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ESQUIZOFRENIA ➢ A Esquizofrenia é uma das principais psicoses, tanto pela sua importância clínica quanto pela sua frequência Epidemiologia: • Maior risco associado com minorias étnicas e raciais • Internacionalmente tem incidência anual de 15 a 42 indivíduos a cada 100mil habitantes • No Brasil a prevalência de ter esquizofrenia alguma vez na vida fica em 0,8%, ou seja, 8 pessoas a cada 1000 habitantes • A média mundial fica em cerca de 1% • Homens e mulheres apresentam igual frequência: ➢ Homens: início entre 15 e 25 anos ➢ Mulheres: início entre 20 e 29 anos (raro entre 40 e 45 anos –menopausa), geralmente tem melhor prognóstico História: 1) Emil Kraepelin (1856 – 1926) a. Termo Dementia praecox i. Alterações de vontade ii. Embotamento afetivo iii. Alterações da atenção e compreensão iv. Alucinações auditivas v. Sonorização do pensamento vi. Evolução deteriorante 2) Eugen Bleuler (1857 – 1939) a. Termo “Esquizofrenia” (mente dividida) i. Afrouxamento de associações ii. Ambivalência afetiva iii. Autismo iv. Dissociação ideoafetiva v. Evolução muito heterogênea 3) Kurt Schneider (1887 – 1967) a. “Sintomas de primeira ordem” i. Percepção delirante ii. Alucinações auditivas: comentários ou comandos iii. Eco do pensamento/sonorização do pensamento iv. Roubo do pensamento v. Vivencias de influência na esfera corporal ou ideativa b. “Sintomas de segunda ordem”: menos importantes para o diagnóstico i. Perplexidade ii. Alterações da sensopercepção (outras) iii. Vivências de influência no campo dos sentimentos iv. Alterações dos impulsos/vontades v. Intuição delirante Conceito de esquizofrenia: • Um dos primeiros a usar o termo Esquizofrenia, Eugen Bleuler, usou esse termo visando conceituar a desordem interna do funcionamento mental e a quebra radical de contato com a realidade que era presente nesse transtorno • Hoje em dia considera-se como conceitos gerais: ➢ Sintomas típicos de psicoses, como alucinações e delírios, pensamento desorganizado, comportamento bizarro, perda de contato com a realidade Etiologia: 1- Aspectos genéticos ➢ Neuregulin: crítico no desenvolvimento neuronal ➢ Dysbindin: produtor de proteínas que controlam receptores e proteínas transdutoras de sinal ➢ Cathecol-methyl transferse: responsável pela catalisação da mutilação de catecolaminas ➢ RGS 4: produz proteína que modula sinalização de receptores de dopamina, acetilcolina e glutamato 2- Vulnerabilidade neurológica, seja por lesões traumáticas, infecções ou fatores de estresse ambiental ➢ Complicações obstétricas e infecções durante a gestação, como infecções virais durante o segundo semestre da gestação que pode influir no desenvolvimento límbico, principalmente no hipocampo e rede pré frontal ➢ Estressores ambientais: • Agradáveis ou desagradáveis • Uso de drogas psicoativas, a maconha por exemplo pode ser um gatilho para uma crise 3- Alguns marcadores biológicos – esses são inespecíficos, podem ser usados como um auxílio mas não como causa definitiva ou fator para diagnóstico: ➢ Aumento de ventrículos laterais ➢ Redução do volume total do cérebro ➢ Anomalias nas áreas límbicas, lobo temporal e hipocampo ➢ Disfunção dopaminérgica e serotoninérgica A teoria dopaminérgica da esquizofrenia foi baseada na observação de que certas drogas tinham habilidade em estimular a neurotransmissão da dopamina (DA). Constatou-se que a droga psicoestimulante anfetamina, quando administrada em doses altas e repetidas, causa uma psicose tóxica com características muito semelhantes às da esquizofrenia paranóide em fase ativa. A semelhança é tão grande, que pode levar a erros diagnósticos, caso o psiquiatra ignore que o paciente tenha ingerido anfetamina. Sabe-se que essa droga atua nos terminais dopaminérgicos aumentando a liberação de DA, além de impedir sua inativação na fenda sináptica, por inibir o mecanismo neuronal de recaptação existente na membrana pré-sináptica. Assim, é possível que os sintomas esquizofreniformes - grande agitação psicomotora, alucinações auditivas, e idéias delirantes do tipo persecutório - sejam devidos ao excesso de atividade dopaminérgica determinado pela anfetamina. Com efeito, essas manifestações cedem rapidamente após a administração de neurolépticos bloqueadores dos receptores dopaminérgicos, sobretudo do tipo D2, ricamente distribuídos nos gânglios da base e áreas mesolímbicas. Além disso, alguns pacientes parkinsonianos tratados com L-DOPA, que aumenta a formação de DA, desenvolvem sintomas psicóticos semelhantes. Sabe-se ainda que o efeito antipsicótico de drogas como a clopromazina e o haloperidol deve-se a ação dessas drogas em bloquear a atividade dopaminérgica Outro neurotransmissor, o glutamato, também está relacionado ao desenvolvimento da esquizofrenia. Segundo a hipótese glutamatérgica, quantidades excessivas desse neurotransmissor são liberadas e exercem um efeito neurotóxico que desencadeia os sintomas da esquizofrenia. Portanto, nos últimos anos, há um questionamento sobre o fato de a teoria dopaminérgica ser a única disfunção relacionada à esquizofrenia. Estudos atuais sobre a neurobiologia da esquizofrenia avaliam a multiplicidade de fatores, abrangendo genética, anatomia (sobretudo mediante os exames de neuroimagem estruturais), circuitos funcionais (por exames de neuroimagem funcionais), neuropatologia, eletrofisiologia, neuroquímica, neurofarmacologia e neurodesenvolvimento Classificações: • Os psicólogos do século XIX e século XX dividiam a esquizofrenia em alguns subtipos: ➢ Subtipo catatônico – marcada por alterações motoras, como hipertonia e em alterações de vontade, como negativismo e impulsividade ➢ Forma paranoide – alucinações e ideias delirantes principalmente de conteúdo persecutório ➢ Subtipo simples – apesar de não ter os sintomas característicos haveria um lento e gradativo empobrecimento psíquico e comportamental, um embotamento afetivo e distanciamento social ➢ Forma hebefrênica – pensamento desorganizado, comportamento bizarro; • Essa forma de classificação em subtipos não é usada atualmente, usa-se a classificação da CID 11 e DSM 5; leva-se em conta a identificação de conjuntos de sintomas e comportamentos que podem se combinar de muitas formas nas diversas fases da esquizofrenia; nessa classificação para fazer o diagnóstico é necessário que haja dois ou mais sintomas por pelo menos 1 mês com 6 meses prévios de alterações gerais: ➢ Delírios ➢ Alucinações ➢ Discurso desorganizado ➢ Comportamento amplamente desorganizado ou catatônico ➢ Sintomas negativos ➢ Disfunção social de pelo menos 6 meses de duração • Como é essa nova classificação: ➢ Síndrome negativa ou deficitária, a qual se relaciona com um pior prognóstico ➢ Síndrome positiva ou produtiva ➢ Síndrome desorganizada 1- Síndrome negativa – vai se caracterizar por uma perda das funções psíquicas e por empobrecimento global da vida afetiva, cognitiva e social do indivíduo • Predomínio de sintomas negativos: perda, ausência • Distanciamento afetivo > embotamento afetivo – perda da capacidade de se sintonizar afetivamente com as pessoas • Retraimento social – alterações na área afetiva e volitiva (redução do impulso para agir socialmente) > fazem com que o indivíduo vá se isolando • Empobrecimento da linguagem e pensamento (alogia) • Diminuição da vontade (avolição) - dificuldade ou incapacidade de realizar ações, tarefas, trabalhos minimamente organizados que exijam iniciativa, motivação, organização e persistência. • Dificuldade ou incapacidade de realizar tarefas • Negligência quanto a si mesmo – descuido e desinteresse consigo mesmo, higiene pobre, roupas malcuidadas, descuido em geral 2- Síndrome positiva ou de sintomas produtivos – diferente dos sintomas negativos,que envolvem déficits psíquicos e empobrecimento nas relações sociais, esses se caracterizam por manifestações novas do processo esquizofrênico • Alucinações (+ auditivas) – são frequentes, mas também pode haver alusões e pseudoalucinações; a mais frequente é a auditiva • Ideias delirantes - frequentemente de conteúdo persecutório, autorreferentes ou de influência, mas pode haver delírios com outros conteúdos ou de outra natureza. • Comportamento bizarro > atos impulsivos – quando os delírios e alucinações com conteúdo bizarro se instalam, podendo levar a atos impulsivos = indicador alto de esquizofrenia • Agitação psicomotora • Produções linguísticas novas (neologismos) 3- Síndrome de desorganização - essa síndrome tem certa correspondência ou semelhança com o subtipo classicamente denominado esquizofrenia hebefrênica (pensamento desorganizado e conteúdo completamente bizarro). Assim, nas formas desorganizadas da doença, observam-se: • Predomínio da desorganização mental e comportamental • Pensamento progressivamente desorganizado – vai de afrouxamento das associações, passando por descarrilamento do pensamento até chegar na total desagregação e produção de um pensamento totalmente incompreensível • Comportamento desorganizado e incompreensível – como comportamentos sociais e sexuais bizarros e inadequados • Afeto inadequado • Afeto pueril História natural da doença: • Infância: isolamento e comportamento excêntrico, mas pode não aparecer nenhuma disfuncionalidade • Adolescência/adulto jovem: geralmente quando ocorre o início da doença aonde o paciente se torna introvertido e isolado e depois de alguns meses ou anos começa a ter alucinações e delírios; esse aparecimento nessa idade pode ocorrer também de forma abrupta, seja com a presença de um evento desencadeante, ou seja, um gatilho, ou não, entre esses desencadeantes pode haver estresse e uso de substancia psicoativa, por exemplo • Fases: ➢ Pré-morbida: essa fase pode ser normal; A baixa sociabilidade, com predileção por atividades solitárias ou ansiedade social, e as alterações cognitivas (principalmente déficits de memória verbal, atenção e funções executivas), identificadas já em filhos de indivíduos portadores de esquizofrenia, podem ser consideradas alterações pré-mórbidas. Essas alterações no comportamento, observáveis desde a infância, podem progredir e estar associadas ao desenvolvimento da esquizofrenia ➢ Prodrômica: 2 a 5 anos; sinais e sintomas inespecíficos: alteração de sono, irritabilidade, ansiedade, desorganização, desconfiança e isolamento; A fase prodrômica é caracterizada por um período variável de tempo, geralmente de meses, antecedendo a eclosão da psicose, em que o indivíduo pode apresentar um estado de apreensão e perplexidade sem um foco aparente, sendo comum o sentimento de que “algo está para acontecer”. Geralmente se nota uma mudança no comportamento da pessoa, que passa a ficar mais isolada e a demonstrar atitudes peculiares e excêntricas, podendo ocorrer sintomas psicóticos breves e transitórios ➢ Início da doença – primeiro episódio da doença • Sintomas positivos • Desorganização • Sintomas negativos ➢ 80% de recidivas em 5 anos – ou seja, após a primeira crise 80% reincide em 5 anos ➢ Fase final: padrão se estabelece Outras psicoses: • Transtorno delirante (paranoia) • Psicose Aguda (reativa ou breve) • Psicose de causa orgânica • Psicose induzida • Transtornos esquizoafetivos – do tipo maníaco ou do tipo depressivo, ou ainda mistos Tratamento 1) Objetivos gerais do tratamento: a. Redução da gravidade dos sintomas psicóticos b. Prevenção de recorrência de episódios sintomáticos e deterioração 2) Sem tratamento profilático com antipsicótico a. 70 a 80% terão outro episódio em 12 meses b. Tratamento contínuo reduz para 30% o risco 3) Componentes do tratamento: a. Reabilitação psicossocial b. Psicoterapia c. Medicações antipsicóticas (neuroléptico) 4) Reabilitação psicossocial a. CAPS: Centro de Atenção Psicossocial b. Oficina Terapêutica 5) Psicoterapia: a. TCC, grupo, orientação, analítica TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: 1) Medicação: antipsicótico ou neuroléptico a. Primeira geração ou típicos: • Alto potencial de efeitos extrapiramidais • Clorpromazina (Amplictil) – 1951, sedativo • Haloperidol (Haldol) – 1957, potente • Levomepromazina – sedativo - Os antipsicóticos levam dias a semanas para produzirem seus efeitos terapêuticos máximos. Como vimos, sua principal ação consiste no bloqueio de receptores dopaminérgicos D2 no sistema nervoso central. Diversos estudos demonstram uma relação direta entre a potência terapêutica dessas drogas e sua capacidade em bloquear receptores D2 - Os neurolépticos podem ser divididos em dois grupos de acordo com sua potência. Assim, temos os antipsicóticos de "alta potência" (como o haloperidol, flufenazina, trifluoperazina, tiotixene) e os de "baixa potência" ou sedativos (como clorpromazina, tioridazina etc). - Entre os sistemas dopaminérgicos cerebrais nos quais os antipsicóticos atuam, o mesocortical e o mesolímbico são os que provavelmente estão mais relacionados com a fisiopatologia da esquizofrenia. Já o bloqueio de receptores dopaminérgicos do sistema nigroestriatal é considerado responsável pelos efeitos extrapiramidais dos neurolépticos, enquanto a ação no sistema túberoinfundibular parece ser responsável pelos efeitos endocrinológicos causados por estas dogras b. Segunda geração ou atípicos • Baixo risco de efeitos colaterais • Alterações metabólicas • Melhora de sintomas negativos • Clozapina (Leponex): padrão ouro, risco de agranulocitose, 1975, 300/600 mg/dia • Risperidona (4/6 mg/dia), Olanzapina (10/20 mg/dia), Quetiapina (400/600 mg/dia), Aripiprazol (15/30 mg/dia), etc - Atualmente, os esforços concentram-se na busca de antipsicóticos com menos efeitos extrapiramidais e que sejam eficazes no tratamento dos sintomas negativos da esquizofrenia, denominados antipsicóticos atípicos, a exemplo da clozapina, risperidona, olanzapina, quetiapina, ziprasidona e mais recentemente o aripiprazol. - Na clínica, a clozapina é igual ou superior aos antipsicóticos clássicos na melhoria dos sintomas positivos da esquizofrenia, mas também mostra efeitos em sintomas negativos. Além disso, 60% dos pacientes que não respondem a neurolépticos típicos podem apresentar melhora com o seu uso. O maior problema desta droga, no entanto, é o aparecimento eventual de agranulocitose. Esse quadro, de origem controversa, talvez com componentes alérgicos, caracteriza-se pela redução acentuada do número de neutrófilos, tornando o paciente susceptível a infecções graves SINTOMAS EXTRA PIRAMIDAIS 1) Parkinsonismo ➢ Rigidez, tremor de extremidades, dificuldade de marcha (marcha em bloco), salivação excessiva, hipomimia ➢ Tratamento: anticolinérgico (ex: biperideno VO) 2) Distonia ➢ Contração muscular intensa. Torcicolo, crise oculógira, opistótono, etc. ➢ Tratamento: anticolinérgico (rx: biperideno IM ou prometazina IM) 3) Acatasia ➢ Inquietação motora, especialmente dos mmii, dificuldade de ficar sentado, etc. ➢ Tratamento: B-bloqueador (ex: propranolol VO) ou benzodiazepínico VO 4) Discinesia tardia ➢ Movimentos hipercinéticos e involuntários, especialmente da região orofacial (crônico) ➢ Tratamento: redução ou troca do anti psicótico. Benzodiazepínico ou clozapina
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