreciado em definitivo pelo Poder Judiciário. Sobre a coisa julgada é importante constar que consta o enunciado 109 da Jornada de Direito Civil que diz: “a restrição da coisa julgada, oriunda de demandas reputadas improcedentes por insuficiência de provas, não deve prevalecer para inibir a busca da identidade genética pelo investigando”. 1.9. CONFLITO DE LEIS NO TEMPO É possível que existam leis que se contrariem, aparentemente. Quando isso acontece há uma antinomia. Diz-se aparentemente porque, em tese, o ordenamento jurídico é perfeito e não apresenta tais conflitos. Não é o que acontece. Matheus Zuliani 14 A antinomia pode ser aparente e real. A antinomia real ocorre quando duas leis são exatamente conflitantes entre si. No caso desse conflito o sistema jurídico não traz uma solução, devendo ser tal conflito resolvido pelo Poder Judiciário. O Código de Processo Civil, no art. 8º, prevê que “ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência”. Embora esteja dentro do Código de Processo Civil, pode servir de norte par aplicação de outros ramos do ordenamento jurídico. O conflito aparente, como o próprio nome diz, é apenas ilusório. Menciona-se, como exemplo, o prazo de prisão civil do devedor de alimentos. Na Lei dos Alimentos há uma previsão de prisão de 1 a 60 dias, enquanto o Código de Processo Civil, no art. 528, §3º, prevê um prazo de 1 a 3 meses. Diante de um conflito aparente de normas a doutrina criou alguns critérios para eliminar a antinomia, sendo o hierárquico, o especial e, por fim, o cronológico. Pelo critério hierárquico uma lei superior prevalece sobre a lei inferior. Assim, busca- se na “pirâmide de Kelsen” o fundamento para a aplicação desse critério. Desta forma, a lei hierarquicamente superior tem preferência em relação a uma lei inferior. Ex.: norma constitucional possui hierarquia em face de uma norma infraconstitucional. Esse é o primeiro critério a ser aplicado. No critério da especialidade leva-se em consideração a amplitude das normas. Isto é, se o legislador tratou um determinado assunto com mais cuidado e rigor, ele deve prevalecer sobre o outro que foi tratado de forma geral. Portanto, uma norma especial deve prevalecer em relação a uma norma geral. Por fim, no critério cronológico se aplica o momento em que a norma jurídica entra em vigor, restringindo-se somente ao conflito de normas pertencentes ao mesmo escalão. Dessa forma, utilizando-se o critério cronológico, uma lei mais recente tem preferência em relação a uma lei anterior. O critério cronológico será utilizado sempre que o conflito não puder ser solucionado pelos critérios hierárquico e da especialidade. Alguns doutrinadores classificam as antinomias em graus. Entende-se por antinomia de primeiro grau aquela que envolve apenas um dos critérios de eliminação do conflito. Para o conflito entre uma norma anterior e outra posterior, aplica-se o critério cronológico. Para o caso de conflito entre uma norma geral e outra especial, usa-se o critério da especialidade. A antinomia de segundo grau envolve mais de um critério. Assim, concorrendo os critérios hierárquico e cronológico, prevalece o hierárquico. Concorrendo o critério hierárquico e o de especialidade, prevalece o hierárquico. Por fim, concorrendo os critérios de especialidade e cronológico, prevalece o da especialidade. 1.10. DA VIGÊNCIA DA LEI NO ESPAÇO A regra geral é que, dentro do território brasileiro, aplica-se a lei brasileira. O Estado politicamente organizado tem soberania sobre o seu território e sobre seus habitantes. Decorre disso que toda lei, em princípio, tem seu campo de aplicação limitado no espaço pelas fronteiras do Estado que a promulgou. O critério a ser utilizado para aplicação das leis no espaço é o critério territorial. O Brasil adotou a Teoria da Territorialidade, mas de forma moderada, também chamada de Territorialidade Temperada ou Mitigada. Isso porque, excepcionalmente, nos Matheus Zuliani 15 deparamos com leis ou decisões estrangeiras que podem ser reconhecidas e aplicadas no Brasil. Dessa forma, para que haja a aplicação de leis e sentenças estrangeiras no ordenamento jurídico pátrio, faz-se necessária a observância de duas regras. A primeira prevê que não se aplica leis, sentenças ou atos estrangeiros no Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. A segunda, por sua vez, prevê que não se cumprirá sentença estrangeira no Brasil sem o devido exequatur, que é a permissão dada pelo Superior Tribunal de Justiça, por meio de homologação, para que esta decisão produza seus efeitos. É a homologação de sentença estrangeira. Ainda sobre a sentença estrangeira, dispõe o art. 15 da LINDB que será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos: a) haver sido proferida por juiz competente; b) terem sido as partes citadas ou haver legalmente se verificado a revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; d) estar traduzida por intérprete autorizado; e) ter sido homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (corrigindo de ofício o erro da LINDB, pois lá ainda consta a homologação pelo STF, modificação que ocorreu pela EC 45/2004). Por fim, a sentença estrangeira poderá ser executada perante a Justiça Federal, de primeira instância – art. 109, inciso X da CF. Quanto aos títulos executivos extrajudiciais estrangeiros, estes não precisam ser homologados para serem executados no Brasil. A LINDB ainda tratou da vigência da lei no espaço no que concerne às questões de estado da pessoa. Com isso, A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo
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