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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DO 16ª VARA DE JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SALVADOR/BA Autos: 00008.2021.07.090001 Recorrente: Clodoaldo Armentano Recorrida: Tratados Comercio de Acessórios Ltda Clodoaldo Armentano, já qualificado nos autos em epígrafe, por intermédio de seus advogados legalmente constituídos, vêm, respeitosamente, perante Vossa Excelência, interpor: RECURSO INOMINADO Nos termos do artigo 42 da Lei 9.099/95, pelas razões anexas, requerendo desde já seu recebimento e posterior remessa à instância superior, segundo as formalidades legais. Informa desde já a Recorrente que o preparo não foi recolhido, pois o indeferimento dos benefícios da assistência judiciária gratuita pela r. sentença recorrida é também objeto deste recurso. Pede deferimento. (Salvador, 28/09/2021) Advogado OAB nº RAZÕES DE RECURSO INOMINADO Autos: 00008.2021.07.090001 Recorrente: Clodoaldo Armentano Recorrida: Tratados Comercio de Acessórios Ltda EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SALVADOR/BA Eméritos Julgadores, Trata-se de recurso inominado interposto pela parte Recorrente ante a decisão que julgou procedente somente, no que tange o dano material, e improcedente os demais pedidos, nos seguintes termos: “Por todo o exposto”, resolvo o mérito da lide, nos termos do artigo 487, inciso I, do CPC e JULGO PROCEDENTE o pedido somente, no que tange o dano material para condenar a autora a pagar à ré o valor de R$999,90, (novecentos e noventa e nove reais e noventa centavos), no mais JULGO IMPROCEDENTE os demais pedidos, sem danos morais. Sobre o valor deve incidir correção monetária desde a presente data e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação. Sem condenação em custas nem honorários de sucumbência. Sentença registrada eletronicamente nesta data. P. I.” Com efeito, em que pese o inquestionável saber da eminente julgadora não primou à decisão atacada pela justa aplicação da lei e jurisprudência aos fatos, sendo sua reforma medida imperativa de justiça, conforme será exposto adiante. I – DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL I.a – Do preparo A r. sentença recorrida negou ao Recorrente os benefícios da Justiça Gratuita, sendo este um dos pontos que se pretende reformar. Por esta razão não foi recolhido o preparo para o presente recurso, esperando-se, portanto, que esta Egrégia Turma se manifeste a respeito, concedendo a gratuidade, ou, eventualmente, abrindo prazo para o seu devido recolhimento. Neste sentido, pela primazia da celeridade e da economia processual e pelo fato de que a presente questão compõe o mérito destas razões recursais, pede-se vênia para remeter a leitura ao tópico “III.a – Dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita”, em que tal ponto foi devidamente abordado. I.b – Da tempestividade A r. decisão recorrida foi publicada em 25/09/2021. Considerando o prazo legal de 10 dias para a apresentação do presente recurso e, ainda, a data em que este foi interposto, tem-se respeitado o pressuposto da tempestividade recursal. II – BREVE SÍNTESE DO PROCESSO O Recorrente, outrora Autor, ajuizou ação de indenização por danos materiais e morais em face da Recorrida, em razão de falha na prestação dos serviços da parte requerida, ora recorrida. Quando esta vendeu um relógio ao recorrente, que após 11 dias de aquisição apresentou coloração diferente da apresentada no momento da compra, sendo esta uma cor escura, e, após ser procurada para mais o reparado foi desencadeado a má prestação do serviço no tocante à informação. Conforme exposto na peça inicial, a recorrente pagou, a quantia de R$ 999,90 referente ao relógio. E além do dano material, o Recorrente experimentou também danos morais, ínsito à odiosa situação criada pela Recorrida, uma vez que não houve mero aborrecimento, visto que o recorrente mesmo com a sua vida financeira difícil investiu recursos próprios, para a compra. Conforme defesa apresentada e audiência de conciliação realizada em 21/09/2021, sem acordo entre as partes, no entanto. Por fim, a r. sentença recorrida foi publicada em 25/09/2021, em síntese, JULGOU PROCEDENTE somente, no que tange o dano material, e improcedente os demais pedidos. Não obstante todo o respeito devido ao citado provimento judicial, entende a Recorrente pela necessidade de sua reforma, não podendo se conformar com os termos prolatados, sob pena de ver indevidamente crucificado seu direito e, ainda, em termos amplos, ver distorcido o direito consumerista pátrio, consoante se verá adiante. III – DAS RAZÕES RECURSAIS III.a – Dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita A recorrente, conforme demonstra os documentos anexos, é pessoa hipossuficiente, encontra-se desempregada, não possuindo recursos ou condições de pagar as custas e despesas do processo sem prejuízo próprio ou de sua família, conforme declaração de hipossuficiência anexa. A recorrente pleiteia os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, assegurados pela lei 1060/50 e consoante art. 98 caput NCPC/2015. Espera-se, portanto, que esta Egrégia Turma se manifeste a respeito, concedendo a gratuidade, ou, eventualmente, abrindo prazo para o seu devido recolhimento. Infere-se dos artigos supracitados que qualquer uma das partes no processo pode usufruir do benefício da justiça gratuita. Logo, a recorrente faz jus ao benefício, haja vista não ter condições de arcar com as despesas do processo sem prejuízo da sua mantença. Consoante a jurisprudência: APELAÇÃO – ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA – DECLARAÇÃO DE MISERABILIDADE – ART. 4º DA LEI Nº 1.060/50 – AÇÃO ORDINÁRIA – PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO – AUSÊNCIA – IRRELEVÂNCIA – INTERESSE DE AGIR – PRESENÇA – SENTENÇA CASSADA – APLICAÇÃO DO ARTIGO 515, PARÁGRAFO 3º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – SITUAÇÃO QUE IMPEDE SUA APLICAÇÃO – RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO. O art. 4º da Lei 1.060/50, que atribui presunção “juris tantum” de veracidade à declaração de miserabilidade apresentada pelo requerente do benefício da justiça gratuita, foi recepcionado pela ordem constitucional vigente, devendo a benesse ser de plano concedida quando inexistente qualquer indício que inaugure a necessidade de dilação probatória para melhor apuração da real condição financeira do requerente. (TJMG 1.0686.11.012641-0/001 (1). Processo 0126410-65.2011.8.13.0686. Rel. Belizário De Lacerda. Data da publicação: 04/03/2015) “AGRAVO INOMINADO – AGRAVO DE INSTRUMENTO A QUE SE NEGOU SEGUIMENTO – PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA – PESSOA FÍSICA – DECLARAÇÃO DE POBREZA – PRESUNÇÃO JURIS TANTUM DE VERACIDADE – INEXISTÊNCIA DE ELEMENTOS NOS AUTOS A DESCARACTERIZAR A HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA – CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. – A declaração de pobreza colacionada pela recorrente alicerça a presunção juris tantum prevista em lei a seu favor. – O demonstrativo de pagamento acostado não evidencia que os vencimentos recebidos pela agravante sejam suficientes para cobrir seus gastos habituais e ainda dar-lhe condições de arcar com as despesas judiciais. – Ausência de elementos a desautorizar a concessão do benefício à servidora na ação principal. – Recurso provido.” (TJMG – Agravo 1.0024.12.075683-8/002. Processo 1003628- 26.2012.8.13.0000 (1). Rel. Versiani Penna. 5ª Câmara Cível. Data da publicação 19/11/2012) Assim, ex positis, pois, requer-se os benefícios da assistência judiciária gratuita. III.d – Dos danos morais Não se pode perder de vista o grande mal que condutas como a da ré causam na vida das pessoas. Acreditando na qualidade dos produtos da empresa fornecedora, investe- se em seus produtos. No ato da venda, a recorrida fazia menção a qualidade do produto, e garantia do mesmo. Oras Excelências, a sensação de ser enganado trouxe para ao recorrido bastantestranstornos, que jamais lhe foi experimentado em outra oportunidade, isso por conta das atitudes maldosas empreendida pela parte Recorrente que poderia ter diminuído o sofrimento do requerente de plano visto ser a requerida a própria fabricante do produto, lhe fornecendo, assim, outro em garantia, cessando desde já maiores constrangimentos e evitando, sem dúvidas, um enquadramento por parte do Recorrente dos órgãos da justiça para ver seus direitos repostos. As nuances da conduta da recorrida são delineadas claramente pelos inúmeros relatos das vítimas no site reclame aqui (reclamações acostados aos autos). Há inúmeras reclamações, todas no mesmo sentido, contando histórias com características incrivelmente semelhantes. Enfim, comprovada à exaustão a falha na prestação do serviço, em clara afronta aos princípios da transparência, da boa-fé objetiva e da confiança. A falha na entrega do produto ou seu devido reparo, induziu toda o recorrente a erro. O recorrido, sem distinção de qualquer natureza, aproveitou-se da boa-fé de pessoas em frágil situação psicológica para obter vantagem ilícita, frustrando-lhes expectativas legítimas. O descumprimento do dever de informação traduz falha na prestação do serviço e violação de deveres anexos da boa-fé objetiva, gerando no consumidor dano extrapatrimonial, sobretudo, quando acarreta perda considerável de tempo útil e denota-se descaso no trato do consumidor. A indenização por danos morais deve ser arbitrada observando-se os critérios punitivo e compensatório da reparação, sem perder de vista a vedação ao enriquecimento sem causa e os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Diante da situação posta, é aplicável ao presente caso o caput do art. 186 e o artigo 927, do Código Civil de 2002 do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe o seguinte: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” O nexo causal também está configurado, assim como o dano sofrido pelo recorrente. É sabido, pelas regras de experiência ordinária, que, em situações que envolvem empréstimos de terceiros, sejam familiares ou amigos, como é o caso da recorrente, o sucesso do investimento é almejado não só por quem está sendo beneficiado diretamente, como também por todos os envolvidos. O recorrente certamente ficou prejudicado, abalado, ante a frustração advinda da falha da empresa apelada. O dano moral daí advindo se evidencia da narrativa dos fatos, visto que causaram ao recorrente falta de previsibilidade e transtornos em sua rotina diária, diante a falta do produto adquirido. IV – DOS PEDIDOS Por todo exposto, o Recorrente requer seja o presente recurso conhecido e provido, com a consequente reforma da r. sentença atacada, determinando-se: a) o deferimento dos benefícios da Justiça Gratuita ao Recorrente e a consequente isenção da realização do preparo recursal ou, pelo princípio da eventualidade, em assim não se entendendo, seja ela intimada para que recolha o devido preparo; b) Seja acolhida a preliminar arguida de cerceamento de defesa, tendo em vista a não realização da oitiva da testemunha arrolada pela Recorrente. c) O presente Recurso Inominado seja conhecido para reformar a r.sentença no tocante a: (i) pagamento de R$ 15.000,00 (Quinze mil reais) referente ao dano moral. d) A condenação do recorrido nas custas e honorários advocatícios, nos moldes do artigo 55 da Lei 9.099/95. e) Requer ainda, que as publicações sejam feitas exclusivamente em nome de xxxxxxxxxxxxx Termos em que pede deferimento. (Salvador, 28/09/2021) Advogado OAB nº JUSRISPRUDÊNCIA Tribunal de Justiça do Estado da Bahia PODER JUDICIÁRIO QUINTA TURMA RECURSAL - PROJUDI PADRE CASIMIRO QUIROGA, LT. RIO DAS PEDRAS, QD 01, SALVADOR - BA ssa-turmasrecursais@tjba.jus.br - Tel.: 71 3372-7460 Ação: Cumprimento de sentença Recurso nº 0159824-79.2020.8.05.0001 Processo nº 0159824-79.2020.8.05.0001 Recorrente (s): JEFFERSON LEANDRO SOUZA DOS SANTOS Recorrido (s): MAGAZINE LUIZA S A EMENTA RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. RELÓGIO SMART WACHT CONSTATADO DEFEITO LOGO APÓS A ENTREGA DO PRODUTO. PARTE AUTORA DEVOLVEU O PRODUTO PARA QUE FOSSE REALIZADA A TROCA, CONTUDO A RÉ NÃO REALIZOU A TROCA NEM O ESTORNO DA COMPRA. MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA CONFIGURADA. SENTENÇA DE PRIMEIRO GRAU QUE ORDENOU A DEVOLUÇÃO DO VALOR PAGO, SEM CONCEDER DANOS MORAIS INDENIZÁVEIS. DANOS MORAIS EVIDENCIADOS ANTE A DISPONIBILIZAÇÃO DE PRODUTO DEFEITUOSO AO CONSUMIDOR, NÃO ZELANDO PELA QUALIDADE QUE SE ESPERA DO PRODUTO, BEM COMO A NÃO REALIZAÇÃO DA TROCA OU DO ESTORNO DA COMPRA. REFORMA DA SENTENÇA PARA CONDENAR A DEMANDADA AO PAGAMENTO DE DANOS MORAIS FIXADOS EM R$ 3.000,00. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei n.º 9.099/95[1]. Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro, saliento que a Recorrente pretende a reforma da sentença lançada nos autos que JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos constantes da peça vestibular para condenar a Acionada a restituir a quantia de R$ 274,45 (duzentos e setenta e quatro reais e quarenta e cinco centavos), na forma simples, com correção pelo INPC e juros a contar da citação. Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o, apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais membros desta Egrégia Turma. VOTO No mérito, em sede inicial, sustenta a parte autora que todo mal infligido ao estado ideal das pessoas, resultando mal-estar, desgostos, aflições, interrompendo-lhes o equilíbrio psíquico, que constitui causa suficiente para a obrigação de reparar o dano moral, como in casu. Informa que adquiriu, junto à Acionada, através do seu aplicativo, um Relógio Smart Watch Feminino Rose Faz Ligação Lançamento, sendo entregue na data de 23/09/2020, oportunidade em que constatou defeito no produto, tendo entrado em contato com a ré que lhe orientou a realizar a postagem do produto e que, inicialmente, seria efetuada a troca do produto em alguns dias, o que foi feito pela parte autora, que realizou a postagem em 25.09.2020, mas a troca não foi efetuada. Como não recebeu o produto novo, a autora procurou a ré, consoante Protocolo de Atendimento nº 2020064785478, sem qualquer retorno. Pugna pela restituição do valor e reparação por danos morais sofridos. O magistrado de piso julgou parcialmente procedente a demanda, ordenando a devolução do valor pago pelo relógio, sem conceder os danos morais pleiteados pelo autor, objeto do presente recurso inominado. Pois bem. Fato é que a demandada não logrou êxito em comprovar a não ocorrência dos fatos narrados na inicial, não se desincumbindo do ônus de demonstrar circunstância capaz de elidir sua responsabilidade, conforme insculpido no art. 14,§ 3º, I e II, do CDC. Noutro passo, restou comprovado que o defeito não foi solucionado nem a devolução do valor pago foi feita, assim o presente caso adapta-se à hipótese descrita no art. 12, § 1º, II e II, do CDC, visto que restou demonstrado que o produto fabricado apresentou-se defeituoso, fazendo jusa parte autora, portanto, a substituição do produto, ou a devolução do valor pago. Por todo o exposto, deve a demandada responder pelos danos sofridos pela parte autora em razão do defeito do produto e da não solução administrativa, violando, assim, o prazo de 30 dias estabelecido no artigo 18, § 1º, da Lei n.º 8.078/90. Nesse contexto o dano moral restou caracterizado, uma vez que a parte autora adquiriu o produto e não pôde utilizá-lo da maneira corretae integral, havendo mais que mero aborrecimento. Nos autos está claro que houve vício na qualidade do produto e a ação do consumidor em buscar a reparação, devendo responder a empresa pelos danos morais suportados pela parte autora, tendo em vista que o vício na qualidade do produto não foi sanado, bem como o valor pago não foi devolvido. O dever de indenizar encontra suas diretrizes no artigo 927 do Código Civil, ao preconizar que "aquele que, por ato ilícito, (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo". Extrai-se dessa norma que o dever de reparação exige a presença do dano, observando, a propósito, a lição de SÉRGIO CAVALIERI FILHO, em sua obra "Programa de Responsabilidade Civil" (5ª edição, p. 88-89): "O dano é, sem dúvida, o grande vilão da responsabilidade civil. Não haveria que se falar em indenização, nem em ressarcimento, se não houvesse o dano. Pode haver responsabilidade sem culpa, mas não pode haver responsabilidade sem dano. (...) Tanto é assim que, sem dano, não haverá o que reparar, ainda que a conduta tenha sido culposa ou até dolosa." E acrescenta mais adiante: "Indenização sem dano importaria em enriquecimento ilícito; enriquecimento sem causa para quem a recebesse e pena para quem a pagasse, porquanto o objetivo da indenização, sabemos todos, é reparar o prejuízo sofrido pela vítima, reintegrá-la ao estado em que se encontrava antes da prática do ato ilícito. E, se a vítima não sofreu nenhum prejuízo, a toda evidência, não haverá o que ressarcir". A efetiva ocorrência do dano é essencial para resultar a responsabilidade pela indenização, pois não há reparação de dano hipotético ou potencial. O dano moral resulta da má prestação de serviço evidenciada, independendo de prova expressa de sua ocorrência, pois este é ¿in re ipsa¿, isto é, decorre diretamente da ofensa, por comprovação do ilícito, que ficou sobejamente demonstrado nos autos. O próprio STJ firmou entendimento neste sentido: ¿A concepção atual da doutrina orienta- se no sentido de que a responsabilização do agente causador do dano moral opera-se por força do simples fato de violação (damnum in re ipsa). Verificado o evento danoso surge a necessidade de reparação, não havendo que se cogitar da prova do prejuízo, se presentes os pressupostos legais para que haja a responsabilidade civil (nexo de causalidade e culpa) ¿ (STJ ¿ 4ª T. ¿ REL CESAR ASFOR ROCHA ¿ RT 746/183). Encontrando previsão no sistema geral de proteção ao consumidor inserto no art. 6º, inciso VI, do CDC, com recepção no art. 5º, inciso X, da Constituição Federal, e repercussão no art. 186, do Código Civil, o dano eminentemente moral, sem consequência patrimonial, não há como ser provado, nem se investiga a respeito do animus do ofensor. Consistindo em lesão de bem personalíssimo, de caráter subjetivo, satisfaz-se a ordem jurídica com a demonstração do fato que o ensejou. Ele existe simplesmente pela conduta ofensiva, sendo dela presumido, tornando prescindível a demonstração do prejuízo concreto. No caso em tela, a parte autora sofreu com a frustração da expectativa de utilizar o relógio junto a Ré, cuja utilidade é notória nos dias atuais. Neste diapasão, o dano moral resta configurado na hipótese, pois o transtorno sofrido extrapolou o limite da normalidade, a ensejar lesão imaterial passível de compensação. Assim sendo, há dano moral a ser reparado, conforme solidificado entendimento jurisprudencial. Não se pode perder de vista, porém, que à satisfação compensatória soma-se também o sentido punitivo da indenização, de maneira que assume especial relevo na fixação do quantum, como uma forma de evitar a reincidência. Deste modo, arbitro indenização em R$ 3.000,00 (três mil reais), valor este que se encontra dentro dos parâmetros desta turma; sendo razoável e proporcional. Ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e DAR PROVIMENTO PARCIAL ao recurso interposto pela parte autora, para condenar a demandada ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) com correção monetária contada a partir do arbitramento (súmula 362 STJ), e juros contados da citação; mantendo os demais termos da sentença impugnada. Sem custas ou honorários, diante da ausência de recorrente vencido. Salvador, Sala das Sessões, 19 de outubro de 2021. ELIENE SIMONE SILVA OLIVEIRA Juíza Relatora ACÓRDÃO Realizado o julgamento do recurso do processo acima epigrafado, a QUINTA TURMA, composta dos Juízes de Direito, MARIAH MEIRELLES DE FONSECA, ROSALVO AUGUSTO V. DA SILVA e ELIENE SIMONE SILVA OLIVEIRA, decidiu, à unanimidade de votos CONHECER e DAR PROVIMENTO PARCIAL ao recurso interposto pela parte autora, para condenar a demandada ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) com correção monetária contada a partir do arbitramento (súmula 362 STJ), e juros contados da citação; mantendo os demais termos da sentença impugnada. Sem custas ou honorários, diante da ausência de recorrente vencido. Salvador, Sala das Sessões, 19 de outubro de 2021. ELIENE SIMONE SILVA OLIVEIRA Juíza Relatora ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA Juiz Presidente Processo julgado com base no artigo nº 4º, do Ato Conjunto nº 08 de 26 de Abril de 2019 do TJBA, que dispõe sobre o julgamento de processos em ambiente virtual pelas Turmas Recursais do Sistema dos Juizados Especiais que utilizam o Sistema PROJUDI e/ou a decisão do acórdão faz parte de entendimento já consolidado por esta Colenda Turma Recursal e/ou o acórdão é favorável a quem requereu pedido de sustentação oral dentro do prazo legal, tendo este já findado. [1]Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão. (TJ-BA - RI: 01598247920208050001, Relator: ELIENE SIMONE SILVA OLIVEIRA, QUINTA TURMA RECURSAL, Data de Publicação: 25/08/2021)
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