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PLANEJAMENTO INSTITUCIONAL Autoria: Jacqueline Mari Machado Indaial - 2021 UNIASSELVI-PÓS 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI M149p Machado, Jacqueline Mari Planejamento institucional. / Jacqueline Mari Machado. – In- daial: UNIASSELVI, 2021. 106 p.; il. ISBN 978-65-5646-206-6 ISBN Digital 978-65-5646-207-3 1.Vendas digitais. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 658.45 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Compreendendo o Planejamento Educacional ......................... 7 CAPÍTULO 2 Projeto Político-Pedagógico (PPP) ......................................... 41 CAPÍTULO 3 Avaliação Institucional: A Busca Pela Qualidade Educacional ...................................................... 73 APRESENTAÇÃO Planejar é um ato muito importante em nossas vidas. Se não planejamos, as ações são realizadas de maneira impulsiva, desordenada e acabam não alcan- çando o objetivo esperado. Necessitamos de planos e metas em nosso dia-a-dia para não nos sentirmos perdidos. Sobretudo, quando falamos em educação, o papel do planejamento ganha destaque ainda maior. O ato de planejar é o que norteia toda a dinâmica pedagó- gica em suas diferentes esferas. É um mecanismo legal, que visa a garantia de regularidade de ensino a todos, sob a proposta de otimizar e adequar as institui- ções às demandas próprias da sociedade em que se inserem. Além disso, o planejamento nos auxilia a observar a realidade institucional e projetar um cenário futuro. Possibilita compreender as relações entre teoria e prática, as relações interpessoais escolares e também as dinâmicas políticas e sociais que se estabelecem. Permite envolver toda a comunidade escolar em uma concepção de gestão democrática. Consequentemente, contribui para a qualida- de da educação. Dessa forma, neste livro, nos propomos a refletir sobre o Planejamento Ins- titucional, apresentando conteúdos relevantes à temática, organizando o trabalho em três capítulos. No primeiro, você poderá encontrar aspectos conceituais do planejamento, que contribuirão para a compreensão deste objeto de estudo, bem como, para a construção de um olhar crítico sobre ele. No capítulo seguinte, nos aprofundaremos em relação ao Projeto Político Pedagógico, ressaltando sua im- portância no processo de gestão escolar, em sua integralidade. Por fim, com o ter- ceiro e último capítulo, a avaliação se torna tema de análise, sendo contemplada em todas as suas nuances. Jacqueline Mari Machado Mestre em Educação CAPÍTULO 1 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes obje- tivos de aprendizagem: conhecer o que é e para que serve o planejamento educacional; conhecer e desenvolver compreensões do planejamento educacional; distinguir os tipos de planejamento educacional; realizar a análise crítica do planejamento educacional. 8 Planejamento institucional 9 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Planejamento é uma ação intrínseca à vida humana. Até mesmo nossos an- cestrais planejavam elaborando estratégias mentais para as suas demandas de sobrevivência. Hoje, não precisamos mais caçar mamutes, mas quando quere- mos que algo ocorra da maneira que esperamos, planejamos. Fazemos o plane- jamento do jantar que vamos oferecer aos amigos, do carro novo que desejamos comprar, do fi lho que pretendemos ter. Quanto mais planejamos, menor é o tempo e os custos de nossas realiza- ções! Tente imaginar, por exemplo, uma viagem para o destino dos seus sonhos. Agora pense que você não tem plano algum, pegou algumas roupas, o dinheiro que lhe restava na carteira, não reservou hotel, não alugou um carro e não faz a mínima ideia de quanto tempo fi cará por lá. Imaginou? Parece a receita perfeita para um desastre, não? Nada se esquiva de um planejamento. Nada? E os improvisos? Ora, improvi- sar pode até parecer aceitável em determinadas situações, mas gera insegurança e, muitas vezes, conduz a resultados indesejáveis. Logo, se o que você deseja é a concretização signifi cativa de seus pensamentos, o negócio é planejar. Mas já parou para pensar o que isso signifi ca? Em uma defi nição dicionarizada, planejar refere-se a “fazer o plano ou planta de, projetar, traçar” (Ferreira, 1999, p. 1582). Verbo transiti- vo direto que possui dimensões muito mais amplas quando observado no contexto dos desejos humanos. Planejar torna-se, então, a materia- lização das vontades e idealizações dos indivíduos, impulsionando-os à ação. Quer que aconteça? Primeiro planeje! O ser humano age em função de construir resultados. Para tanto, pode agir aleatoriamente ou de modo planejado. Agir aleatoriamente signifi ca “ir fazendo as coisas”, sem ter clareza de onde se quer chegar; agir de modo planejado signifi ca estabelecer fi ns e construí-los através de uma ação intencional (LUCKESI, 2002, p. 115). Todo indivíduo sabe planejar e se não se sabe, a receita é simples: partimos de uma determinada realidade ou situação problema. Em seguida, estabelecemos os objetivos a serem alcançados e conjuntamente defi nimos as estratégias que utilizaremos. Por fi m, analisamos os resultados de todo o processo, após nossa efetivação de nossas ações. Pronto! Planejamos. Mas já que planejar é tão importante e tão simples, por que ainda se vê tanta gente agindo “às cegas” em suas próprias vidas e, também, em assuntos que per- meiam o bem estar coletivo, como a Educação? Planejar torna-se, então, a materiali- zação das vontades e idealizações dos indivíduos, impul- sionando-os à ação. Quer que aconteça? Primeiro planeje! 10 Planejamento institucional Talvez uma das respostas, mais aceitável, seja a falta de conhecimento do que é o planejar. Por isso, ao longo deste capítulo, traremos subsídios para que você entenda o que é o planejamento, em sua essência e, mais precisamente, sob o viés educacional. Igualmente, abordaremos de forma detalhada as especifi - cidades dos diferentes tipos de planejamento em Educação, para que seja capaz de elaborar, refl etir e agir sobre este constructo. Aproveite a leitura! Viu só como planejar é essencial? A propósito, como está o seu planejamento de vida? Tem dedicado tempo a planejar o seu dia a dia e sonhos futuros ou tem vivido a base de improvisos? E quanto aos seus planejamentos de estudo? Vamos lá, “bora” planejar para alcançar seus objetivos? A seguir, apresentaremos duas ferramentas para lhe auxiliar nesta refl exão. • Roda da vida A roda da vida é uma ferramenta útil para você avaliar quais áreas da sua vida estão sendo bem conduzidas e quais necessitam de atenção. Funciona da seguinte forma: ao refl etir sobre determinada área da sua vida – por exemplo, no trabalho, o quanto me sinto realizado com minha profi ssão? Os recursos fi nancei- ros que obtenho, são sufi cientes? Minhas atividades contribuem para com a so- ciedade? – você vai preenchendo as linhas pertinentes a cada setor, dando uma nota de 1 a 10, de forma progressiva em grau de importância/satisfação. 11 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 FIGURA 1 – RODADA VIDA FONTE: <https://institutoloureiro.com.br/wp-content/uploads/2016/08/ roda-da-vida-300x298.png>. Acesso em: 16 out. 2020. • Planilha de planejamento pessoal Uma planilha é um excelente recurso para você visualizar os seus objetivos e estabelecer as estratégias necessárias para uma tomada de decisão. Aproveite o quadro a seguir e estabeleça cinco metas para sua vida (pode se basear em sua análise da roda da vida), preenchendo a tabela. 12 Planejamento institucional QUADRO 1 – PLANILHA DE PLANEJAMENTO PESSOAL PLANEJAMENTO PESSOAL Defi na o que você quer Quais são as suas competên- cias ou recursos O que precisa abandonar ou deixar de fazer O que você pre- cisa aprimorar ou adquirir Quando? (defi na uma data para con- quistar seu objetivo) FONTE: A autora Refl ita também sobre a importância do planejamento assistindo à animação Ormie da Arc Productions em: https://www.youtube.com/ watch?v=xd63g3d8qOs. 2 AFINAL, O QUE É PLANEJAMENTO EDUCACIONAL? A história do planejamento se inicia em paralelo à história da humanidade. Há indícios de que nossos ancestrais já refl etiam sobre suas ações cotidianas, a fi m de sobreviver e otimizar o seu tempo. Na antiguidade, as construções egípcias e os grandes feitos greco-romanos, não deixam dúvidas de que o homem planeja- va e avaliava as importantes tomadas de decisões. Contudo, o planejamento começa a ganhar real destaque, somente no sé- culo XX, durante o período entre guerras, no qual muitos países necessitavam de estratégias efi cazes para a reestruturação de suas economias. Foi na Russia que a planifi cação é reconhecida como uma experiência bem sucedida e de lá o planejamento se expande por todo o Ocidente, alcançando todos os setores, in- clusive o educacional (MESQUITA; COELHO, 2008). 13 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 Em uma explicação bem clara, Chiavenato (2004, p.152), afi rma que o pla- nejamento é uma função administrativa, a qual “determina antecipadamente quais são os objetivos a serem atingidos e como alcançá-los”. A contribuir, Maximiano (2006), aponta que o planejar é um processo que administra as ações orientadas ao futuro e implica a defi nição de objetivos, meios e delimitação temporal para o alcance dos resultados desejados, assim como, a tomada de decisões no presen- te, a fi m de diminuir os níveis de incerteza. Dentre suas características essenciais, “o bom planejamento é unitário, fl exí- vel, executável, realístico e claro” (NÉRICI, 1990, p. 149). Tem como fundamentos básicos, ou seja, se estrutura a partir de elementos estéticos, utópicos e éticos (ABREU, 2004). ● Fundamento estético: é a preocupação do planejador com o belo. Isto é, as decisões tomadas pelo planejador, consideram as transformações que podem causar e prezam pela manutenção da harmonia e elevação dos padrões de um cenário ou realidade. ● Fundamento utópico: é o sonho/desejo dos indivíduos de possuir uma realidade diferente, melhor, transformada. ● Fundamento ético: é a busca pela verdade e excelência ética no plane- jar, considerando a ética como os valores e princípios que promovem a harmonia entre os indivíduos, um bem conviver. Em seu desenvolvimento, apresenta três fases distintas, sendo elas: previ- são, programação e avaliação. Na previsão, os objetivos e meios de alcance são determinados; em sequência, são estabelecidas as etapas de execução das ati- vidades previstas, confi gurando a programação; por, último, com a avaliação, são analisados os resultados das ações executadas, gerando feedback para outros planejamentos. Igualmente, todo o processo é pautado por perguntas que orien- tam o planejar: o que? (problema), por que? (justifi cativa), para que? (objetivos), para quem? (a quem se destina), com quem? (atores do processo), com que? (re- cursos), como? (metodologia), quando? (limites temporais), onde? (em que lugar), quanto? (resultados) (IGNARRA, 2003). Ok, teoria demais? Quer ver como isso se aplica na prática? Vamos lá! Voltemos à viagem dos seus sonhos, agora, concretizada por um planeja- mento. Um belo dia, você sentou, pegou papel e caneta e começou a imaginar o grande evento (PREVISÃO). Em um primeiro momento, colocou em letras bem grandes, no topo da página, VIAGEM DOS SONHOS (o que). Na sequência, apontou os seus motivos para querer ir para lá (por que), mencionou que preci- sava conhecer todos os pontos turísticos e provar aquele prato típico maravilhoso (para que), assinalou também que, pela primeira vez, faria algo por você (para 14 Planejamento institucional quem) e que não precisaria de ninguém para lhe acompanhar (com quem). Lem- brou que suas reservas seriam sufi cientes para lhe garantir as coisas básicas, como as passagens, hotel e alimentação, mas que também permitiriam certos lu- xos, como comprinhas aleatórias (com que). Ah!! Que sonho! Já sabia tudo o que faria lá e descreveu, uma por uma, as aventuras que iria vivenciar (PROGRAMA- ÇÃO). Sim, logo tudo se tornaria real: na próxima quinta compraria as passagens; ligaria para o hotel e faria a reserva; no sábado, pela manhã, embarcaria em um avião e voilà, em menos de seis horas, estaria desfrutando de momentos incríveis (como/quando). Já imaginava como seria feliz enquanto estivesse lá (onde/quan- do)(AVALIAÇÂO). Deu para entender como funciona um planejamento? Claro? Sim? Óbvio? Então, me acompanha nessa discussão sobre o planejar dentro da educação! É só seguir com a leitura! 2.1 CONCEITOS E CONCEPÇÕES DO PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Educação de qualidade é o sonho de qualquer instituição ou docente. Tor- nar concreto esse desejo pode ser um trabalho dispendioso, que exige dos sis- temas educacionais um constante estado de refl exão. É preciso que a Educação seja pensada e repensada. É preciso ter envolvimento de todos os agentes pe- dagógicos. É preciso planejar! Historicamente, o conceito de planejamento como prática origina-se no campo de conhecimento da Administração, no qual o termo “planejar” se relaciona à funcionalidade, efetividade e efi ciência do processo. Não obstante, no contexto educacional, o planejamento foi inicialmente relacionado à atividade racional de organizar e administrar recursos. Assim, em seus primórdios, e até hoje, muitos educadores, concebem o pla- nejamento por um viés técnico-administrativo. Na citação a seguir, é perceptível uma noção linear de planejamento. Defi nição geral de planejamento: - é um conjunto de ações coordenadas entre si, que concorrem para a obtenção de um certo resultado desejado; - é um processo que consiste em preparar um conjunto de decisões tendo em vista agir, posteriormente, para atingir determinados objetivos; - é uma tomada de decisões, dentre possíveis alternativas, visando atingir os resultados previstos de forma mais efi ciente e econômica (TURRA et al.,1995 apud LUCKESI, 2002). Sob o ponto de vista de Luckesi (2002), essa função estritamente tecnicis- ta oportuniza o tão comum desengajamento do educador. A exemplifi car, você já ouviu a celébre frase “o papel aceita tudo!”? Ela é bem comum nas salas de pro- 15 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 fessores, em tempos de planejamento. O que importa é preencher o documento e apresentar à coordenação, independente da não aplicação do planejado à prática ou das consequências desse ato. Afi nal, planejar é só burocracia, não é? Planejar, nas escolas em geral, tem sido um modo de opera- cionalizar o uso de recursos-materiais, fi nanceiros, humanos, didáticos. As denominadas semanas de planejamento escolar, que ocorrem no início de cada ano letivo, nada mais têm sido do que um momento de preencher formulários para serem ar- quivados na gaveta do diretor ou de um intermediário do pro- cesso pedagógico, como o coordenador ou o supervisor (LU- CKESI, p. 120, 2002). Não necessariamente, a dimensão burocrática do planejamento deve ser desconsiderada. Ela é parte doprocesso. Contudo, considerar que o simples fato de operacionalizar meios já é o sufi ciente para planejar, é olhar de forma inocente para esta atividade que é intrinsecamente, política, social e cheia de intencionali- dade em todos os seus níveis de aplicação. Em uma visão mais crítica o planejamento educacional é compreendido em sua integralidade, ou seja, em toda sua complexidade teórica, política e social (lembre-se, não só operanalizar meios). Em suma, consiste no processo de saber “para onde ir” e “onde chegar”, analisando o cenário presente e as possibilidades futuras, considerando as necessidades desenvolvimentais, da sociedade e dos indivíduos (COARACY, 1972). Segundo Menegolla e Sant’anna (2002, p. 31), o planejamento educacional “[...] é o instrumento básico para que todo o processo educacional desenvolva a sua ação, num todo unifi cado, integrando todos os re- cursos e direcionando toda a ação educativa”. A corroborar, Vasconcellos (2002) defi ne o planejamento educacional como um mediador da ação educativa, carac- terizado como um instrumento dinâmico, transformador e contínuo. Sob esse viés mais consciente e politizado, podemos apontar como características essenciais do planejamento em educação: • Intencionalidade Mais do que um simples aparato operacional, o planejamento em Educação confi gura-se como um ato político pedagógico, não neutro, mas sim, permeado de intencionalidade (VASCONCELLOS, 2002). • Construção coletiva O planejamento educacional deve ser entendido como um ato coletivo, en- volvendo todos os profi ssionais da instituição, em uma mescla de ações individu- ais e coletivas (LUCKESI, 2002). 16 Planejamento institucional • Orientação para a mudança O ato de planejar só tem sentido se o indivíduo percebe nele a possibilidade e a necessidade de mudar algo (VASCONCELLOS, 2002). Apesar da explicação, eu sei que você ainda deve estar se perguntando qual a importância do planejar em educação. Aqui está: Planejar estabelece todas as urgências, demandas e prioridades a serem ob- servadas em uma tomada de decisão. Tais aspectos, quando negligenciados, tra- zem prejuízos individuais e coletivos à instituição e ao processo educativo, danos, muitas vezes, irreversíveis. Igualmente, segundo Vasconcellos (2002), quando não planejamos, fi camos à mercê de outras forças. Somos direcionados pelo outro – seja ele o acaso ou o Governo – e abrimos mão de direitos e escolhas, sendo levados para caminhos, que talvez não desejamos. E aí? É ou não é essencial ter o poder de planejar? PLANEJAR O PROCESSO EDUCATIVO É necessário um planejamento que dimensione educativo e reconstrutivo do homem, que vise planejar a ação educativa para que o homem viva o presente, e, ao mesmo tempo, se projete para o futuro, que está cada vez mais próximo. Ainda é necessário pla- nejar o processo educativo para que o homem, submergido na pro- blemática existencial, se lance na vida em busca do seu viver, para que encontre um sentido de vida e solução para seus problemas. O homem através da ação educativa visa superar os obstáculos da pró- pria existência, de modo consciente e compromissado com o agir e o viver. Tal planejamento pode possibilitar ao homem que ele próprio possa determinar os seus destinos vivenciais. Portanto, é necessário planejar o processo educativo para que o homem não se limite, mas se liberte, numa perspectiva dinâmica de ser na vida. Deste modo, planejar não signifi ca determinar os limites do homem circundando- -o num viver estabelecido. Trata-se antes, de planejar para que o homem possa, com coragem, encaminhar-se para o desconhecido, com lucidez e autonomia, como uma pessoa liberta que é capaz de escolher os seus caminhos. Devemos planejar não para formar um 17 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 tipo exclusivo de homem, ao contrário, para que o homem possa de- terminar as suas escolhas, a partir dos seus direitos e das suas pos- sibilidades. Planejar um tipo de homem, através da educação, seria ro- botizar o próprio homem, sem possibilitar-lhe as escolhas, pois uma educação inteiramente dirigida, com a fi nalidade de manipular o ho- mem, não lhe possibilitando sua autodeterminação, não é verdadei- ra educação. Esta educação planejada de modo rígido e infl exível poderá criar tipos de pessoas totalmente desengajadas da realida- de. Resultando, então, em instrumentos dirigíveis, manipuláveis pela sociedade tecnocrata, seres alienados e massifi cados, com poucas oportunidades de libertação. [...] Planejar o processo educativo é planejar o indefi nido, porque a educação não é um processo, cujos resultados podem ser totalmente pré-defi nidos, determinados ou pré-escolhidos, como se fossem pro- dutos decorrentes de uma ação puramente mecânica e impensável. Devemos, pois, planejar a ação educativa para o homem, não lhe im- pondo diretrizes que o alheie Permitindo, com isso, que a educação ajude o homem a ser criador de sua história. FONTE: MENEGOLLA, M.; SANT’ANA, I. M. Por que planejar? Como planejar? Petró- polis: Vozes, 2002. p. 24-25. Disponível em: http://bit.ly/3qfV3DY. Acesso em: 16 out. 2020. Atividade de Estudo: 1 Agora que você já compreendeu o que é planejamento educacio- nal, analise a tirinha a seguir e refl ita: FONTE: <https://cutt.ly/DggVXH6>. Acesso em: 16 out. 2020. 18 Planejamento institucional No terceiro quadrinho, temos a personagem Mafalda constatando que seu planejamento de organizar a vida restringiu-se à teoria. Paralelamente, segundo Luckesi (2002), no ambiente educacio- nal o mesmo acaba acontecendo, quando percebemos que os planejamentos são engavetados sem gerar mudanças práticas no funcionamento institucional. Na sua opinião, por que o planeja- mento é desvalorizado por muitos gestores e educadores? Quais ações poderiam ser implementadas para uma melhor relação en- tre os profi ssionais da Educação e o planejamento escolar? 2 (AEDB, 2017) Planejamento Educacional é: “ processo contínuo que se preocupa como o “para onde ir” e “quais as maneiras ade- quadas para chegar lá”, tendo em vista a situação presente e possibilidade futuras, para que o desenvolvimento da educação atenda tanto às necessidades do desenvolvimento da socieda- de, quanto às do indivíduo” (COARACY, Joana. O planejamento como processo. Revista Educação, Brasília, ano 1, n. 4, 1972). Com base na citação de Joana Coaracy, pode-se afi rmar que são objetivos do planejamento educacional, EXCETO : FONTE: <https://cutt.ly/9ggVZSO>. Acesso em: 16 out. 2020. a) ( ) Conciliar e aperfeiçoar a efi ciência interna e externa do sistema; b) ( ) Alcançar maior coerência interna na determinação dos objeti- vos e nos meios mais adequados para atingi-los; c) ( ) Estabelecer as condições necessárias para o aperfeiçoamento dos fatores que infl uem diretamente na efi ciência do sistema educacional; d) ( ) Relacionar o desenvolvimento do sistema educacional com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural do Pa- ís,em geral, e de cada comunidade, em geral; e) ( ) Previsão das situações específi cas do professor com a classe. 3 TIPOS, NÍVEIS E INSTRUMENTOS DE AÇÃO DO PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Como vimos, o planejamento é um processo no qual se tem como propósito central a tomada de decisão. A maneira como planejamos pode transformar, quali- 19 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 fi car ou conservar uma determinada realidade, caracterizando modelos diferentes de planejar. Gandin (1983), discorre que não conseguimos especifi car, precisamente, todos os tipos e níveis de planejamento. No entanto, apresentaremos alguns para que você adquira um bom entendimento de como o planejamento pode se confi gurar. 3.1. ASPECTOS DE CLASSIFICAÇÃO DO PLANEJAMENTO Em geral, o ato de planejar recebe diferentes classifi cações em relação a: ● tempo (longo, médio, curto prazo); ● espaço (local, municipal,regional, estadual, nacional, continental, mun- dial); ● administrativo (público, privado, misto); ● econômico (macro e microeconômico); ● setorial (setorial, intersetorial, global); ● abrangência (estratégico, tático, operacional). O nível de abrangência ganha destaque quando falamos de instituições. Nele, os tipos estratégico, tático e operacional se diferenciam em função das variáveis, tempo, espaço, objetivos e diretrizes, as quais acabam por diferenciar. QUADRO 2 – TIPOS DE PLANEJAMENTO TIPOS DE PLANEJAMENTO Estratégico Tático Operacional Longo prazo Atua em todo o território Defi ne os objetivos gerais Médio prazo Atua em parte do território Defi ne os objetivos específi cos Curto prazo Atua em um espaço determinado Operacionaliza o plano tático FONTE: A autora É Importante, também, lembrar, que dentre as perspectivas mais comuns de planejamento, temos: planejamento tradicional/normativo, planejamento es- tratégico e planejamento participativo. No planejamento tradicional ou normativo, a previsibilidade é uma das maio- res características, presumindo-se que os fatores de planejamento podem ser 20 Planejamento institucional controlados sem interferência de variáveis no alcance dos objetivos e resultados. É o tipo de planejamento que enfatiza procedimentos e se centraliza na fi gura do planejador. Em uma situação hipotética, imagine que você planejou um pas- seio à praia no próximo fi m de semana para pegar aquele bronzeado! Você possui o dinheiro sufi ciente e tempo, pois conseguiu uma folga com o chefe. Parece perfeito! Está tudo sobre controle! Só não previu que na próxima semana as temperaturas cairão e choverá de sexta a domingo. Nesse caso, um o modelo estratégico seria a sua salvação! O planejamento estratégico trabalha com as incertezas e explora novas informações. Atua a partir da realidade e envolve diversos atores. Con- sidera várias explicações para um problema e diversifi ca os tipos de planejamento utilizados para o alcance dos objetivos. A Figura 2 apresenta uma ilustração de planejamento estratégico. FIGURA 2 – COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O planejamento estratégico trabalha com as incertezas e explora novas informações. Atua a partir da realidade e envolve diversos atores. Considera várias explicações para um problema e diversifi ca os tipos de planejamento utilizados para o al- cance dos objetivos. 21 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 FONTE: Simão et al. (2012, p. 8) E o participativo? Um planejamento participativo é aquele em que as pesso- as envolvidas refl etem, discutem e questionam em conjunto, participando e exer- cendo papéis transformadores na tomada de decisão. Segundo Gandin (2001), é o modelo de planejamento mais adequado para responder às demandas sociais, sendo utilizado, principalmente, em instituições como a escola. A exemplifi car, podemos pensar em uma diretora que precisa organizar uma festa junina na escola. Ela poderia planejar tudo sozinha, uma vez que detém informações gerais de todas as esferas da sua unidade. Não raro, alguém a ques- tionaria e a criticaria por uma série de coisas: gastos, ideias de organização, datas etc. No entanto, ela decide escolher uma perspectiva participativa para planejar o evento e, de quebra, evita uma série de dores de cabeça. Marca uma reunião com os funcionários, professores, pais e representantes dos alunos; pede a opinião de todos, delineia um consenso, e monte um planejamento com bases democráticos: se não agradar a todos, ao menos, agrada a maioria! Compreendido até aqui? Sigamos! 22 Planejamento institucional Em sua sistematização, o planejamento poderá resultar em três instrumentos de ação: plano, programa e projeto QUADRO 3 – INSTRUMENTOS DE AÇÃO DO PLANEJAMENTO TIPO CARACTERÍSTICAS Plano É a documentação formal do planejamento. Apresenta o que, como, quando, onde, com quem e para quem algo será feito, trazendo as principais deci- sões, fundamentos políticos e fi losófi cos, estratégias e diretrizes. Programa Consiste na setorização do plano, bem como, no conjunto de projetos necessários para o alcance dos objetivos de uma determinada política pública. Projeto Menor unidade do processo de planejamento. Sistematiza e estabelece o desenho pré- vio das ações de um planejamento. Trata-se do instrumento técnico-administrativo de execução das ações planejadas. FONTE: A autora É comum as pessoas não conseguirem diferenciar estas três unidades. Cha- mamos tudo de projeto: meu projeto de viagem, meu projeto de vida, o projeto de aula, o projeto político pedagógico. Ou, a tudo, damos o nome de plano: meu plano de fuga, meu plano de vida, meu plano de ação. Até nos dicionários as ex- plicações de plano, programa e projeto se confundem. Mas, como vimos, os três termos possuem várias diferenças, e uma das mais importantes é a hierarquia. O plano sempre será a unidade maior, terá as diretrizes mais amplas e, logo, pro- gramas e projetos, deverão ser elaborados a partir de seus direcionamentos. De mesmo modo, o projeto sendo o último componente, executará as ações confor- me as prescrições de programas e projetos. Bem, agora que você já sabe como os processos de planejamento, em geral, podem se apresentar, podemos pensar em como isso ocorre na educação. 3.2 MODELOS PROCESSUAIS DE PLANEJAMENTO EDUCACIONAL O planejamento em educação, também passa por diferentes níveis de abran- gência de ação (macro e micro): planejamento educacional, planejamento escolar, planejamento curricular, planejamento de ensino, planejamento de aula. • Planejamento de educacional 23 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 Desenvolve-se no nível macro, envolvendo as decisões tomadas no âmbito Federal, Estadual e Municipal acerca do sistema educacional como um todo. Nele são elaborados objetivos de médio e longo prazo, após um diagnóstico preciso da realidade do país. Pretendendo resolver as principais demandas educacionais, articulando as esferas de governo, a unidade escolar e a ação docente. É personifi cado pelo Plano Nacional de Educação (PNE), sobre o qual trata- remos mais adiante. • Planejamento curricular Realiza o planejamento do currículo em função das diretrizes e orientações do plano nacional educacional, respeitando as características e particularidades de cada região do país e de cada unidade escolar. Relaciona, de forma multidis- ciplinar, conteúdos, metodologias e recursos e caracteriza-se como uma atividade permanente da escola. • Planejamento escolar O planejamento escolar, envolve a instituição de forma global e tem como intuito realizar a previsão das atividades escolares, em acordo com organização da escola, em suas realidades e fi losofi as. Destaca-se por seu caráter fl exível e dinâmico. Uma vez que a escola muda, objetivos e estratégias devem ser pensa- dos e repensados de forma constante. • Planejamento de ensino Este nível de planejamento compreende a ação direta do professor em pre- ver sua prática em sala de aula. Deve embasar-se nos demais níveis de planeja- mento, propondo, objetivos, métodos, recursos, estratégias e instrumentos avalia- tivos condizentes com a instituição escolar e as demandas dos alunos. • Planejamento de aula Trata-se de um roteiro pré-estabelecido para a preparação das atividades a serem realizadas durante um bimestre ou semestre letivo. Deve ser pensado a partir de um diagnóstico da turma, pensando sempre nas demandas individuais e coletivas daquele grupo em específi co. No que se refere à perspectiva de planejamento adotado em educação, a nível de planejamento educacional, ao longo do tempo, os documentos nacionais optaram por modelos diferentes, ora normativo, ora estratégico, ora participati- vo. Consequentemente, as esferas de planejamento, posicionadas no nível micro, conduziram o seu planejar em adequação aos documentos federais. 24 Planejamentoinstitucional Atualmente, o planejamento participativo tem sido utilizado por muitas insti- tuições. Envolvendo a comunidade escolar como um todos, as decisões têm sido tomadas de forma coletiva. Para tanto, é necessário que o grande grupo conheça dinâmica da instituição, bem como seus objetivos, para que os problemas possam ser diagnosticados e solucionados de forma efi caz. O planejamento participativo na escola tem como vantagens: • o fortalecimento da democracia em âmbito escolar; • distribuição do poder de decisão entre todos os atores do processo ensi- no-aprendizagem. As unidades escolares também podem contar com o planejamento estraté- gico, o qual orientará as ações educacionais por meio da análise de dados qua- litativos e quantitativos da instituição. Nesse tipo de planejamento, como vimos anteriormente, o poder de tomada de decisão estará centrado na fi gura do diretor da escola. A rapidez de resolução de demandas e alcance de objetivos é uma de suas principais vantagens. A escolha por um ou outro modelo de planejamento, fi ca a critério da escola. O importante é que se mantenha a organização ao planejar e que a decisão seja tomada objetivando o bem comum dos envolvidos e a qualidade do ensino. Atividade de Estudo: 1 A perspectiva adotada em um planejamento possui a capacidade de defi nir a conservação ou transformação de uma determinada realidade. Em relação às abordagens do planejamento, classifi que em (V) para verdadeiro ou (F) para falso as seguintes assertivas: ( ) Planejamento participativo é aquele que envolve a refl exão e ação de todos os envolvidos. ( ) Um planejamento estratégico permite a utilização de diferentes tipos de planejamento para o alcance do objetivo. ( ) A elaboração de um planejamento normativo considera as rela- ções sociais e a participação de todos. ( ) O planejamento estratégico apresenta-se como uma reação às limitações do planejamento normativo/tradicional. ( ) O planejamento estratégico pressupõe o controle das variáveis da situação ou problema. 25 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 Assinale a alternativa que apresenta a sequencia correta: a) ( ) V – V – F – V – F. b) ( ) V – F – F – F – F. c) ( ) V – V – V – V – V. d) ( ) F – V – F – V – F. e) ( ) Nenhuma das alternativas. 2 O planejar em educação se estabelece em diferentes níveis, com fi nalidades e características específi cas. No que diz respeito a es- tes níveis analise as assertivas a seguir: I- O planejamento escolar se ocupa das decisões estabelecidas à nível federal, estadual e municipal. II- O Plano Nacional de Educação é um exemplo de Planejamento Educacional. III- Quando falamos em Projeto Político-Pedagógico, um instrumento que abrange as propostas e ações globais da escola, estamos nos referindo a um instrumento de ação do Planejamento de Ensino. Assinale a aleternativa CORRETA: a) ( ) Somente a alternativa I está correta. b) ( ) I e II estão corretas. c) ( ) Somente a alternativa II está correta. d) ( ) I, II e III estão corretas. e) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. 3 Quanto aos instrumentos de ação de um planejamento, é COR- RETO o que se afi rma em: a) ( ) Programa é a denominação utilizada para a distribuição do plano em diferentes setores. b) ( ) Projeto consiste em um instrumento de execução das ações planejadas. c) ( ) Plano é o registro formal do planejamento d) ( ) As alternativas a, b e c estão corretas. e) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. 26 Planejamento institucional CELSO DOS SANTOS VASCONCELLOS FALA SOBRE PLANEJAMENTO ESCOLAR Paulo Takada Por onde se deve começar um bom planejamento? Depende muito da dinâmica dos grupos. Existem três dimen- sões básicas que precisam ser consideradas no planejamento: a rea- lidade, a fi nalidade e o plano de ação. O plano de ação pode ser fruto da tensão entre a realidade e a fi nalidade ou o desejo da equipe. Não importa muito se você explicitou primeiro a realidade ou o de- sejo. Então, por exemplo, não há problema algum em começar um planejamento sonhando, desde que depois você tenha o momento da realidade, colocando os pés no chão. Em alguns casos, se você começa o ano fazendo uma avaliação do ano anterior, o grupo pode fi car desanimado - afi nal, a realidade, infelizmente, de maneira geral, é muito complicada, cheia de contradições. Às vezes, começar res- gatando os sonhos, as utopias, dependendo do grupo, pode ser mais proveitoso. O importante é que não se percam essas três dimensões e, portanto, em algum momento, a avaliação, que é o instrumento que aponta de fato qual é a realidade do trabalho, vai aparecer, co- meçando o planejamento por ela ou não. Em alguns contextos, o planejamento ainda é encarado como um instrumento de controle? Sim, em algumas escolas e redes, ele ainda é um instrumento burocrático e autoritário. Em um sistema autoritário, o planejamento é uma arma que se volta contra o professor porque o que ele disser - ou alguém disser por ele - que vai ser feito tem que ser cumprido. Caso contrário, ele foi incompetente. E, nem sempre, conseguimos fazer o que planejamos. Por diversas razões, inclusive por falha nos- sa, mas não unicamente por isso. No entanto, o movimento da socie- dade e o processo de redemocratização têm favorecido o conceito de planejamento como real instrumento de trabalho e não como uma ferramenta de controle dos professores. Como evitar que o tempo dedicado ao planejamento anual não seja desperdiçado? Nas escolas, o coordenador pedagógico é o responsável por esse processo. É preciso prever momentos específi cos para cada tipo de assunto e ser fi rme na coordenação. Às vezes, há uma ten- tação muito grande em fi car gastando tempo do planejamento com 27 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 problemas menores, administrativos ou burocráticos. Então, é muito importante planejar o planejamento, reservando momentos especí- fi cos para cada assunto, e ser rigoroso no cumprimento dessa or- ganização. Ele precisa ser um coordenador pedagógico forte, mas onde buscar apoio para se fortalecer? Em alguns casos, há o apoio da direção, mas é muito importante que ele faça parte de um grupo com outros profi ssionais no mesmo cargo para trocar experiências e sentir que não está sozinho nesse trabalho. Com que frequência as ações do planejamento anual devem ser revistas pela equipe? Eu insisto muito na reunião pedagógica semanal. Na minha opi- nião, esse encontro não deve ser por área, e sim com todos os pro- fessores daquele ciclo, daquele período. Se todos os professores, por exemplo, do ciclo II do Ensino Fundamental do período da manhã estão presentes no mesmo momento, em um dia fi xo da semana, no período da tarde, durante cerca de duas horas, o coordenador pedagógico pode montar reuniões por área, ou por nível ou gerais, conforme as necessidades. Esse momento de encontro é imprescin- dível para planejar um trabalho de qualidade com coerência entre os professores. Além de ser um momento de socialização. Existem professores que descobrem coisas excelentes que vão morrer com ele porque não foram sistematizadas nem ele compartilhou aquelas descobertas. E, na hora do planejamento, há a possibilidade de re- servar um momento para isso. Existe algum momento que deve ser planejado com mais cuidado? Sim, as primeiras aulas. Principalmente das séries iniciais. Exis- tem estudos que mostram que a boa relação professor/aluno pode ser decidida nessas aulas. Há pesquisas que vão além e apontam os primeiros instantes da primeira aula como determinantes do su- cesso da atividade docente. Então, se o professor tem de preparar bem todas as aulas, as primeiras precisam de mais cuidado. E não é só determinar os conteúdos a ser abordados, os objetivos a atingir e a metodologia mais adequada. É, sobretudo, se preparar, tornar-se disponível para aqueles alunos, acreditando na possibilidadedo en- sino e da aprendizagem, estando inteiramente presente naquela sala de aula, naquele momento FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/296/plane- jar-objetivos>. Acesso em: 16 out. 2020. 28 Planejamento institucional O PROCESSO DE PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO DA UNIDADE ESCOLAR Pedro Ganzelli [...] Planejamento participativo: o signifi cado da realidade cole- tivamente construída [...] Analisar a realidade particular de cada escola, torna-se uma ta- refa fundamental no processo de planejamento, pois “problemas” se- melhantes não são necessariamente identifi cáveis, ou seja, o mesmo “problema” deve ser pensado de forma diferente, em distintas reali- dades escolares. Vejamos se, mediante a um exemplo, essa idéia fi ca mais clara. Suponhamos três escolas: A, B, C. Apesar da violência ser comum às três escolas, cada uma delas poderá sofrer o mesmo problema de forma distinta, ou seja, na escola “A”, a violência é causada pela superlotação de alunos matriculados, na escola “B”, a violência é de- corrente de brigas geradas por alunos de diferentes bairros que dis- putam poder no espaço escolar e na escola “C”, o clima agressivo entre os diferentes segmentos da escola (pai, professores, funcio- nários e alunos) é gerado pela forma autoritária, pela qual a direção está administrando a escola. Além das causas do problema violência serem variadas, outros fatores contribuem nesse processo de dife- renciação, tais como a estrutura organizacional específi ca de cada escola (espaço físico, número de funcionários, localização etc.), ou mesmo a “explicação” que cada grupo de agentes educacionais pos- suem sobre o “mesmo” problema, levando a formas diversas de pla- nejar ações para o enfrentamento da violência na escola. Quando não existe participação pode ocorrer um processo de fragmentação dos diferentes “olhares” sobre a escola, ou seja, a es- cola vista e vivenciada pelo pai, não necessariamente corresponde àquela analisada e vivenciada pelo professor, sendo que a “escola” do professor pode não corresponder a do diretor, que por sua vez, pouco tem a ver com aquela ditada pela política educacional elabora- da a partir dos órgãos centrais do sistema educacional. 29 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 A participação de todos os envolvidos no dia-a-dia da escola nas decisões sobre os seus rumos, garante a produção de um pla- nejamento no qual estejam contemplados os diferentes “olhares” da realidade escolar, possibilitando assim, a criação de vínculos entre pais, alunos, professores, funcionários e especialistas. A presença do debate democrático possibilita a produção de critérios coletivos na orientação do processo de planejamento, que por sua vez, incor- pora signifi cados comuns aos diferentes agentes educacionais, co- laborando com a identifi cação desses com o trabalho desenvolvido na escola. Favorece a execução de ações através de compromissos construídos entre aqueles diretamente atingidos pelo planejamento educacional. [...] FONTE: <https://bit.ly/39klxNC>. Acesso em: 16 out. 2020. 4 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NO BRASIL O processo brasileiro de planejamento em educação foi permeado pela inconsistência de compreensão. Ora, adotou concepções tecnicis- ta, ora, dimensões políticas; foi de normativo à estratégico. Igualmente, desenvolveu-se de forma descompassada a de outros países e separa- do de outros setores da sociedade e de sua própria evolução conceitual. 4.1 BREVE HISTÓRICO Teve como marco histórico inicial o Manifesto dos Pioneiros (1932), que trouxe à discussão a necessidade de um projeto educacional sistê- mico, isto é, que contemplasse a educação em sua totalidade. Em se- guida, a Constituição de 34 institiuiu os sistemas de ensino e o Conselho Nacional de Educação (CNE), o qual incumbiu-se de elaborar o primeiro Plano Nacional de Educação (PNE), com caráter de Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Com a Consti- tuição de 1946, o PNE seria destituído de tal funcionalidade. A primeira LDB, propriamente dita, surge, somente, em 1961, com a outorga da Lei 4024/1961. Com ela é criado o Conselho Federal de Educação (CFE), que substituiu o CNE, e sob o comando de Anísio Teixeira, lançou um novo PNE. No O processo brasilei- ro de planejamento em educação foi permeado pela inconsistência de compreensão. Ora, adotou concepções tecnicista, ora, dimensões políticas; foi de normativo à estratégico. Igualmente, desen- volveu-se de forma descompassada a de outros países e separado de outros setores da socieda- de e de sua própria evolução conceitual. 30 Planejamento institucional documento, foram defi nidas várias metas, quantitativas e qualitativas, para todos os níveis de ensino, bem como, direcionou-se fundos para aplicação de recursos na educação. Contudo, entre as mudanças governamentais dos presidentes Jânio Quadros e João Goulart, o plano foi abandonado. O regime militar, iniciado em 1964, contribuiu para uma regressão na Educa- ção, transformando-a em um mero instrumento de desenvolvimento e retirando seu caráter político-social. Em meio aos novos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND), e ao longo do regime, foram elaborados três Planos Setoriais de Educação e Cultura (PSECs), que submeteram a educação aos desmandos do militarismo. Com a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988 e a retomada de- mocrática, a educação se tornou mais plural. Surgiu a premissa de uma Educa- ção para Todos e a elaboração de políticas públicas passou a contar com uma participação ativa da população. Sequencialmente, redigiu-se o Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003), o qual defi niu estratégias para a universali- zação do ensino fundamental e a erradicação do analfabetismo. Em 1996, a Lei 9.394/1996 estabelece a nova LDB. Já no início do século XXI, um novo PNE (2001-2010) é aprovado, após mui- ta discussão e vetos de parlamentares. A primeira década do século foi marcada pela dedicação à educação, numa resposta às necessidades de melhoria às polí- ticas educacionais tão fragilizadas pelos governos anteriores. Na década seguin- te, o governo Lula institui os Planos Plurianuais (PPAs) e o Plano de Desenvolvi- mento da Educação (PDE), bem como contribuiu para a elaboração do Projeto de Lei do PNE (2011-2020) e da implementação do PNE (2014-2024). Articulados ao lema “Brasil para Todos”, os documentos pautavam-se na proposta de qualidade, equidade e potencialidade da educação. Assim, ao longo da história são perceptíveis as nuances adotadas pelo plane- jar em educação. Logicamente, os planejamentos em esferas menores (escolar, curricular, ensino) foram afetados e seguiram dinâmicas semelhantes. Importante é ressaltar que tivemos muitas crises e desafi os, mas também inegáveis avanços educacionais. Sobretudo, o que se destaca é a relação diretamente proporcional entre planejamento e qualidade da Educação, reforçando, ainda mais, a necessi- dade de um olhar atento e de valorização da atividade de planejar. 4.2 ENTENDENDO O PNE Como vimos, o PNE é o resultado de um processo sócio-histórico. Idealizado na década de 1930, o documento foi organizado, pela primeira vez, em 1962, sen- do plenamente instituído, somente, após a CF de 1988. 31 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 Explicitado na Carta Magna, o dever do Estado para com a Educação faz com que o PNE ganhe força de lei. Em seu artigo 214, discorre: Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder público que conduzam à: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científi ca e tecnológica do País (BRASIL, 1988). Na prática, o que o PNE realiza é um diagnóstico da situaçãoeducacional brasileira e assim elabora ações que orientam as políticas públicas. Caracteriza- -se como uma ferramenta efi caz para a solução de demandas e otimização das atividades educacionais em todas as esferas administrativas da União. No Qua- dro 4, temos uma explicação simplifi cada de PNE para o seu melhor entedimento: QUADRO 4 – COMPREENDENDO O PNE PNE O que Para que Por que Documento nacional que esta- belece diretrizes, metas, estra- tégias, objetivos decenais (dez anos) para a Educação. Guiar a constru- ção de politicas públicas. Articula as ações educacionais empreendidas pela União, Distrito Federal, estados e municí- pios. Contribui para o planejamento de ações que trabalhem pela garantia de qualidade de ensino em todo o país. FONTE: A autora Em sua versão atual (2014-2024), aprovada após quatro anos de tramitação, o PNE se propõe a diminuir a desigualdade e promover a inclusão, apresentando 20 metas e 254 estratégias, a serem cumpridas até o ano de 2024. QUADRO 5 – METAS DO PNE METAS DO PNE (2014-2024) 1 Universalizar a educação infantil na pré-escola para as crianças de quatro a cinco anos e ampliar a oferta de educação infantil em creches, em no mínimo 50%, para crianças de até três anos. 2 Universalizar o ensino fundamental de 9 anos para toda a população de seis a 14 anos. 3 Universalizar o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar a taxa de matrículas no ensino médio para 85%. 32 Planejamento institucional 4 Universalizar, para a população de quatro a 17 anos com defi ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, garantindo ensino inclusivo, sala de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, pú- blicos e conveniados. 5 Alfabetizar todas as crianças até o 3º ano do ensino fundamental. 6 Oferecer educação em tempo integral, em no mínimo 50% das instituições públicas. 7 Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fl uxo escolar e da aprendizagem. 8 Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar no mínimo 12 anos de estudo. 9 Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais. Erradicar o analbetismo absoluto e reduzir em 50% o analfabetismo funcional. 10 Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profi ssional. 11 Triplicar as matrículas da educação profi ssional técnica de nível médio. 12 Elevar a taxa bruta de matricula na educação superior. 13 Elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício. 14 Elevar gradualmente o número de matrículas na pós graduação. 15 Garantir uma política de formação de profi ssionais da educação. 16 Formar, em nível de pós graduação, 50% dos professores da educação básica e garantir, a todos os profi ssionais da educação básica, formação continuada em sua área de atuação. 17 Valorizar os profi ssionais do magistério das redes públicas de educação básica, de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos demais profi ssionais com escolaridade equivalente. 18 Assegurar a existência de planos de carreira para os profi ssionais da educação básica públi- ca, tomando como base o piso salarial profi ssional nacional, defi nido em lei federal. 19 Assegurar condições para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União. 20 Ampliar o investimento público em educação pública, de forma a atingir, no mínimo o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. FONTE: Adaptado de Brasil (2014) No escopo do próprio documento, pontua-se que a efetivação das metas es- tabelecidas serão constantemente monitoradas e avaliadas por instâncias como MEC; Comissão de Educação da Câmara de Deputados; Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; CNE; e Fórum Nacional de Educação. A tais instituições cabe a divulgação de resultados, a análise e proposição de polí- ticas públicas, bem como, a revisão do percentual de investimento em educação. 33 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO NOVO PNE 2014-2024 Janete Azevedo Herdeiro de todos os limites e avanços que historicamente têm marcado a educação nacional e o seu planejamento, o II PNE exprime, em certa medida, o amadurecimento da sociedade brasileira no ato de pensar o seu futuro, mas a partir de prismas que revelam a presença de elementos impostos pela ordem global e pela síntese possível esta- belecida entre tendências progressistas e conservadoras. A realidade educacional brasileira hoje contém avanços impor- tantes, particularmente no que se refere às infl exões positivas expe- rienciadas pelos padrões da escolaridade básica nas últimas décadas. Excetuando-se os limites ainda a serem superados para o acesso à educação infantil, crianças, adolescentes e jovens têm transposto os portões da escola com a oportunidade de vivenciar práticas educativas na perspectiva de usufruto do direito à educação. Não obstante, os processos de ensino e aprendizagem ainda se mostram insufi cientes para garantir uma efetiva escolarização de qualidade. A questão da qualidade não é tema novo, estando presente no debate educacional brasileiro desde o período em que o debate sobre a educação de massa colocou-se para a sociedade. Mas, como sa- bemos, a noção de qualidade implica concepções de múltiplos signifi - cados que, por seu turno, têm relação com distintas fi losofi as de ação que regem projetos de sociedade e, portanto, a ação pública (AZEVE- DO, 2011b). Nos dias de hoje, como nos alerta Ball (2006), a compre- ensão a respeito da qualidade não tem apenas por referente a escola e seus fi ns precípuos, nos quais a educação constitui um valor univer- sal, um direito de todos e todas, numa perspectiva de justiça e inclusão sociais. Polarizando com essa concepção, encontra-se a que decorre das confi gurações sociais, instaladas no mundo ocidental, em face de novos padrões de sociabilidade. Nesse caso, o debate é articulado ao conceito de qualidade total próprio das empresas e do mercado, o que se expressa na retórica que privilegia a educação de resultados, a fl e- xibilidade, o empreendedorismo nos currículos, destacando vínculos entre a efetividade e pressupostos do gerencialismo. No primeiro polo, tem se destacado o conceito de qualidade socialmente referenciada que reconhece o seu alcance como um processo multifacetado que requer, simultaneamente, condições es- 34 Planejamento institucional colares adequadas, profi ssionalização docente, gestão democrática, consideração das características dos alunos (entre elas as que re- sultam das históricas desigualdades imperantes no País), articulação com a comunidade e com entidades da sociedade civil, avaliação dos processos pedagógicos, administrativos e técnicos, presença ati- va da comunidade circundante e participação ativa da comunidade escolar (WEBER, 2007). Sem dúvida, como já referido no início, o II PNE constitui hoje um dos principais instrumentos das políticas educativas brasileiras para a década iniciada em 2014. Em obediência ao que passou a prescrever a Constituição, por meio de suas diretrizes, metas e es- tratégias, confere centralidade à busca da qualidade da educação socialmente referenciada. Portanto, a qualidade, mais uma vez, é um alvo que se projeta atingir nos próximos anos. As suas 10 diretrizes, apresentadas no art. 2º, trazem subjacen- tes elementos da concepção de qualidade socialmente referenciada, quais sejam: erradicação do analfabetismo; universalizaçãodo atendimento escolar; superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; melhoria da qualidade da educação; formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; promoção humanística, científi ca, cultural e tecnológica do País; estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto – PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; valorização dos (as) profi ssionais da educação; promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental (BRASIL, 2014). Levando em conta o seu conjunto, é possível afi rmar que houve avanços e inovações signifi cativos em relação ao I PNE na sua forma e conteúdo. São em número de 20 as metas e de 254 as estratégias estabelecidas, e estas guardam articulação entre si. FONTE: AZEVEDO, Janete. Plano Nacional de Educação e planejamento: a questão da qualidade da educação básica. Revista Retratos da Escola, Brasí- lia, v. 8, n. 15, p. 265-280, 2014. p. 273-274. Acesso em: http://retratosdaescola. emnuvens.com.br/rde/article/download/441/572. Acesso em: 16 out. 2020. 35 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 Atividade de Estudo: 1 Segundo o artigo 214 da CF, se constitui uma ação pretendida pelo PNE: a) ( ) Erradicação da pobreza e desigualdades sociais. b) ( ) Universalização do ensino. c) ( ) Promoção de planejamento normativo na gestão escolar. d) ( ) Formação voltada de forma exclusiva para o trabalho. e) ( ) Nenhuma das alternativas. 2 Em relação às metas estabelecidas pelo PNE, julgue os itens a seguir: I- Segundo a meta 2, pretende-se o ensino fundamental seja univer- salizado a todos os indivíduos com idades entre seis e 14 anos. II- Entre as metas do PNE (2014-2024) está a erradicação do anal- fabetismo absoluto. III- Na meta 12 é estabelecida a universalização do ensino superior. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) II e III estão corretos. b) ( ) Somente o item II está correto. c) ( ) I, II e III estão corretos. d) ( ) I e II estão corretos. e) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. 3 Sobre o Planejamento Educacional brasileiro, julgue as asserti- vas a seguir: I- O PNE (2014-2024) é composto por 25 metas e 254 estratégias . II- O monitoramento e avaliação do PNE (2014-2024) serão realiza- dos por instâncias como o Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Educação. III- O PNE ganhou força de lei através da Constituição Federal de 1971. IV- As primeiras intenções de planejamento na educação brasileira surgem com o Manifesto dos Pioneiros. Assinale a alternativa CORRETA: a) I,II, III e IV estão corretas. b) Somente II e IV estão corretas. 36 Planejamento institucional c) I, II e IV estão corretas. d) Somente II está correta. e) Nenhuma das alternativas está correta. 4 Analise a imagem a seguir – a qual aponta as ações vencidas em 2016 – e refl ita criticamente discorrendo, em até 20 linhas, sobre os resultados da implementação do PNE 2014-2024. FONTE: https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/YkWjRfYTXksXA- VWEscnCREZ8z5knsvvvV9xRr8dTjN8BNBta3576K7DnV5th/ne293-politicaspu- blicas-imagens-2-1.jpg%3Fitok%3DD6UkqK_d. Acesso em: 16 out. 2020. 37 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, refl etimos sobre a ação de planejar, compreendendo seus conceitos e características, bem como seus tipos, níveis e instrumentos de ação no contexto educacional. Além disso, delineamos uma breve contextualização his- tórica do planejamento educacional brasileiro. Nos próximos capítulos, abordaremos mais detalhadamente o PPP (Projeto Político-Pedagógico), compreendendo as particularidades de um dos produtos mais importantes do planejamento educacional e de ação pontual na unidade escolar. É imprescíndivel que você tenha compreendido a importância do planejar para a qualidade da educação. De mesmo modo, entenda o planejamento como um processo que, além de técnico, é intencional e contínuo. Nos vemos no capítulo seguinte! Até lá! REFERÊNCIAS ABREU, F. Introdução à teoria do planejamento. In: FERREIRA, R. T. Planeja- mento e gestão de desenvolvimento regional. Belém: UFPA, 2004. AZEVEDO, J. Plano Nacional de Educação e planejamento: a questão da qua- lidade da educação básica. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 8, n. 15, p. 265-280, 2014. Disponível em: http://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/arti- cle/download/441/572. Acesso em: 16 out. 2020. BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educacao – PNE e da outras providencias. Brasilia, DF: Diário Ofi cial [da] União, 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/ l13005.htm. Acesso em: 16 out. 2020. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasilia, DF: Diário Ofi cial [da] União, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 out. 2020. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: na administração das organizações. Edição Compacta. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. COARACY, J. O planejamento como processo. Revista Educação, Brasília, ano 1, n. 4, p. 78-79, 1972 38 Planejamento institucional DALCORSO, C. Z. O Planejamento estratégico: um instrumento para o gestor da escola pública. São Paulo: Paco Editoria, 2017. FERREIRA, A. B. de H. Novo aurélio século XXI: o dicionário da língua portu- guesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. GANDIN, D. 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MESQUITA, M. de F. M.; COELHO, M. H. M. Breve trajetória histórico-pedagógi- ca do planejamento de ensino e da avaliação da aprendizagem. Dialogia, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 163 -175, 2008. NÉRICI, I. Introdução à supervisão escolar. São Paulo: Atlas.1990. OLIVEIRA, D. P. R. Estratégia empresarial & vantagem competitiva: como estabelecer, implementar e avaliar, 6. São Paulo: Atlas, 2009. SANTOS, P. S.M.B. As dimensões do planejamento educacional: o que os educadores precisam saber. São Paulo: Cengage Learning, 2016. 39 COMPREENDENDO O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Capítulo 1 SIMÃO, S. et al. Planejamento para a melhoria da qualidade educativa. Materiais de apoio à formação em competências de inspetores da educação em Angola. Buenos Aires: IIPE - Unesco, 2012. (Livro 2). Disponível em: https://unes- doc.unesco.org/ark:/48223/pf0000245242/PDF/245242por.pdf.multi. Acesso em: 16 out. 2020. VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: projeto de ensino aprendizagem e projeto político- pedagógico. São Paulo: Liberdad, 2002. 40 Planejamento institucional CAPÍTULO 2 PROJETO POLÍTICO--PEDAGÓGICO (PPP) A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes obje- tivos de aprendizagem: dominar os conceitos de PPP e planejamento estratégico educacional; entender os aspectos que envolvem a construção de um PPP; relacionar o PPP ao planejamento estratégico educacional. 42 Planejamento institucional 43 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO (PPP) Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Projeto, do latim projectum, que no bom português signifi ca ser lançado para frente! Você já havia pensado nessa palavra dessa forma? Visto por essa pers- pectiva, o termo projeto parece conectar-se com mudança, não parece? Quantos projetos você já teve? Quantos projetos você ainda tem? O que eles alteraram em sua vida? O que mudou em você? Acredito que você já tenha tido uma infi nidade de projetos. Projetar e viver a própria vida como um projeto é uma característica propriamente humana! Ani- mais, não projetam, agem de forma instintiva! Pense em um pássaro que constrói seu ninho. Diferente de nós, que contratamos um arquiteto para desenhar nossas casas, o passáro recolhe todo tipo de material e os arranja da maneira que dá. Não há um projeto. Ter um projeto, humanamente falando, signifi ca buscar algo diferente do que já temos, algo ideal, na perspectiva de alcançar algo possível. Para tanto, orga- nizamos ideias, arranjamos os recursos, mobilizamos ajuda! Rompemos com o equilíbrio em que nos encontrávamos! Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar signifi ca tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores (GADOTTI, 1995, p. 579). No capítulo anterior, estudamos o conceito de planejamento e suas impli- cações no âmbito da educação. Agora, te ajudaremos a pensar sobre um dos ti- pos de projeto mais importante no contexto escolar, o Projeto Político-Pedagógico (PPP). Sinta se convidado a refl etir sobre a mudança! Arrisque-se a construir uma educação diferente da que se apresenta hoje! Boa leitura! 44 Planejamento institucional Atividade de Estudo: 1 Agora é sua vez de construir um projeto. Vamos começar por um aspecto que lhe é bem importante: a sua vida! Quais são os seus projetos pessoais? Já os colocou no papel? Bem, essa é sua oportunidade! No quadro a seguir, você poderá, a partir do preenchimento, analisar qualquer tipo de projeto que você queira estabecer para sua vida. Quer tentar? QUADRO – PROJETO PESSOAL DE VIDA Assunto/ Área Como estou? Como faço? Como me comporto? Como devo ser ou como gostaria de ser? Que atividades devo fazer para desenvolver ou atingir um objetivo? De que ajuda eu preciso? Que tempo vou utilizar para executar meu projeto? Avaliação periódica do projeto FONTE: A autora 2 Como vimos, projetos envolvem mudanças e avanços. Se você fosse mudar algo na escola em que estudou, na escola de seus fi lhos ou na escola em que atua, quais seriam essas mudanças? Quais as necessidades da instituição? A seguir, discorra sobre as suas refl exões. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 45 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO (PPP) Capítulo 2 2 DESVENDANDO O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO (PPP) De maneira geral, o PPP é um documento que norteia as ações das insti- tuições educacionais, em um compromisso de gestão democrática participativa, sendo um elemento central do planejamento. Em seu processo histórico, vai se delineando juntamente à instituição da gestão democrática e do surgimento da LDBEN nº 9394/1996. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996, torna-se uma exigência legal, uma vez que esta, em seu artigo 12, determina que as escolas elaborem e executem uma proposta pedagógica, pertinente à identi- dade institucional. Contudo, a despeito do simples cumprimento legal, o PPP vai além de uma mera formalidade ou burocracia, ele organiza o trabalho pedagógico como um todo (VEIGA, 2007). Um instrumento de trabalho que mostra o que vai ser feito, quando, de que maneira, por quem para chegar a que resul- tados. Além disso, explicita uma fi losofi a e harmoniza as di- retrizes da educação nacional com a realidade da escola, traduzindo sua autonomia e defi nindo seu compromisso com a clientela. É a valorização da identidade da escola e um cha- mamento à responsabilidade dos agentes com as racionalida- des interna e externa. Esta idéia implica a necessidade de uma relação contratual, isto é, o projeto deve ser aceito por todos os envolvidos, daí a importância de que seja elaborado participa- tiva e democraticamente (VEIGA, 2005, p. 110). Segundo Vasconcellos (2002, p. 169), o PPP é um aparato “teórico metodo- lógico para a intervenção e mudança da realidade”. Confi gura-se como o plano global, intencional, fl exível e inconcluso, no qual a instituição reivindica a autono- mia de explicitar sua identidade. É uma sistematização do planejamento participa- tivo, num processo contínuo de avaliação e desenvolvimento, que defi ne as ações educativas que se pretende realizar (VASCONCELLOS, 2002). O PPP é a expressão do compromisso institucional com a qualidade de en- sino, bem como, consiste em um dos fundamentos principais da gestão escolar, da prática docente e da formação dos estudantes (BARTINIK, 2012). Quando a escola se organiza por meio do PPP, busca: Um rumo, uma direção, um sentido explícito para um compro- misso estabelecido coletivamente. O projeto pedagógico, ao se constituir em um processo participativo de decisões, preocupa- -se em instaurar uma forma de organização do trabalho peda- gógico que desvele os confl itos e as contradições, buscando 46 Planejamento institucional eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando pessoal e racionalizado da burocracia e permitindo relações horizontais no interior da es- cola (VEIGA, 1998 apud BARTINIK, 2011, p.147). Sobretudo, o PPP é a expressão dos desejos da comunidade escolar em relação à educação. É uma construção complexa, que envolve uma multiplicidade de sujeitos, de diferentes origens, saberes e experiências, e que permite o exer- cício da cidadania dando voz e vez a todos aqueles que fazem parte do processo ensino-aprendizagem. 2.1 CARACTERÍSTICAS, PRINCÍPIOS, DIMENSÕES E FINALIDADES DO PPP O PPP se expressa em um processo amplo, integral, global, com longa dura- ção, de participação coletiva e democrática. Para Veiga (2005), o PPP possui as seguintes características: a) É um movimento de luta em prol da democratização da es- cola que não esconde as difi culdades e os pessimismos da realidade educacional, mas não se deixa levar por esta, pro- curando enfrentar o futuro com esperança em busca de novas possibilidades e novos compromissos. É um movimento cons- tante para orientar a refl exão e ação da escola. b) Está voltado para a inclusão a fi m de atender a diversidade de alunos, sejam quais forem sua procedência social, neces- sidades e expectativas educacionais (Carbonell, 2002); proje- ta-se em uma utopia cheia de incertezas ao comprometer-se com os desafi os do tratamento das desigualdades educacio- nais e do êxito e fracasso escolar. c) Por ser coletivo e integrador, o projeto, quando elaborado, executado e avaliado, requer o desenvolvimento de um clima de confi ança que favoreça o diálogo, a cooperação, a negocia- ção e o direito das pessoas de intervirem na tomada de deci- sões que afetam a vida da instituição educativa e de compro- meterem-se com a ação. O projetonão é apenas perpassado por sentimentos, emoções e valores. Um processo de constru- ção coletiva fundada no princípio da gestão democrática reúne diferentes vozes, dando margem para a construção da hege- monia da vontade comum. A gestão democrática nada tem a ver com a proposta burocrática, fragmentada e excludente; ao contrário, a construção coletiva do projeto político-pedagógico inovador procura ultrapassar as práticas sociais alicerçadas na exclusão, na discriminação, que inviabilizam a construção his- tórico-social dos sujeitos. d) Há um vínculo muito estreito entre autonomia e projeto polí- tico-pedagógico. A autonomia possui o sentido sociopolítico e está voltada para o delineamento da identidade institucional. A 47 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO (PPP) Capítulo 2 identidade representa a substância de uma nova organização do trabalho pedagógico. A autonomia anula a dependência e assegura a defi nição de critérios para a vida escolar e acadê- mica. Autonomia e gestão democrática fazem parte da especi- fi cidade do processo pedagógico. e) A legitimidade de um projeto político-pedagógico está estrei- tamente ligada ao grau e ao tipo de participação de todos os envolvidos com o processo educativo, o que requer continui- dade de ações. f ) Confi gura unicidade e coerência ao processo educativo, deixa claro que a preocupação com o trabalho pedagógico enfatiza não só a especifi cidade metodológica e técnica, mas volta-se também para as questões mais amplas, ou seja, a das relações da instituição educativa com o contexto social (VEI- GA, 2005, p. 277). Como princípios de fundamentação do PPP, Eyng (2007), aponta que o do- cumento deve se embasar em pressupostos epistemológicos, didático-metodoló- gicos e sociopolíticos. Os pressupostos epistemológicos apontam o conhecimento mediado pelo professor e ressignifi cado pelo aluno. Envolvem a defi nição de conteúdo, avalia- ção e reorganização da prática pedagógica. Quanto aos pressupostos sociopolíticos, estes estabelecem as infl uências que a sociedade impõe sobre a escola, bem como as que esta estabelece sobre a sociedade. No que se refere aos pressupostos didático-pedagógicos, pode se afi rmar que os mesmos dizem respeito aos encaminhamentos de conteúdos e organiza- ções de aulas. Vinculam-se à postura do professor no processo de ensino apren- dizagem. Não obstante, o PPP possui, ainda, duas dimensões: uma política e outra pedagógica: a) Política: o PPP é político porque se integra à comunidade por diferentes esferas como a cultural, política e econômica. De mesmo modo tem, por compromisso, formar um cidadão para uma determinada sociedade. b) Pedagógica: o PPP é pedagógico pois expressa as ações intencionadas da escola em promover a educação. Ressalta-se que o PPP tem, por fi nalidades, o resgate da intencionalidade das ações pedagógicas; a transformação da realidade institucional e a participa- ção efetiva da comunidade escolar. 48 Planejamento institucional 2.1.1 Os envolvidos Afi nal, quem é o responsável por construir o PPP? A elaboração do PPP envolve: alunos; professores; equipe gestora; pais e responsáveis; e, comunidade externa. Ele precisa e deve refl etir todas as vozes da escolar! Conforme a Constituição de 1988 e a LDBEN nº 9394/1996, fi ca estabelecido que a escola atue em Gestão Democrática e que o projeto político-pedagógico seja elaborado por ação conjunta de toda a comunidade escolar. Para Padilha (2017), cada segmento participará de forma diferenciada na construção do PPP: • Pais e alunos: envolvimento com a programação de atividades, coorde- nação de eventos extra e intra-escolares e no estudo da realidade. De- vem estabelecer vínculo com os colegiados da instituição. • Associações de bairro, entidades comunitárias e ONGs: integração de suas atividades com atividades extra-escolares da instituição. • Diretor da escola: coordenação de todas as atividades escolares, devem mobilizar os demais segmentos da comunidade escolar a se envolverem com a construção do PPP. • Coordenador pedagógico: organização das reuniões de planejamento das atividades pedagógicas, envolvimento com a execução, desenvolvi- mento e avaliação do PPP. • Professores: participação vinculada à defi nição geral do projeto, dos pla- nos de currículo, de curso, de aula que também devem fazer parte do PPP. 2.1.2 Implicações e interações com outros documentos educacionais Em primeiro lugar, o PPP deve estar de acordo com todas as leis vigentes, bem como se adequar aos planos estaduais e nacionais de educação. Com relação ao currículo, o PPP acaba se tornando a sua materialização ofi cial. Ou seja, o PPP organiza os planos de ação que dão forma ao currícu- lo, oferecendo a ele vitalidade e personalidade. Também, oportuniza a refl exão 49 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO (PPP) Capítulo 2 e discussão do currículo oculto (mensagens e conteúdos, transmitidos – através de ações, atitudes, regras – de maneira implícita e indireta no texto e contexto da escola. Ex: orientações políticas). Em questão de Regimento Escolar, o paralelo que se estabelece é de que am- bos, PPP e Regimento, devem ser construídos e aprovados pela comunidade esco- lar. Igualmente, o Regimento deverá contemplar os parâmetros e princípios do PPP, para o detalhamento do regramento administrativo e jurídico da instituição. RELEVÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO Celso dos S. Vasconcellos Muitas vezes, no dia a dia, a preocupação da direção acaba sendo “que a escola funcione”, e a dos professores acaba girando em torno do “manter a disciplina e cumprir o programa”. “O nosso ris- co, porém, é este: somos devorados pelo urgente e não temos tempo para posicionarmo-nos diante do importante”. Frente a tantas difi cul- dades, por que a escola deve se interessar pelo Projeto? Ora, a fun- ção do projeto é justamente ajudar a resolver problemas, transformar a prática e, no limite, tornar menor o sofrimento. O Projeto Educativo não é algo que se coloca como um “a mais” para a escola, como um rol de preocupações que remete para fora dela, para questões “estratosféricas”. Pelo contrário, é uma meto- dologia de trabalho que possibilita ressignifi car a ação de todos os agentes da escola. C. Wright comparou a situação dos educadores à de remado- res, no porão de uma galera. Todos estão suados de tanto remar e se congratulam uns com os outros pela velocidade que conseguem imprimir ao barco. Há apenas um problema: ninguém sabe para onde vai o barco, e muitos evitam a pergunta alegando que este problema está fora da alçada de sua competência. (Alves, 1981:86). Houve um tempo em que parecia óbvia a necessidade e a fi na- lidade da escola. No entanto, especialmente a partir da década de setenta, com toda a crítica da sociologia francesa, a escola desco- bre-se como palco de confl itos e contradições sociais. Desde então, a explicitação de seu projeto, do dizer a que veio, vai se tornando cada vez mais importante. 50 Planejamento institucional a) Rigor e Participação A grande contribuição do Projeto Político-Pedagógico na pers- pectiva do Planejamento Participativo está no seguinte: § Rigor (qualidade formal) É uma maneira de se enfrentar o processo de alienação, exigin- do que as ações sejam intencionais (desligar o “piloto automático”). Há atualmente um apelo muito forte pela “prática”; este apelo pode nos levar ao imediatismo, ao ativismo. É preciso considerar que a prática é fundamental, é a fi nalidade da instituição, mas, por outro lado, a realidade é complexa, e como tal deve ser enfrentada. O que queremos dizer é que atuar de qualquer forma, sendo condiciona- do pelas pressões do ambiente (rotinas, ideologias) é fácil; difícil é realizarmos uma ação consciente, que de fato corresponda às re- ais necessidades. Para isto precisamos de um referencial teórico- -metodológico. O Projeto é justamente o Méthodos que visa ajudar a enfrentar os desafi
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