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Tema 3 Semiótica, a ciência dos signos

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DESCRIÇÃO
Consolidação da Semiótica como disciplina acadêmica, com seus principais conceitos e
categorias, a partir das contribuições teóricas do pensador americano Charles S. Peirce.
PROPÓSITO
A Semiótica é uma ciência ampla e diversificada, que oferece importantes ferramentas para o
estudo dos processos comunicativos. Seus métodos de análise ajudam a observar de forma
mais sistemática e crítica a produção de sentidos e a construção dos significados e do
conhecimento humano. Trata-se de um arcabouço teórico ainda atual e de extrema relevância
para compreender como nos relacionamos por meio das múltiplas formas de linguagem
existentes na cultura e na natureza.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer as origens da Semiótica moderna e sua consolidação como disciplina acadêmica,
a partir dos fundamentos iniciais propostos por Charles S. Peirce
MÓDULO 2
Identificar os principais conceitos, categorias e métodos da Semiótica americana, bem como
suas possíveis aplicações
INTRODUÇÃO
Neste conteúdo, estudaremos a Semiótica, compreendendo as origens da ciência e
identificando suas principais características, a partir das contribuições do cientista americano
Charles Peirce. Discutiremos o sistema de tricotomias proposto pelo autor, analisando suas
categoriais e compreendendo como diversos tipos de signo – palavras, sons e imagens, por
exemplo – são acionados e se relacionam na construção de significados.
A temática pode parecer ampla e complexa, mas quando nos aventurarmos nessas
discussões, refletiremos sobre nossa própria mente e a realidade que nos cerca, e nos
tornaremos aptos a pensar essas interações de maneira mais analítica e aprofundada.
MÓDULO 1
 Reconhecer as origens da Semiótica moderna e sua consolidação como disciplina
acadêmica, a partir dos fundamentos iniciais propostos por Charles S. Peirce
A JOVEM CIÊNCIA DAS LINGUAGENS
O homem só conhece o mundo porque, de alguma forma, o representa e só interpreta essa
representação numa outra representação. 
(Lucia Santaella)
 
Foto: Autor desconhecido / New York Public Library / Wikimedia commons / Domínio público.
 Charles Sanders Peirce (1839 – 1914).
O cientista estadunidense Charles Sanders Peirce (1839-1914) é considerado um dos maiores
pensadores americanos de todos os tempos. Filho de um importante matemático e professor
da Universidade de Harvard, ele cresceu entre artistas, acadêmicos e cientistas, formando-se
um intelectual multifacetado. Graduado em química e formado pela mesma instituição na qual o
pai lecionava, também era matemático, físico e astrônomo. Além de tudo, Peirce era um
entusiasta da filosofia e se entendia principalmente como um lógico, sendo reconhecido como
inventor do pragmatismo, um método baseado em análises empíricas e na percepção da
realidade por meio da experimentação.
Mas o que de fato tornou o pesquisador mundialmente conhecido foi a criação de uma teoria
ampla e diversificada, a Semiótica – termo que vem do grego semeîon (signo) e sema (sinal).
semeîon (signo) + sema (sinal)
 
Semiótica
Trata-se de uma ciência que estuda os signos e a produção de significados (semiose) na
natureza e na cultura (NÖTH, 1995). A Semiótica tem como principal objetivo investigar todas
as linguagens existentes, sejam elas:
 
Imagem: Shutterstock.com
VERBAIS
 
Foto: Shutterstock.com
MATEMÁTICAS
 
Imagem: Shutterstock.com
BIOLÓGICAS
 
Foto: Shutterstock.com
ARTÍSTICAS
 
Foto: Shutterstock.com
COMUNICACIONAIS
A partir da sistematização dessa teoria, Peirce buscou realizar seu desejo de identificar uma
linguagem comum às diversas ciências. Até os dias atuais, os métodos por ele propostos são
amplamente utilizados em pesquisas de distintos campos científicos.
Peirce iniciou suas investigações sobre as linguagens, as representações e a cognição
humana, a partir do estudo da fenomenologia, observando a produção do conhecimento e as
diversas interpretações da realidade a partir da consciência. Por meio desses caminhos
iniciais, o teórico elaborou e propôs uma nova doutrina, capaz de abarcar diversas linguagens
e de analisar os diferentes tipos de signos em suas funcionalidades práticas e em suas
potencialidades.
FENOMENOLOGIA
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É uma corrente filosófica que pensa a relação entre sujeito (sua consciência) e o objeto,
defendendo que o único conhecimento possível passa pela consciência, por como se percebe
um fenômeno.
É POSSÍVEL AFIRMAR QUE O MODELO SEMIÓTICO
DE COMUNICAÇÃO TEM COMO FOCO A CRIAÇÃO DE
MENSAGENS A SEREM TRANSMITIDAS E A
PRODUÇÃO DE SEUS SENTIDOS POR MEIO DO
PENSAMENTO HUMANO. EM OUTRAS PALAVRAS,
ANALISA COMO OS SIGNIFICADOS SÃO
CONSTRUÍDOS POR MEIO DO USO DE DIFERENTES
CÓDIGOS.
A princípio, esses termos e suas definições conceituais podem parecer muito abstratos e
difíceis de compreender. Mas os processos analisados pela Semiótica fazem parte do nosso
dia a dia e dos nossos esforços para compreender a realidade que nos cerca. São ainda mais
necessários em tempos de intenso compartilhamento de informações e diante do surgimento
de novas linguagens e formas de expressão.
 EXEMPLO
Sempre que queremos comunicar algo a alguém, utilizamos sinais, códigos ou símbolos que se
apresentam para nos expressarmos, garantindo, assim, que o conteúdo transmitido seja de
fato compreendido por nosso interlocutor. Palavras, sons, imagens, gestos e até mesmo ações
são exemplos de recursos aos quais podemos recorrer para atingir esse objetivo.
 
Imagem: Shutterstock.com / Adaptada por Pedro Tamburro.
Mas, para que a mensagem seja efetivamente entendida pelos demais, é fundamental que os
outros percebam e conheçam os sinais que utilizamos e produzam suas próprias
representações mentais para processar os sentidos possíveis. É por isso que precisamos falar
um mesmo idioma para conversar ou conhecer os mesmos símbolos religiosos para participar
de uma liturgia, por exemplo.
 
Imagem: Shutterstock.com / Adaptado por Pedro Tamburro
Os signos, que são os elementos que utilizamos para formular as mensagens, representam
algo a alguém. Quando erguemos nossa mão e a balançamos de um lado para o outro
estamos representando uma saudação por meio de um gesto. Isso só acontece porque
culturalmente aprendemos que o aceno significa “olá” ou “tchau”.
Dessa maneira, é possível afirmar que as mensagens e os processos de interação entre os
signos e as pessoas se condicionam mutuamente.
OS SIGNOS NÃO TÊM UM SIGNIFICADO INTRÍNSECO,
EM SI MESMOS, MAS DEPENDEM DO CONTEXTO NO
QUAL ESTÃO INSERIDOS E DOS REPERTÓRIOS QUE
OS SUJEITOS DA INTERAÇÃO POSSUEM E ACIONAM
PARA QUE A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO OCORRA.
Apesar de a Semiótica ser uma ciência ainda jovem, a discussão sobre os signos e os
processos de significação é tão antiga quanto o pensamento filosófico. Desde a Antiguidade
Clássica, passando pela Idade Média e por pensadores modernos, o estudo das diversas
formas de linguagem permeou muitos momentos da história do pensamento ocidental.
Entender os múltiplos processos de interação entre os seres humanos, a natureza ou as
máquinas têm sido uma curiosidade constante ao longo da história.
PANORAMA HISTÓRICO GERAL
A Semiótica moderna e sua formulação como uma disciplina acadêmica data da segunda
metade do século XX. E não por acaso. O período é marcado pelo apogeu dos meios de
comunicação de massa – como jornais, cinema, rádio e TV –, que passaram a levar informação
e entretenimento para uma audiência de proporções nunca antes vistas.
 
Foto: Shutterstock.com
A multiplicidade de linguagens que despontam nesse período impactou não apenas os
comportamentos de consumo de conteúdo, mas toda a cultura do seu tempo. A consolidação
dessas mídias trouxe consigo novos hábitos, modismos, visões de mundo. A comunicação
deixou de ser prioritariamente verbal e restrita a públicos reduzidos.
Esses impactos não foram sentidos apenas no cotidiano, mas despertaram também a
curiosidade de cientistas e intelectuais de diversas áreas, que perceberama importância do
fenômeno em todo mundo. Nesse contexto, surgiram os primeiros esforços intelectuais para
propor um estudo sistemático dos signos e seus significados.
 SAIBA MAIS
Um importante marco histórico é a publicação da obra Curso de Linguística Geral, um
compilado de anotações de aulas ministradas pelo linguista e filósofo suíço Ferdinand de
Saussure (1857-1913) na Universidade de Genebra. O material, organizado por seus alunos
após sua morte, tornou-se ponto de partida para a consolidação de uma ciência geral dos
signos, a Semiologia. Os semiologistas se interessavam especificamente por linguagens
humanas.
Imagem: Saussure, Ferdinand de (1857-1913).
Como já colocado, o campo da Semiótica não contempla apenas as expressões verbais, mas
também outras linguagens, de imagens e elementos da natureza a sinais matemáticos, e o
primeiro autor a utilizar o termo, também como proposta de consolidação da disciplina foi o
cientista estadunidense Charles S. Peirce.
O teórico estipulou um modelo de análise baseado em três categorias universais, que explicam
o processo de compreensão da realidade por meio de signos:
PRIMEIRIDADE
Corresponde às impressões puras e imediatas da realidade, sentidas, mas ainda não
analisadas racionalmente.
SECUNDIDADE
É referente aos processos de reflexão, comparação e análise das sensações mais instintivas e
automáticas.
TERCEIRIDADE
Está associada ao processo de produção de significado a partir do pensamento (semiose),
sendo, portanto, a conexão entre as duas categorias anteriores.
Adiante, entenderemos melhor cada uma delas.
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SEMIÓTICA SOVIÉTICA E SEMIÓTICA NO
BRASIL
A Semiótica soviética surge a partir da relação entre o Partido Comunista e distintas correntes
teóricas da época, na primeira década após a Revolução de 1917. É nesse contexto que os
estudos da área começam a se desenvolver de forma mais sistemática.
 
Imagem: arquivo pessoal de Serguei Nekliúdov. In: VÓLKOVA AMÉRICO, Ekaterina. Iúri
Lótman e a semiótica da cultura. Tese (Doutorado), Programa de Pós-graduação em Literatura
e Cultura Russa, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo. USP, São Paulo, 2002, p. 55.
 Yuri Lótman com a primeira edição do seu livro 
Curso de poética estrutural, de 1964
O período histórico foi marcado por diversos estudos sobre a produção artística, como o
cinema e a literatura de vanguarda – vertente que ficou conhecida como Semiótica da Cultura.
Mas a produção oriunda da extinta União Soviética só ganhou espaço internacional na década
de 1950, sobretudo, a partir das contribuições de teóricos como Yuri Lotman e Boris Uspênski e
dos estudos da Universidade de Tartu, na Estônia. Um dos maiores méritos dessa escola da
Semiótica foi ampliar as delimitações do campo da pesquisa comunicacional, incluindo a
produção cultural como objeto de estudo.
No Brasil, os estudos semióticos se iniciam na década de 1960, sobretudo, a partir da
influência do professor e poeta concretista Décio Pignatari, que lecionava na Escola Superior
de Desenho Industrial no Rio de Janeiro. O docente foi pioneiro na proposição de uma teoria
Semiótica peirceana voltada para o Design, a Arquitetura e a Comunicação. Na década
seguinte, passou a integrar o programa de pós-graduação da Universidade Católica de São
Paulo, que se tornaria um curso de Comunicação e Semiótica. Por fim, é importante destacar a
criação do Centro Internacional de Estudos Peirce (CIEP), na Universidade Católica de São
Paulo, em 1996. O espaço foi inaugurado por Lucia Santaella, uma das pesquisadoras mais
influentes do campo da Semiótica no Brasil até os dias atuais.
 
Imagem: Décio Pignatari / Catálogo da exposição Arquivo Décio Pignatari: Um lance de dados /
Centro Cultural São Paulo.
 Beba Coca-Cola, Décio Pignatari, 1957.
SEMIÓTICA AMERICANA
A Semiótica americana – que, como vimos, tem em Charles Peirce seu maior expoente –
busca estudar o aspecto relacional dos signos, adotando uma abordagem mais ampla sobre as
múltiplas linguagens. Trata-se, portanto, de uma corrente mais interessada nos significados
produzidos, a partir das interações do que no estudo isolado dos signos, por si só.
PEIRCE PROPÔS O CONCEITO DE RELAÇÃO SÍGNICA,
QUE ENVOLVE O SIGNO PROPRIAMENTE DITO, O
OBJETO QUE ESTÁ SENDO REPRESENTADO POR ELE
E SEU INTERPRETANTE (A IMAGEM MENTAL À QUAL
O INTERLOCUTOR RECORRE PARA LHE ATRIBUIR
SENTIDO). OU SEJA, QUANDO NOS DEPARAMOS COM
UM SIGNO E ACIONAMOS ALGUM REPERTÓRIO PARA
COMPREENDÊ-LO, PRODUZIMOS OUTROS SIGNOS
EM NOSSO PENSAMENTO PARA COMPLETAR O
PROCESSO DE SIGNIFICAÇÃO. DESSE MODO, O
SIGNIFICADO DAQUELE SIGNO INICIAL SE CONCLUI
POR MEIO DE OUTRO SIGNO PRODUZIDO EM NOSSO
PENSAMENTO.
Outro aspecto original da vertente proposta pelo autor norte-americano é a noção triádica do
signo, um modelo dinâmico e contextualizado, cuja proposta é pensar a produção dos sentidos
para além de dicotomias simplistas de análise. Além disso, nessa corrente de pensamento, os
signos não devem ser pensados a partir de uma perspectiva abstrata ou metafísica, mas
observados em seus usos práticos, no cotidiano.
E isso não é por acaso. Como mencionamos anteriormente, o cientista é considerado o pai do
pragmatismo, uma escola teórica norte-americana que partia do princípio de que o
conhecimento humano e o desenvolvimento das faculdades mentais ocorrem a partir da
aprendizagem na experiência concreta, empírica. O termo vem do grego pragma, que significa
ação. Os teóricos ligados ao pragmatismo são céticos em relação à metafísica, defendendo,
portanto, um método de análise pautado apenas nos sentidos. Em outras palavras, só atestam
o que pode ser comprovado por meio da experimentação sensível do mundo real.
Martino (2014) apresenta um exemplo bastante ilustrativo sobre o olhar pragmático acerca dos
signos: a arquitetura das igrejas católicas:
Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no Rio de Janeiro 
Foto: Paulo Arquiteco / Wikimedia commons / CC-BY-SA-4.0.
Como o autor comenta, esses templos religiosos cristãos apresentam algumas similaridades
estéticas, como vitrais, imagens de santos, pias batismais, torres, crucifixos, pinturas que
ilustram passagens bíblicas etc. Assim, qualquer pessoa familiarizada com os códigos da
cultura ocidental não terá dificuldades em perceber que esse tipo de construção é uma igreja.
No entanto, todos esses signos foram escolhidos e convencionados socialmente de forma
arbitrária.
Discoteca e casa noturna Paradiso, cujo prédio era originalmente uma igreja construída no
século XIX, em Amsterdã, Holanda. Foto: Andreas Praefcke / Wikimedia commons / CC BY
3.0.
O pesquisador ressalta que na Europa há muitos prédios de antigas igrejas que atualmente são
utilizados com outras finalidades, sem qualquer relação com o universo místico. São centros
culturais ou salões de exposições, por exemplo. Em suma, todos os sinais religiosos
permanecem nesses locais, mas não necessariamente serão considerados religiosos para
quem os ocupa agora. Essa simples constatação, nos leva à conclusão de que “o signo pode
virtualmente ser qualquer coisa no momento que é usado como tal. As três partes dessa
relação – signo, significante e significado – não existem de maneira separada” (MARTINO,
2014, p.118).
RAMOS DA SEMIÓTICA
Desde sua origem como campo científico, a Semiótica é apresentada a partir de diferentes
vertentes. O mais correto seria falarmos em semióticas, no plural, para dar conta das diferentes
correntes que existem no âmbito dessa ciência.
O ESTUDO DA SEMIÓTICA ABARCA DIVERSOS
ASPECTOS RELATIVOS AOS SIGNOS, COMO SUA
REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE E AS DIVERSAS
FORMAS DE INTERPRETÁ-LOS E APREENDÊ-LOS.
ANALISA, PORTANTO, AS CARACTERÍSTICAS
DESSES SINAIS, OS POTENCIAIS SENTIDOS QUE
PODEM INCITAR E AS MÚLTIPLAS FORMAS DE
COMPREENSÃO DE UMA MENSAGEM.
A vertente teórica proposta por Peirce, mais especificamente, propõe três ramos que abarcam
o campoda Semiótica: a gramática especulativa, a lógica crítica e a metodêutica ou retórica
especulativa.
GRAMÁTICA ESPECULATIVA
LÓGICA CRÍTICA
METODÊUTICA
GRAMÁTICA ESPECULATIVA
É o ramo de estudos que analisa os diversos tipos de signo, suas múltiplas formas de
representação e seus potenciais significados. De acordo com Santaella (2008), esse segmento
trabalha com conceitos abstratos, que permitem que determinados comportamentos possam
ser considerados signos; e analisa os elementos determinantes para a compreensão dos
signos e suas propriedades, ou seja, o que um signo deve ter para que possa incorporar
qualquer significado.
LÓGICA CRÍTICA
Leva em conta os diferentes tipos de raciocínio. Analisa pensamentos, deduções e imagens
que surgem na mente dos receptores de determinada mensagem. Corresponde à “teoria das
condições gerais da referência dos Símbolos e outros Signos aos seus Objetos manifestos, ou
seja, é a teoria das condições da verdade” (PEIRCE, 2000, p. 29). Os argumentos estudados
pela lógica crítica são denominados inferências.
METODÊUTICA
Ramo abordado com menos frequência nos estudos de Semiótica, analisa as condições por
meio das quais um signo dá origem a outro e, principalmente, busca compreender como um
pensamento gera outro pensamento. Ou seja, debruça-se sobre a relação entre os tipos de
raciocínio que são analisados pela lógica crítica (SANTAELLA, 1996, 2008).
 RESUMINDO
Nessa perspectiva, a gramática especulativa é o ramo da Semiótica que estuda a forma dos
signos, a lógica crítica é aquela que cuida dos sentidos da representação e, por fim, a
metodêutica analisa os métodos originados pelos diversos tipos de raciocínio, observando os
outros ramos no contexto cultural no qual estão inseridos.
CATEGORIAS UNIVERSAIS DO
PENSAMENTO
Analisemos um exemplo, a partir de uma situação cotidiana. Imagine que você está em casa e
alguém toca a campainha. O que veríamos se pudéssemos observar o pensamento em câmera
lenta?
 
Imagem: Shutterstock.com

 
Foto: Shutterstock.com

 
Imagem: Shutterstock.com

 
Foto: Shutterstock.com
Em um primeiro momento, ouve-se um som. Na sequência, há um esforço para racionalizar
aquele estímulo sonoro, diferenciando-o de outros barulhos, como o áudio da televisão ou o
apito do micro-ondas. Por fim, é possível compreender o que aquela impressão inicial significa:
há uma pessoa do lado de fora da casa querendo falar com você. Na prática, todas essas
etapas ocorreriam em milésimos de segundos e sequer seriam perceptíveis. Não nos damos
conta da complexidade do nosso próprio raciocínio diante dos estímulos que recebemos o
tempo todo.
Essa situação simples é um exemplo de semiose, ou seja, corresponde a um processo de
interpretação da realidade a partir de determinados signos.
PEIRCE COMPREENDE O SIGNO COMO ALGO QUE
ESTÁ NO LUGAR DE OUTRA COISA PARA ALGUÉM.
O que está em jogo nessa premissa é uma relação construída a partir de três partes
interligadas:
O SIGNO
A REPRESENTAÇÃO MENTAL
A CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO
Quando algo se apresenta para nós e, ao se projetar em nossa mente, transforma-se em um
signo, o resultado desse movimento forma o objeto de estudo da fenomenologia, ciência que
cuida da investigação dos elementos que estão em nossa mente ou consciência. A
representação mental ou referência é o que permite compreender o signo, é a ponte para a
construção do significado.
Na perspectiva da Semiótica americana, mais especificamente, todo o processo envolvendo a
produção de sentido – da percepção inicial de um signo à construção de seu significado por
meio do pensamento –, pode ser pensado a partir de três categorias propostas por Peirce:
 
Foto: Shutterstock.com
PRIMEIRIDADE
Corresponde ao contato inicial com determinado signo, que pode ser uma palavra, um som,
uma imagem, um objeto. Trata-se da impressão imediata. Essa experiência está relacionada
à percepção de um estímulo novo, original, espontâneo, que antecede qualquer distinção ou
análise mais aprofundada. Ocorre antes da plena tomada de consciência sobre sua própria
existência. É o que Santaella (1996) chama de “estado-quase”, uma forma de percepção
rudimentar, imprecisa e indeterminada. Corresponde ao mundo dos sentidos, independente
da racionalidade. No caso do exemplo que apresentamos anteriormente, a primeiridade
corresponde ao momento do toque da campainha, quando se ouve o som.
 
Imagem: Shutterstock.com
SECUNDIDADE
Refere-se à etapa de racionalização das sensações iniciais da experiência da primeiridade,
na qual o signo é distinguido, diferenciado e racionalmente processado. A primeira parte do
processo restringe-se à qualidade do signo, às sensações despertadas, enquanto a segunda
etapa materializa o estímulo em um pensamento. Em nossa situação hipotética, a secundidade
corresponde ao rápido momento em que processamos o som que vem da porta, diferenciando-
o de outros ruídos à nossa volta e decifrando-o.
 
Foto: Shutterstock.com
TERCEIRIDADE
Síntese racional das duas etapas anteriores. Fase da compreensão, da criação do
significado por meio do pensamento. É quando o indivíduo conecta o sinal recebido à sua
experiência de vida, contextualizando-o a partir dos repertórios que conhece e detém. Em
nossa história, a categoria estaria associada ao momento em que se percebe que o barulho
que ouvimos (o signo) refere-se à campainha e, portanto, significa que há alguém à porta
esperando para ser atendido. Aprendemos desde cedo a fazer a associação entre o som e o
ritual que se repete toda vez que alguém vai a nossa casa para falar conosco. Esse
ensinamento reflete uma convenção social, um conhecimento compartilhado coletivamente.
Agora vamos ver se você compreendeu o processo de produção de sentido por meio dos
signos proposto Peirce.
A PRODUÇÃO DE
INTELIGIBILIDADE E O
SURGIMENTO DO PENSAMENTO
EM SIGNOS FAZEM PARTE DE
QUAL CATEGORIA?
 Primeiridade
 Secundidade
 Terceiridade
SENSAÇÕES E IMPRESSÕES
ESTÃO EM QUAL CATEGORIA?
 Primeiridade
 Secundidade
 Terceiridade
O ESFORÇO INTELECTUAL DE
PERCEPÇÃO INICIAL SE
ENQUADRA EM QUAL
CATEGORIA?
A Semiótica peirceana trabalha com três tricotomias (divisão em três categorias):
1
A primeira tricotomia trata da relação entre os signos.
2
A segunda, corresponde à relação entre os signos e os objetos da realidade concreta por eles
representados.
3
A terceira tricotomia se debruça sobre a relação entre os signos e as imagens mentais
formadas no pensamento humano para compreender seus significados.
No próximo módulo, detalharemos cada uma dessas categorias e apresentaremos um resumo
do método de análise peirceano, que constitui o cerne da Semiótica americana.
 Primeiridade
 Secundidade
 Terceiridade
No vídeo a seguir, a professora Júlia Silveira fala sobre o signo e as categorias universais do
pensamento. Vamos assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A ORIGEM DA SEMIÓTICA MODERNA COMO DISCIPLINA ACADÊMICA
DATA DO SÉCULO XX, A PARTIR DE DIVERSOS ESTUDOS REALIZADOS
NOS ESTADOS UNIDOS, NA EUROPA ORIENTAL E NA EXTINTA UNIÃO
SOVIÉTICA. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRESPONDE A UMA
DAS ESPECIFICIDADES DA SEMIÓTICA AMERICANA EM COMPARAÇÃO
COM AS DEMAIS CORRENTES DE ESTUDO DOS SIGNOS, QUE
DESPONTARAM NA MESMA ÉPOCA.
A) Análise restrita às linguagens e formas de expressão verbais.
B) Método baseado em três categorias de ações mentais, acionadas nos processos de
produção de sentido.
C) Fundação a partir dos estudos da Semiologia, capitaneados por Ferdinand de Saussure.
D) Estudo exclusivo dos signos e significados que fazem parte da cultura anglófona.
E) Corrente teórica considerada arcaica e que tende a cair em desuso.
2. AS CATEGORIAS UNIVERSAIS DO PENSAMENTO, PROPOSTAS POR
CHARLES PEIRCE, SÃO: PRIMEIRIDADE (IMPRESSÕES INICIAIS E
ESPONTÂNEAS); SECUNDIDADE (PERCEPÇÃO POR MEIO DE
COMPARAÇÕES) E TERCEIRIDADE (SÍNTESE RACIONAL DAS DUAS
ETAPAS ANTERIORES). A PARTIR DESSA PERSPECTIVA, ASSINALE A
DEFINIÇÃO CORRETA ACERCA DA CATEGORIA TERCEIRIDADE.A) Análise restrita às emoções e sensações viscerais.
B) Conclusão obtida por meio da análise de três argumentos distintos.
C) Produção de sentido a partir de signos acionados pelo pensamento.
D) Tradução dos estímulos sensoriais para uma linguagem matemática e, portanto, objetiva.
E) Ato de descartar a percepção do signo da memória para se dedicar a outros pensamentos.
GABARITO
1. A origem da Semiótica moderna como disciplina acadêmica data do século XX, a partir
de diversos estudos realizados nos Estados Unidos, na Europa Oriental e na extinta
União Soviética. Assinale a alternativa que corresponde a uma das especificidades da
Semiótica americana em comparação com as demais correntes de estudo dos signos,
que despontaram na mesma época.
A alternativa "B " está correta.
 
Ao contrário dos estudos do campo da Semiologia, a Semiótica não trabalha com modelos
dicotômicos, partindo sempre de tríades de categorias para analisar os signos e as suas
relações com os objetos e os significados.
2. As categorias universais do pensamento, propostas por Charles Peirce, são:
primeiridade (impressões iniciais e espontâneas); secundidade (percepção por meio de
comparações) e terceiridade (síntese racional das duas etapas anteriores). A partir dessa
perspectiva, assinale a definição correta acerca da categoria terceiridade.
A alternativa "C " está correta.
 
A categoria peirciana da terceiridade corresponde ao processo de produção de sentido que
ocorre na mente humana, por meio de signos acionados mentalmente. Essa categoria de
pensamento é a síntese das duas outras: primeiridade e secundidade.
MÓDULO 2
 Identificar os principais conceitos, categorias e métodos da Semiótica americana,
bem como suas possíveis aplicações
A INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE
Imagine um soldado em combate, observando seus adversários em uma trincheira à sua
frente. Vamos supor que, após o confronto, ele consiga avistar um borrão branco em meio aos
seus inimigos. A princípio, tudo o que pode enxergar é uma mancha, não sendo possível
chegar a nenhuma conclusão precisa a respeito do que vê. Aproximando-se, o homem
consegue identificar que se trata de um pano sendo balançado de um lado para o outro. O
soldado estabelece, portanto, uma relação entre o branco e o pano e compreende que se trata
de um objeto conhecido. Chegando ainda mais perto, o mistério se revela: alguém está
agitando uma bandeira branca. Nesse exato momento, ele tem a total compreensão da
situação: um pedido de paz, uma declaração de redenção.
Esse exercício imaginativo ilustra a maneira como interpretamos a realidade e ajuda a
compreender os princípios básicos da Semiótica na perspectiva de Peirce:
 
Em um primeiro momento, os objetos da realidade concreta simplesmente aparecem diante de
nós e são percebidos pela nossa mente.
 
Posteriormente, procuramos estabelecer uma relação de identificação para entender o que
estamos vendo, ouvindo ou sentindo.
 
Por fim, conseguimos interpretar aquela imagem e, por meio do repertório que temos,
compreendemos o seu significado naquele contexto.
É importante ressaltar também a importância do conhecimento dos códigos e dos repertórios
que cada indivíduo possui para elaborar um significado inteligível por meio do pensamento. No
caso do exemplo anterior, o soldado só conseguiu compreender que o signo “bandeira branca
em movimento” significava um pedido de trégua porque, em algum momento ao longo da
história, essa associação foi criada e o simbolismo coletivamente foi transformado em uma
convenção social. Para processar a mensagem do seu adversário, o combatente de nossa
história teve que acionar em sua mente uma imagem mental capaz de fornecer o significado
daquele signo avistado no meio do confronto. Foi necessário acionar as informações
apreendidas e produzir um novo signo em seu pensamento para que o objeto “bandeira
branca” fosse assimilado e associado a um pedido de paz.
A Semiótica peirceana, portanto, é baseada em uma tríade:
A percepção dos objetos que existem no mundo concreto, na realidade prática.
As representações desses objetos por meio de signos diversos.
A elaboração mental do significado desses signos, por meio de novos signos que acionamos
em nossa mente, com o repertório que possuímos.
O esquema proposto por Peirce envolve basicamente:
O SIGNO
O OBJETO POR ELE REPRESENTADO
O CHAMADO INTERPRETANTE
INTERPRETANTE
A imagem mental à qual o interlocutor recorre para atribuir sentido ao signo – e que também é,
ela mesma, um signo.
Confira, no esquema a seguir, um resumo das categorias Peirceanas associadas ao
interpretante:
A seguir, discutiremos cada um desses elementos e as relações que estabelecem entre si, a
partir da perspectiva da Semiótica.
SIGNO
Comecemos por uma definição de dicionário. De acordo com o dicionário Michaelis, signo é um
“sinal indicativo de algo; indício, símbolo, vestígio”.
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EM UMA DEFINIÇÃO SIMPLES E RESUMIDA, TRATA-
SE, PORTANTO, DE ALGO QUE ESTÁ NO LUGAR DE
OUTRA COISA (OBJETO), PARA REPRESENTÁ-LA
PARA ALGUÉM. TUDO O QUE REMETE OU FAZ
REFERÊNCIA A ALGO ALÉM DE SI MESMO PODE SER
CONSIDERADO UM SIGNO.
O signo, também chamado de representamen, é qualquer coisa que faz referência a um objeto
concreto ou fenômeno da realidade. Substitui o objeto, representando-o, mas não é o objeto
em si. Também não dá conta de fazer referência a todos os aspectos daquilo que substitui, mas
sim a um tipo de ideia sobre o elemento ou fenômeno referenciado (PEIRCE, 2000).
Vejamos dois exemplos:
Foto: Shutterstock.com
É o caso de um sinal de trânsito, com suas diferentes cores, que indica regras a serem
seguidas. Em tese, não é necessário um texto explicativo ou um guarda de trânsito para que
motoristas e pedestres saibam quando podem seguir em frente e quando devem parar e
aguardar.
Foto: Shutterstock.com
É também o caso de um crucifixo, objeto que ilustra e aciona a lembrança religiosa do sacrifício
de Cristo para os fiéis católicos.
Os signos são, portanto, um meio de interação entre os seres, as linguagens e as
representações.
Pensemos em nosso idioma, por exemplo. Cada palavra associada à língua portuguesa é um
signo, sendo formada por um conjunto de letras (no caso da linguagem escrita) ou fonemas (na
linguagem oral). São caracteres e sons que, ao se unirem, passam a representar alguma coisa
e a comunicar determinada mensagem. Mas apenas quem sabe falar português vai entender o
que esses signos representam nas distintas situações.
 EXEMPLO
Quando escrevemos a palavra árvore (um conjunto de seis letras e um acento), esperamos
que o leitor compreenda que estamos fazendo referência ao objeto concreto árvore, com seu
tronco, folhas e galhos. Mas esse entendimento só acontecerá se houver conhecimento dos
códigos do idioma, historicamente convencionados.
Para quem fala inglês, por exemplo, o objeto árvore em si é simbolizado pela sequência de
caracteres tree. Ou seja, um signo só acionará a produção de sentidos na mente se
entendermos o sistema de códigos no qual este está inserido. Nem árvore, nem tree são
uma árvore propriamente dita ou fazem referência a todas as suas características, mas são
signos que representam esse objeto por meio da linguagem.
O signo corresponde à unidade básica de entendimento de determinado código e pode ser
desmembrado em dois níveis de compreensão:
SIGNIFICANTE
Corresponde ao elemento seu elemento material, tangível.
SIGNIFICADO
É a sua esfera abstrata e conceitual.
Desse modo, para dar conta de sua função mediadora e representativa, o signo precisa estar
materializado em um veículo sensível ou em uma forma expressiva.
A partir da relação do signo consigo mesmo (a chamada primeira tricotomia de Peirce), o
representamen pode ser classificado em três categoriais que indicam o tipo de interpretação
que ocorre na mente do interlocutor:
Imagem: Shutterstock
Quali-signo
Corresponde às nossas impressões e sensações imediatas – portanto, ainda vagas,descontextualizadas, viscerais. Por exemplo, quando sentimos que o signo “cor azul” nos
desperta sensações de paz e tranquilidade. É como se esses sentimentos fossem um pré-
signo, um impulso espontâneo que ainda não foi racionalizado ou analisado em profundidade.
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Imagem: Shutterstock
Sin-signo
É o resultado da singularização do quali-signo. Ou seja, no caso da ilustração anterior,
poderíamos dizer que, se alguém entende que a cor azul transmite serenidade; e rosa,
delicadeza, é porque percebe as cores de maneira pessoal, particular.
Imagem: Shutterstock
Legi-signo
É uma impressão mediada por convenções, pactos sociais, ideias universalizadas, apreendidas
e compartilhadas coletivamente. É o caso, por exemplo, da ideia de que a cor azul está
associada aos meninos e a cor rosa às meninas, uma relação de significação arbitrária, mas
convencionada histórica e culturalmente, atribuindo determinados valores a signos específicos.
No vídeo a seguir, a professora Júlia Silveira fala sobre signo, objeto e interpretante, trazendo
exemplos da primeira trocotomia peirceana. Vamos assistir!
OBJETO
A partir do que foi discutido até aqui, é possível perceber que existem duas dimensões a serem
analisadas no campo da Semiótica:
A realidade (palpável)
 
O pensamento humano
O mundo concreto é composto por objetos, percebidos e compreendidos por meio de
representações e interpretações que produzimos e acionamos em nossa mente. Os objetos
são classificados de duas maneiras:
OBJETOS DINÂMICOS
São os objetos pertencentes à vida concreta, ou seja, tudo aquilo que existe na natureza e
sobre o qual podemos pensar ou falar.
OBJETOS IMEDIATOS
São os aspectos e as características que um signo seleciona desse objeto concreto para poder
representá-lo.
Ao contrário do campo da Linguística, que se atém às linguagens humanas e verbais, a
Semiótica abarca diversas expressões, como sons, imagens, gestos e ações, sensações e
sentimentos. Assim, na perspectiva peirceana, há diversas maneiras de representação
passíveis de análise.
A relação entre signos e objetos, que correspondem à segunda tricotomia desse método, pode
ser classificada em três categorias distintas:
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ÍCONES
São representações que se constroem a partir de semelhanças e de aproximação com a
realidade. É o caso, por exemplo, de fotografias, pinturas, esculturas e placas de trânsito, que
fazem referências icônicas a determinados objetos da realidade concreta. Esses signos não
são a mesma coisa que os objetos que representam, mas ambos estão diretamente
vinculados.
ÍNDICES
Em inglês, index, são referências estabelecidas por meio de relações de causa e efeito. Se
vemos uma pegada na areia (que, nessa perspectiva, pode ser considerada um signo),
compreendemos que alguém pisou naquela superfície em algum momento, mesmo que não
possamos ver quem andava por ali. É o que ocorre também quando avistamos nuvens pretas
no céu ou ouvimos o som de trovoadas e deduzimos que vai chover.
Peirce apresenta um exemplo que, para nós, virou até ditado popular: onde há fumaça, há
fogo. Ou seja, o signo fumaça é um índice de fogo, incêndio. Não por acaso, falamos em
indícios quando tratamos de uma investigação ou pesquisa. A solução de um mistério ou de
problema intelectual ocorre a partir da observação e interpretação de signos.
SÍMBOLOS
São signos que representam a realidade, a partir de uma convenção, de determinado
significado construído e disseminado historicamente, e compartilhado coletivamente. É o caso
das palavras em certo idioma, de imagens religiosas (como a estrela de Davi) e políticas (a
suástica nazista ou a foice e o martelo do comunismo, por exemplo).
Trata-se da forma mais distante e abstrata de relação entre um signo e um significado. Quando
lemos a palavra carro, logo mentalizamos a imagem de um veículo, mas essas cinco letras
não têm nenhuma semelhança com o automóvel em si; são apenas uma combinação de
caracteres que, no idioma português, está associada ao objeto carro.
 EXEMPLO
Agora, vamos refletir: os signos de gênero, ou a já citada convenção da sugestão da cor rosa
para o feminino e do azul para o masculino, são símbolos, ou seja, signos arbitrariamente
definidos como próprios a determinados significados.
Mas e o signo de uma pessoa aparentemente vestida com um vestido e outra com calças
compridas para indicar que um banheiro é feminino ou masculino? Trata-se de um ícone ou de
símbolo? Mais uma vez, se considerarmos que o vestido está, necessariamente, associado ao
feminino, e as calças, associadas ao masculino, talvez seja possível argumentar que se trata
de um ícone. Caso contrário, incorremos em um erro de lógica.
INTERPRETANTE
Ao nos depararmos com um signo e percebê-lo, acontece uma projeção, em nosso
pensamento, do objeto que está sendo representado. As referências que acionamos para
distinguir e compreender as coisas que se colocam diante de nós são conhecidas como
interpretante (não confunda com intérprete, que é o sujeito desse processo!).
Na história hipotética da visita que chega à sua casa, o interpretante seria a percepção da
campainha tocando e a imagem mental de alguém à porta, que rapidamente aparece em nossa
mente e remete aos repertórios necessários para compreender o que está acontecendo ao
nosso redor. A relação entre o signo e seu interpretante corresponde à terceira tricotomia de
Peirce.
 RESUMINDO
Vamos recapitular! Um signo representa um objeto da realidade concreta e, por meio dessa
relação de referência, nossa mente cria um segundo signo para produzir o significado do
primeiro. Ou seja, o segundo signo produzido nesse processo – que pode ser uma imagem
mental, uma ação, um gesto ou um sentimento – é o interpretante do primeiro.
É possível afirmar que os interpretantes são variáveis, pois são produzidos e acionados em
cada mente, de maneira particular e pessoal – mesmo que convoquem repertórios coletivos. O
interpretante depende também da natureza e do potencial significativo do signo.
 EXEMPLO
Pensemos no ato de escutar uma música. Se não dominamos os códigos da composição
musical, a audição só provocará em nós qualidades de impressão, ou seja, sensações
viscerais, que poderemos traduzir em interpretantes emocionais, como alegria, tristeza, tédio.
Ou seja, o interpretante desse processo será condicionado e limitado pelo repertório que
possui e pelas relações que estabelece com o que ouve (SANTAELLA, 1983).
Vamos imaginar exemplos mais elaborados:
Você escrevendo para um amigo em um aplicativo de mensagens. O conteúdo enviado por
meio do texto é um signo do que você, de fato, gostaria de comunicar (objeto). Já o impacto
que a mensagem terá no destinatário será o interpretante da mensagem. Nesse caso, o
interpretante nada mais é do que um mediador entre o que você gostaria de transmitir ao seu
amigo e os efeitos que provocou por meio do envio daquela mensagem específica.
Pense, agora, em um filme baseado em fatos reais. Esse tipo de longa-metragem nada mais é
do que um signo da história real que representa, a qual, por sua vez, é o objeto do signo. O
interpretante, nesse caso, será o efeito do filme em quem o assistir – e compreende, portanto,
inúmeras possibilidades.
A categoria interpretante se subdivide em:
Interpretante imediato
Nível de análise abstrato, corresponde ao potencial significativo de um signo, ou seja, todo tipo
de interpretação que um signo pode ocasionar. As possibilidades de criações de referência do
interpretante abstrato são inúmeras.

Interpretante dinâmico
É o efeito que um signo realmente produz no interpretante, ou seja, ocorre a partir de uma
análise sobre o fenômeno de fato.
Quanto ao interpretante dinâmico, ele pode ser:
INTERPRETANTE EMOCIONAL
INTERPRETANTE ENERGÉTICO
INTERPRETANTE LÓGICO
Como o nome sugere, é um primeiro efeito despertado pelos signos e está associado às
sensações e sentimentos. Está, portanto,ligado à categoria da primeiridade. Se retomarmos
os últimos exemplos analisados, o interpretante emocional poderia ser a emoção de quem
recebe a mensagem de um amigo, ou a raiva de um espectador, que assiste a um filme
baseado na história de um assassino em série.
Aciona uma reação na mente, que pode ser um movimento físico ou mental (como pegar um
objeto ou ter uma ideia). Trata-se, portanto, do contexto da secundidade. Ainda no caso dos
nossos exemplos, poderia ser a movimentação de quem ouviu o celular tocar e decidiu
estender o braço para alcançar o aparelho e ler as mensagens que chegaram.
É “o pensamento ou entendimento geral produzido pelo signo” (SANTAELLA, 1995,
p.105). Ou seja, abarca o processo completo de significação, que demanda um esforço
mental para realizar inferências e estabelecer relações de causa e consequência. É relativo à
terceiridade.
RELAÇÃO ENTRE SIGNOS E SEUS
INTERPRETANTES
De acordo com Peirce, nessa relação, é possível identificar três categorias diferentes:
REMA
Corresponde a um enunciado que não pode ser averiguado e classificado como verdadeiro ou
falso. É o caso, por exemplo, de palavras soltas (sim, não, talvez) ou dos nomes. Trata-se,
portanto, de um signo compreensível isoladamente, mas que se apresenta a nós fora de
qualquer contexto mais abrangente. É algo amplo e impreciso, e não pode ser julgado ou
avaliado de maneira mais aprofundada.
O rema “casa”, por exemplo, é um signo com diversas possibilidades de significação, visto que
pode ser associado a uma série de atributos e características: casa pequena, casa suja, casa
acolhedora etc. Mas, ao surgir desse modo, sem complementos ou qualificações, não nos diz
muita coisa.
DICENTE
Também chamado de dicissigno, segundo Peirce (2000), é uma proposição que indica o objeto
representado denominado de seu sujeito, sem interferir no interpretante. Desse modo,
corresponde a hipóteses e suposições, a ideias que podem ser valoradas, qualificadas ou
classificadas como verdadeiras ou falsas.
É o caso da frase “minha casa é amarela”, por exemplo. O dicente corresponde, portanto, às
particularizações interpretativas.
ARGUMENTO
Está relacionado a constatações mais complexas e conclusões mais profundas no processo de
construção de significação. São enunciados organizados de modo a apresentar uma
conclusão, como, por exemplo, “minha casa é amarela, pois decidi destacá-la, pintando-a de
uma cor diferente das outras residências da minha rua”.
Recorrendo ao seu papel de lógico, Peirce propôs, ainda, três classificações possíveis para os
argumentos, que variam de acordo com a estratégia de verificação da verdade e com a
proposição de afirmações conclusivas. São elas:
DEDUÇÃO
INDUÇÃO
ABDUÇÃO
Para explicar cada uma dessas vertentes, utilizaremos um exemplo do próprio Peirce (1972),
esquematizado no quadro a seguir:
ARGUMENTO
Dedução Indução Abdução
Parte de um caso
específico,
particular, para
chegar a uma
conclusão geral,
mais ampla.
Segue o caminho oposto
da dedução, ou seja,
conclui algo sobre casos
particulares, a partir das
regras existentes.
Inicialmente denominada
hipótese, essa categoria
corresponde a um esforço
criativo, que propõe uma solução,
a partir da conexão entre dois
fatos.
Regra: todos os
feijões deste
pacote são
brancos.
Caso: estes feijões são
deste pacote.
Regra: todos os feijões deste
pacote são brancos
  
Caso: estes
feijões são deste
pacote.
Resultado: estes feijões
são brancos.
Resultado: estes feijões são
brancos.
  
Resultado: estes
feijões são
brancos.
Regra: todos os feijões
deste pacote são
brancos.
Caso: estes feijões são deste
pacote.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
 Peirce (1972) adaptado por Júlia Silveira e Pedro Tamburro.
Para recapitular tudo que foi discutido até aqui, apresentamos a seguir, um quadro com o
resumo das distintas formas de relação entre signos e fenômenos, a partir da perspectiva das
três triconomias propostas por Peirce.
TESTE SEU CONHECIMENTO!
ASSOCIE CORRETAMENTE OS EXEMPLOS A
CADA UMA DAS CATEGORIAS DA TERCEIRA
TRICOTOMIA DE PEIRCE.
REMA
DICENTE OU DICISSIGNO
ARGUMENTO
A RENOVAÇÃO DA SEMIÓTICA
Diante do que foi exposto, é possível perceber que a Semiótica não se restringe a um conjunto
de regras aplicáveis de maneira automática ou sem conexão com os usos práticos das
linguagens. Pelo contrário, trata-se de uma ciência complexa, de um campo amplo e
multifacetado, que é acionado em diversas áreas do saber.
AS CATEGORIAIS PROPOSTAS POR PEIRCE NOS
AJUDAM A SISTEMATIZAR A INVESTIGAÇÃO DOS
MAIS VARIADOS OBJETOS DE ESTUDO; MAIS DO QUE
ISSO, CONSTITUEM IMPORTANTES FERRAMENTAS
PARA COMPREENDERMOS AS RELAÇÕES ENTRE OS
SIGNOS E A PRODUÇÃO DE SENTIDO NA MENTE
HUMANA.
Se, no século passado, a chamada ciência dos signos já se revelava uma temática abrangente
e importante, imagine agora, diante das novas tecnologias e linguagens digitais às quais temos
acesso? Do sistema binário dos computadores, passando pelo repositório infinito de assuntos
na internet, estamos diante de uma diversidade de informações sem precedentes. Isso sem
mencionar os novos hábitos de consumo de conteúdo, por meio da lógica do hipertexto, ou
seja, os textos que agregam conteúdos e ligam palavras, imagens, sons e tudo o que pode ser
referenciado na internet.
Longe de se tornar uma ciência datada, a Semiótica continua sendo um importante conjunto de
ferramentas teóricas, úteis para a compreensão dos processos comunicativos. É um
instrumento relevante (e ainda atual!) de análise da realidade que nos cerca – e cada vez mais
midiatizada e complexa.
No vídeo a seguir, a professora Júlia Silveira comenta sobre importância, utilidades e funções
do conhecimento da Semiótica. Vamos assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discutimos as origens do campo da Semiótica como disciplina acadêmica, analisando mais
especificamente a escola americana, capitaneada por Charles Peirce, no século XX.
Estudamos as principais categorias associadas à Teoria dos Signos, que se articulam por meio
de tricotomias. Também discutimos as definições de alguns conceitos fundamentais na teoria
peirceana, como signo, objeto e interpretante, recorrendo a exemplos para auxiliar a
compreensão. Além disso, analisamos como os signos se relacionam entre si, com os
elementos e fenômenos que representam, e com os significados produzidos por meio do
pensamento humano.
Percebemos como os instrumentos analíticos da Semiótica podem ser um conhecimento de
extrema importância em um mundo em que o volume de informações e sua complexidade vêm
aumentando a cada dia.
 PODCAST
Agora com a palavra a professora Júlia Silveira, relembrando tópicos abordados em nosso
estudo. Vamos ouvir!
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
MARTINO, L.M.S. Teoria da Comunicação: ideais, conceitos e métodos. 5. ed. Petrópolis:
Vozes, 2014.
NÖTH, W. A Semiótica no Século XX. São Paulo: Annablume, 1995.
PEIRCE, C. S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2000.
PEIRCE, C. S. Semiótica e Filosofia. São Paulo: Cultrix, 1972.
SANTAELLA, L. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 42.
SANTAELLA, L. Teoria geral dos signos: semiose e autogeração. São Paulo: Ática, 1995.
SANTAELLA, L. Produção de linguagem e ideologia. São Paulo: Cortez, 1996.
SANTAELLA, L. Epistemologia Semiótica. In: Cognitio, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 93-110,
jan./jun. 2008.
SIGNO. In: Dicionário Michaelis. Consultado na internet em: 31 mar. 2021.
EXPLORE+
Assista ao vídeo A realidade transformada em símbolos, em que o professor Luiz
Mauro Sá aborda o conceito de linguagem e discute diferentes formas de representação;
produzido pela Casa do Saber.
Estude mais sobre os conceitos básicos da Semiótica, a partir da leitura do artigo
Semiótica peirceana e a questão da informação e do conhecimento, de Silvana
Drumond Monteiro, disponível no portal de periódicos da UFSC.
Leia o artigo A atualidadeestratégica da Semiótica, de Lucia Santaella, na edição de
agosto de 2020 da revista Cult.
CONTEUDISTA
Júlia Silveira
 CURRÍCULO LATTES
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