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1 Análise de patologias em torre cilíndrica de concreto armado através de inspeção visual– Município de Sinimbu/RS Renata Sonnenstrahl de Souza – re.sonnes@gmail.com MBA Projeto, Dimensionamento e Modelagem de Estruturas e Fundações Instituto de Pós-Graduação - IPOG Canoas, RS, 12 de junho de 2021 Resumo O presente artigo tem como objetivo apresentar uma estrutura de concreto armado cilíndrico usada como suporte para antenas de comunicação que sofreu as consequências de um período de alta demanda e falta de cuidados, contribuindo diretamente para a diminuição de sua vida útil e durabilidade. O objeto de estudo foi a torre cilíndrica de concreto armado localizada no município de Sinimbu no estado do Rio Grande do Sul construída em 1998. Por ser uma estrutura nova em termos de projeto, o nível de patologias que deveria ser normal para a sua vida útil teria grau de risco mínimo, ou seja, apenas estéticos. Entretanto, através da inspeção visual foi possível identificar que há demais problemas patológicos com causa desconhecida, considerando todas as possibilidades, incluindo problemas de execução para a avaliação da estrutura. A torre de Sinimbu retrata a importância da manutenção preventiva, inclusive quando é possível identificar vícios construtivos. Palavras-chave: Patologias. Torre de concreto. Inspeção visual. 1. Introdução As estruturas cilíndricas de concreto armado construídas para a telefonia fixa nos anos 90 possuem o mesmo método construtivo de um edifício, tratando-se de estabilidade estrutural e exposição aos ventos. O padrão utilizado para elaboração de projeto e construção é basicamente o mesmo, possuindo poucas variações na fundação de acordo com o solo da região. São elementos de grande porte e possuem alta capacidade para carregamento estrutural. Sabe-se que a durabilidade de um elemento de concreto está diretamente relacionada a sua qualidade construtiva e manutenção, portanto é de suma importância a verificação da condição da estrutura quando da execução de laudo estrutural. Com o passar dos anos, os projetos originais acabaram se perdendo, tornando-se difícil a elaboração de um documento comprovatório da situação atual da estrutura sem conhecer suas reais condições de projeto e sem histórico do momento de sua construção. Não há referências literárias sobre a capacidade estrutural linkada com as patologias existentes para torres de concreto autoportantes utilizadas para telefonia. O objetivo deste artigo é retratar a relação da vida útil e durabilidade de uma torre cilíndrica de concreto autoportante com as patologias do concreto identificadas, evidenciando a sua condição atual juntamente com sua capacidade. Para tal, será estudada uma torre deste modelo localizada em Sinimbu/RS, implantada em 1998, com 86m de altura. 2. Dados da torre e do local Sinimbu pertence à Mesorregião Geográfica Centro-Oriental do Rio Grande do Sul, microrregião de Santa Cruz do Sul, e localiza-se entre as coordenadas geográficas 2 29°19’ S a 29°35’ de latitude Sul e 52°25’ W a 52°45’ de longitude Oeste (RUHOFF, 2002:59). Segundo dados do IBGE (2021), a cidade tem 510 km² de área de unidade territorial e cerca de 10.000 habitantes. Referente a superfície do terreno, abrange dois tipos de relevo: Topo do Planalto e Rebordo do Planalto. Ou seja, trata-se de um terreno predominantemente plano com alguns declives. A região apresenta o solo formado pela sobreposição de rochas vulcânicas com arenitos eólicos. Sinimbu possui duas torres principais de telecomunicação para a distribuição dos serviços de telefonia (principalmente fixa), uma delas, objeto de estudo, localizada cerca de 16km do centro da cidade, onde está localizada a outra estrutura. Figura 1 - Localização da torre de concreto em comparação ao centro da cidade de Sinimbu - RS Fonte: Dados produzidos pelo autor (2021) A altitude da localização da torre é de 620 metros, sendo que a estrutura possui altura de 86 metros. Foi construída com concreto armado com seção circular constante de 5,4 metros de diâmetro, paredes com 20 centímetros de espessura, lajes internas a cada 5,2 metros e a parte superior acima da cota de 20 metros possui 13 janelas de trabalho, 5 por pavimento, com aberturas de 1,15 metros por 3,1 metros. Figura 2 - Torre de Concreto Circular Fonte: Laudo estrutural TIM (2020) 3 3. Sobre torres utilizadas para telecomunicação A torre objeto de estudo era de propriedade CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações), que já estava associada ao Sistema Telebrás. Foi construída no mesmo período em que a empresa estava passando por uma reestruturação organizacional e sendo privatizada, quando, em 1998, o Governo optou pela venda da maior parte das ações da empresa para o consórcio liderado pela Telefónica Internacional de España (RUDUIT, 2002:404). Neste mesmo ano, a empresa estava prevendo a instalação de quarenta mil linhas telefônicas ao mês, objetivando a ampliação da planta da CRT e construção de estruturas de grande porte para instalação de antenas para a telefonia fixa em todo o país. Após esse período, a empresa foi repassada para diversas companhias até que em 2008 passou a ser Oi S.A. (SANTOS, 2020:43), proprietária da torre objeto deste estudo atualmente. Considerando o período em que a torre foi concebida, é possível concluir que o projeto foi elaborado atendendo as antigas normas da própria estatal, tais como a SDT 240- 410-600/1197 e SDT-240-430-601/1997, baseadas em normas brasileiras e internacionais, tendo como diferencial o desenvolvimento próprio dos critérios de projeto, com as necessidades adaptadas a seu escopo atual (ZAMPIRON, 2008:22). As torres de telecomunicação são distribuídas entre estaiadas, autoportantes e mistas. A formação mais comum para o RS são as torres autoportantes, sendo compostas por uma única estrutura com a concepção estrutural em concreto ou aço, pois apesar de possuírem o custo de fabricação maior, são mais confiáveis no quesito de capacidade estrutural e possuem menos necessidade de manutenção em comparação com as estruturas estaiadas (ZAMPIRON, 2008:25), por exemplo. Em razão do alto número de construções necessárias para atendimento das obrigações impostas pela Anatel e busca por novos clientes, é notável que grande parte das torres foram dimensionadas de maneira simples e barata, obtendo um padrão “seco” para diversas localidades, sem considerar dados específicos do solo e vento da região para o correto dimensionamento. Com base nessa informação, e em razão de serem projetos antigos e que se perderam com o tempo, muitas dessas estruturas podem ser baseadas em demais projetos elaborados pela própria companhia para outras localidades. O grande diferencial das estruturas cilíndricas de concreto é a sua capacidade em termos de carregamento (peso) e AEV (área de exposição ao vento). Enquanto uma torre metálica autoportante de 80m de altura pode suportar cerca de 24m² de AEV em média, uma torre cilíndrica de concreto com altura semelhante suporta cerca de 100m² de AEV. É uma diferença expressiva em termos de capacidade estrutural e justifica a sua concepção devido à alta demanda da época e pela facilidade da modelagem em pórtico espacial (semelhante a um edifício), tendo como ponto negativo a demora para a sua execução em comparação com uma torre metálica. 3.1. Projetos originais e execução Em 1998 todas as apresentações de documentos eram realizadas através de vias físicas, projetos e memoriais impressos. Todos os arquivos eram guardados e catalogados para futuramente serem facilmente encontrados, caso necessário. Porém, em 2009 ocorreu um incêndio no 17º andar do prédio sede em Porto Alegre (TERRA, 2009), e teve como consequência a manobra de urgência de deslocamento dos projetos para uma outra estação onde não houvesse perigo, ocasionando a perda de diversos arquivos neste trajeto, incluindo o da estrutura em questão. Portanto,é muito difícil estabelecer o diagnóstico de uma estrutura sem conhecer o 4 seu projeto e o histórico de como foi a sua execução. É possível buscar estruturas semelhantes, de mesmo fabricante, implantada no mesmo ano em uma região próxima, para termos o embasamento mínimo como foi elaborado o seu projeto. Porém, não é uma informação confiável. O ideal é realizar ensaios específicos para delimitação de armaduras e resistência do concreto, o que nem sempre é viável. 3.2. Parâmetros do vento O principal carregamento considerado em torres de telefonia é através da ação do vento, sendo utilizada como base a norma NBR 6123 (1988), que apesar de não especificar detalhadamente as considerações do vento com relação a torres de telefonia, a norma oferece subsídios para o cálculo em estruturas de forma geral. O cálculo tem como base estudos meteorológicos que determinam a velocidade básica do vento (Vo) através de isopletas, multiplicado por três coeficientes (S1, S2 e S3) resulta na velocidade característica do vento. A região do estudo é localizada no centro do Estado do Rio Grande do Sul, onde através de interpolação é possível definir a velocidade básica a 44 m/s, conforme imagem abaixo. Figura 3 – Estrutura de Sinimbu inserida na isopleta da NBR 6123 Fonte: Laudo estrutural TIM (2020) Abaixo estão os coeficientes que são necessários para o cálculo. a) S1: Fator topográfico. Coeficiente que determina a influência dos ventos de acordo com a topografia do local. Ou seja, quando há interferência de morros ou taludes, há aumento da velocidade do vento; b) S2: Fator de rugosidade do terreno, dimensões da edificação e altura sobre o terreno. Coeficiente que une e classifica as informações para estipular o perfil da velocidade do vento de acordo com o tipo do terreno, através da subdivisão de classes e categorias; c) S3: Fator estatístico. Coeficiente que determina o grau de segurança e vida útil da edificação. Como o projeto original da estrutura se perdeu com o tempo e não há as informações para cálculo da Vo, é necessário estipular os valores conforme abaixo. a) Fator topográfico S1 = 1,00; b) Fator de rugosidade S2 = 1,09. Categoria III, Classe C; 5 c) Fator estatístico S3 = 1,10. Recorrência de 100 anos. Inserindo os dados na equação abaixo, temos que a velocidade característica do vento é de 53,96 m/s. 𝑉𝑘 = 𝑉𝑜 × 𝑆1 × 𝑆2 × 𝑆3 𝑉𝑘 = 53,96 𝑚 𝑠 3.3. Carregamento O principal carregamento para análise de uma estrutura de telecomunicações é a área de exposição ao vento (AEV), que basicamente é a área da face da antena multiplicado por um coeficiente de arrasto definido por norma. Além disso, são considerados também o peso próprio da estrutura, peso das antenas instaladas, os acessórios (como escadas metálicas e suportes de antenas), lajes internas, leito vertical interno, pessoas para manutenção (4 pessoas de 70 kg cada), equipamentos para manutenção e cargas horizontais. Abaixo está a relação atual de antenas instaladas na torre de Sinimbu. Altura (m) Qtd Tipo Diâmetro (m) Área da face (m²) CA AEV (m²) 92,0 1 MW 3,00 7,07 1,6 11,31 88,0 1 MW 1,20 1,13 1,6 1,81 82,0 1 MW 0,30 0,07 1,6 0,11 82,0 2 MW 3,60 10,18 1,6 32,57 77,0 1 MW 2,40 4,52 1,6 7,24 72,0 1 MW 1,20 1,13 1,6 1,81 58,0 1 MW 3,00 7,07 1,6 11,31 46,0 1 MW 1,80 2,54 1,6 4,07 42,0 1 MW 2,40 4,52 1,6 7,24 26,0 1 MW 1,80 2,54 1,6 4,07 22,0 1 MW 3,00 7,07 1,6 11,31 Altura (m) Qtd Tipo Dimensões (m) Área da face (m²) CA AEV (m²) 65,0 1 Suporte 1,50 x 0,10 0,15 1,2 0,18 45,0 1 Suporte 1,50 x 0,10 0,15 1,2 0,18 40,0 1 Suporte 1,50 x 0,10 0,15 1,2 0,18 35,0 1 Suporte 1,50 x 0,10 0,15 1,2 0,18 30,0 1 Suporte 1,50 x 0,10 0,15 1,2 0,18 O somatório da área de exposição ao vento com coeficiente de arrasto das antenas e suportes é de 93,75 m². Nota-se que o carregamento das antenas de telefonia fixa é bastante expressivo, o que contribui para a necessidade de instalação de uma estrutura desse porte. 3.4. Análise estrutural A análise apresentou que o carregamento existente de 93,75 m² de AEV representa 98,01% da capacidade total da estrutura. Ou seja, a estrutura está em plenas condições de utilização do ponto de vista estrutural, sem a consideração da análise 6 de nenhuma patologia. Figura 4 – Análise das tensões Fonte: Laudo estrutural TIM (2020) Figura 5 – Reações de apoio Fonte: Laudo estrutural TIM (2020) 4. Patologias Apesar do resultado da análise estrutural ser favorável para o carregamento existente com reserva de carga, cabe ressalvar que não foi avaliado em nenhum momento as patologias do concreto neste laudo estrutural, item de suma importância para qualquer edificação ou torre de concreto. Recentemente houve diversos casos de postes de concreto (BARBOSA, 2007:2) que caíram justamente por não ser investigado devidamente a capacidade estrutural em conjunto com as patologias existentes. Entra aqui o item de manutenção da estrutura, que também é importante para que a mesma permaneça com sua capacidade total disponível. A partir do ritmo acelerado da construção civil, é possível notar que algumas estruturas podem apresentar desempenho insatisfatório por diversos fatores, dentre eles o surgimento das patologias no concreto armado, que contribui para a deterioração da estrutura e o encurtamento de sua vida útil. O segmento de patologias estuda a origem do problema, suas causas, sintomas e viabilidade de aplicar uma solução preventiva ou para sanar o problema, se possível. Na torre em estudo, não há informações sobre o projeto original e sobre como foi a execução. Portanto, fica difícil especular a origem de qualquer patologia quando não se tem noção da qualidade do concreto, dependendo de sua intensidade da patologia, influenciando diretamente na durabilidade e vida útil da estrutura. A NBR 6118 (2004) define a durabilidade como um dos três principais grupos de requisitos de qualidade da estrutura, juntamente com resistência e desempenho, e cita que consiste na capacidade da estrutura resistir às influências ambientais previstas e definidas pelo autor do projeto e o contratante. Já a vida útil é descrita pela 7 norma como o período durante o qual se mantém as características das estruturas de concreto, desde que atendidos os requisitos de uso e manutenção prescritos pelo projetista e pelo consultor. A torre de telefonia da Sinimbu teve a sua construção concluída em 1998, ou seja, tem sua vida útil até o presente momento em 23 anos. Pode-se considerar que é uma estrutura relativamente nova, tendo em vista que a maioria dos projetos são elaborados com uma vida útil de projeto mínima de 50 anos. Entretanto, a norma também afirma que a vida útil da construção em si pode ser segregada por partes, ou seja, determinadas partes da estrutura podem merecer consideração especial com valor de vida útil diferente do todo. Apesar de ser uma torre “nova”, já apresenta algumas patologias como fissuras, infiltrações e armaduras aparentes. Entende-se por vida útil da estrutura um período efetivo de tempo em que as características da estrutura e dos seus materiais componentes permanecem acima dos limites mínimos especificados e satisfazem os requisitos de desempenho, sem ações não planejadas de manutenção e/ou reparo (DOMICIANO, 2020:2). A classificação da vida útil de uma estrutura é classificada por Arivabene (2015:3, apud HELENE, 1997) em quatro tópicos principais: vida útil de projeto, vida útil de serviço, vida útil total e vida útil residual. Os tópicos são divididos em um gráfico que relaciona o desempenho com o tempo, apresentando o gráfico que delimita o colapso ou perda de funcionalidade total, conforme figura 6. Figura 6 – Vida útil das estruturas Fonte: Arivabene (2015:4 apud HELENE 1997) A estrutura inicia na fase de projeto (a), onde o processo dos materiais escolhidosirá atingir a resistência para o qual foram dimensionados. Não há manifestação patológica neste período, apenas ações esperadas e previamente consideradas. Após o aparecimento dos efeitos de agentes agressivos, a estrutura entra na fase de serviço (b), onde as patologias apresentadas devem ser tratadas a fim de manter ou não piorar a durabilidade da estrutura. Quando ocorre o colapso total ou parcial, a estrutura entra em sua vida útil total (c). E, por último, quando há a possibilidade de a estrutura atender um carregamento menor do que foi projetada, está no seu período residual (d). 8 Toda a estrutura de concreto deve ser dimensionada considerando os fatores externos de risco, como as condições ambientais do local onde a estrutura será construída, atendendo os requisitos mínimos de segurança e estabilidade, incluindo a qualidade da execução. Neste caso não há registros de projeto e execução, os fatores que podem ser considerados para a verificação da deterioração do concreto nestas etapas deverão ser corretamente arbitrados dependendo do tipo de patologia apresentado, pois de acordo com Santos (2014:17, apud PIANCASTELLI, 2014), os principais problemas de patologias em uma estrutura são devido a dificuldades na execução. Entretanto, não podemos ignorar o fato de que a manutenção e uso da estrutura são de suma importância para a sua durabilidade, já que possuem taxa de 3% de incidência de manifestações patológicas. Figura 7 – Fatores de problemas patológicos Fonte: Santos (2014:17 apud PIANCASTELLI 2014) Os fatores patológicos causados por mal-uso da estrutura e falta de manutenção são basicamente ocasionados por desconhecimento técnico, incompetência e problemas econômicos (SANTOS, 2014:20). O uso da estrutura deve seguir as orientações para o qual a torre foi projetada, atendendo o carregamento proposto e tomando cuidado especial no momento da fixação de novos suportes e materiais que possam de alguma forma agredir o concreto. Conforme a norma de Inspeção Predial do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE, 2012), as patologias têm a sua origem classificada em endógena, exógena, natural e funcional. a) Endógena: Originária da própria edificação, ou seja, são oriundas da etapa de projeto e/ou execução, podendo ter influencia o tipo de material empregado; b) Exógena: Originária de fatores externos, ou seja, são danos causados por terceiros como acidentes, vibrações, escavações, etc.; c) Natural: Originária de fenômenos da natureza, ou seja, podem ser inevitáveis, como o efeito da maresia e variações de temperatura; d) Funcional: Originária da degradação de sistemas construtivos pelo envelhecimento natural e, consequente, término da vida útil. 4.1. Patologias comuns para estruturas de concreto armado Segundo Pozzobon (2018), os sintomas mais comuns nas estruturas de concreto armado são: fissuras, eflorescências, flechas excessivas, manchas aparentes no concreto, corrosão das armaduras, nichos de concretagem e desplacamento do concreto. As fissuras são o aspecto mais encontrado em estruturas de concreto, principalmente por se tratar de um processo natural da trabalhabilidade do concreto devido ao esforço 9 de tração em relação a resistência, inclusive não sendo necessariamente um problema estrutural em alguns casos. O concreto é um material relativamente “fraco” para o esforço de tração e a fissura é um fenômeno normal onde o concreto trabalha para suprir a tração necessária. Além da tração, a torre também fica suscetível aos demais esforços estruturais, como flexão, cisalhamento e torças, que ocasionam a deficiência na durabilidade, resistência e aparência para a qual a estrutura foi projetada. As fissuras decorrentes de esforços estruturais podem ter diversas causas, sendo as principais: falhas de execução, controle tecnológico do concreto inadequado e erros de projeto. Outro tipo de fissura muito comum são as decorrentes da retração do concreto, que também são fenômenos naturais do concreto. Quando a massa de concreto vai endurecendo, ocorre a perda de água e consequentemente a sua diminuição em volume, e possíveis fissuras são geradas. Esse sintoma evidencia a importância do processo de cura e de impermeabilização da superfície quando necessário. Quando a fissuração evolui para trincas, expondo a armadura da estrutura, esse processo é conhecido como corrosão das armaduras. As armaduras são protegidas pela massa de concreto e, uma vez expostas ao ambiente, ficam suscetíveis a degradação natural do aço em contato com o ar e água. Existem diversos mecanismos para o processo de corrosão das armaduras. Uma delas é causada pelo contato do aço com CO2, causando o fenômeno chamado de carbonatação. O dióxido de carbono diminui o pH do concreto em sua superfície, e esse processo pode se espalhar internamente através de poros e fissuras, até atingir a armadura e iniciar o seu processo de corrosão. Esse processo pode ser agravado devido a classe de agressividade ambiental da região e porosidade do concreto. A classificação da vida útil de uma estrutura de concreto foi definida por Tuutti (1982) considerando a corrosão das armaduras através de duas fases de degradação. A partir desses modelos, Helene (1993:50) sugere que a degradação de uma estrutura é dividida em quatro tópicos principais: vida útil de projeto, vida útil de serviço ou de utilização, vida útil última ou total e vida útil residual. Os tópicos são divididos em um gráfico que relaciona o desempenho com o tempo, apresentando o gráfico que delimita o colapso ou perda de funcionalidade total, conforme figura 8. Figura 8 – Vida útil das estruturas tendo como referência o processo de corrosão das armaduras Fonte: Helene 1993 10 5. Inspeção visual A inspeção visual é realizada para constatar através de relatório fotográfico as patologias presentes na estrutura, de modo que seja possível avaliar a sua extensão e gravidade, com embasamento teórico nas normas disponíveis. Para o estudo em questão, não foi utilizado nenhum aparelho instrumento específico para conferência e ensaios, limitando a análise à percepção humana para que haja o entendimento das manifestações. São diversos os motivos em que uma estrutura de concreto pode apresentar patologias. Sinimbu é um município que possui temperaturas muito extremas ao longo do ano, com a média mínima de 8,7 C° e média máxima de 29,7 C° ao longo de 30 anos (IRGA, 2010). A variação climática contribui para a fissuração do concreto por movimentação térmica, ou retração térmica, que é um fenômeno natural na construção. Todos os materiais empregados na execução da torre estão sujeitos a dilatações com o aumento da temperatura e contrações com a sua diminuição. Em elementos maciços, a taxa de calor de hidratação é maior que a capacidade de dissipação para uma dada seção, podendo levar ao surgimento de microfissuras internas (SANTOS, 2014:52), que evoluem com o passar dos anos. As fissuras na torre de Sinimbu têm abertura inferior a 0,5mm, tendo grau de risco mínimo conforme IBAPE (2012), tendo comprometimento apenas estético. Estão localizadas principalmente nas paredes externas e nas extremidades das aberturas presentes na torre. Podem ser observadas na imagem abaixo figura 9 e estão na direção vertical. Figura 9 – Exemplo de fissura na parte externa da estrutura Fonte: Dados produzidos pelo autor (2021) Por apresentarem baixo risco de acordo com o IBAPE (2020), não comprometem a funcionalidade da estrutura e possuem comprometimento apenas estético. As fissuras são tratadas como sintoma, ou seja, mostram que a estrutura está com problemas, indicando que se não for realizada manutenção, as patologias poderão evoluir 11 substancialmente, agravando os problemas. Apesar do risco baixo desse caso, a patologia deve ser tratada e monitorada para que seja evidenciado caso evolua e indique o agravamento da situação.Entretanto, algumas fissuras estão localizadas nas aberturas, onde possuem antenas instaladas e, portanto, carregamento acentuado. Nestes locais o evento requer maior atenção, devendo ser recuperada a fissura com rapidez antes da evolução da patologia e consequente perda de durabilidade deste ponto específico. Caso isso ocorra, a vida útil da estrutura entrará na fase residual, onde a partir de uma intervenção a estrutura ainda será capaz de desempenhar as funções para qual foi projetada. Acompanhado do diagnóstico acima, a estrutura também apresenta fissuras na horizontal e vertical que acompanham a armadura, representando já o processo de corrosão por expansão das armaduras, caracterizado como falha na impermeabilização do concreto. A figura 10 mostra que essas fissuras são externas e são causadas devido a torre estar exposta a intempéries, ou seja, as águas das chuvas penetram no concreto não impermeabilizado e diminui o seu PH, causando a corrosão da armadura e fissuramento do concreto. As fissuras estão desde a base até o topo da estrutura, podendo também ser caracterizadas como fissuras de tração, considerando que o concreto tem baixa resistência a esse esforço, sendo que o que combate esse problema são as armaduras da estrutura, que em suma estão em processo lento de corrosão devido ao problema de impermeabilização. Figura 10 – Exemplo de fissuras na parte externa da estrutura Fonte: Dados produzidos pelo autor (2021) A figura 11 abaixo mostra a desagregação do revestimento da estrutura, provando que o concreto de fato não foi impermeabilizado corretamente na parte externa. Além disso, o revestimento não deve ter sido aplicado de forma correta, facilitando ainda mais o processo de infiltração. Tal patologia tem risco mínimo segundo o IBAPE (2020) devido a sua localização (ao lado da porta de acesso à torre), mas deve ser recuperada para que o fenômeno não se alastre e prejudique o concreto adjacente. 12 Figura 11 – Desagregação do revestimento Fonte: Dados produzidos pelo autor (2021) As armaduras das lajes de transição apresentam processo de corrosão, já desprotegidas pelo concreto, causados pela mesma origem das fissuras e desagregação já mencionados, porém em estado mais avançado e potencializado pela abertura na laje e sistema de drenagem próximo. É o exemplo clássico de quando a estrutura apresenta os sintomas (fissuras) e não é feita a manutenção preventiva, ocasionando na diminuição de durabilidade e vida útil do elemento estrutural. São fissuras de grau médio (IBAPE 2020), possuindo perda parcial de desempenho. 13 Figura 12 – Corrosão das armaduras na laje de transição do térreo para o primeiro pavimento Fonte: Dados produzidos pelo autor (2021) Na base das paredes também há armaduras em processo avançado de corrosão. Tal deterioração do concreto é ocasionada pela oxidação da armadura, gerando a corrosão. Por ser um ambiente interno, a provável causa seja infiltração pelo contato da estrutura com o solo, pois não temos conhecimento de como foi projetada e executada a fundação da torre em estudo. A passagem de água é realizada através dos vazios do concreto, que não deve ter sido impermeabilizado corretamente. Esse tipo de patologia pode ser classificado como risco médio de acordo com o IBAPE (2020), pois trata-se de uma deterioração precoce com perda parcial de desempenho. Figura 13 – Corrosão das armaduras nas paredes do térreo Fonte: Dados produzidos pelo autor (2021) Há no térreo uma parte do concreto em estágio avançado de deterioração, com armadura exposta, possivelmente devido a intervenção de terceiros para fixação da escada de acesso aos outros pavimentos. 14 Figura 14 – Corrosão da armadura devido a intervenção de terceiros Fonte: Dados produzidos pelo autor (2021) 6. Conclusão A torre de Sinimbu apresenta patologias características de oxidação das armaduras, em suma, porém, as suas causas podem ser diversas. Uma das possibilidades é a espessura do cobrimento não ter sido suficiente. Outra é a carbonatação, que não deve ser descartada apesar da região ser rural e não apresentar altos níveis de dióxido de carbono (CO2). Pode ser também pelo alto nível de porosidade do concreto (mal adensamento) ou por impermeabilização falha, tendo como consequência a facilitação da entrada de agentes externos degradantes pelos vazios do concreto. Foi realizado apenas a inspeção visual, que retrata os tipos de patologia a olho nu. As suas causas podem ser confirmadas através de ensaios específicos, que não foram realizados. Entretanto, através da inspeção visual, mesmo com a causa e origem não confirmadas, é possível estabelecer através do sintoma o grau de risco dos locais que estão sofrendo com diminuição de durabilidade. Todas as patologias apresentadas tem causa endógena, ou seja, causados por problemas de projeto ou de execução, com exceção da última (figura 14) que é de causa exógena. A torre possui elementos estruturais com patologias de grau médio, nas lajes intermediárias e laje do solo, e deve-se considerar a recuperação da parte estrutural e nova verificação do carregamento, devido a sua diminuição focal de durabilidade. Para uma estrutura deste porte, não é viável um reforço estrutural de alta escala em todas as lajes, por exemplo, portanto deve-se considerar o alívio do carregamento além do tratamento da patologia. A laje do térreo que está em contato com o solo deve ter maior atenção, pois apesar de não demonstrar tantas fissuras como nas lajes de transição, pode indicar que a fundação está apresentando problemas, influenciando diretamente em sua durabilidade. As causas das patologias no concreto de torres autoportantes são devido a construção massiva de torres para a viabilidade da distribuição dos serviços tecnológicos sem o 15 acompanhamento apropriado de projetos e execução. Uma estrutura relativamente nova não deveria estar apresentando tal nível de patologias e, com certeza, as patologias não apresentariam risco para a estrutura se os sintomas iniciais tivessem sido tratados de maneira preventiva, mesmo quando é notável a presença de vícios construtivos. O presente artigo conclui que, apenas com uma inspeção visual, é possível determinar o grau de risco das patologias, diminuição da vida útil e durabilidade estrutural. Referências ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2004. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: Forças devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 1988. ARIVABENE, Anderson Luís. Patologias em Estruturas de Concreto Armado: Estudo de Caso. Revista Especialize On-line IPOG, Goiânia, v. 3, n. 10, p. 22, 10 jun. 2015. BARBOSA, Paulo Eduardo. 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