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Laura Costa Santos - Medicina – 6° Semestre HISTÓRIA DA LOUCURA E A EVOLUÇÃO DE SEU CONCEITO. CONCEITO ATUAL A loucura ou insanidade é segundo a psicologia uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados anormais pela sociedade ou a realização de coisas sem sentido. É resultado de algum transtorno mental. A verdadeira constatação da insanidade mental de um indivíduo só pode ser feita por especialistas em psicopatologia. Algumas visões sobre loucura defendem que o sujeito não está doente da mente, mas pode simplesmente ser uma maneira diferente de ser julgado pela sociedade. Na visão da lei civil, a insanidade revoga obrigações legais e até atos cometidos contra a sociedade civil com diagnóstico prévio de psicólogos, julgados então como insanidade mental. Na profissão médica, o termo é agora evitado em favor de diagnósticos específicos de perturbações mentais, a presença de delírios ou alucinações é amplamente referida como a psicose. Quando se discute a doença mental, em termos gerais, psicopatologia é considerada uma designação preferida. HISTORIA DA LOUCURA A sociedade ocidental contemporânea produz e naturaliza uma visão do sofrimento psíquico como objeto de intervenção da ciência, seja ela médica ou de outras práticas “psi”. Nesse paradigma, o sofrimento psíquico recebe o rótulo de “doença mental”, com quadros nosológicos claramente delimitados. O objetivo final, ou seja, a cura, pode até ser conceituado de maneiras diferentes, mas, raramente, escapa à noção de (re)adaptação a um mundo do qual ele não faz parte ou ao qual se mostra estranho. Sabe-se que essa visão de mundo arvora-se em ser “A Verdadeira” e que já foi assimilada a tal ponto que se corre até mesmo o risco do ridículo se tentar apresentar os fatos sob outra ótica. Entretanto, a história mostra que nem sempre foi assim: loucura, alienação, doença mental, transtorno mental, sofrimento psíquico não foram pensados de maneira uniforme nem ao longo da história, nem no mesmo espaço temporal. Vale destacar ainda que a forma como a experiência com a loucura vai sendo conceituada influencia diretamente os espaços e as práticas destinadas a ela. Sendo assim, essa reflexão visa reconstruir a trajetória da percepção da loucura desde a Grécia Antiga até os dias atuais, enfocando, principalmente, os períodos onde ocorreram mudanças significativas na forma de se perceber e atuar perante essa experiência. LOUCURA NA GRÉCIA ANTIGA: A DESRAZÃO VALORIZADA A desrazão é entendida como tudo aquilo que uma sociedade enxerga como sendo seu “outro”: a estranheza, a ameaça, a alteridade radical. Essa dimensão pode ser identificada em diversas épocas e, inclusive, pode ser percebida como essencial nas mais variadas formações histórico-sociais. Entretanto, apesar desse lugar de exclusão sempre ter existido, nem sempre coube ao louco a tarefa de representar a desrazão. Inicialmente, por mais que pareça estranho aos olhos de hoje, pode-se afirmar que a experiência com a loucura nem sempre foi considerada algo negativo, muito menos uma doença. Pelo contrário, na Grécia antiga ela já foi considerada até mesmo um privilégio. Filósofos como Sócrates e Platãoressaltaram a existência de uma forma de loucura tida como divina e, inclusive, utilizavam a mesma palavra (manikê) para designar tanto o “divinatório” como o “delirante”. Era através do delírio que alguns privilegiados podiam ter acesso a verdades divinas. Isso não quer dizer que essas pessoas fossem consideradas normais ou iguais, mas que eram portadoras de uma desrazão, a qual, apesar de habitar a vizinhança do homem e do seu discurso, precisava ser mantida numa distância, separando o sagrado das experiências terrenas: “A loucura não é o Outro do homem (do qual ele possa se assenhorar), mas simplesmente o Outro”. Este “Outro” ocupa o lugar de uma alteridade radical e exterior ao sujeito e alheia a qualquer tentativa de apropriação. Não pode ser considerado como uma outra faceta do mesmo, mas encarna uma diferença impossível de ser apreendida. Essa relação entre experiência mística e consciência crítica vai prevalecer por muito tempo e, somente no período conhecido como Antigüidade Clássica, vai se dissolver. ANTIGÜIDADE CLÁSSICA: O ROMPIMENTO ENTRE O MÍSTICO E O RACIONAL Paulatinamente, a loucura vai se afastando do seu papel de portadora da verdade e vai se encaminhando em uma direção completamente oposta. Na fascinante obra intitulada História da Loucura, pode-se perceber como esse corte entre misticismo e razão pode ser percebido em vários âmbitos da experiência humana. Um dos exemplos abordados na obra é a descrição de como se deu https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Mente https://pt.wikipedia.org/wiki/Homem https://pt.wikipedia.org/wiki/Normalidade_(comportamento) https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade https://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_mental https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicopatologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Civil https://pt.wikipedia.org/wiki/Insanidade https://pt.wikipedia.org/wiki/Del%C3%ADrio https://pt.wikipedia.org/wiki/Alucina%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicose https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicopatologia esse rompimento no espaço das artes, através da crescente dissociação entre imagem e escrita, observada nesse período. Com o fim do simbolismo gótico, a imagem é liberada da sabedoria e da lição que a ordenavam e começa a gravitar ao redor de sua própria loucura, através de abundância de significações, de multiplicação do sentido por ele mesmo: “o sentido não é mais lido numa percepção imediata, a figura deixa de falar por si mesma. Entre o saber que a anima e a forma para qual se transpõe, estabelece-se um vazio. Ele está livre para o onirismo”. Na pintura, pode-se destacar obras como a Nau dos Loucos, a Tentação de Lisboa e o Jardim das Delícias, as quais mostram animais, caras grotescas, pássaros de pescoço alongado. Esses elementos fascinam o espectador, encarnando a loucura em forma de tentação, expondo o mundo com tudo que nele existe de impossível, de fantástico, de inumano. As imagens, ainda que carregadas de fantasmas, exercem sobre o homem do século XV mais poderes de atração do que a realidade. Por outro lado, na produção escrita do mesmo período, a loucura atrai, mas não fascina: “enquanto Bosh, Brughel e Dürer eram espectadores terrivelmente terrestres, e implicados nessa loucura que viam brotar à sua volta, Erasmo observa-a a uma distância suficiente para estar fora de perigo; observa-a do alto do seu Olimpo, e se canta seus louvores é porque pode rir dela com o riso inextingüível dos deuses”. Assim, essa brecha entre experiência mística e consciência crítica foi aberta durante a Renascença e nunca mais deixou de se abrir, acentuando um vazio entre o trágico e o crítico que nunca mais será preenchido. A loucura já não é mais porta-voz da verdade divina e em pouco tempo passará a ocupar o lugar de representante simbólico do mal. IDADE MÉDIA: SAI O LEPROSO, ENTRE O LOUCO Até o final da Idade Média, aquele espaço da alteridade radical, referido anteriormente no início do texto, era representada pelo leproso. Encarnando o mal e representando o castigo divino, a lepra se espalha rapidamente causando pavor e sentenciando seus portadores à exclusão. Entretanto, com o fim das Cruzadas e a ruptura com os focos orientais de infecção, a lepra retira-se, deixando aberto um espaço que vai reivindicar um novo representante. Alguns séculos depois, essas estruturas de exclusão social passam a ser ocupadas pela figura do louco. Apesar de se perceber que desde a Idade Média já existiam mecanismos de exclusão do louco, ainda não é aí que a loucura vai ser percebida como um fenômeno que requeiraum saber específico, pois os primeiros estabelecimentos criados para circunscrever a loucura destinavam se simplesmente a retirar do convívio social as pessoas que não se adaptavam a ele. Somente no próximo período histórico é que se transformará essa relação. SÉCULO XVII I : A LOUCURA COMO OBJETO DO SABER MÉDICO É o século XVIII que vem, definitivamente, marcar a apreensão do fenômeno da loucura como objeto do saber médico, caracterizando-o como doença mental e, portanto, passível de cura. É o Século das Luzes, onde a razão ocupa um lugar de destaque, pois é através dela que o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade. Ocorre valorização do pensamento científico e é em meio a esse contexto que ocorre o surgimento do hospital como espaço terapêutico. Entretanto, deve-se ter cuidado ao imprimir a esse acontecimento uma ótica humanitária e altruísta, pois essa medicalização do hospital não se deu visando “uma ação positiva sobre o doente ou a doença, mas simplesmente uma anulação dos efeitos negativos do hospital”(3). Para garantir seu funcionamento, o modelo hospitalar necessitava da instauração de medidas disciplinares que viessem garantir a nova ordem. Assim, surge uma arte de delimitação desse espaço físico, onde são fundamentais os princípios de vigilância constante e registro contínuo, de forma a garantir que nenhum detalhe escape a esse saber. Dentro desse espaço esquadrinhado, percebe-se uma institucionalização das relações lá exercidas, tornando-se um mundo à parte, afastando cada vez mais o indivíduo de suas relações exteriores. O discurso que alimenta esse sistema percebe os loucos como seres perigosos e inconvenientes que, em função de sua “doença”, não conseguem conviver de acordo com as normas sociais. Retira-se, então, desse sujeito todo o saber acerca de si próprio e daquilo que seria sua doença, ao mesmo tempo em que se delega esse saber ao especialista. PÓS-GUERRA: MOMENTO PROPÍCIO PARA REFORMAS Somente no período pós-guerra desponta um cenário propício para o surgimento dos movimentos reformistas da psiquiatria na contemporaneidade. Começam a surgir, em vários países, questionamentos quanto ao modelo hospitalocêntrico, apontando para a necessidade de reformulação. Alguns desses movimentos colocavam em questão o próprio dispositivo médico psiquiátrico e as instituições a ele relacionadas, como exemplo, a experiência de Franco Basaglia nas cidades italianas de Gorizia e Trieste, as quais tinham como principal referência a defesa da desinstitucionalização. Uma importante questão nessa concepção dereforma diz respeito ao conceito de “doença mental”, o qual passa a ser desconstruído para dar lugar a nova forma de perceber a loucura enquanto “existência- sofrimento” do sujeito em relação com o corpo social. A reforma psiquiátrica brasileira encontra seus principais fundamentos teóricos nessa concepção, propondo-se a seguir a visão teórica adotada na reforma italiana. Entretanto, vale ressaltar que o processo histórico do lidar com a loucura no Brasil teve peculiaridades que o distinguem bastante daquele observado na Europa. A atenção específica ao doente mental no Brasil teve início com a chegada da Família Real. Em virtude das várias mudanças sociais e econômicas ocorridas e para que se pudesse ordenar o crescimento das cidades e das populações, fez-se necessário o uso de medidas de controle, entre essas, a criação de um espaço que recolhesse das ruas aqueles que ameaçavam a paz e a ordem sociais. Posteriormente, em 1852, é criado o primeiro hospício brasileiro. Tendo o hospital psiquiátrico como cenário e o isolamento como principal técnica, o psiquiatra passou a necessitar de um profissional que servisse de vigilante e, ao mesmo tempo, seguisse suas instruções quanto ao tratamento: “o ‘enfermeiro’ é um agente situado entre o guarda e o médico do hospício, devendo estabelecer entre aquele e o doente a corrente do olhar vigilante”(6). Assim, no ano de 1890, foi criada a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras visando sistematizar a formação de enfermeiros para atuarem no espaço asilar. Num país subdesenvolvido, com um modelo de assistência à saúde centrado na prática curativa e assistencialista, foi fácil transformar a doença mental em mercadoria rentável. Ao se associar a lógica do capital (lucro) à lógica do modelo manicomial (poder disciplinar), não fica difícil perceber que a “assistência” limitava-se ao mínimo que fosse preciso para manter os loucos sob dominação, sem precisar gastar muito. Na década de 70, não suportando a busca desenfreada pelo lucro dos empresários da saúde, a previdência social entra em crise, mostrando a ineficiência desse modelo e apontando para a necessidade de reformulação. Vale ressaltar que esses questionamentos vieram à tona em meio a um quadro político e econômico específico, caracterizado pelo fim do “milagre econômico”. Ocorre abertura gradual após anos de ditadura, permitindo a entrada em cenade novos atores, dando vez à manifestação das críticas e denúncias dos trabalhadores de saúde mental e outros setores da sociedade civil contra a precária assistência prestada aos doentes mentais. Em continuidade a esse processo, foram realizadas em 1987, 1992 e 2001, as Conferências Nacionais de Saúde Mental, que possibilitaram a delimitação dos objetivos da reforma psiquiátrica brasileira atual e a proposição de serviços substitutivos ao modelo hospitalar. Dentre os marcos conceituais desse processo destacam-se o respeito à cidadania e a ênfase na atenção integral, onde o processo saúde/ doença mental é entendido dentro de uma relação com a qualidade de vida. Atualmente, observa-se significativo avanço na implantação das propostas da reforma psiquiátrica brasileira. Entretanto, essas conquistas não têm se dado de forma homogênea por todo país. Em vários espaços ainda se enfrentam fortes obstáculos como, por exemplo, a falta de decisão política de alguns gestores públicos e as resistências por parte dos donos de hospitais que não querem perder um negócio lucrativo. FONTE: Cerca Do Conceito De Loucura E Seus Reflexos Na Assistência De Saúde Mental - Lia Carneiro Silveira EVOLUÇÃO DA ABORDAGEM DA SAÚDE MENTAL (BRASIL/MUNDO). Até a entrada de medicamentos específicos para problemas psiquiátricos no mercado, o que se via em termos de tratamento eram cenas de horror. De acordo com a revista Scientific American Brasil, os primeiros registros de transtornos mentais surgiram por volta do ano 1000 a.C., nos livros do Antigo Testamento. O termo genérico empregado nesses casos era loucura, sempre com conotação de fúria e raiva. Até o século XVIII, esses problemas eram vistos como consequência de lesão craniana, possessões demoníacas e até abuso de vinho, e eram tidos como incuráveis. O pioneiro nos tratamentos psiquiátricos foi o médico francês Philippe Pinel (1745-1826). Ele acreditava que as doenças mentais eram resultados ou de tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditária, ou ainda originadas de acidentes físicos. Pinel foi também o primeiro a distinguir vários tipos de psicose. Buscou ainda tratamento humanizado aos pacientes. No entanto, mesmo com todos os esforços de Pinel, os doentes mentais continuaram a enfrentar terapias cruéis nos séculos seguintes. No eletrochoque (século XIX), a eletricidade era usada para produzir contração muscular e – acreditava-se – ajudava a curar doenças emocionais e nervosas. Também se recorria à hidroterapia, na qual o paciente era afundado na água. No século XX foi criado um dos tratamentos mais controversos da história da psiquiatria: a lobotomia. Introduzida em 1935 pelo médico português Egas Moniz, consistia em uma intervenção cirúrgica no cérebro (psicocirurgia),na qual eram seccionadas as vias que ligam as regiões pré-frontais e o tálamo (um importante centro coordenador das funções cerebrais). O eletrochoque ainda é utilizado em alguns casos restrtiros, como depressão muito grave extrema agitação e tendências suicidas. O procedimento é feito em centro cirúrgico e com anestesia. Atualmente, esse tratamento é chamado de eletroconvulsoterapia (ECT) sendo indicada apenas para transtornos obsessivos-compulsivos graves e consiste na interrupção de vias nervosas responsáveis pelo comportamento obsessivo. Foi com o surgimento do primeiro antipsicótico, a clorpromazina, em 1952, que o controle de transtornos psiquiátricos se tornou possível e o emprego da psicocirurgia e do eletrochoque caiu em desuso. Este medicamento revolucionou o tratamento das psicoses, especialmente da esquizofrenia, reduzindo vários sintomas como alucinações e delírios. Em 1959 surgiram os antidepressivos, drogas que melhoram o humor ao atuar sobre os neurotransmissores, 'mensageiros' químicos que favorecem a comunicação entre as células do sistema nervoso. Desde então não houve mais revolução na área, mas uma evolução dos medicamentos usados para transtornos psiquiátricos. Uma amostra dessa evolução apareceu no fim dos anos 80, com a fluoxetina, um antidepressivo capaz de provocar menos efeitos colaterais que os demais. REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL E SEUS MARCOS. HISTÓRICO DA REFORMA: (I) CRÍTICA DO MODELO HOSPITALOCÊNTRICO (1978-1991) O ano de 1978 costuma ser identificado como o de início efetivo do movimento social pelos direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país. O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), movimento plural formado por trabalhadores integrantes do movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros de associações de profissionais e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas, surge neste ano. É sobretudo este Movimento, através de variados campos de luta, que passa a protagonizar e a construir a partir deste período a denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais. A experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio é inspiradora, e revela a possibilidade de ruptura com os antigos paradigmas, como, por exemplo, na Colônia Juliano Moreira, enorme asilo com mais de 2.000 internos no início dos anos 80, no Rio de Janeiro. Passam a surgir as primeiras propostas e ações para a reorientação da assistência. O II Congresso Nacional do MTSM (Bauru, SP), em 1987, adota o lema “Por uma sociedade sem manicômios”. Neste mesmo ano, é realizada a I Conferência Nacional de Saúde Mental (Rio de Janeiro). Neste período, são de especial importância o surgimento do primeiro CAPS no Brasil, na cidade de São Paulo, em 1987, e o início de um processo de intervenção, em 1989, da Secretaria Municipal de Saúde de Santos (SP) em um hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde Anchieta, local de maus-tratos e mortes de pacientes. É esta intervenção, com repercussão nacional, que demonstrou de forma inequívoca a possibilidade de construção de uma rede de cuidados efetivamente substitutiva ao hospital psiquiátrico. Neste período, são implantados no município de Santos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) que funcionam 24 horas, são criadas cooperativas, residências para os egressos do hospital e associações. A experiência do município de Santos passa a ser um marco no processo de Reforma Psiquiátrica brasileira. Trata-se da primeira demonstração, com grande repercussão, de que a Reforma Psiquiátrica, não sendo apenas uma retórica, era possível e exeqüível. Também no ano de 1989, dá entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado (PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. É o início das lutas do movimento da Reforma Psiquiátrica nos campos legislativo e normativo. Com a Constituição de 1988, é criado o SUS – Sistema Único de Saúde, formado pela articulação entre as gestões federal, estadual e municipal, sob o poder de controle social, exercido através dos “Conselhos Comunitários de Saúde”. HISTÓRICO DA REFORMA: (II ) COMEÇA A IMPLANTAÇÃO DA REDE EXTRA-HOSPITALAR (1992- 2000) A partir do ano de 1992, os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado, conseguem aprovar em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental. É a partir deste período que a política do Ministério da Saúde para a saúde mental, acompanhando as diretrizes em construção da Reforma Psiquiátrica, começa a ganhar contornos mais definidos. É na década de 90, marcada pelo compromisso firmado pelo Brasil na assinatura da Declaração de Caracas e pela realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental, que passam a entrar em vigor no país as primeiras normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção diária, fundadas nas experiências dos primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos. Neste período, o processo de expansão dos CAPS e NAPS é descontínuo. As novas normatizações do Ministério da Saúde de 1992, embora regulamentassem os novos serviços de atenção diária, não instituíam uma linha específica de financiamento para os CAPS e NAPS. Do mesmo modo, as normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos não previam mecanismos sistemáticos para a redução de leitos. Ao final deste período, o país tem em funcionamento 208 CAPS, mas cerca de 93% dos recursos do Ministério da Saúde para a Saúde Mental ainda são destinados aos hospitais psiquiátricos. A REFORMA PSIQUIÁTRICA DEPOIS DA LEI NACIONAL (2001 -2005) É somente no ano de 2001, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, que a Lei Paulo Delgado é sancionada no país. A aprovação, no entanto, é de um substitutivo do Projeto de Lei original, que traz modificações importantes no texto normativo. Assim, a Lei Federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. Ainda assim, a promulgação da lei 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. É no contexto da promulgação da lei 10.216 e da realização da IIIConferência Nacional de Saúde Mental, que a política de saúde mental do governo federal, alinhada com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade. Linhas específicas de financiamento são criadas pelo Ministério da Saúde para os serviços abertos e substitutivos ao hospital psiquiátrico e novos mecanismos são criados para a fiscalização, gestão e redução programada de leitos psiquiátricos no país. A partir deste ponto, a rede de atenção diária à saúde mental experimenta uma importante expansão, passando a alcançar regiões de grande tradição hospitalar, onde a assistência comunitária em saúde mental era praticamente inexistente. Neste mesmo período, o processo de desinstitucionalização de pessoas longamente internadas é impulsionado, com a criação do Programa “De Volta para Casa”. Uma política de recursos humanos para a Reforma Psiquiátrica é construída,e é traçada a política para a questão do álcool e de outras drogas, incorporando a estratégia de redução de danos. Realiza-se, em 2004, o primeiro Congresso Brasileiro de Centros de Atenção Psicossocial, em São Paulo, reunindo dois mil trabalhadores e usuários de CAPS. Este processo caracteriza-se por ações dos governos federal, estadual, municipal e dos movimentos sociais, para efetivar a construção da transição de um modelo de assistência centrado no hospital psiquiátrico, para um modelo de atenção comunitário. O período atual caracteriza-se assim por dois movimentos simultâneos : a construção de uma rede de atenção à saúde mental substitutiva ao modelo centrado na internação hospitalar, por um lado, e a fiscalização e redução progressiva e programada dos leitos psiquiátricos existentes, por outro. É neste período que a Reforma Psiquiátrica se consolida como política oficial do governo federal. Existem em funcionamento hoje no país 689 Centros de Atenção Psicossocial e, ao final de 2004, os recursos gastos com os hospitais psiquiátricos passam a representar cerca de 64% do total dos recursos do Ministério da Saúde para a saúde mental. FONTE: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Rel atorio15_anos_Caracas.pdf SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL. Transtornos mentais, em geral, causam um considerável impacto em termos de morbidade, prejuízos na funcionalidade e diminuição da qualidade de vida de seus portadores, pois aproximadamente 90% dos problemas de saúde mental apresentam manifestações de depressão, ansiedade, insônia, fadiga, irritabilida de, disfunção de memória e de concentração. Esses transtornos correspondem a 12% das doenças no mundo e a 1% da mortalidade. No entanto, cerca de 40% dos países ainda não apresentam políticas em saúde mental que sejam eficientes e 30% não têm programas voltados para essa situação. No Brasil, 3% da população sofre com transtornos mentais graves e persistentes e 6% tem transtorno psiquiátrico grave provocado por uso de álcool ou de outras drogas. Dessa forma, são fundamentais os investimentos para prevenção e promoção da saúde mental a fim de reduzir a quantidade de incapacidades e de comprometimentos decorrentes desses transtornos, pois a maioria dos transtornos mentais é tratável ou evitável. Em relação a um inquérito epidemiológico, realizado em amostra representativa, a taxa de prevalência total foi de 20%, da qual 3,0%, 14,6%, 0,7%, 1,7% e 0,5% foram de alcoolismo, neuroses, psicoses, oligofrenia e síndrome orgânica do cérebro, respectivamente. A distribuição por sexo mostrou uma clara e esperada predominância de alcoolismo nos homens e de neuroses nas mulheres. Em um estudo voltado para a família de origem (pais e irmãos) de 150 grandes consumidores de drogas, a taxa de prevalência total entre 796 familiares foi de 23,2% As taxas específicas de problemas associados ao álcool, dependência de drogas, psicoses, neuroses, epilepsia, transtorno anti-social da personalidade e outros diagnósticos foram, respectivamente, de 8,4%; 5,3%; 3,1%; 4,0%; 0,8%; 0,9% e 0,8%. Os problemas associados ao álcool predominaram nos pais e neuroses nas mães, enquanto dependência de drogas predominou nos irmãos dos 150 consumidores-índice. FONTE: https://www.scielo.br/j/csp/a/nnKTZBxD6nym TKNxgwRSk6C/?lang=pt Os Transtornos Mentais Comuns (TMC) são caracterizados por sintomas de depressão não psicótica, ansiedade e sintomas somatoformes (sintomas físicos relacionados a fatores psicológicos), em intensidade suficiente para interferir em atividades diárias, mas que não necessariamente preenchem os critérios formais da Classificação internacional de doenças (CID-10) ou do Manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais (DSM-V). Seus principais sintomas são insônia, fadiga, esquecimento, irritabilidade, dificuldade de concentração, queixas somáticas e sentimento de inutilidade1. Diante do impacto dos TMC à saúde pública, foram criados diversos instrumentos para sua triagem. Entre os mais utilizados estão o Clinical Interview Schedule – Revised (CIS-R), o General Health Questionnaire (GHQ-12) e o Self Reporting Questionnare (SRQ-20), sendo este último o mais utilizado nos estudos brasileiros. A elevada prevalência de TMC na população se mostrou uma característica mundial, variando de 14,7% a 21,8%, sendo sua ocorrência maior nas mulheres, em comparação aos homens2,3. No Brasil, estudos de base populacional realizados em áreas urbanas evidenciaram prevalência de TMC em mulheres variando de 22,1% a 34,2%4-8. Em áreas rurais, apesar da relativa escassez de estudos nacionais, a prevalência de TMC em mulheres variou de 23,3% a 66,9%9-12. A literatura aponta que, tanto no contexto rural quanto no urbano, a maior prevalência de TMC nas mulheres estaria relacionada a baixa escolaridade4,13,14, baixa renda4,14 e viver sem companheiro4,14. Além disso, são relatados outros fatores de risco, como cor da pele negra ou parda, ter filhos, não realizar atividades regulares de lazer, menopausa, já ter tido aborto e ter sofrido alguma agressão física13. Além dos fatores sociais, as mulheres apresentariam uma vulnerabilidade biológica aos sintomas dos TMCs, especialmente os associados ao período reprodutivo. O papel do estrógeno na modulação do humor explicaria, parcialmente, a maior prevalência dos transtornos do humor e de ansiedade na mulher, da menarca à menopausa. Também têm sido associadas ao humor depressivo as situações de variação hormonal, como o período pré-menstrual, o puerpério, a menopausa, além de uso de contraceptivos orais e a terapia de reposição hormonal. FONTE: https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v2 5n8/3087-3095/ POLITICA DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL (NÍVEIS DE ATENÇÃO, PROGRAMAS E SERVIÇOS OFERECIDOS). A Área Técnica de Saúde Mental da SESAB desenvolve ações voltadas para a implementação das políticas de saúde mental no estado, em consonância com as diretrizes federais. A assistência em saúde mental passou por significativas transformações nos últimos anos, tendo evoluído progressivamente de um modelo asilar para um modelo de atenção de base territorial e comunitária. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) foi instituída para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso indevido de álcool e outras drogas, no âmbito do SUS. De acordo com essa norma, as ações em saúde mental devem estar articuladas em rede e contemplar pontos de atenção nos seguintes componentes: a) atenção básica em saúde; b) atenção psicossocial especializada; c) atenção de urgência e emergência; d) atenção hospitalar; e) estratégias de desinstitucionalização. A implantação da RAPS é um processo progressivo, que se produz no coletivo e com a participação de profissionais, usuários, familiares, gestores dos municípios. AÇÕES DESENVOLVIDAS O trabalho na área técnica se constitui por núcleos: Monitoramento, Planejamento e Avaliação; Álcool e outras drogas; Infância e Adolescência; Educação Permanente e Desinstitucionalização. Além disso, os técnicos se dividem no apoio e assessoria às demandas das regiões de saúde do estado. As principais ações desenvolvidas são: Articulação intra e inter setorial com instâncias de gestão, serviços de saúde e de diferentes setores (Educação, Assistência Social, Justiça, Trabalho, Cultura, entre outros), com objetivo de ampliar o acesso à população em geral. Promoção de ações de Educação Permanente, com discussão ampliada para produção do cuidado, treinamentos e oficinas de qualificação. Avaliação e monitoramento dos pontos da rede de atenção psicossocial, a partir de visitas técnicas e vistorias aos serviçosmunicipais da Bahia. https://www.scielo.br/j/csp/a/nnKTZBxD6nymTKNxgwRSk6C/?lang=pt https://www.scielo.br/j/csp/a/nnKTZBxD6nymTKNxgwRSk6C/?lang=pt https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v25n8/3087-3095/ https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v25n8/3087-3095/ Estímulo e regulamentação da implantação da RAPS no estado, com participação em reuniões dos Colegiados Intergestores Regionais (CIR), Apoio técnico aos gestores e serviços de saúde na elaboração de documentos norteadores e fluxos de implantação/habilitação. Incentivo à redução de leitos psiquiátricos, por meio do descredenciamento destes em hospitais especializados, com implantação de leito de saúde mental em hospitais gerais e Serviços Residenciais Terapêuticos. Articulação com o Controle Social, a exemplo da parceria realizada junto à Associação Metamorfose Ambulante (AMEA), apoiando iniciativas de defesa dos direitos humanos e sociais dos usuários e familiares do SUS. Projeto multipaíses “Saúde Mental Comunitária”, em parceria com a Organização não Governamental Italiana Associazione Italiana Amici di Raoul Follereau (AIFO) e com a Organização Mundial de Saúde (OMS), viabilizou o projeto multipaíses “Saúde Mental Comunitária”, criado para avaliar e monitorar serviços de Saúde Mental, inclusive no Brasil. REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL De acordo com os princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira, consolidados na Lei n° 10.216 de 06/04/2001, a atenção a pessoas com transtornos mentais e com problemas decorrentes do uso/abuso e/ou dependência álcool e outras drogas deve se dar, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental, portanto, busca consolidar um modelo de atenção aberto, garantindo a livre circulação das pessoas com problemas mentais pelos serviços, pela comunidade e pela cidade. A Portaria GM/MS, nº 3.088, de 23/12/2011, que institui a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) tem como finalidade a “criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)” (BRASIL, 2011b) Amplia a concepção de cuidado, não centrando em apenas uma unidade, mas expandindo as ofertas de atenção ao apontar novos serviços, distribuídos em (07) sete componentes: Atenção Básica, Atenção Psicossocial Especializada, Atenção de Urgência e Emergência, Atenção Hospitalar, Atenção Residencial de Caráter Transitório, Estratégias de Desinstitucionalização e Reabilitação Psicossocial. Estes componentes são constituídos por um elenco de pontos de atenção, dentre os quais se destacam os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) em todas as suas modalidades: CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i, CAPS ad e CAPS ad III. Os CAPS nas suas diferentes modalidades são pontos de atenção estratégicos da RAPS: serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, o que significa que pode ser acessado por demanda espontânea, não sendo necessário encaminhamento, e que aqueles que são ali acompanhados são livres para ir e vir. São constituídos por equipe multiprofissional que atua sob a ótica interdisciplinar e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e às pessoas com sofrimento ou transtorno mental em geral, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, em sua área territorial, sejam em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial (Brasil, 2011) e são substitutivos ao modelo asilar. Nem toda situação de transtorno ou sofrimento mental necessita impreterivelmente de acompanhamento continuado por parte de um CAPS; transtornos mentais comuns, por exemplo, podem ser manejados no âmbito da Atenção Básica. Os demais pontos de atenção podem, no entanto, solicitar o apoio matricial do CAPS de seu território, sempre que identificada a necessidade Os CAPS têm papel estratégico na articulação da RAPS, tanto no que se refere à atenção direta visando à promoção da vida comunitária e da autonomia dos usuários, quanto na ordenação do cuidado, trabalhando em conjunto com as Equipes de Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde, articulando e ativando os recursos existentes em outras redes, assim como nos territórios. A SESAB vem apoiando tecnicamente os municípios na implantação e implementação da Rede de Atenção Psicossocial, sobretudo no que se refere ao processo de credenciamento, habilitação dos serviços junto ao Ministério da Saúde e na qualificação profissional. Atualmente, a Bahia dispõe de 263 CAPS no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), sendo que destes 226 se encontram habilitados e financiados pelo MS e 19 em funcionamento sem habilitação, com processo em análise, no MS. Quanto aos demais (dezoito municípios), permanecem sendo custeados apenas pelo município, enquanto aguarda-se que os Gestores Municipais sanem as suas pendências processuais para inclusão em pauta, na Comissão Intergestores Bipartite, e posterior solicitação de habilitação ao MS. Até a presente data, o estado da Bahia tem co-finaciado dois CAPS III, localizados nos municípios de Feira de Santana e Salvador resultando em um investimento estadual de R$ 550.000,00. Salientamos, ainda, que o estado tem uma parceria firmada com a Universidade Federal da Bahia, através de um contrato, na manutenção e funcionamento do CAPS Ad docente assistencial Gregório de Matos cujo montante é de R$ 2.349.215,28. O referido CAPS integra ações do Pacto pela Vida e oferta qualificação para mais de 80% dos profissionais da rede SUS Bahia, no que se refere a álcool e drogas. CAPS – CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL CAPS I Atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam prioritariamente intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas, e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. Indicado para municípios ou regiões de saúde com população acima de 15.000 (quinze mil) habitantes. CAPS II Atende prioritariamente pessoas em intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas, e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. Indicado para municípios ou regiões de saúde com população acima de 70.000 (setenta mil) habitantes. CAPS III Atende prioritariamente pessoas em intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas, e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno a outros serviços de saúde mental, inclusive CAPS AD. Indicado para municípios ou regiões de saúde com população acima de 150.000 (cento e cinquenta mil) habitantes. CAPSI Atende crianças e adolescentes que apresentam prioritariamente intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas, e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. Indicado para municípios ou regiões com população acima de 70.000 (setenta mil) habitantes. CAPS AD II Serviço de atenção psicossocial para atendimento de pacientes com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas,com capacidade operacional para atendimento em municípios ou regiões com população superior a 70.000 (setenta mil) habitantes. CAPS AD III Atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno. Indicado para municípios ou regiões com população acima de 150.000 (cento e cinquenta mil) habitantes. Os CAPS devem contar com espaço próprio e adequadamente preparado para atender à sua demanda específica, sendo capazes de oferecer um ambiente continente e estruturado. Deverão contar, no mínimo, com os seguintes recursos físicos: • Consultórios para atividades individuais (consultas, entrevistas, terapias); • Salas para atividades grupais; • Espaço de convivência; • Oficinas; • Refeitório (o CAPS deve ter capacidade para oferecer refeições de acordo com o tempo de permanência de cada paciente na unidade); • Sanitários; • Área externa para oficinas, recreação e esportes. De acordo com a Portaria MS/SAS nº 854, de 22 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012) as seguintes ações consistem em procedimentos de CAPS e poderão compor o PTS dos usuários e famílias acompanhados: Acolhimento inicial: Consiste no primeiro atendimento ofertado pelo CAPS para novos usuários por demanda espontânea ou referenciada, incluindo as situações de crise no território. O acolhimento consiste na escuta qualificada, que reafirma a legitimidade da pessoa e/ou familiares que buscam o serviço e visa reinterpretar as demandas, construir o vínculo terapêutico inicial e/ou corresponsabilizar-se pelo acesso a outros serviços, caso necessário (BRASIL, 2012). A escuta é uma ação terapêutica e, como primeiro contato, o acolhimento inicial é um momento estratégico para o estabelecimento de vínculo com o usuário. Ações de Articulação em Rede Intra e Intersetoriais: Estratégias que promovam a articulação com outros pontos de atenção da rede de saúde, educação, justiça, assistência social, direitos humanos e outros, assim como com os recursos comunitários presentes no território. (BRASIL, 2012) Fortalecimento do protagonismo de usuários e seus familiares: Atividades que fomentem a participação de usuários e familiares nos processos de gestão dos serviços e da rede, como assembleias de serviços, participação em conselhos, conferências e congressos, a apropriação e a defesa de direitos, e a criação de formas associativas de organização. (BRASIL, 2012) Matriciamento de equipes da Atenção Básica: Apoio presencial sistemático às equipes de atenção básica que oferte suporte técnico à condução do cuidado em saúde mental através de discussões de casos e do processo de trabalho, atendimento compartilhado, ações intersetoriais no território, e contribua no processo de cogestão e corresponsabilização no agenciamento do projeto terapêutico singular (BRASIL, 2012). (ver item 4.6) Matriciamento de equipes dos pontos de atenção da urgência e emergência e dos serviços hospitalares de referência para atenção a pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades de saúde decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas: Apoio presencial sistemático às equipes dos pontos de atenção da urgência e emergência, incluindo Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), salas de estabilização, e os serviços hospitalares de referência para atenção a pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades de saúde decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas que oferte suporte técnico à condução do cuidado em saúde mental através de discussões de casos e do processo de trabalho, atendimento compartilhado, ações intersetoriais no território, e contribua no processo de cogestão e corresponsabilização no agenciamento do PTS (BRASIL, 2012). Ações de redução de danos: Conjunto de práticas e ações do campo da saúde e dos direitos humanos realizadas de maneira articulada intrae intersetorialmente, que buscam minimizar danos de natureza biopsicossocial decorrentes do uso de SPA, ampliam cuidados e acesso aos diversos pontos de atenção, incluídos aqueles que não têm relação com o sistema de saúde (ver item 4.8). Voltadas sobretudo à busca ativa e ao cuidado de pessoas com dificuldade para acessar serviços, em situação de alta vulnerabilidade ou risco, mesmo que não se proponham a reduzir ou deixar o uso de substâncias psicoativas (BRASIL, 2012). Acompanhamento de Serviço Residencial Terapêutico: Suporte às equipes dos serviços residenciais terapêuticos, com a corresponsabilização nos projetos terapêuticos dos usuários, que promova a articulação entre as redes e os pontos de atenção com o foco no cuidado e desenvolvimento de ações intersetoriais, e vise à produção de autonomia e reinserção social (BRASIL, 2012). É fundamental que a equipe do CAPS conheça as Residências Terapêuticas de seu território, cuidadores e toda a equipe multiprofissional que ali trabalha, bem como a comunidade em que estão inseridas. Apoio à Serviço Residencial de Caráter Transitório: Apoio presencial sistemático aos Serviços Residenciais de Caráter Transitório, que busque a manutenção do vínculo, a responsabilidade compartilhada, o suporte técnico-institucional aos trabalhadores daqueles serviços, o monitoramento dos projetos terapêuticos, a promoção de articulação entre os pontos de atenção com foco no cuidado e ações intersetoriais e que favoreça a integralidade das ações (BRASIL, 2012). (ver item 5.6). Acolhimento diurno: Ação de hospitalidade diurna realizada nos CAPS como recurso do Projeto Terapêutico Singular, que recorre ao afastamento do usuário das situações conflituosas, que vise ao manejo de situações de crise motivadas por sofrimentos decorrentes de transtornos mentais - incluídos aqueles por uso de álcool e outras drogas e que envolvem conflitos relacionais caracterizados por rupturas familiares, comunitárias, limites de comunicação e/ou impossibilidades de convivência - e que objetive a retomada, o resgate e o redimensionamento das relações interpessoais, o convívio familiar e/ou comunitário (BRASIL, 2012). (ver item 4.2). Acolhimento noturno: Ação de hospitalidade noturna realizada nos CAPS como recurso do Projeto Terapêutico Singular de usuários já em acompanhamento no serviço, que recorre ao seu afastamento de situações conflituosas e vise ao manejo de situações de crise motivadas por sofrimento decorrente de transtornos mentais - incluídos aqueles por uso de álcool e outras drogas e que envolvem conflitos relacionais caracterizados por rupturas familiares, comunitárias, limites de comunicação e/ou impossibilidades de convivência e que objetive a retomada, o resgate e o redimensionamento das relações interpessoais, o convívio familiar e/ou comunitário. Não deve exceder o máximo de 14 dias (BRASIL, 2012). Acolhimento em terceiro turno: Consiste no conjunto de atendimentos desenvolvidos no período compreendido entre 18 e 21 horas (BRASIL, 2012). Assim como o fazem algumas Unidades de Saúde, garantir atendimento fora do horário comercial pode fazer toda a diferença na adesão do usuário ao tratamento. Atendimento individual: Atendimento direcionado à pessoa, que comporte diferentes modalidades, responda às necessidades de cada um - incluindo os cuidados de clínica geral - que visam à elaboração do PTS ou dele derivam, promovam as capacidades dos sujeitos, de modo a tornar possível que eles se articulem com os recursos existentes na unidade e fora dela (BRASIL, 2012). Atendimento em grupo: Ações desenvolvidascoletivamente que explorem as potencialidades das situações grupais com variadas finalidades, como recurso para promover sociabilidade, intermediar relações, manejar dificuldades relacionais, possibilitem experiência de construção compartilhada, vivência de pertencimento, troca de afetos, autoestima, autonomia e exercício de cidadania (BRASIL, 2012). Atendimento familiar: Ações voltadas para o acolhimento individual ou coletivo dos familiares e suas demandas, sejam elas decorrentes ou não da relação direta com os usuários, que garanta a corresponsabilização no contexto do cuidado, propicie o compartilhamento de experiências e informações com vistas a sensibilizar, mobilizar e envolvê-los no acompanhamento das mais variadas situações de vida (BRASIL, 2012). Atendimento domiciliar: Atenção prestada no local de moradia da pessoa e/ou de seus familiares, para compreensão de seu contexto e suas relações, acompanhamento do caso e/ou em situações que impossibilitem outra modalidade de atendimento, que vise à elaboração do projeto terapêutico singular ou dele derive, que garanta a continuidade do cuidado. Envolve ações de promoção, prevenção e assistência (BRASIL, 2012). A visita domiciliar é muito importante para que se possa conhecer e compreender melhor o contexto social e familiar daquele usuário do serviço e de sua família. Amplia e facilita a compreensão de algumas questões que geram sofrimento psíquico, e permite visualizar potencialidades pertinentes àquela família e local. Vale salientar também a importância da busca ativa, realizada quando o usuário está a um tempo sem ir ao serviço. Busca retomar o vínculo com o usuário, garantindo seu acompanhamento, ainda que não seja no espaço formal do CAPS. Realiza-se busca ativa também quando a equipe não tem conhecimento do caso, que pode ter sido apresentado numa reunião de matriciamento, por exemplo, ou numa reunião da rede. Práticas corporais: Estratégias ou atividades que favoreçam a percepção corporal, a autoimagem, a coordenação psicomotora e os aspectos somáticos e posturais da pessoa, compreendidos como fundamentais ao processo de construção de autonomia, promoção e prevenção em saúde (BRASIL, 2012). Práticas expressivas e comunicativas: Estratégias ou atividades dentro ou fora do serviço que possibilitem ampliação do repertório comunicativo e expressivo dos usuários e favoreçam a construção e utilização de processos promotores de novos lugares sociais e inserção no campo da cultura (BRASIL, 2012). Atenção às situações de crise: Ações desenvolvidas para manejo das situações de crise, entendidas como momentos do processo de acompanhamento dos usuários, nos quais conflitos relacionais com familiares, contextos, ambiência e vivências, geram intenso sofrimento e desorganização. Esta ação exige disponibilidade de escuta atenta para compreender e mediar os possíveis conflitos e pode ser realizada no ambiente do próprio serviço, no domicílio ou em outros espaços do território que façam sentido ao usuário e sua família e favoreçam a construção e a preservação de vínculos (BRASIL, 2012). Ações de Reabilitação Psicossocial: Ações de fortalecimento de usuários e familiares, mediante a criação e desenvolvimento de iniciativas articuladas com os recursos do território nos campos do trabalho/economia solidária, habitação, educação, cultura, direitos humanos, que garantam o exercício de direitos de cidadania, visando à produção de novas possibilidades para projetos de vida (BRASIL, 2012). Promoção de contratualidade: Acompanhamento de usuários em cenários da vida cotidiana - casa, trabalho, iniciativas de geração de renda, empreendimentos solidários, contextos familiares, sociais e no território, com a mediação de relações para a criação de novos campos de negociação e de diálogo que garantam e propiciem a participação dos usuários em igualdade de oportunidades, ampliação de redes sociais e sua autonomia (BRASIL, 2012). FONTE: https://saude.es.gov.br/Media/sesa/Protocol o/Diretrizes%20Clinicas%20em%20saude%20 mental.pdf http://www.saude.ba.gov.br/atencao-a- saude/comofuncionaosus/rede-de- atencao-psicossocial/ https://portalarquivos2.saude.gov.br/images /pdf/2016/junho/27/Relat--rio-Gest--o-2011- 2015---.pdf http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental /pdf/sm_sus.pdf
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