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Resenha ONFRAY, Michel, 1959- TEORIA DA VIAGEM:poética da geografia/ Michel Onfray; tradução de Paulo Neves.-Porto Alegre, RS:L&PM, 2009.

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O texto de Onfray aborda as questões das viagens, o primeiro assunto a ser abordado é acerca do querer a
viagem. Para ele, antes da iniciativa de viajar, todo o corpo trabalha.O desejo de viajar não está conosco desde o
ventre, e sim ocorre mais tarde, quando o ser humano se descobre nômade ou sedentário (que são os dois tipos de
seres humanos).
Os nômades amam a estrada , ao passo que os sedentários se contentam com a toca. Desse esse modo,
criou-se através de uma narrativa genealógica e mitológica, o pastor e o camponês, os pastores percorrem e levam
os rebanhos a pastar em vastas extensões, sem preocupação política ou social; já os camponeses se instalam,
constroem, edificam aldeias e cidades.
Através da análise bíblica, é possível perceber uma relação com a narrativa de Caim e Abel, onde o
primeiro era um agricultor ,e o segundo pastor, logo Abel era inquieto e viajante, enquanto que Caim era agricultor e
permanecia em seu lugar. Porém como Caim mata Abel, Deus o amaldiçoa a vagar eternamente, sendo assim, o
viajante é o procedente da raça de Caim.
Após isso, associa-se a viagem sem retorno com a vontade punitiva de Deus, e em todas as ideologias
dominantes,há a dominação ou violência aplicada sobre os nômades.
Para o autor, o nômade recusa a lógica de transformar tempo em dinheiro, para ele, a energia singular é o único
bem que possui.
O segundo assunto tratado pelo autor é sobre a escolha de uma destinação; para ele, quando se olha para
o planisfério, não se tem dimensão das distâncias, ele não demonstra detalhes, e sim representa o planeta, e o
reduz a convenções conceituais.Sendo assim, o autor diz que somos pegos em um paradoxo: o planisfério parece
pequeno, e o mundo vasto, ou é o inverso que é verdadeiro ?
A partir disso, o autor diz que hoje, com os transportes e os mapas, todos os destinos se tornaram
possíveis, e com isso, vem a pergunta: O que escolher? A partir daí vem um determinismo genealógico, já que não
escolhemos os locais por predileção , somos requisitados por eles, e cada um se descobre portador de uma paixão
pelos elementos da natureza, seja a água, terra ou ar; o fogo, já circula no corpo do viajante.Cada corpo busca
encontrar um elemento que se sente mais à vontade.
Sonhar com um destino é obedecer uma voz que se pronuncia dentro de nós, é como uma espécie de
demônio socrático, sendo assim, o demônio diz, e a nós, resta a vontade de consentir.
O próximo tema tratado pelo autor é sobre o desejo de viajar, para ele a viagem começa no sedentarismo,
no momento em que começamos a pesquisar e planejar. Nesse instante é que são ativadas as emoções e a
sensações, e com isso, amplia-se a possibilidade de de percepções. A leitura funciona como um rito de inicialização
e revela uma mística pagã.
O atlas é a bíblia do nômade, pois é onde estão os mapas; neles, acontece a primeira viagem, a mais
mágica e misteriosa, as convenções gráficas que estão presentes neles, nos ajudam a imaginar o lugar e enxergar e
enxergar os mares, vegetação, política, características naturais, história, economia, fuso horário, economia, e meios
de locomoção, que permitem o deslocamento entre pessoas, cargas e informações. Os mapas representam a
projeção intelectual de quem o produziu.
O atlas diz o essencial, mas não tudo, ele faz o seu prejulgamento conceitual,e pode ser acrescentada pela
literatura e pela poesia.Ler um poema, permite chegar ao lugar imaginário que recebe informações do lugar, o poeta
transforma as sensações em informações destinadas a ampliar as nossas percepções.
Além dessas formas, há a prosa, ela exprime diferentemente, de maneira menor, mais diluída, o que o
poeta, ela fala da paisagem, refeição, encontro, monumento, emoção e fadiga; o autor se descreve no trajeto, no
detalhe do itinerário.
Além do poema, existem os livros, que são capazes de obter informações práticas. Os utilitários e guias, se
demonstram úteis para auxiliar o viajante com endereços, referências, locais para se hospedar, o que comer, o que
vestir, etc.
O guia, a prosa, o poema e o atlas, oferecem uma dialética descendente, com detalhes, lembranças, ideias,
conceito; e tudo isso contribui para a solicitação do desejo.
O próximo tema abordado pelo autor se chama “ Habitar o entremeio”, nessa sessão, é iniciado com uma
explicação sobre o momento em que a viagem começa, para ele, o início da viagem se dá quando o agente fecha a
fechadura da porta de casa.
O entremeio se demonstra como o primeiro passo, já que não é o local cobiçado, e nem o lugar deixado.
Independentemente do meio de transporte, partilhamos um espaço em comum no tempo de passagem de um ponto
a outro. Esses ambientes comuns como vagões e cabines de vôos oferecem ocasiões de proximidade, e forçam um
relacionamento ou uma conversação.
Nesses entremeios, é possível trocar palavras, simpatizar, contar a vida sem complexos, sem contenções,
pois o ambiente permite isso de maneira estranha. Esse lugar, também é uma exterioridade e não é governado nem
por uma língua e nem por tempo algum.
No entremeio, quando os referenciais de civilização desaparecem, o corpo tende a reencontrar seus
movimentos naturais e obedece mais ardentemente à soberania dos ritmos biológicos: come e bebe quando tem
necessidade, e dorme quando tem sono.
Partindo para o próximo assunto, o autor fala sobre a amizade, em todos os momentos ao se viajar
sozinho, teremos que aceitar a nossa própria companhia, porém, essa nem sempre é a melhor forma. A solidão
implica em viver apenas consigo mesmo enquanto que viajar a dois, ilustra uma fórmula romana, pois permite uma
amizade construída dia após dia.
Viajar a dois supõe uma eleição, e por isso, sempre se busca um destino comum para que se possa
agradar o companheiro, além disso, permite distanciar dos grupos indesejáveis solitários e também evita a angústia
multiplicada no trajeto solitário, da barreira da língua, e dos incômodos burocráticos. Na amizade, o outro é o menos
estranho possível, e no detalhe da amizade, é possível conhecer a si mesmo e o outro.
Organizar a memória, é uma necessidade da viagem segundo o autor, e para ele, este é o momento de se
ampliar os cinco sentidos, o corpo fica mais dispostos à novas experiências e registra mais dados que o costume. O
viajante fica menos preso aos aspectos do cotidiano do que submetido à prova fenomenológica: imerso no real, ele
se conhece através do jogo da intencionalidade e da consciência, experimenta ser forçado a emergir como
acontecimento e do nada onde são encontrados os resíduos da decisão.
Registrar os acontecimentos na viagem, traz sentido para a viagem. A memória extrai da imensidão longa e
lenta do diverso, os pontos de referências vivos ajudam a cristalizar, constituir e endurecer as lembranças. Elas
devem produzir referências que permitem mais tarde, organizar os sentidos da viagem.
Para ir à destinação eleita é necessário deixar de lado nossas idéias preconceituosas acerca do mundo, e é
exatamente sobre essa questão da alteridade que o autor trata no capítulo “Inventar uma Inocência”.
Essa inocência é o distanciamento de tudo que se leu e aprendeu, distanciamento dos clichês, das visões
morais e moralizadoras que nos são transmitidas de geração em geração, o que demanda que o viajante seja mais
receptivo ao mundo não só a partir de sua mente, mas também através de seus sentidos, como a visão, para
apreciar as belezas do lugar até mesmo de forma artística e contemplativa que o permite fotografar em sua memória
os acontecimentos.
Nessa parte, Onfray enfatiza o encurtamento da distância e do tempo a partir da difusão do uso do avião,
o que está ligado à revolução informática, à globalização e que transforma e amplia nossas visões acerca do real. E
é justamente por meio das viagens que é possível o encontro com nós mesmos, de forma subjetiva, não só através
da estetização das circunstâncias, mas também através de um encontro metafísico com o próprio eu, de forma a se
autoconhecer melhor.Assim como é possível o sujeito se reencontrar, também há o momento do retorno, ou seja o momento de
reencontro com o domicílio, onde as lembranças substituem as expectativas e excitação que o indivíduo havia
anterior à viagem. O retorno ao domicílio inclui o ato de descanso, e repouso do corpo que se encontra fatigado
após a viagem.
De acordo com Michel, voltar engloba a decisão de não ficar de forma definitiva no lugar visitado, e é nesse
momento que o indivíduo trabalha com a memória, de forma a retomar suas lembranças e considerações acerca da
viagem realizada, uma vez que também há sempre uma questão de busca, sendo que, muitos sujeitos voltam de
maneira compulsiva a lugares outrora visitados. Contudo devemos nos atentar de que a questão da viagem inclui
não só a questão da repetição como da inovação.
Na obra, o mesmo trabalha conceitos como já mencionado, de memória e subjetividade, relacionando-os
com a escolha de um destino, a partir de um estilo poético. O que é relevante compreender é que apesar das
diversas justificativas, o que impulsiona o ser humano para a viagem é o propósito de se buscar, de se encontrar e
reencontrar com si próprio.
Nesse contexto, é possível estabelecer-se uma dicotomia, segundo a qual o sentido de viajar aparece
claramente dissociado da noção de pertencimento. Muitas vezes, por exemplo, o trajeto que o sujeito percorre é
sua morada. Em seu apartamento, onde pouco fica, não há nada que permita a sensação de acolhimento,
representando apenas um lugar transitório como um aeroporto.
Através da leitura do texto, foi possível perceber que o autor traz uma visão das viagens, por meio de uma
geografia poética. Além disso, é possível compreender que durante todas as etapas da viagem, há uma
interdisciplinaridade, pois toca áreas como a filosofia, sociologia,mitologia, psicologia, biologia, e literatura.
Podemos também considerar que Onfray, nos faz refletir sobre a noção de localização humana estar
atrelada à compreensão da necessidade de que se levem em conta os fatores dinamicamente colocados dentro de
uma perspectiva histórica em um determinado local geográfico.
Percebe-se também que a representação mental incentiva o desejo que, por sua vez, é uma das razões
motivadoras da viagem.
Desse modo, podemos dizer que o referido autor explora de maneira filosófica questões como a medida
em que nos sentimos mais nômades ou mais sedentários, nos fazendo refletir ao mesmo tempo, se somos de fato
impulsionados ao movimento constante ou se amamos nossas raízes bem como nos mostra as motivações e
desejos que permearam sempre o ser humano durante seu deslocamento pelo mundo desde as antigas civilizações,
comparando-os com os anseios e com a conjuntura da modernidade.
Tudo isso, nos faz pensar sobre diversos aspectos de nossas vidas, como por exemplo, sobre o quanto
somos inerentes ao nosso espaço, tempo e à sociedade; uma vez que durante toda a história da humanidade, tem
havido um fluxo constante de indivíduos, certo que nosso eu mistura-se com nossa linguagem, com as nossas
lembranças, memórias e costumes, de forma intersubjetiva e multidisciplinar.
Vale ressaltar que o autor aborda que a geografia poética é algo ainda novo e frágil e que há ainda
resistência para com ela da parte de vários estudiosos. Outra crítica que se faz é a de que vivemos em uma época
de renúncia à memória, devido ao “imediatismo” e ao uso das diversas tecnologias, em que muitas vezes o exercício
do próprio “pensar” é deixado de lado, devido à fluidez e inércia das próprias circunstâncias.
REFERÊNCIA
ONFRAY, Michel, 1959- TEORIA DA VIAGEM:poética da geografia/ Michel Onfray; tradução de Paulo
Neves.-Porto Alegre, RS:L&PM, 2009.
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE TURISMO
RESENHA DO LIVRO “TEORIA DA VIAGEM” DE MICHEL ONFRAY
Alunas: Carolina Lorenzeto Terra
Karine Valesca de Freitas Verdugo
Juiz de Fora,
8 de Outubro de 2018

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