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DEFINIÇÃO Teoria da matriz da linguagem e do pensamento, a partir das linguagens sonora, visual e verbal, com seus modos de hibridização. PROPÓSITO Compreender as matrizes das linguagens e os modos de hibridização de linguagens para ampliar o conhecimento sobre a contribuição da semiótica na comunicação. PREPARAÇÃO Tenha à disposição dicionários e enciclopédias on-line gratuitos da área de arte, cultura e estudos linguísticos e literários como a Enciclopédia Itaú Cultural, do Itaú Cultural, o E- Dicionário de termos literários, de Carlos Ceia, o Dicionário de Cultura Básica, de Salvatore D’Onofrio, e o Dicionário de Termos Linguísticos, do Portal da Língua Portuguesa. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a matriz sonora da linguagem MÓDULO 2 Identificar a matriz visual da linguagem MÓDULO 3 Identificar a matriz verbal da linguagem MÓDULO 4 Reconhecer os modos de hibridização das linguagens INTRODUÇÃO Foto: Shutterstock.com Quais são as linguagens de que dispomos em nosso mundo contemporâneo? Como as linguagens se estruturam? De que modo elas se inter-relacionam ou se misturam? Essas são algumas das questões que abordaremos ao tratar das três matrizes da linguagem: SONORA VISUAL VERBAL Também trataremos da hibridização das linguagens e do modo como as linguagens se misturam. Nossa abordagem partirá da teoria das matrizes da linguagem e pensamento de Lucia Santaella, fundamentada nas contribuições teóricas da semiótica de C. S. Peirce. MÓDULO 1 Identificar a matriz sonora da linguagem AS TRÊS MATRIZES DA LINGUAGEM Quando assistimos a um filme, a um vídeo ou a um programa de televisão, temos diante de nós várias linguagens agindo ao mesmo tempo. Antes dos meios eletrônicos, o jornal impresso já exibia textos, imagens, diagramas, todos esses recursos de linguagem combinando-se de modo a constituir uma mensagem integrada. Atualmente, quando entramos nas redes, por meio de uma plataforma ou de um aplicativo, navegamos por arquiteturas de informação compostas por uma multiplicidade de linguagens sonoras (músicas, sons, ruídos), linguagens visuais, em uma ampla variação, especialmente porque a navegação depende do agenciamento do usuário entre imagens para seguir pistas e cascatas de opções. O texto verbal também está presente em uma diversidade de manifestações. Em suma, tudo isso vem junto e misturado, mas sempre capaz de produzir sentido. Diante dessas misturas indissociáveis, surge a pergunta: será que não há matrizes de linguagem que dão fundamento a essas misturas e que permitem que elas sejam naturalmente compreensíveis ao leitor? Para responder essa pergunta, Lucia Santaella (2001) desenvolveu a hipótese de que, por baixo de tudo isso, só existem três grandes matrizes da linguagem e pensamento: SONORA VISUAL VERBAL É a partir dessas matrizes da linguagem que se originam todos os tipos de linguagens e processos sígnicos que os seres humanos, ao longo da história, foram capazes de produzir. A grande variedade e a multiplicidade crescente de todas as formas de linguagens (literatura, música, teatro, desenho, pintura, gravura, escultura, arquitetura, hipermídia etc.) estão alicerçadas em não mais do que três matrizes. Apesar da variedade de suportes, meios, canais (foto, cinema, televisão, vídeo, jornal, rádio, computador etc.) em que as linguagens se materializam e são veiculadas, apesar das diferenças específicas que elas adquirem em cada um dos diferentes meios, subjacentes a essa variedade e a essas diferenças, temos apenas três matrizes. Nessa hipótese, está a convicção de que há raízes lógicas e cognitivas específicas que determinam a constituição do verbal, do visual, do sonoro e de toda a variedade de processos sígnicos que eles produzem. FUNDAMENTOS TEÓRICOS Os fundamentos teóricos dessa proposta encontram-se na fenomenologia e na semiótica do filósofo e cientista norte-americano Charles Sanders Peirce (1839-1914). Por fenomenologia, Peirce (1977) entendeu a descrição do fenômeno, e por fenômeno entendeu tudo aquilo que aparece em nossa mente, em todos os instantes de nossa experiência. Charles Sanders Peirce (1839 – 1914). O alvo que tinha em mente com essa descrição era chegar às categorias mais gerais, elementares e universais, que tornam a experiência possível. Vamos lembrar que desse estudo resultaram três categorias, cuja generalidade ficou expressa na terminologia de: PRIMEIRIDADE SECUNDIDADE TERCEIRIDADE São categorias muito gerais e universais que, para alcançar a universalidade necessária, foram despojadas de qualquer conteúdo material, de modo a realçar tão só e apenas sua natureza lógica. Entretanto, para facilitar o reconhecimento dessa lógica, é necessário indicar as ideias a que cada uma delas está atada. PRIMEIRIDADE SECUNDIDADE TERCEIRIDADE PRIMEIRIDADE Está ligada às ideias de possibilidade, frescor, vida, liberdade, vagos e incertos sentimentos, indefinição, qualidade. SECUNDIDADE Está ligada às ideias de tudo que tem existência real, dualidades, relações entre pares, esforço e resistência, ação-reação, ego-não ego, sentido de mudança, fato, aquilo que efetivamente acontece, aqui e agora, determinado, singularidade, descontinuidade, força cega, ruptura, surpresa, conflito, antagonismo, choque, luta, obstrução, dúvida. TERCEIRIDADE Pertence ao universo das leis abstratas. É continuidade, generalidade, convenção, hábito, tendência, tempo, inteligência, aprendizagem, devir (SANTAELLA, 1983). Por ser didática, a apresentação acima atomiza ou fragmenta as categorias, quando, na realidade, elas são universais e onipresentes. Sem que cada uma perca seu caráter próprio, portanto, irredutível, elas são indissociáveis, apesar de que pode haver o predomínio de uma sobre as outras em determinadas situações. Ademais, elas não são psicológicas, mas lógicas. Isso significa que se manifestam em quaisquer territórios da realidade, do físico ao psíquico. Como são muito gerais, não anulam, de modo algum, apenas subjazem às categorias que cada um desses territórios da realidade pode apresentar como categorias que são próprias de cada território. EXEMPLO Na Física, essas categorias se manifestam como acaso, lei operativa e tendência do universo a adquirir novos hábitos. Na Psicologia, como sentimento, ação-reação, cognição. OS SIGNOS E SEUS TIPOS As categorias são onipresentes, mas uma pode dominar sobre as outras. A forma mais simples de terceiridade corresponde à noção de signo que, em uma definição muito geral, assim se expressa: Signo é algo que intenta, com certa capacidade e sob certas circunstâncias, representar algo que está fora dele de modo a produzir um efeito interpretativo ao encontrar uma mente interpretadora, efeito este que se constitui em outro signo ao qual Peirce dá o nome de interpretante. Bastam uns poucos exemplos para nos darmos conta de como o signo funciona. Exemplo de signo triádico: consideremos uma petição que um advogado faz a um juiz. A petição é um signo que representa a causa de um cliente (objeto do signo) para produzir um interpretante, quer dizer, outro signo que corresponde à interpretação que o juiz dará à petição. Trata-se aí de um signo verbal e, portanto, genuinamente triádico. Mas existe a possibilidade, e elas são muitas, de signos diádicos (secundidade) e signos monádicos (primeiridade): Exemplo de signo diádico (secundidade): um grito, no seu aqui e agora, é uma ocorrência que indica ou aponta uma situação de perigo, uma relação dual, portanto. Exemplo de signo monádico (primeiridade): uma música, sem letra, puro som, apresenta-se nos seus aspectos de qualidade sonora, deixando em aberto possibilidades que se assemelham a uma pluralidade de situações sonoras, que podem ser tomadas como objeto daquela música e, nessa indeterminação, está apta a produzir sentimentos como interpretantes na mente de quem ouve. A fenomenologia, portanto, está inserida dentro da semiótica. Há signos sob o domínio da primeiridade,da secundidade e da terceiridade. Disso advêm as conhecidas classes de signos da semiótica de C. S. Peirce: QUALI-SIGNOS ICÔNICOS (ícones) SIN-SIGNOS INDICIAIS (índices) LEGI-SIGNOS SIMBÓLICOS (símbolos) Vamos, então, relembrá-las: ÍCONE ÍNDICE SÍMBOLO ÍCONE Se o signo se apresentar como mera qualidade, ele só poderá estar em uma relação de semelhança com seu objeto e será, assim, um ícone. ÍNDICE Se o signo for um existente, aqui e agora, ele apontará para o seu referente ou objeto no universo em que existe e será, assim, um índice. SÍMBOLO Se o signo for uma lei, uma palavra, por exemplo, ou uma convenção cultural, ele necessariamente será um símbolo, representando seu objeto por força da convenção que faz a ligação entre ambos. AS CATEGORIAS, OS SIGNOS E AS MATRIZES A partir dessa retomada dos conceitos e das explicações da semiótica, não fica difícil perceber a ligação que as matrizes sonora, visual e verbal estabelecem com as categorias e com as classes de signos. Assim, a sonoridade está para a primeiridade do ícone; a visualidade, para a secundidade do índice; e o discurso verbal para a terceiridade do símbolo. SONORIDADE VISUALIDADE DISCURSOS VERBAIS SONORIDADE Dominam, entre signo-objeto-interpretante, relações de correspondência qualitativa, portanto, sugestivas e hipotéticas. VISUALIDADE Dominam relações duais, relações referenciais, factuais. DISCURSOS VERBAIS Comparecem relações necessárias, já que conectadas pela mediação da lei, quer dizer, a lei que rege especialmente, no mundo humano, mediações convencionais. Estabelecidas essas correspondências, era preciso compreender as variações que existem no campo da sonoridade, da visualidade e dos discursos. Desse modo, cada matriz foi desdobrada em modalidades de linguagem: nove modalidades para a linguagem sonora, nove para a linguagem visual e nove para a verbal. Infelizmente, essas modalidades não foram capazes de dar conta de variações mais finas que ocorrem nas manifestações de cada matriz. Assim, a investigação passou por um refinamento, que levou a 27 modalidades da sonoridade, 27 de visualidade e 27 da discursividade verbal. Não há necessidade de irmos adiante nas minúcias analíticas que estão implícitas nessas 81 modalidades e em seus possíveis cruzamentos, pois as nove modalidades principais já são capazes de evidenciar o funcionamento das modalidades. A lógica de distribuição dessas modalidades baseia-se na reaplicação da lógica das categorias em níveis que vão do macro ao micro, conforme veremos, a seguir, na explanação da matriz sonora. A MATRIZ SONORA E SUAS MODALIDADES Em sua natureza icônica, a sonoridade é a matriz-fonte, ocupando a posição de primeiridade na ordem das linguagens. O fato de estar sob o domínio da primeiridade não significa que a indexicalidade e a simbolicidade não se façam presentes também na música, mas sempre como submodalidades da iconicidade. Assim, ao trabalhar as modalidades da matriz sonora, a lógica das três categorias e seus signos correspondentes foi reaplicada em níveis do macro ao micro, à maneira de fractais (SANTAELLA, 2001). Para ficarmos apenas nas nove modalidades iniciais, obtém-se: 1. MATRIZ SONORA 1.1 As sintaxes do acaso 1.1.1 O puro jogo do acaso 1.1.2 O acaso como busca 1.1.3 As modelizações do acaso 1.2 As sintaxes dos corpos sonoros 1.2.1 A heurística das qualidades sonoras 1.2.2 A dinâmica das gestualidades sonoras 1.2.3 O som sob a tutela das abstrações 1.3 As sintaxes das convenções musicais 1.3.1 O ritmo e a primeiridade 1.3.2 A melodia e a secundidade 1.3.3 A harmonia e a terceiridade O eixo da sonoridade encontra-se na sintaxe. A sintaxe é entendida como organização sequencial de elementos no tempo. É isso que faz da música uma arte do tempo, e seus parâmetros comprovam isso: duração, intervalo, compasso, aceleração, repetição, retrogradação etc. Tudo isso sob a tutela das alturas, da intensidade e dos ritmos que, nas suas naturezas de primeiridade, são primordiais na música. SAIBA MAIS A numeração anterior é indicadora da lógica que rege as categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade. Onde houver o número 1, há indicação de primeiridade; o número 2, de secundidade; e o 3, de terceiridade. As misturas dos números indicam misturas entre as categorias. Assim, (1.1), o item relativo às sintaxes do acaso, indica que esses tipos de sintaxe estão sob o domínio do primeiro do primeiro, (1.2) indica o segundo do primeiro, e assim por diante. O que essa redistribuição quer dizer, na realidade, é que a sonoridade pode adquirir características que a aproximam da lógica, essencial à visualidade. Também pode se aproximar da lógica que é prerrogativa do discurso verbal, a lógica das leis, dos cálculos e controles, das codificações e convenções dos sistemas. É preciso considerar que as analogias são lógicas. O fato de a música se aproximar da lógica da visualidade não quer dizer que ela se torne visual, mas que ela adquire dominâncias de secundidade. A mesma coisa podemos dizer em relação à analogia da música com o verbal. Desse modo, onde há o número 1, estamos diante do possível, indefinido, vago, indeterminado, das questões do acaso, do sui generis, do qualitativo, da originalidade etc. – um universo em que a sonoridade transita com maior desenvoltura. Onde há o número 2, estamos dentro de um universo em que surgem, com mais ou menos força, as presenças e os fatos aqui e agora, as singularidades, as gestualidades, o improviso etc. – um universo em que a lógica do visual é capaz de dominar com grande eficácia. O número 3 indica a soberania da lei em todas as suas manifestações, o mental, o intelectual, o controle, as invariâncias, os sistemas, de que o discurso verbal é exemplar. As misturas, evidentemente, indicam hibridizações possíveis entre essas lógicas. SINTAXES DO ACASO As sintaxes do acaso encontram-se no universo do primeiro, universo de puras possibilidades qualitativas. Sob o ponto de vista da sintaxe, possibilidades qualitativas, altamente indeterminadas, quer dizer, libertas de quaisquer regras ou leis regendo suas ocorrências, só podem ser sintaxes do acaso. No momento em que a linguagem musical rompe as molduras dos sistemas preestabelecidos de leis e regras que prescrevem o ato de compor, essa linguagem fica mais flagrantemente exposta às irrupções do acaso. Isso se acentua sobremaneira a partir do alargamento desmesurado dos materiais sonoros resultante do advento de tecnologias sonoras, especialmente da síntese numérica que, permitindo a produção de efeitos sonoros de todas as ordens, transformou a composição musical em atos de escolhas em uma miríade de possíveis. Prenunciando essa revolução que estava por vir, desde o início do século, principalmente depois do poeta francês Stéphane Mallarmé (1842-1898), e desde o movimento Dada, os artistas fizeram do caos um tema artístico de relevância. Stéphane Mallarmé como um fauno, na revista literária Les hommes d'aujourd'hui, 1887. DADA Dada ou dadaísmo pertence ao contexto das vanguardas europeias, caracterizando-se por ser um movimento de crítica cultural, de rejeição ao sistema racional e às regras. Também se caracteriza pela ironia, inconformismo, polêmica e anarquia. javascript:void(0) No campo da música, é exemplar a posição assumida pelo compositor norte-americano John Cage (1912-1992). Para ele, música são sons, sons à nossa volta, estejamos ou não em salas de concerto. Para conhecer um pouco do trabalho de John Cage, ouça uma interpretação da música Dream, do compositor, com síntese sonora e instrumentos digitais. No interior das sintaxes do acaso existem distinções que permitem redistribuir a lógica das três categorias no interior dessa modalidade. O resultado leva a um desmembramento em três submodalidades que assim se expressam: O puro jogo do acaso O acaso como busca As modelizações do acaso São variações baseadas no jogo com os elementossonoros sem premeditação, ou na busca pelo acaso empreendida pelo compositor, ou, ainda, na utilização de modelos matemáticos de formalização do acaso. Tudo isso soando à escuta. EXEMPLO Podemos citar o compositor e arquiteto grego, naturalizado francês, Iánnis Xenákis (1922- 2001). Ele foi um compositor considerado pelos fenômenos naturais caóticos, fenômenos sonoros de complexidade densa, tendo buscado encontrar meios matemáticos de realização composicional para esses fenômenos. SINTAXE DOS CORPOS SONOROS O contexto da sintaxe dos corpos sonoros é aquele em que a linguagem vernacular da música, aquela que é baseada em escalas, subordinada à sintaxe das alturas e durações, passou a representar uma pequena área do universo sonoro. Desenvolvimentos como atonalidade, serialismo total, a expansão dos instrumentos percussivos e o advento da música eletroacústica foram contribuindo para o reconhecimento crescente da musicalidade inerente a todos os sons. ATONALIDADE A música atonal se caracteriza pela ausência do princípio da tonalidade. Tonalismo na música caracteriza-se pela organização da composição musical em torno de uma nota tônica, que é a nota principal, seguindo determinadas regras harmônicas. A tonalidade de um determinado trecho da composição musical é definida pela tônica. javascript:void(0) javascript:void(0) SERIALISMO TOTAL Reinterpretação da música serial, também chamada de dodecafônica, aplicando o princípio da série à altura, à duração, à intensidade e ao timbre dos sons. Trata-se de som em estado nativo, o som em si mesmo, nas suas vibrações e cores, tal como pode ser percebido independentemente de qualquer sistema musical e de qualquer notação em particular, assim como de qualquer referência ao modo como foi produzido (CHION, 1991). A partir disso, os compositores passaram a criar suas composições em modalidades que podem ser percebidas dentro do horizonte da primeiridade da música em combinação com a secundidade da descoberta da qualidade do som em si, enquanto soa, ou do gesto que produz o som, e ainda das sintaxes sonoras pensadas no abstrato de suas combinatórias possíveis. SINTAXE DAS CONVENÇÕES MUSICAIS No nível do terceiro do primeiro, o exemplo mais próximo é o da música tonal, regida pelos parâmetros do ritmo, melodia e harmonia (MARTINEZ, 1991), que são interdependentes e quase sempre inseparáveis. Assim como o ritmo está presente na melodia e harmonia, estas também colaboram na definição rítmica da música, havendo a possibilidade até mesmo de se falar de um tipo de harmonia própria do ritmo e da melodia. Embora inseparáveis, esses três componentes da música são inconfundíveis, o que permite o artifício de sua separação para fins de análise. Pode-se definir e explicar o ritmo na sua autonomia e a mesma coisa pode ser feita com relação à melodia e à harmonia. Vejamos: RITMO O ritmo apresenta formas de organização diversificadas que variam historicamente. Segundo Machlis (1963, p. 40-47), a linha evolutiva da música ocidental, de 1600 a 1900, caminhou na direção da organização métrica do ritmo em padrões regulares, que alcançou seu clímax na época clássica-romântica. Padrões rítmicos regulares criam expectativas cujo preenchimento funciona como uma fonte de prazer para o ouvinte, gerando um estado de bem-estar físico inerente ao movimento regular do corpo. Entretanto, no século XIX, cansados dos metros padronizados, os compositores começaram a experimentar novos ritmos, tais como ritmos cruzados que trocam os acentos dentro da medida, de modo que uma passagem escrita em tempo ternário brevemente assume o caráter de tempo binário ou vice-versa. Na música popular, os ritmos, mesmo quando originais, não entram em combinatórias muito complexas, como ocorre em composições de música erudita de que a Sagração da Primavera, de Stravinsky, é um exemplo. MELODIA A melodia tem uma grande diversidade de caracteres. Em função disso, é necessário tomar como ponto de partida uma definição bem ampla. Segundo Miller (1978, p. 25), a melodia se constitui de sons consecutivos que variam em altura e duração. É muito comum a analogia da melodia com as palavras de uma sentença. A sucessividade das diferentes alturas e durações das vogais constitui-se na primeira forma melódica produzida pelo humano. HARMONIA A harmonia é mais complicada, ela é a combinação simultânea das notas em contraposição à consecutividade da melodia. Enquanto a harmonia é vertical, a melodia é horizontal. É a harmonia que dá profundidade à melodia, do mesmo modo que a perspectiva dá profundidade a uma pintura. O papel da harmonia pode ser o de uma simples acompanhante da melodia, mas ela também pode se transformar em uma cúmplice, sustentando, guiando e até mesmo desafiando a melodia. Historicamente, houve uma evolução gradativa na participação da harmonia junto à melodia. Partindo da função de suporte da melodia, a harmonia, no período clássico- romântico, acabou por dar forma à melodia, conduzindo o desenho de suas curvas (MACHLIS, 1963, p. 637). Sem entrarmos nos detalhes mais minuciosos dessas explicitações que pertencem à teoria musical, basta dizer que o ritmo está cifrado no nível do primeiro, a melodia no nível do segundo e a harmonia no nível do terceiro. Todos eles sob a égide da terceiridade no universo da primeiridade em que a sonoridade reina. No vídeo a seguir, o professor Rafael Iorio apresenta o conceito de matrizes da linguagem, com ênfase na matriz sonora da linguagem e suas modalidades, destacando implicações na música. Vamos assistir! VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Identificar a matriz visual da linguagem A VISUALIDADE Quando se fala em visualidade, logo se pensa em imagem. Certamente, a imagem é dominantemente visual, embora existam imagens sonoras, imagens verbais, mentais e oníricas. Cada uma delas apresenta suas características semióticas próprias. Como estamos tratando aqui da matriz visual no campo das linguagens, falaremos sobre a imagem visual. Entretanto, quando nos referimos à matriz visual, ela engloba outras realidades visuais que nem sempre podem ser chamadas de imagens, como são os diagramas, os gráficos, as tabelas, os sinais de trânsito etc. A matriz visual é uma dentre as três matrizes da linguagem e pensamento desenvolvidas por Santaella (2001), baseadas nas três categorias e nas correspondentes três classes de signos desenvolvidas na semiótica de C. S. Peirce, como vimos no Módulo 1. RELEMBRANDO A categoria da primeiridade e a classe dos quali-signos icônicos se reportam aos seus objetos por similaridade. A categoria da secundidade e a classe dos sin-signos indiciais se reportam aos seus objetos porque apontam direta ou indiretamente para eles. A categoria da terceiridade e a classe dos legi-signos simbólicos representam seus objetos por convenção. A sonoridade situa-se na primeira categoria, a visualidade na segunda e o discurso verbal na terceira. Costuma-se pensar o visual e seus sucedâneos imagéticos na categoria dos ícones. Certamente, imagens são ícones, mas só o são porque, quando chegamos na segunda categoria (secundidade – índice), ela embute a primeira categoria (primeiridade – ícone). Diferentemente da norma, com base em princípios semióticos mais precisos, Santaella (2001) argumenta que a referencialidade que é própria da visualidade está sob o domínio da secundidade e da indexicalidade. Isso é elevado às últimas consequências na fotografia que, embora seja imagem, fica mais proeminentemente sob o domínio do índice. Aquela imagem que aparece na foto indica, de fato, algo da realidade que foi capturado existencialmente na foto. Mas para que isso se torne mais claro, é preciso retomar alguns conceitos. O primeiro deles, o conceito de signo. RETOMANDO O CONCEITO DE SIGNO Qualquer coisa pode ser um signo, desde que esteja no lugar de alguma outra coisa, que passa a funcionar como objeto do signo. Mas ele só funcionará como signo quando encontrarum intérprete, ou seja, quando produzir na mente desse intérprete uma interpretação que é outro signo, chamado de interpretante. São três as classes principais de signos: QUALI-SIGNO ICÔNICO REMÁTICO SIN-SIGNO INDICIAL DICENTE LEGI-SIGNO SIMBÓLICO ARGUMENTAL QUALI-SIGNO ICÔNICO REMÁTICO O quali-signo icônico remático só pode funcionar como signo por meio da semelhança entre as propriedades qualitativas exibidas pelo signo e as propriedades do objeto. Nesse caso, o signo produz interpretantes hipotéticos ou remáticos. SIN-SIGNO INDICIAL DICENTE O sin-signo indicial dicente só funciona como signo porque está existencialmente conectado àquilo que indica e, portanto, produz como interpretante uma constatação: isto está ligado àquilo. LEGI-SIGNO SIMBÓLICO ARGUMENTAL O legi-signo simbólico argumental necessariamente funciona como signo do objeto que representa, pois ambos estão ligados por uma lei, comumente uma convenção. QUALI-SIGNO ICÔNICO REMÁTICO javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) O termo quali-signo designa a relação do signo consigo mesmo, indicando que ele é uma qualidade. O adjetivo icônico, que remete ao ícone, corresponde à relação de similaridade com aquilo que o signo representa. O adjetivo remático refere-se ao rema, que tem a ver com a relação do signo com o seu interpretante. Ou seja, o signo sendo qualidade, apresenta-se ao seu interpretante como hipótese ou rema. SIN-SIGNO INDICIAL DICENTE O termo sin-signo designa o signo que em si mesmo tem existência. O prefixo sin está relacionado à ideia de algo único, singular, ao aqui e agora. Está relacionado à constatação de que os signos podem ser um fato. O adjetivo indicial corresponde ao índice, que tem uma relação direta com seu objeto. O adjetivo dicente corresponde à relação didática na qual o sin- signo se situa. LEGI-SIGNO SIMBÓLICO ARGUMENTAL O termo legi-signo designa a relação do signo consigo mesmo, a partir da natureza de leis ou hábitos. O termo simbólico remete a símbolo e designa a conexão do signo com os objetos, a partir de hábitos ou usos. O adjetivo argumental remete a argumento e designa a relação do signo com seu interpretante, ou seja, os signos sendo leis, vão se apresentar ao seu interpretante como argumentos. Diante disso, por que os signos visuais estão dominantemente na matriz da secundidade, indicial? Antes de tudo, a prevalência da secundidade sin-sígnica (índice) no visual já nasce sob efeito do próprio sentido da visão. Não são poucos os teóricos que têm apontado para o coeficiente de facticidade com que o sentido da vista se apresenta. A visão é direcional, visa a um objetivo. O olhar é guiado para o objeto da atenção. O campo visual define um contorno, para além do qual tudo se apaga. O visível tem bordas que só não são rigidamente demarcadas devido aos limites imprecisos da visão periférica, que nos alerta para o perigo daquilo que se move ao nosso redor. Diferentemente do som, que inevitavelmente passa sem deixar outro rastro a não ser uma suave impressão na memória, o visível tem algo de estável, destaca-se de um fundo amorfo, adquire a compleição de um objeto. Os objetos visuais não são fontes de luz, mas luz refletida em uma superfície. Quando o objeto é ele mesmo luminoso, fonte de luz, ele perde o contorno, deixando de ser um objeto, para adquirir características alteráveis, matizadas. Para a visão, algo se apresenta aqui e agora e insiste na sua alteridade, em algo fora de nós, com uma definitude que lhe é própria, algo concreto, físico, palpável, oferecendo-se à identificação e reconhecimento. Se não fosse por essa fisicalidade, por esse senso de externalidade que acompanha a percepção visual, não teríamos meios de distinguir entre o visível e aquilo que é alucinado, devaneado ou sonhado. Por isso mesmo, estes últimos começam a perder os traços de secundidade, que são próprios do visual para adquirir traços de primeiridade. A MATRIZ VISUAL E SUAS MODALIDADES A hipótese desenvolvida por Santaella (2001), justamente, é a de que o eixo da visualidade está na forma. ATENÇÃO É certo que "imagem" e "forma" podem ser intercambiadas em muitos contextos, tanto que, nos casos em que funcionam como sinônimas, as duas palavras podem ser empregadas indiscriminadamente. Entretanto, a palavra "forma" pode também significar um atributo ou propriedade da imagem. É nessa noção de atributo que é preciso colocar ênfase, de modo que, quando as propriedades da forma aparecem na música ou no verbal, tem-se aí um empréstimo ou deslizamento da lógica de uma matriz, no caso a visual, para as outras matrizes. A partir do eixo da forma como estruturador, temos a seguinte redistribuição das categorias e classes de signos sobre esse eixo: 2. MATRIZ VISUAL 2.1 Formas não representativas 2.1.1 A qualidade reduzida a si mesma: a talidade 2.1.2 A qualidade como acontecimento singular: a marca do gesto 2.1.3 A qualidade como lei: a invariância 2.2 Formas figurativas 2.2.1 A figura como qualidade: o sui generis 2.2.2 A figura como registro: a conexão dinâmica 2.2.3 A figura como convenção: a codificação 2.3 Formas representativas 2.3.1 Representação por analogia: a semelhança 2.3.2 Representação por figuração: a cifra 2.3.3 Representação por codificação FORMAS NÃO REPRESENTATIVAS (2.1) Formas não representativas dizem respeito à redução da declaração visual a elementos puros: tons, cores, manchas, brilhos, contornos, formas, movimentos, ritmos, concentrações de energia, texturas, massas, proporções, dimensão, volume etc. A combinação de tais elementos não guarda conexão alguma com qualquer informação extraída da experiência visual externa. São relações visuais intrínsecas que não estão a serviço de qualquer ilustração. São propriedades sensíveis da luz, do pigmento, da forma e do volume que se estruturam em uma unidade qualitativa autônoma e independente. Ou melhor: são formas que carecem material, estrutural e iconograficamente de qualquer referência ao exterior. Não são figurativas, nem simbólicas, não indicam nada, não representam nada. São o que são e não outra coisa. Vejamos as três modalidades de formas não representativas: A QUALIDADE REDUZIDA A SI MESMA: A TALIDADE No seu primeiro nível, as formas não representativas surgem como a qualidade reduzida a si mesma: a talidade. A talidade quer dizer qualidade tal qual é, em si mesma, sem relação com nenhuma outra coisa. Nesse caso, no limite do despojamento, os elementos visuais básicos, matéria-prima da linguagem visual, apresentam-se a si mesmos. São qualidades sensíveis presentificadas na sua talidade, criando a visão de formas nunca vistas anteriormente. São efeitos de formas, qualidades de linha e superfície, combinações de massas e volumes, tanto quanto possível libertos de esquemas, diagramas ou de composições. View of handyman drip art wall painting closeup on section, Tomwsulcer, 2010. Nada se lhes assemelha e, por isso mesmo, tudo pode se lhes assemelhar, pois, lembrando o que nos sugere o escritor russo Vladimir Nabokov (1899-1977) no seu romance Fogo Pálido, pessoas diferentes podem ver semelhanças de modos diferentes e perceber diferenças de modos semelhantes. A arte visual pictórica e mesmo a escultura apresentam uma abundância de exemplos de formas não representativas despojadas de qualquer tipo de referencialidade. A QUALIDADE COMO ACONTECIMENTO SINGULAR: A MARCA DO GESTO Caracteriza-se como marca do gesto. Quando as qualidades não têm nenhum poder de referencialidade em relação ao mundo exterior, elas acabam apontando para o gesto que lhes deu origem. Nessa medida, nas qualidades, ficam inevitavelmente imprimidas as marcas do modo como foram produzidas. É por isso que, na própria qualidade, estão os vestígios dos meios e instrumentos utilizados para a sua realização. São justamente esses vestígios que nos permitem detectar a origem das diferenças de qualidade. Fica claro, a partir disso, por que a expressão"marca do gesto" é utilizada em um sentido muito liberal e extensivo. Não se trata apenas do gesto corporal-humano, mas do gesto produtor em geral, ou seja, de marcas físicas imprimidas na qualidade das formas e dos suportes dessas formas. Jackson Pollock enquanto pinta. Exemplo clássico desse tipo de modalidade encontra-se nas obras do pintor norte-americano Jackson Pollock (1912-1956), um dos criadores do expressionismo abstrato e que valorizava o movimento corporal e os gestos na criação artística. A QUALIDADE COMO LEI: A INVARIÂNCIA Mesmo as cores, qualidades aparentemente desregradas, configuram-se em um sistema que obedece a leis definidas e precisas. As cores se movem em direções bem determinadas, de acordo com sua posição no círculo cromático, apresentando maior ou menor grau de claridade, maior ou menor grau de pureza e comportamentos especiais específicos. Pelo jogo das complementares, pelos contrastes simultâneos, pela propriedade de avançar ou recuar no sentido da retina e outros fenômenos derivados, as cores não se amoldam ao mero capricho de quem delas faz uso, mas estruturam-se segundo leis que lhes são intrínsecas. Foi em função dessas leis que o pintor francês Georges Seurat (1859-1891), pioneiro no neoexpressionismo francês e no uso da técnica conhecida como divisionismo, estabeleceu as regras de organização sintática das unidades cromáticas, obtidas mediante a divisão do tom. Uma tarde de domingo na Ilha de La Grande Jatte, de Georges Seurat, 1884. FORMAS FIGURATIVAS (2.2) O que são formas figurativas? São imagens que funcionam como duplos, isto é, transpõem para o plano bidimensional ou criam no espaço tridimensional réplicas de objetos preexistentes e, muitas vezes, visíveis no mundo externo. São formas referenciais que, de um modo ou de outro, com maior ou menor ambiguidade, apontam para objetos ou situações em maior ou menor medida reconhecíveis fora daquela imagem. Por isso mesmo, nas formas figurativas, é grande o papel desempenhado pelo reconhecimento e pela identificação, que pressupõem a memória e a antecipação no processo perceptivo. Nessas formas, que buscam reproduzir o aspecto exterior das coisas, os elementos visuais são postos a serviço da vocação mimética, ou seja, produzir a ilusão de que a imagem figurada é igual ou semelhante ao objeto real (DONDIS, 1976). A figura como qualidade: o sui generis É a figura posta em relevo. Não em todos os seus aspectos, mas apenas no seu aspecto qualitativo. Trata-se de atentar para aquilo que a figura tem de primeiro, suas qualidades. Não apenas as qualidades em si (dimensão, volume, cor, textura, traço etc.), mas a qualidade da figura como figura, no sentido que aqui está sendo dado para a figura: referencial, denotativa, figurativa e indicial, pois se trata de uma figura que indica algo que está fora dela. Como indica? Com que tipo de qualidade? Os exemplos são inúmeros, especialmente na arte do modernismo, que se constitui em um verdadeiro manancial de figuras como qualidade, visto que os artistas tendem a criar figuras que funcionam como suas marcas registradas. Essa é uma das razões por que as telas do pintor francês Henri Matisse (1869-1954) ou do pintor holandês Vincent van Gogh (1853-1890) sejam inconfundíveis. É também pela qualidade inconfundivelmente pessoal de suas figuras que a autoria das telas do pintor grego El Greco (1541-1614) é imediatamente reconhecível. A dança, Henri Matisse, 1909. Autorretrato, Vincent van Gogh, 1889. O espólio, El Greco, 1577-1579. A figura como registro: a conexão dinâmica Não é por acaso que essa figura se apresenta sob a numeração 2.2.2. Ela representa o cerne da visualidade na sua característica de secundidade, figuratividade e indexicalidade. Nas formas figurativas, o caráter indicial, que sempre espreita as formas visuais, acentua-se, visto que aí a função significativa do ícone fica sempre subjugada à função denotativa do índice. A figura como registro: a conexão dinâmica ocupa o ponto central, o coração de toda a classificação, pois comprova que as formas de representação visuais têm sua matriz na indexicalidade. No caso da fotografia, paradigma desse tipo de imagem, a conexão dinâmica é genuinamente indicial. Já no caso das pinturas realistas, ela é referencial. Portanto, todos os casos de referencialidade devem ser tratados como casos de indexicalidade. A figura como convenção: a codificação Neste caso, entram em cena os sistemas de convenções gráficas utilizados para reproduzir o visível. ATENÇÃO Uma vez que o termo "convenção" é utilizado abusiva e imprecisamente, para evitar mal- entendidos, seu emprego deve ser limitado às relações semióticas colocadas por uma comunidade humana entre um signo e o que ele transmite, sem que o signo e o seu objeto sejam ligados de outra maneira a não ser por essa convenção. Parece evidente que, nas formas visuais figurativas, não é só a convenção que liga o signo, no caso a figura, àquilo que ele denota, visto que os aspectos icônicos e indexicais não deixam de atuar com relevância. Entretanto, quando nos referimos às convenções figurativas, torna-se proeminente o fato de que não se pode simplesmente imitar a forma exterior de um objeto sem ter antes aprendido como construir tal forma, isto é, sem a aquisição de um vocabulário convencional de projeção gráfica ou plástica das imagens. A convenção implica sistemas de codificação que devem ser aprendidos e que se transformam historicamente (ARNHEIM, 1976). Entram nessa categoria todas as imagens que seguem o sistema de codificação visual da perspectiva monocular. FORMAS REPRESENTATIVAS (2.3) As formas representativas, também chamadas de simbólicas, são aquelas que, mesmo quando reproduzem a aparência das coisas visíveis, essa aparência é utilizada apenas como meio para representar algo que não está visivelmente acessível e que, geralmente, tem um caráter abstrato e geral. Sua capacidade de representar depende do fato de que a relação que o símbolo mantém com o objeto representado se dá em virtude de uma lei, normalmente uma associação de ideias, que opera no sentido de fazer com que o símbolo seja interpretado como se referindo àquele objeto. Representação por analogia: a semelhança Na primeira modalidade, as formas representativas se apresentam como representação por analogia: a semelhança. Essas são formas simbólicas no sentido peirciano, quer dizer, convencionais, mas são, ao mesmo tempo, motivadas por manterem vínculos de semelhança com aquilo que representam. ATENÇÃO Embora essas formas se estruturem em sistemas e representem seus objetos por meio de leis gerais, estabelecidas por hábito ou convenção, há entre ambos (signo e objeto) uma relação de analogia, que se caracteriza por certo teor de semelhança aparente ou diagramática. Portanto, convenções culturais são necessárias ao entendimento dessas formas, mas a arbitrariedade de seus símbolos associa-se a elementos de semelhança entre signo e objeto. As gravuras orientais apresentam tais características pois são análogas às formas de representação do mundo. Isso fica visível nas proporções da natureza e do humano dentro dela, ou seja, a natureza abriga o humano sem oprimi-lo. Uma festa no inverno, Utagawa Toyoharu. Representação por figuração: a cifra Na segunda modalidade das formas representativas, encontra-se a representação por figuração: a cifra. Originalmente, o termo "cifra" se refere a um sistema que substitui letras de um texto corrido por letras ou números secretos equivalentes. A chave ou livro do código, que permite estabelecer a equivalência entre o texto corrido e as letras cifradas é chamado de alfabeto cifrado. Essa modalidade das formas visuais quer se referir às figuras que não guardam mais qualquer analogia com o objeto representado, de modo que essas figuras adquirem uma natureza hermética e críptica. Trata-se de figuras individuais aparentemente singulares. No entanto,elas não se referem nem às coisas singulares, nem à generalização do singular que as figuras poderiam indicar, mas a ideias gerais enigmáticas. EXEMPLO É o caso do sonho, das imagens surrealistas e das alegorias nas quais as figuras parecem ser indicativas, mas na realidade não se referem aos aspectos individuais para os quais elas aparentemente apontam, visto que funcionam como símbolos de ideias gerais e abstratas, que só podem ser entendidas depois de decifradas. A Persistência da Memória, Salvador Dalí, 1931. Representação por convenção: o sistema Na terceira modalidade das formas representativas, encontra-se a representação por convenção: o sistema. As formas visuais preenchem sua função representativa prescindindo das relações de similaridade e das relações figurativas, indicativas do objeto. Mesmo que essas relações possam, porventura, existir, não é isso que dá a essas formas o poder de representar. Elas representam seus objetos em função de convenções sistêmicas estabelecidas, de modo que as formas são partes integrantes de um sistema, só podendo significar em função desse sistema. Não é difícil constatar que "formas representativas por convenção: o sistema" têm seu protótipo na escrita alfabética, prolongando-se nos sistemas culturalmente convencionais como: NOTAÇÃO MUSICAL SÍMBOLOS QUÍMICOS SÍMBOLOS LÓGICOS SÍMBOLOS MATEMÁTICOS Todos eles apresentam analogias com os sistemas convencionais de escrita, pois são precisamente codificados, e neles cada elemento cumpre sua função significativa pela posição que ocupa em relação ao sistema inteiro. COMENTÁRIO No estudo desenvolvido por Santaella (2001), essas nove modalidades não esgotam todas as variações das linguagens visuais. Na realidade, nesse estudo, elas se estendem por 27 modalidades, sempre seguindo a mesma lógica fractal de se reintroduzir as três categorias repetidamente dentro de cada modalidade. A passagem das nove para as vinte sete permite caracterizar formas visuais como mapas, sistemas de trânsito etc. Entretanto, a explicitação das nove modalidades aqui desenvolvida já dá uma ideia de que a lógica semiótica é capaz de dar conta com coerência dos modos variados com que a visualidade se expressa. No vídeo a seguir, o artista e pesquisador Domingos Guimaraens relaciona as categorias e classes de signo à matriz visual da linguagem, destacando aspectos relacionados com as artes visuais. Vamos assistir! VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Identificar a matriz verbal da linguagem A LINGUAGEM VERBAL A partir da semiótica peirciana e sua fundamentação fenomenológica, podemos identificar três elementos fundamentais em todos os fenômenos ou em todas as categorias elementares e universais daquilo que torna qualquer experiência possível: A QUALIDADE E O SENTIMENTO O FATO ATUAL A ABSTRAÇÃO DO PENSAMENTO Dessas três categorias são extraídos três universos representativos básicos, ou melhor, universos semióticos que estão nos fundamentos das linguagens possíveis: UNIVERSO DAS QUALIDADES UNIVERSO DOS FATOS UNIVERSO DAS IDEIAS UNIVERSO DAS QUALIDADES No universo fenomênico das qualidades, inclusive das qualidades de sentimento, encontram-se correspondentemente os quali-signos icônicos, quer dizer, signos que operam de acordo com as relações de semelhança que os signos podem apresentar com seus objetos, os quais também podemos chamar de referentes, aquilo a que o signo se refere. UNIVERSO DOS FATOS No universo das ocorrências ou dos fatos, daquilo que efetivamente acontece, encontram- se os sin-signos indiciais, que se reportam aos seus objetos referenciados porque são partes deles e os indicam. UNIVERSO DAS IDEIAS O universo das leis ou das ideias, de que o universo humano é pródigo, é o universo das convenções, em que, por meio de convenções socioculturais, os signos denotam seus objetos. Essas três camadas sígnicas, que não são excludentes, mas complementares, aplicam-se ao campo das linguagens que partem de três grandes matrizes (SANTAELLA, 2001): Sonora A sonoridade encontra-se sob o domínio do quali-signo icônico. Visual A visualidade encontra-se sob o domínio do sin-signo indicial. Verbal A verbal encontra-se sob o domínio do legi-signo simbólico. Vamos, então, tratar agora do signo simbólico e da matriz verbal da linguagem. TRÊS TIPOS DE DISCURSOS Os discursos verbais apresentam uma imensa variedade de manifestações. Existem prosas literárias ou não. Existem notícias de jornal, bulas de remédios, menus de restaurantes. Existem textos científicos e textos poéticos, enfim, o número de variações parece tão grande a ponto de impedir qualquer tipo de classificação. Contudo, uma vez que os tipos de signos da semiótica peirciana são muito gerais e universais, podemos esperar algum auxílio vindo deles. Na base de todas as variações discursivas, existem três tipos de discursos sobre os quais há um certo consenso entre os estudiosos. O exame do modo como esses discursos se organizam, como eles se referem aos seus objetos de referência e os tipos de interpretação que estão aptos a produzir nos permite identificar, conforme Santaella (2001), o seguinte: Discurso descritivo Pertence à primeira classe de signos. Discurso narrativo Pertence à segunda classe de signos. Discurso dissertativo Pertence à terceira classe de signos. De fato, alicerçados nas categorias universais de Peirce, a descrição, a narração e a dissertação são os três grandes princípios organizadores da sequencialidade discursiva, habilidade de que a linguagem verbal é mestra, dado o seu potencial de indicar, representar algo a que ela se refere, ou seja, seu poder de referência. Quando falamos ou escrevemos, estamos sempre falando de algo, mesmo que seja de modo ambíguo. Portanto, como sistema de símbolos, a função representativa é fundamental à comunicação verbal. Os três tipos de discursos não são outra coisa senão as três situações representativas básicas que se constituem em princípios de organização sequencial do discurso verbal: DESCREVER NARRAR DISSERTAR Colocamos ênfase no sequencial porque, quando se fala ou se escreve, os signos verbais são colocados em sequência, uma palavra depois da outra. A discursividade, como sequencialização de um discurso descritivo, narrativo ou dissertativo, é uma característica própria da matriz verbal, visto que nenhuma outra linguagem consegue realizá-la de maneira tão otimizada quanto a linguagem verbal. Quando é afirmado que o discurso encontra as leis que governam seus níveis de complexidade organizacional ou seus princípios de sequência na descrição, narração e dissertação, isso quer dizer que o discurso exibe invariantes organizacionais, regularidades de estruturação e significação que se agrupam e se distinguem de acordo com três grandes classes de representação: DESCRIÇÃO NARRAÇÃO DISSERTAÇÃO O que importa, agora, é perceber quais são as modalidades em que cada um desses tipos de discursos se distribui. Afinal, nem todas as descrições são iguais e a mesma coisa pode-se dizer da narrativa e da dissertação. A MATRIZ VERBAL: SUAS MODALIDADES A reaplicação das classes de signos dentro da descrição, da narração e da dissertação revela modalidades bastante coerentes, na medida em que correspondem, de fato, a discursos manifestos, não faltando exemplos para ilustrá-los. Assim, podemos chegar a três modalidades de descrição, três de narrativa e três de dissertação, que correspondem logicamente aos elementos que apresentam de primeiridade, secundidade e terceiridade, como se verifica na matriz verbal. O discurso verbal encontra-se na categoria da terceiridade, mas há uma redistribuição do primeiro, segundo e terceiro, que o jogo numérico a seguir pode representar. 3. MATRIZ VERBAL 3. 1 Discurso descritivo 3.1.1 Descrição qualitativa 3.1.2 Descrição indicial 3.1.3 Descrição conceitual 3.2. Discurso narrativo 3.2.1 Narrativa espacial 3.2.2 Narrativa sucessiva 3.2.3 Narrativa causal 3.3.Discurso dissertativo 3.3.1 Dissertação hipotética 3.3.2 Dissertação indutiva 3.3.3 Dissertação argumentativa A DESCRIÇÃO E SUAS MODALIDADES Nas teorias do discurso, a descrição costuma ser definida como uma forma não narrativa de discurso. Toda vez que, no discurso narrativo, o desenvolvimento de uma ação é interrompido para a apresentação do cenário, dos caracteres físicos de uma personagem, entre outros, aí se encontra a descrição. Segundo Todorov (1980, p. 62), tanto a descrição quanto a narrativa pressupõem a temporalidade. Entretanto, suas temporalidades são diferentes: Descrição Tempo contínuo Narrativa Unidades de tempo descontínuas A descrição não é suficiente para criar uma narrativa, mas esta não exclui a primeira. Na definição semiótica do discurso descritivo, a ênfase deve estar posta exatamente na inescapável ligação da descrição não apenas ao existente, mas também ao sistema perceptivo, sensório do sujeito enunciador e do receptor. Descrever é traduzir para a linguagem verbal a apreensão que temos das qualidades das coisas, ambientes, pessoas e situações. Essa apreensão se dá por meio dos nossos sentidos, não apenas visão, audição, tato, paladar e olfato, mas também a imaginação, como uma espécie de sentido interior. Desse modo, a descrição se define como um processo de tradução das apreensões sensórias para a linguagem verbal. Se aquilo que os sentidos primeiramente apreendem são as qualidades positivas dos objetos, então, a descrição resulta da tentativa de se traduzir, pelo verbal, caracteres qualitativos que os sentidos captam. Consequentemente, a descrição pressupõe a percepção, a atenção e a observação, tanto a observação que se volta para fora quanto a observação abstrativa, voltada para dentro da imaginação Nem seria preciso evidenciar o quanto a linguagem visual é muito mais hábil para descrever do que a linguagem verbal. E essa habilidade não é evidenciada apenas em imagens, mas também em gráficos, infográficos, audiovisuais etc. Há três modalidades de descrição: Descrição qualitativa Apresenta-se no âmbito do ícone, aquele tipo de signo que, por ser mera qualidade, só pode se referir ao seu objeto por semelhança. Como isso se dá no texto verbal? Os exemplos mais flagrantes encontram-se no universo da linguagem poética, em textos que, no ato de descrever verbalmente, transformam o caráter linear da sintaxe verbal e, nos seus jogos de linguagem, acabam por recuperar no próprio signo qualidades sensíveis muito similares ao seu referente. Exemplo: Música Acrilírico, de Caetano Veloso: As hesitações entre o som e o sentido, as palavras que ecoam palavras vão gastando o significado até o ponto em que o amor se exaure morto no motor da saudade. Não há um afastamento entre o modo como se diz e aquilo que se diz, mistério da poesia. Descrição indicial É aquela que quebra o objeto descrito em partes e vai recompondo o todo do objeto nas relações entre suas partes. Esse é o tipo de descrição mais comum, pois a linguagem verbal não tem a mesma capacidade da imagem de captar o todo de uma só olhada. Vem daí a dificuldade de se descrever verbalmente. Nossos sentidos vão explorando pouco a pouco o objeto e traduzindo essa gradativa exploração sensória em palavras. Descrição conceitual Descreve o objeto conceituando-o. É o tipo de descrição que encontramos nas enciclopédias. É uma descrição que faz fronteira com a definição. Por exemplo, vamos a uma enciclopédia porque queremos saber o que é a família dos percevejos. Lá encontraremos descrições gerais que não dizem respeito a um percevejo particular, mas a uma classe de insetos. A NARRATIVA E SUAS MODALIDADES A narrativa tem sua matriz no discurso verbal. Mesmo quando a narrativa se manifesta em quadrinhos ou no audiovisual, há sempre um script na sua base. Não é por acaso que todos os tutoriais, destinados a ensinar como produzir uma história, apresentam-se como uma espécie de script. Você saberia dizer quais são os ingredientes de uma narrativa? De que esse tipo de discurso consiste? A narração corresponde ao universo da ação, do fazer: ação que é narrada. Portanto, a narrativa em discurso verbal caracteriza-se como o registro linguístico de eventos ou situações. Ação gera reação e dessa interação germina o acontecimento, o fato, a experiência. Por isso, aquilo que denominamos personagem só se define como tal porque faz algo. E os movimentos desse fazer só se processam pelo confronto com ações que lhes são opostas, que lhes opõem resistência. Isso gera a história: factual, situacional, ficcional, ou de qualquer outro tipo. Mas qualquer que seja o tipo terá sempre essa constante: conflito, coação, confronto de forças mais ou menos potentes. Para Bremond (1971, p. 113), toda narrativa consiste em um discurso que integra uma sucessão de acontecimentos de interesse humano na unidade de uma mesma ação. Onde não há sucessão, não há narrativa. Onde não há integração na unidade de uma ação, não há narrativa, mas somente cronologia, enunciação de uma sucessão de fatos não coordenados. Essa mesma posição é defendida por Todorov (1979, p. 124, 247), para quem a simples relação de fatos sucessivos não constitui uma narrativa: É NECESSÁRIO QUE ESSES FATOS ESTEJAM ORGANIZADOS, QUER DIZER, QUE TENHAM ELEMENTOS COMUNS. MAS SE TODOS OS ELEMENTOS SÃO COMUNS, TAMBÉM NÃO HÁ NARRATIVA, POIS NÃO HÁ O QUE CONTAR. Para Todorov, o núcleo narrativo está na intriga. A intriga mínima completa consiste na passagem de um equilíbrio a um outro. Uma narrativa ideal começa por uma situação estável que uma força qualquer vem perturbar, do que resulta um estado de desequilíbrio. Uma força dirigida no sentido inverso restabelece o equilíbrio. O segundo equilíbrio é semelhante ao primeiro, mas ambos nunca são idênticos. As modalidades do discurso narrativo distribuem-se em: NARRATIVA ESPACIAL NARRATIVA SUCESSIVA NARRATIVA CAUSAL NARRATIVA ESPACIAL Organiza a temporalidade de uma história de maneira não linear, portanto, fazendo uso criativo da temporalidade, em movimentos para frente e para trás que dão ao leitor a tarefa lúdica da montagem da história. Um dos exemplos mais ricos de narrativa que organiza espacialmente a temporalidade da história é Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa. A memória de Riobaldo, o contador da história, vai fazendo balancê nos acontecimentos narrados, antecipando alguns, retardando outros. Se buscarmos o fio da meada, perceberemos que o tempo se organiza em uma estrutura espacial que pode ser representada em um gráfico complexo. NARRATIVA SUCESSIVA Ao contrário da narrativa espacial, a narrativa sucessiva conta a história obedecendo com tanta precisão quanto possível o tempo em que ela transcorreu. Notícias de jornal costumam se estruturar desse modo para facilitar ao leitor a compreensão do acontecimento na temporalidade em que se desenrolou. NARRATIVA CAUSAL Organiza a temporalidade de uma história com ênfase nas causas e consequências de um acontecimento. A DISSERTAÇÃO E SUAS MODALIDADES Os dicionários definem a dissertação como exposição desenvolvida, escrita ou oral, de matéria doutrinária, científica ou artística, ou ainda como exposição, escrita ou oral, que os estudantes fazem de um ponto da matéria estudada. Nos thesaurus, a dissertação também aparece como exposição, sumário, relatório, caracterização, retrato, delineamento etc. A partir disso, fica claro por que a dissertação tem aparecido como um dos tipos de discurso no contexto da didática ou da pedagogia e não em outros contextos. Sem excluir esses significados já sedimentados pelo uso da palavra “dissertação”, para compreendê-la na ciência de dados, é preciso ir além do significado meramente didático da dissertação. Expandido seu sentido, a dissertação refere-se a conceituações, ao estabelecimento de leis gerais, a formulações abstratas. Na dissertação, entramos no habitat do intelecto. São operações mentais, que traduzemem leis e tipos gerais, ou seja, em conceitos, as ocorrências que se repetem e que se tornam hábito. É, portanto, a linguagem das fórmulas genéricas e convencionais. As modalidades de dissertação distribuem-se em: DISSERTAÇÃO HIPOTÉTICA DISSERTAÇÃO RELACIONAL DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA DISSERTAÇÃO HIPOTÉTICA Expõe hipóteses, sugestões e conjecturas, portanto, quase conceitos acerca dos fenômenos e ocorrências da vida. São textos inconclusivos, que ensaiam pensamentos sem dar a eles um ponto de resolução. DISSERTAÇÃO RELACIONAL Estrutura-se seguindo os andamentos do raciocínio indutivo, que consiste em partir de dados teóricos, gerais, e ir medindo o grau de aproximação dos fatos concretos à teoria. É um discurso que correlaciona suposições teóricas com fatos reais, de modo que os fatos funcionam como índices, exemplos ou ilustrações das suposições, que são tomadas como ponto de partida. DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA É a que costuma ser mais lembrada. Enquanto a dissertação relacional tem na sua base o raciocínio indutivo, a argumentativa sustenta-se no raciocínio dedutivo. Quer dizer, parte de premissas e tece as relações entre elas para alcançar uma conclusão convincente. Resumindo: Descrição Registro verbal das impressões de qualidade que as coisas despertam em nossos sentidos. Narração Registro de atos concretos, experiências singulares (sejam elas existenciais ou ficcionais). Dissertação Uma realidade que tem um modo de expressão puramente intelectiva, racional, e, como tal, de natureza geral, exigindo familiaridade e hábito. A linguagem verbal é, em si, convencional, baseada em regras e leis que o falante absorve pelo contato social e que incrementa pela formação educacional. Não é por acaso que a Matemática, a Lógica e a Estatística desenvolvem não apenas um vocabulário, mas também linguagens constituídas de símbolos próprios, cuja decodificação é quase inacessível aos leigos. A narrativa, ao contrário, embora seja também verbal, oral ou escrita, é o tipo de discurso mais acessível, não exigindo formação específica para ser compreendida. Isso não é fruto de qualquer milagre, mas apenas do fato de que a narrativa trata de situações vividas, um tipo de experiência que todos os humanos compartilham e com a qual se identificam porque estão vivos. Fica claro por que as narrativas sempre produziram, desde os tempos mais ancestrais, e continuam produzindo, a adesão dos sentimentos humanos, por meio: Sereia DOS MITOS Estátua de Teseu lutando contra o Minotauro. DOS HERÓIS ÉPICOS Édipo e a Esfinge, Jean-Auguste Dominique Ingres, 1808. DAS TRAGÉDIAS QUE CORTAM O DESTINO Cartaz do filme Minha Mãe é Uma Peça. DAS COMÉDIAS QUE NOS FAZEM RIR Cena da série Elite, na Netflix. DOS STREAMINGS QUE POVOAM NOITES MAL DORMIDAS Livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. DA GRANDE LITERATURA CUJA LEITURA ENOBRECE NOSSAS EXISTÊNCIAS No vídeo a seguir, o professor Luís Dallier comenta sobre as modalidades da matriz verbal da linguagem, destacando aspectos da descrição, narração e dissertação. Vamos assistir! VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 4 Reconhecer os modos de hibridização das linguagens LINGUAGEM E HIBRIDIZAÇÃO Se não estivermos presos a uma visão de que a linguagem se restringe à linguagem verbal, as linguagens são muitas. Desde a revolução industrial e a revolução eletrônica, seguidas pela revolução informática e digital, o poder multiplicador e o efeito proliferativo das linguagens estão se ampliando de modo crescente. O exemplo da invasão das imagens é, por si só, bastante significativo. Tanto é que, para muitos, estamos na era da imagem. Entretanto, já passou essa era dominante de registro físico de fragmentos do mundo, iniciada com a fotografia e seguida por cinema, TV, vídeo e holografia, pois estamos instalados agora em plena efervescência da era pós-fotográfica, de geração sintética das imagens e principalmente da hipermídia, que é a linguagem própria das redes. Não há quase nada de natureza real, artificial, simulada ou fictícia que o imaginário numérico não dê conta de colocar nas telas dos computadores e dos smartphones. Isso não é menos verdadeiro no universo sonoro. Com o advento do sintetizador e do controle por meio do computador, não há parâmetro sonoro dotado de uma significação física que não possa ser manipulado eletronicamente, em um grande número de combinações e variações praticamente infinitas (CHION, 1997). Além de crescerem na medida exata em que cada nova mídia é inventada, as linguagens também crescem com o casamento entre meios. EXEMPLO O jornal está hoje transmutado nas plataformas e nos aplicativos das redes interativas de comunicação. A foto e o cinema expandiram-se para além das suas fronteiras tradicionais. A escrita se modificou, não se limitando mais ao espaço gráfico, mas se manifestando no ambiente eletrônico ou digital. Enfim, o universo midiático nos fornece uma fartura de exemplos de hibridização de meios, códigos e sistemas. São esses processos de hibridização que atuam como propulsores para o crescimento das linguagens. Não é à toa que as linguagens já tomaram literalmente conta do mundo. Estejamos ou não atentos a isso, estamos dia e noite, em qualquer rincão do planeta, com maior ou menor intensidade, imersos em signos e linguagens, rodeados de livros, que o Kindle carrega com leveza, de jornais e revistas on-line, de sons variados no Spotify, e de mensagens instantâneas trocadas nas redes sociais. Além disso, somos bombardeados por imagens, palavras, música, sons e ruídos vindos da televisão, de filmes e séries em streaming na rede das redes, em que podemos navegar pela informação e nos conectar com qualquer parte do mundo em frações de segundos. Não há nenhum indicador de que as linguagens deverão parar de crescer. Ao contrário, com sua diversificação no planeta, a tendência é que elas busquem novos habitats no espaço celeste. AS MATRIZES DA LINGUAGEM E PENSAMENTO NA BASE DAS HIBRIDIZAÇÕES Para nos orientarmos nesse emaranhado híbrido de linguagens, é preciso buscar um tratamento teórico e metodológico que nos permita compreender como os signos se formam e como as linguagens e os meios se combinam e se misturam. É esse alvo que a teoria das matrizes de linguagem e pensamento procurou alcançar ao postular que a multiplicação crescente de todas as formas de linguagem tem suas bases em três e não mais do que três matrizes do pensamento e linguagem: a matriz verbal, a matriz visual e a matriz sonora. O termo matriz é derivado da Matemática. Deslocado para o contexto das linguagens significa trazer para esse universo a ideia de princípios basilares, abstratos que norteiam as formas de organização que caracterizam a sonoridade, a visualidade e a discursividade verbal. Como matrizes, esses sistemas de signos estão na base de todas as misturas e hibridizações das linguagens, com as quais convivemos cotidianamente. DE ONDE VÊM AS MISTURAS? COMO AS LINGUAGENS HIBRIDIZAM-SE? A matriz sonora, a visual e a verbal são as formas menos miscigenadas de linguagens. Mas elas desdobram-se em modalidades, portanto, em variações que, inclusive, se misturam. Esses desdobramentos podem gerar 27 modalidades de desdobramentos da matriz sonora, 27 da visual e 27 da verbal. Além disso, elas podem se misturar entre si, o que vai ocasionando um denso caldeirão de misturas. ATENÇÃO Como se não bastasse, é preciso considerar que não há linguagens puras. Todas as linguagens são híbridas. E isso já começa nas matrizes. Apenas a sonoridade alcançaria certo grau de pureza se o ouvido não fosse tátil e se não se ouvisse com o corpo todo. A visualidade, mesmo nas imagens fixas, também é tátil, além de absorver a lógica da sintaxe, que vem do domínio do sonoro. A escrita absorve o eixo da sintaxe do domínio sonoro e o eixo da forma do domínio visual. Quando se trata de linguagens existentes, manifestas, a constatação imediata é a de que todasas linguagens, uma vez corporificadas, são inevitavelmente híbridas. A lógica das três matrizes e suas 27 modalidades, desdobradas em 81, permite-nos inteligir, como ponto de partida, os processos de hibridização de que as linguagens se constituem. Na realidade, cada linguagem existente nasce do cruzamento de algumas submodalidades de uma mesma matriz ou do cruzamento entre submodalidades de duas ou três matrizes. Quanto mais cruzamentos se processarem dentro de uma mesma linguagem, mais híbrida ela será. Desse modo, só para ficarmos em alguns exemplos, a linguagem verbal oral, a fala, apresenta fortes traços de hibridização tanto com a linguagem sonora quanto com a linguagem visual na gestualidade que a acompanha. A arquitetura, nos seus aspectos rítmicos e harmônicos, também se entrelaça com a sonoridade, além de ser visual e tátil. Dentre todas as linguagens, é a mais visualmente tátil, pois a arquitetura envolve nossos corpos, como uma espécie de terceira pele, depois da vestimenta, que funciona como uma segunda pele. Todas as formas de linguagem visual em movimento (cinema, TV, vídeo e computação) entrelaçam-se com a sonoridade na sintaxe temporal que as caracteriza, assim como se entrelaçam com diversas submodalidades de discurso verbal, a narrativa, principalmente. Evidenciada essa lógica de intercâmbios, como ficam as linguagens em relação aos meios ou mídias? A profusão de mídias é atualmente de uma tal dimensão, sua participação na vida social é tamanha que, frente às mídias, tudo o mais parece se apagar até o ponto do esquecimento de que dentro das mídias correm linguagens que se misturam, se cruzam e se complementam. javascript:void(0) Por explorarem as raízes sígnicas que estão subjacentes às mídias particulares, a teoria das matrizes de linguagem e pensamento, antes de tudo, permite-nos escapar de uma visão instrumental das mídias, na medida em que nos coloca em diálogo com aquilo que efetivamente nos constitui como humanos, o nosso ser de linguagem. MODOS DE HIBRIDIZAÇÃO DE LINGUAGENS Para que nos livremos de uma fixação exclusiva nas mídias, que leva ao esquecimento das linguagens que por elas transitam, vejamos uma cartografia básica dos modos como as linguagens se misturam. LINGUAGENS SONORO-VERBAIS (ORAIS) No cruzamento do som com o verbo, encontra-se a linguagem da canção. Tem-se aí a fala que se engendra em música ou a música engendrando-se na fala. Inseparável da letra, o som limita-se a acompanhar o potencial sonoro da fala: suas durações, articulações, entonações e ritmos. Os papéis desempenhados pela letra e pelo som evidenciam que suas inter-relações variam enormemente, desde o nível em que o som simplesmente cumpre o papel de mero acompanhante da letra até o nível em que a letra não passa de subsídio ou trampolim para a exploração timbrística da voz como instrumento. Evidentemente, a canção só é sonoro-verbal quando transmitida a distância, visto que a interpretação da canção na presença física do intérprete se constitui em um recurso visual que leva a canção para o sonoro-verbo-visual. No cruzamento sonoro-verbal, encontra-se também a linguagem do rádio, infelizmente muito pouco explorada na sua natureza de linguagem. O rádio aciona uma pluralidade de signos: som, ruído, ruído ambiente, música, música de fundo, voz, fala, texto, narrativa, novela etc. Pode, inclusive, trabalhar com planos superpostos desses signos. Quaisquer que sejam suas variações, entretanto, elas sempre se enquadram no cruzamento do sonoro com o verbal oral. LINGUAGENS SONORO-VISUAIS A música contemporânea tem sido pródiga nos cruzamentos do sonoro com o visual. As apresentações públicas das composições eletroacústicas fazem uso da disposição espacial das caixas de som criando uma verdadeira arquitetura sonora, por vezes de grandes dimensões. As colocações da sonoridade em cena são de tipos variados, recebendo os nomes de música- instalação, performance sonora, teatro instrumental e, mais recentemente, de audiovisual ao vivo. LINGUAGENS VISUAIS-SONORAS A primeira linguagem a se inserir nesse cruzamento é, sem dúvida, a arquitetura. Ficou famosa a observação do escritor alemão J. W. Goethe (1749-1832) de que a arquitetura é a música congelada, o que foi rebatido pelo compositor e engenheiro francês Pierre Schaeffer (1910- 1995) ao argumentar que a arquitetura, na verdade, é a música que fala. De fato, a arquitetura replica no plano visual uma característica fundamental da música que está nas suas relações de iconicidade interna: paralelismos, hierarquias icônicas, repetições, contrastes, movimentos ascendentes, descendentes, variações sobre um mesmo tema, inversões, retrogradações etc. Catedral de Brasília, cujo projeto é de Oscar Niemeyer. Para se compreender esse empréstimo do sonoro pelo visual, é necessário levar em consideração que a lógica do sonoro não precisa necessariamente estar expressa em sons. Ela também pode tomar corpo em imagens e é, realmente, isso que acontece quando a imagem se põe em movimento, no cinema, no vídeo, na televisão e nas imagens computacionais. Quando não acompanhado de palavras ou de fala, o vídeo também se realiza no cruzamento do visual e sonoro. Aliás, quanto mais intimamente as imagens do vídeo se tecem na dinâmica que é própria da sonoridade, das durações, intensidades, acelerações e dos retardamentos, maior é a eficácia de suas imagens, pois é nesse cruzamento com os caracteres, muito próprios da música, que o vídeo atinge graus de poeticidade. Outra linguagem cuja chave semiótica se encontra na interseção do visual com o sonoro é a dança. Isso se dá, evidentemente, quando a dança não é narrativa, pois se o for, como acontece na maioria do balé clássico, além do visual e sonoro, o verbal, no seu aspecto narrativo, também entra na composição da dança como linguagem. LINGUAGENS VISUAIS-VERBAIS Vejamos: A primeira dentre as linguagens visuais-verbais é a escrita, todas as formas de escrita, inclusive as pictográficas, ideográficas até atingir sua forma mais convencional e arbitrária na escrita alfabética. Luxo Lixo, Augusto de Campos, 1986. Também visual-verbal é a poesia visual. Evidentemente, visual-verbal é também a publicidade impressa nos cruzamentos que estabelece entre imagem, palavra, diagramação de ambos na página e dos partidos que tira desses cruzamentos, por meio de jogos semióticos muito engenhosos. São ainda visuais-verbais a charge e os quadrinhos. Em ambos os casos, os cruzamentos entre esses dois sistemas de linguagem são tão evidentes, isto é, operam-se no nível superficial de suas sintaxes semióticas, que dispensam comentários mais detalhados. Enquadrada no cruzamento do visual-verbal está também a linguagem do jornal, impresso ou on-line. Embora o jornal seja considerado muito mais verbal do que visual, a visualidade nele desempenha um papel de relevância fundamental. LINGUAGENS VERBO-SONORAS A mais proeminente dentre as linguagens verbo-sonoras é a fala. Não é preciso reafirmar aquilo que os compositores do século XX exploraram em todo o seu potencial: a voz humana como instrumento sonoro. A natureza acústica, articulatória da fala é certamente seu aspecto de maior relevo. Há outro aspecto da fala, mais propriamente visual e até mesmo cinestésico, que lhe é acrescentado pela gestualidade. Na esteira da fala, estão a literatura oral e a poesia sonora, ambas levando a realidade sonora da fala ao limite de suas possibilidades. LINGUAGENS VERBO-VISUAIS O gesto como acompanhamento inseparável da fala constitui-se em uma linguagem verbo- visual, linguagem vicária da fala. Nas paisagens do rosto, na postura do corpo, nos movimentos do pescoço, braços e nas mãos, na proximidade ou distância que o falante mantém com o interlocutor, a gestualidade vai desenhando contornos plásticos, visuais para a sonoridade da fala. Embora sem a fala, a mímica também é linguagem verbo-visual porque guarda indelevelmente a memória da fala.A performance e o happening, mesmo se não acompanhados de fala, são prolongamentos do gesto, mais propriamente gesto teatralizado, gesto posto em cena, encenado. Mesmo na ausência da fala, performances e happenings têm uma raiz narrativa e, consequentemente, verbal. Quando acompanhados do som, o que é bastante comum, tornam-se linguagens verbo- visuais-sonoras. Marina Abramovic e Ulay na performance AAA-AAA, 1978, em que os dois se posicionaram de frente um para o outro e gritando por cerca de 15 minutos, até que as vozes de ambos já estavam falhando. LINGUAGENS VERBO-VISUAIS-SONORAS Não foram poucos os estudiosos da poesia que apontaram para a natureza híbrida entre a sonoridade e a visualidade. Essas misturas comparecem também nos vídeos narrativos que contam histórias. Mas os casos mais típicos das misturas entre o verbal, o visual e o sonoro são o cinema e a televisão. De fato, são áudio, no som em geral, na música, no ruído e na fala dos diálogos. São também visuais, nas imagens. ATENÇÃO É necessário repetir que cinema, vídeo e TV têm também caráter discursivo, verbal, na medida em que são necessariamente narrativos ou descritivos. Também verbo-visuais-sonoros são o teatro, a ópera e o circo, cada um deles misturando essas três matrizes de uma maneira que lhes é própria. Espetáculo Quidam, do Cirque du Soleil. Por fim, as misturas mais fortemente engendradas entre várias formas textuais, sonoras e visuais comparecem na hipermídia, essa linguagem com a qual convivemos no universo digital e que se constitui na linguagem mais característica do nosso tempo: a linguagem das mídias digitais. No vídeo a seguir, o artista e pesquisador Domingos Guimaraens fala sobre a diversidade de linguagens e os modos de hibridização das linguagens. Vamos assistir! VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos as diversas formas de linguagens, a partir das três grandes matrizes da linguagem: a sonora, a visual e a verbal. Verificamos que cada matriz da linguagem tem suas modalidades, relacionam-se com as categorias e as classes de signos, conforme a semiótica peirciana. Também estudamos os modos de hibridização das linguagens, considerando as diversas manifestações das linguagens e suas relações híbridas com os códigos, os meios e os sistemas, destacando as novas possibilidades a partir das tecnologias digitais. PODCAST Agora com a palavra os professores Luís Dallier, Rafael Iorio e Catharina Epprecht, relembrando tópicos abordados em nosso estudo. Vamos ouvir! AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ARNHEIM. Rudolf. Arte y percepción visual. Buenos Aires: Universitária, 1976. BREMOND, Claude. A lógica dos possíveis narrativos. In: BARTHES, R. et al. Análise Estrutural da Narrativa. Rio de Janeiro: Vozes, 1971. CHION, Michel. L’art des sons fixés, ou, La musique concrètement. Lormont: Metamkine, 1991. DONDIS, D. A. A primer of visual literacy. Cambridge: MIT Press, 1974. GIMENES, Roseli. Literatura Brasileira: do átomo ao bit. Orientador: Winfried North. 2016. 245 f. Dissertação (Doutorado em Tecnologias da Inteligência e Design Digital) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2016. MACHLIS, Joseph. Introduction to contemporary music. New York: Norton & Comp., 1963. MARTINEZ, José Luiz. Música e semiótica. Um estudo sobre a questão da representação na linguagem musical. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1991. MILLER, H. M. Introduction to music: a guide to good listening. 2. ed. New York: Harper & Row, 1978. PEIRCE, C. Sanders. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1977. SANTAELLA, Lucia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983. SANTAELLA, Lucia. Matrizes da linguagem e pensamento: sonora, visual, verbal. São Paulo: Iluminuras, 2001. TODOROV, Tzvetan. Poética da Prosa. Lisboa: Edições 70, 1979. TODOROV, Tzvetan. Os Gêneros do Discurso. São Paulo: Martins Fontes, 1980. EXPLORE+ Conheça uma aplicação da teoria das matrizes da linguagem na análise da televisão como linguagem híbrida, lendo o artigo Matrizes de linguagem e pensamento como análise da identidade televisiva, de Raquel Ponte e Lucy Niemeyer, publicado na Tríades. Leia o artigo Por uma metodologia de análise dos aspectos simbólicos e comunicacionais do design das cidades digitais, de Frederico Braida e Vera Nojima, publicado pela UFJF, para conferir uma aplicação das matrizes da linguagem na análise do design de cidades digitais. Confira uma análise sobre um gênero das mídias digitais, o blog, a partir das matrizes da linguagem, lendo o artigo A multimodalidades em blogs educacionais para o ensino- aprendizagem de língua portuguesa, de Geovan Macedo e Naziozênio Lacerda, publicado na Revista Travessias da UFS. Conheça um pouco mais sobre a vida e a obra da conteudista deste material lendo o verbete “Lucia Santaella” na Enciclopédia Itaú Cultural. Assista ao vídeo Linguagem, Pensamento, Mídias, Hibridismo e Educação por Lucia Santaella, disponibilizado no canal da Fundación Telefónica, no YouTube. Nota Está reservado ao autor o direito de se manifestar. CONTEUDISTA Lucia Santaella CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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