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Oficina 3 - Política nacional de saúde mental e articulação da raps com enfoque na desinstitucionalização
1. Entender a reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial no Brasil
Nas últimas décadas no Brasil, o campo de saúde mental foi marcado pela atuação de diversos atores sociais, como usuários, trabalhadores de saúde e familiares. Inicialmente com a atuação do Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), mas também com o processo de Reforma Sanitária, que buscava transformações na assistência à saúde. Nesse sentindo, o MTSM foi se transformando em um movimento social mais amplo, autônomo e com participação social, nascendo assim o Movimento Social de Luta Antimanicomial.
O Movimento da Luta Antimanicomial caracteriza-se pela humanização no cuidado com os indivíduos com sofrimento psíquico, luta pelo exercício dos direitos à liberdade e marca a transformação da assistência psiquiátrica brasileira, propondo que o atendimento seja feito em serviços substitutivos ao invés do modelo asilar, em que predominava a lógica do isolamento institucional.
No caso brasileiro, podemos apontar três trajetórias históricas do processo de reforma psiquiátrica: 
1. O movimento de trabalhadores em saúde mental (MTSM): que apresentava denúncias de direitos humanos, acusações direcionadas ao sistema de hospitais psiquiátricos nacionais, como violência, maus tratos, torturas. 
2. A visita do médico italiano Franco Basaglia no Brasil teve como consequência a repercussão midiática e as divulgações da violência manicomial denunciadas também pelos movimentos de luta antimanicomial.
3. O surgimento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no cuidado da saúde mental no Brasil surgiu como uma proposta de serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos. 
4. Aprovação da lei 10.216, consolidando o início da trajetória da desistitucionalização, que se estende até os dias atuais. Nesse momento, o processo da reforma psiquiátrica brasileira procura produzir uma ruptura com as políticas vigentes, pautando-se em estratégias de desinstitucionalização, ou seja, trata-se de outro modo de realizar o cuidado com a saúde mental
Por fim, no dia 18 de maio é comemorado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, um dia para refletirmos sobre a reforma psiquiátrica brasileira, que está em curso desde 2001 e caracteriza-se por um debate atual de avanços no reconhecimento de décadas de luta, sendo também uma referência internacional, postulada nas transformações sociais, políticas e econômicas da responsabilidade de um Estado Democrático de Direito pela garantia e promoção do cuidado à saúde mental.
2. Conhecer a RAPS, princípios, programas/serviços, como se organiza e os profissionais envolvidos
A política nacional de saúde mental busca consolidar um modelo de atenção aberto e de base comunitária. A proposta é garantir a livre circulação das pessoas com problemas mentais pelos serviços, pela comunidade e pela cidade. 
A RAPS (rede de atenção psicossocial) tem como objetivos gerais:
I. Ampliar o acesso à atenção psicossocial da população em geral;
II. Promover a vinculação das pessoas com transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas e de suas famílias aos pontos de atenção; 
III. Garantir a articulação e a integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às urgências.
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) estabelece os pontos de atenção para o atendimento de pessoas com problemas mentais, incluindo os efeitos nocivos do uso de crack, álcool e outras drogas. A Rede integra o Sistema Único de Saúde (SUS).
A Rede é composta por serviços e equipamentos variados, tais como: 
· Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); 
CAPS I e CAPS II: Atendimento diurno (segunda a sexta) de adultos com transtornos mentais;
CAPS III: Atendimento diurno e noturno (24 horas) de adultos com transtornos mentais;
CAPS Infantil I e II: Atendimento diurno (segunda a sexta) a crianças e adolescentes com transtornos mentais;
CAPS Infantil III: Atendimento diurno e noturno a crianças e adolescentes com transtornos mentais;
CAPS Álcool e Drogas: Atendimento diário à população com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas, como álcool e outras drogas.
· Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); 
São casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais graves, institucionalizadas ou não. O número de usuários pode variar desde 1 indivíduo até um pequeno grupo de no máximo 8 pessoas, que deverão contar sempre com suporte profissional sensível às demandas e necessidades de cada um.
· Centros de Convivência e Cultura, as Unidade de Acolhimento (UAs), 
A estrutura oferece cuidados contínuos de saúde, com funcionamento 24 horas por dia, em ambiente residencial, para pessoas com necessidade decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Atende pessoas que apresentam acentuada vulnerabilidade social ou familiar e que demandam acompanhamento terapêutico e protetivo de caráter transitório.
· Os leitos de atenção integral (em Hospitais Gerais, nos CAPS III).
Segundo os dados de 2020 do Ministério da Saúde, eram então ofertados 1.622 leitos em 305 hospitais gerais país afora.
São serviços destinados ao tratamento adequado e ao manejo de pacientes com quadros clínicos agudos, em ambiente protegido, com suporte e atendimento 24 horas por dia.
Faz parte dessa política o programa de Volta para Casa, que oferece bolsas para pacientes egressos de longas internações em hospitais psiquiátricos.
Programa de Volta para casa: Que dispõe sobre o auxílio-reabilitação psicossocial, atualmente no valor atual de R$ 500,00 (quinhentos reais), destinado às pessoas acometidas de transtornos mentais, com história de longa internação psiquiátrica (02 ou mais anos ininterruptos).
3. Compreender princípios, diretrizes e objetivos da Lei nº 10.216
 Em 2001, a Lei nº 10.216, proposta pelo deputado federal Paulo Delgado, também conhecida como Lei Paulo Delgado, instituiu um novo modelo de tratamento aos portadores de transtornos mentais no Brasil, e redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios.
Ela representa um grande avanço jurídico no que concerne aos direitos dos usuários e de seus familiares em saúde mental. Tem como foco a saúde mental de base comunitária e dispõe, fundamentalmente, sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais.
A Lei 10.216/2001 fez-se importante, dentre diversos aspectos, porque garantiu vários direitos aos pacientes com transtornos mentais, como a participação de sua família no tratamento e sua proteção contra qualquer forma de abuso.
4. Esclarecer os principais retrocessos da nota técnica nº 11/2019 (“A nova saúde mental”)
No período de dezembro de 2016 a maio de 2019, foram editados cerca de quinze documentos normativos, dentre portarias, resoluções, decretos e editais, que formam o que a nota técnica 11/2019 veio a chamar de “Nova Política Nacional de Saúde Mental”. 
Essa ‘nova política’ se caracteriza pelo incentivo à internação psiquiátrica e por sua separação da política sobre álcool e outras drogas, que passou a ser denominada “política nacional sobre drogas”, tendo esta grande ênfase no financiamento de comunidades terapêuticas e numa abordagem proibicionista e punitivista das questões advindas do uso de álcool e outras drogas
A Nota Técnica nº 11/2019 aborda mudanças na Política Nacional de Saúde Mental e nas Diretrizes da Política Nacional sobre Drogas e também redirecionamentos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). 
O movimento da luta antimanicomial analisa essa nota com preocupação e aponta um conjunto de críticas. Isso porque, ao ler a nota técnica, existe aideia de possíveis retrocessos nos novos posicionamentos do Ministério da Saúde: “Reativar os hospitais psiquiátricos ou os manicômios e a eletroconvulsoterapia, também conhecida por eletrochoque, como estratégias terapêuticas é um atraso e representa cumprir mais a função de restaurar o poder hegemônico da medicina nesse campo do que qualificar a atenção”.
Um aspecto da nota que não havia sido estabelecido em normativas anteriores foi a apresentação da eletroconvulsoterapia como se fosse um exemplo de “disponibilização do melhor aparato terapêutico, ignorando os registros históricos de que esta fora empregada corriqueiramente enquanto instrumento de tortura e punição nas instituições manicomiais anteriormente à Reforma Psiquiátrica. Ainda que existam indicações técnicas para o uso da eletroconvulsoterapia, estas se aplicam a uma parcela extremamente pequena dos casos de transtorno mental grave e estão longe de ser uma solução em larga escala, conforme a nota proclama.
Também chama atenção o modo como é mencionada a atenção a crianças e adolescentes, com ênfase descabida na internação psiquiátrica. A Nota Técnica cita que “não há qualquer impedimento legal para a internação de pacientes menores de idade (sic) em Enfermarias Psiquiátricas de Hospitais Gerais ou de Hospitais Psiquiátricos.
Além disso, oficializa a separação da, agora, “Política Nacional Sobre Drogas” da Política Nacional de Saúde Mental. “Esta separação entre as duas políticas tem também a clara intenção de impedir que os princípios que regem a atenção psicossocial, especialmente o cuidado realizado em liberdade (...) sejam igualmente aplicados aos usuários de álcool e outras drogas”

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