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Língua Espanhola e Portuguesa Proximidades e Diferenças (1)

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LÍNGUA ESPANHOLA 
E PORTUGUESA: 
PROXIMIDADES E 
DIFERENÇAS
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Elys Regina Zils
Indaial - 2021
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jairo Martins 
Jóice Gadotti Consatti
Marcio Kisner
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2021
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
Z69l
 Zils, Elys Regina
 Língua espanhola e portuguesa: proximidades e diferenças. / Elys 
Regina Zils. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 182 p.; il.
 ISBN 978-65-5646-343-8
 ISBN Digital 978-65-5646-342-1
1. Espanhol. - Brasil. 2. Português. – Brasil. II. Centro Universitário 
Leonardo da Vinci.
CDD 400
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
Espanhol e Português: Línguas Irmãs ....................................... 7
CAPÍTULO 2
Diferenças e proximidades: Línguas 
Portuguesa e Espanhola ............................................................ 59
CAPÍTULO 3
O Estranho Familiar ................................................................. 123
APRESENTAÇÃO
Em primeiro lugar, desejamos dar as boas-vindas à disciplina de Língua 
espanhola e portuguesa: proximidades e diferenças.
Nesta disciplina, queremos convidá-lo a refletir acerca de questões a respeito 
da língua espanhola e da língua portuguesa e do nosso próprio entendimento da 
língua, como um meio de produção de significados individuais e culturais e para 
interagirmos socialmente.
O espanhol e o português são línguas derivadas do latim vulgar, e, como 
irmãs, possuem várias semelhanças, por reproduzirem, com certa fidelidade, 
características da língua-mãe. Assim como se aproximam, uma da outra, em 
vários aspectos, essa relação produz marcas em ambas. Contudo, existem várias 
diferenças também, como veremos nesta disciplina.
No Capítulo 1 deste livro, conversaremos a respeito da nossa concepção de 
língua para, posteriormente, traçarmos a história das línguas, desde as origens, 
com os conquistares romanos que ocuparam a Península Ibérica, por volta de 
cem anos antes de Cristo; a relação com o latim; e o desenvolvimento e a fixação 
como línguas de Estados. Salientaremos algumas características linguísticas, para 
que você possa compreender, um pouco mais, a riqueza desse percurso. Para 
nos lançarmos nesse caminho, será necessária alguma organização periódica, 
ainda que o intuito não seja estudarmos a língua diacronicamente. Apresentar as 
situações política, social e econômica, em alguns períodos importantes, torna-
se necessário para compreendermos as histórias interna e externa da língua. Ao 
fazermos essa caminhada, você perceberá como a língua muda constantemente.
No Capítulo 2, você poderá refletir a respeito das diferentes questões 
que permeiam a relação do espanhol e do português, constatar afinidades 
e perceber que essa relação não é uniforme. Se essas semelhanças podem 
favorecer a aquisição da língua, inicialmente, podem vir a causar insegurança 
em níveis mais avançados. Nesse aspecto, pensaremos em exemplos, como 
os heterossemânticos, heterogenéricos e heterotônicos. A linguística contrastiva 
pode ser de grande ajuda para apontar similaridades e diferenças entre o par de 
línguas e contribuir para o ensino-aprendizado delas. 
Dando continuidade, no Capítulo 3, trataremos, justamente, de algumas 
questões que afetam o processo de ensino-aprendizagem dessas línguas.
Com esta disciplina, esperamos contribuir para ampliar o seu horizonte de 
conhecimento e, consequentemente, melhorar a prática profissional. Aproveite 
esta oportunidade para se aperfeiçoar ainda mais! 
Bons estudos!
 
Prof.ª Elys Regina Zils
CAPÍTULO 1
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS 
IRMÃS
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Saber a origem das línguas espanhola e portuguesa do Brasil.
• Refl etir a respeito do conceito de língua.
• Analisar as mudanças ocorridas ao longo dos séculos nas línguas espanhola e 
portuguesa.
• Constatar como as línguas mudam constantemente.
8
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
9
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Caro acadêmico, seja bem-vindo ao primeiro capítulo do livro da disciplina de 
Língua Espanhola e Portuguesa: Proximidades e Diferenças.
Antes de começarmos o nosso percurso neste livro, é pertinente conversarmos 
a respeito de alguns assuntos para expormos a nossa perspectiva aqui adotada. 
Entendemos a língua como um sistema complexo. Ao pensarmos nos estudos 
da língua, temos em mente muito mais do que a gramática normativa. Nesse 
aspecto, recordamos Câmara Jr. (2007, p. 160), que faz referência a Saussure, ao 
defi nir gramática como o “estudo da língua examinada como sistema de meios de 
expressão”. Contudo, apesar dessa noção teórica, muitas vezes, do ponto de vista 
didático, dividi-la em partes facilita o estudo. Sabemos que esse método tende a 
resultar que cada recorte é estudado, costumeiramente, de modo separado, o que 
gera uma visão/estudo fragmentado. De encontro com essa realidade, esperamos 
conseguir alcançar uma visão da língua de modo amplo e em diálogo uma com a 
outra: espanhol ↔ português.
Iniciaremos com uma breve conversa acerca da língua, para alinharmos 
alguns pontos de vista, e seguiremos a nossa caminhada pela história da origem 
das línguas espanhola e portuguesa. Ainda que, atualmente, com os avanços da 
linguística moderna, os estudos diacrônicos parecem perder espaço, por assim 
dizer, tampouco, cabe, aqui, provocar uma discussão entre fi lologia e linguística, 
porém, ao trabalharmos com esse par de línguas, acreditamos que, partir da 
origem das línguas, isso deve colaborar para a compreensão das proximidades e 
das diferenças.
Cabe recordamos que se, ao longo da história da humanidade, encontra-se 
a vontade de estudar a língua por diferentes motivos, somente quando evoluímos 
nos estudos diacrônicos da língua que esse tipo de estudo ganha status de 
ciência. Estamos falando do surgimento da linguística.
Quando, na primeira parte do século XIX, teve-se a noção 
de que as línguas podiam ser objeto de um estudo científi co 
rigoroso, foi, justamente, quando despontou a ideia de que a 
língua está sempre em mudanças e tem, pois, uma história. 
A focalização dessa história é que fi cou sendo o objetivo, o 
escopo da linguística, ou seja, do estudo da língua como 
ciência. Assim, a língua compreendida como fato histórico é 
contemporânea da própria ciência da linguagem [...] (CÂMARA 
JR., 1979, p. 65).
Nesse viés, foram várias décadas de estudo das línguas, da história e do 
funcionamento para alcançarmos o desenvolvimento dos estudos descritivos 
10
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
da língua, como a ciência que é hoje. Em outras palavras, através do estudo 
diacrônico, foi possível a evolução dos estudos científi cos sincrônicos da língua. 
Através desses estudos, podemos explicar certos fenômenos novos que surgem 
na língua, e que não devemos nos apegar a estudos diacrônicos para isso, pois 
esses estudos têm os seus próprios méritos.
No âmago da linguística, estão os estudos históricos da linguagem e os 
estudos descritivos: “em ambos, tomamos a linguagem como um traço cultural 
da sociedade e tentamos chegar à natureza, ou explicando a origem e o 
desenvolvimentoatravés do tempo ou o papel e o meio de funcionamento real na 
sociedade” (CÂMARA JR., 1975, p. 19-20).
Dada a introdução, estamos prontos para iniciar os estudos. Vamos lá!
2 A LÍNGUA COMO UM SISTEMA 
COMPLEXO E HETEROGÊNEO
Antes de começarmos a conversa a respeito da língua, caro acadêmico, 
pense na sua concepção de língua. Se preferir, escreva um pequeno parágrafo 
e, assim, depois dos estudos, poderá retornar a esse texto para ver se mudou 
alguma percepção.
Neste livro, debruçar-nos-emos sobre duas línguas, a espanhola e a 
portuguesa, mas, antes de qualquer coisa, é importante refl etir acerca da questão 
da linguagem, afi nal, ela é o nosso objeto de estudo e, por meio dela, ocorrem as 
interações, a formação de identidades, as ideologias, os processos socioafetivos 
etc.
A língua, aqui, é compreendida como uma prática social, artefato pelo qual 
ocorre a interação. Em uma concepção pós-moderna, consideramos a língua 
como meio pelo qual damos sentido ao nosso entorno, “uma lente através da 
qual enxergamos a realidade que nos circunda [...]. Nesse sentido, a cultura não 
está antes nem depois da língua, nem uma dentro da outra, mas estão no mesmo 
lugar” (MENDES, 2004, p. 171). Assim, podemos afi rmar que ela atua com a 
cultura, modifi cando e sendo modifi cada. Nesse sentido, Mendes (2004, p. 12) vê 
a língua como 
[...] entidade viva, que se renova a cada momento, que se 
multiplica e se auto-organiza através do seu uso pelos falantes 
e pelo contato com outras línguas; língua que é, ao mesmo 
tempo, refl exo da cultura e, também, instrumento de construção 
e afi rmação da cultura, marcando e sendo marcada por ela.
11
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
Assim, a ênfase da nossa compreensão recai sobre o uso social da 
língua, concepção em conformidade com a perspectiva da Linguística aplicada. 
Reforçamos a língua como meio pelo qual organizamos os nossos pensamentos, 
interpretamos a realidade que nos cerca, sendo o meio pelo qual se dá a 
alteridade. Desse modo, a língua é compartilhada culturalmente e, por isso, 
alguns teóricos, ao defenderem a indissociabilidade entre língua e cultura, usam a 
expressão “língua-cultura”.
Para aclarar, segundo Mendes (2004, p. 171), língua-cultura “é um fenômeno 
social e simbólico de construção da realidade que nos cerca, é o modo de 
construirmos os nossos pensamentos e estruturarmos as nossas ações e 
experiências e as partilharmos com os outros”. Nessa perspectiva, vê-se a língua 
além de questões fonológicas, morfológicas, semânticas e sintáticas, para somar 
a experiência completa de comunicação/códigos entre um grupo, como gestos, 
tom de voz etc. Com isso, entendemos a língua como um sistema complexo 
que precisa de todas as suas partes funcionando simultaneamente, e essas se 
infl uenciam. As outras linguagens se unem à língua para construir o sentido. 
Então, reforça-se a concepção de que a língua não é isolada do seu contexto de 
uso.
Questões identitárias ganham importância nessa concepção e refl etem nas 
nossas práticas relacionadas ao ensino-aprendizagem de línguas, pois 
se língua é entendida como veículo neutro responsável pela 
transmissão de ideias para a comunicação, então, em geral, 
tem-se uma noção de identidade como estável, como a 
constituição fi xa de quem o sujeito é, identidade que é, então, 
expressa pela língua. No entanto, uma visão de língua enquanto 
agência permite entender que, na língua e por meio dela, nas 
relações sociais, as pessoas negociam a sua compreensão 
de si mesmas em diferentes lugares e em momentos no 
tempo (MASTRELLA-DE-ANDRADE, 2011, s.p.).
A primeira visão entende a língua como um instrumento neutro de transmissão 
de ideias, e a considera apenas como um código, um sistema abstrato e social. 
A preocupação recai apenas na forma do conteúdo, rejeitando a importância da 
substância da expressão. Essa concepção vigorou por muitas décadas, e, ainda 
hoje, encontramos resquícios em práticas de ensino muito estruturalistas.
Nesta disciplina, adotamos a segunda noção de língua, como prática social e 
manifestação agenciadora, fundamentada criticamente. Compreendemos língua 
como algo não estático, assim, ademais de termos uma concepção de língua 
mais ampla e cambiante, em seu caráter evolutivo, também percebemos a língua 
como o lugar da nossa subjetividade, onde construímos os signifi cados e eles 
são ressignifi cados, onde ocorre a organização social e as implicações políticas e 
12
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
Para aclarar a nossa concepção de agência, vejamos o que 
Mendes (2004) defi ne como agência humana: A ação de professores 
e alunos como agentes de interculturalidade, os quais promovem o 
diálogo entre culturas através da interação e da produção conjunta 
de conhecimentos, guiados por sentimentos de cooperação, 
colaboração, respeito mútuo e respeito às diferenças, aceitação do 
novo, humildade, tolerância, ao tempo em que agem como analistas 
e críticos das experiências que partilham para que possam intervir, 
complementar, modifi car o seu processo de aprendizagem com 
autonomia, criatividade e responsabilidade. 
sociais são questionadas. A língua, como agência, produz, e não apenas reproduz 
(MASTRELLA-DE-ANDRADE, 2011).
Por tudo isso, discutir a concepção de língua se torna tão relevante não só 
nesta disciplina, mas para os professores que estão em sala de aula. Essa é uma 
discussão que não fi ca somente no plano teórico, mas contribui para a construção 
e a reconstrução da nossa prática pedagógica.
Caro acadêmico, no início, interrogamos a respeito da sua concepção de 
língua. Agora, depois dessa breve conversa, a sua percepção de língua permanece 
a mesma? Pense nas similaridades e nas diferenças da sua concepção com a 
apresentada até aqui. 
3 HISTÓRIA DAS LÍNGUAS: 
ESTUDOS INICIAIS
O português e o espanhol são línguas irmãs de origem latina, ou seja, a 
estrutura gramatical e o léxico, assim como algumas características sintático-
morfo-fonológicas, possuem origem no latim e no seu desdobramento nas línguas 
românicas. Para entendermos melhor esse panorama, iniciaremos a nossa 
caminhada de estudos lá nos primórdios da história das línguas. Vamos lá!
13
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
O espanhol e o português possuem, no latim, a língua-mãe, 
mas qual a língua que originou o latim? Quase não existem registros 
dessa época, pois remontam a um passado muito distante. 
3.1 O DESENVOLVIMENTO 
DA LINGUÍSTICA HISTÓRICO-
COMPARATIVA 
A origem das línguas vem despertando a curiosidade de estudiosos há muito 
tempo, e estudos linguístico-comparativos, entre o século XIX e começo do século 
XX, perceberam semelhanças entre diversas línguas da Europa. Assim, as línguas 
foram organizadas em famílias linguísticas, por exemplo, as línguas românicas, 
como o francês, o espanhol, o italiano, o romeno, o português etc.; as línguas 
germânicas, como o inglês, o holandês, o alemão, o islandês, o dinamarquês etc., 
que descendem da língua chamada de protogermânico (GONÇALVES; BASSO, 
2010).
Caso você deseje saber mais a respeito das pesquisas dos 
parentescos entre as línguas, sugerimos a leitura do livro História 
dos Estudos Linguísticos, de Heronides Moura e Morgana 
Cambrussi. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2008.
Em 1786, o inglês William Jones comprovou que o sânscrito (língua antiga 
da Índia) era próximo ao latim, ao grego, ao protogermânico e ao persa. O fi lólogo 
realizou um discurso para a Sociedade Asiática, publicado em 1788, considerado 
o pontapé inicial da Linguística Histórico-Comparativa. A partir de então, surgiu o 
termo “indo-europeu”, cunhado em 1813, pelo polímata inglês Thomas Young 
(GONÇALVES; BASSO, 2010)
14
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
No século XIX, começou-se a escrever a história da linguística 
moderna, com o surgimento de várias gramáticas comparativas das 
línguas indo-europeias,como as dos fi lólogos Rasmus Rask, Franz 
Bopp, Jakob Grimm, Wilhelm Von Humboldt e August Schleicher. 
Desse modo, com base nos avanços dos estudos de fi lólogos, linguistas 
e gramáticos comparatistas, foi possível determinar que a suposta língua que 
originou o latim, o grego, o sânscrito, o protogermânico etc. seria o “protoindo-
europeu” (PIE). Contudo, praticamente não existe material escrito para essa 
investigação, ocorrendo a partir de mudanças linguísticas e comparações entre 
as línguas. Para termos ideia, alguns ramos da família indo-europeia mais antigos 
datam por volta de 2000 a.C., como o anatólico, ou o grego, que pode ser anterior 
a 1300 a.C. O latim teria origem por volta do século XI a.C. (GONÇALVES; 
BASSO, 2010).
Para ilustrar, observe o quadro a seguir, com exemplos de algumas 
semelhanças no vocabulário de línguas indo-europeias:
QUADRO 1 – COMPARATIVO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUAS INDO-EUROPEIAS
Português pai mãe irmão lobo
Latim pater mater frater Lúpus
Grego Antigo pater meter phrater lykos
Sânscrito pitar matar bhratar vrkas
Espanhol padre madre hermano lobo
Francês père mère frère loup
Inglês father mother brother wolf
Alemão Vater Mutter Bruder Wolf
PIE *phᵃtér *méhᵃter *bhréhᵃter *wlkᵂos
* As palavras acompanhadas de asterisco foram reconstruídas a 
partir de dados históricos, sem registro em documentos. 
FONTE: Gonçalves e Basso (2010, p. 15)
Como é possível perceber, essas palavras são muito semelhantes, incluindo 
as reconstruções do PIE listadas.
15
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
A origem das línguas é um assunto interessante, complexo e 
repleto de incertezas. Algumas questões permanecem no campo 
das especulações, por exemplo, será que todas as línguas possuem 
uma mesma descendência? Essa hipótese é defendida pelos 
monogenistas (acreditam que todas as raças humanas derivam 
de um mesmo ancestral em comum). Contudo, os poligenistas 
defendem diferentes ancestrais para a língua e linhagens para as 
raças humanas, e, por outro lado, há, ainda, quem defenda que a 
língua tem origem ainda mais remota, começando na língua dos 
gestos. 
Seguindo a nossa caminhada, temos a passagem do protoindo-europeu 
ao latim. Alguns fenômenos apontados dessa transição são interessantes para 
pensarmos no nosso par de línguas, espanhol e português. Por exemplo, acredita-
se que o PIE possuía oito casos gramaticais: 
[...] Sendo, eles, o nominativo (caso basicamente de 
sujeito), acusativo (caso do objeto direto, como o “me”, do 
português), o vocativo (o caso usado quando chamamos 
um interlocutor), o genitivo (caso de posse, como o 
genitivo woman’s, “da mulher”, do inglês), o dativo (caso 
do objeto indireto), o ablativo (caso usado, geralmente, 
para denotar afastamento espacial, proveniência, dentre 
outras coisas, como em “ele veio da fazenda”), o locativo 
(caso que se usa para dizer algo como “estou em casa”) 
e o instrumental (caso usado para especifi car o meio 
ou o instrumento que se usa para fazer algo, como em 
“ele quebrou a porta com o machado”) (GONÇALVES; 
BASSO, 2010, p. 19-20).
Contudo, no movimento de passagem para o latim, permaneceram apenas 
seis casos: o nominativo, o vocativo, o acusativo, o genitivo, o dativo e o ablativo.
Para saber mais das línguas românicas, sugerimos a leitura 
Linguística Românica, de Rodolfo Ilari. São Paulo: Ática, 1992.
16
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
3.2 BREVE HISTÓRIA DO LATIM
A história do latim demandaria um espaço maior do que temos nesta 
disciplina, por isso, a partir de agora, faremos uma introdução ou, até mesmo, 
recapitularemos alguns pontos e características importantes para traçarmos o 
nosso paralelo entre as línguas. O espanhol e o português são línguas derivadas 
do latim vulgar, mas o que isso quer dizer exatamente? Para essa explanação, 
temos que entender algumas diferenças entre o latim clássico e o vulgar e 
conversar a respeito dos períodos históricos do latim.
O latim era a língua falada na região do Lácio, parte central da Antiga Itália, no 
primeiro milênio antes de Cristo. Esse período foi marcado por grandes expansões 
do Império Romano, miscigenação entre os povos vizinhos e imposição da cultura 
aos povos militarmente conquistados. Por fi m, isso gerou dialetos que se tornaram 
incompreensíveis entre si, originando as línguas românicas, porém, a língua falada 
era o latim vulgar, usado pelos soldados, mercadores e pessoas ditas incultas. 
Assim, o latim vulgar ganhou território através dos próprios cidadãos romanos, 
dentro do espaço interconectado que era o Império Romano.
FIGURA 1 – O IMPÉRIO ROMANO NA ALTURA MORTE DO IMPERADOR 
TRAJANO, NO SÉCULO II D.C., NO SEU APOGEU
FONTE: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/
modelos/maparomano.htm>. Acesso em: 21 jan. 2021.
Cabe lembrar que o latim se desenvolveu como língua do Império, 
principalmente, na parte ocidental, sendo que o oriente preservou grande 
diversidade linguística. 
17
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
 3.2.1 Variações no latim
No nosso dia a dia, temos a expressão “tudo muda”, não é verdade?! As 
línguas também estão sempre mudando e, com o latim, ocorreu o mesmo durante 
a dominância do Império Romano, embora não possamos afi rmar, com total 
precisão, como o latim variou ao longo desse tempo, pois não temos registros das 
falas, apenas textos escritos (e, como sabemos, a escrita e a fala podem divergir 
muito).
Os primeiros registros do latim escrito que conhecemos datam de VII ou VI 
a.C. Posteriormente, por volta do século III a.C., existiam textos literários em latim, 
resultados do processo de assimilação da cultura e da literatura gregas. O texto 
literário mais antigo encontrado escrito em latim são fragmentos de uma tradução 
da Odisseia, de Homero, realizada pelo escravo grego Lívio Andronico, com fi ns 
educacionais. Estamos falando de um latim arcaico, que ainda iria evoluir para o 
chamado latim clássico (GONÇALVES; BASSO, 2010).
O estilo literário culto predominante no período, que compreende os séculos 
I a.C. e I d.C., é o que chamamos de latim clássico, a variante com a qual 
costumamos ter contato hoje em dia. São, desse período, grandes obras que 
infl uenciaram a cultura ocidental, como a prosa de Cícero, a épica nacional de 
Virgílio etc.
Ainda que o latim clássico seja a variante que ensinamos atualmente, não foi 
do latim desses grandes escritores que se originaram as línguas românicas. Nesse 
cenário, destaca-se o latim falado, mas não o latim culto, falado pela classe culta 
de Roma. A origem das línguas românicas está no latim dito vulgar. Frisamos que 
“vulgar”, aqui, não signifi ca “baixo”, quer dizer apenas que pertence ao “vulgo”, 
ao povo romano, em geral. Afi nal, a língua do povo é a língua falada pela grande 
maioria das pessoas, o que gera um grande impacto no desenvolvimento das 
línguas. Por exemplo, Wyman (2017) afi rma que muitas palavras e signifi cados 
presentes no latim falado não aparecem na língua escrita das elites, e cita o 
exemplo da palavra “hablar”, do espanhol, e “parler”, do francês, que derivam de 
termos com usos diferentes do latim clássico escrito.
Cabe lembrarmos que o latim vulgar está longe de ser uma língua 
homogênea falada por todo o Império. Nesse sentido, segundo Wyman (2017), 
existiam diferentes modos de falar, os quais ele chama de “sotaques” regionais. 
Alguém de Roma tinha o jeito de falar, na pronúncia e no uso das palavras, 
signifi cativamente diferente de alguém da Espanha ou da África. De modo mais 
concreto, por exemplo, a palavra deius, usada na Bretanha, em vez de deus, 
18
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
infl uência da língua celta nativa, ou a palavra cerveza, em latim gálico, de origem 
galesa celta, e que permaneceu no espanhol, mas foi substituída, no francês, por 
uma de origem germânica.
3.2.2 Algumas características do latim 
clássico e do latim vulgarA fi m de compreendermos melhor a história das línguas românicas, 
consequentemente, a história do português e do espanhol, apresentaremos 
algumas características relevantes do latim vulgar em comparação com o latim 
clássico. Veremos algumas características das áreas da sintaxe, morfologia, 
fonologia e léxico a partir das colocações de Gonçalves e Basso (2010).
Para saber mais dos latins clássico e vulgar, você pode ler:
CASTRO, I. Introdução à história do português. 2. ed. Lisboa: 
Colibri, 2006.
RENZI, L. Introducción a la fi lología románica. Versión española 
de Pilar García Mouton. Madrid: Editorial Gredos, 1982.
 3.2.2.1 Sintaxe
A sintaxe, no latim clássico, dependia das características morfológicas 
dos casos, e não apenas da ordem das palavras, por isso, os textos poderiam 
apresentar grande variedade de ordem na estrutura. Gonçalves e Basso (2010) 
citam o exemplo, no latim clássico, de Petrus Paulum videt (Pedro vê Paulo), 
utilizando a ordem sujeito – objeto/complemento – verbo, ou SOV. Contudo, no 
latim vulgar, a ordem fundamental seria sujeito – verbo – objeto/complemento, ou 
SVO, que foi a adotada pelas línguas românicas.
A ordem das palavras no sintagma nominal também seguiu a tendência 
predominante do latim vulgar, determinado – determinante, por exemplo, homo 
felix (homem feliz). No latim clássico, usava-se determinante – determinado, 
como felix homo, com algumas variações, dependendo do tipo de determinante 
(GONÇALVES; BASSO, 2010).
19
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
Outra observação importante é que, no latim clássico, não existiam os artigos 
defi nidos e indefi nidos, como conhecemos no português ou no espanhol. Já no 
latim vulgar, encontramos a presença de alguns pronomes demonstrativos usados 
com funções próximas às dos artigos defi nidos. Gonçalves e Basso (2010) citam, 
como exemplo, os pronomes ille, illa, illud (aquele, aquela, aquilo), que cumprem 
a função de artigos defi nidos “o, a, os, as”, ipse, ipsa, ipsum (o mesmo, a mesma), 
com um sentido próximo de “o, a, os, as”, além dos pronomes unus, una, unum, 
que eram numeral e passaram a ser usados como artigos indefi nidos “um, uma, 
uns, umas”, como conhecemos nas línguas românicas.
3.3 D A EXPANSÃO DO LATIM AO FIM 
DO IMPÉRIO
A partir de agora, focaremos na România enquanto unidade linguística e 
cultural, apresentando, também, alguns aspectos históricos e informações das 
línguas românicas.
O termo “romanus” era usado, originalmente, para se referir ao 
habitante da cidade de Roma. Contudo, com a expansão do Império, 
o termo foi ampliado para todos os cidadãos romanos sob proteção 
do imperador, em todas as províncias. Com o passar do tempo, o 
termo passou a se referir “àquele que não é bárbaro”, quer dizer, 
todos os não estrangeiros (GONÇALVES; BASSO, 2010).
Bassetto (2005) divide a história da România em três períodos: România 
Antiga, România Medieval e România Moderna. O período da România Antiga é 
o de maior expansão territorial e de desenvolvimento linguístico da língua latina, 
nas primeiras décadas do século II d. C. 
O período da România Medieval se refere às regiões em que se continuou 
a falar o latim vulgar, após a queda do Império Romano, no Ocidente, em 476. 
Nesse período, falava-se da Crise do Império Romano, marcada por crise 
econômica, golpes, assassinatos de imperadores e, por fi m, invasões germânicas. 
Essas invasões e as difi culdades de movimentação e de interação nesse território 
20
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
Nesse cenário, podemos denominar as línguas dos territórios, 
que já tinham sido conquistados, de línguas de substrato. Para
Cravens (1994), substrato é uma língua com pouca infl uência em 
comparação a outra. Já as línguas de superestrato seriam as 
dos povos que conquistaram os territórios de Roma, com grande 
infl uência. Essas línguas se infl uenciaram entre si e em diferentes 
níveis. Também podemos citar a categoria de adstrato, para nos 
referirmos às línguas que convivem em um mesmo território e tempo, 
em situação de bilinguismo, como os falantes do latim com os povos 
falantes do grego (CRAVENS, 1994 ).
geraram grandes fragmentações políticas e linguísticas. No entanto, frisamos que 
tudo isso foi um processo lento, e que a queda do Império ocorreu por uma série 
de eventos intercalados por séculos. O latim se manteve homogêneo por muito 
tempo e as províncias preservaram certa romanização em graus variados para, 
então, ir desenvolvendo os dialetos. As outras línguas dos povos conviveram com 
o latim por muito tempo, criando territórios bilingues. 
Desse período, é importante que você saiba que, com a queda 
do Império Romano, começou o desenvolvimento das línguas 
românicas derivadas do latim vulgar, e que viriam a se transformar 
no espanhol e no português, como conhecemos.
A România Moderna, segundo Bassetto (2005), constitui a 
mais ampla das três, integra os territórios de fala românica, e isso 
inclui os vários territórios dominados pelos países de fala românica, 
como a América do Sul, parte do Canadá, algumas partes da África e 
da Ásia, onde encontramos, ainda hoje, o português, o espanhol e o 
francês como línguas ofi ciais.
Caro acadêmico, lembre-se de que não existe uma clara 
fronteira nesses períodos históricos apresentados por Bassetto, tampouco, entre 
o latim clássico e o vulgar ou o latim vulgar e os dialetos românicos. 
Desse período, é 
importante que você 
saiba que, com a 
queda do Império 
Romano, começou 
o desenvolvimento 
das línguas 
românicas derivadas 
do latim vulgar, e 
que viriam a se 
transformar no 
espanhol e no 
português, como 
conhecemos.
21
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
O adjetivo românico deriva de România, denominação dada 
aos territórios conquistados pelos romanos que mantinham, na 
língua, certo grau de unidade (a partir do século V d.C.). Esse latim 
vulgar, falado por volta do século V, após as invasões dos povos 
germânicos, chamados de bárbaros, pelos romanos, apresentava 
aspecto hispano-românico, distinguindo-se do latim falado de 
Roma, o barbarice fabulare. Continuava se modifi cando, a ponto de 
não ser mais visto como latim, mas como um falar “à maneira dos 
românicos”, o “Romanice fabulare”, oposto ao “Latine loqui”, o “falar 
culto de Roma” (BOURCIEZ, 2000; BASSETTO, 2005).
 3.3.1 Infl uências e inovações 
O período entre os séculos V e IX d.C. foi marcado pelo início do 
romanço, quer dizer, período em que ocorreu a grande diferenciação 
de falares em uma multiplicidade linguística. Esse desenvolvimento do 
latim vulgar, até a transformação nas línguas românicas, levou tempo 
e dependeu de diversos fatores, como da duração da romanização 
nos territórios conquistados, período em que a romanização ocorreu 
com infl uências locais das línguas de substrato.
Os superestratos, que foram mais importantes para essa 
transformação, foram os chamados “bárbaros” (germânicos no 
Ocidente e eslavos no Oriente da România), no período da queda do 
Império Romano, como os árabes, que invadiram o norte da África, a Ibéria e 
parte da Sicília, no século VIII. Dentre os povos germânicos, os mais importantes 
eram os visigodos, os vândalos, os burgúndios, os alamanos, os ostrogodos, os 
ânglios, os saxões, os francos, os normandos e os longobardos, que se instalaram 
em locais onde se falava latim (GONÇALVES; BASSO, 2010). 
É uma consequência natural que as variedades faladas, somadas ao latim, ou 
seja, uma em contato com a outra, acabassem passando algumas características 
linguísticas, fonológicas e lexicais, rompendo com uma suposta uniformidade 
do latim da península e propiciando a formação dos dialetos. Essas infl uências 
acabaram sendo maiores nas regiões onde o contato com o latim se deu por mais 
tempo, transformando-se em línguas incompreensíveis entre si. Pensemos, por 
O período entre 
os séculos V e IX 
d.C. foi marcado 
pelo início do 
romanço, quer dizer,período em que 
ocorreu a grande 
diferenciação de 
falares em uma 
multiplicidade 
linguística.
22
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
exemplo, na palavra alcaide (origem árabe), usada no espanhol; prefeito (origem 
latina), usada no português; lechuga (origem latina), usada no espanhol; e alface 
(origem árabe), no português (WYMAN, 2017).
Conforme aponta Wyman (2017), as línguas têm diferentes modos de dizer 
as mesmas coisas. Por exemplo, no espanhol, usa-se o u para denotar um adjetivo 
possesivo, com origem no latim suus. Já no francês, é usado o leur, com origem 
no latim illorum. Ambas funcionavam no latim, mas, com o tempo e diferentes 
espaços geográfi cos, um uso acaba sendo favorecido em detrimento do outro, 
até que um fi que em desuso. Esse processo ocorre, também, com mudanças 
fonéticas, na sintaxe e no vocabulário.
Apesar das variáveis, é possível verifi car certa uniformidade nas 
características das línguas românicas, resultado de fenômenos de inovação 
chamados de panromânicos. Confi ra alguns, segundo Castro (2006 apud
GONÇALVES; BASSO, 2010):
1. Todas as línguas românicas desenvolveram o artigo defi nido 
a partir do pronome ille (com exceção do sardo e do catalão, 
que se desenvolveram a partir de ipse). 
2. Todas as línguas generalizaram os usos das preposições de 
e a para substituir as funções dos casos oblíquos, ou seja, o 
genitivo, o dativo e o ablativo.
3. Todas formaram comparativos analíticos a partir de magis 
ou plus, enquanto o latim clássico fazia o comparativo sintético 
com desinências, como –ior ou –ius.
4. Todas as línguas românicas desenvolveram tempos verbais 
analíticos baseados nos verbos auxiliares habere, tenere e 
esse (“ser”). 
5. Todas utilizavam o pronome pessoal para marcar as pessoas 
verbais (em latim, o padrão era não usar os pronomes, que 
apareciam apenas para dar ênfase ao sujeito).
6. Todas formaram o novo futuro a partir das formas vulgares 
habere + infi nitivo (com exceção do romeno, com volo (“quero”) 
+ infi nitivo, e do sardo, com debeo (“devo”) + infi nitivo).
7. Todas desenvolveram advérbios a partir do ablativo mente 
afi xado aos adjetivos (o latim clássico formava advérbios com 
o sufi xo –e ou –iter).
8. Todas usavam sufi xos e prefi xos estranhos ao latim clássico 
(GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 44).
Ainda que línguas românicas passassem por particularidades, 
todas herdaram, do latim, o repertório léxico básico. Consideramos 
herdadas as palavras que foram transmitidas, às línguas românicas, 
diretamente do latim vulgar, pela fala do povo. Nessa lista, 
estão incluídas as palavras não latinas (pré-românicas, gregas, 
germânicas, eslavas, ibéricas etc.) que o latim vulgar assimilou. Para 
Ainda que línguas 
românicas 
passassem por 
particularidades, 
todas herdaram, do 
latim, o repertório 
léxico básico.
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
23
ilustrar, Bassetto (On-line) afi rma que, estatisticamente, considerando apenas as 
formas simples, sem considerar derivadas ou compostas,
[...] dos 6700 vocábulos latinos do REW (Romanisches 
Etymologisches Wörterbuch), cerca de 1300 são panromânicos 
(20%), 3900 foram herdados por algumas línguas românicas 
(60%) e 1500 (20%) por apenas uma. A mesma obra registra, 
ainda, 1621 empréstimos, no latim vulgar, de línguas 
estrangeiras, dos quais 25 são ibéricas, 70 bascas, 780 gregas, 
746 de várias origens: celtas, lígures ou, simplesmente, “pré-
românicas”, quando a origem é incerta. 
Ainda que os dados do vocabulário românico herdado são aproximados, 
devido à imprecisão das fontes, comprovam a permeabilidade do latim vulgar a 
empréstimos.
Para saber mais a respeito do léxico românico e das heranças, 
recomendamos a leitura de O Léxico Românico – Herança Latina nas 
Línguas Ocidentais, de Bruno Fregni Bassetto, disponível em http://
www.fi lologia.org.br/ixcnlf/16/14.htm.
 4 AS LÍNGUAS ROMÂNICAS
Neste apartado, conheceremos um pouco mais das línguas chamadas de 
românicas. Conforme Bassetto (2005), essas línguas se formam a partir das 
contribuições culturais e linguísticas do latim e se expandem para diversas 
regiões. Desse modo, para uma melhor visualização, comecemos conferindo o 
exposto a seguir, com a classifi cação das línguas românicas:
QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
Balcano-Românico Italo-Românico Galo-Românico Ibero-Românico
Romeno Dalmático Francês Catalão
Italiano Provençal Espanhol
Rético Franco-provençal Português
Sardo
FONTE: Gonçalves e Basso (2010, p. 56)
24
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
É interessante conhecer o processo de formação dessas línguas, pois saber 
as particularidades nos ajuda a compreender o processo evolutivo pelo qual 
passaram até as nossas línguas alcançarem as características que apresentam 
na atualidade. Contudo, dado o nosso espaço limitado dos estudos desta 
disciplina, poderemos comentar apenas superfi cialmente. Vamos lá?!
Romeno pode ser considerada a primeira língua românica a se separar 
das outras, surgindo da invasão romana na província de Dálcia e da ocupação 
por diferentes povos, especialmente, por eslavos; o Dalmático, para Bassetto 
(2005), é a única língua românica morta, falada na antiga região da Dalmácia; o 
Italiano, marcado pela grande diversidade de dialetos, sendo que o padrão, hoje, 
é o dialeto da Toscana, por infl uência de autores literários, como Dante, Boccacio 
e Petrarca; o Rético, conjunto de dialetos falado na região do extremo-norte da 
Itália e na Suíça, relativamente semelhante entre si, mas que gera discussões a 
respeito da unidade linguística (questão ladina); o Sardo, conjunto de dialetos 
falado na ilha da Sardenha, a oeste da Itália, com forte infl uências castelhanas 
e catalãs nas terminologias administrativa e eclesiástica; o Provençal, do antigo 
grupo chamado de langue d’oc, um dos dialetos do ocitânico, com o qual, muitas 
vezes, confunde-se, falado, ainda hoje, em uma extensa área do sul da França, 
desenvolveu-se a partir da arte literária de trovadores, que usavam uma espécie de 
koiné (língua comum) literária; o Francês, desenvolvido na região da antiga Gália, 
derivado do conjunto de dialetos medievais identifi cados como langue d’oil, em 
oposição ao grupo identifi cado como langue d’oc (dialetos do provençal), porém, 
no fi m do século XIII, com o forte desenvolvimento de Paris e a centralização da 
cultura, o dialeto Île-de-France (frâncico), até então, despretensioso, projetou-se, 
literariamente, para dois séculos depois, tornar-se a língua nacional; e o Franco-
provençal, conjunto de dialetos falado no Centro-Leste da França, na fronteira 
com a Itália e a Suíça, países com alguma extensão coberta por eles, que possui 
características do francês e do provençal, mas constitui uma língua diferente 
(BASSETTO, 2005; GONÇALVES; BASSO, 2010).
O Catalão é, atualmente, falado por mais de 10 milhões de pessoas, em 
países, como Espanha, Andorra, França e Itália, sendo a língua ofi cial da 
Catalunha e das Ilhas Baleares. O catalão deriva do pan-ibero-romance e, já no 
século XI, encontravam-se documentos feudais escritos integralmente na língua. 
Por muito tempo, discutiu-se se o catalão era uma língua ou um dialeto, sendo 
reconhecido, tardiamente, com status de língua. Para Bassetto (2005), essa 
língua está mais próxima do provençal do que do castelhano, ao se compararem 
os campos lexicais, fonológicos e morfológicos e questões históricas. A história, 
em um primeiro momento, passou por uma fase nacional, com conquistas 
de territórios no sul da Península Ibérica. Depois, do século XV até o XVIII, 
migrou para um período de decadência para, posteriormente, adentrar na fase 
de renascimento. Entre 1939 a 1975, ocorreu a ditadura de Francisco Franco, 
25
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
proibindo o catalão e toda a amostra de catalanidade no território da Espanha. 
Propagou-se uma série de revoltas separatistasao longo da história, o que gerou 
o recente plebiscito de independência da Catalunha, em 2017.
FIGURA 2 – PANORAMA DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
FONTE: <https://www.ime.usp.br/~tycho/participants/psousa/cursos/
aulas/aula_latim_vulgar.html>. Acesso em: 18 jan. 2021.
Veremos o castelhano/espanhol e o português separadamente, na sequência 
do nosso percurso, pois merecem atenção especial, uma vez que são o alvo dos 
nossos estudos. 
Caro acadêmico, se você tiver interesse em saber mais 
a respeito da formação e da estrutura das línguas românicas, 
principalmente, sob um ponto de vista mais fi lológico, recomendamos 
o livro Elementos de Filologia Românica, de Bruno Fregni Bassetto. 
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.
26
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
 4.1 FORMAÇÃO LINGUÍSTICA DO 
ESPANHOL E DO PORTUGUÊS - 
PENÍNSULA IBÉRICA
Focaremos, a partir de agora, nas línguas ibero-românicas, especialmente, no 
português e no espanhol, apresentando um pouco da história do desenvolvimento 
linguístico. A proximidade entre essas duas línguas está relacionada com a origem 
latina, mas, também, geográfi ca, ressaltando-se o Domínio Filipino, compreendido 
entre 1580 e 1640, no qual Portugal viveu sob o domínio espanhol. Adiante, o 
português e espanhol se tornarão dois idiomas distintos de povos diferentes e que 
se tornarão grandes precursores da expansão marítima europeia. 
Por outro lado, destacam-se os confrontos bélicos, os Tratados, como de 
Alcaçovas (1479) e de Tordesilhas (1494), além de uma forte estratégia para a 
preservação da língua portuguesa em relação ao domínio espanhol. Desse modo, 
a partir de agora, veremos a história de cada uma dessas línguas separadamente. 
Vamos lá?!
 4.2 ESPANHOL 
A língua espanhola é considerada a terceira língua mais falada no mundo, 
ultrapassando os 300 milhões de falantes. Na Espanha, é a língua ofi cial, porém, 
cabe lembrar que não é a única falada, coexistindo com o catalão, o valenciano, 
o galego, o basco oua euskera, além de outros dialetos, como o andaluz, 
o extremenho, o murciano, e o canário, que possuem tanta ou maior importância 
para a população local.
A partir do substrato ibérico, além do substrato basco, o 
castelhano ganha características, as quais o diferenciam das 
demais línguas com origem pan-ibero-romance. Ademais, a 
latinização posterior da região de Castela converte o castelhano em 
uma língua com menos infl uência do latim, como em comparação 
ao português, por exemplo, propiciando, ao castelhano, inovações 
próprias, como o caso do “f” latino a “h”, que, posteriormente, deve 
ser não pronunciado — característica atribuída ao substrato basco 
(GONÇALVES; BASSO, 2010)
A partir do substrato 
ibérico, além do 
substrato basco, o 
castelhano ganha 
características, as 
quais o diferenciam 
das demais línguas 
com origem pan-
ibero-romance.
27
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
Em breve, conversaremos a respeito da denominação espanhol 
ou castelhano. 
Outras características próprias do castelhano que podemos citar são:
1. ditongação do e e do o latinos, como em bono > bueno, porta 
> puerta, terra > tierra; 
2. palatalização em ll /λ/ dos grupos latinos formados por 
consoante + l, como plenum > lleno, fl amma > llama; 
3. sonorização das oclusivas surdas intervocálicas e posterior 
fricativização, como em lúpus > lobo /loβo/, digitus > dedo /
ðeðo/; 
4. palatalização das consoantes geminadas ll e nn, como ad 
illic > alli /aλi/ “ali”, ante anno > antaño “então”; 
5. passagem dos grupos ct e lt à africada /tʃ/: multum > mucho 
/mutʃo/ (GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 63).
Assim, podemos considerar que o castelhano começou a 
aparecer nos anos 800 e adquiriu características fi nais no período 
medieval, com os escritores hispânicos, que passaram a escrever no 
vernáculo vulgar, e não mais em latim. 
O primeiro poema épico em castelhano foi Cantar del mio Cid, 
de autor desconhecido, composto por volta de 1140, com quase 
quatro mil versos que narram a história de Rodrigo Díaz de Vivar, ou 
El Cid Campeador, importante personagem histórico. Foi publicado 
por Tomás Antonio Sanchez, em 1779. Confi ra esse fragmento inicial 
da obra:
De los sos oios tan fuertemientre llorando, 
Tornava la cabeça e estavalos catando; 
Vio puertas abiertas e uços sin cañados, 
alcandaras vazias, sin pielles e sin mantos, 
e sin falcones e sin adtores mudados. 
Sospiro Mio Cid, ca mucho avie grandes cuidados. 
Fablo mio Cid bien e tan mesurado:
 «¡grado a ti, Señor Padre, que estas en alto!
Esto me an buelto mios enemigos malos.» 
Alli pienssan de aguiiar, alli sueltan las rriendas; 
A la exida de Bivar ovieron la corneia diestra
 e entrando a Burgos ovieronla siniestra. 
Meçio Mio Cid los ombros e engrameo la tiesta: 
«¡Albricia, Albar Fañez, ca echados somos de tierra!
Mas a grand ondra tornaremos a Castiella (ANÔNIMO, [1140], 
s.p.).
Podemos considerar 
que o castelhano 
começou a 
aparecer nos anos 
800 e adquiriu 
características 
fi nais no período 
medieval, com 
os escritores 
hispânicos, 
que passaram 
a escrever no 
vernáculo vulgar, e 
não mais em latim. 
28
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
Nesse trecho, já podemos perceber algumas características que veremos 
no castelhano futuramente, como “a ditongação do ‘o’, em ‘puertas’, do ‘e’ em 
‘tierra’ e em ‘Castiella’; e a sonorização das oclusivas, como em mutados > 
mudados, Pater > Padre” (GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 64). De modo geral, 
esse espanhol medieval é bem diferente deste que conhecemos atualmente, não 
é verdade?! É interessante pensarmos nisso, pois as línguas permanecem em 
constante transformação. 
4.2.1 Histór ia da língua espanhola: 
Península Ibérica 
A Península Ibérica, que compreende, principalmente, Espanha e Portugal, 
hoje em dia, foi, por muito tempo, alvo de disputas territoriais, pelas quais 
passaram diferentes povos, deixando contribuições para a cultura espanhola e 
para a formação da língua. Os romanos desembarcaram ali em 218 a.C., durante 
a Segunda Guerra Púnica, conquistando todo o território. Os povos dominados, 
na sua maioria, adotam o latim como língua e se converteram ao cristianismo.
Como resultado do incansável movimento de conquistas 
romanas, surgiram diferentes graus de romanização nas províncias, 
sendo que os romanos vieram primeiro, e os dialetos mantiveram 
grande conservadorismo linguístico. 
A distância em relação à Roma, ou o acesso às províncias, 
também contribuiu para os variados graus de romanização. Por 
exemplo, na Baetica, que era mais isolada, manteve-se um latim mais 
purista, em comparação com a província Tarraconensis, pela qual passavam os 
legionários, gerando mudanças na fala. Esse processo gerou muitas inovações no 
latim vulgar, reverberando nas línguas desenvolvidas na região, como o catalão, 
por exemplo (GONÇALVES; BASSO, 2010).
Como resultado 
do incansável 
movimento 
de conquistas 
romanas, surgiram 
diferentes graus de 
romanização nas 
províncias.
29
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
FIGURA 3 – HISPANIA ROMANA SOB O IMPÉRIO DE DIOCLECIANO (244-311 D.C.)
FONTE: <http://blog.brasilacademico.com/2013/03/a-evolucao-das-
linguas-na-peninsula.html>. Acesso em: 21 jan. 2021.
Os povos germanos (alanos, vândalos e suevos) se instalaram na península 
ainda durante o domínio romano, conforme mapa a seguir. Posteriormente, com 
a caída do Império Romano, os visigodos expulsaram esses povos germânicos, 
tornando-se o reino dominante. Um dos reinos germânicos conquistados foi o dos 
suevos, reino com fronteiras próximas à província da Gallaecia, que, devido ao 
maior isolamento linguístico, propiciou o desenvolvimento de variações regionais 
que, mais tarde, tornar-se-iam o galego-português, com formas diferenciadas 
e próprias. Os visigodos (como os outros povos germânicos), por sua vez, não 
interferiram signifi cativamente nas mudanças linguísticaspeninsulares, salvo 
pequenas contribuições para o latim vulgar, como, na morfologia, há o sufi xo “-ing” 
(= eng), por exemplo. 
30
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
Visigodos se referem ao povo considerado bárbaro de origem 
germânica, pelos anos 200, originários do leste europeu. Alguns 
pesquisadores acreditam que o nome tem origem alemã e signifi ca 
“Godos do Oeste”. Em diversas ocasiões, entraram em confl ito com 
os romanos e sitiavam Roma. Permaneceram na Hispânia até a 
chegada dos árabes, no início do século VIII d.C.
FIGURA 4 – HISPANIA ROMANA
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Alan_
kingdom_hispania_es.svg>. Acesso em: 18 jan. 2021.
31
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
1 - Como estamos vendo, a língua e a cultura dos povos chamados 
de bárbaros (germânicos) não vingaram na Península Ibérica. Por 
qual razão você acredita que isso aconteceu? Será que esses 
povos não deixaram nenhuma contribuição linguística ou cultural 
na Península? Faça uma pesquisa a respeito e, em seguida, 
escreva uma pequena redação acerca do assunto. Vamos lá!
O reino visigodo foi invadido e conquistado em 711, pelos árabes 
mulçumanos. Estes eram desenvolvidos em muitas áreas, como 
fi losofi a, botânica, agricultura, medicina, trazendo mudanças para a 
região e para a linguística. O árabe foi um superstrato importante na 
formação das línguas românicas da península, podendo afi rmar que, 
depois do próprio latim, o árabe foi a língua que mais infl uência teve 
sobre o espanhol. Enriqueceram o vocabulário com palavras, como: 
azul, azúcar, albañil, aceite, alcachofra, almacén, alcohol, mazapán, 
taza etc. O português contemporâneo também mantém empréstimo 
do árabe.
A península fora dominada por dois dialetos: o mozárabe, com 
infl uência do árabe e do bereber (língua de povos do norte da África); e as línguas 
romances, na zona dos reinos cristianos, como o asturiano, o galego, o basco, o 
catalão e o castelhano.
Durante a ocupação árabe-muçulmana, o chamado "Condado de Castilla" foi 
dado para os castelhanos e povoado pelos bascos. Esse condado se tornaria o 
Reino de Castilla, em 1035. Ainda, o reino de Astúrias se expandiu no de Afonso 
III, o grande (entre 838 e 910), e passou a integrar a Galiza e o Leão. Quando 
o rei Ferdinando I de Castilha, em 1037, herdou Leão, uniu os reinos, criando 
a primeira monarquia espanhola. Assim, o castelhano se ampliout nos séculos 
seguintes. 
Confi ra o mapa político da península com a distribuição das línguas 
românicas na região por volta de 1300.
O árabe foi um 
superstrato 
importante na 
formação das 
línguas românicas 
da península, 
podendo afi rmar 
que, depois do 
próprio latim, o 
árabe foi a língua 
que mais infl uência 
teve sobre o 
espanhol.
32
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
FIGURA 5 – LÍNGUAS DA PENÍNSULA IBÉRICA
FONTE: Adaptada de Ilari (1992, p. 178 apud GONÇALVES; BASSO, 2010)
Depois de muitos anos de batalhas, as ocupações mulçumanas vão caindo 
uma a uma e, em 1492, ocorreu a conquista de Granada, a última que resistia, 
consolidando o movimento chamado de Reconquista (conquista cristã). Então, a 
Espanha fi cou dividida nos seguintes reinos: reino da Castilha (língua castelhana), 
reino de Navarro (língua basca), reino de Aragão (língua catalã), Principado de 
Andorra (língua catalã) e reino de Portugal (língua portuguesa). 
 4.2.2 A formação do espanhol clássico e 
o século de ouro da língua espanhola 
A partir da Reconquista, em 1492, os reis católicos expulsaram, da 
península, as minorias étnicas que não se converteram ao cristianismo, como 
árabes e judeus. Além da unifi cação religiosa, destacou-se, nesse período, 
uma preocupação linguística, além de uma série de medidas tomadas, visando 
à unifi cação do território. Por exemplo, a língua castelhana se tornou a língua 
ofi cial do território e foi publicada a primeira Gramática da Língua Castelhana
(1492), escrita por Antonio de Nebrija. É considerada a primeira gramática 
sistemática e formal e tentou, pela primeira vez, unifi car critérios linguísticos. 
33
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
Interessante, não é verdade?! Caso queira se aprofundar mais, 
uma dica de leitura é BURKE, P. Linguagens e comunidades nos 
primórdios da Europa Moderna. São Paulo: Editora Unesp, 2010.
Em 1512, o reino de Navarro foi unifi cado à Espanha, o que gerou o território 
que conhecemos atualmente. Castilha possuía grande poder econômico, 
propiciando que o castelhano se propagasse por todo o território, em detrimento 
do catalão e do basco.
A partir de então, o reino passou a se fortalecer. Esse foi o período das 
grandes navegações, e a Espanha descobriu uma nova rota para as Índias. 
Além disso, ocorreram as expedições de Cristóvão Colombo para as Américas, 
e o grande volume de riquezas foi retirado e levado para a Espanha. Em 1521, o 
império Asteca foi conquistado e, o império Inca, em 1533.
Por volta de 1550, Espanha e Portugal dominaram, juntos, o continente 
sulamericano, e a Espanha expandiu para América Central. Implantou-se uma 
política linguística para reforçar a identidade nacional e a língua espanhola 
migrou pela América, aumentando o número de falantes do castelhano no Novo 
Continente.
O espanhol se tornou língua ofi cial em países, como Argentina, Bolívia, 
Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, na América do 
Sul; e, na América Central, os hispanófonos: Costa Rica, Guatemala, Honduras, 
El Salvador, Nicarágua e Panamá.
Nesse cenário, a língua passou a sofrer modifi cações por 
questões geográfi cas e pela própria singularidade da fala dos soldados 
e dos falantes de diferentes origens que viajavam. Além disso, as 
infl uências das línguas indígenas já existentes contribuíram para o 
castelhano, enriquecendo a língua com contribuições de vocabulário.
Fruto desses fatos, nas décadas seguintes, a Espanha 
se transformou em um grande polo econômico, permeada de 
intensivas atividades culturais, patrocinadas pelo ouro das Américas. 
Consequentemente, a língua espanhola também ganhou prestígio e 
adeptos. Acredita-se que, por volta de 1700, já se tinham mais de seis 
milhões de hispano-falantes.
A Espanha se 
transformou 
em um grande 
polo econômico, 
permeada 
de intensivas 
atividades culturais, 
patrocinadas pelo 
ouro das Américas. 
Consequentemente, 
a língua espanhola 
também ganhou 
prestígio e adeptos.
34
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
Conhecido com o Século de Ouro, este apogeu cultural durou pelos séculos 
XVI e XVII, abrangendo, cronologicamente, o Renascimento e o Barroco. Cabe 
lembrar que se mantiveram, também, as tradições medievais, pela força do clero 
na região e pela forte presença da Contrarreforma.
É, do período, a obra El Tesoro de la Lengua Castellana, de Sebastián 
Covarrubias, em 1611, considerada a publicação do primeiro dicionário 
monolíngue de língua espanhola. Ainda, é preciso citar outros grandes autores da 
literatura de língua espanhola, como San Juan de la Cruz, Lope de Vega, Miguel 
de Cervantes, Fray Luis de León, Luis de Góngora, Francisco de Quevedo e 
Calderón de la Barca, que contribuíram para o fortalecimento da língua. 
Caro acadêmico, caso tenha curiosidade de descobrir mais 
a respeito da obra Tesoro de la Lengua Castellana o Española, de
Sebastián de Covarrubias Orozco, você pode a encontrar disponível 
em http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/del-origen-y-principio-
de-la-lengua-castellana-o-romance-que-oy-se-vsa-en-espana-
compuesto-por-el--0/html/.
 4.2.3 O espanhol moderno
No século XVIII, a língua espanhola já começou a ganhar 
feições como a que conhecemos hoje em dia. Um marco importante 
dessa época foi a criação da Real Academia Espanhola da língua 
(RAE), em 1713, por Juan Manuel Fernández Pacheco, além da 
publicação do Diccionario de Autoridades (1726-39), pela RAE. Essainstituição se tornou a mais importante na fi xação das normas que 
regiam a língua espanhola e na regulação de novas incorporações 
de termos e de empréstimos linguísticos.
No século XVIII, a 
língua espanhola já 
começou a ganhar 
feições como a que 
conhecemos hoje 
em dia. Um marco 
importante dessa 
época foi a criação 
da Real Academia 
Espanhola da língua 
(RAE), em 1713,.
35
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
Para aprofundar os seus conhecimentos a respeito da RAE, 
sugerimos a leitura da seguinte tese: https://www.teses.usp.br/
teses/disponiveis/8/8145/tde-20092018-125847/publico/2018_
AnaPaulaFabroDeOliveira_VCorr.pdf.
Seguindo o nosso percurso histórico, durante a Revolução 
Francesa (1789-1799), as tropas de Napoleão Bonaparte invadiram o 
território espanhol e concederam o trono da Espanha ao irmão, José 
Bonaparte. Esse período de agitação interna favoreceu as lutas das 
colônias espanholas, na América, pela independência. Por volta de 
1830, o império espanhol, na América, já estava perdido.
A imposição linguística, como única língua ofi cial da Espanha, 
ganhou novo folego, durante os anos de 1833 e 1839, com a utilização nos 
órgãos administrativos. Em 1898, a Espanha perdeu as ilhas de Cuba, Filipinas e 
Porto Rico, após a guerra contra a América do Norte. Esse fato incentivou a força 
colonialista na África, conquistando a Guiné Espanhola, atual Guiné Equatorial – 
único país africano que fala, ofi cialmente, espanhol.
Nessa época, a Espanha começou a enfraquecer política e economicamente. 
Após as eleições de 1931, que originaram a proclamação da Segunda República 
Espanhola (1931 a 1939), a Constituição Espanhola liberou, ofi cialmente, as línguas 
regionais, porém, essa liberdade durou apenas até a ditadura militar fascista, com 
o general Franco, que instaurou a repressão linguística novamente.
Esse período de 
agitação interna 
favoreceu as 
lutas das colônias 
espanholas, na 
América, pela 
independência.
As forças da ordem de Franco destruíram os livros de 257 
bibliotecas populares nas academias espanholas: “Depois dos 
acontecimentos de outubro de 1934, a força pública queimou os 
livros das bibliotecas das academias. Destino semelhante tiveram 
as bibliotecas das casas do povo ou dos sindicatos, como o dos 
Ferroviários do Norte, que possuía mais de quatro mil volumes [...]” 
(BÁEZ, 2004, p. 172).
36
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
FONTE: Báez (2004, s.p.)
Em 1975, morreu Franco e Juan Carlos I se tornou o rei da Espanha. 
Aprovou a nova Constituição Espanhola, em 1978, e mudou a prática da língua 
espanhola. O Estado descentralizou muito da autoridade, criando as comunidades 
autônomas. Atualmente, a Espanha é dividida em 17 comunidades autônomas, 
administradas pelos governantes locais. Ainda que o castelhano seja a língua 
ofi cial para toda a Espanha, muitas regiões são bilíngues. Surgem muitas 
línguas, como Euskera (falada em regiões, como Navarra, e nos países bascos), 
Aranês (Vale do Arán), Galego (Galiza) e Catalão (falado nas Ilhas Baleares e 
na comunidade valenciada). Foram reconhecidas na Constituição de 1978, 
além do Aragonês (vale do Aragão), que, após a Lei de Luengas, aprovada em 
2009, reconheceu o aragonês e o catalão como línguas próprias e estabeleceu 
os direitos dos idiomas. Contudo, nem todas as línguas regionais recebem o 
reconhecimento merecido ainda. 
4.2.4 Castelhano ou espanhol?
Quando começamos a estudar espanhol, uma das primeiras dúvidas que 
surgem é acerca da denominação espanhol ou castelhano para se referir à 
língua-alvo. Na verdade, espanhol e castelhano são denominações diferentes, 
mas se referem a uma mesma língua, porém, com sentidos históricos um pouco 
diferentes. Para entender como surgiu essa polêmica, rememoraremos o nosso 
percurso histórico da origem do idioma. 
A denominação castelhano tem referência histórico-geográfi ca, mais antiga, 
remetendo ao reino de Castela, na Idade Média. Nesse período, ainda não existia 
37
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
a Espanha. Com a consolidação do país e a unifi cação dos reinos, o castelhano 
foi adotado como língua ofi cial em 1492, como vimos, fazendo com que esse 
dialeto ganhasse o status de língua de todos os povos ibéricos. 
Denominar o idioma como espanhol pode gerar certo confl ito, no sentido 
de que o espanhol se torna um meio para tentar unifi car a nação formada, mas, 
nesse mesmo espaço, existem outras línguas que também podem ser chamadas 
de “espanholas”, uma vez que estão nesse território. Como vimos, na Espanha, 
existem outros idiomas, como basco, galego e catalão. Por isso, algumas 
pessoas acreditam que seria mais coerente chamar de castelhano essa língua 
com origem no Reino de Castela, em respeito às outras que coexistem aí. Afi nal, 
quando dizemos que falamos espanhol, não queremos dizer que sabemos todas 
as línguas faladas na Espanha. Inclusive, a Constituição Espanhola denomina a 
língua ofi cial como castelhano, e “línguas espanholas” as demais que são faladas 
no território.
 
Recordemos que a Espanha conquistou vários territórios na época das 
grandes navegações, colonizando grande parte das Américas do Sul e Central, 
por exemplo. Então, optar por não usar espanhol, nesses lugares, também pode 
ser um modo de se posicionar, afi nal, o termo remete ao período colonial. 
O termo espanhol vem do latim medieval Hispaniolus, 
denominação romana da Península Ibérica. Desse modo, 
inicialmente, também englobaria o território de Portugal (LAGARES, 
2011).
Assim, dizer espanhol ou castelhano pode ser uma escolha pessoal ou 
para refl etir uma posição política, o que depende de cada um. O importante é 
sabermos a origem e o entorno desses termos. Nesta disciplina, manteremos o 
termo espanhol, pois é o nome mais conhecido entre nós, brasileiros. 
38
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
E você, qual nome prefere? Castelhano ou espanhol? Mencione 
o porquê. 
4.3 DO LATIM AO PORTUGUÊS
A língua portuguesa é falada em vários países, como Portugal, Brasil, 
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, e pode 
ser considerada a mais recentes das línguas românicas. Agora, trataremos, 
especifi camente, dessa língua, das primeiras manifestações e da diferenciação 
dos demais dialetos panromânicos até ser gerada a língua próxima ao que 
conhecemos hoje. Seguiremos caminhando historicamente, a fi m de conseguirmos 
uma noção geral dos fatos que interferiram na evolução da nossa língua. Assim, 
com o intuito de seguirmos uma rota organizada, dividiremos a história do 
português em “português arcaico”, “português clássico” e “português moderno”. 
4.3.1 O português arcaico (do século XII 
ao século XV)
Como já estávamos conversando, a língua portuguesa tem origem na 
romanização e na expansão do Império Romano, no enfraquecimento e na 
fragmentação, devido às invasões dos povos germânicos. Podemos dizer que se 
desenvolveu na região da Península Ibérica, onde, hoje, corresponde a Portugal e 
Galiza, além da província romana da Lusitânia.
Durante esse período, acreditava-se que a língua falada, nessa 
região, era constituída pelo latim vulgar, com infl uências de línguas 
celtas, germânicas e árabes. Bassetto (2005), inclusive, afi rma que a 
nossa língua portuguesa seria muito diferente sem a invasão árabe 
e as contribuições linguísticas. Foram mais de setecentos anos 
de dominação árabe na Península Ibérica e, com isso, surgiram 
inovações linguísticas específi cas, “o que gerou o isolamento dos 
falares do Noroeste da Península, não apenas dos vizinhos do Leste, leonês e 
castelhano, mas, também, dos dialetos moçárabes, que se desenvolveram no 
Sul” (TEYSSIER, 1997, p. 14). 
A nossa língua 
portuguesa seria 
muito diferente sem 
a invasão árabe e 
as contribuições 
linguísticas.
39
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
Como dica deleitura para quem deseja saber mais a respeito do 
português arcaico, sugerimos MATTOS E SILVA, R. V. O português 
arcaico: fonologia. São Paulo: Contexto, 1991. 
Assim, nos próximos séculos, IX a XII, surgiu o galego-português. Constituiu-
se como língua falada e escrita no ângulo noroeste da Península Ibérica. As 
características morfológicas e de sintaxe eram próximas às do latim vulgar, 
e não se distinguiam do galego falado na Galícia, ou seja, do espanhol e das 
demais línguas românicas. Por exemplo, “a declinação nominal latina 
se simplifi ca ao desaparecimento, e os substantivos acabam por 
apresentar somente as formas de singular e de plural, derivadas do 
acusativo latino” (GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 81). Com a queda 
do neutro, os gêneros foram reduzidos a dois. Os primeiros textos 
dos quais se teve registro, escritos em galego-português, surgiram 
somente no século XIII (TEYSSIER, 1997).
A partir das guerras da Reconquista, no século XII, Portugal conseguiu a 
independência com a expulsão dos árabes e venceu os castelhanos, que queriam 
anexar o país. Com isso, houve o início da separação do galego com o português, 
em 1185. Contudo, podemos considerar que ainda existem mais semelhanças do 
que diferenças entre o galego e a língua portuguesa, ou seja, o galego manteve 
proximidade com o português, apesar da infl uência castelhana (JESUS, 2020).
 4.3.1.1 Formação do vocabulário
Podemos considerar que grande parte do nosso léxico 
português veio do latim e atingiu a forma contemporânea através 
de diversos processos fonéticos, ao longo de muito tempo, como a 
erosão de certos fones e a inclusão de vogais para evitar encontros 
consonantais. Concomitante com esses processos naturais 
decorridos da fala, também encontramos processos diferentes que 
testemunham o desenvolvimento histórico que envolve a forma do 
léxico (GONÇALVES; BASSO, 2010).
Se tomarmos como exemplo a palavra latina 
planum, temos, como resultado da sua derivação 
popular ou natural, a palavra portuguesa chão, 
e, através de uma derivação erudita, a palavra 
plano. A diferença entre a derivação popular e a erudita está no 
Os primeiros textos 
dos quais se teve 
registro, escritos em 
galego-português, 
surgiram somente 
no século XIII 
(TEYSSIER, 1997).
Podemos considerar 
que grande 
parte do nosso 
léxico português 
veio do latim e 
atingiu a forma 
contemporânea 
através de diversos 
processos fonéticos, 
ao longo de muito 
tempo, como a 
erosão de certos 
fones e a inclusão 
de vogais para 
evitar encontros 
consonantais.
40
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
fato de que temos, na primeira, um processo vernacular, e, na 
segunda, uma importação consciente de um étimo latino, em 
geral, para fi ns literários. O mesmo se dá com o par olhos e 
óculos, ambos derivados da palavra latina óculos, através das 
derivações natural e erudita, respectivamente. Devido ao fato 
de que o latim, mas, também, o grego, estão sempre disponíveis 
para, deles, emprestarmos étimos e formarmos novas palavras 
ou termos (basta pensar, no caso de étimos gregos, nos usos 
recentes da raiz bio, como em biocombustível, biosfera, 
biodegradável etc.), essas línguas podem ser chamadas de 
adstratos permanentes (GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 82).
Gonçalves e Basso (2010) afi rmam que, ao lado dessas derivações naturais 
e eruditas, também encontramos derivações semieruditas, com o uso de uma 
forma intermediária. Por exemplo, “os étimos latinos macula e articulum geraram, 
respectivamente, nas formas populares, semieruditas e eruditas, malha, mancha 
e mágoa, mácula, e artelho, artigo e artículo” (GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 
82).
é·ti·mo
(grego étumon, -ou, 
verdadeiro signifi cado de uma palavra, de acordo 
com a sua origem, do grego étumos, -ê, -on, verdadeiro)
1. [Gramática] Vocábulo considerado como origem de outro.
2. Origem de uma palavra. = ETIMOLOGIA
Leia mais em https://dicionario.priberam.org/%C3%A9timo.
Teyssier (1997) considera que, somadas ao “velho fundo do 
vocabulário latino” que foi transmitido ao galego-português e, depois, 
ao português moderno, estiveram palavras novas de empréstimos dos 
povos que habitavam já a Península antes da chegada dos romanos, 
como barro, manteiga, sapo etc., aparentadas como basco. Contudo, 
os empréstimos mais importantes aconteceram posteriormente, na 
época romana, além dos primeiros textos do germânico e do árabe.
Dos empréstimos de palavras de origem germânica ao 
português, surgiram exemplos de determinados campos semânticos, 
Somadas ao 
“velho fundo do 
vocabulário latino” 
que foi transmitido 
ao galego-
português e, depois, 
ao português 
moderno, estiveram 
palavras novas 
de empréstimos 
dos povos que 
habitavam já a 
Península antes 
da chegada dos 
romanos.
41
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
do dia a dia, como da guerra (guerra, rouba, espia), da casa, do equipamento 
(estaca, espeto), da indumentária etc. (TEYSSIER, 1997).
Devido ao longo período de permanência árabe na Península Ibérica, a 
infl uência, no vocabulário, também foi signifi cativa no português e no espanhol. 
Acredita-se que “o número de palavras portuguesas de origem árabe andaria 
por volta de mil (954, mais exatamente)” (MACHADO apud TEYSSIER, 1997, 
p. 18). Algumas dessas palavras, hoje em dia, são arcaísmos, outras seguem 
ativas. O léxico, aqui, refl ete as áreas em que a civilização árabe-islâmica então 
resplandecia, pertencendo aos campos semânticos: agricultura, fl ora e fauna 
(arroz, azeitona, alface, javali); ciências, artes e técnicas, com instrumentos 
(alfi nete, alicate, almofada); profi ssões (alfaiate, almocreve); organizações 
administrativa e fi nanceira (alcaide, alfândega); alimentação (açúcar); guerra, 
com armas e acerca da vida militar (alferes, refém) etc. (TEYSSIER, 1997). 
4.3.2 O galego-português de 1200 
adiante
Dando seguimento, no século XII, Portugal se tornou 
independente de Galiza e de Leão, contribuindo para a origem da 
língua portuguesa, como veremos. Além da separação, Portugal 
seguiu as conquistas de territórios, como dos mouros ao sul, assim, 
as fronteiras de Portugal já estariam bem defi nidas, sofrendo apenas 
pequenas modifi cações em relação ao que é hoje.
Até o século XIV, a língua falada era o galego-português. Em 1250, a capital 
de Portugal foi transferida para Lisboa e a língua portuguesa, nascida ao norte, 
foi levada ao sul nesse movimento. Lisboa se tornou a cidade mais povoada 
e com o primeiro porto português. Com todo o progresso e o desenvolvimento 
econômicos, com a fundação da Universidade (1290), sentiu-se a necessidade 
de estabelecer o português como língua fi xa. Na sequência, com as grandes 
navegações, a língua foi difundida pelos diferentes continentes.
Ao longo desses séculos, a língua evoluiu e ganhou território. Passou a 
ser usada em diferentes textos e sofreu infl uências de movimentos artísticos e 
fi losófi cos, como o Humanismo e o Renascimento. 
4.3.2.1 Textos do período
Os textos desse primeiro período da língua portuguesa pertenceram a 
diferentes gêneros, a saber:
No século XII, 
Portugal se tornou 
independente de 
Galiza e de Leão, 
contribuindo para 
a origem da língua 
portuguesa.
42
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
• Poesia lírica trovadoresca: essa poesia infl uenciou a produção da 
literatura em galego-português em um período fértil. Basicamente, 
surgiram três compilações organizadas do tempo dos provadores: 
Cancioneiro da Ajuda (fi ns do século XIII), Cancioneiro da Vaticana e 
Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa, ambas, provavelmente, 
dos primeiros anos do século XVI. Essas compilações de poesias 
trovadorescas podem ser classifi cadas em “cantigas d’amigo; poemas 
de amor, com eu lírico feminino; cantigas d’amor mais eruditas, com eu 
lírico masculino; cantigas de escárnio e maldizer; poemas satíricos de 
invectiva, mais grosseiros do que os anteriores” (GONÇALVES; BASSO,2010, p. 83). Os textos mais antigos dos quais se sabe eram do início do 
século XIII, e o gênero deixou de ser produzido em volta do século XIV, 
com o último trovador, D. Pedro de Barcelos, fi lho bastardo de D. Dinis 
(GONÇALVES; BASSO, 2010). 
• Prosa literária: com o século XIII, começou o início da tradição da 
prosa literária em português. Merecem destaque os romances Demanda 
do Santo Graal, Merlim e Livro de Tristan. No século XIV, surgiram 
os documentos Livro de Linhagens, de D. Pedro, e a Crônica Geral 
de Espanha, de 1344, primeiros textos da historiografi a escrita em 
português, além da versão portuguesa da Primeira Crónica General 
de Espanha, redigida por ordem de Afonso X, o Sábio (GONÇALVES; 
BASSO, 2010).
• Textos religiosos: nessa época, também encontramos várias obras de 
espiritualidade e das vidas de santos, como a Regra de S. Bento, do 
início do século XIV, e Vida de Cristo, do início do século XV.
• Documentos ofi ciais e particulares: nessa categoria, surgiram leis, 
testamentos, títulos públicos, foros etc. Aqui, encontramos os dois textos 
mais antigos escritos em galego-português, os quais temos acesso hoje 
em dia, o Testamento de Afonso II e a Notícia do Torto, provavelmente, 
escritos em 1214. Entre os séculos XI até XIII, foram expostos vários 
documentos escritos em latim, mesclado com romance galego-português. 
Já a partir do século XIII, apareceram documentos totalmente escritos 
em “língua vulgar”. D. Dinis deu grande impulso à utilização da “língua 
vulgar”, ao torná-la obrigatória nos documentos ofi ciais (TEYSSIER, 
1997).
43
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
Em 1290, D. Dinis criava a universidade mais antiga do país e 
uma das mais antigas do mundo. Começou a funcionar em Lisboa, 
sendo transferida, defi nitivamente, para Coimbra, em 1537, por 
ordem do Rei D. João III. Com uma incontornável herança histórica, 
a Universidade de Coimbra contou com os patrimônios material e 
imaterial únicos, fundamentais na história das culturas científi ca 
europeia e mundial, sendo, desde 2013, Patrimônio Mundial da 
UNESCO (UNIVERSIDADE DE COIMBRA, 2021).
4.3.3 O português clássico
A fase que denominamos como clássica engloba o período 
que vai de 1415 até 1572. Nesse momento, surgiram as grandes 
navegações portuguesas. Em 1415, ocorreu a conquista de Ceuta, 
na África, dando o pontapé inicial para que a língua portuguesa 
conquistasse muitas regiões para além do mar, como o Brasil, vários 
territórios na costa da África, da Índia e de outros territórios asiáticos 
(GONÇALVES; BASSO, 2010).
Consideramos que o período clássico se estendeu até a publicação da obra 
Os Lusíadas, o maior poema épico da língua portuguesa, publicado em 1572, 
de Luís Vaz de Camões. Na verdade, esse período foi muito importante para a 
consolidação de uma língua literária, em especial, durante a dinastia de Avis, com 
os três fi lhos de D. João I: D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique. Os três tiveram uma 
importante produção erudita inspirada por autores clássicos, como Aristóteles, 
Cícero e Sêneca.
Durante o século XV, também prosperou a prosa historiográfi ca, na qual se 
destacou Fernão Lopes. Assim, houve o estabelecimento do português clássico, 
“especialmente, em virtude da produção renascentista, no qual a língua viria a 
se consolidar e retomar vários aspectos do latim, perdendo diversas alterações 
vulgares que vinham se desenvolvendo desde o período galego-português” 
(GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 97).
A fase que 
denominamos como 
clássica engloba 
o período que vai 
de 1415 até 1572. 
Nesse momento, 
surgiram as grandes 
navegações 
portuguesas.
44
 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
A primeira gramática de língua portuguesa de que se tem registro 
data de 1536, intitulada Grammatica da Lingoagem Portuguesa, com 
autoria de Fernão de Oliveira. Nela, estabeleceu-se um sistema 
ortográfi co para a língua portuguesa.
4.3.3.1 Características do português 
clássico
As grandes navegações também foram importantes para a consolidação 
da língua portuguesa. Nesse afã expansionista, Portugal manteve contato com 
diferentes povos, culturas e línguas que infl uenciaram a língua portuguesa durante 
essa fase clássica, principalmente, no que se refere ao léxico. Alguns exemplos 
de incorporações lexicais são: “zebra (do etíope), canja (do malabar, língua falada 
no Sri-Lanka), chá (mandarim), condor e lhama (do quéchua), chocolate (asteca), 
manga (indonésio), sagu (malaio), várias palavras de origem tupi, como ananás, 
amendoim, mandioca etc.” (GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 98).
Além dos empréstimos, Gonçalves e Basso (2010) recordam que o léxico 
sofreu outras mudanças, como a perda do gênero neutro, fazendo com que muitas 
palavras apresentassem fl utuações de gênero, sendo, às vezes, masculinas, 
e, outras, femininas. Diversas formas terminadas em consoante não possuíam 
diferenciação para o masculino ou o feminino, por exemplo, a forma de “senhor”, 
que também era usada para o feminino (GONÇALVES; BASSO, 2010).
Com o século XV, iniciou-se a regularização dos gêneros, inclusive, 
Gonçalves e Basso (2010) acreditam que, possivelmente, pela infl uência do 
surgimento da forma feminina “senhora”, outros “nomes terminados em consoante 
começaram a receber uma forma feminina em –a”. “Assim, esse processo 
analógico se estendeu a outras formas, como as terminadas em –agem, que 
fl utuavam em gênero, e passaram a ser femininas (“linguagem” e “linhagem”, por 
exemplo, eram masculinas anteriormente)” (GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 99).
45
ESPANHOL E PORTUGUÊS: LÍNGUAS IRMÃS Capítulo 1 
Outras mudanças desse período de transição, iniciado no século 
XV rumo ao português clássico, referem-se ao plano fonológico. 
Vejamos algumas das mudanças mais importantes:
Síncope do -d- na segunda pessoa do plural: em D. Diniz e 
Fernão Lopes, já era possível perceber que o‘d’da segunda pessoa 
do plural estava se resolvendo da seguinte maneira: estades > estaes 
> estais, vendedes > vendees > vendeis. Um dado importante é o 
fato de que, nas peças do dramaturgo Gil Vicente (c. 1465-c. 1536), o 
-d- intervocálico de segunda pessoa do plural aparecia como marca 
de arcaísmo na fala de pessoas mais velhas, o que demonstra que, 
para o público do período, essa característica era percebida como 
um traço de arcaísmo.
Para saber mais dos processos das áreas da morfologia, sintaxe 
e fonologia desse período, você pode ler TEYSSIER, P. História da 
língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
Ainda, no campo lexical, com o Renascimento ganhando 
adeptos em Portugal e com o prestígio dos estudos latinos, a língua 
recebeu vários empréstimos latinos. Esse latinismo pode ocorrer ao 
adotar uma ortografi a etimológica das palavras mais próxima do latim, 
exemplo: doctor, por doutor. Nesse viés, destacamos os humanistas 
eruditos Damião de Góis (1502-1574) e André de Resende (1500-
1573), “cujas obras são escritas, sobretudo, em latim, e esse processo 
atinge limites extremos e chega a desfi gurar os termos mais usuais. 
Damião de Góis, por exemplo, escreve epse por esse, por causa do 
latim ipse” (TEYSSIER, 1997, p. 57).
“Não raro, há de acontecer que o étimo, com base no qual se regulariza 
a grafi a, seja falso” (TEYSSIER, 1997, p. 57). Nesse período, o latim exerceu 
grande interferência no português, algumas até permaneceram, e outras fi caram 
para trás. 
Com o 
Renascimento 
ganhando adeptos 
em Portugal e com 
o prestígio dos 
estudos latinos, 
a língua recebeu 
vários empréstimos 
latinos.
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 Língua Espanhol e Portuguesa proximidades e diferenças
Eliminação dos hiatos: como vimos, uma grande quantidade de 
hiatos foi criada com as quedas de l, n, d e g intervocálicos. Além 
disso, a recente perda do d, na segunda pessoa do plural, aumentou 
a quantidade de hiatos. Esse período de transição, que iniciou o 
período clássico, resolveu o problema dos hiatos através de três 
processos

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