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Maíra Bonafé Sei Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis (Organizadoras) Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL 1ª. Edição Londrina/PR Universidade Estadual de Londrina 2017 Catalogação na publicação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina. Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) J82a Jornada do LEPPSI (3. : 2017 : Londrina, PR) Anais da III Jornada do LEPPSI e [do] II Seminário do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica da UEL [livro eletrônico] : Diálogos em psicanálise / Organizadoras: Maíra Bonafé Sei, Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis. – Londrina : UEL, 2017. 1 Livro digital. Inclui bibliografia. Disponível em: http://www.uel.br/projetos/leppsi/pages/eventos/iii- jornada-leppsi.php. Sumário Apresentação ............................................................................................................................................................................................. 1 Estudos e Pesquisas em Psicanálise: um caminho a seguir ............................................................................................ 2 Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ........................................................................................................................ 2 Palestra ......................................................................................................................................................................................................... 4 Breve apresentação de Sándor Ferenczi ................................................................................................................................. 5 Daniel Polimeni Maireno .......................................................................................................................................................... 5 Resumos expandidos............................................................................................................................................................................ 10 O manejo da transferência na relação terapêutica com adolescentes: relato de experiência ....................... 11 Amanda Lays Monteiro Inácio; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ..................................................... 11 A contratranferência na clínica atual ...................................................................................................................................... 17 Jéssica Gehring Palladino de Souza Dutra1; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ............................ 17 Dificuldades afetivo-emocionais na infância: a psicoterapia psicanalítica frente à medicalização ............ 22 Juliana Mistrini Veríssimo; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ............................................................. 22 Um estudo da relação parental na adolescência sob o ponto de vista psicanalítico .......................................... 27 Marisa de Cássia Domingues Subtil de Almeida; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis .................. 27 Um olhar para o masculino na clínica psicanalítica .......................................................................................................... 32 Solange Gomes de Melo Viol; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ......................................................... 32 Medidas socioeducativas: adolescência e a vulnerabilidade para o ato infracional .......................................... 37 Anderson José Rodrigues; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .................................................................... 37 Algumas expressões do falso self a partir de um caso clínico com adolescente .................................................. 42 Isabella Suttini Ferreira; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ....................................................................... 42 As contribuições da Psicanálise para o tratamento de adictos na clínica psicanalítica ................................... 48 Márcia Camacho da Silva Cordér; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Mauro Fernando Duarte 48 Em se tratando de atendimento infantil, quem é o paciente? ...................................................................................... 52 Maristela Helfenstein; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Paulo Victor Bezerra .............................. 52 Depressão na contemporaneidade: uma análise do filme “Entre Abelhas” ........................................................... 57 Mayra Ramalheira de Almeida; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Paulo Victor Bezerra ............ 57 Possibilidades da psicanálise em casos de alienação parental .................................................................................... 62 Naiara Calvi Oliveira; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .............................................................................. 62 Psicossomática: contribuições de Winnicott e Joyce McDougall ................................................................................ 67 Rosilene Devechi; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Mauro Fernando Duarte ................................ 67 A mãe que não se torna desnecessária e suas possíveis consequências para o amadurecimento do seu filho nos estágios iniciais da vida .............................................................................................................................................. 72 Vanessa Cristina Paviani; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ..................................................................... 72 A função paterna: uma relação direta a partir do complexo de Édipo masculino sob um enfoque psicanalítico........................................................................................................................................................................................ 77 Cristiano Domingues da Silva; Ricardo Justino Flores .............................................................................................. 77 Repetição e relacionamentos amorosos ................................................................................................................................ 81 Homero Artur Belloni Silva; Ricardo Justino Flores ................................................................................................... 81 As saídas possíveis do Édipo e suas implicações nos (des)encontros do amor ................................................... 86 Mariana Mota Mesquita; Ricardo Justino Flores .......................................................................................................... 86 Resumos ..................................................................................................................................................................................................... 92 A teoria winnicottiana e o falso self: um estudo de caso ................................................................................................ 93 Amanda Lays Monteiro Inácio; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ..................................................... 93 Implicações dos aspectos psicológicos em uma avaliação com finalidade de mudança de sexo ................. 94 Amanda Lays Monteiro Inácio; Amália Clivati Cauduro; Eduardo Yudi Huss; Katya Luciane de Oliveira; Patrícia Silva Lúcio; Patricia Emi de Souza .................................................................................................. 94 Reflexões atuais sobre o processo de individualização em gêmeos ......................................................................... 95 Beatriz CristinaGallo; Maria Elizabeth Barreto Tavares Dos Reis; Silvia Nogueira Cordeiro ................. 95 Grupo de Dinâmicas: Conversando sobre a Adolescência ............................................................................................. 96 Beatriz Cristina Gallo; Lara Balera; Daniel Polimeni Maireno ............................................................................... 96 Congresso nacional sobre relacionamento familiar (conaref) .................................................................................... 97 Cristiane Castilho Cadan ......................................................................................................................................................... 97 Os atravessamentos institucionais no atendimento com crianças a partir de um viés psicanalítico ........ 99 Debora Lydines Martins Corsino; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................... 99 Malandramente, uma menina inocente: reflexões sobre o manejo da psicoterapia com adolescentes . 101 Felipe de Souza Barbeiro; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ............................................................ 101 Os processos de saúde-doença em mulheres: um estudo a partir da Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Redefinida (EDAO-R). ............................................................................................................................ 102 Flávia Angelo Verceze; Silvia Nogueira Cordeiro ...................................................................................................... 102 Pulsão de morte articulada ao corpo: sintoma? .............................................................................................................. 103 Isadora Nicastro Salvador; João Pedro Gomes Previdello; Claudia Maria de Sousa Palma ................... 103 Atividades dos projetos de Extensão e Pesquisa que lidam com a Adolescência e Escolha Profissional - aplicação do EMEP e outras técnicas psicológicas ......................................................................................................... 104 Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida; Jádia Cristina Dos Santos; Giovanna Sandoval Fioresi; Geovanna Moreno Cianca; Jéssica Cardoso Roque; Rafaela Grumadas Machado ...................................... 104 A Clínica Dermatológica e a sua articulação com o Serviço de Psicologia ........................................................... 106 Leonardo Piva Botega; Paula Medri; Claudia Maria de Sousa Palma ............................................................... 106 Subjetividade e maternidade: um caso clínico ................................................................................................................. 108 Luciane Cristina de O. Carnaúba; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................. 108 Aplicando o “Holding” em uma clínica psicológica universitária ............................................................................ 109 Luciane Cristina de O. Carnaúba; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................. 109 Modalidades de Intervenção em Orientação Profissional .......................................................................................... 110 Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Manuela dos Reis Parenti; Geovanna Moreno Cianca; Giovanna Sandoval Fioresi .................................................................................................................................................. 110 Transferência no atendimento clínico de crianças autistas ....................................................................................... 111 Márcia Camacho da Silva Cordér; Maristela Helfenstein; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ... 111 O serviço de Plantão Psicológico da UEL como dispositivo da Atenção Básica de Saúde: Psicologia, políticas públicas e a rede de saúde mental ...................................................................................................................... 112 Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan; Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor Bezerra; Maíra Bonafé Sei 112 Psicanálise, instituição e grupos: a escuta psicanalítica nos Grupos de Dinâmicas do serviço-escola de Psicologia da UEL .......................................................................................................................................................................... 113 Maria Lúcia Ortolan; Gabriel Candido Paiva; Daniel Polimeni Maireno; Maíra Bonafé Sei ................... 113 A psicoterapia psicanalítica com adolescentes e uso de jogos nas sessões ........................................................ 114 Maristela Helfenstein; Maíra Bonafé Sei ....................................................................................................................... 114 O setting e o manejo da clínica winnicottiana .................................................................................................................. 116 Maristela Helfenstein; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ......................................................................... 116 Abuso sexual: função materna, proteção e (des)proteção na perspectiva da psicanálise ........................... 117 Simone Paula A. Rodrigues; Gabriela Lorena Massardi ......................................................................................... 117 Abuso sexual e trauma na constituição do psiquismo sob o ponto vista da psicanálise............................... 118 Simone Paula A. Rodrigues; Gabriela Lorena Massardi ......................................................................................... 118 O ineditismo da psicanálise na exploração da psique .................................................................................................. 119 Vinícius Xavier Cintra Marangoni; Mary Yoko Okamoto ....................................................................................... 119 Os limites do pronto atendimento psicológico e a questão do encaminhamento............................................ 120 Ana Letícia Alves Morais; Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor Bezerra; Maíra Bonafé Sei .................. 120 A psicoterapia familiar na adoção: cuidado em Saúde Mental ................................................................................. 122 Caroline da Silva Fantini; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................................. 122 A Psicose na infância a partir do viés winnicottiano, e o setting no dispositivo de saúde mental pós reforma psiquiátrica: relato de experiência de um Caps Infantil ............................................................................ 123 Caroline da Silva Fantini; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................................. 123 A função simbolizante da creche no processo de subjetivação do bebê .............................................................. 125 Cleide Vitor Mussini Batista ............................................................................................................................................... 125 Crianças autistas e psicóticas: por uma construção de uma escola ........................................................................ 126 Cleide Vitor Mussini Batista ............................................................................................................................................... 126 Do “quintal” da escola: ................................................................................................................................................................ 127 Por um protocolo de observação dos brincares da criança ...............................................................................................127 Cleide Vitor Mussini Batista; Paloma de Campos Ale Pereira ............................................................................. 127 Breve discussão sobre a atuação em psicologia hospitalar ....................................................................................... 129 Daiane Franciele Costa; Estela Parrilha Casemiro da Silva; Jaqueline Bezerra Ferreira; Luana Dias da Silva; Maria Gabriela Lima Gomes; Daniela Maria Maia Veríssimo .................................................................. 129 Breves considerações sobre o vínculo professor-aluno: Um olhar Psicanalítico ............................................. 131 Daniella de Souza Balduino; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ............................................................. 131 A oferta de atendimento na Clínica Psicológica da UEL a partir de um programa de Extensão ................ 132 Debora Lydines Martins Corsino; Felipe Montes Trevisan; Maíra Bonafé Sei ............................................. 132 Projeto de intervenção com adolescentes em processo de medida socioeducativa ....................................... 134 Estela Parrilha Casemiro da Silva; Maria Gabriela Lima Gomes; Thaís Yazawa ......................................... 134 A escuta como ferramenta de trabalho no pronto atendimento psicológico ..................................................... 135 Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor Bezerra; Maíra Bonafé Sei ........................................................................ 135 Adolescência e a escolha profissional: o tempo do devir ............................................................................................ 137 Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Geovanna Moreno Cianca................................................................. 137 Atendimento familiar em clínica-escola: algumas reflexões sobre a resistência no processo terapêutico em famílias encaminhadas pelo sistema judiciário de Londrina ............................................................................. 139 Hellen Lima Buriolla; Hévila de Fátima P. Pereira; Maíra Bonafé Sei .............................................................. 139 Relato de Caso: Avaliação psicológica de uma criança encaminhada por suspeita de deficiência intelectual: divergências entre a avaliação formal e informal .................................................................................. 140 Hellen Lima Buriolla; Jaqueline Alvernaz de Miranda; Eduardo Yudi Huss; Patrícia Silva Lúcio; Katya Luciane de Oliveira ................................................................................................................................................................. 140 A ansiedade a partir dos conceitos de Freud .................................................................................................................... 142 Hévila de Fátima P. Pereira; Jéssica Guirardelli; Mauro Fernando Duarte.................................................... 142 Adolescência e Escolha Profissional de Adolescentes do Ensino Médio na cidade de Londrina –PR. .... 144 Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida; Jádia Cristina Dos Santos; Giovanna Sandoval Fioresi; Geovanna Moreno Cianca; Jéssica Cardoso Roque; Rafaela Grumadas ......................................................... 144 Uma articulação entre a psicanálise e a arte na saúde mental ................................................................................. 146 Josemar Santos de Matos; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ................................................................. 146 A transmissão transgeracional na trilogia tebana.......................................................................................................... 147 Josemar Santos de Matos; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ................................................................. 147 Os casos de histeria no Plantão Psicológico da UEL: a importância das supervisões para o desenvolvimento de raciocínio diagnóstico e manejo clínico do psicólogo ....................................................... 148 Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan; Ana Letícia Alves Morais; Gabrieli Zaros Granusso; Paulo Victor Bezerra......................................................................................................................................................................................... 148 Maíra Bonafé Sei ...................................................................................................................................................................... 148 Ansiedade em psicanálise: um recorte clínico. ................................................................................................................ 150 Mayra Cristina Teixeira Batista; Carolina Caires Motta ......................................................................................... 150 Atenção à saúde da mulher: relato de experiência ........................................................................................................ 151 Nathália Tavares Bellato Spagiari; Sílvia Nogueira Cordeiro; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ................................................................................................................................................................................................ 151 Percepções do psicólogo-observador sobre a relação mãe-bebê e equipe de saúde na visita puerperal: o método Bick ..................................................................................................................................................................................... 152 Nathália Tavares Bellato Spagiari; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis; Sílvia Nogueira Cordeiro....................................................................................................................................................................................... 152 Impactos cognitivos da depressão infantil sob a ótica da avaliação psicológica .............................................. 154 Patricia Emi de Souza; Amanda Lays Monteiro Inácio; Larissa Botelho Gaça ............................................. 154 Aspectos cognitivos e atencionais em uma avaliação psicológica no contexto de trânsito ......................... 155 Patrícia Emi de Souza; Eduardo Yudi Huss; Amanda Lays Monteiro Inácio; Katya Luciane de Oliveira ......................................................................................................................................................................................................... 155 A avaliação psicológica e a influência de questões emocionais em um caso de dificuldade de aprendizagem ................................................................................................................................................................................. 156 Patricia Emi de Souza; Lana Raquel Piassa; Amanda Lays Monteiro Inácio; Patrícia Silva Lúcio; Katya Luciane de Oliveira ................................................................................................................................................................. 156 Relato de experiência de atendimento clínico à pessoa idosa .................................................................................. 158 Vanessa Cristina Paviani; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .................................................................. 158 Manejo da técnica em um caso de paciente com tentativas de suicídio ............................................................... 159 Vanessa Cristina Paviani; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .................................................................. 159 Comissões Comissões Comissão Científica Maíra Bonafé Sei Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis RicardoJustino Flores Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida Sílvia Nogueira Cordeiro Organização dos Anais Maíra Bonafé Sei Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis Programação Programação 27 de abril /2017 Horário Atividade 8h00 – 8h30 Credenciamento 8h15 – 8h30 Abertura 08h30 – 9h30 Conferência de Abertura: Clínica Psicanalítica na Infância Coordenadora: Profa. Dra. Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis Palestrante: Psicanalista Niracema Kuriki 9h30 – 10h00 Coffee break e Apresentação de pôsteres e lançamentos de livros 10h00 – 12h00 Mesa 1: Contribuições teórico-práticas à clínica psicanalítica na atualidade Coordenadora da mesa: Profa. Dra.Maíra Bonafé Sei Sandor Ferenczi – Prof. Dr. Daniel Polimeni Maireno Thomas Ogden – Prof. Dr. Cleto Rocha Pombo Filho 13h00-14h00 Roda de conversa sobre o mestrado o Mestrado de Psicologia na UEL 14h00 – 15h30 Mesa 2: Os desafios da Psicanálise no contexto hospitalar Coordenadora da mesa: Profa. Dra.Sílvia Nogueira Cordeiro Palestrantes: Ana Lilian Marchesoni Parrelli (HU/UEL) Patrícia Maria Fassina Lepri (HU/UEL) Maria Terezinha Meira Lopes Monteiro (HU/UEL) 15h30 – 16h00 Coffee break, Apresentação de pôsteres e lançamentos de livros 16h00 – 18h00 Supervisão pública de caso clínico Coordenadora: Profa. Dra. Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida Supervisora: Psicanalista Lucia A. Barreto Osti Seminário especialização em Clínica Psicanalítica 28 de abril /2017 Horário Atividade 8h00 – 9h30 Sessão de Apresentação Oral 1 Sessão de Apresentação Oral 2 9h30 – 10h00 Coffee break 10h00 – 12h00 Sessão de Apresentação Oral 3 Sessão de Apresentação Oral 4 12h00 - 14h00 Almoço 14h00 – 15h30 Sessão de Apresentação Oral 5 Sessão de Apresentação Oral 6 15h30 – 16h00 Coffee break 16h00 – 18h00 Sessão de Apresentação Oral 7 Sessão de Apresentação Oral 8 Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 1 Apresentação Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 2 Estudos e Pesquisas em Psicanálise: um caminho a seguir Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis O Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicanálise (LEPPSI) visa o estudo, o ensino, a pesquisa, a extensão e a difusão da psicanálise no contexto universitário nacional e internacional, tendo como uma das atividades a realização de Jornadas científicas. A III Jornada do Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise (LEPPSI) teve como objetivo estabelecer Diálogos em Psicanálise, com o intuito de fomentar o estudo e aplicação da Psicanálise nos diversos pilares da academia – ensino, pesquisa e extensão, bem como incentivar na comunidade o interesse pelo estudo e aplicação da psicanálise tanto na clínica quanto nos serviços de saúde. Os Diálogos em Psicanálise iniciaram com a conferência “Clínica Psicanalítica na Infância”, onde foi possível refletir sobre a temática frente às novas configurações da família e cuidados destinados à infância. Na mesa redonda “Contribuições teórico- práticas à clínica psicanalítica na atualidade”, foram apresentadas as contribuições de Sandor Ferenczi e Thomas Ogden à clínica psicanalítica na contemporaneidade. Na mesa sobre “Os desafios da Psicanálise no contexto hospitalar” foi possível dialogar sobre a atuação do serviço de Psicologia no Hospital Universitário da UEL, demonstrando as dificuldades encontradas na realização das atividades e principalmente os benefícios vivenciados pelos usuários atendidos. Finalmente, através do “Seminário Clínico” foi possível dialogar a respeito da psicoterapia psicanalítica na atualidade. O evento contou com a participação de pós-graduandos através do “II Seminário de Pesquisa do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica” que contribuíram com a apresentação oral de 18 trabalhos científicos que estão sendo elaborados pelos acadêmicos do referido curso. Além disso, 50 trabalhos no formato pôster, elaborados por graduandos, pós-graduandos, psicólogos e educadores provenientes de universidades do Paraná e São Paulo. As atividades realizadas contribuíram para a divulgação e atualização de atividades teórico-práticas tanto no contexto do ensino da Psicanálise quanto na atuação dos psicólogos na clínica e nos serviços de saúde. Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 3 Agradecemos aos profissionais que aceitaram o convite e certamente contribuíram para o sucesso do evento, à comissão organizadora e científica pela elaboração da proposta e participação efetiva nas diversas etapas da realização da Jornada, aos monitores e à Empresa Elo pelo auxílio logístico tanto do evento quanto desta publicação. Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 4 Palestra Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 5 Breve apresentação de Sándor Ferenczi Daniel Polimeni Maireno Um dos mais criativos e audazes colaboradores de Freud, certamente aquele com quem o pai da psicanálise estabelecera maior intimidade, Ferenczi foi um defensor e propagador incansável da doutrina freudiana. Escreveu excelentes textos de introdução à psicanálise, equiparáveis aos escritos por Freud com o mesmo objetivo. Dentre todos os seus discípulos, era Ferenczi quem Freud mais acionava para publicamente questionar as teorias de dissidentes como Adler e Jung, bem como para responder às críticas vindas de diversas autoridades acadêmicas da época. Compreensível, então, porque Freud orgulhosamente referiu-se a ele como um colaborador "que equivale a uma sociedade inteira" (1914/2012, p. 281). Paradoxalmente, Ferenczi foi também um crítico perspicaz – e, para muitos de seus contemporâneos, bastante incômodo – de determinados pontos dessa mesma teoria que tanto defendia e propagava, especialmente nos pontos que dizem respeito diretamente à terapêutica psicanalítica, à performance do psicanalista, à sua disponibilidade intelectual e emocional etc. Compreensível, então, porque Freud reservadamente referiu-se a ele como o "padrinho de toda técnica transgressiva" (cf. Sanches, 1993, p. 91). Tais questionamentos, no entanto, jamais fizeram com que Ferenczi se tornasse mais um dissidente do movimento psicanalítico. Segundo Green, Ferenczi poderia ser legitimamente chamado de "o pai de grande parte da psicanálise contemporânea" (cf. COELHO JUNIOR, 2004, p. 80). No mesmo sentido, Kezem afirma que "[...] as controvérsias entre os dois expoentes da psicanálise é um divisor de águas entre a fase clássica e a fase contemporânea da psicanálise." (2010, p. 23) – o que justifica, enfim, falar de Ferenczi neste evento promovido pelo Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicanálise da UEL, numa mesa que pretende discutir a psicanálise na contemporaneidade. Com Ferenczi vê-se surgir um real entusiasmo em encarar clinicamente modalidades de sofrimento estranhas àquele funcionamento neurótico que marcara as primeiras descobertas freudianas, formas de sofrimento que pareciam implicar mecanismos defensivos diferentes do recalque, e cujos movimentos pulsionais Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 6 percorriamcaminhos outros que não os do sintoma neurótico. Situações clínicas, enfim, que pareciam demandar uma atuação terapêutica diferente da utilizada na lida com as neuroses de transferência. Não há dúvidas de que tais diversidades clínicas atraíam a atenção de muitos à época, incluindo o próprio Freud. Mas foi Ferenczi quem de forma mais substanciosa promoveu experimentações terapêuticas com tais pacientes. Segundo Mezan, Freud se torna mais sensível aos diversos fatores que, na vida psíquica, parecem colocar fora de circuito o princípio do prazer e as organizações neuróticas que dele dependem. Traumatismos devastadores, sentimentos de culpa acachapantes, masoquismos gravíssimos, reações terapêuticas negativas, vivências catastróficas de desorganização, dor psíquica insuportável, inércia ou viscosidade da libido – toda esta gama de fenômenos, qualitativamente diferentes daqueles a que a psicanálise se dirigira até então, passa a receber mais atenção teórica por parte dele, e mais atenção clínica por parte de seus discípulos, em particular Ferenczi (2014, p. 199, grifo nosso). Dessas incursões pelos casos mais desafiadores surgiram noções que marcaram especialmente os últimos anos de sua vida, tais como a de elasticidade, tato, neocatarse, mutualidade, entre outras, e que têm sido revisitadas pelos psicanalistas de hoje por sua capacidade de nos fazer pensar os limites e as potencialidades da ação psicanalítica em nossa época, tão marcada por formas de sofrimento que transbordam qualquer enquadre inflexível. Segundo Fédida, é em Ferenczi que se encontra de uma maneira mais transparente um questionamento do ofício psicanalítico em que viu-se o "[...] abandono crescente de qualquer expectativa de 'uniformização objetiva' da técnica [...] a des- objetivação da técnica, com a maior ênfase dada ao funcionamento psíquico do analista [...]" (1988, p. 11), o que aumentou ainda mais o alerta ferencziano quanto à necessidade peremptória da segunda regra fundamental da psicanálise: a análise pessoal do analista. Ao nomear esta última de "análise autêntica", Ferenczi pretendia criticar a "análise didática" que, em seu entendimento, permanecia em geral numa superficialidade estéril, coadunando na formação de analistas carregados de um excesso de saber intelectual, mas com uma escassa assunção de suas próprias subjetividades. Trata-se de uma crítica que se afina com o ulterior questionamento lacaniano sobre a formação nos institutos tradicionais de psicanálise, bem como suas formulações sobre o desejo do analista: Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 7 segundo Kupermann, "[...] os problemas suscitados por Lacan (1964) através da noção de 'desejo do analista' não são estranhos aos problemas tratados por Ferenczi em seu Diário Clínico." (2003, p. 48, nota de rodapé) Vem também dessa última fase de sua vida as críticas mais contundentes ao "fanatismo da interpretação" (FERENCZI, 1928/2011, p. 38), bem como às diversas formas de resistência do analista: Uma espécie de fé fanática nas possibilidades de êxito da psicologia da profundidade fez-me considerar os eventuais fracassos menos como consequência de uma 'incurabilidade' do que da nossa própria inépcia, hipótese que me levou necessariamente a modificar a técnica nos casos difíceis em que era impossível obter êxito com a técnica habitual. [...] a causa do fracasso será sempre a resistência do paciente, não será antes o nosso próprio conforto que desdenha adaptar-se às particularidades da pessoa, no plano do método? (1931/2011, p. 81) O que lembra a famosa provocação de Lacan – novamente! – segundo a qual "[...] não há outra resistência à análise senão a do próprio analista" (1958/1998, p. 601). Não é coincidência, portanto, que Ferenczi e Lacan tenham sido marginalizados, cada um em sua época, pelas forças políticas mais tradicionais do campo psicanalítico. Ferenczi avançou sobre um tema problematizado, porém pouco discutido, por Freud: a contratransferência. Segundo Haynal, "todo o assunto [sobre a contratransferência] se tornou um fardo muito pesado e um grande problema, era considerado um segredo sobre o qual não se poderia falar abertamente. Ferenczi foi aquele que teve que trazê-lo à luz do dia [...]" (2004, p. 14, tradução nossa). Avançou também em outro tema que, este sim, receberia também de Freud crescente dedicação, especialmente a partir de 1920: a constituição do Eu. O artigo O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios, segundo Balint (1968/2011), foi "sem dúvida o primeiro artigo que se escreveu sobre o desenvolvimento do ego" (cf. FERENCZI, 2011, v. II, p. XI), uma tentativa de Ferenczi de complementação das noções sobre o desenvolvimento da libido avançadas por Freud. Por outro lado, Ferenczi também foi um precursor da escola das relações de objeto: especialmente seus últimos trabalhos permitem concebê-lo, segundo Mezan, como Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 8 [...] o ponto de partida de uma corrente que irá valorizar o ambiente familiar e social no qual se desenvolve o sujeito, e, do ponto de vista técnico, recomendar uma postura conforme a esta perspectiva genética, diferente da clássica, que seria demasiado rígida: a escola das relações de objeto. (2014, p. 349) Uma leitura dos textos de Ferenczi evidencia a antecipação de muitas outras noções que se tornariam fundamentais em determinadas correntes do pensamento psicanalítico, que podem apenas ser mencionadas aqui. É o caso, por exemplo, da noção de regressão terapêutica, cujos desenvolvimentos alcançaram importância notória na obra de Winnicott, como estratégia alternativa à clínica da interpretação: "[...] em vez de falar da criança que habita o analisando através do instrumento interpretativo, seria preciso voltar a falar com a criança que se expressa em cada paciente em análise." (KUPERMANN, 2008, p. 83, grifos do autor). Ainda segundo este autor, haveria em Ferenczi uma passagem da clínica fundamentalmente freudiana balizada pela tríade associação livre - princípio de abstinência - interpretação para uma clínica balizada pela tríade associação livre - regressão - jogo – este último elemento influenciado pelas primeiras tentativas na história da psicanálise de realizar psicanálise com crianças. Falando em Winnicott, cabe mencionar que as noções ferenczianas de clivagem narcísica e progressão traumática antecipam de forma surpreendente a noção de falso self tão cara ao pensamento winnicottiano. Ferenczi também pode ser uma instigante referência para os interessados na abordagem psicanalítica de fenômenos somáticos, pois seus escritos sobre tiques, convulsões epilépticas, gagueira, impotência sexual, ejaculação precoce, entre outros temas, contribuíram para embaçar as fronteiras entre soma e psique, tornando imprecisas suas delimitações. Para finalizar, espera-se que esta diversidade de temas e linhas de raciocínio possa favorecer uma aproximação a esta figura fundamental da história da Psicanálise que, apesar de cronologicamente distante, parece ter muito com o que contribuir para os desafios da psicanálise na contemporaneidade. E que esta aproximação se dê independente das preferências teóricas e metodológicas de cada um, pois a obra de Ferenczi – aliás, como a de Freud – permite-se ser apreciada pelos mais diversos ângulos e interesses. Pensando a partir dessa diversidade, talvez Freud estivesse mesmo certo quando escreveu que os trabalhos de Ferenczi "converteram todos os analistas em seus discípulos" (1933/2010, p. 467) Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalíticada UEL ISBN 978-85-7846-424-0 9 Referências bibliográficas Balint, M. (1968/2011). Prefácio do Dr. Michaël Balint. In: S. Ferenczi, Obras Completas - Psicanálise II. São Paulo: WMF Martins Fontes. Coelho Junior, N. E. (2004). Ferenczi e a experiência da einfühlung. Ágora, III(1), 73-85. Fédida, P. (1988). Clínica Psicanalítica - estudos. São Paulo: Escuta. Ferenczi, S. (1931/2011). Análises de crianças com adultos. In: S. Ferenczi, Obras Completas - Psicanálise IV. 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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 10 Resumos expandidos Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 11 O manejo da transferência na relação terapêutica com adolescentes: relato de experiência Amanda Lays Monteiro Inácio 1; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis2 Palavras-chave: Adolescência. Atendimento Clínico. Relato de Experiência. Transferência. Introdução A transferência é um fenômeno humano natural que ocorre em nosso cotidiano e se aplica a diversas situações. No entanto, possui um valor único, sendo considerada como um conceito fundamental utilizado em todo tratamento psicanalítico, tendo características particulares dentre os teóricos, como Freud (1912) e Winnicott (1971), abordados, no presente estudo. A transferência, juntamente com a resistência e interpretação são considerados o tripé fundamental da prática psicanalítica (Zimerman, 2004). Laplanche e Pontalis (2001) definem transferência como “processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no enquadre de um certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica” (p.514). Nesse sentido, a transferência pode ser compreendida como a repetição dos moldes infantis, substituindo aquilo que não pode ser lembrado, a partir do deslocamento de afeto de uma representação para outra. Assim, a relação do indivíduo com as figuras de sua infância é revivida na relação com o analista (Martins, 2014). Por meio da análise do caso Dora, Freud (1905) descobriu a importância da transferência para a psicanálise, afirmando que o tratamento psicanalítico, não cria a transferência, mas releva sua existência. Desde então, o autor observa que a transferência pode ser um importante aliado ao trabalho em psicanálise (Sato, 2010). 1 Psicóloga, pós-graduanda do curso de especialização em Clínica Psicanalítica e mestranda do programa de pós-graduação em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. E-mail: amandalmonteiroo@gmail.com. 2 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: bethtavaresreis@gmail.com. mailto:amandalmonteiroo@gmail.com file:///C:/Users/Maíra/Downloads/bethtavaresreis@gmail.com Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 12 Sendo assim, afirma que “a transferência, destinada a constituir o maior obstáculo à psicanálise, converte-se em sua mais poderosa aliada quando se consegue detectá-la a cada surgimento e traduzi-la ao paciente” (Freud, 1905, p. 112). A relação transferencial para Winnicott se baseia no paradigma da relação mãe e bebê, pois a própria relação analítica pode ser vista como uma forma de reviver essa relação primitiva. Nesse sentido, faz-se alusão ao papel da “mãe suficientemente boa”, como aquela que por meio de sua sensibilidade exacerbada, consegue identificar consciente e inconscientemente as necessidades do seu bebê, processo necessário para seu bom desenvolvimento. Winnicott se baseia no conceito da "mãe suficientemente boa" como norteador da transferência, para evidenciar a importância do terapeuta estar identificado com o paciente e ao mesmo tempo permanecer atento a realidade externa, nomeada como espaço potencial, uma área intermediária subjetiva e objetiva da qual o terapeuta faz uso no contexto da psicoterapia (Januário & Tafuri 2010). Diante do enfoque da transferência enquanto elemento fundamental presente na prática clínica psicanalítica surge a necessidade de compreendê-la na clínica com adolescentes, haja vista que essa faixa etária possui especificidades importantes a serem consideradas. A adolescência, bem como a infância por si própria, pode ser considerada como uma invenção moderna em nossa sociedade, sendo tema recorrente há cerca de um século na história (Calligaris, 2000). A teoria psicanalítica postulada por Freud sobre a importância das questões relativas à infância na vida adulta dos indivíduos contribuiu de maneira geral também para a compreensão da adolescência e suas vicissitudes. Nesse sentido, o complexo de Édipo pode ser entendido como o campo central da vida sexual relativa à primeira infância (Freud, 1924). Domingues, Domingues & Baracat (2009), ao discorrerem sobre o período de latência, o caracterizam como o período após a dissolução do complexo de Édipo, onde a criança deixa de sentir toda a excitação sexual em seu corpo e volta-se ao seu desenvolvimento social e cognitivo. Com a chegada da puberdade, as exigências pulsionais adquirem uma força maior e os objetos incestuosos da infância são retomados. Aberastury e Knobel (1981) remetem o período da adolescência à vivência de lutos importantes, o luto pelo corpo infantil perdido, considerado a base biológica da adolescência, o luto pelo papel e identidade infantis, onde ocorre a perda da dependência e inserção das responsabilidades e o luto pelos pais da infância. Nesse Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 13 sentido, o adolescente paira entre a dependência e a independência extremas, de modo que somente a maturidade desenvolvida no final desse período lhe permitirá compreender a necessidade dos limites. Sendo assim, esse período de caracteriza pelas diversas contradições, fragilidades e ambivalências no contexto familiar e social, pois todas as mudanças incontroláveis pelas quais estãopassando dolorosamente são tidas como uma invasão, motivo pelo qual o adolescente costuma de fechar em seu mundo interno, a fim de reviver seu passado para conseguir então enfrentar o futuro. O amadurecimento se mostra como uma questão central na adolescência, motivo pelo qual a teoria de Winnicott sobre o amadurecimento pessoal representa grande importância para o entendimento do tema proposto. Para o autor todo indivíduo é dotado de uma tendência inata ao amadurecimento, essa tendência, no entanto, depende fundamentalmente de um ambiente facilitador ao bebê que lhe forneça os cuidados necessários e primordiais (Dias, 2008). Se faz presente na adolescência o desejo de uma nova adaptação da realidade, motivo pelo qual surge a arrogância, hostilidade, mentira, ironias e a necessidade de confronto com a sociedade de modo geral. Desse modo, não há como evitar que o adolescente passe por esse processo até chegar a maturidade, no entanto, é imprescindível a existência de uma boa provisão ambiental por parte dos pais ou responsáveis (Oliveira & Fulgencio, 2010). Pode-se considerar que a adolescência possui um caráter universal permeado por singularidades das quais a clínica psicanalítica atual possa abarcar através da escuta das dores, lutos e fragilidades do adolescente. Esse papel é importante à medida que auxilia no processo de subjetivação dos mesmos (Ayub & Macedo, 2011). A psicanálise de adolescentes possui especificidades importantes a serem consideradas, sendo necessário ao analista “sobreviver” às necessidades, pulsões e fantasias do adolescente (Outeiral, 2012). Partindo desses pressupostos, o presente estudo tem por objetivo analisar o tipo de manifestação transferencial que ocorre entre paciente e terapeuta na clínica com adolescentes. Para tanto, serão utilizados fragmentos de um caso clínico. Método Trata-se de um estudo de caso de psicoterapia psicanalítica atendido em uma clínica escola de Psicologia de uma universidade pública, com uma adolescente do sexo feminino, denominada no presente estudo como Raquel. Os dados apresentados foram Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 14 obtidos por meio de cerca de 15 sessões de atendimento psicanalítico realizadas semanalmente com a adolescente. Para a realização do estudo foi feita análise do discurso, utilizando uma metodologia qualitativa de análise de dados. A metodologia qualitativa, segundo Turato (2005) direciona o pesquisador para o significado das coisas, ou seja, não se busca compreender como ocorre determinado fenômeno, mas sim, compreender seu significado e importância para a vida das pessoas. Resultados e Discussão O presente estudo ainda se encontra em desenvolvimento, no entanto já foi possível identificar no material clínico advindo do caso de psicoterapia psicanalítica a presença de manifestações tanto de transferência positiva quanto negativa, influenciando o estabelecimento de vínculo paciente–psicoterapeuta no início do tratamento. Ao longo do trabalho, pretende-se apresentar vinhetas dos atendimentos realizados e analisa-las a partir da literatura psicanalítica sobre a temática da transferência. Durante as análises preliminares encontrou-se uma sessão onde a adolescente relatou para a terapeuta, logo no início, que não gostaria de estar ali, tendo vindo contra sua vontade e, no final da mesma sessão, informou que na próxima semana iria efetuar o pagamento, enfatizando que pagaria com seu próprio dinheiro e não dos familiares por ela responsáveis. Essa pequena vinheta ilustra um dos diversos momentos em que a paciente faz um jogo com a terapeuta, de modo que ora se apresenta como uma pessoa fechada, ora demonstra estar aberta ao trabalho da psicoterapia. De acordo com Outeiral (2012), é comum ao adolescente a presença de oscilações entre movimentos progressivos e regressivos, passando rapidamente por movimentos transferenciais de amor e ódio, por meio de várias “idades” transferenciais. Desse modo, durante uma mesma sessão pode-se observar uma adolescente determinada a agredir a terapeuta e uma adolescente responsável que demanda pela continuidade do trabalho. Considerações Finais Até o momento, o presente estudo possibilitou uma melhor compreensão acerca das características próprias do período da adolescência, principalmente no que se refere ao âmbito da psicoterapia psicanalítica. Espera-se posteriormente contribuir para uma melhor compreensão dos casos clínicos atendidos na adolescência, bem como analisar o Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 15 tipo de manifestação transferencial que ocorre entre paciente e terapeuta na clínica com adolescentes. Referências Aberastury, A.; Knobel, M. (1981). Adolescência normal: um enfoque psicanalítico. Porto Alegre, Artes Médicas. Ayub, R. C. P. & Macedo, M. M. K. (2011). A clínica psicanalítica com adolescentes: especificidades de um encontro analítico. Psicologia: Ciência e Profissão, 31(3), 582-601. 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Introdução De acordo com Laplanche & Pontalis (2001, p. 102) a contratransferência é o “Conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais particularmente, à transferência deste”. Segundo Etchegoyen (2004) e Minerbo (2012), Freud apresentou o termo contratransferência no texto: “As perspectivas futuras da terapia psicanalítica” em 1910, no II Congresso Internacional de Psicanálise em Nurenberg, onde descreveu a contratransferência como “a resposta emocional do analista aos estímulos que provêm do paciente, como resultado da influência do analisando sobre os sentimentos inconscientes do médico” (Etchegoyen, 2004, p. 156). Nesse sentido, a contratransferência ocorre em função do paciente e constitui um obstáculo a ser superado, já que se espera que o analista tome consciência de seus sentimentos e os supere em prol do trabalho de análise. Para isso, Freud entendia ser necessário um trabalho apurado de autoanálise, sendo esta indispensável para a prática de um bom analista. Com exceção do caso Dora (Freud, 1905/1996), em que Freud indica uma possível atitude contratransferencial quando o tratamento não mostra progressos, o conceito não foi objeto específico de estudo na obra freudiana. Segundo Etchegoyen (2004), em meados do século XX, quando a contratransferência despertou a atenção de estudiosos da área, um esboço do conceito apareceu nos estudos de H. Racker em 1953, analisando as experiências intuitivas de A. Reich em 1933, sobre o caso de um paciente que não apresentava melhoras. A conclusão de Racker no referido caso é que, determinados conteúdos relativos às frustrações do paciente foram transferidos para o analista exercendo certa força castradora em sua atuação, o fazendo sentir-se também impotente. Essa situação consistiria numa 3 Psicóloga, pós-graduanda do curso de especialização em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: jssica.dutra@yahoo.com.br 4 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: bethtavaresreis@gmail.com. Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 18 experiência contratransferencial. Minerbo (2012) ao comentar sobre o mesmo artigo de Racker, ressaltou aspectos importantes sobre a posição do analista no fenômeno da contratransferência, explicando que, mesmo fazendo sua análise, está sujeito as influências de seus aspectos neuróticos na prática de seu ofício, tendo em vista a característica atemporal do inconsciente e suas manifestações. A contratransferência deixa de ser considerada um evento isolado na sessão, e percebido como uma relação (Laplanche & Pontalis (2001). Nesse sentido, a contratransferência não é mais considerada um problema a ser resolvido, porém como uma oportunidade de trabalho analítico resultante da relação analista-paciente. A contratransferência “já não é mais vista apenas como um perigo, mas também como um instrumento sensível, que pode ser muito útil para o desenvolvimento do processo analítico. (...) configura, de certo modo, o campo no qual se dará a modificação do paciente” (Etchegoyen, 2004, p. 159). Por isso a contratransferência, atuaria de maneiras diferentes e complementares: sendo um obstáculo, constituindo os pontos cegos do analista, mas também entendida como um instrumento, visando identificar o que acontece com o paciente, sobretudo quando se torna uma espécie de campo no qual o paciente experimentará vivências diferentes das originárias. (Etchegoyen, 2004). Laplanche & Pontalis (2001) explicam que, do ponto de vista técnico, três orientações sobre contratransferência se fazem necessárias: a primeira diz respeito ao analista conter consideravelmente as manifestações contratransferenciais pela análise pessoal, de maneira que a situação analítica seja estruturada apenas pela transferência do paciente; a segunda orientação consiste em utilizar a contratransferência no trabalho analítico conforme a indicação de Freud, tendo em vista que todos possuímos inconscientemente instrumentos que nos permitem interpretar as expressões inconscientes dos outros (Freud, 1913); e a terceira afirma a necessidade do analista, na formulação das interpretações, orientar-se pelas suas próprias reações contratransferenciais, muitas vezes assimiladas, nesta perspectiva, às emoções sentidas. Essa postura reafirma uma ideia autenticamente psicanalítica: a ressonância de “inconsciente a inconsciente” como verdadeira comunicação. A partir do entendimento do conceito de contratransferência como uma relação entre pares – uma relação bipessoal e recíproca, Laplanche & Pontalis (2001) explanam que as diferentes variações na conceituação do fenômeno levam em conta dois aspectos relativos ao analista: a contratranferência seria qualquer intervenção no processo Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 19 analítico resultante de características da personalidade do analista, ou, a contratransferência seria uma produção inconsciente do analista consequência da transferência do paciente. Assim, para Minerbo (2012) a contratransferência é caracterizada por uma dupla perspectiva, ela diz respeito aos sentimentos do analista, mas sobretudo às ações do mesmo concernente ao processo analítico. A contratransferência seria o resultado da transferência em um sentido mais abrangente, mais produtivo do ponto de vista da elaboração e da resolução dos conflitos do paciente. Com esses princípios de compreensão, diversos analistas desenvolveram sua maneira de trabalho. A divergência pode surgir enquanto técnica, mas é certo que o fenômeno da contratransferência se impõe e precisa ser manejado. Considera-se assim que a contratransferência está presente na relação terapêutica e que a mesma tem como referência a carga transferencial do paciente. Por conseguinte, a contratransferência do analista pode demonstrar a implicação deste no processo, bem como seu compromisso com o tratamento e a melhora do paciente, tendo sempre em vista a necessidade do reconhecimento e do manejo das situações contratransferenciais, pois que em um processo de análise entendido como relação, ambos participam e contribuem (Etchegoyen, 2004). Portanto, a noção de relação no conceito de contratransferência, extrapola a ideia dos sentimentos e das reações do analista para com o paciente. Em razão da mudança no paradigma da contratransferência, passando a ser entendida como um aspecto essencial na relação da dupla terapêutica, faz-se importantea realização de estudos sobre o tema em uma perspectiva mais atual, na tentativa de se compreender um pouco mais desse fenômeno no âmbito da clínica. Por isso o objetivo desse trabalho consiste em compreender como a contratransferência está sendo considerada atualmente na prática clínica. Nesse momento, a percepção que se tem é que a contratransferência esteja sendo conceituada a partir da relação psicanalítica, ou seja, como resultante da produção do par analítico, de maneira a levar em conta sua contribuição ao tratamento do paciente. Metodologia Será realizado um levantamento dos artigos científicos, que tratam da temática, disponíveis on line nos principais sites de busca, tais como SciELO, Pepsic. Bv saude, Google Academico, Lilacs e outros, no período de 2006-2016 de acordo com o seguinte Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 20 critério de inclusão: textos que abordem a contratransferência no contexto do atendimento clínico individual. O método utilizado será a revisão narrativa, a qual consiste em “uma revisão qualitativa que fornece sínteses narrativas, compreensivas, de informação publicada anteriormente” (Ribeiro, 2014, p. 07). A revisão narrativa pode ser utilizada em explorações iniciais de um problema, bem como para integrar temáticas diversas; consiste em recurso educativo e útil por reunir informações relevantes apresentadas sob um ponto vista coerente e amplo do tema a ser tratado, além disso a interpretação dos conteúdos coletados possibilita a manifestação da análise crítica a partir da subjetividade dos autores do trabalho a ser realizado. Resultados e Discussão A pesquisa encontra-se em andamento, logo, os resultados agora apresentados são ainda preliminares. De acordo com os artigos disponíveis on line que atendem aos critérios metodológicos, observou-se que a contratransferência é considerada aspecto fundamental do método psicanalítico, pois implica no compromisso inconsciente do analista com seu paciente e na disponibilidade subjetiva deste para atender às solicitações transferenciais. Esse aspecto da contratransferência a faz ocupar um lugar importante na relação do par analítico, quando se presta ao serviço de acatar a transferência com todas as suas peculiaridades, a partir da escuta analítica. Em oposição ao pensamento clássico psicanalítico, a contratransferência é atualmente concebida como componente atuante no processo analítico pois ela oferece maiores e melhores possibilidades de interpretação em razão do vínculo inconsciente da dupla analítica. Zambelli, Tafuri, Viana e Lazzarini (2013) explicam que o fato do analista se utilizar de sua vivência emocional criando um espaço subjetivo para a compreensão da condição psíquica do paciente constitui um enorme proveito, já que ele transforma sua subjetividade em aliada para o manejo da transferência. Conclusão Os estudos sobre a contratransferência, da mesma maneira que progrediram ao longo dos anos, ainda podem avançar e possibilitar formas de trabalho que favoreçam o acolhimento, manejo adequado, interpretações apropriadas e possibilidades de sucesso Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 21 na análise. Portanto, este trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas realizar reflexões e apontamentos sobre o tema, além de contribuir para o entendimento de princípios essenciais para a prática clínica psicanalítica. Referências Dias, Helena Maria Melo, & Berlinck, Manoel Tosta. (2011). Contratransferência e enquadre psicanalítico em Pierre Fédida. Psicologia Clínica, 23(2), 221-231. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-56652011000200014 Eizirik, Mariana, Schestatsky, Sidnei, Knijnik, Laís, Terra, Luciana, & Ceitlin, Lúcia Helena Freitas. (2006). 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Introdução Muitas das demandas de psicoterapia infantil estão relacionadas às dificuldades de aprendizagem, no entanto, tem sido fator de inquietação o fato de a prescrição medicamentosa ser utilizada como primeiro procedimento adotado para tratamento por profissionais da saúde. A dificuldade de aprendizagem tem sido difundida de forma marcante pela mídia leiga, pelas capas de revista semanais, revistas dirigidas aos pais e nas páginas de jornal dedicadas a ciência. Nas escolas, o saber médico, difundido por essa mídia, faz com que professores e coordenadores professem diagnósticos diante da observação de certos comportamentos das crianças, principalmente de TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, e as encaminhem para avaliação psiquiátrica, neurológica e/ou psicológica (Guarido & Voltolini, 2009). Lacet (2014), ao tratar da escuta psicanalítica da criança diagnosticada de TDAH, aponta que de um lado tem-se a família e a escola que não conseguem controlar os comportamentos da criança, portanto, desejam silenciar a criança e sua “agitação”. Do outro se tem a criança que não é escutada. Tendo o saber médico como primeira escolha tem-se também a intervenção medicamentosa, e esta, atende à demanda dos pais, que não precisam questionar suas implicações nos sintomas do filho, e a escola que tende a se eximir do questionamento sobre as maneiras de lidar com a criança. A criança neste saber fica excluída do processo. Ao ser classificada como “doente” ou “portadora” de síndromes e transtornos deixa de ser autora do próprio sofrimento e passa a ser objeto de cuidados especializado (Marino, 2013). 5 Psicóloga. Especialização em Psicomotricidade pela Faculdade de Tecnologia do Vale do Ivaí – FATEC, 2015. Discente do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: julianamistrini@gmail.com. 6 Professora Doutora do Departamentode Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: bethtavaresreis@gmail.com. Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 23 Além de excluir o olhar de outras disciplinas, é possível notar que por considerarem os sintomas como manifestações da bioquímica cerebral, a descrição do manual diagnóstico prevalece em detrimento a descrição dos sintomas apresentados pelo sujeito (Guarido, 2007). As propostas de avaliação e tratamento se dividem de maneira excludente entre o campo biológico e o campo subjetivo (Silva & Albertini, 2016). As informações apresentadas pelo DSM IV acerca das disfunções da criança mostram-se pouco operacionais, pois enfatizam a função/disfunção e ignoram o sujeito, além de que as mesmas disfunções descritas no TDAH podem ser encontradas em diferentes estruturas clínicas e posições subjetivas, como na psicose, autismo ou debilidade intelectual, ou seja, “pode, por exemplo, diagnosticar a agitação psicomotora de uma criança psicótica como sendo transtorno de hiperatividade” (Legnani & Almeida, 2009, p. 15). Desse modo, supõe-se que o processo diagnóstico, psiquiátrico e/ou neurológico, que antecede a prescrição medicamentosa tem sido realizado de modo impreciso, pois ao excluir em sua análise o olhar das diversas disciplinas, reduz questões amplas ao domínio do saber médico. Consequentemente, ao descrever um estado prévio ou constitutivo do sujeito, pode ser capaz de estagnar outras observações sobre a problemática (Guarido & Voltolini, 2009). Jerusalinsky (2011) aponta como um dos efeitos do uso inadequado de metilfenidato (medicamento com maior índice de consumo, aprovado para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH) a interrupção da espontaneidade, dos comportamentos de exploração, curiosidade, da socialização e do brincar, além da redução ou eliminação da expressão de sentimentos e emoções, principalmente da angústia associada ao conflito. Portanto seria possível pensar a medicalização das crianças, inibidora da ação espontânea, como uma intrusão ambiental referente à possibilidade de desenvolvimento emocional? Seria a medicalização a silenciadora da subjetividade da criança? Ao observar a teoria de Winnicott (1983) sobre processo de amadurecimento compreende-se que o ambiente facilitador é fundamental para o desenvolvimento do potencial intrínseco da criança. Neste sentido, o psicanalista precisará estar atento ao ambiente e aos aspectos somáticos, mas deve-se ocupar do indivíduo vivendo, e este Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 24 pode estar se defendendo das falhas do ambiente ou se desenvolvendo com o apoio do ambiente, ou seja, é preciso pensar os fatores pessoais e ambientais. Na relação terapêutica, o papel do psicanalista é permitir ao paciente criança, a comunicação de seus sentimentos sem presumir a existência de um fio decisivo para ideias e pensamentos aparentemente desconexos, ou seja, seu papel é favorecer o amadurecimento da criança, para que ela alcance o gesto espontâneo e desenvolva o self verdadeiro (Winnicott, 1975). Partindo da breve exposição sobre as questões de medicalização e patologização das queixas escolares, e a respeito da psicoterapia psicanalítica, levanta-se a hipótese de que o psicólogo que se utiliza dos fundamentos psicanalíticos pode contribuir para o debate sobre medicalização da infância a partir da prática clínica, uma vez que os fundamentos teóricos e as práticas neste campo questionam a utilização do instrumento médico organicista e propõem a criação de um espaço favorável para que os elementos criativos fundamentais que não se estabeleceram possam ser desenvolvidos. O objetivo deste trabalho é demonstrar a importância da psicoterapia psicanalítica como espaço de escuta e elaboração dos conflitos enfrentados pela criança em contrapartida à medicalização em função das queixas relativas ao contexto escolar. Método Será realizada revisão narrativa da literatura psicanalítica de autores clássicos, sobretudo a teoria de Donald Woods Winnicott, seguida de um levantamento dos artigos publicados no período de 2007 a 2016, em bases de dados eletrônicos, como Google Acadêmico, Pepsic e SciELO, relacionados ao assunto proposto, tendo como base os temas: medicalização na infância e psicanálise, psicanálise e educação, psicanálise e TDAH e psicoterapia psicanalítica infantil. Resultados e Discussão Para Lacet (2014), a nomeação diagnóstica reconhecida pelos pais e especialistas e a medicalização das questões subjetivas, impossibilitam a criança de acessar os aspectos de sua singularidade, o que afeta seu processo de subjetivação. Em Marino (2013) compreende-se que há uma supressão da criança como sujeito, que ao ser classificada como doente ou portadora de síndromes e transtornos, passa a ser objeto de cuidados especializados em detrimento do saber subjetivo. Em Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL ISBN 978-85-7846-424-0 25 contrapartida, ao receber o direito de fala na clínica psicanalítica, que vai além dos aspectos do desenvolvimento e da adaptação ao ambiente, a criança é tida enquanto sujeito de uma clínica do infantil, de uma estrutura que remete a fantasia, e passa a ser autora de sua própria história (Marino, 2013). Apesar de se tratar de um estudo em andamento, acredita-se que, através da articulação entre a teoria psicanalítica e a prática clínica das demandas escolares, terá como resultado uma resposta psicanalítica às questões de medicalização da infância, que considere a subjetividade da criança. Considerações Finais A psicoterapia psicanalítica na infância poderia ser melhor difundida e utilizada, tendo em vista que segue na contramão do proposto pela lógica médica de diagnósticos pautados no discurso biológico e vai de encontro com a necessidade de oferecer à criança um espaço de escuta e acolhimento de suas questões, sejam elas do âmbito familiar, social e individual, portanto proporciona um espaço onde a criança possa se sentir segura em falar sobre seus sentimentos e dificuldades. Referências Guarido, R. (2007). A medicalização do sofrimento psíquico: considerações sobre o discurso psiquiátrico e seus efeitos na Educação. Educação e Pesquisa, 33(1), 151-161. https://dx.doi.org/10.1590/S1517-97022007000100010 Guarido, R., & Voltolini, R. (2009). O que não tem remédio, remediado está?. Educação em Revista, 25(1), 239-263. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982009000100014 Jerusalinsky, D. (2011) Trata-se de caçar o caçador? In: Jerusalinsky, J., & Fendrik, S. (Orgs). O livro negro da psicopatologia contemporânea. São Paulo, SP: Via Lattera Lacet, C. C. (2014). A escuta psicanalítica da criança e seu corpo frente ao diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo. Legnani, V. N. & Almeida, S. F. C. de. (2009). Hiperatividade: o "não-decidido" da estrutura ou o "infantil" ainda no tempo da infância. Estilos da Clínica, 14(26), 14-35. Recuperado em 30 de maio de 2017, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415- 71282009000100002&lng=pt&tlng=pt. Marino, A. S. (2013). A criança na interface do silêncio medicamentoso e como sujeito em psicanálise. Polêm!ca, 12(1), 39-53. Silva, D. R., & Albertini, M. R. B. (2016). TDAH entre o global e o singular: incursões a partir da disjunção do corpo infantil. Psicologia Clínica, 28(1), 123-138. Recuperado em 30 de maio de 2017, de Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI
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