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Odontopediatria I Cárie dentária e controle do biofilme dental É a doença crônica mais comum na infância. Um problema de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Impactos da doença: piora na qualidade de vida; dor; dificuldade para comer; dificuldade de dormir; irritação; constrangimento. A cárie é uma doença dinâmica, uma disbiose, mediada pelo biofilme, modulada pela dieta, multifatorial e não transmissível, que resulta na perda mineral dos tecidos duros dos dentes. Ela é uma doença crônica e de progressão lenta, raramente auto-limitante e sem tratamento, causa a destruição da estrutura dentária. Transmitir o microorganismo não é sinônimo de desenvolvimento da doença. TRÍADE DE KEYS: bactéria – dente – dieta: é necessária uma interação desses fatores em um decorrer de tempo para que a cárie aconteça. (fatores biológicos, psicossociais e ambientais). FATORES PREDISPONENTES: - anatomia dos dentes: HOSPEDEIRO - consistência e frequência do alimento: DIETA - colonização – espécie microbiana: BACTÉRIA - capacidade tampão e fluxo salivar - fatores socioeconômicos – fatores que podem influenciar o desenvolvimento da cárie – polarização da doença HOSPEDEIRO: -anatomia dentária; -posição dos dentes na arcada; -idade dentária: maturação pós-eruptiva (até 2 anos após a erupção dentária, é o período mais crítico, observar se existe o devido controle do biofilme) DIETA: -carboidratos: amido, glicose, frutose, sacarose (fermentável) -forma de utilização -horário da ingestão -frequência -estímulo dos alimentos protetores BIOFILME MICROBIANO: São comunidades de microrganismos aderidas a uma superfície. Ex: biofilme dental Microrganismos espacialmente organizados em uma estrutura tridimensional inclusa em uma matriz de material extracelular derivado das próprias células e do ambiente. FORMAÇÃO E ESTRUTURA DO BIOFIOLME DENTAL: Segundos após a escovação: Formação da película adquirida 0-4h: Adesão de células bacterianas simples 4-24h: Crescimento de bactérias aderidas, levando à formação de microcolônias distintas 1-14 dias: Sucessão e co-agregação microbianas – alta diversidade de espécies, crescimento continuado de microcolônias 2 semanas ou +: Comunidade clímax/ placa madura, potencialmente patogênica SUCESSÃO MICROBIANA: -dieta rica em sacarose = biofilme maduro 1- sacarose facilita a formação da placa dental 2- sacarose torna a placa mais porosa 3- sacarose torna o biofilme dental mais cariogênico CARBOIDRATOS METABOLIZADOS POR BACTÉRIAS DO BIOFILME DENTAL: Monossacarídeos; dissacarídeos e polissacarídeos (amidos) -difundem-se pelo biofilme dental > a partir do substrato, induzem a formação de ácido lático > induzem a queda do pH do biofilme > armazenados como polissacarídeos intracelulares > tendência a desmineralização É um processo dinâmico. Não se deve haver um predomínio da perda sobre o ganho. FATORES DE RISCO: -idade do paciente; (+ jovem = maior dificuldade de controlar o biofilme) -acúmulo de biofilme dental; -alta frequência de ingestão de sacarose; -exposição aos fluoretos; -fluxo salivar e capacidade tampão; -experiência anterior de cárie. Risco= probabilidade das lesões surgirem ou progredirem Fator de risco= característica que aumenta a probabilidade da doença acontecer FATOR DE RISCO: ACÚMULO DE BIOFILME DENTAL - dentes em fase de erupção: não estão no mesmo nível oclusal, dificulta a higienização - margem gengival e fossas e fissuras: áreas com maior acúmulo de biofilme - apinhamento dental -locais onde os depósitos bacterianos não são frequentemente removidos ou desorganizados por forças mecânicas: mastigação, atrição, abrasão pela escovação, utilização de fio dental FATOR DE RISCO: HIGIENE BUCAL INSUFICIENTE Controle insuficiente do biofilme aumenta a suscetibilidade do desenvolvimento de lesões de cárie dentária FATOR DE RISCO: DIETA CARIOGÊNICA - orientar a diminuição do consumo de carboidratos fermentáveis refinados; - açúcar consumido entre as refeições e sob uma forma física que o retenha na cavidade bucal por um período prolongado aumenta consideravelmente o risco do desenvolvimento da cárie dentária. A dieta influencia na produção de ácidos, na quantidade e composição do biofilme bacteriano, na quantidade e qualidade da secreção salivar. PRÁTICAS ALIMENTARES SAUDÁVEIS EM RELAÇÃO À SAÚDE BUCAL: estimular o aleitamento materno – exclusivo até 6 meses – e então iniciar a introdução de alimentos sólidos; retardar a introdução da sacarose, preferencialmente após 12 meses; racionalizar o uso do açúcar; manter intervalos regulares entre as refeições (retorno do ph à neutralidade, equilíbrio DESxRE) FATOR DE PROTEÇÃO: SALIVA Tem um papel significativo na manutenção da integridade dos tecidos dentários. Funções: lubrificação, digestão, autolimpeza, ação antimicrobiana, balanço hídrico, excreção de toxinas, gustação, neutralização de ácidos, remineralização. Levantar informações na anamnese (medicação, etc) “devolve” ao dente os minerais de cálcio e fosfato que foram perdidos no processo de desxre. FATOR DE RISCO: EXPERIÊNCIA ANTERIOR DE CÁRIE Crianças que tiveram cárie precoce tem um risco aumentado de desenvolver cárie futura. Ultra-estrutural: não consegue ver clinicamente A perda mineral sempre evolui, caso não seja realizado nada para controlar 1ª mudança na translucidez do esmalte: superfície desidratada Aumento da perda mineral – redução refração – saliva A importância do diagnóstico precoce da lesão de cárie reside na possibilidade de modificar o processo carioso pelo tratamento não invasivo, evitando a progressão da lesão. MANCHA BRANCA: CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS Zona superficial: região aparentemente não afetada; Corpo da lesão: volume dos poros aumentado; perda mineral mais pronunciada. Zona escura: poros muito pequenos quando comparados à zona translúcida > resultado da precipitação de minerais nos locais previamente desmineralizados dentro da lesão. Zona translúcida: dissolução inicial do esmalte ocorre ao longo das fendas entre o esmalte prismático e interprismático CÁRIE OCLUSAL: localizada em fóssulas e fissuras estreitas e inacessíveis, são locais aonde ocorre maior acúmulo de biofilme e consequentemente, são mais vulneráveis à ocorrência de cárie. As lesões iniciam-se nos locais onde acúmulos bacterianos estão mais protegidos contra o desgaste funcional. -progressão da lesão: na superfície oclusal tem forma triangular, quando atinge a dentina, a base em direção à polpa CÁRIE EM SUPERFÍCIES LISAS: localizada na vestibular e lingual ou palatina, acompanhando a margem gengival; área de acúmulo de biofilme. CÁRIE EM SUPERFÍCIE PROXIMAL: lesões localizadas abaixo do ponto de contato das faces proximais; área de acúmulo de biofilme. essa progressão se dá por conta da direção dos prismas de esmalte PROGRESSÃO DA CÁRIE: DENTES DECÍDUOS -menor quantidade de mineral -menor espessura do esmalte e dentina -presença do esmalte aprismático -maior amplitude da câmara pulpar (a cárie atinge a câmara pulpar mais rapidamente) DIAGNÓSTICO DE CÁRIE DENTÁRIA: Devemos considerar a progressão da lesão de cárie, risco e atividade de cárie e métodos de diagnóstico. Detecção clinica de cárie dentária > compreensão dos processos biológicos envolvidos na doença > sensibilidade do método diagnóstico IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO: Ele forma a base para a decisão do tratamento; Fornece dados importantes para os planejadores de serviços de saúde, em nível populacional; Permite ao profissional aconselhar e informar o paciente e, em caso de crianças, a seus pais. MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO: métodos tradicionais > exame clínico tátil-visual e exame radiográfico -na prática clínica mesmo sem ferramentas especiais para a detecção um dentista é capaz de observar visualmenteos desvios inicias de um esmalte hígido, expressos como mudanças no brilho, cor ou textura da superfície. ALTERAÇÕES PERCEPTÍVEIS NO ESMALTE: aumento da porosidade da subsuperfície do esmalte, e diminuição da reflexão da luz na área desmineralizada. Os dentes precisam estar limpos e secos sob boa iluminação Severidade da lesão = profundidade da lesão e volume da perda mineral CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DE ATIVIDADE E SEVERIDADE DAS LESÕES CARIOSAS: CRITÉRIOS DE NYVAD: combinação de critérios tátil- visuais após cuidadosa secagem do dente: - integridade da superfície - textura - translucência/opacidade - local da lesão - cor da superfície (parcialmente, pois esse critério não deve ser analisado sozinho) EXAME CLÍNICO VISUAL -remoção do biofilme: camuflagem da lesão (a lesão pode estar escondida embaixo do biofilme); observar e remover simultaneamente ao diagnóstico. Muita das vezes, a abordagem operatória se faz necessária devido à da perda da anatomia, perda da estética e perda da função do elemento dentário após lesão de cárie SONDA EXPLORADORA: colocando força, pode causar a fratura de esmaltes que já estão desgastados, efeitos traumáticos irreversíveis; uso suave, preferência de ponta romba = adição de valiosas informações sobre consistência e textura da superfície de uma lesão cariosa.. A sonda não aumenta a precisão do exame diagnóstico. Utilização de métodos auxiliares de diagnóstico, métodos mais refinados = maior número de lesões identificadas. EXAME RADIOGRÁFICO: é um importante auxiliar para o diagnóstico; proporciona a detecção de lesões ocultas clinicamente; estima a profundidade da lesão, porém não determina se uma cavitação está presente ou ativa. TÉCNICAS RADIOGRAFICAS: -Interproximal: usada para detecção de cáries interproximais ou oclusais; -Periapical: análise da extensão radicular, alterações periodontais -Oclusal: traumas -Panorâmica: desenvolvimento da dentição como um todo SEPARAÇÃO INTERDENTÁRIA: permite a melhor visualização da lesão localizada na face proximal, permite saber se a lesão está cavitada ou não, é um recurso simples, com a desvantagem de precisar de uma visita extra. O elástico ortodôntico é colocado entre os dois dentes em questão, remove esse elástico após 48h e depois faz o diagnóstico. O diagnóstico adequado exige o conhecimento do processo da doença, sua progressão e controle. Exame clínico visual-tátil criterioso + exame radiográfico de qualidade = detecção da maioria das lesões. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: -distribuição das lesões: simetria indica fluorose -padrão: linhas horizontais, flocos de neve indicam fluorose -localização: áreas não relacionadas ao acúmulo de biofilme SELAMENTO BIOLÓGICO: realizar radiografia, verificar se existe historia de cárie; é o acúmulo/mineralização do biofilme nas fissuras, obliterando-as e transformando em pigmentação escura. Fissuras que permanecem isentas de cárie nos primeiros anos após a erupção são, posteriormente, menos susceptíveis à cárie. CÁRIE OCULTA: existe uma opacidade e translucidez do esmalte delineando o sulco, associado a microcavidades. BIOFILME DENTAL: é o acúmulo de m.o nas superfícies dentais formando colônias bacterianas distintas envoltas em uma matriz extracelular composta de glicoproteínas e polissacarídeos. A cárie e a doença periodontal são mediadas pela presença de microrganismos. CONTROLE MECÂNICO: consiste na remoção do biofilme dental a níveis aceitáveis através de meios mecanizados, principalmente escova e fio dental. SELEÇÃO DA ESCOVA EM ODONTOPEDIATRIA: selecionar escovas infantis de acordo com a faixa etária da criança, respeitando a regra básica: cabeça pequena, cabo longo e cerdas macias. 1º MOLAR PERMANENTE EM ERUPÇÃO: É um dente que demora a ocluir completamente, é o primeiro dente com características anatômicas distintas da dentição decídua. A maior suscetibilidade ao desenvolvimento de cárie nessa faixa deve-se ao maior acúmulo de biofilme porque o dente está abaixo do plano oclusal, sendo inacessível à escovação convencional. As alternativas para limpar adequadamente o dente nessa época são: uso de escovas uni ou bitufos; implementação da escovação diferenciada para molares permanentes. FIO DENTAL: seleção do fio: fios encerados com sabor (menta, tutti frutti, etc), são mais bem aceitos. Seu uso é indispensável para a remoção do biofilme localizado abaixo dos pontos de contato interproximais. Crianças de 3 a 6 anos não tem coordenação motora adequada para o uso de fio dental, devem ser auxiliadas pelos responsáveis. QUEM DEVE REALIZAR A ESCOVAÇÃO? Até a idade escolar a escovação deve ser, idealmente, realizada pelos responsáveis. Isso ocorre porque as crianças ainda não desenvolveram uma coordenação motora adequada. POSIÇÃO PARA A ESCOVAÇÃO: 0 a 3 anos: posição joelho a joelho Crianças com mais de 3 anos: posição de Starkey (permite que a criança visualize todo o processo de escovação) A grande vantagem da realização da escovação pelos responsáveis é o melhor acesso ás áreas críticas para o acúmulo de biofilme, como as superfícies oclusais. Contudo, a atitude da criança em escovar seus próprios dentes não deve ser reprimida, ao contrário, a conscientização sobre os cuidados com sua saúde bucal deve ser incentivada. TÉCNICAS DE ESCOVAÇÃO: FONES: preconizada para bebês e crianças em idade pré-escolar – movimentos circulares para as faces vestibular/lingual/palatina e vai e vem para a oclusal. STILLMAN MODIFICADA: indicada para crianças com certa habilidade manual – escova é colocada com longo eixo das cerdas lateralmente contra a gengiva deslocando para oclusal e movimento ântero posterior para a oclusal. BASS: semelhante a Stillman (movimentos vibratórios) Os dentifrícios na forma de pastas, cremes ou géis, são considerados a forma mais racional de uso de fluoretos, pois complementam as deficiências mecânicas da escovação, controlando físico- quimicamente a cárie. A difusão do flúor através dos dentifrícios tem sido considerada a principal razão para o declínio da cárie nas últimas décadas. Forma um reservatório de fluoreto de cálcio. Crianças devem usar pastas de dentes com 1.000 a 1.100 ppm de fluoreto de sódio. Também são indicadas para crianças as pastas contendo 1.450 a 1.500 ppm de monofluorfosfato de sódio (MFP) 0-3 anos: quantidade de um grão de arroz > 4 anos de idade: grão de ervilha MOTIVAÇÃO DO NÚCLEO FAMILIAR: -a participação do núcleo familiar é indispensável para o sucesso do tratamento; -as orientações fornecidas pelo profissional são de fundamental importância para a implementação dos métodos de higienização; -as orientações incluem: discussão a respeito da importância de dentes decíduos e permanentes; importância da saúde bucal para a qualidade de vida; ênfase para dentes em erupção devido ao maior risco de cárie.
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