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Livro-Texto Unidade I (1)

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Prévia do material em texto

Autoras: Profa. Ana Elisa Thomazella Gazzola
 Profa. Helena Salim de Castro
 Profa. Kimberly Alves Digolin
Colaboradores: Prof. Enzo Fiorelli Vasques
 Prof. Jefferson Lécio Leal
Teorias das Relações 
Internacionais
Professoras conteudistas: Ana Elisa Thomazella Gazzola / Helena Salim de Castro / 
Kimberly Alves Digolin
Ana Elisa Thomazella Gazzola 
Doutoranda e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Univerisade 
Estadual Paulista – Unesp), com foco em processos de integração regional na América do Sul. Pesquisadora do Observatório 
de Regionalismo (ODR) e da Rede de Pesquisa em Política Externa e Regionalismo (Repri). Tem pós-graduação em 
Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e graduação em Relações Internacionais pela Unesp. 
É professora titular no curso presencial e de apoio à distância (EaD) de Relações Internacionais da Universidade 
Paulista (UNIP). 
Helena Salim de Castro 
Doutoranda e mestra em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais 
San Tiago Dantas (Unesp/Unicamp/PUC-SP) na área de paz, defesa e segurança internacional. Tem graduação em 
Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). É pesquisadora do Grupo de Estudos de Defesa 
e Segurança Internacional (Gedes) e do Núcleo de Estudos Transnacionais de Segurança (Nets). É professora do curso 
de Relações Internacionais da UNIP.
Kimberly Alves Digolin 
Mestra em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago 
Dantas (Unesp/Unicamp/PUC-SP) na área de paz, defesa e segurança internacional. Tem graduação em Relações 
Internacionais pela Unesp e é pesquisadora do Gedes e da Rede de Pesquisa em Paz, Conflitos e Estudos Críticos de 
Segurança (PCECS). É professora do curso de Relações Internacionais da UNIP. 
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
G291t Gazzola, Ana Elisa Thomazella.
Teorias das Relações Internacionais / Ana Elisa Thomazella 
Gazzola, Helena Salim de Castro, Kimberly Alves Digolin. – São Paulo: 
Editora Sol, 2020.
140 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Neorrealismo. 2. Neoliberalismo. 3. Marxismo. I. Gazzola, Ana 
Elisa Thomazella. II. Castro, Helena Salim de. III. Digolin, Kimberly Alves. 
IV. Título.
CDU 341.12
U510.34 – 21
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Juliana Muscovick
 Lucas Ricardi
Sumário
Teorias das Relações Internacionais
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 O QUE É UMA TEORIA? ....................................................................................................................................9
1.1 Debate teórico nas relações internacionais ............................................................................... 11
2 REALISMO ........................................................................................................................................................... 15
2.1 Realismo nas relações internacionais .......................................................................................... 20
2.2 Críticas e reformulações na Teoria Realista .............................................................................. 27
3 LIBERALISMO .................................................................................................................................................... 31
3.1 Liberalismo nas relações internacionais ...................................................................................... 34
3.2 Primeiras reformulações na Teoria Liberal ................................................................................ 41
4 ESCOLA INGLESA ............................................................................................................................................. 45
4.1 Três tradições da política internacional ...................................................................................... 47
4.2 Principais conceitos ............................................................................................................................. 49
4.2.1 Ordem internacional ............................................................................................................................ 49
4.2.2 Sistema internacional .......................................................................................................................... 50
4.2.3 Sociedade internacional....................................................................................................................... 50
Unidade II
5 NEORREALISMO ............................................................................................................................................... 59
5.1 Retomada ................................................................................................................................................ 65
5.2 Vertentes ................................................................................................................................................. 70
5.2.1 Realismo defensivo ................................................................................................................................ 70
5.2.2 Realismo ofensivo................................................................................................................................... 71
5.2.3 Realismo periférico ................................................................................................................................ 76
5.3 Críticas à Teoria Neorrealista ........................................................................................................... 78
6 NEOLIBERALISMO............................................................................................................................................ 80
6.1 Interdependência complexa ............................................................................................................. 82
6.2 Institucionalismo .................................................................................................................................. 87
6.2.1 Funcionalismo .......................................................................................................................................... 87
6.2.2 Neofuncionalismo .................................................................................................................................. 88
6.2.3 Liberal institucionalismo ......................................................................................................................89
6.3 Debate neo-neo sobre as instituições internacionais ........................................................... 95
Unidade III
7 MARXISMO E SISTEMA-MUNDO ............................................................................................................105
7.1 Materialismo histórico .....................................................................................................................105
7.2 Imperialismo nas relações internacionais ................................................................................111
7.3 Estruturalismo marxista...................................................................................................................113
8 TEORIA DA DEPENDÊNCIA .........................................................................................................................115
8.1 Contexto histórico ............................................................................................................................118
8.2 Vertentes ...............................................................................................................................................121
8.2.1 Estruturalista cepalina ........................................................................................................................121
8.2.2 Desenvolvimento associado ............................................................................................................ 122
8.2.3 Neomarxista ........................................................................................................................................... 124
7
APRESENTAÇÃO
Este livro-texto tem como objetivo analisar e compreender as teorias clássicas e suas derivações mais 
contemporâneas nas relações internacionais, inserindo-as em seus respectivos contextos históricos.
O campo das relações internacionais é por natureza multidisciplinar. Um profissional bem capacitado 
da área é capaz de fazer interconexões entre diferentes questões a partir de diversos campos, como 
economia, direito, ciência política e história. Partimos da visão de que é necessário estimular a capacidade 
de fazer interconexões, para que, assim, o profissional esteja preparado para analisar os fenômenos 
internacionais em suas múltiplas dimensões.
Ao final do livro-texto, espera-se que os alunos tenham condições de:
• Compreender o papel da teoria para a pesquisa e a análise no curso de Relações Internacionais.
• Compreender as relações entre a teoria e as diferentes situações históricas.
• Identificar e distinguir as vertentes teóricas em relações internacionais e o seu significado.
• Interpretar e descrever as relações internacionais com base nas abordagens teóricas clássicas e em 
seus desdobramentos contemporâneos.
• Desenvolver leituras críticas sobre temas de relações internacionais e outros campos do saber.
• Desenvolver aprofundamento e sofisticação nas análises orais e escritas sobre temas das relações 
internacionais, com a utilização de vocabulário próprio da área.
• Investigar as origens e discutir os elementos das mudanças no atual sistema internacional a partir 
das teorias das relações internacionais.
Nesse sentido, este livro-texto estimula a realização de interconexões não só dentro do curso, 
mas com relação a fatos e notícias que fazem parte do cotidiano. Para isso, os capítulos também 
trazem diversos materiais de apoio, como filmes e animações, de modo a facilitar a compreensão do 
conteúdo por meio de uma linguagem mais lúdica, assim como exercícios de aplicação das teorias em 
situações contemporâneas.
Uma excelente e proveitosa jornada a todos!
8
INTRODUÇÃO
O conteúdo a seguir foi estruturado em torno de teorias e de grandes debates. Primeiramente, nos 
dedicaremos a uma introdução ao debate teórico, resgatando a origem da disciplina e definindo o que 
é uma teoria científica para, em seguida, traçar um panorama geral das teorias da área. Veremos quais 
são essas teorias, quais os contextos históricos em que foram formuladas, quais os seus objetivos, 
quais os principais atores e temas analisados, entre outros. 
Em seguida são abordadas as Teorias Realista e Liberal das relações internacionais, duas correntes 
teóricas mais tradicionais que estão associadas às próprias origens do campo. Para tanto, resgatamos 
a base filosófica clássica que inspirou essas teorias – as análises de autores como Hobbes, Maquiavel 
e Kant – para, em seguida, discorrer sobre a sistematização dessas análises teóricas em relação ao 
objeto específico da política internacional, destacando seu contexto histórico e os principais autores. 
Abordaremos também a escola inglesa, teoria que destaca a noção de sociedade internacional e se 
propõe a figurar como uma via intermediária entre o realismo e o liberalismo.
Estudaremos o neorrealismo e o neoliberalismo das relações internacionais – teorias que mantiveram 
parte de suas bases clássicas, mas atualizaram o debate a partir das críticas e das novas dinâmicas 
observadas. Elas podem ser compreendidas como reinterpretações do realismo e do liberalismo, 
respectivamente, porém, com uma proposta de maior rigor científico-metodológico, tendo em vista o 
debate acadêmico do período (1960-1980).
Serão apresentadas as abordagens marxistas nas relações internacionais, partindo da base filosófica 
clássica que foi incorporada ao debate da área. Trata-se de uma discussão importante, pois, se antes as 
análises estavam centradas nos atores estatais, as abordagens marxistas resgatam a importância de se 
observar a forma como os grupos de indivíduos – ou classes sociais – influenciam na política internacional. 
Por fim, estudaremos a Teoria da Dependência, a qual possui inspirações marxistas, mas com foco 
específico nas razões sociais, econômicas e históricas que envolvem a dicotômica relação entre os países 
do centro (Norte) e da periferia mundial (Sul). Trata-se de uma teoria de origem latino-americana e, 
portanto, fundamental para o aluno.
9
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Unidade I
1 O QUE É UMA TEORIA?
A disciplina em questão é estruturada em torno de teorias e grandes debates. Por ser relativamente 
recente se comparada a outras áreas de estudo, os fundamentos das teorias de relações internacionais 
podem ser encontrados em autores clássicos de outras áreas do conhecimento, sendo relevante lembrar 
de seu caráter interdisciplinar. 
Mas, afinal, o que é uma teoria e por que elas são importantes para se analisar determinados fenômenos? 
A palavra teoria vem do grego theoros, que significa espectador ou testemunho. Já o verbo teorizar, 
também derivado do grego, tem origem na palavra theorein e significa “observar com maravilhamento 
o que acontece para descrevê-lo, identificá-lo e compreendê-lo” (BATTISTELLA, 2014, p. 27).
A teoria fornece o instrumental para se compreender o conjunto de questões às quais a disciplina se 
propõe abarcar, fornecendo uma espécie de mapa do caminho (PECEQUILO, 2016). Nesse sentido, uma 
teoria pode ser entendida como “um conjunto de propostas e conceitos tendentes a explicar fenômenos 
ao fazer relações explícitas entre os conceitos trabalhados” (MINGST, 2006, p. 111). 
Pela natureza ampla e complexa da realidade, é improvável que uma análise considere todas as 
variáveis que compõem um determinado problema. Dessa forma, a teoria fornece um marco para o 
estudo dos fenômenos, baseado em um conjunto de conceitos e pressupostos. Uma teoria não é capaz 
de explicar a totalidade de uma questão, mas fornece os instrumentos para identificar quais são os 
pontos centrais a serem analisados e o modo pelo qual o estudo pode ser feito. 
Em síntese, as teorias podem ser compreendidas como lentes que permitem uma análise mais clara 
do objeto estudado. Assim, diferentes interpretações sobre um problema podem ser realizadas a partir da 
aplicação de lentes diversas, uma vez que cada teoria valoriza um conjunto de questões em detrimento 
de outros. Trata-se de um modo de organizar o conhecimentoe facilitar a aproximação do estudioso 
com a realidade. 
No entanto, é importante destacar que as teorias evoluem com o tempo e sofrem reedições de 
acordo com as novas temáticas e olhares empregados, ao mesmo tempo em que outras correntes 
teóricas despontam e ganham espaço.
Segundo Raymond Aron (1967), as teorias são como caixas de ferramentas que estão à disposição 
do analista para que ele possa propor uma compreensão das relações internacionais a partir do ponto 
de vista de um ator ou fenômeno específico. Uma teoria é como se fosse um quadro. Não é possível 
retratar toda a realidade nele, por mais detalhado que busque ser, pois as bordas impõem um limite para 
o que cabe na tela e a parte de trás dos objetos desenhados não poderá ser retratada. Ou seja, assim 
10
Unidade I
como o pintor escolhe o ângulo observado e o que ficará de fora desse limite das bordas, a teoria “isola 
um campo a fim de tratá-lo intelectualmente” (BATTISTELLA, 2014, p. 122).
Uma teoria diz respeito à abstração de fatos em busca de padrões, agrupando eventos em conjuntos 
e classes. Em outras palavras, significa simplificar a realidade a partir das regularidades que os eventos 
possuem, sem desconsiderar os aspectos particulares de cada um. Nesse sentido, existe uma diferença 
entre história e teoria social. Enquanto a primeira busca explicar cada conjunto de eventos em seus 
próprios termos, a teoria social busca explicações e compreensões mais gerais e aplicáveis a diversos 
casos em diferentes períodos e locais.
Desse modo, as teorias das relações internacionais são as lentes que buscam formular métodos e 
conceitos que permitam compreender a natureza e o funcionamento do sistema internacional, bem 
como explicar os fenômenos mais importantes que moldam a política internacional (NOGUEIRA; 
MESSARI, 2005, p. 2). A figura a seguir ilustra a analogia de teorias como lentes diversas, as 
quais permitem melhor compreender a realidade a partir do foco em determinados atores 
ou dinâmicas.
Figura 1
Exemplo de aplicação
Assista ao filme A lenda do tesouro perdido, com especial atenção à cena em que Ben Gates 
utiliza um protótipo de óculos desenvolvido por Benjamin Franklin para ler um mapa. Relacione 
esse protótipo com a existência de diversas teorias e, em seguida, discorra sobre a possibilidade de 
se analisar um mesmo objeto ou fenômeno, por exemplo, a questão da cooperação internacional, a 
partir de perspectivas distintas.
11
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
 Saiba mais
Para fazer o exercício de aplicação anterior, assista ao filme a seguir:
A LENDA do tesouro perdido. Direção: Jon Turteltaub. Estados Unidos: 
Walt Disney Pictures, 2004. 131 min.
1.1 Debate teórico nas relações internacionais
Em um mundo tão globalizado é difícil passar um dia inteiro sem ter contato com uma notícia 
internacional que tenha, de algum modo, impacto em nossas vidas. Lemos e ouvimos sobre acordos 
ou crises políticas, econômicas, sociais e ambientais que ocorrem em um país ou região e que, 
prontamente, afetarão alguma área ou setor do Brasil. No entanto, durante muitos anos, essa não era a 
realidade observada.
Antigamente, os assuntos que extrapolavam as fronteiras nacionais – em especial a guerra e a 
paz – eram abordados por dois setores específicos da sociedade, distantes do resto da população. 
Assuntos de política exterior eram usualmente restritos aos diplomatas e às forças militares de 
cada Estado.
 Observação
Os diplomatas são responsáveis por representar o interesse de seus 
países em negociações internacionais.
Embora as temáticas da guerra e da paz no âmbito internacional sejam bem antigas, podendo ser 
remontadas à Grécia Antiga – como analisado por Tucídides em 400 a. C. na obra História da guerra do 
Peloponeso –, o assunto só foi sistematizado em uma disciplina em 1919, quando foi criado o primeiro 
Departamento de Relações Internacionais, na Universidade de Gales, no Reino Unido. 
Isso ocorreu porque após a humanidade vivenciar os horrores em larga escala da Primeira Guerra 
Mundial (1914-1918) surgiu uma preocupação maior em sistematizar a compreensão da realidade, 
buscando entender por que os conflitos ocorrem e se seria possível evitá-los. 
Foi a partir desse momento que a temática de relações internacionais ganhou um objeto de estudos 
próprio, com a preocupação de se desenvolver análises com embasamento mais metodológico e teórico. 
Antes disso, os assuntos de relações internacionais eram abordados de modo secundário por outras 
áreas do conhecimento, como ciência política, economia e sociologia.
12
Unidade I
 Observação
Com o fim das Guerras Napoleônicas (1803-1815), os Estados europeus 
se reuniram no Congresso de Viena com o objetivo de redesenhar o 
ordenamento político após a derrota da França. Surge ali o Concerto 
Europeu, quando França, Grã-Bretanha, Prússia, Rússia e Império 
Austro-Húngaro passaram a dividir o poder hegemônico em uma espécie 
de sistema multipolar. Esses países atuariam com o objetivo comum de 
promover a manutenção da balança de poder, de modo que nenhum país 
se tornasse tão poderoso a ponto de dominar os outros.
No entanto, essa constante insegurança e o fato de o Congresso de 
Viena ter excluído alguns Estados, que com o tempo passaram a demandar 
maior participação nas decisões, tornou a Europa uma espécie de barril 
de pólvora. Assim, a morte do arquiduque austríaco Francisco Ferdinando, 
em Sarajevo, em 1914, acabou desencadeando os conflitos que levaram à 
Primeira Guerra Mundial.
O fim da Primeira Guerra Mundial marcou uma transição no ordenamento internacional – passando 
do antigo Concerto Europeu estabelecido em Viena, para um novo momento, em que as antigas 
hegemonias europeias se encontravam fragilizadas –, deixando à mostra a necessidade de se analisar 
esse processo de modo mais profundo e específico, buscando melhores meios para promover a paz 
entre as nações.
O debate inicial das relações internacionais tinha, portanto, dois lados opostos: o liberalismo, que 
defendia a possibilidade de transformar o mundo a partir de uma visão normativa do que deveria 
ser a realidade, baseada especialmente na possibilidade de cooperação; e o realismo, que buscava 
analisar o mundo tal como ele era, buscando compreender as causas da guerra e garantir a estabilidade 
internacional em termos de equilíbrio de poder.
Entretanto, com o passar dos anos, os atores e as dinâmicas internacionais foram se alterando, 
fato que tornou necessárias novas formas de se analisar o objeto da política internacional, a fim de 
preencher certas lacunas ou ajustar arestas. Entre elas destacam-se as próprias revisões do realismo e 
do liberalismo – o neorrealismo e neoliberalismo –, as quais marcaram um forte debate entre si. Assim 
se sucedeu também com a escola inglesa das relações internacionais, o materialismo histórico e a teoria 
do sistema-mundo, bem como a Teoria da Dependência. Todas essas teorias serão abordadas adiante, 
destacando suas bases clássicas, contextos históricos, principais conceitos e objetivos.
Ademais, a disciplina Relações Internacionais também se estrutura em torno de grandes debates 
entre essas teorias ou acerca das metodologias por elas utilizadas. A compreensão desses debates auxilia 
o estudante a situar os momentos históricos em que determinadas abordagens ou métodos estiveram 
mais presentes e os motivos para que isso ocorresse. 
13
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
O primeiro grande debate da disciplina configurou-se em torno do liberalismo e do realismo, 
uma vez que divergiam sobre o padrão de comportamento existente no sistema internacional, entre 
cooperação ou conflito. 
Já o segundo debate das relações internacionais – usualmente conhecido como tradicionalismo 
versus behaviorismo – esteve menos centrado nas temáticas analisadas e mais preocupado com os 
métodos científicos das pesquisas. Ele teve espaço entre os anos 1950 e 1960, sendo caracterizado 
pelas discordâncias entre os tradicionalistas, que insistiamna importância da história para as análises, 
e os behavioristas, que apostavam em uma metodologia semelhante à da ciências exatas para as 
relações internacionais.
O terceiro debate é comumente intitulado de neo-neo, uma vez que engloba o neorrealismo e o 
neoliberalismo. Tem sua origem nos anos 1970, a partir das novas dinâmicas observadas, e a necessidade 
de atualizar as bases clássicas, mas perdura e ganha novos contornos com o fim da Guerra Fria.
 Observação
Alguns autores compreendem que o debate neo-neo representa apenas 
uma retomada do primeiro grande debate entre realismo e liberalismo e que 
o terceiro debate das relações internacionais, na verdade, corresponderia 
ao contraponto entre as abordagens mais clássicas centradas nos atores 
estatais e as radicais – ou neomarxistas –, que destacam a importância das 
classes sociais na política internacional.
O quarto e último grande debate das relações internacionais teve espaço a partir dos anos 1980, entre 
racionalistas e reflexivistas – ou relativistas. Trata-se de um debate epistemológico, ou seja, acerca da 
forma de se estudar um determinado tema. Enquanto o primeiro grupo buscava julgar de modo objetivo 
os comportamentos dos atores, os reflexivistas “desconfiavam dos modelos científicos e criticavam a 
formulação de verdades objetivas sobre o mundo social” (PEREIRA; ROCHA, 2014, p. 316), defendendo 
a interpretação histórica e textual, uma vez que as relações internacionais seriam socialmente construídas. 
Alguns intitulam-no como positivismo versus pós-positivismo.
Vale ressaltar o caráter parcial do conhecimento e das teorias, especialmente aquelas que não 
buscam oferecer apenas um modo de análise, mas também uma visão de como o mundo é – realismo 
e escola inglesa – ou deveria ser – liberalismo e marxismo. Ainda que se apresentem enquanto teorias 
universais, elas possuem um discurso originado no Ocidente e buscam a manutenção do poder e da 
influência a partir desse ponto de vista (ACHARYA; BUZAN, 2010; COX, 1986).
A seguir, elaboramos uma espécie de linha do tempo apresentando o debate teórico das relações 
internacionais, tendo início na criação do primeiro departamento da disciplina e seguindo com os anos 
de publicação das principais obras teóricas da área, associado a um breve resumo de cada contexto. Vale 
ressaltar que não se trata de uma linha cronológica no sentido de que as teorias mais recentes são mais 
completas que as anteriores. 
14
Unidade I
Ao contrário, conforme citado anteriormente, as teorias são como lentes, cada uma auxilia a 
compreender objetos ou fenômenos ao focar em determinados aspectos ou ao oferecer como ferramental 
determinados conceitos. No entanto, não existe uma teoria melhor que a outra de modo absoluto. 
Existem apenas teorias que auxiliam mais ou menos, a depender da perspectiva que o observador 
pretende analisar.
• 1910: Norman Angell publica a obra A grande ilusão, a qual, apesar de não se propor a desenvolver 
uma teoria das relações internacionais, contribui para a formulação dos pressupostos do liberalismo.
• 1919: após o fim da Primeira Guerra Mundial, é criado o primeiro Departamento de Relações 
Internacionais na Universidade de Gales, no Reino Unido. 
• 1939: Edward Carr publica a obra Vinte anos de crise (1919-1939): uma introdução aos estudos 
das relações internacionais. Em 1945, termina a Segunda Guerra Mundial e se inicia a Guerra Fria 
entre Estados Unidos e a antiga União Soviética.
• 1946: Robert Martin Wight publica a obra A política do poder, centrando esforços no debate 
acerca do comportamento internacional dos Estados e do relacionamento entre eles.
• 1948: Hans Morgenthau sistematiza a teoria realista das relações internacionais com a obra 
A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz, apresentando os seis princípios do realismo.
• 1959: Kenneth Waltz publica a obra O homem, o Estado e a guerra: uma análise teórica, na qual 
afirma que para se compreender as causas da guerra seria necessária uma análise multinível, do 
micro para o macro.
• 1962: Raymond Aron publica a obra Paz e guerra entre as nações, retratando a política internacional 
nas figuras do diplomata e do soldado.
• 1977: Hedley Bull publica a obra A sociedade anárquica: um estudo da ordem na política mundial, 
apresentando o conceito de sociedade internacional presente na escola inglesa.
• 1979: Kenneth Waltz publica a obra Teoria da política internacional, aprofundando e amadurecendo 
seu argumento neorrealista sobre os constrangimentos estruturais.
• 1981: Robert Gilpin publica a obra Guerra e mudança na política internacional, incluindo a 
dimensão econômica às abordagens realistas.
• 1987: Stephen Walt publica a obra As origens das alianças, expoente do realismo defensivo, que 
aborda o conceito de equilíbrio de ameaça.
• 1988: Robert Keohane e Joseph Nye publicam a obra Poder e interdependência: a política 
mundial em transição.
15
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
• 1992: Carlos Escudé publica a obra Realismo periférico: bases teóricas para uma nova política 
externa argentina.
• 1993: Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto publicam a obra Dependência e desenvolvimento 
na América Latina.
• 1994: Fred Halliday publica a obra Repensando as relações internacionais, a qual discute o sistema 
pós-Guerra Fria e propõe uma abordagem marxista para as relações internacionais.
• 1997: Andrew Moravcsik publica a obra Teoria liberal da política internacional, buscando reafirmar 
a importância dos pressupostos liberais na área de relações internacionais.
• 2000: Theotonio dos Santos publica a obra Teoria da dependência: balanço e perspectivas, 
analisando a situação socioeconômica da América Latina desde a década de 1960 até os dias 
atuais, com foco nas relações de dependência em relação ao centro.
• 2001: John Mearsheimer publica a obra A tragédia da política das grandes potências, expoente 
do realismo ofensivo.
 Saiba mais
Para mais informações sobre os debates teóricos nas relações 
internacionais, sugere-se as seguintes leituras.
BATTISTELLA, D. Teoria das relações internacionais. São Paulo: Senac, 2014.
NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Para que uma teoria das relações Internacionais? 
In: NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das relações internacionais: correntes 
e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 
PECEQUILO, C. S. Teoria das relações internacionais: o mapa do caminho. 
Rio de Janeiro: Alta Books, 2016.
2 REALISMO
O realismo é a primeira abordagem a se estruturar enquanto uma teoria das relações internacionais 
propriamente dita, ainda que tenha surgido como reação aos ideais liberais que passaram a ganhar força 
após o fim da Primeira Guerra Mundial. Para o realismo, o poder seria a variável fundamental para analisar 
e compreender a política internacional, sendo os Estados os atores centrais no cenário internacional. 
Nesse sentido, ao compreender que os Estados são egoístas e existe uma tendência ao conflito no 
sistema internacional, a Teoria Realista tem como cerne o estudo das causas da guerra e as formas 
de se promover a estabilidade da ordem internacional. As noções de segurança e autoajuda ganham, 
portanto, destaque nessa perspectiva.
16
Unidade I
 Lembrete
Autoajuda significa que um ator só poderia contar consigo mesmo para 
garantir sua sobrevivência.
Porém, antes de nos debruçarmos sobre a Teoria Realista, é importante resgatar suas bases clássicas. 
A primeira delas está presente no pensamento de Tucídides, especialmente na obra História da guerra do 
Peloponeso. Ao tratar do conflito entre as cidades-Estado gregas de Atenas e Esparta, que ocorreu entre 
431 e 404 a. C., o autor fornece bases para conceitos que seriam utilizados pelo realismo muito tempo 
depois (DUNNE; SCHMIDT, 2001; NYE JR., 2009; PECEQUILO, 2016).
Apesar de terem se aliado contra o Império Persa, Esparta passa a compreender que o poder que 
Atenas vinha acumulando seria prejudicial aos seus interesses, na mesma medida em que Atenas se 
preocupavacom a oposição espartana ao seu próprio fortalecimento. Desse modo, é possível observar 
já em Tucídides a compreensão de que o poder pauta as relações sociais.
A figura a seguir ilustra a Guerra do Peloponeso, inclusive retratando as forças aliadas de cada 
lado. No caso de Atenas, é possível observar a Liga de Delos, uma aliança de proteção mútua entre as 
cidades-Estado do Mar Egeu que havia sido criada contra os persas. E, no caso de Esparta, a Liga do 
Peloponeso, uma aliança defensiva composta por outras cidades-Estado na península.
Figura 2 – Guerra do Peloponeso
17
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
O conflito seria parte normal da política nesse caso, pois, diante da instabilidade causada pela 
assimetria de poder em favor de Atenas, caberia a Esparta resistir para continuar assegurando seus 
próprios interesses. Essa situação ilustra o conceito de equilíbrio de poder – ou balança de poder – que 
se tornará central para o realismo, referindo-se a uma forma de contenção mútua entre as unidades 
políticas soberanas, ou “um cenário onde a distribuição de poder restringe a preponderância absoluta 
de um Estado em relação a outros” (OTAVIO, 2018, p. 79). 
Em síntese, equilíbrio de poder é uma situação em que a competição entre Estados soberanos em 
um sistema internacional anárquico gera uma contenção mútua entre os envolvidos, produzindo um 
equilíbrio e uma forma de estabilidade no cenário internacional. Trata-se de uma situação sensível que 
pode ser afetada caso as capacidades e recursos dos atores se alterem, da mesma forma que o equilíbrio 
em uma gangorra seria algo frágil de ser mantido.
 Saiba mais
Para saber mais sobre a Guerra do Peloponeso, leia os textos a seguir:
NYE, J. Existe uma lógica duradoura de conflito na política mundial? 
In: NYE, J. Compreender os conflitos internacionais. São Paulo: Gente, 2009. 
TUCÍDIDES. História da guerra do Peloponeso. Brasília: UnB, 2001.
O realismo também encontra base nos escritos de Nicolau Maquiavel, pensador florentino famoso 
pela autoria de O príncipe, obra na qual se distancia da noção comum de que a política teria um fim 
em si mesma ou que deveria seguir uma série de normas que corresponderiam com padrões de virtude.
Maquiavel nasceu no ano de 1469, período em que a Itália tal qual conhecemos hoje não existia, 
estando fortemente dividida em distintas cidades-Estado. Para o autor, que fora historiador e diplomata, 
era justamente essa falta de unidade que poderia levar à sua dizimação. Por isso, argumenta sobre 
a necessidade de a Itália se unificar a partir da dominação das cidades-Estado vizinhas, destacando a 
importância da concentração do poder.
Ao romper com a tradição da política relacionada ao governo bom, justo e virtuoso, Maquiavel passa 
a entendê-la como a arte de conquistar e manter o poder. Nesse sentido, o conflito é parte natural da 
política e a guerra seria ordinária, uma vez que é um instrumento do poder. Assim, Maquiavel coloca a 
questão do poder como central e aproxima a política de uma técnica, defendendo que as ações políticas 
não deveriam ser julgadas pela moral individual, mas sim por critérios próprios.
Maquiavel disserta a respeito da necessidade de romper com o poder da Igreja – que antes nomeava 
os reis –, a fim de promover maior estabilidade. Poderia haver uma instrumentalização da Igreja em 
determinados casos, mas nunca ao ponto de associar a política à moralidade individual, pois o uso da 
violência em nome da manutenção e estabilidade do Estado sempre seria legítimo. 
18
Unidade I
Dessa forma, é possível afirmar que a separação entre moral e política, o uso do cálculo racional 
e, especialmente, o poder como aspecto central são pontos que o realismo nas relações internacionais 
recupera do pensamento de Maquiavel para construir suas bases.
Por fim, outro autor clássico importante para o pensamento realista é Thomas Hobbes. Nascido na 
Inglaterra em 1588, o matemático e filósofo viveu no contexto da guerra civil inglesa, o que o motivou 
a escrever a obra Leviatã. Ao abordar a importância de um Estado forte para garantir a unidade social e 
a paz, a obra é assim intitulada em referência ao monstro bíblico citado no Livro de Jó, que seria muito 
poderoso e destemido.
Publicado em 1651, Leviatã aborda a estrutura da sociedade e do governo legítimo, sendo 
considerado um dos exemplos mais antigos e influentes da teoria do contrato social. Para Hobbes, 
tendo em vista que o estado de natureza do indivíduo era hostil e egoísta, para haver estabilidade 
seria necessário um contrato social, em que os indivíduos cederiam parte de sua liberdade a esse 
Leviatã, figura que representaria o governo central, em troca de segurança.
 Observação
O estado de natureza não é um momento histórico real. Trata-se de um 
modelo hipotético, um exercício mental reflexivo para se entender uma situação 
anterior ao Estado, quando não há uma autoridade central para reger as 
relações sociais. 
É importante ressaltar que Hobbes escreve após a assinatura do Tratado de Vestfália (1648), portanto, 
o debate proposto não é mais sobre a necessidade de unificação de diversas cidades-Estado, como era 
discutido por Maquiavel, mas sim a de concentrar o poder em uma figura de autoridade. Em outras 
palavras, Hobbes defendia uma espécie de absolutismo político, quando o poder deve estar concentrado 
em uma única entidade, isto é, independente de outro órgão.
Segundo Hobbes (s.d., p. 2), a primeira lei natural do indivíduo é a autopreservação, o que poderia 
levar a uma espécie de guerra de todos contra todos. Por isso, para que haja estabilidade na vida em 
sociedade, seria necessário um pacto de submissão, no qual os indivíduos cedem parte de suas liberdades 
à figura do Leviatã em troca de vantagens sociais, em especial a garantia de segurança.
Por exemplo, se em estado de natureza um grupo de dez pessoas possui uma faca cada um, pode 
ser que todos se sintam inseguros, receosos de serem atacados, e acabem entrando em um conflito 
para garantir sua própria sobrevivência. Isso ilustra a alegoria que Hobbes faz de que o homem é o 
lobo do próprio homem. Esse contrato social seria marcado pela entrega de todas as facas ao soberano. 
Dessa forma, apesar de os indivíduos terem perdido a liberdade de possuir uma faca, todos estariam 
mais seguros porque o monopólio das facas estaria agora nas mãos do soberano, que deveria em 
troca lhes proteger.
19
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
O contexto em que Hobbes escreve nos ajuda a compreender seu pensamento. Existe uma relação 
entre o modelo de estado de natureza proposto e o período de guerra civil em que ele viveu. Para o autor, 
esse caos só poderia ser evitado por um governo central forte, inclusive como uma forma de criticar o 
Parlamento e a divisão de poderes que existia na Inglaterra, os quais Hobbes julgava contribuírem para 
a instabilidade interna do Estado.
Exemplo de aplicação
Assista ao filme O senhor das moscas e discorra sobre a relação entre o estado de natureza humana 
proposto por Hobbes e a ocorrência de conflitos na sociedade. Utilize exemplos do filme para traçar 
paralelos com situações das relações internacionais.
 Saiba mais
Para fazer o exercício de aplicação anterior, assista ao filme a seguir:
O SENHOR das moscas. Direção: Harry Hook. Estados Unidos: Castle 
Rock Entertainment, 1990. 90 min.
Desse modo, entre as ideias de Hobbes que foram resgatadas pelos teóricos realistas das relações 
internacionais, podemos destacar a busca pela autopreservação levando a um estado de guerra latente. 
Isso não significa que os atos de violência sejam ininterruptos, mas sim que a ameaça do conflito é 
constante. Assim, a guerra “não consiste somente em batalhar, no ato de lutar, mas se dá no lapso de 
tempo em que a vontade de lutar se manifesta de modo suficiente” (HOBBES, s.d., p. 52).
A perspectiva realista, portanto, estabelece um paralelo entre esse estado de natureza hobbesiano 
e as relações internacionais. Em outras palavras, avisão negativa da natureza humana é passada para 
os Estados, entendidos como atores egoístas que procuram maximizar seus próprios ganhos e defender 
seus interesses, sendo a sobrevivência o interesse primordial, em um ambiente onde não existe um 
Leviatã acima dos Estados.
Os Estados desconfiariam uns dos outros – assim como os indivíduos com facas desconfiavam 
dos seus pares – e buscariam aumentar seu poder a partir de um sistema de autoajuda, considerando 
as relações internacionais como um jogo de soma zero. Ou seja, o ganho de um ator representa 
a perda de outro. Tal situação representaria a dinâmica do conflito no cenário internacional e a 
necessidade de se encontrar mecanismos de estabilidade, embora a possibilidade da guerra sempre 
deva ser considerada.
20
Unidade I
 Saiba mais
Para saber mais sobre as teorias de Maquiavel e Hobbes, bem como suas 
contribuições para as relações internacionais, leia os textos a seguir:
BARNABÉ, I. R. Hobbes e a teoria clássica das relações internacionais. 
Revista Prometeus, v. 7, n. 16, p. 141-157, jul./dez. 2014. 
ROCHA, A. J. R. O debate sobre cooperação e conflito das relações 
internacionais: lições de Maquiavel, Hobbes, Kant, Rousseau e Marx. In: 
ROCHA, A. J. R. Relações internacionais: temas e agendas. Brasília: IBRI, 
2002. p. 232-259.
WEFFORT, F. (org.). Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, 
Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”. São Paulo: Ática, 2001. v. 1.
Ainda que sejam obras de ficção, as literaturas a seguir auxiliam na 
compreensão do contexto em que personagens históricos viveram, 
resguardados os momentos de narrativa inventada:
BOWDEN, O. Assassin’s creed: renascença. Rio de Janeiro: Galera 
Record, 2011.
BOWDEN, O. Assassin’s creed: irmandade. Rio de Janeiro: Galera 
Record, 2012.
2.1 Realismo nas relações internacionais
Recuperada em meados do século XX para a formulação de uma teoria das relações internacionais, 
essa base clássica citada anteriormente fundamentou a corrente que ficou conhecida como realismo. 
Em contraponto aos ideais liberais difundidos com o fim da Primeira Guerra Mundial – os quais 
argumentavam sobre as possibilidades de se construir uma ordem internacional diferente e que 
pudesse evitar o surgimento de novos conflitos –, o realismo é a primeira corrente teórica que se 
estrutura no campo. 
Um dos primeiros autores de destaque é o historiador e diplomata inglês Edward Carr, que, 
apesar de não se propor a sistematizar uma teoria sobre a política internacional, apresenta pontos 
centrais do realismo em sua obra Vinte anos de crise (1919-1939): uma introdução aos estudos das 
relações internacionais.
Carr retoma a centralidade dos Estados para analisar as relações políticas e critica a visão utópica 
de que o estabelecimento da Liga das Nações resultaria na eliminação da violência nas relações 
21
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
internacionais, tendo em vista as divergências de interesses. Em outras palavras, o autor defendia que 
a intitulada harmonização de interesses entre os Estados, na qual se baseava a busca global pela paz, 
seria uma espécie de véu, algo que buscava tornar mais palatável os interesses das grandes potências 
vencedoras em promover a manutenção da ordem internacional tal qual estava.
Ou seja, o discurso que embasava a Liga das Nações em prol da paz global seria na verdade uma 
forma de legitimar a intenção dessas grandes potências em continuarem ocupando os lugares em que 
se encontravam, já que, segundo o autor, uma mudança na ordem obrigatoriamente envolveria algum 
tipo de violência. 
 Observação
A Liga das Nações – também conhecida como Sociedade das Nações – 
foi a primeira organização internacional de escopo global composta por 
Estados soberanos. Com sede na Suíça, a Liga das Nações foi criada após o 
final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, e tinha como objetivo principal 
instituir um sistema de segurança coletiva para promover a cooperação e 
garantir a paz internacional. Nesse sentido, a Liga das Nações tinha como 
base a noção de que os Estados se uniriam para evitar um conflito de 
proporções tão grandes como havia sido a Primeira Guerra Mundial.
No entanto, essa visão liberal parecia desconsiderar a desigualdade inerente ao ordenamento 
internacional, o que levou os Estados que almejavam alcançar posições de maior destaque a romper 
com esse equilíbrio. Segundo o autor:
o motivo para esta crença ter persistido por mais de dez anos foi o fato de 
que as grandes potências, cujo principal interesse era a preservação do status quo, 
detinham, durante todo o período, um virtual monopólio do poder (CARR, 
2001, p. 136). 
Além disso, Carr (2001) destaca que o poder é entendido não apenas como um meio, mas também 
como um fim para a ação política. Ou seja, os atores buscam poder como um meio para atingirem seus 
objetivos e promoverem seus interesses, ao mesmo tempo em que conquistar e manter poder seria 
a finalidade de toda ação envolvendo o Estado. Assim, o poder é um elemento essencial da política 
e, embora afirme que são complementares e intrínsecos, Carr (2001) divide o poder político em três 
categorias para fins analíticos: poder militar; poder econômico; e poder sobre a opinião pública.
Tendo em vista que todo ato de um Estado está dirigido para a guerra, menos como um recurso 
desejável e mais como uma arma que pode ser necessária, o poder militar é central, já que qualquer 
sintoma de despreparo militar em uma grande potência reflete-se imediatamente em seu status 
político. Dessa forma, a ação externa de um Estado “se limita não somente por seus objetivos, mas ainda 
por sua força militar, ou, mais precisamente, pela razão entre sua força militar e a dos outros países” 
(CARR, 2001, p. 145).
22
Unidade I
Sobretudo pela forte vinculação existente entre o progresso de uma civilização e seu desenvolvimento 
econômico, Carr (2001) estabelece uma relação entre poder econômico e poder militar, inclusive 
criticando a visão liberal por separar essas dimensões. Para o autor, o poder econômico tem como 
propósito garantir a autossuficiência do Estado e o fortalecimento da influência nacional sobre outros 
países. Por fim, entende que o crescimento da importância do poder sobre a opinião pública representa 
um alargamento das bases da política, uma vez que aumenta o número de pessoas cuja opinião é 
politicamente relevante. Desse modo, a propaganda passa a adquirir mais relevância.
Outro autor de grande relevância na sistematização da teoria realista das relações internacionais 
foi Hans Morgenthau. Na obra A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz, publicada 
pela primeira vez em 1948, o autor argumenta que uma teoria sobre política internacional deve ser 
pragmática e possuir bases empíricas, considerando um erro tentar reduzir a política internacional a 
valores morais, marginalizando a questão do poder (PECEQUILO, 2016).
Morgenthau nasceu na Alemanha em 1904, tendo lecionado direito em universidades na Suíça e 
na Espanha. Entretanto, por ser judeu, acabou vivenciando de modo intenso a ascensão dos regimes 
totalitários na Europa e migrou para os Estados Unidos, onde passou a ser consultor do Departamento 
de Estado dos Estados Unidos. 
Esse contexto teria marcado de modo profundo a percepção de Morgenthau acerca da concepção 
liberal na política internacional, corroborando com o argumento de Carr sobre a harmonia de interesses 
não garantir a paz, uma vez que os Estados insatisfeitos com o status quo eventualmente buscariam 
formas de alterar esse ordenamento.
Considerado o pai fundador do realismo clássico nas relações internacionais, Morgenthau (2003) 
buscou estabelecer uma teoria realista da política internacional igualmente suscetível de explicar 
as relações entre Estados, iluminar os dilemas éticos da ação diplomática, além de avaliar e prever as 
políticas externas das diferentes nações. Para isso, formulou seis princípios do realismo:
• A política, assim como a sociedade em geral, égovernada por leis objetivas que têm suas origens 
na natureza humana.
• O interesse é definido em termos de poder.
• O interesse definido como poder é uma categoria universalmente válida, mas não tem significado 
fixo e permanente.
• Princípios morais universais não podem ser aplicados de modo abstrato às ações dos Estados.
• Não se deve identificar aspirações morais de um Estado com leis morais que governam o universo.
• A autonomia da política diante de outras esferas.
23
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
O primeiro princípio explicita a inspiração no debate clássico de Maquiavel e Hobbes, estabelecendo 
que uma teoria racional sobre a política deve refletir sobre as leis objetivas que regem a sociedade em 
geral – leis estas que possuem origem na própria natureza humana. Ou seja, para compreender a política 
é necessário compreender que a natureza humana opera em meio a uma lógica que tende ao conflito. 
Portanto, para analisar as relações internacionais, seria fundamental identificar as forças inerentes à 
natureza humana e trabalhar com elas, já que as relações entre os Estados seriam análogas às interações 
que ocorrem entre indivíduos no estado de natureza, marcadas pela autopreservação.
O segundo princípio estabelece o poder como o conceito central para o realismo, o que permite 
organizar o pensamento para compreender os fatos; isto é, o elo entre a razão e os fatos. Em suma, 
esse princípio associa a definição dos interesses à capacidade de alcançá-los. De acordo com o autor, o 
poder abarca tudo que permita o domínio do homem sobre o homem. Além disso, o interesse definido 
em termos de poder como categoria central também implica consolidar a política como uma esfera 
autônoma de ação e entendimento. Sendo assim, a política é diferente de outros campos – como a 
economia –, justamente por ter na variável do poder seu foco de análise. 
Por sua vez, o terceiro princípio indica que, apesar de o interesse sempre ser definido em termos 
de poder, ele pode ser alterado a partir do contexto histórico-social. Dessa forma, ao se definir um 
interesse, o Estado deve sempre levar em consideração suas capacidades e o objetivo final de acumular, 
manter ou demonstrar poder. No entanto, o significado específico desse interesse pode variar de acordo 
com o contexto político e cultural de sua formulação, bem como por possíveis alterações de capacidades 
ou mesmo de alianças. Segundo Morgenthau (2003), o primeiro interesse de um Estado é garantir a sua 
própria sobrevivência, porém a forma como outros interesses e a busca por poder são compreendidos 
depende do contexto em que se está inserido.
O quarto e o quinto princípios dedicam-se ao papel da moral na política internacional. Para o 
realismo, as ações políticas não devem ser julgadas por critérios morais. Não significa negar totalmente 
a existência da moral, mas postular que os valores morais devem ser considerados de acordo com o 
contexto existente, e não em termos absolutos e universais. Nesse sentido, a política responde a critérios 
próprios, não devendo ser balizada de modo totalizante pela moral individual. Além disso, é negada a 
possibilidade de imposição de uma verdade absoluta em termos morais, pois nenhum Estado é superior 
aos demais em termos morais, nem deve tentar impor seus valores a outros. Como lembra o autor, todos 
os Estados são entidades políticas que buscam seus próprios interesses, e estes são entendidos a partir 
do conceito-chave do poder, e não de um padrão moral absoluto.
O último princípio estabelece que o raciocínio do interesse definido em termos de poder possibilita 
conceber a política como uma esfera autônoma, conferindo uma lógica própria ao pensamento que o 
torna distinto de outras áreas. Em outras palavras, Morgenthau (2003) aponta que a esfera política não 
estaria subjugada a nenhuma outra, fosse econômica, cultural ou ambiental, possuindo conceitos e 
princípios distintos. 
Por fim, outro autor expoente no debate teórico sobre realismo nas relações internacionais é 
Raymond Aron, filósofo e sociólogo francês que escreveu a obra Paz e guerra entre as nações. O autor 
resgata a noção da guerra como um ato social e define as relações internacionais como o “estudo das 
24
Unidade I
relações entre unidades políticas que reivindicam o direito de fazer justiça e de escolher entre a paz 
e a guerra” (ARON, 2002, p. 55). Ou seja, retoma a centralidade dos Estados e afirma que as relações 
interestatais sempre se desenvolvem à sombra da guerra.
Nessa obra, publicada em 1962, em meio ao contexto de Guerra Fria, Aron (2002) aponta que as 
relações internacionais podem ser retratadas por duas figuras: o diplomata, que representa a gramática 
da cooperação; e o soldado, que representa a gramática da competição. Embora opostas, essas gramáticas 
são complementares e conformam a linguagem da política internacional. A principal contribuição de 
Aron está contida na sua busca por regularidades para a eclosão de guerras ou para a manutenção da 
paz, tendo em vista que a política internacional seria marcada pelo choque constante de vontades entre 
os Estados soberanos. 
Nesse aspecto, o espaço, os números e os recursos definem as causas ou meios materiais da política, 
ao passo que os objetivos perseguidos pela política exterior de um Estado seriam o poder, a glória e as 
ideias (ARON, 2002, p. 128). Para o autor:
a continuidade das relações internacionais ocorre através da alternância 
entre a paz e a guerra [relacionado com a mudança constante de Carr], 
através da complementaridade da diplomacia e da estratégia, dos meios 
violentos e não violentos que os Estados utilizam para alcançar seus 
objetivos ou defender seus interesses (ARON, 2002, p. 49).
Ademais, o conceito de “paradoxo da política internacional”, apresentado por Aron (2002), é essencial 
para se compreender as relações internacionais. Tendo em vista o choque de vontades que constitui o 
relacionamento entre Estados soberanos, esse paradoxo corresponderia ao fato de que a procura por 
segurança em prol do equilíbrio das forças cria ou mantém a inquietação geral e as suspeitas recíprocas, 
gerando um constante estado de insegurança.
 Observação
Paradoxo da política internacional possui o mesmo significado que dilema 
de segurança. Refere-se a uma situação em que a tentativa de um Estado 
aumentar sua segurança gera insegurança em outros Estados, fazendo com 
que estes também busquem incrementar sua própria segurança.
Como abordado anteriormente, não é possível compreender a realidade em sua totalidade, por 
isso utilizamos as teorias enquanto ferramentas conceituais para melhor compreender determinados 
fenômenos. Dessa forma, a partir da base filosófica clássica que inspirou o debate realizado pelos 
autores contemporâneos mais focados em discutir as relações internacionais, podemos destacar alguns 
elementos centrais a fim de sintetizar a teoria realista das relações internacionais.
25
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Ao analisar a política internacional, o realismo representa uma lente teórica que auxilia na 
compreensão das causas da guerra e das formas de se garantir a balança de poder, tendo como ponto 
central a análise das relações interestatais. Como Halliday aponta, os realistas:
tomam como ponto de partida a busca do poder dos Estados, a centralidade 
da força militar dentro deste poder e a inevitabilidade duradoura do conflito 
em um mundo de múltipla soberania. Mesmo não negando inteiramente o 
papel da moralidade, do direito e da diplomacia, os realistas dão maior peso 
à força militar como instrumento de manutenção da paz. Eles acreditavam 
que o mecanismo central para regular o conflito era o equilíbrio de poder 
através do qual a força de um Estado seria compensada pelo aumento 
da força ou pela expansão das alianças dos outros: esta situação era 
dada no sistema, mas também poderia ser promovida conscientemente 
(HALLIDAY, 2007, p. 24).
No entanto, vale ressaltar que não se trata de uma análise belicista,que anseia pela ocorrência de 
guerras o tempo todo. É apenas uma lente teórica que atribui importância à temática da guerra nas 
relações internacionais, apontando que o Estado deveria sempre levar em consideração o risco da guerra 
ao qual está sujeito na hora de pensar suas ações no âmbito internacional, sob pena de desparecer 
permanentemente (ARON, 2002). Nesse sentido, a perspectiva realista analisa a necessidade de o Estado 
atentar para o interesse nacional, que em última instância deve estar sempre ligado à autopreservação, 
em um ambiente marcado pela insegurança.
Em sua obra Teoria das relações internacionais, Battistella (2014) também realiza um esforço para 
sistematizar a Teoria Realista a partir de quatro proposições principais e quatro secundárias, listadas 
nesta ordem a seguir.
• O estado de anarquia no qual se encontram as relações internacionais é sinônimo de estado 
de guerra, pois não há nenhuma autoridade central suscetível de impedir o recurso à violência 
armada da parte dos atores internacionais.
• Os principais atores do sistema internacional são os grupos de conflito. Desde a existência 
o sistema interestatal westfaliano, esses grupos são essencialmente os Estados-nações 
organizados territorialmente.
• Encarnados no chefe do poder executivo, os Estados-nações são os atores racionais que 
buscam maximizar seu interesse nacional em termos de poder, considerando as pressões do 
sistema internacional.
• O equilíbrio de poder é o único modo de controle suscetível de assegurar não a paz, mas uma 
ordem e uma estabilidade internacionais.
26
Unidade I
• Quando a política exterior não consegue alcançar o interesse nacional pelos meios pacíficos, o 
recurso à guerra é um meio legítimo da política exterior, e esta não poderia ser julgada segundo 
os critérios éticos aplicáveis aos comportamentos individuais.
• As organizações interestatais e as entidades não estatais não são atores autônomos, pois não 
agem a não ser pelo intermédio dos Estados.
• A política exterior, sinônimo de high politics, prima sobre a política interna, considerada 
enquanto low politics; e levar em consideração a opinião pública é um obstáculo à boa 
conduta diplomática.
• A existência e a efetividade do direito internacional e das instituições de cooperação são função 
de sua conformidade com os interesses dos Estados mais poderosos.
Para facilitar a compreensão dessas proposições, alguns autores estabelecem uma analogia entre as 
relações internacionais e um jogo de bilhar, na qual a mesa de bilhar seria o sistema internacional e os 
Estados as bolas de bilhar. Nesse cenário, com o objetivo de acumular mais poder e evitar que os demais 
façam o mesmo, cada Estado seria identificado como uma bola de bilhar maciça e indivisível – como 
ilustra a figura a seguir –, pois estaria resumido à figura do chefe do poder executivo. Dessa forma, as 
colisões entre as bolas de bilhar seriam análogas às tensões entre os Estados no sistema internacional 
em busca de segurança.
 
Figura 3 – Bola de bilhar 
O quadro a seguir busca sistematizar os pontos abordados até agora no que diz respeito à 
questão central do realismo, os atores considerados centrais, os principais conceitos trabalhados, 
entre outros.
27
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Quadro 1 – Realismo 
Realismo
Núcleo de interesse Segurança
Unidades-chave Estados 
Conceitos centrais Anarquia, poder, interesse nacional, equilíbrio de poder
Motivação dos atores Interesse nacional, segurança, poder (também como fim)
Perspectivas Pessimista, crescimento do poder nacional
Adaptado de: Kegley e Blanton (2014).
 Saiba mais
Para saber mais sobre o realismo, leia o texto a seguir:
NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. O realismo. In: NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. 
Teoria das relações internacionais: correntes e debates. Rio de Janeiro: 
Elsevier, 2005, p. 20-55.
2.2 Críticas e reformulações na Teoria Realista
A abordagem realista tornou-se predominante na área de relações internacionais após a Segunda 
Guerra Mundial, mas passou a ser questionada a partir dos anos 1950 e continua sob pressão desde 
então (HALLIDAY, 2007). Alguns analistas de relações internacionais passaram a defender que essa 
tentativa de criar uma teoria realista das relações internacionais que fosse universal para explicar todas 
as dinâmicas e interações interestatais era falha, tendo em vista a variedade de recursos e capacidades 
de cada Estado, bem como a transformação das dinâmicas internacionais com o passar do tempo.
Esse grupo de críticas ganhou força especialmente com a revolução behaviorista, a qual marcou 
o segundo debate das relações internacionais e passou a criticar a forma de se estudar essa temática. 
Enquanto os realistas incorporavam debates clássicos da filosofia e da ciência política, os behavioristas 
destacavam a necessidade da empiria quantitativa, apontando que “os mesmos métodos que permitiram 
desvelar os mistérios da estrutura atômica podem revelar a dinâmica do comportamento social” 
(BATTISTELLA, 2014, p. 84).
Outro questionamento estava associado à noção de natureza humana abordada pelos realistas não 
ser uma resposta suficiente para a pergunta que a teoria se propunha a responder: Será que as guerras 
eram causadas simplesmente porque os indivíduos eram egoístas e hostis, e acabavam transportando 
esse padrão para as relações internacionais? E ainda que parte da política internacional pudesse ser 
28
Unidade I
explicada por essa natureza humana hostil e egoísta, como desconsiderar a existência de interesses 
mútuos e o cumprimento de regras comuns que representam obrigações e direitos iguais? (JACKSON; 
SORENSEN, 2007).
O foco que o realismo atribui às relações estatais, considerado exacerbado, também é alvo de críticas, 
uma vez que ignora ou subestima outros atores – como as instituições internacionais e organizações 
não governamentais –, bem como a “influência do direito internacional no gerenciamento das relações 
entre os Estados e o grau em que a cooperação pode prevalecer em detrimento do conflito na política 
internacional” (JACKSON; SORENSEN, 2007).
Entre os autores que criticaram algumas lacunas da Teoria Realista podemos destacar Joseph 
Nye, cientista político estadunidense. Vale destacar que, enquanto autores como Carr e Morgenthau 
escreveram em um momento de formação da disciplina Relações Internacionais, Nye escreve em um 
momento de maior globalização, sintetizando as diversas críticas que a teoria realista recebera ao 
longo dos anos. 
Em sua obra Compreender os conflitos internacionais: uma introdução à teoria e à história, lançada 
em 1993, Nye (2002) busca analisar as continuidades e mudanças presentes na política internacional. 
Segundo o autor, seria necessário construir com base no passado, mas sem se prender a ele. Dessa forma, 
concorda com a visão realista de que existe uma lógica de hostilidade nas dinâmicas internacionais, na 
qual a busca por equilíbrio de poder culmina em um dilema de segurança. 
No entanto, ao utilizar como exemplo a Guerra do Peloponeso, afirma que, embora algumas 
características estruturais influenciem a política internacional, isso não anularia a responsabilidade pelas 
escolhas morais (NYE, 2002). Ademais, o autor também critica a restrição da análise realista aos Estados, 
tendo em vista que mudanças conjunturais traziam consigo nova magnitude a outros atores internacionais. 
Nye (2002) também critica o que julga ser um foco exacerbado no âmbito militar, destacando que 
existem problemas que não se resolveriam apenas por esse meio. Nesse caso, o contexto de corrida 
armamentista e desenvolvimento tecnológico na Guerra Fria ajuda a compreender a percepção do 
autor, já que o uso das bombas nucleares não seria uma resposta adequada, tendo em vista o poder de 
destruição massivo que esse arsenal detinha. 
A partir dessas e outras críticas, houve um processo de revisão da teoria realista, mantendo-se 
muitas das bases, mas alterando alguns dos argumentos apresentados. Oresultado dessa revisão ficou 
conhecido como neorrealismo, que será abordado adiante.
Exemplo de aplicação
Com base nas reportagens a seguir e no conteúdo abordado, analise o conflito israelo-palestino 
tendo como base a Teoria Realista. Analise os atores envolvidos e as motivações para esse conflito a 
partir dos conceitos trabalhados anteriormente. Em seguida, destaque os aspectos envolvidos nele que 
não são contemplados pela Teoria Realista.
29
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A questão dos assentamentos em Israel
Quatro importantes questões dominam o conflito entre israelenses e palestinos e são 
considerados os mais difíceis de se chegar a um ponto comum nas complexas negociações: 
o status de Jerusalém; os refugiados palestinos (e seu direito de retorno), fronteiras 
e assentamentos. Saiba mais sobre o último ponto, segundo um guia divulgado pela 
TV americana CNN: 
O que são os assentamentos?
Assentamentos são cidades, municipalidades e vilarejos israelenses construídos na 
Cisjordânia e nas Colinas do Golan. Eles tendem a ser comunidades fechadas com guardas 
armados em suas entradas. São considerados assentamentos porque Israel é tido como 
uma força ocupante nos territórios. Trata-se de terra dos palestinos que, assim como a 
comunidade internacional, consideram o território parte de seu futuro Estado.
Por que Cisjordânia e Jerusalém Oriental são considerados territórios ocupados?
Em 1967, Israel deu início à ocupação da Cisjordânia e Jerusalém Oriental durante 
a Guerra dos Seis Dias. Vendo um acúmulo militar nos países árabes circunvizinhos, 
Israel lançou um ataque preventivo contra o Egito, que depois foi revidado com um 
contra-ataque da Jordânia. Israel anexou Jerusalém Oriental pouco depois, unificando 
a cidade sob autoridade de Israel, sem nunca, no entanto, anexar a Cisjordânia, que 
continuou sob sua lei militar.
Como é administrada a Cisjordânia?
Decisões na Cisjordânia são tomadas pelo Exército israelense, não por um governo 
civil. O Exército israelense decide questões, por exemplo, como o uso da terra, liberdade 
de movimento dos palestinos, demolições de casas, entre outros. Antes de 1967, Jerusalém 
Oriental e Cisjordânia estavam sob ocupação da Jordânia. O país anexou o território em 
1950, mas alguns países reconheceram a anexação como legal. A Jordânia renunciou ao 
território em 1988, reconhecendo a Organização Pela Libertação da Palestina (OLP) como 
represente do povo palestino.
O que defendem os israelenses?
Israelenses que apoiam o movimento por assentamento, entre outros, contestam o 
argumento de que a Cisjordânia seja um território ocupado. Eles se referem à Cisjordânia 
como Judeia e Samaria, seus nomes bíblicos. Há outros que apoiam essa teoria, incluindo 
os cristãos evangélicos. A opinião se opõe ao consenso internacional de que a Cisjordânia é 
um território ocupado.
30
Unidade I
Onde estão os assentamentos?
Há 126 assentamentos na Cisjordânia (excluindo os de Jerusalém Oriental), de acordo 
com um relatório do Escritório Central Israelense de Estatísticas de setembro de 2016. 
Geograficamente, esses assentamentos estão por todo o território da Cisjordânia. O território 
é dividido em Áreas – A, B e C – segundo os Acordos de Oslo, a série de tratados de paz 
alcançados nos anos 90.
Fonte: A questão... (2017).
Israel bate recorde na expansão dos assentamentos
Israel acelera a expansão dos assentamentos na Cisjordânia. As autoridades que 
administram este território militarmente ocupado há 50 anos aprovaram, nas últimas 
48 horas, a construção de 2.646 casas, segundo afirmou, nesta quarta-feira, a ONG 
israelense Paz Agora, que supervisiona as colônias.
“O avanço dos assentamentos nos distancia, a cada dia, da solução dos dois Estados”, 
afirmou a organização pacifista fundada pelo escritor Amos Oz, em um comunicado. 
A União Europeia exigiu esclarecimentos de Israel sobre o crescimento das colônias e pediu 
que reconsidere uma decisão “que vai em detrimento das iniciativas em andamento por 
negociações de paz”.
O governo de Benjamín Netanyahu, considerado o mais conservador da história 
de Israel, está batendo recordes nas construções de habitações em território ocupado 
palestino. Com as 1.292 aprovadas na terça-feira, e as 1.323 nesta quarta, a Paz Agora 
afirma que a expansão colonial chega a 6.742 casas em 2017, em diferentes fases de 
desenvolvimento urbanístico. As autoridades têm planos para construir até 12.000 casas 
este ano, segundo a France Presse, o que seria quatro vezes o registro de 2016 (2.629 
habitações), seis vezes o de 2015 (1.982) e quase o dobro de 2014 (6.293).
A presença no Governo de coalizão (conservadores, nacionalistas religiosos, ultra 
ortodoxos e extrema direita) de partidos que representam os interesses dos mais de 
600.000 colonos na Cisjordânia e Jerusalém Leste contribuiu para impulsionar a ampliação 
dos assentamentos.
A expansão foi especialmente acelerada desde a chegada de Donald Trump à Casa 
Branca, cuja administração se declara comprometida com a retomada das negociações entre 
israelenses e palestinos, suspensas desde 2014. Trump não considera que os assentamentos 
constituam necessariamente um obstáculo para a paz, nem acredita que a solução dos dois 
Estados seja a única viável para colocar fim ao conflito.
Israel concedeu 31 licenças de edificações na área da cidade de Hebrón, na Cisjordânia, 
que mantém sob seu controle, as primeiras outorgadas a colonos israelenses em 
31
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
15 anos, em uma cidade dividida entre mais de 200.000 palestinos e 800 colonos sob 
proteção militar.
“O Governo perdeu as inibições e promove a expansão em ritmo recorde”, afirma a 
Paz Agora. “Está claro que Netanyahu está dando prioridade a seu eleitorado, contra o Estado 
de direito e as perspectivas de paz”. Em ato celebrado na Cisjordânia, em setembro, para 
comemorar o 50º aniversário da Guerra dos Seis Dias, Netanyahu prometeu, diante de 
milhares de colonos, que nenhum assentamento israelense será desmantelado como 
consequência de um acordo de paz.
“O Grande Israel está se sobrepondo a toda a Palestina histórica”, alerta a veterana 
dirigente palestina Hanan Ashraui, ao denunciar que o governo do Estado hebreu está 
trabalhando sistematicamente “para destruir a continuidade territorial e demográfica de 
um futuro Estado palestino”.
A Paz Agora teme, acima de tudo, que o Executivo de Netanyahu esteja derivando 
para uma via “selvagem” ao aprovar planos de expansão profunda na Cisjordânia. 
Das cerca de 1.300 casas aprovadas na terça-feira, apenas 560 estão nos chamados blocos 
de colônias, que Israel busca trocar por outros territórios em um acordo final que dê lugar a 
um Estado palestino. O resto foi disseminado em zonas distantes do Vale do Jordão ou junto 
a populações palestinas, como no caso de Nokdim, assentamento onde reside o ministro da 
Defesa, Avigdor Liberman, responsável formal pela aprovação de novas colônias.
Fonte: Sanz (2017).
3 LIBERALISMO
O surgimento e a construção da teoria liberal ou liberalismo estão ligados ao surgimento 
da disciplina Relações Internacionais e ao contexto dos eventos da Primeira Guerra Mundial. 
O objetivo das primeiras análises teóricas era compreender o fenômeno da guerra e evitar que ela 
ocorresse novamente. 
No entanto, antes de começarmos a estudar a Teoria Liberal nas relações internacionais, é importante 
retomar algumas das análises de teóricos clássicos que influenciaram essa vertente teórica. Assim 
como visto na Teoria Realista, a constituição do liberalismo baseia-se em discussões e ideias de autores 
clássicos de diversas áreas: filosofia, direito, ciência política e economia. 
A Teoria Liberal nas relações internacionais tem como influência as discussões e propostas 
do liberalismo clássico. Originado no final do século XVII e ao longo do século XVIII, tais discussões 
impulsionaram as revoluções liberais: a Revolução Gloriosa, de 1688, a Revolução Americana, de 1775, 
e a Revolução Francesa,de 1789 a 1799. 
32
Unidade I
Os ideais filosóficos desse período conformam o que ficou denominado de iluminismo. Os pensadores 
e movimentos iluministas criticavam o regime monarquista absolutista, que garantia os privilégios e a 
concentração do poder nas mãos da nobreza e do clero. As revoluções de caráter iluminista visavam, 
portanto, a consolidação de uma nova classe social – a burguesia – e o seu interesse pela valorização da 
propriedade privada (PECEQUILO, 2010). 
De forma geral, os principais aspectos defendidos pelo pensamento iluminista eram:
• O uso do método científico na busca da verdade, em oposição aos dogmas religiosos. 
• O racionalismo.
• A livre iniciativa dos indivíduos. 
• Liberdade econômica e política. 
• Predomínio dos ideais burgueses.
O objetivo com esses aspectos era promover a consolidação de um Estado liberal, no qual o indivíduo 
seria o centro das decisões. Para o liberalismo, todos os seres humanos seriam racionais, ou seja, com 
capacidade de “descobrir, compreender e decidir como alcançar a própria felicidade” (NOGUEIRA; 
MESSARI, 2005, p. 59). O governo deveria, portanto, prover as condições legítimas para o alcance do 
progresso e liberdade para os indivíduos. 
De acordo com o Dicionário de política de Norberto Bobbio, entende-se por liberalismo uma 
determinada concepção de Estado, que tem poderes e funções limitadas. O liberalismo é, portanto, 
uma doutrina do Estado limitado tanto em relação aos poderes, como em relação às funções. O poder 
é limitado pela lei/constituição, que garante os direitos fundamentais e a separação dos poderes. As 
funções do Estado liberal devem ser limitadas à garantia da livre iniciativa econômica e da propriedade 
privada. É, portanto, um Estado mínimo (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2000).
Há uma variedade de autores e pensadores liberais. Apesar das diferenças entre si, eles compartilham 
o foco na liberdade dos indivíduos, além de uma preocupação com a relação entre indivíduos, 
sociedade e governo. 
John Locke, considerado o pai do liberalismo político, é um dos principais autores iluministas e analisou 
a relação do indivíduo com o Estado. Assim como Hobbes, Locke é considerado um contratualista, pois 
discute que a sociedade civil é constituída a partir da formalização de um contrato entre os indivíduos 
(PECEQUILO, 2010). No entanto, diferentemente da análise hobbesiana, Locke considera que no estado 
de natureza os homens viviam em perfeita liberdade e igualdade. 
Assim, enquanto para Hobbes o contrato social foi assinado para a garantia da segurança, Locke 
considera que ele foi uma maneira que os indivíduos encontraram para melhor administrar as relações 
humanas (PECEQUILO, 2010). Mesmo no estado de natureza, os indivíduos já teriam direitos inatos 
33
TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
(direitos naturais), os quais eram independentes do contrato social. Assim, o Estado, constituído a partir 
do pacto social teria como responsabilidade garantir a liberdade e a propriedade privada, direitos que os 
indivíduos já possuíam, mas que não eram totalmente assegurados. Uma das principais obras de Locke 
sobre o contrato social é o Segundo tratado sobre o governo civil, de 1689. 
Outro importante autor contratualista do liberalismo clássico é Jean-Jacques Rousseau. Em sua 
obra O contrato social, de 1762, o autor afirma que o indivíduo é bom por natureza, mas a sociedade 
o corrompe. Para Rousseau, o contrato social que forma o Estado é o resultado da vontade autônoma 
dos indivíduos, como uma forma de garantir a liberdade natural do homem, bem como a segurança e o 
bem-estar na sociedade. Conhecido como o teórico da soberania popular, o autor afirma que a vontade 
geral é indivisível e inalienável. A participação de todos os indivíduos no exercício do poder é, portanto, 
o que garante o limite do poder do Estado (SILVA, 2011). 
No campo da economia, um dos influenciadores do liberalismo foi Adam Smith, filósofo e economista 
britânico que nasceu em 1723. Esse economista defendia a livre concorrência entre os mercados e 
a intervenção mínima do Estado na economia. Ainda podemos citar: David Ricardo, para quem o 
crescimento depende da acumulação de capital, ou seja, lucro; e Jean-Baptiste Say, que fala da mão 
invisível do mercado na regulação da economia. 
Para o liberalismo econômico, há, portanto, uma autorregulação da sociedade, em que os desequilíbrios, 
ineficiência e crises são corrigidos por instituições e processos inerentes de sua organização. Não há, 
portanto, a necessidade de um controle estatal sobre a economia. O papel do Estado é apenas o de 
proteger os indivíduos contra ameaças externas e contra aqueles que não respeitem as leis internas 
(NOGUEIRA; MESSARI, 2005). 
Por fim, cabe mencionar um importante filósofo que contribuiu para as discussões da teoria 
liberal sobre a importância da lei e da universalização de princípios entre os Estados e a comunidade 
internacional: Immanuel Kant, filósofo prussiano nascido em 1724. Sua obra A paz perpétua, de 1795, 
tinha como projeto estabelecer uma paz perpétua entre os povos europeus, e depois levá-la ao mundo 
inteiro (KANT, 2008). 
Kant discorre sobre o embate entre os indivíduos e os Estados. Para o filósofo, o envolvimento dos 
reis em guerras internacionais geraria consequências negativas, tanto econômicas quanto sociais, para 
os indivíduos (NOGUEIRA; MESSARI, 2005). De acordo com Kant, haveria a necessidade do respeito 
às regras morais para garantir modos justos e corretos de agir – o que ele denomina de imperativo 
categórico. O estabelecimento de normas e regras para o convívio entre as comunidades e povos teria 
como objetivo “o encaminhamento de uma sociedade pacífica” (PECEQUILO, 2010, p. 137). 
Esse conjunto de normas e regras deveria ser responsável pela garantia da paz, em todos os níveis 
das relações humanas e em todos os âmbitos – nacional e internacional. Assim, Kant afirma necessidade 
de um direito cosmopolita, o qual atende a todos os indivíduos do mundo, independentemente do seu 
Estado de origem. Essa análise kantiana contribuiu para a elaboração do conjunto de leis e de tratados 
que conformam, atualmente, os direitos humanos. 
34
Unidade I
 Observação
O Direito internacional dos direitos humanos é composto por um 
conjunto de declarações, tratados e convenções que estabelecem os 
compromissos e obrigações dos governos com a garantia dos direitos 
básicos de proteção à vida e garantia da liberdade de grupos e indivíduos. 
Além da Declaração universal dos direitos humanos, estabelecida em 
1948, outras Convenções e Tratados foram criados para abordar aspectos 
específicos referentes aos direitos humanos, como os direitos das crianças, 
das mulheres, dos trabalhadores e dos migrantes. 
De uma forma geral, esses pensadores convergem com relação ao foco no indivíduo e um certo 
otimismo sobre as relações em sociedade. Ações e interesses individuais gerariam bens coletivos e, 
consequentemente, uma convivência pacífica entre eles.
ao trabalharem pelo seu bem individual, os homens naturalmente gerarão 
um ambiente coletivamente próspero e pacífico no qual compartilharão 
os lucros e benefícios de suas ações, os valores e os princípios universais 
de liberdade e individualidade, criando uma rede de solidariedade. Nesta 
rede, a guerra será um empecilho à realização das capacidades econômicas 
e políticas individuais, optando-se por interações pacíficas e estáveis que 
permitam a obtenção do lucro e a preservação das identidades e direitos das 
sociedades (PECEQUILO, 2010, p. 139). 
Ao compreenderem que de forma coletiva seus interesses individuais têm maior probabilidade de 
serem alcançados, os indivíduos tendem a preferir relações de cooperação em detrimento da rivalidade. 
Essa lógica, de acordo com a Teoria Liberal de relações internacionais, é reproduzida nas relações entre 
os Estados. A seguir, discutiremos como esses ideais iluministas, do liberalismo clássico, influenciaram 
nos principais conceitos

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