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5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 Fisiologia UCXIV Litíase Biliar Secreção da bile A bile é secretada no fígado em dois estágios: Os hepatócitos secretam para os canalículos biliares uma solução inicial contendo ácidos biliares e colesterol. A bile flui até os ductos biliares. No seu curso através dos ductos biliares, uma solução aquosa de íons Na e bicarbonato (produzida no epitélio dos canalículos e ductos) é acrescentada a bile inicial. A bile flui então dos ductos biliares para → ducto hepático → ducto colédoco (ducto biliar comum) → duodeno ou é armazenada (via ducto cístico) na vesícula biliar (minutos ou horas). Função da bile Digestão e absorção de gorduras Emulsificação das grandes partículas de gordura → Os sais biliares tem ação emulsificante ou detergente → diminuição da tensão superficial das gotas de gordura → isto permite a quebra dessas gotas. Ajuda na absorção dos produtos finais da digestão de ácidos graxos, monoglicerídeos e colesterol através da mucosa intestinal (Os sais biliares formam, com esses lipídios, complexos físicos denominados micelas). o Sem a presença de sais biliares no trato intestinal, até 40% das gorduras são perdidas nas fezes. Meio de excreção: de produtos como bilirrubina e o excesso de colesterol. Efeito antimicrobiano: ácidos biliares à induzem expressão de genes de protegem contra proliferação bacteriana excessiva Regulação da secreção biliar 5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 Ácidos biliares Os hepatócitos sintetizam cerca de 6g de ácidos biliares diariamente. O precursor dos ácidos biliares é o colesterol, presente na dieta ou sintetizado nos hepatócitos. Os ácidos biliares são a principal forma de excreção do colesterol. Ainda, os ácidos biliares são potentes detergentes que preparam os triglicerídeos da dieta para a hidrolise pela lipase pancreática através da sua ação emulsificante, formando as micelas. A formação das micelas é consequência das características anfipáticas desses ácidos, que apresentam uma porção de sua estrutura hidrofílica, e outra porção hidrofóbica. Circulação êntero-hepática dos ácidos biliares: 90% a 95% dos ácidos biliares é reciclada no intestino de volta para o fígado, após cada refeição, via circulação êntero-hepática. No fígado, os ácido biliares são reutilizados, e secretados novamente na bile. Parte da reabsorção ocorre por difusão, no duodeno. A maior parte da reabsorção ocorre o íleo terminal. Uma pequena parte dos ácidos biliares primários que não é absorvida pelo intestino sofre ação de bactérias da flora intestinal e são convertidos nos ácidos biliares secundários Produção da bilirrubina 5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 Funções da bilirrubina e biliverdina Estudos sugerem que a biliverdina, e outros pigmentos biliares, têm um papel fisiológico nos humanos. Os pigmentos biliares, como a biliverdina, possuem propriedades anti-mutagênicas e antioxidantes significativas e, portanto, podem desempenhar uma função fisiológica útil. A biliverdina e a bilirrubina demonstraram ser potentes eliminadores de radicais peroxil. Eles também mostraram inibir os efeitos de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, aminas heterocíclicas e oxidantes (todos eles mutagênicos). Alguns estudos descobriram que pessoas com níveis mais altos de concentração de bilirrubina e biliverdina em seus corpos têm menor frequência de câncer e doenças cardiovasculares. Foi sugerido que a biliverdina pode funcionar como um inibidor de protease do HIV Excreção da bilirrubina A bilirrubina conjugada (hidrossolúvel) pode ser: Secretada na bile → intestino Delgado Excretada na urina (patologias) No íleo terminal e cólon a bilirrubina é desconjugada e metabolizada (enzimas bacterianas) até urobilinogênio: Parte do urobilinogênio é absorvido via circulação entero-hepática. O restante do urobilinogênio é convertido em urobilina e estercobilina, que são excretadas nas fezes. Estercobilinogênio = pigmento marrom; estercobilina= pigmento preto Tipos de bilirrubina Clínica O aumento da bilirrubina causa icterícia e pode ser um sinal de diversos problemas: Problemas em neonatos Produção aumentada de bilirrubina. Isto pode ocorrer por diversas causas, entre elas anemias hemolíticas e hemorragia interna. Deficiências no metabolismo da bilirrubina (bilirrubinemia não conjugada ou indireta) ex. cirrose; hepatite viral. Deficiências na excreção da bilirrubina (bilirrubinemia conjugada ou direta) ex. colestase intrahepática Funções da vesícula biliar Concentração da bile: absorção de sal e água, produção de muco Armazenamento da bile Excreção da bile No intervalo entre as refeições, cerca de metade da bile é armazena na vesícula biliar. Devido à grande absorção de água e eletrólitos que ocorre no epitélio da vesícula, a bile que atinge o intestino está muito mais concentrada 5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 (5 a 20 vezes) em sais biliares, colesterol e pigmentos biliares do que a secreção biliar primaria. Litíase biliar A litíase biliar corresponde à formação, sintomática ou não, de cálculos no interior da vesícula biliar. Contudo, os cálculos podem estar presentes no interior do ducto colédoco, formando a coledocolitíase. Em países desenvolvidos, 10% dos adultos e 20% das pessoas com idade > 65 anos têm cálculos. O diagnóstico costuma basear-se na ultrassonografia. Se a colelitíase causar sintomas ou complicações, a colecistectomia torna-se necessária A maioria das doenças do trato biliar resulta de cálculos. Conceitos: Colelipase (Litíase biliar): Cálculo na vesícula Coledocolipase: Cálculo no colédoco Colecistite: Inflamação da vesícula Colangite: Inflamação das vias biliares Colestase: estase da bile (por obstrução ou outras causas) Tipos de cálculos biliares Cálculos de colesterol: respondem por > 85% dos cálculos biliares. Para que se formem, alguns eventos devem acontecer: A bile deve estar supersaturada de colesterol: obesidade, diabetes, diminuição da secreção de sais biliares (ex: fibrose cística por causa da má absorção de sais biliares) ou da deficiência de lecitina (doença genética que cause uma forma progressiva de colestase hepática familiar). O excesso de colesterol deve precipitar na forma de microcristais sólidos. A precipitação é acelerada por mucina, uma glicoproteína, ou outras proteínas na bile. Os microcristais devem agregar-se. Essa agregação é facilitada pela mucina, pela diminuição da contratilidade da vesícula biliar (que resulta do próprio excesso de colesterol na bile). Cálculos pigmentares pretos: são pequenos, duros e compostos de bilirrubinato de cálcio e sais de cálcio inorgânicos (carbonato de cálcio, fosfato de cálcio). Fatores que aceleram seu aparecimento são doença hepática alcoólica, hemólise crônica e idade avançada. Cálculos pigmentares marrons: são amolecidos e engordurados e são formados por bilirrubinato e ácidos graxos (palmitato ou estearato de cálcio). Formam-se durante processos infecciosos, inflamações crônicas e infestações parasitárias (fascíola hepática). Fatores de risco para a formação de cálculos biliares Sexo feminino Estrógeno e progesterona Idade: acima de 40 anos Hipersecreção de colesterol Dieta hiperlipídica Etnias índios americanos Perda ponderal rápida Causas de cálculos biliares: Excessiva absorção de água da bile. Excessiva absorção de ácidos biliares da bile. Altos níveis de Colesterol na bile Inflamação do epitélio 5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 Fisiopatologia O colesterol, insolúvel em água, depende da sua dispersão aquosa dentro de micelas, sendo necessária a presença de um segundo lipídiopara solubilizar o colesterol. Colesterol e fosfolipídios são secretados na bile como vesículas unilamelares, que são transformadas em micelas mistas pela ação dos ácidos biliares. Se houver um excesso de colesterol em relação aos fosfolipídios e ácidos biliares → persistência de vesículas instáveis que se agregam em grandes vesículas multilamelares a partir das quais ocorre precipitação dos cristais de colesterol. Além da bile supersaturada, a nucleação dos cristais e a estase na vesícula biliar são fatores igualmente importantes para a formação dos cálculos biliares. Os cristais microscópicos inicialmente Precipitam a partir de uma bile supersaturada em um processo chamado de nucleação, que é influenciado por várias proteínas pró e anti nucleação. As proteínas mucinas, secretadas pela vesícula biliar, e o cálcio são essenciais como promotores do processo de nucleação. As prostaglandinas estimulam a síntese e secreção das mucinas. Os fatores antinucleação (p. ex., certas apolipoproteínas) foram menos estudados. Lama biliar (barro biliar) é frequentemente o precursor de cálculos. Consiste basicamente em bilirrubinato de cálcio (um polímero da bilirrubina), colesterol em microcristais e mucina. O barro se desenvolve durante o “repouso ou estase” da vesícula biliar (gestação; uso de nutrição parenteral) Geralmente o quadro é assintomático e desaparece quando a primeira condição é resolvida. Alternativamente, pode-se converter em cálculos ou migrar para a via biliar, causando quadros obstrutivos e provocando cólica biliar, colangite ou pancreatite. Manifestações clínicas A litíase biliar tende a ser assintomática (80% dos pacientes não apresentam sintomas O sintoma mais comum é a cólica biliar, uma dor aguda continua em HD e/ou epigástrio com ou sem irradiação para escapula. A dor tipicamente dura menos de 6 horas Anorexia, náusea, vômitos Febre. A maioria dos pacientes com icterícia apresenta cálculos no ducto colédoco. Cólica biliar: Resulta do espasmo do esfíncter de Oddi → irritação da mucosa da vesícula ou impactação de cálculo no ducto cístico ou colédoco Recorrência de 20 a 50% em 12 meses Dos pacientes com litíase biliar, 2 a 3% ao ano têm cólica biliar A dor tem maior intensidade no início e melhora gradual em 24 horas. Complicações da litíase biliar Colecistite aguda: Ocorre em 15% dos sintomáticos - mais comum em mulheres Dos pacientes com litíase biliar, 0,2% ao ano terão colecistite aguda Obstrução do cístico por cálculo e isquemia da parede da vesícula Ausência de cálculo em 5 a 9% - mais comum em homens. 50% associado a outras doenças - sepse, cirurgia, falência de múltiplos órgãos. Gangrena e perfuração + frequente. Dor em QSD por mais de 6h, anorexia, náuseas, vômitos, febre baixa, etc 5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 Estágios avançados: o Vesícula em ampulheta: malformação complicada por colelitíase e inflamação ou lesão adquirida. o Vesícula em porcelana: porções calcificadas em contraste com tecido marron-escuro remanescente. Pode ser palpada como uma massa firme. o Gangrena: paredes edemaciadas e friáveis, mucosa irregularmente ulcerada. o Periarterite nodosa: oclusão das artérias da parede, degeneração fibrinóide, infiltração leucocitária. Coledocolitíase: Presença de cálculos no Duto colédoco. Ocorre em 10 a 20% dos pacientes que vão a cirurgia de vias biliares. Clínica: dor, icterícia, infecção. Bactérias culturadas no sistema biliar: 90% E. coli. Complicação mais comum: icterícia obstrutiva, que pode evoluir para a colangite. Pancreatite é a complicação potencialmente mais grave na coledocolitíase. Primária o Formação de cálculos no próprio colédoco. o Resulta da estase e infecção biliar secundária. o Cálculos pigmentados castanhos Secundária o Formado na vesícula e impacta no colédoco (90 a 95% dos casos) o Cálculos de colesterol (amarelo) ou pigmentados pretos Dor no QSD ou epigástrio, contínua, durando menos de 4 horas, com irradiação para escápula direita ou dorso. Icterícia, colúria e acolia fecal. Surtos transitórios de síndrome colestática e icterícia flutuante (períodos de melhora da icterícia com piora posteriormente) Obstrução biliar extra-hepática: a colestase extra- hepática resulta da obstrução dos principais ductos biliares localizados fora do fígado ou ao nível de seu hilo. Também é chamada de “icterícia obstrutiva”, pelo fato de haver nítida “obstrução mecânica” ao fluxo de bile. Obstrução do canal cístico: bile é absorvida, vesícula fica repleta e é distendida por material mucoso = hidrópsia Icterícia: causada somente se a obstrução estiver entre a confluência dos ductos hepáticos direito e esquerdo e a papila de Vater
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