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Fichamento do texto “Política" de Aristóteles Luísa Citro Política e Teoria do Estado II Turma C Professor Lúcio Almeida ——————————————————————————————————————— 1. Comunidade e Cidade Toda cidade é de certa forma uma comunidade e toda a comunidade é constituída em vista de algum bem. Além disso, todas as ações tomadas pelos homens tem por fim aquilo que estes consideram um bem. Assim, a cidade, sendo esta a maior e a mais elevada comunidade, visa o maior de todos os bens. Alguns acreditam que a distinção entre um rei e um pai de família é apenas o número de súdito que estes governam e que não há nenhuma diferença específica entre seus poderes. Estas asserções, entretanto, são falsas e estas questões se tornarão claras se as analisarmos até seus mais simples elementos. 2. Origem da cidade: casal, família e aldeia Para explicar a formação da cidade um excelente caminho é remontar à origem e analisar o processo natural das coisas. Primeiramente, visto que é natural a necessidade de procriação, o macho e a fêmea formam um par pois precisam um do outro para gerar descendentes. Pertence também ao desígnio da natureza que comande quem pode prover com inteligência, e que obedeça quem não pode contribuir para a prosperidade comum a não ser pela força física para trabalhar. Nesse sentido, os interesses do senhor e do escravo convergem. A natureza destina cada coisa para um único uso e todas as ferramentas são mais eficazes se servirem a uma única função. A condição da mulher difere da do escravo e somente entre os bárbaros estes estão no mesmo nível pois estes povos não possuem quem mande por natureza. Foi por isso que os poetas acreditaram que os gregos deveriam dominar os bárbaros, pois , por natureza, bárbaros e escravos se confundem. Assim, a família formou-se da dupla união do homem e da mulher e do senhor e do escravo, sendo uma comunidade naturalmente formada para satisfazer as necessidades quotidianas. As aldeias, por outro lado, foram as primeiras comunidades formadas por várias famílias para a satisfação de necessidades que vão além das diárias. A cidade, enfim, consiste em uma comunidade completa formada pela união de várias aldeias, atingindo o nível máximo de auto-suficiência. A cidade é o fim das outras comunidades e por isso existe por natureza. “Além disso, a causa final, o fim de uma coisa, é o seu melhor bem, e a auto-suficiência é, simultaneamente, um fim e o melhor dos bens.” (Política. Aristóteles. Livro I. Pagina 53. Parágrafo 2) Visto que a cidade existe por natureza, torna-se evidente que o humano é um animal político pois temos a capacidade não só da voz mas da palavra, do discurso. Assim, somos capazes de distinguir o bem do mal e o justo do injusto, sentimentos que em comunidade produzem a família e a cidade. Por fim, percebe-se que a cidade é anterior à família e ao indivíduo, o todo é anterior à parte pois tudo é definido segundo a sua capacidade ou função. Contudo, é importante frisar que assim como o homem civilizado é o melhor de todos os animais, aquele que não tem contato com a justiça e com as leis é o pior de todos. Assim, a justiça é a própria cidade, pois é esta que instaura a ordem aos cidadãos e os concedo o discernimento do que é justo. 3. A economia e suas partes Visto que a cidade é composta por várias famílias, é fundamental tratar sobre a administração familiar. Famílias completas são comportas por escravos e homens livres, sendo sua menor parte o senhor e escravo, marido e mulher e pais e filhos. Entretanto, além dessas 3 relações, há outro elemento muito importante: a arte de adquirir bens. 4. Teoria da escravatura Uma das partes principais das famílias é a propriedade, que consiste num conjunto de instrumentos necessários para o desemprenho de tarefas essenciais para a manutenção da vida. Esses instrumentos podem ser inanimados ou animados, como os escravos. Assim, os escravos pertencem aos seus senhores pois, apesar de humanos, são instrumentos destinados à ação e existência autônoma, são um objeto de propriedade e atendem à natureza o o fim do que é “ser escravo”. 5. Homens livres e escravos É importante questionar se existem, de fato, homens que nasceram para serem escravos e que estão nesta posição de forma justa e natural ou se toda a escravidão é contrária a natureza. A relação entre governado e governante não é apenas necessária, mas conveniente. Além disso, sempre que é formada uma unidade com diferentes elementos, sejam esses homens, animais ou até mesmo objetos inanimados, há manifestação de autoridade entre o que manda e o que obedece, configurando uma lei universal da natureza. A governança dos senhores sobre os escravos é natural e benéfica pois são os senhores que possuem os atributos necessários para governar, de forma que a inversão dos papeis seria prejudicial para ambos. Dessa forma, é melhor para os escravos estarem sujeitos a este tipo de autoridade. Os escravos por natureza, além de pertencer a outros, não possuem razão, apenas a compreendem e é isso que os difere de animais, pois estes nem sequer são aptos a participar da razão e apenas obedecem passivamente às ordens. Quanto a utilidade, entretanto, escravos e animais não diferem pois ambos prestam auxilio com seus corpos para atender nossas necessidades. Torna-se evidente, portanto, que há, de fato, homens que nasceram para serem escravos e para estes a escravidão não é apenas adequada e natural mas, também, justa. 6. Controvérsia sobre escravatura Além da escravatura por nascimento, há também aqueles que são escravos em virtude da lei que garante que os despojos da guerra pertencem aos vencedores. Muitos juristas questionam se este tipo de escravidão é justa pois, nestes casos, o critério de superioridade está pautado na violência e na vantagem de quem tem mais força. Esta é uma discussão com muitas controvérsias pois a coragem, num grau eminente, sempre permanece vencedora, a vitória supõe superioridade e a própria força é uma espécie de mérito. A dúvida permanece, portanto, quanto ao direito: uns acreditam que a justiça reside na benevolência e outros que a justiça é o poder do mais forte. Há, ainda, outros que afirmam que a escravidão por guerras é justa pois a lei é sempre justa. Entretanto, estes se contradizem pois a própria guerra pode ser injusta em seu princípio. Ainda que a discussão acerca da distinção entre o homem livre e o escravo por natureza tenha controvérsias, não restam dúvidas de que se encontram em todos os lugares combinações de pessoas nas quais a uma cabe servir e à outra comandar. O escravo por natureza e o senhor possuem os mesmos interesses e amizades recíprocas, mas este não é o caso quando eles só estão reunidos pelo rigor da lei ou pela violência dos homens. 7. O senhor e o escravo Dadas as considerações anteriores, fica claro que nem todas as formas de governos são as mesmas. O governo da casa é uma monarquia pois só um governa enquanto um governo político é exercido por todos que são livres e iguais. O “senhor" não é atribuído desta denominação devido a uma ciência adquirida que faz de um homem senhor de um outro., esta qualidade, como a liberdade e a servidão, tem um caráter natural. Ou seja, o senhor não tem esta posição pois possui escravos, mas porque sabe administra-los. 8. A propriedade e a arte de aquisição de recursos na economia O senhor da casa deve buscar possuir os recursos acumuláveis necessários para a manutenção da vida e úteis à comunidade familiar, este tipo de arte de aquisição faz parte da economia. O acumulo desses recursos consiste na riqueza e, apesar de não existirem limites para a riqueza do homem, os recursos são limitados. 9. Origem, desenvolvimento e tipos de trocas. A moeda. Existe outro modo de aquisição que muitos supõe que é idêntica aos recursos anteriormente mencionados mas, na verdade, são distintas pois uma é natural e a outra não. Tudoque possuímos possui duplo sentido um objeto pode ser utilizado de sua forma adequada ou como um meio para troca para preencher a necessidade da auto-suficiência natural. Assim, com o desenvolvimento das comunidades o uso da moeda foi criada sob a pressão de necessidade pois a população precisava de algo facilmente transportável para trocar e suprir suas carências naturais. Uma vez inventada, surgiu, também, o comercio e este foi se sofisticando. A arte de adquirir bens e produzir riqueza e dinheiro é, portanto, associada a moeda e a sua função consiste em identificar as fontes de máximo rendimento. No entanto, o dinheiro é somente uma ficção e todo seu valor é o que a lei lhe dá. Além disso, todas as artes querem indefinidamente seu fim e são limitadas por ele. O fim a que se propõe o comércio, porém, não tem limite determinado. Nesse contexto, alguns acham que é preciso não somente conservar o que se tem, mas também multiplicar o dinheiro ao infinito, de forma que estes indivíduos não pensam em viver bem e são tomados por suas paixões, reduzindo-se apenas a um meio de obter riqueza. 10. A arte da aquisição natural. A prática da usura A natureza deve assegurar a existência de recursos pois é sua função oferecer alimento aos seres que dela tiraram tiraram seu primeiro sustento. A arte de adquirir bens pela forma mercantil é censurável e os juros é a forma de adquirir bens mais contraria a natureza pois se afasta da finalidade para qual o dinheiro foi instituído. 11. Os diferentes modos de aquisição. A prática do monopólio. Podemos adquirir bens por diversas formas. A agricultura e a criação de animais, o comércio, o empréstimo de dinheiro, o trabalho assalariado (seja por especialização artesanal seja por trabalho braçal), entre outros. Estas demandam níveis distintos de intelecto e exaustão corporal. Ainda, algumas cidades, quando necessitam de dinheiro, asseguram monopólios para gerar inflação. Por fim, é útil que os homens que dedicam-se à assuntos públicos possuam este conhecimento pois as cidades precisam destes procedimento para impulsionar os rendimentos e garantir o bem comum. 12. A família: autoridade marital e autoridade paternal A economia é composta por três partes: a senhorial, a paternal e a a conjugal. As mulheres e os filhos são governados pelo marido e pai. Entretanto, ainda que sejam todos seres livres, a forma de autoridade exercida pelo homem é diferente. O marido governa a mulher como cidadão e os filhos como súbditos. Fica claro, portanto, que a relação entre homem e mulher é permanentemente de desigualdade. 13. As virtudes dos membros do lar A administração do lar diz respeito principalmente aos homens virtuosos e livres. O que define que o homem da casa é sempre o apto a mandar e os demais a obedecer é o fato de que o escravo não tem capacidade deliberativa, a mulher não tem faculdade de decisão e a criança ainda não tem essas capacidades bem desenvolvidas. Ademais, apesar de todos possuirem virtude moral a moderação, a coragem e a justiça não pertencem da mesma forma à mulher como pertencem ao homem. Assim, o homem, a mulher, o escravo e a criança possuem virtudes peculiares e em níveis distintos. Ainda, visto que a esfera doméstica faz parte da cidade, a virtude dos indivíduos mencionados fazem parte da virtude do todo e, por isso, tanto as crianças quanto as mulheres devem ser educadas de acordo com o regime político estabelecido, garantindo a perfeição da cidade. ———————————————————————————————————————— Conclusão Crítica: É fato que, ao observar a obra de Aristóteles com o olhar contemporâneo da atualidade, boa parte de suas ideias soa absurda e, em alguns casos, até mesmo criminosa. A concepção de que existem homens nascidos naturalmente para a escravidão e de que homens possuem autoridade e superioridade sobre as mulher são retrógradas até mesmo para os mais conservadores do século XIX. Entretanto, ao considerar que textos escritos 300 anos antes de Cristo são estudados ainda nos dias de hoje, devemos enaltecer a genialidade de Aristóteles. O estudo das origens das cidades desenvolvido pelo autor serviu de base para diversos pensadores posteriores a ele e, por isso, confirmam-se como absolutamente corretas. Além disso, na relação entre a capacidade de discurso do homem e o fato de que o ser humano é um animal político Aristóteles faz uma análise antropológica e social que ecoa até os dias de hoje em livros de ciências humanas e se mostra profundamente essencial para a compreensão das comunidades. Por fim, o autor faz análises econômicas que, ainda que milênios depois, ainda aplicam-se em nossa sociedade e comprovam, mais uma vez, a atemporalidade do pensador.
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