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trabalho a mais-valia em capital, ele, ao contrário, a consome ou des-
pende como renda. Em face da velha mentalidade aristocrática, que,
como Hegel corretamente diz, “consiste no consumo do existente”443 e
especificamente se expande também no luxo dos serviços pessoais, teve
importância decisiva para a Economia burguesa preconizar a acumu-
lação de capital como primeiro dever do cidadão e pregar de forma
incansável: não se pode acumular, quando se come toda a renda, em
vez de gastar-se boa parte dela na contratação de trabalhadores pro-
dutivos adicionais, que rendem mais do que custam. Por outro lado,
a Economia burguesa teve de polemizar contra o preconceito popular,
que confunde produção capitalista com entesouramento444 e, por isso,
imagina que riqueza acumulada seja riqueza que foi preservada da
destruição em sua forma natural preexistente e, portanto, do consumo,
ou seja, foi salva da circulação. Trancar o dinheiro para que não circule
seria exatamente o contrário de sua valorização como capital, e acu-
mulação de mercadorias com sentido de entesouramento, mera loucu-
ra.445 Acumulação de mercadorias em grandes quantidades é o resultado
de uma paralisação da circulação ou de superprodução.446 É certo que
corre na imaginação popular, de um lado, o quadro dos bens acumulados
no fundo de consumo dos ricos e que lentamente vão sendo consumidos;
de outro lado, a formação de reservas, um fenômeno que pertence a
todos os modos de produção e no qual nos deteremos por um momento,
na análise do processo de circulação.
Até esse ponto, a Economia clássica está certa quando realça o
consumo do mais-produto por trabalhadores produtivos, em vez de por
improdutivos, como momento característico do processo de acumulação.
Entretanto, aqui começa também seu erro. A. Smith tornou moda re-
presentar a acumulação meramente como consumo do mais-produto
por trabalhadores produtivos ou a capitalização da mais-valia com sua
mera conversão em força de trabalho. Ouçamos, por exemplo, Ricardo:
“Deve-se compreender que todos os produtos de um país são
consumidos; porém, faz a maior diferença imaginável saber se
são consumidos por aqueles que reproduzem outro valor, ou por
aqueles que não o reproduzem. Quando dizemos que a renda é
poupada e adicionada ao capital, isso significa que a parte da
OS ECONOMISTAS
222
443 HEGEL. Grundlinien der Philosophie des Rechts, oder Naturrecht und Staatswissenschaft
im Grundrisse. Berlim, 1840. § 203, adendo. (N. da Ed. Alemã.)
444 "Nenhum economista político pode, hoje em dia, entender por poupar apenas entesourar:
e abstraindo esse procedimento resumido e insuficiente, não se pode imaginar nenhum
outro uso para essa expressão, em relação à riqueza nacional, que não aquele que deve
provir dos diversos usos da poupança e que se baseia numa diferenciação real entre as
diferentes espécies de trabalho que são mantidas por ela." (MALTHUS. Op. cit., pp. 38-39.)
445 Assim em Balzac, que estudou tão profundamente todos os matizes da avareza, o velho
avarento Gobseck já se tornou infantilizado quando começa a formar para si um tesouro
de mercadorias acumuladas.
446 "Acumulação de capitais (...) cessação do intercâmbio (...) superprodução." (CORBET, Th.
Op. cit., p. 104.)

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