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Laboratório de Habilidades Clínicas Fábia Maria Oliveira Pinho Rita Francis Gonzalez y Rodrigues Branco Celmo Celeno Porto ■Introdução ■Infraestrutura para funcionamento do Laboratório de Habilidades ■Objetivos do Laboratório de Habilidades ■Treinamento da semiotécnica da anamnese ■Treinamento da semiotécnica do exame físico ■Treinamento de procedimentos e técnicas especiais ■Laboratório de Habilidades de Comunicação ■Laboratório de Habilidades como método de avaliação INTRODUÇÃO O processo ensino-aprendizagem da semiologia é realizado, atualmente, em vários cenários, e não somente nos hospitais universitários. Em muitas escolas médicas, para ensinar a elaboração de uma história clínica, os professores contam com pacientes de enfermarias; em outras, já preferem aqueles provenientes de ambulatórios ou unidades básicas de saúde. A enfermaria é um local privilegiado para o ensino-aprendizagem de técnicas de exame físico, reconhecimento de padrões, demonstração de situações em que o exame físico é alterado, e, por isso mesmo, continua sendo usada com esse objetivo. Já a história clínica construída a partir de pacientes de ambulatórios ou unidades básicas de saúde, que apresentam problemas menos complexos, permite que o raciocínio hipotético-dedutivo possa ser desenvolvido pelos alunos desde o início do curso médico. As escolas médicas que adotam metodologias ativas, como PBL (Problem Based Learning), utilizam, ainda, o Laboratório de Habilidades (LH) como recurso didático para o desenvolvimento de habilidades, atitudes e conhecimentos necessários para o exame clínico. O primeiro LH foi instalado em 1975, na Faculdade de Medicina da Universidade de Limburg, em Maastricht, na Holanda. Atividades acadêmicas eram desenvolvidas em função de um programa longitudinal para os diversos tipos de habilidades necessárias à prática médica. No Brasil, o curso de Medicina da Universidade de Londrina instalou, em 1998, o primeiro LH do país. Logo depois, outras escolas médicas brasileiras, seguindo modernas tendências pedagógicas internacionais, começaram a utilizar o LH como um instrumento de apoio pedagógico. Essas escolas apresentam currículo inovador, fundamentado no aprendizado baseado em problemas, teste de progressão, inserção precoce do estudante em atividades de atenção à saúde e desenvolvimento de atitudes médicas. Boxe A tendência é que cada escola médica se mobilize para criar seus próprios Laboratório de Habilidades. Além da aquisição de diversos modelos e manequins, é necessária uma equipe dedicada e dotada de capacidade para desenvolver as mais variadas atividades práticas de integração das disciplinas básicas com as clínicas. USER Highlight USER Highlight USER Highlight USER Highlight USER Highlight USER Highlight INFRAESTRUTURA PARA FUNCIONAMENTO DO LABORATÓRIO DE HABILIDADES Para criar um LH, é necessário um espaço físico composto de várias pequenas salas que possibilite treinamentos com, no máximo, 10 estudantes, 1 professor e 1 monitor. O espaço físico destinado ao LH deve ser um importante aliado na realização das diversas atividades que ali serão desenvolvidas. É fundamental equipá-lo de modo a simular ambientes pelos quais os estudantes serão expostos durante ou após sua formação acadêmica. O LH deve conter salas que simulem cenários de enfermaria clínica, enfermaria cirúrgica, enfermaria materno-infantil, unidade de terapia intensiva, centro cirúrgico, consultórios médicos (salas-espelho), sala de curativos, sala de emergência, posto de enfermagem, salas de treinamento semiológico, salas de aula, entre outros. O mobiliário para cada sala deve ser constituído por macas, bancos, negatoscópios, quadros brancos e outros acessórios, dependendo dos objetivos de cada atividade a ser desenvolvida neste espaço. A aquisição de materiais, equipamentos e manequins para o LH dependerá da disponibilidade da instituição e dos objetivos propostos para o laboratório. Recomenda-se a aquisição de alguns modelos e manequins simuladores para desenvolver e treinar as habilidades necessárias à formação básica do médico. Manequins simuladores que permitem o treinamento de ausculta cardíaca, respiratória e abdominal, tanto normais quanto patológicas, pulsos centrais e periféricos, pressão arterial sistêmica, reanimação cardiopulmonar, reação a medicamentos, entre outros, são necessários, caso o objetivo do LH esteja relacionado com a propedêutica médica. Modelos para treinamento de procedimentos como punção venosa superficial e profunda, punção arterial, cateterismo vesical, sondagem nasogástrica, exame de fundo de olho, toque vaginal, palpação de mamas, toque obstétrico, toque retal e prostático, toracocentese, paracentese, punção lombar, intubação orotraqueal, punção venosa e intramuscular e reanimação cardiopulmonar também são primordiais para cumprir tal objetivo. Do mesmo modo, são indispensáveis diversos materiais, instrumentos e equipamentos, como os de proteção individual (EPI), tubos, cateteres, sondas, agulhas, estetoscópios, esfigmomanômetros, rinoscópios, otoscópios, diapasão, oftalmoscópios, especulo anal e vaginal, lupas, lanternas, termômetros, balanças, macas, banquinhos, martelo de reflexos, entre outros, para treinar as mais variadas habilidades dentro do ambiente do laboratório (ver Quadro 5.1 no Capítulo 5, Técnicas Básicas do Exame Físico). Para o desenvolvimento e treinamento de habilidades de comunicação, será necessário adquirir um sistema de áudio e vídeo com possibilidade de reprodução e transmissão de som e imagem, em ambiente acústico adequado. Para tal objetivo, também é recomendado contar com atores, profissionais ou estudantes de artes cênicas, para encenar situações fictícias, criadas pelos professores de semiologia, no intuito de aprimorar a relação médico-paciente-familiares- comunidade. Boxe É importante lembrar que as atividades desenvolvidas e treinadas no LH não podem “substituir” o paciente, mas tão somente garantir o treinamento de ações que possam ser sucessivamente repetidas para proporcionar ao aluno maior segurança e postura ética quando ele estiver diante de uma situação real. É nesse ambiente que os alunos treinam o dia a dia da profissão, desenvolvendo as esferas cognitivas (conhecimentos), psicomotoras (habilidades) e afetivas (em suas múltiplas facetas), de maneira plena, antes de lidar com um paciente real. É primordial a formação de uma equipe de docentes afinada com a metodologia e capaz de criar roteiros de aulas e cenas/situações para o desenvolvimento e treinamento das habilidades necessárias a uma sólida formação médica; outro passo fundamental é contar com funcionários capacitados para o controle do acervo – que deve ser mantido em local arejado e seguro –, e realização de manutenção periódica. Por fim, é indispensável a formação de uma equipe de monitores, composta de estudantes em nível mais avançado, para auxiliar durante as aulas e avaliações. Quanto mais amplo e completo for o LH, maior será sua participação no projeto pedagógico do curso e melhores serão seus resultados. Atualmente, um LH integrado e ativo pode ser utilizado não somente na semiologia médica, mas desde o início do curso, nas atividades comunitárias e preventivas, passando pelas atividades ambulatoriais, cirúrgicas e de terapia intensiva, pela conclusão do curso médico (internato) e, por fim, atingindo a pós-graduação e a educação continuada, direcionadas a médicos já formados. Os diversos centros universitários de habilidades e simulação, espalhados por diversos países do mundo, divulgam que o custo-benefício da criação de um LH é mais que satisfatório. Sabe-se que o treinamento em manequins e simuladores, após implantação plena do LH, é considerado econômico, já que os equipamentos são idealizados para suportar um grande número de atividades e utilização por parte dos estudantes. OBJETIVOS DO LABORATÓRIO DE HABILIDADES No LH, é possível fazer otreinamento das técnicas de construção de uma história clínica e do exame físico antes do contato do estudante com o paciente. Inicialmente, o professor orienta como fazer a anamnese, e, em seguida, o aluno a desenvolve utilizando-se de pacientes-atores que encenam a história clínica fictícia. As histórias clínicas encenadas pelos atores são escritas sob a forma de “cenas teatrais” pelos professores, com o intuito de alcançar os objetivos de aprendizagem propostos pela disciplina no que se refere aos conhecimentos teóricos, às habilidades de comunicação e às atitudes éticas e humanistas (Figura 2.1A). Figura 2.1 Laboratório de Habilidades. Já o exame físico é ensinado aos estudantes e repetidamente treinado, a partir de manequins e modelos que simulam reações humanas em diversas situações clínicas, ou também pacientes- atores como alternativa, quando não for possível a realização do exame no manequim (Figura 2.1B). Boxe Os manequins e os atores profissionais nunca irão substituir os pacientes, mas apenas antecedem o contato com eles, que, neste caso, será realizado nas instituições que prestam assistência médica. Os objetivos específicos desta metodologia são: ◗ Desenvolver a postura ética na relação médico-paciente ◗ Desenvolver a capacidade de realizar uma anamnese completa ◗ Desenvolver a habilidade de realizar inspeção, palpação, percussão e ausculta ◗ Desenvolver a habilidade de realizar o exame físico geral ◗ Desenvolver a habilidade de realizar a semiotécnica dos exames específicos cardiovascular, respiratório, abdominal, dermatológico, neurológico, locomotor, endócrino-reprodutor e geniturinário masculino e feminino. Boxe Vantagens do Laboratório de Habilidades No LH, desenvolve-se uma série de atividades que fortalecem o aprendizado e podem ser repetidas individualmente sob orientação de um professor. Vantagens na utilização deste laboratório são: ✓Complexas situações clínicas podem ser desenvolvidas e simuladas ✓Os procedimentos podem ser repetidos muitas vezes, o que seria inaceitável para os pacientes ✓O erro pode ser corrigido de imediato, sem haver constrangimento por parte do estudante e do paciente ✓A dependência da presença de pacientes no momento do treinamento é excluída ✓Pode representar um fator de motivação importante tanto para adquirir conhecimentos como habilidades ✓Sendo um espaço de treinamento e desenvolvimento de habilidades, oferece maior segurança ao estudante quando for examinar o paciente real. TREINAMENTO DA SEMIOTÉCNICA DA ANAMNESE A semiotécnica da anamnese é ensinada em um ambiente, dentro do LH, que simula um consultório médico. Esse espaço é composto de um consultório tipo sala-espelho (Figura 2.2) com corredores laterais que circundam esta sala. Durante a consulta médica simulada, o aluno-médico e o paciente-ator ficam dentro do consultório médico, em um ambiente pseudoprivativo. O professor e os alunos-observadores, sempre em pequenos grupos (8 a 10 alunos), ficam nos corredores laterais ao consultório, assistindo à consulta – do início ao fim –, porém sem serem vistos pelo aluno-médico ou paciente- ator. A história clínica encenada pelo paciente-ator segue um script criado pelos professores de semiologia médica, focado nos objetivos a serem alcançados pelos estudantes durante a elaboração de uma anamnese. Os pacientes-atores podem ser atores profissionais ou estudantes/estagiários de artes cênicas. Enquanto o aluno-médico conversa com o paciente-ator e desenvolve sua anamnese, todos os outros alunos observam a cena e também preparam as suas próprias. Depois que o aluno-médico termina sua anamnese, o professor permite que os alunos observadores façam perguntas complementares ao paciente-ator, que, porventura, não tenham sido questionadas pelo aluno- médico durante sua entrevista. Ao término da entrevista simulada, todos os acadêmicos se reúnem com o professor para comentar acertos e falhas, esclarecer dúvidas e discutir situações relacionadas com atitudes semiológicas e éticas que, por acaso, tenham surgido durante a consulta. Figura 2.2 Consultório tipo sala-espelho. Uma alternativa bastante usual de estabelecer esse treinamento é a filmagem da cena em que o aluno-médico realiza a anamnese com o paciente-ator em videotape. Tal cena poderá ser assistida posteriormente pelos estudantes e o professor, apontando acertos e falhas ocorridas durante a consulta simulada. Boxe É de extrema importância que o professor, em algumas ocasiões, faça o papel do médico na consulta simulada. A maioria dos estudantes tem a figura do professor como exemplo e mentor, seguindo, assim, sua prática e conduta. TREINAMENTO DA SEMIOTÉCNICA DO EXAME FÍSICO A semiotécnica do exame físico é ensinada em uma sala ampla, dentro do LH, na qual o professor demonstra a técnica nos manequins/modelos simuladores, nos pacientes-atores ou nos próprios alunos e, em seguida, permite que os estudantes repitam as manobras por várias vezes, até dominarem a técnica (Figura 2.3). Esse encontro entre professor e alunos, em pequenos grupos, constitui um momento muito rico, pois há uma integração entre conhecimento teórico aprendido, prática assistida e, posteriormente, treinada, bem como posturas eticamente discutidas. Desse modo, os acadêmicos que realizam a semiotécnica no LH tornam-se mais bem preparados para o momento de lidar diretamente com um paciente real nas unidades de assistência à saúde, sejam ambulatoriais, sejam hospitalares. No LH, podem ser desenvolvidas várias técnicas semiológicas nos manequins/modelos simuladores, destacando-se as seguintes: ◗ Semiotécnica das técnicas básicas do exame físico: inspeção, palpação, percussão e ausculta ◗ Semiotécnica do exame físico geral: temperatura, medidas antropométricas, hidratação, mucosas e edema ◗ Semiotécnica do sistema cardiovascular: aferição da pressão arterial (Figura 2.4) e da frequência cardíaca, ausculta cardíaca normal e patológica, pulsos centrais e periféricos ◗ Semiotécnica do sistema respiratório: percussão, palpação e ausculta respiratória normal e patológica, frequência respiratória ◗ Semiotécnica do abdome: palpação, percussão e ausculta abdominal normal e patológica ◗ Semiotécnica dermatológica: inspeção das lesões da pele e fâneros (Figura 2.5) ◗ Semiotécnica do sistema neurológico: manobras e reflexos, exame oftalmoscópico (Figura 2.6), exame otoscópico (Figura 2.7) ◗ Semiotécnica do sistema locomotor: manobras e reflexos ◗ Semiotécnica do sistema endócrino-reprodutor-urinário, masculino e feminino: palpação de mamas (Figura 2.8), toque vaginal e obstétrico (Figura 2.9), toque retal para avaliação prostática (Figura 2.10). TREINAMENTO DE PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS ESPECIAIS No LH, podem ser desenvolvidos, nos manequins/modelos simuladores, vários procedimentos e técnicas, entre eles: ◗ Intubação orotraqueal (Figura 2.11) ◗ Reanimação cardiopulmonar (Figura 2.12) ◗ Punção arterial ◗ Punção venosa central e periférica (Figura 2.13) ◗ Punção lombar (Figura 2.14) ◗ Toracocentese ◗ Paracentese ◗ Sondagem vesical (Figura 2.15) ◗ Sondagem nasogástrica (Figura 2.16) ◗ Diluição de medicamentos (Figura 2.17) ◗ Lavagem das mãos (Figura 2.18) ◗ Uso de equipamentos de proteção individual (Figura 2.19). No LH, os estudantes também têm a oportunidade de manusear adequadamente aparelhos médicos que compõem os diversos tipos de ambientes hospitalares, como monitor cardíaco, cardioversor, ventilador mecânico, oxímetro de pulso, entre outros. Figura 2.3 Demonstração, do professor aos alunos, da semiotécnica do exame físico no manequim. Figura 2.4 Aferição da pressão arterial em manequim simulador. Figura 2.12 Reanimação cardiopulmonar em manequim simulador. Figura 2.14 Técnica de punção lombar em modelo. LABORATÓRIO DE HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO Comunicação efetiva e interação são hoje apontadascomo competências clínicas, essenciais para exercício de uma boa medicina. A comunicação é uma habilidade clínica fundamental na prática médica e pode ser ensinada e aprendida. Para ser eficaz, a abordagem biopsicossocial, adotada em diversos cursos médicos, necessita de um forte componente comunicacional nas diversas fases da relação médico-paciente, especificamente, na consulta, nas atividades de educação para a saúde e na relação com os familiares do paciente. Sabe-se que as consequências relacionais, especialmente habilidades comunicacionais, empatia e construção de vínculo, são fatores que interferem em uma adequada relação médico- paciente-familiar. Adequada comunicação e relação médico-paciente tem impacto significativo no cuidado e no aumento na qualidade da atenção à saúde. Já a falta de habilidade de comunicação está relacionada a má prática clínica e erros médicos. Desenvolver a habilidade de se comunicar com o paciente e seus familiares faz parte do trabalho de construção da consciência da responsabilidade social do trabalho médico, fundamental para que ele desempenhe seu papel com dignidade. Assim, algumas escolas médicas, têm criado o Laboratório de Habilidades de Comunicação. Este laboratório tem por objetivo proporcionar ao estudante conhecimento e treinamento nas habilidades de comunicação, necessárias para se estabelecer uma boa relação médico-paciente- familiar-equipe, visando ao desempenho efetivo e eficiente da prática médica. Objetivos do Laboratório de Habilidades de Comunicação ◗ Sensibilizar o aluno quanto aos diferentes aspectos da comunicação e sua importância na profissão médica ◗ Discutir sobre a comunicação verbal e não verbal ◗ Ajudar o aluno a lidar com situações consideradas “difíceis”, sistematizando observações e procedimentos para esse fim ◗ Desenvolver no aluno a capacidade de comunicar boas e más notícias ◗ Desenvolver competências e habilidades de comunicação nas relações interpessoais com o paciente, com sua família e com a equipe multiprofissional ◗ Refletir sobre o cuidado com o paciente gravemente enfermo sob cuidados intensivos e/ou sob cuidados paliativos ◗ Refletir sobre a terminalidade da vida, a morte e o morrer e discutir como comunicar-se com pacientes, familiares e a equipe nessas situações especiais. Na educação médica, é consenso que a habilidade de comunicação deve ser desenvolvida ao longo de toda a graduação, de maneira sistematizada, em diversos cenários de ensino e, preferencialmente, em pequenos grupos, utilizando metodologias ativas. Diversas metodologias ativas, sempre em pequenos grupos de alunos, podem ser adotadas para se alcançarem os objetivos de um Laboratório de Habilidades de Comunicação. São elas: ◗ Discussão de textos e casos ◗ Observação do aluno junto ao paciente (tempo real) ◗ Filmagem do aluno com o paciente e discussão ◗ Medicina narrativa (leitura e escrita) ◗ Dramatização (psicodrama) ◗ Role-playing ◗ Discussão de filmes e/ou cenas curtas ◗ Atividades lúdicas ◗ Autorreflexão e autoavaliação ◗ Aprendizagem baseada em problemas ◗ Oficinas de habilidades interpessoais ◗ Grupo Balint. Ressalta-se que a qualidade da comunicação na relação médico-paciente favorece os índices de satisfação do paciente com a consulta, a adesão ao tratamento e, principalmente, a tomada de decisões consideradas “difíceis”, tanto para o profissional quanto para o paciente e seus familiares. A experiência do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC- Goiás) com o Laboratório de Habilidades de Comunicação (Habcom) no internato médico tem sido inovadora e gratificante (Figura 2.20). A equipe de professores, formada por profissionais de diversas áreas do conhecimento, como medicina, psicologia, filosofia, sociologia, teologia e gestão, tem promovido possibilidades de ensino-aprendizagem bastante satisfatórias no processo de aprendizagem das habilidades de comunicação. LABORATÓRIO DE HABILIDADES COMO MÉTODO DE AVALIAÇÃO No contexto educacional, a avaliação implica obter informações, por meio da aplicação de métodos específicos, que podem subsidiar a tomada de decisões que interessam tanto ao processo do aprendizado como ao estudante. A avaliação pode ser considerada ainda um processo de aprendizagem formativa. Em relação à avaliação do estudante de medicina, pode-se adotar o conceito genérico de que esta é um processo de coleta de informações, realizado por meio de atividades sistemáticas e formais, que permite saber o que o estudante conhece, sabe fazer e, efetivamente, faz de modo adequado, de maneira que se possa interferir no processo educacional, corrigindo distorções e reforçando aspectos positivos. Evidentemente, essa interferência deve repercutir sobre o sujeito principal do processo educacional, o estudante de medicina. Vivenciar uma avaliação formativa pode fornecer ao estudante uma aprendizagem ativa de pontos altamente relevantes do fazer médico. Nos últimos anos, o LH também tem sido utilizado no processo de avaliação nos cursos médicos, principalmente nos 2 anos finais do curso – o internato. O OSCE (Objective Structured Clinical Examination – Exame Clínico Estruturado por Estações) é uma técnica válida e efetiva para se avaliar as habilidades médicas em um curso de medicina e é, em geral, realizado em um LH. No OSCE, os estudantes são avaliados em seus conhecimentos científicos, competências clínicas e/ou cirúrgicas, habilidades de comunicação e de desenvolvimento do fazer médico e atitudes ético-relacionais, bem como de tomadas de decisão, tópicos importantes na prática médica. O OSCE é realizado em estações (10 a 20 estações) em que cada estudante pode ser avaliado em diversos tópicos. Em cada estação, os alunos examinados são solicitados a desempenhar tarefas clínicas distintas, como obter uma história clínica, realizar um exame físico geral ou específico, executar uma manobra ou um procedimento médico, avaliar e interpretar exames laboratoriais, avaliar uma radiografia ou um traçado eletrocardiográfico, instruir um paciente sobre seu diagnóstico e/ou tratamento, todos com avaliação de uma adequada relação médico- paciente e raciocínio clínico. Durante a avaliação, os alunos permanecem em cada estação por um tempo predeterminado, onde realizam a tarefa solicitada sob a supervisão de um professor, empregando um instrumento de registro, tipo checklist (lista de verificações) (Figura 2.21). Ao final do tempo previsto, quando se emite um sinal sonoro audível para todos, os alunos passam para a estação seguinte, alterando a ocupação das várias estações. Nesse tipo de avaliação podem ser utilizados manequins ou modelos simuladores, bem como atores profissionais, alunos voluntários dos cursos de medicina e de artes cênicas ou professores, para o papel de paciente-ator (Figura 2.22). Figura 2.22 Professor avaliando aluno em uma estação do OSCE (Exame Clínico Estruturado por Estações), montada com paciente-ator. Essa avaliação tem sido utilizada amplamente no internato médico, bem como em nível de pós-graduação, como, por exemplo, nas provas de seleção de residência médica. Atualmente, há uma tendência das escolas médicas brasileiras em adotar o OSCE nas avaliações clínicas durante todo o curso, desde o 1o ano, sob o modelo de mini-OSCE. Uma variação do OSCE é um sistema denominado VOSCE (OSCE virtual), desenvolvido por Lok e sua equipe (2006). É um programa que utiliza personagens virtuais para ajudar na construção das habilidades de comunicação médico-paciente. O ambiente permite que os estudantes possam entrevistar uma paciente virtual chamada Diana (Digital Animated Avatar), usando discurso e gestos. Um instrutor, também virtual, fornece retorno imediato sobre o desempenho do aluno.
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