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ABORDAGENS COMPORTAMENTAL E 
JURÍDICA NAS RELAÇÕES FAMILIARES
ABORDAGENS 
COMPORTAMENTAL E 
JURÍDICA NAS RELAÇÕES 
FAMILIARES
ISBN 978-65-5081-055-9
Essa obra coletiva traz variados temas da seara do Direito das 
Famílias que estão em profícuo debate entre conceituados 
juristas, bem como nos tribunais pátrios. No primeiro capítulo, 
foram trazidas discussões que envolveram a novidade jurídica 
do divórcio impositivo ou unilateral. No segundo, abordou-se a 
adoção internacional pela ótica constitucional, enfrentando a 
questão problemática do tráfico de menores, na qual se fez uma 
correlação da afronta da dignidade humana com a obra “Tráfico 
de Anjos”, de Luiz Puntel. No terceiro, os temas abarcados foram 
o abandono afetivo, o dever de indenizar e a consequente 
aplicação da responsabilidade civil no Direito das Famílias. Já 
no quarto, analisou-se a guarda compartilhada como um meio 
eficaz de prevenção contra a alienação parental. No quinto, 
realizou-se um estudo sistemático envolvendo os direitos 
sucessórios do companheiro, após o reconhecimento da 
inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, que 
buscou equiparar os direitos do companheiro aos do cônjuge. 
No sexto, abordou-se a aplicação do dano moral à infidelidade, 
especificamente, em sua modalidade virtual. Por fim, no último 
capítulo, encerrou-se com uma contribuição ao estudo 
menorista, verificando cientificamente como o Karatê pode 
influenciar diretamente na vida de crianças e adolescentes. 
Dentre os temas trabalhados, encontram-se tendências para 
2020 relacionadas ao estudo do Direito das Famílias e das 
Sucessões, constituindo grande atualidade à presente obra.
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ORGANIZADORES
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo 
Adriano Cielo Dotto
AUTORES
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo 
Adriano Cielo Dotto
Amanda Cristina Lima
Ana Caroline Pereira Sampaio
Anna Caroline da Silva Resende
Karla Tereza de Castro
Laís Fernanda Almeida
Larissa Stoduto da Rocha
Tatyane Gondim Silva
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Prof. Me. Gil Barreto Ribeiro (PUC Goiás)
Diretor Editorial
Presidente do Conselho Editorial
Dr. Cristiano S. Araujo
Assessor
Larissa Rodrigues Ribeiro Pereira
Diretora Administrativa
Presidente da Editora
CONSELHO EDITORIAL
Profa. Dra. Solange Martins Oliveira Magalhães (UFG)
Profa. Dra. Rosane Castilho (UEG)
Profa. Dra. Helenides Mendonça (PUC Goiás)
Prof. Dr. Henryk Siewierski (UnB)
Prof. Dr. João Batista Cardoso (UFG Catalão)
Prof. Dr. Luiz Carlos Santana (UNESP)
Profa. Me. Margareth Leber Macedo (UFT)
Profa. Dra. Marilza Vanessa Rosa Suanno (UFG)
Prof. Dr. Nivaldo dos Santos (PUC Goiás)
Profa. Dra. Leila Bijos (UnB)
Prof. Dr. Ricardo Antunes de Sá (UFPR)
Profa. Dra. Telma do Nascimento Durães (UFG)
Profa. Dra. Terezinha Camargo Magalhães (UNEB)
Profa. Dra. Christiane de Holanda Camilo (UNITINS/UFG)
Profa. Dra. Elisangela Aparecida Pereira de Melo (UFT)
ABORDAGENS 
COMPORTAMENTAL E JURÍDICA 
NAS RELAÇÕES FAMILIARES
PATRÍCIA FORTES LOPES DONZELE CIELO 
ADRIANO CIELO DOTTO 
ORGANIZADORES
Goiânia-GO
EDITORA ESPAÇO ACADÊMICO
2019
CIP - Brasil - Catalogação na Fonte
Copyright © 2019 by Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo, Adriano Cielo Dotto (orgs.).
Editora Espaço Acadêmico
Endereço: Rua do Saveiro, Quadra 15, Lote 22, Casa 2
Jardim Atlântico - CEP: 74.343-510 - Goiânia/Goiás
CNPJ: 24.730.953/0001-73
Site: http://editoraespacoacademico.com.br/
Contatos:
Prof. Gil Barreto - (62) 98345-2156 / (62) 3946-1080
Larissa Pereira - (62) 98230-1212
Revisão:
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo 
Adriano Cielo Dotto
Diagramação: Marcos Digues
www.diguesdiagramacao.com.br
Capa: Projetado por senivpetro.com – freepik.com 
Projetado por freepik.com
O conteúdo da obra e sua revisão são de total responsabilidade do autor.
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É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou 
por qualquer meio, sem a autorização prévia e por escrito do autor. 
A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido 
pelo artigo 184 do Código Penal.
Impresso no Brasil | Printed in Brazil
2019
A154
Abordagens comportamental e jurídica nas relações familiares / Organizadores Patrícia 
Fortes Lopes Donzele Cielo e Adriano Cielo Dotto. – Goiânia : Editora Espaço 
Acadêmico, 2019.
 172 p.
 Inclui referências bibliográficas.
 ISBN:978-65-5081-066-5
 1. Direito de Família. I. Cielo, Patrícia Fortes Lopes Donzele (org.). II. Dotto, Adriano 
Cielo (org.).
 CDU 347.61/.64
Índice para catálogo sistemático
1. Direito de família ............................................................................................................347.61/.64
5
PREFÁCIO
Fiquei extremamente honrado com o convite que me foi 
formulado pela querida amiga Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo para 
prefaciar seu livro sobre Direito de Família. Trata-se de obra coletiva 
originária de trabalhos científicos escritos por juristas de grande 
envergadura intelectual. 
O livro que ora apresento à comunidade jurídica trata de profunda 
análise de um tema de destacada relevância: o Direito de Família. São 
abordas questões atualíssimas que, embora ainda apresentem divergência 
na doutrina e jurisprudência, ganharam, aqui, nesta reluzente obra, 
interpretações subsistentes que emanam significativas luzes.
O primeiro Capítulo analisa, com acurada primazia, uma 
interessante discussão sobre o divórcio impositivo, também conhecido 
como divórcio unilateral. Analisa o referido direito potestativo 
com profundidade à luz de boa doutrina e jurisprudência. Traz 
argumentos que envolvem aspectos formais e materiais dessa nova 
modalidade de dissolução da sociedade conjugal. Ressalta que essa 
modalidade já é amplamente praticada no Chile. Foram comentadas, 
com exímia maestria, as decisões do Conselho Nacional de Justiça que 
declararam ilegalidades e inconstitucionalidade em provimentos das 
Corregedorias dos Estados do Maranhão e de Pernambuco. O artigo 
cita ensinamentos de diversos juristas contemporâneos, abordando 
pontos de vista favoráveis e contrários ao novo instituto jurídico. 
6
Tece crítica bastante contundente “de lege ferenda” para modernizar 
o ordenamento jurídico pátrio; e apresenta uma conclusão embasada 
nas liberdades individuais, na celeridade da dissolução conjugal e na 
desjudicialização.
O segundo artigo trata da adoção internacional. Tema 
preocupante e bastante polêmico, mas que foi analisado pelas 
autoras com muita clareza e lucidez. Foi dada ênfase ao Princípio 
do melhor interesse do menor. As autoras fazem um contraponto 
bem fundamentado aos argumentos que impedem a adoção 
internacional. Foram analisados os tratados internacionais 
(Convenção de Haia e Convenção Interamericana Contra o Tráfico 
de Menores) e a legislação infraconstitucional (Estatuto da Criança 
e do Adolescente), que previnem adoções fraudulentas e impõem 
maior rigorosidade e cautela no processo. Com exímia maestria, as 
autoras fazem, ainda, uma interessante inter-relação entre Direito e 
Literatura, mais precisamente fazem um paralelo com a obra “Tráfico 
de Anjos”, publicada em 1995, pelo autor Luiz Puntel, que relata o 
desaparecimento de bebês na região de Ribeirão Preto, no Estado 
de São Paulo. Ao final do artigo, as autoras apresentam soluções 
criativas, respaldadas juridicamente, para um problema social 
deveras impactante: o abandono de crianças brasileiras. Arrematam 
que as adoções fraudulentas não podem inibir as adoções legalizadas, 
pois o objetivo é amparar o menor deixado nas ruas. Concluem, em 
síntese, que, independentemente da nacionalidade dos adotantes, é 
melhor prover o sustento de uma criança, dando-lhe um lar digno, 
do que deixá-la ao léu, jogada à própria sorte.
O terceiro artigo aborda umtema muito importante e ainda 
polêmico na jurisprudência: analisa os motivos plausíveis do dever 
de indenizar por abandono afetivo. As autoras abordam quando seria 
cabível, bem como os pressupostos essenciais de configuração do 
dano. Discorrem as autoras se a condenação do réu ensejaria mero 
enriquecimento ilícito ou se seria uma forma de reprovar de quem 
7
deixou de arcar com suas obrigações no âmbito do poder familiar. 
É realizada uma exposição de lições extraídas da doutrina e de 
entendimentos jurisprudenciais relativos ao tema abordado, bem como 
artigos científicos. O texto conceitua o abandono afetivo como uma das 
mais graves violências contra a criança. Explica que tanto na omissão 
de cuidado, quanto na criação, assistência moral, psíquica e social, a 
vítima e o genitor que detém a guarda são acometidos de sentimento de 
angústia e impotência, de forma silenciosa e contínua, por não poder 
fazer nada. Por mais que seja impossível obrigar uma pessoa a amar 
outra, o afeto há de ser edificado pela convivência. Enquanto um gesto de 
interesse pode construir afeto, a falta deste interesse pode causar efeitos 
devastadores e irreparáveis. Também é verificado o prazo prescricional, 
anotando que, com fulcro na jurisprudência, a pretensão indenizatória 
encerra-se quando o filho completa 21 (vinte e um) anos de idade, pois 
a contagem inicia-se a partir da maioridade. Ao final, o artigo faz uma 
reflexão deveras apropriada e profunda: a condenação em danos morais, 
proveniente do abandono afetivo, tem natureza de medida pedagógica e 
educativa, para que a sociedade entenda o abandono afetivo como uma 
conduta reprovável pelo ordenamento jurídico. 
O quarto artigo faz uma abordagem sobre o instituto da guarda 
e suas modalidades. E dentro desse tema tão relevante os autores 
propõem um conceito da Alienação Parental. Além disso, os autores 
elucidam, com bastante acuidade técnica, como a guarda compartilhada 
pode ser um meio eficaz para evitar uma possível alienação parental. 
O artigo também analisa diversos entendimentos jurisprudenciais e 
ainda traz a visão de importantes doutrinadores com posicionamentos 
de vanguarda. A abordagem é interdisciplinar, já que envolve alguns 
aspectos psicológicos da guarda compartilhada. O trabalho sustenta que 
visitas ocasionais podem ser menos eficazes na prevenção da alienação 
quando há convívio mais intenso.
Na sequência, mais precisamente no capítulo quinto, as autoras 
fazem uma profunda e instigante reflexão sobre o julgamento dos 
8
Recursos Extraordinários n° 878.694/MG e nº 646.721/RS, ocorrido 
em maio de 2017, quando o Supremo Tribunal Federal entendeu pela 
inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, equiparando 
os direitos sucessórios do companheiro aos direitos reconhecidos ao 
cônjuge, previsto no artigo 1.829 do CC/02. As autoras discorrem 
sobre o postulado da isonomia e verificam se haveria motivos para 
distinguir cônjuges e companheiros no atual contexto histórico. O 
texto verifica as principais consequências da decisão da Suprema 
Corte, principalmente no que diz respeito à inclusão ou não do 
companheiro no rol dos herdeiros necessários, previsto no art. 1.845 
do CC/2002, bem como o direito real de habitação, previsto no artigo 
1.831 do CC/2002. Ao final do primoroso trabalho, as autoras parecem 
se inclinar pela proteção da entidade familiar, independentemente 
da forma de vínculo adotado. Por mais que se trate de institutos 
diferentes quanto às suas formalidades, as autoras afirmam com muita 
lucidez e honestidade intelectual que, na essência, referidos institutos 
possuem o mesmo significado, que é constituir família. Assim, o 
trabalho científico conclui que não existe hierarquia entre os institutos 
familiares. Em outras palavras, a família constituída pelo casamento 
não é mais importante do que a família que se formou por meio de 
uma união estável. Por essa razão precípua, esclarecem-nos as autoras 
que não pode haver divergências quanto à sucessão do cônjuge e do 
companheiro.
No sexto capítulo, a obra trata de um tema bastante atual e 
ainda pouco explorado pela doutrina e jurisprudência, a saber: a 
infidelidade virtual e sua repercussão jurídica. As autoras fazem 
profunda alusão ao dever de lealdade e fidelidade decorrentes 
da relação conjugal. Discorrem, com muita perspicácia, sobre 
a possibilidade de responsabilização civil diante da prova da 
infidelidade virtual. Analisam os princípios constitucionais e sua 
aplicação em relacionamentos virtuais e relacionamentos reais. 
Como cerne do estudo, enfrentam a questão do dano moral na 
9
infidelidade virtual que atualmente parece ser uma das principais 
causas de rupturas dos relacionamentos. O exímio trabalho alcança 
um importante objetivo ao esclarecer que as pessoas, na maioria 
das vezes, não estão sabendo lidar com os meios de comunicação 
disponíveis, e devem estar atentas para as consequências patrimoniais 
e afetivas decorrentes de abusos. 
O sétimo e último Capítulo encerra a obra com chave de 
ouro. Também com uma visão interdisciplinar, os autores ressaltam 
que as artes marciais, mais especificamente o Karatê, podem ser 
um excelente suporte na formação biopsicossocial dos indivíduos. 
Os autores analisam, com profundo olhar na psicopedagogia e 
sociologia, essa singular atividade física e sua ligação com a filosofia 
e com o desenvolvimento da pessoa humana. Explicam que o Karatê 
pode propiciar o fortalecimento do corpo e da mente. Os autores 
concluem que o Karatê propõe meios para a educação que podem 
transformar comportamentos humanos e, ainda, fazer com que seus 
praticantes, notadamente crianças e adolescentes, desenvolvam suas 
potencialidades, tendo em vista que, de um modo geral, esportes 
que envolvem competições trabalham a tolerância, a perda e o lidar 
com frustrações. Todo esse conjunto auxilia no desenvolvimento 
emocional, psicológico e social do indivíduo.
Em suma, o livro é belíssimo convite ao aprofundamento 
de estudos sobre direito de família em sua versão mais moderna 
e atualizada com os novos contornos da cultura brasileira. Os 
estudos são claros, sérios e profundos. A linguagem é apropriada e 
bastante didática, com exemplos ricos e condizentes com as práticas 
observadas nos Tribunais brasileiros. A bibliografia citada também 
enriquece o escopo dos trabalhos apresentados. Sem dúvida alguma, 
o leitor está diante de uma obra de consulta necessária aos estudiosos 
do Direito de Família.
É livro cuja presença é obrigatória na biblioteca e na mesa de 
trabalho dos operadores e estudiosos do recente sistema processual.
10
Cumprimento aos leitores, pelo muito que deste livro poderão 
extrair, com ótimo proveito. Cumprimento a Editora, que vem na 
vanguarda. E cumprimento os autores pela expressiva contribuição que 
dão, com esta publicação, ao Direito e à sociedade brasileira.
Curitiba (PR), dezembro de 2019.
Arthur Mendes Lobo
Doutor em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo (2014). Professor Adjunto das disciplinas Direito 
Empresarial e Direito do Trabalho no Departamento de Ciências 
Contábeis da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor da 
disciplina de Direito Tributário no MBA de Gestão Contábil e Tributária 
da UFPR. Professor da disciplina Direito Processual Coletivo na Pós-
Graduação em Direito Civil e Processual Civil do Instituto Catarinense 
de Ensino. Professor Convidado da Escola Superior da Magistratura 
do Estado de Goiás. Professor Convidado da Pós-Graduação LLM em 
Direito Empresarial Aplicada da Escola de Gestão das Faculdades da 
Indústria - IEL/PR (FIEP). Professor Convidado da Pós-Graduação em 
Direito Processual Civil da Escola Superior de Direito de Ribeirão Preto/
SP. Professor Convidado da Escola Superior de Advocacia da OAB/PR. 
Membro do Instituto Internacional de Gestão Legal. Parecerista da 
Revista Pensamento Jurídico da Faculdade Autônoma de Direito de São 
Paulo. Membro do Conselho Editorial da Revistado Tribunal de Contas 
do Estado de Minas Gerais. Membro do Conselho Editorial da Coleção 
Processo e Constituição - Editora Prismas. Membro da Comissão de 
Direito Empresarial da OAB/PR. Membro da Comissão de Estudos em 
Recuperação Judicial e Falências da OAB/PR. Membro da Comissão 
de Advogados Corporativos da OAB/PR. Membro da Associação dos 
Advogados de São Paulo. Sócio do Escritório Wambier, Yamasaki, 
Bevervanço e Lobo Advocacia e Consultoria Jurídica.
11
SUMÁRIO
5 PREFÁCIO
13 DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DA VONTADE 
OU AMEAÇA À PACIFICAÇÃO?
Anna Caroline da Silva Resende
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
35 ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA 
“TRÁFICO DE ANJOS” DE LUIZ PUNTEL
Tatyane Gondim Silva
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
61 ABANDONO AFETIVO E O DEVER DE INDENIZAR
Larissa Stoduto da Rocha
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
79 GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A 
ALIENAÇÃO PARENTAL
Laís Fernanda Almeida
Adriano Cielo Dotto
12
101 OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
QUE DECLAROU A INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 
DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO OS DIREITOS SUCESSÓRIOS DO 
COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
Ana Caroline Pereira Sampaio
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
121 A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
Amanda Cristina Lima
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
147 CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O DESENVOLVIMENTO 
PSICOSSOCIAL DO INDIVÍDUO
Karla Tereza de Castro
Adriano Cielo Dotto
169 SOBRE OS AUTORES
13
DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA 
AUTONOMIA DA VONTADE OU AMEAÇA À 
PACIFICAÇÃO?
Anna Caroline da Silva Resende
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Resumo: O presente artigo teve como escopo a análise do instituto 
do divórcio impositivo, assunto polêmico e controverso, fazendo-se 
verificação acerca da sua viabilidade e levantamento dos pontos positivos 
e dos negativos de sua aplicação no âmbito do Direito de Família. Assim, 
foram abordadas as duas espécies de divórcio, judicial e extrajudicial 
e suas especificidades, bem como a definição de divórcio impositivo 
e suas particularidades nos Estados de Pernambuco e Maranhão e, 
por meio levantamento de questionamentos. A metodologia utilizada 
foi a pesquisa em artigos científicos, matérias jornalísticas, textos 
informativos e também doutrina na área de Direito das Famílias. A 
conclusão a que se chegou foi a de que se trata o divórcio impositivo um 
exercício da autonomia da vontade, e não uma ameaça à pacificação e 
à resolução dos conflitos inerentes à dissolução da sociedade e vínculo 
conjugais.
Palavras-chave: Direito de Família. Divórcio impositivo. Dissolução da 
sociedade e vínculo conjugais.
14 Anna Caroline da Silva Resende | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
1 Introdução
É sabido que o casamento era indissolúvel antes do advento do 
Código Civil de 1916, sendo o desquite a única possibilidade legal de 
romper com o matrimônio. Posteriormente, com o advento da Lei 
do Divórcio (Lei n. 6.515/77), o desquite deu lugar ao instituto da 
separação, cujo objetivo também era dissolver a sociedade conjugal, 
mas não dissolver o vínculo matrimonial.
O divórcio como causa de dissolução do vínculo matrimonial 
apareceu, primeiro, no artigo 226, parágrafo 6º da Constituição 
Federal de 1988 (CFR/88) e, depois, no Código Civil de 2002 (CC/02), 
no seu artigo 1.571, inciso IV. No ano de 2010 foi editada a Emenda 
Constitucional 66/2010, que alterou a redação do citado §6º do artigo 
226 da Constituição Federal e trouxe modificações aos requisitos 
relacionados ao tempo para obtenção do divórcio.
Em 14 de maio de 2019, foi editado pela Corregedoria Estadual de 
Pernambuco o Provimento n. 06/2019, que trata do divórcio impositivo 
como ato de autonomia da vontade de um dos cônjuges em pleno 
exercício de seu direito potestativo, gerando muita polêmica e acalorando 
as discussões doutrinárias entre a comunidade de profissionais da área 
do Direito, sobretudo de Família.
Dias depois, em 20 de maio de 2019, a Corregedoria do Estado do 
Maranhão editou o Provimento 25/2019, no qual é definido também o 
procedimento de formalização do divórcio unilateral.
Isso posto, a edição dos aludidos Provimentos e a discussão 
acerca do tema servem de embasamento para o presente trabalho, o qual 
objetiva, de modo geral, a análise do instituto do divórcio impositivo e 
os pontos positivos e negativos de sua aplicação no âmbito do Direito 
das Famílias.
No tocante aos objetivos específicos, serão abordadas as duas 
espécies de divórcio, judicial e extrajudicial e suas especificidades, 
bem como a definição de divórcio impositivo e suas especificidades 
15DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DA VONTADE OU AMEAÇA À PACIFICAÇÃO?
nos Estados de Pernambuco e Maranhão. Verificar-se-á os aspectos 
constitucionais dos provimentos exarados pelos Estados de Pernambuco 
e Maranhão e por qual motivo foram revogados pelo Conselho Nacional 
de Justiça.
Assim, busca-se com o presente estudo levantar questionamentos 
e ponderar a aplicabilidade ou não do divórcio impositivo como uma 
solução para desburocratização e consequente desjudicialização 
das dissoluções de vínculos conjugais. Levantam-se os seguintes 
questionamentos: Quais os aspectos positivos e negativos do divórcio 
impositivo no Direito brasileiro? Quais aspectos constitucionais 
relacionados ao tema? O que poderá ser aperfeiçoado, caso venha a ser 
autorizado por lei federal a sua realização? Será o divórcio impositivo um 
pleno exercício da autonomia da vontade ou uma ameaça à pacificação?
No intuito de atingir os objetivos propostos, serão utilizados como 
fontes, para elaboração deste trabalho de curso, artigos científicos que 
tratam do tema, matérias jornalísticas, textos informativos, bem como 
material doutrinário no ramo de Direito das Famílias. Por dizer respeito 
a tema novo, ainda não há jurisprudência sobre o assunto. Por essa razão, 
a pesquisa é de teor bibliográfico e levantamento documental, não sendo 
realizadas pesquisas de jurisprudência, de campo ou entrevistas físicas.
2 Conceito de família e breve histórico acerca da dissolução do 
vínculo e sociedade conjugais no Brasil
 
Sabe-se que a família foi historicamente o primeiro agente 
socializador da pessoa humana e, por ser considerada base da sociedade, 
recebe especial proteção do Estado, conforme dispõe o artigo 226 da 
Carta Magna. E como a sociedade e as relações evoluem com o tempo, 
também o Direito, sobretudo o Direito das Famílias, é aperfeiçoado para 
atender às novas demandas da sociedade. 
Conforme bem pontuam Gagliano e Pamplona Filho (2019, p. 
62): “(...) família é o núcleo existencial integrado por pessoas unidas 
16 Anna Caroline da Silva Resende | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
por vínculo socioafetivo, teleologicamente vocacionada a permitir a 
realização plena dos seus integrantes”, estrutura alicerçada no Princípio 
da Dignidade da Pessoa Humana.
Na mesma esteira, os mesmos autores lecionam que o conceito de 
família se reveste de alta significação psicológica, jurídica e social, não 
tendo um conceito absoluto, e acompanha as mudanças da sociedade 
continuamente.
Nesse diapasão, assim como o conceito de família, que não é 
estático nem imutável, também aspectos ligados à estrutura familiar 
foram modificados ao longo do tempo, dentre eles o da dissolução da 
sociedade e do vínculo conjugal.
No século XX, sob forte influência da Igreja Católica, a família se 
baseava numa estrutura de sociedade patriarcal e muito conservadora. 
Assim, o casamento era o único legítimo vínculo conjugal aceito, sendo 
que o que diferisse disso era considerado concubinato, totalmente 
discriminado pela sociedade e desprovido de devida proteção jurídica.
É sabido nessa época que, à luz do Código Civil de 1916, o 
casamento era indissolúvel, sendo o desquite a única possibilidade legal 
de romper com o matrimônio. Os extintos artigos 316 e 317 do referido 
Código apregoavamque a sociedade conjugal tinha término em três 
circunstâncias, sendo morte de um dos cônjuges, nulidade ou anulação 
do casamento ou pelo desquite, amigável ou judicial. Para o desquite, era 
aceitável por motivo de adultério, tentativa de morte, sevícia ou injúria 
grave e abandono do lar por dois anos contínuos. No desquite, dissolvia-
se apenas o vínculo conjugal, sendo mantida a sociedade conjugal.
Posteriormente, com o advento da Lei do Divórcio (Lei n. 
6.515/77), regulamentou-se o instituto do divórcio no Brasil. Houve 
alteração no texto do artigo 175 da Constituição vigente à época e 
passou-se a admitir a dissolução do casamento, desde que houvesse 
prévia separação judicial por mais de três anos.
Assim, desquite deu lugar ao instituto da separação judicial, cujo 
objetivo também era dissolver a sociedade conjugal, mas não dissolver o 
17DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DA VONTADE OU AMEAÇA À PACIFICAÇÃO?
vínculo matrimonial. Tal instituto visava restabelecimento da sociedade 
conjugal, que se dava por homologação judicial ou pela lavratura de 
uma escritura pública de reconciliação, dispensada a via judicial.
Posteriormente, com a Constituição Federal de 1988, o divórcio, 
em seu artigo 226, parágrafo 6º, “O casamento civil pode ser dissolvido 
pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos 
casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de 
dois anos”.
Assim, a Carta Magna consolidou o divórcio direto, em 
seguimento ao disposto na Lei do Divórcio, sem, no entanto, extinguir 
o divórcio indireto, decorrente da separação judicial.
Vale destacar a edição da Lei 11.441, de 04 de janeiro de 2007, a 
qual atribuiu nova competência aos tabeliães de notas para elaborarem 
escrituras públicas de divórcio e separação, desburocratizando os 
procedimentos relativos às questões familiares por meio extrajudicial, 
além de representar desjudicialização e economia para os cofres públicos.
Assim, a referida Lei trouxe nova possibilidade de livre exercício 
do direito potestativo ao divórcio, sem intervenção do Poder Judiciário e 
diretamente perante o tabelião de notas, desde que com a concordância 
do outro cônjuge e observados os demais requisitos necessários à prática 
do ato notarial.
Em 2010, foi editada a Emenda Constitucional n. 66 por meio 
da chamada “PEC do amor”, a qual deu nova redação ao parágrafo 6º 
do art. 226 da CF/88, sendo que passou a ser o divórcio a nova forma 
de dissolução do casamento, tendo, para maior parte da doutrina, 
desaparecido o instituto da separação judicial (GAGLIANO; 
PAMPLONA FILHO, 2019). Com isso, acabou também a teoria na 
culpa, não sendo mais necessário provar nada na via judicial. Nesse 
momento, já não mais precisaria do requisito temporal para o divórcio.
Sobre o divórcio, elenca o Código Civil, em seu artigo 1.571, 
algumas modalidades de dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, 
a saber: falecimento de um dos cônjuges; nulidade ou anulação do 
18 Anna Caroline da Silva Resende | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
casamento; separação judicial e divórcio. Entretanto, o §1º do mesmo 
artigo aduz que o casamento válido é dissolvido somente pela morte de 
um dos consortes ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida 
quanto ao ausente, sendo que tal presunção acarreta presunção também 
da extinção do casamento, fazendo cessar o impedimento matrimonial 
para o cônjuge sobrevivente (artigos 37 e 38 do Código Civil).
Dessa feita, nota-se que houve muitas mudanças no Direito 
Brasileiro no que diz respeito ao instituto do divórcio, sendo que é 
cada vez menor a participação do Estado nesse tema, prevalecendo a 
autonomia dos cônjuges para extinguir o vínculo conjugal, respeitando-
se o Princípio da Autonomia da Vontade.
3 Divórcio impositivo – inovações no instituto do divórcio
Com a evolução da sociedade, também evolui o Direito, visando à 
adequação à sociedade. No âmbito do Direito de Família, várias foram as 
mudanças no próprio conceito e na estrutura da família, tendo o Direito 
alavancado conquistas significativas, tais como a equiparação da união 
estável para fins sucessórios e o reconhecimento da união homoafetiva.
Não obstante, a questão do divórcio impositivo começou a ser 
discutida no Brasil recentemente. Até então, no Brasil não havia na lei 
e sequer na doutrina menção e discussão sobre esse instituto, também 
denominado divórcio unilateral. 
Conforme consta em reportagem publicada em sítio eletrônico 
chileno (DIVORCIO FÁCIL, 2017), no referido país esse tipo de 
divórcio já é realizado há algum tempo e como requisito é exigido que o 
casal já esteja separado há mais de três anos e que não haja contrato de 
divórcio. Assim, é realizado o procedimento de mediação entre o casal, 
a prova de divórcio há mais de três anos e, posteriormente, a realização 
de audiência para finalização do processo.
No Brasil, as discussões começaram a ser levantadas quando 
da edição, em 14 de maio de 2019, pela Corregedoria Estadual de 
19DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DA VONTADE OU AMEAÇA À PACIFICAÇÃO?
Pernambuco, do Provimento n. 06/2019, o qual trata do divórcio 
impositivo como “ato de autonomia da vontade de um dos cônjuges, 
em pleno exercício de seu direito potestativo no âmbito do Estado de 
Pernambuco”. Este provimento, segundo informado pelo Instituto 
Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), foi proposto pelo 
desembargador Jones Figueiredo Alves. (IBDFAM, 2019b). 
Dias depois, em 20.05.2019, foi editado pela Corregedoria Geral 
do Estado do Maranhão o Provimento 25/2019, no qual é definido 
também o procedimento de formalização do divórcio unilateral.
Muito diferente do que é realizado no Chile, o divórcio 
impositivo brasileiro tem suas características próprias. Paier e Bagatini 
(2019) explicam que o divórcio impositivo pode ser entendido como o 
ato emanado da manifestação de vontade de apenas um dos cônjuges, 
dispensada a apresentação de justificativa e sem necessidade de 
acionamento do Judiciário. A pessoa poderá dirigir-se sozinha, sem 
a necessidade de consentimento do outro, ao cartório e requerer o 
desfazimento do vínculo conjugal. 
Pois bem. Passa-se à análise dos provimentos em questão.
3.1 Provimento n. 06/2019, editado pela Corregedoria do Estado de 
Pernambuco
Quanto ao provimento editado pela Corregedoria do Estado 
de Pernambuco, fundamentado constava que o divórcio impositivo 
poderia ser realizado no cartório em que foi realizado o casamento, por 
uma das partes, acompanhada de advogado. 
Como requisito essencial, os cônjuges não podem ter filhos 
menores, incapazes nem nascituros e, por ser unilateral, entende-se que 
o requerente optou em partilhar os bens, se houver, posteriormente.
Após, há a lavratura da escritura em que a parte manifesta sua 
vontade na dissolução da sociedade conjugal. Posteriormente, o cônjuge 
é notificado e o divórcio averbado, pondo fim ao vínculo conjugal.
20 Anna Caroline da Silva Resende | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Quando do pedido de averbação do divórcio impositivo, a cláusula 
relativa à alteração do nome do cônjuge requerente, em retomada do 
uso do seu nome de solteiro, será anotada no assento de casamento e 
também de nascimento pelo Oficial de Registro.
No Estado de Pernambuco, vigeu até sua revogação, em 
31.05.2019, pela Corregedoria Nacional de Justiça e foi o marco das 
discussões doutrinárias acerca do tema.
3.2 Provimento n. 25/2019, editado pela Corregedoria do Estado do 
Maranhão
Em 20.05.2019, foi editado o Provimento supracitado, 
publicado no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado 
do Maranhão (2019), fundamentado no artigo 226, § 6º, da 
Constituição Federal e na Emenda Constitucional 66/2010, assinado 
pelo desembargador Marcelo Carvalho Silva. Assim, foi o segundo 
Estado a regulamentar o divórcio unilateral em cartório e a medida 
veio dias após o Tribunal de Justiça de Pernambuco regulamentar 
matéria no mesmo sentido.
Tal provimentose fundamentou nos direitos humanos, 
principalmente naquele sacramentado no art. 16, item I, da Declaração 
Universal dos Direitos do Homem, de 1948, e nos princípios 
constitucionais da Individualidade, da Liberdade, do Bem-Estar, da 
Justiça e da Fraternidade, bem como no direito individual à celeridade 
na resolução das lides e na autonomia da vontade nas relações entre as 
pessoas.
Os procedimentos para realização do divórcio impositivo no 
Maranhão foram exatamente iguais aos do Estado de Pernambuco, 
como a necessidade de assistência por advogado, a lavra de escritura 
pública e os requisitos necessários e que devem ser preenchidos para 
sua realização.
21DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DA VONTADE OU AMEAÇA À PACIFICAÇÃO?
3.3 Decisão do Conselho Nacional de Justiça acerca da matéria
Foi instaurado de ofício pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 
pedido de providências em desfavor da Corregedoria-Geral de Justiça do 
Estado de Pernambuco, em virtude de ter esta publicado o Provimento 
CGJ/PE n. 6/2019, no qual se regulamenta o procedimento de averbação, 
nos serviços de registro de casamento, do divórcio impositivo. A questão 
a ser dirimida diz respeito à legalidade do referido Provimento.
Segundo consta do pedido de providências do CNJ (2019), 
o Colégio Notarial do Brasil e o Instituto de Registro de Títulos e 
Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil – IRTDPJ – BRASIL 
requereram o ingresso no feito como terceiros interessados.
Conforme publicado pela revista Consultor Jurídico (2019) 
em 31 de maio de 2019, o Corregedor Nacional de Justiça, ministro 
Humberto Martins, declarou a ilegalidade do Provimento n. 06/2019 
editado pelo Estado de Pernambuco sob alegação de que tal Provimento 
viola as regras do Código de Processo Civil sobre a “ação de família”, 
pois divórcios unilaterais e, por consequência, litigiosos, só podem ser 
resolvidos no âmbito judicial, segundo apregoa o Código de Processo 
Civil.
Além disso, o Provimento supracitado acabou por “criar” um 
regime de dissolução de casamentos que existiu apenas em Pernambuco, 
violando, assim, o Princípio da Isonomia e federativo e a competência 
exclusiva da União para legislar sobre processo civil. Consequentemente, 
ofende-se a higidez do direito federal, uma vez que uniformidade é um 
pressuposto da Federação e da igualdade entre os brasileiros.
Ainda, o CNJ (2019) manifestou-se desfavorável ao divórcio 
impositivo por entender que se trata de uma nova forma de divórcio 
litigioso, já que um dos cônjuges requer a decretação do divórcio sem a 
anuência do outro e não há, no ordenamento jurídico brasileiro vigente, 
contudo, em caso de litígio, amparo legal para que o divórcio seja 
realizado extrajudicialmente. 
22 Anna Caroline da Silva Resende | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Vale destacar que o referido Conselho considerou que o 
Provimento n. 06/2019 também pode ser confrontado com o Código 
de Processo Civil, por seus artigos 693 a 699, nos quais se localizam 
as “ações de família”, sendo que, no artigo 694, recomenda-se o uso 
de todos os meios consensuais para resolver os litígios familiares e, 
somente se frustrada a tentativa de conciliação, haverá o acionamento 
do judiciário para realização do divórcio, por meio da petição inicial de 
dissolução do casamento.
Ademais, a matéria tratada no Provimento n. 06/2019 pertence 
ao ramo do Direito Civil, ao Direito Processual Civil e aos Registros 
Públicos, e a competência privativa para legislar a matéria é da União, 
conforme apregoa o artigo 22, incisos I e XXV da Constituição Federal, 
de modo que somente poderia ser disposta em lei federal. 
Assim, ao se permitir que um tribunal local “legisle”, ignora-
se a função do Superior Tribunal de Justiça e também do Congresso 
Nacional, a quem compete legislar privativamente sobre a matéria em 
questão. 
Considerou também a supracitada decisão que, no “divórcio 
impositivo”, o simples requerimento unilateral não é título com força 
suficiente para autorizar que o ato averbatório desfaça a sociedade 
conjugal e o vínculo do matrimônio. 
Por fim, diante de todos os argumentos apresentados, foi 
determinado pelo Conselho Nacional de Justiça à Corregedoria-Geral 
do Estado de Pernambuco que revogasse, em caráter imediato, o 
Provimento em questão e determinou a todos os Tribunais de Justiça 
e Corregedorias estaduais, por meio de Recomendação, que não mais 
editem atos normativos que regulamentem a averbação de divórcio por 
declaração unilateral de um dos cônjuges ou, na hipótese de já terem 
editado atos normativos de mesmo teor, tais atos deverão ser revogados.
Desse modo, o Tribunal de Justiça do Maranhão também se 
absteve de editar Provimentos nesse sentido.
23DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DA VONTADE OU AMEAÇA À PACIFICAÇÃO?
4 Posicionamentos favoráveis ao tema
O Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM, 2019b), 
na matéria divulgada pela assessoria de comunicação do referido órgão, 
destaca-se que o presidente da Comissão de Advogados de Família do 
referido Instituto, Marcelo Truzzi, é favorável ao divórcio impositivo. 
Inclusive há dez anos, quando ainda não havia sido editada a Emenda 
Constitucional 66/2010, escreveu a respeito do tema e sugeriu soluções 
para o divórcio indireto.
No entanto, Truzzi destaca dois pontos negativos, como a 
necessidade de advogado, o que, para ele, é desnecessário e onera a 
parte, já que é só uma formulação do pedido do divórcio que é feito em 
cartório e as questões secundárias. (IBDFAM, 2019b)
Ademais, como segundo ponto negativo, levanta questionamento 
acerca da constitucionalidade do provimento, considerando que, como 
não está disposto em lei, deveria ser criada para disciplinar o tema. 
(IBDFAM, 2019b)
Ainda sobre o assunto, em nota publicada pelo Colégio Notarial 
do Brasil - Conselho Federal (2019), tal órgão se posicionou favorável, 
mas com ressalvas, entendendo que os referidos atos normativos não 
encontram respaldo no ordenamento jurídico vigente.
O referido Colégio, que é uma entidade de classe que representa 
os notários de todo país, publicou uma nota de esclarecimento expondo 
seu posicionamento, inferindo que tal medida interferiu na competência 
do Poder Judiciário e nas atribuições notariais e registrais definidas nas 
Leis 8.935/94 e 6.015/73, com o que não se pode concordar. 
Pontua também o Colégio Notarial que é dever da União legislar 
sobre casamento e divórcio, conforme texto constitucional, e destaca 
que, se forem permitidas as edições de normas estaduais, será divergente 
de um Estado para outro, gerando desigualdade.
Lucena Torres (2019) acredita que a regulamentação desse tipo 
de divórcio contribuirá para a desburocratização e “desafogamento” do 
24 Anna Caroline da Silva Resende | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Judiciário, considerando grande volume de processos que tramitam no 
Poder Judiciário. Ainda, que o vínculo conjugal é rompido de forma 
mais simples e, também, célere.
Ainda, Torres (2019) destaca que foi extremamente relevante 
a atuação do Egrégio Tribunal de Justiça de Pernambuco, sendo uma 
resposta ao “clamor” da comunidade jurídica, que conhece a realidade 
de vários processos pendentes nesta matéria familiar.
Há que se falar sobre a opinião da defensora pública Elisa Cruz 
(2019) sobre o tema:
[...] é preciso considerar que mulheres poderiam ser 
prejudicadas por falhas na indicação de seus endereços ou 
na entrega das notificações, o que poderia vir a refletir em 
outros direitos que são articulados junto com o divórcio, tais 
como o uso do nome, a divisão dos bens, alimentos e, quando 
há filhos ou filhas, os direitos dessas crianças e adolescentes.
Para Maria Berenice Dias apud Fernandes (2019), diante da 
omissão do Poder Legislativo, mais uma vez os Tribunais teriam saído 
na frente:
O que permite este provimento de Pernambuco, mais um 
de tantos provimentos pioneiros daquele Estado, é que não 
havendo possibilidade de um divórcio consensual, extrajudicial,abre-se esta possibilidade [do divórcio unilateral]. Cada vez 
mais se caminha para desjudicializar as questões que não têm 
controvérsia; a Justiça deve ser “poupada” para o que dependa 
de uma tomada de decisão. Um pedido de divórcio, que não 
pode ser contestado, não tem mesmo que precisar de um 
carimbo judicial. 
Segundo o mesmo autor, a Ordem dos Advogados do Brasil – 
Seccional de Goiás – foi favorável à realização do divórcio impositivo, 
25DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DA VONTADE OU AMEAÇA À PACIFICAÇÃO?
tendo requerido a regulamentação do denominado divórcio impositivo 
no referido Estado. (FERNANDES, 2019)
Há que se destacar, por fim, a opinião do doutrinador Flávio 
Tartuce (2019), o qual considera que essa modalidade de divórcio tem 
“vantagens práticas”, mencionando que, muitas vezes, o cônjuge que 
não aceita o rompimento acaba por obstar a realização do divórcio, por 
implicância pessoal ou mesmo não é localizado para a realização de 
audiência de divórcio, impedindo o cônjuge que deseja o fim da união 
de casar novamente enquanto não é resolvido o litígio.
Tartuce (2019) salientou, também, a vantagem do divórcio 
impositivo em situações que envolvem violência doméstica, em que o 
litígio entre as partes é tão grande, que o diálogo se torna impossível, 
arriscado e deve ser resolvida a questão em caráter urgente.
É importante dizer que há um projeto de lei do senador Rodrigo 
Pacheco (DEM-MG) – o PLS 3457/19 – cuja Ementa é “Acrescenta o 
art. 733-A à Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015 – Código de Processo 
Civil – e dá outras providências.”, tendo como explicação da Ementa: 
“Permite que um dos cônjuges requeira a averbação de divórcio no 
cartório de registro civil, mesmo que o outro cônjuge não concorde com 
a separação.”. 
Com a alteração, o texto seria o seguinte:
Art. 733-A. Na falta de anuência de um dos cônjuges, poderá o 
outro requerer a averbação do divórcio no Cartório do Registro 
Civil em que lançado o assento de casamento, quando não 
houver nascituro ou filhos incapazes e observados os demais 
requisitos legais. § 1º. O pedido de averbação será subscrito 
pelo interessado e por advogado ou defensor público, cuja 
qualificação e assinatura constarão do ato notarial. § 2º. O 
cônjuge não anuente será notificado pessoalmente, para 
fins de prévio conhecimento da averbação pretendida. Na 
hipótese de não encontrado o cônjuge notificando, proceder-
se-á com a sua notificação editalícia, após insuficientes as 
26 Anna Caroline da Silva Resende | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
buscas de endereço nas bases de dados disponibilizadas ao 
sistema judiciário. § 3º. Após efetivada a notificação pessoal 
ou por edital, o Oficial do Registro Civil procederá, em cinco 
dias, à averbação do divórcio. § 4º. Em havendo no pedido de 
averbação do divórcio, cláusula relativa à alteração do nome 
do cônjuge requerente, em retomada do uso do seu nome 
de solteiro, o Oficial de Registro que averbar o ato, também 
anotará a alteração no respectivo assento de nascimento, 
se de sua unidade; ou, se de outra, comunicará ao Oficial 
competente para a necessária anotação. § 5º. Com exceção 
do disposto no parágrafo anterior, nenhuma outra pretensão 
poderá ser cumulada ao pedido de divórcio, especialmente 
alimentos, arrolamento e partilha de bens ou medidas 
protetivas, as quais serão tratadas no juízo competente, sem 
prejuízo da averbação do divórcio. (NR) (PACHECO, 2019)
Mostra-se relevante trazer os embasamentos dos juristas José 
Fernando Simão e Mário Luiz Delgado, citados na parte de Justificação do 
referido Projeto de Lei, eis que dotados de consistência jurídica. Levantam 
citados juristas que o casamento ocorre sem intervenção judicial e, 
portanto, seria consentâneo que, para a sua dissolução, também fosse 
dispensada tal intervenção. Isso porque, explicam, citados por Pacheco 
(2019), que “Tanto a constituição do vínculo como o seu desfazimento são 
atos de autonomia privada e como tal devem ser respeitados, reservando-
se a tutela estatal apenas para hipóteses excepcionais”. 
Outra questão se refere à abrangência do pedido de divórcio 
unilateral, pois que se restringe à dissolução do vínculo. Quaisquer 
outras questões deverão ser avaliadas no Judiciário. Citados por Pacheco 
(2019), José Fernando Simão e Mário Luiz Delgado ressaltam que 
“(...) a averbação do divórcio não repercute em nenhum outro direito 
patrimonial ou existencial.”. Essa parece ser o tratamento que se espera 
seja conferido à questão de foro íntimo que é a opção pelo divórcio. 
27DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DA VONTADE OU AMEAÇA À PACIFICAÇÃO?
5 Posicionamentos desfavoráveis ao tema
A Presidente da Comissão Notarial e Registral do IBDFAM, 
Priscila Agapito, considera o instituto do divórcio inviável, devido à 
falta de fundamento jurídico. Segundo ela, apesar de ser um direito 
potestativo, o divórcio só pode ser legalmente realizado consensualmente 
mediante escritura pública ou, em caso de litígio, por via judicial. 
(IBDFAM, 2019b)
Ainda, a presidente pontua que, segundo conta dos artigos 7º 
da Lei 8.935/94 e 6º da Constituição Federal, compete aos tabeliães, 
exclusivamente, lavrar escrituras e procurações públicas, formalizando 
a vontade das partes.
Sendo assim, o provimento acaba por confundir a função de 
notário com a de registrador civil das pessoas naturais, sendo que este é 
incumbido de dar publicidade dos atos ou fatos jurídicos preexistentes, 
tais como nascimentos, casamentos, óbitos, competindo àquele conferir, 
arquivar e dar publicidade aos atos realizados.
Assim, no final da matéria, afirma-se que o provimento banaliza 
a formalidade de dissolução do casamento, já que altera regra legal, 
quando supre a figura do juiz ou notário para tal formalidade. Dessa 
forma, entende-se que tal banalização fragiliza a atuação dos cartórios, 
além de causar insegurança jurídica e que a norma vigente para 
realização do divórcio extrajudicial consensual já é suficiente para a 
realização dos divórcios, visto que existe há cerca de onze anos e tem 
contribuído significativamente para a desjudicialização das demandas 
de divórcio. (IBDFAM, 2019b)
Vale destacar também a opinião do presidente do Instituto 
Brasileiro de Direito de Família do Maranhão (IBDFAM- seção MA), 
Carlos Augusto Macedo Couto, o qual destaca um ponto negativo do 
divórcio impositivo, no que diz respeito ao aumento dos emolumentos, 
seguindo a lei de custas do Estado do Maranhão, sendo, em tese, 
superior a 100%, bem como pontua que o divórcio impositivo pode ser 
28 Anna Caroline da Silva Resende | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
interpretado como uma banalização da dissolução do vínculo conjugal, 
quando comparado com as formalidades do matrimônio. (IBDFAM, 
2019a)
Nesse mesmo sentido é a opinião de Cláudia Mara Viegas 
(2019), apesar do ato normativo expedido pela Corregedoria Geral de 
Pernambuco apresentar a intenção elogiável de valorizar a autonomia 
privada dos envolvidos, pela menor intervenção do Estado nas 
relações privadas, bem como pela simplificação e desjudicialização, 
ficando a dúvida sobre a sua efetividade. Segundo ela, o provimento da 
Corregedoria do TJPE não tem o condão de alterar uma lei geral, como 
é o caso do Código Civil Brasileiro.
Ainda, Venceslau Tavares Costa Filho e Roberto Paulino de 
Albuquerque Jr. (2019) consideram o divórcio impositivo grave risco 
no que diz respeito à resolução de conflitos no âmbito do Direito de 
Família. Não concordam que seja viável pela questão de partilha de 
bens, alimentos, quando há filhos incapazes. Segundo eles: 
[...] viola diretamente o regramento previsto no Código 
de Processo Civil, ao permitir que o cônjuge requerente 
postergue unilateralmente a partilha de bens para 
momento posterior ao divórcio extrajudicial. Mais grave é a 
possibilidade de postergar a definição da pensão alimentícia 
devida ao outro cônjuge, que não encontrava previsão no 
âmbito extrajudicial.
Segundo Thais Guimarães(2018), apesar de o provimento atender 
ao necessário desafogamento do Poder Judiciário e a desburocratização 
da realização de procedimentos simples, a sua constitucionalidade 
é questionável. Isso porque  na legislação civil estão previstas apenas 
duas modalidades de divórcio: o que for decretado judicialmente e o 
formalizado por meio de escritura pública.
É importante destacar ainda que, conforme divulgado pela 
ADFAS - Associação de Direito de Família e das Sucessões (2019), esta 
29DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DA VONTADE OU AMEAÇA À PACIFICAÇÃO?
apresentou junto ao Conselho Nacional de Justiça, no dia 22 de maio 
de 2019, um pedido de providências cumulado com pedido de liminar 
em face dos provimentos 06/2019, editado pela Corregedoria-Geral 
de Justiça de Pernambuco e do Provimento 25/2019, da Corregedoria-
Geral do Maranhão, justificando que afrontam dispositivos de lei federal 
e atos normativos do Conselho Nacional de Justiça.
Alegou a assessoria de comunicação da ADFAS (2019) que 
os Provimentos estaduais extrapolam os limites de regulação e 
fiscalização, invadindo matéria de competência do Poder Legislativo, 
já que pretendem inovar o ordenamento jurídico. Considerou que os 
supracitados Provimentos ferem o princípio da reserva legal e ocorrem 
em vício de inconstitucionalidade ao usurpar atividade legislativa.
6 Considerações finais
O TJ/PE e o TJ/MA regulamentaram o divórcio unilateral em 
cartório, definindo os procedimentos para a formalização do divórcio 
impositivo, alavancando as discussões sobre o tema.
Segundo os provimentos, qualquer um dos cônjuges poderia, no 
exercício de sua autonomia de vontade, requerer, ao Registro Civil da 
serventia extrajudicial perante a qual se acha lançado o assento de seu 
casamento, a averbação do divórcio, à margem do respectivo registro, 
tendo como condição de não ter filho nascituro, menores ou incapazes, 
sendo questões de alimentos e patrimoniais discutidas posteriormente, 
em juízo.
Além disso, o outro cônjuge receberia uma notificação apenas 
para ter ciência prévia do pedido e, caso não encontrado, citado por 
edital. Os Provimentos citados tiveram existência curta, sendo proibidos 
pelo Conselho Nacional de Justiça, por meio de recomendação e, 
consequentemente, revogados.
No entanto, as discussões acerca do polêmico tema 
continuaram e estão latentes nos debates de Direito de Família, 
30 Anna Caroline da Silva Resende | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
entre doutrinadores, escritores e operadores do Direito. Há pontos 
positivos e negativos quanto à sua aplicação, como foi levantado ao 
longo do trabalho.
Conclui-se que há mais aspectos positivos que negativos, 
considerando-se que há uma desjudicialização, ponto bem relevante 
quando se considera que o Judiciário não tem estrutura suficiente para 
atender à intensa demanda de litígios pendentes.
Assim, a realização do divórcio impositivo, sem intervenção 
do Judiciário, acaba por garantir mais celeridade na resolução dos 
conflitos, bem como possibilita ao cônjuge que deseja divorciar uma 
maior liberdade para exercer sua autonomia de vontade e por fim à 
sociedade conjugal.
É importante destacar também que, em casos de violência 
doméstica em que uma das partes está suscetível, vulnerável e também 
clama providências urgentes, já que o diálogo e a conciliação se tornam 
impossíveis, a realização do divórcio unilateral é uma oportunidade de 
resolução do conflito de maneira segura e célere.
Para tanto, é, então, necessária a criação de uma lei federal que 
disponha sobre a referida modalidade de divórcio, segundo os trâmites 
legais e para que possa ser aplicada em todo território nacional. Neste 
ponto, foi mencionado que existe um Projeto de Lei do Senado de 
autoria do senador Rodrigo Pacheco, o Projeto de Lei nº 3457/19, que 
sanaria o principal motivo alegado pelo CNJ em desfavor do divórcio 
impositivo. 
Dito isso, conclui-se que o divórcio impositivo, longe de ser uma 
ameaça à pacificação, é, certamente, um exercício da autonomia da 
vontade, extremamente relevante na resolução dos conflitos e dissolução 
da sociedade conjugal, sendo sua realização um avanço para o Direito 
de Família brasileiro e, também, para o Judiciário.
31DIVÓRCIO IMPOSITIVO: EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DA VONTADE OU AMEAÇA À PACIFICAÇÃO?
7 Referências
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mantém decisão que proibiu divórcio impositivo em todo país. 
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CONSULTOR JURÍDICO. Corregedor do CNJ cassa regra sobre 
“divórcio impositivo” do TJ de Pernambuco. Publicado em: 31 de 
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COSTA FILHO, Venceslau Tavares; ALBUQUERQUE JR., Roberto 
Paulino de. Divórcio impositivo é grave risco à cultura da pacificação e à 
32 Anna Caroline da Silva Resende | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
tutela dos vulneráveis. Revista Consultor Jurídico, 30 de maio de 2019. 
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2019-mai-30/opiniao-
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35
ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE 
MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE 
ANJOS” DE LUIZ PUNTEL
Tatyane Gondim Silva
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Resumo: A adoção internacional e o tráfico de menores possuem 
objetivo comum no sentido de colocação de menores em famílias 
chamadas substitutas. Não obstante esse fato, são situações bem diversas 
e, devido à importância do tema, faz-se necessário entendê-las. Com esse 
artigo, propôs-se: alcançar a análise da adoção internacional pela ótica 
constitucional, sobressaindo-se o enfoque pelo Princípio da Dignidade 
da Pessoa Humana; versar acerca da condição do menor abandonado no 
Brasil; tratar da inserção desse menor em família substituta e enfrentar 
a questão problemática do tráfico de menores, fazendo uma correlação 
da afronta da dignidade humana à obra “Tráfico de Anjos”, de Luiz 
Puntel. A metodologia utilizada foi a abordagem dedutiva, na qual as 
conclusões decorrem de um processo simplesmente racional, tendo 
sido utilizadas as pesquisas bibliográfica e literária como instrumentos 
de abordagem. O artigo revelou que, no Brasil, o principal estatuto legal 
acerca da adoção e adoção internacional é o ECA, que sofreu mudanças 
legislativas para adequar à finalidade da lei em preservar a criança e 
o adolescente de serem retirados ilegalmente do país. Embora exista 
princípio que prevê a preferência para brasileiros serem adotantes, 
36 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
conclui-se que não se deve dificultar a adoção por estrangeiros, mesmo 
diante da existência de ações ilegais como do tráfico de menores, bem 
relatado com casos reais na obra “Tráfico de Anjos”, tendo em vista que 
o maior beneficiário será o menor que encontrará um lar. 
Palavras-chave: Constituição. Adoção Internacional. Dignidade da 
Pessoa Humana.
1 Introdução
Esse artigo teve como objetivos: abordar uma visão constitucional 
do instituto da adoção internacional à luz do Princípio da Dignidade 
da Pessoa Humana, núcleo axiológico da Carta Magna, como direito 
à família e proteção do menor entre países; tratar da condição do 
menor abandonado no Brasil, bem como de sua inserção na família 
substituta; perpassar, ao final, pela problemática do tráfico de menores, 
correlacionando tal afronta à dignidade humana à obra “Tráfico de 
Anjos” de Luiz Puntel.
Para tanto, foram analisados o conceito e o histórico da adoção 
“interpaíses”, os aspectos e requisitos da adoção por estrangeiros e a 
adoção internacional fraudulenta, bem como os tratados internacionais 
(Convenção de Haia e a Convenção Interamericana Contra o Tráfico de 
Menores) e a legislação infraconstitucional (Estatuto da Criança e do 
Adolescente), que previnem tais práticas fraudulentas e impõem maior 
rigorosidade e cautela no processo de adoção internacional.
Dentre as circunstâncias que motivaram a eleição do presente tema, 
nota-se que tal estudo apresenta-se de extrema importância para as Ciências 
Jurídicas, especificamente, para o Direito de Família, haja vista que o instituto 
da adoção propicia para inúmeras crianças e adolescentes abandonados em 
terrea brasilis a possibilidade de integrar uma unidade familiar, indo ao 
encontro do disposto no texto constitucional de 1988, segundo o qual prevê 
amparo à infância, bem como o dever conjunto da sociedade e do Estado de 
37ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
assegurar à criança e ao adolescente o direito à vida, à saúde, à alimentação, 
à dignidade, ao respeito e à convivência familiar.
Além do mais, verifica-se que a Lei n.º 8.069/1990 – Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA) –, com relação à adoção feita à margem 
da lei, prevê como condutas criminosas a prática da subtração da criança 
do poder dos pais para destiná-la à adoção, bem como a promessa ou 
entrega do filho para outra pessoa em razão de recompensa, financeira 
ou não. Dessa maneira, visa-se impedir a coisificação da vida humana, 
resguardando a dignidade da pessoa e do núcleo familiar.
A esse propósito, o tema em epígrafe permite a criação de laços 
familiares entre adotante e adotado residentes, inicialmente, em países 
diferentes, independentemente da existência de relação de parentesco, 
atingindo o instituto da adoção sua finalidade, que é propiciar à criança 
e ao adolescente abandonado a oportunidade de crescer sob o manto de 
uma família substituta, bem como, secundariamente, dar filhos àqueles 
que anseiam assumir a paternidade.
Nesse viés, outro motivo que culminou na escolha do supradito 
tema foi a inter-relação entre Direito e Literatura, haja vista que a Ciência 
Jurídica é um produto social em constante transformação, adquirindo, 
a partir da Literatura, uma nova visão, leitura e compreensão do fato 
que lhe dá origem. Dessa maneira, verifica-se que a obra “Tráfico 
de Anjos”, publicada em 1995, pelo autor Luiz Puntel, relata que o 
desaparecimento de bebês na região de Ribeirão Preto, no Estado de 
São Paulo, é recente, lugar no qual, aliás, uma criança fora sequestrada 
na maternidade, sendo, posteriormente, levada para o orfanato a fim de 
ser traficada no exterior. Nesse cenário, o jornalista “Aquiles” e “Flávia”, 
irmã de uma criança desaparecida, tornam-se personagens essenciais 
para desmantelar a quadrilha envolvida com o tráfico de menores.
Para obter as finalidades propostas, escolheu-se o método de 
abordagem dedutivo, por meio do qual as conclusões são feitas por 
um processo simplesmente racional e foram utilizadas as pesquisas 
bibliográfica e literária como instrumentos de abordagem.
38 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
2 Conceito de adoção
A vida humana é um fenômeno de impulso biológico que se 
desenrola a fim de dar origem a um ser que, ao ser concebido, será titular 
de personalidade jurídica, iniciando-se para ele e seus pais biológicos 
uma variedade de direitos e deveres.
Contudo, há situações nas quais a relação de parentesco entre 
pais e filhos não se dá por laços de consanguinidade, laços biológicos. 
Nessas hipóteses, institui-se o denominado parentesco civil, “quando o 
vínculo é estabelecido não já por laços de sangue, mas por ato jurídico 
voluntário, denominado adoção”, que tem sua caracterização arrimada 
na autonomia privada e que, subjetivamente, baseia-se nas “relaçõesde 
afeto que fazem com que o filho adotivo venha a integrar a família do 
adotante.” (TEPEDINO, 1999, p. 396). 
A adoção é processo judicial que importa a substituição da filiação 
de uma pessoa (adotado), tornando-a filha de outro homem, mulher 
ou casal (adotantes). Ela está regida no direito positivo brasileiro pelo 
ECA, quando o adotado tem até 18 anos de idade incompletos (CC, 
art. 1.618). Sendo maior de 18 anos o adotado, a adoção dependerá da 
assistência efetiva do Poder Público e de sentença judicial, aplicando-se 
subsidiariamente o ECA (CC, art. 1.619). 
Ainda, deve-se mencionar que o Código Civil, quando entrou em 
vigor, em 2003, abrigava disposições sobre a adoção não inteiramente 
compatíveis com as do ECA, dando, dessa maneira, ensejo a indagações 
sobre a vigência desse Estatuto. Assim, a doutrina concluiu, na oportunidade, 
que o Código Civil, por conter normas de caráter geral, não havia revogado 
o ECA, lei especial para a infância e adolescência (FACHIN, 2003, p. 239; 
GRISARD FILHO, 2003). Em 2009 foi editada a Lei n. 12.010, revogando as 
disposições específicas do Código Civil acerca da adoção, mantendo nesse 
diploma apenas remissões genéricas e supletivas ao ECA.
Colaborando sobre a adoção, Maria Helena Diniz (2014, p. 572) 
preleciona que:
39ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
[...] a adoção é, portanto, um vínculo de parentesco civil, 
em linha reta, estabelecendo entre adotante, ou adotantes, 
e o adotado um liame legal de paternidade e filiação civil. 
Tal posição de filho será definitiva ou irrevogável, para todos 
os efeitos legais, uma vez que desliga o adotado de qualquer 
vínculo com os pais de sangue, salvo os impedimentos para o 
casamento (art. 227, §§5º e 6º), criando verdadeiros laços de 
parentesco entre o adotado e a família do adotante.
Diante disso, faz-se mister mencionar que a adoção internacional 
é um tema de inúmeras discussões e preconceitos, não podendo ser 
compreendida sem a devida menção da ordem globalizada atual, do 
intercâmbio entre sociedades que extrapola os limites territoriais, 
raciais, étnicos e costumes variados.
3 Histórico da Adoção Interpaíses
Inicialmente, ressalta-se que “a adoção tem suas origens históricas 
antes mesmo da Roma Antiga, tendo sido regulada pelo Código de 
Hamurabi, em 2.283 a. C., sendo certo que sua penetração no mundo 
ocidental decorre principalmente do Direito Romano.” (MONACO, 
2002, p. 27).
Durante a Idade Média e a época Moderna, a adoção deixou de 
ser usada nos países do Sul da Europa, ainda que fosse admitida por 
influência do Direito Romano, sendo, contudo, desprovida de efeitos 
sucessórios. Diante disso, foi desconhecida dos ordenamentos jurídicos 
costumeiros da Europa Ocidental em virtude da estrutura da família 
medieval, calcada nos laços de sangue no “seio da linhagem”, que 
“opunha-se à introdução de um estranho” na família (GILISSEN apud 
MONACO, 2002, p. 29). 
Nesse contexto, as assembleias legislativas do período 
revolucionário na França “mostraram-se favoráveis à adoção, tal como 
tinha existido em Roma” (GILISSEN apud MONACO, 2002, p. 29). 
40 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Todavia, a normatização do instituto supradito só se concretizou com a 
redação do Código Civil, em 1804, o qual a condicionou à inexistência de 
prole biológica do adotante, que deveria contar com mais de cinquenta 
anos de idade e ser ao menos quinze anos mais velho que o adotando, o 
que foi motivo para sua pouca incidência no mundo fático. (MONACO, 
2002, p. 29).
Em terrea brasilis, “a adoção surge por influência das Ordenações 
do Reino de Portugal, tendo sido incluída no Código Civil de 1916” 
(MONACO, 2002, p. 30), depois é normatizada pelo Código de Menores 
– Lei n. 6.697/79 – e, consequentemente, após a redemocratização do país, 
pela Constituição Cidadã e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
A adoção internacional de crianças por estrangeiros surge no 
cenário mundial logo depois da Segunda Guerra Mundial, porquanto, no 
fim do mencionado conflito armado, houve o crescimento acentuado de 
crianças órfãs sem qualquer possibilidade de amparo em suas próprias 
famílias.
Desse modo, encerrada a Segunda Guerra Mundial, inúmeras 
crianças naturais dos países envolvidos ou atingidos pelo conflito 
armado foram adotadas por casais estrangeiros. Entretanto, “segundo 
estatística do Serviço Internacional de Adoção, sediado em Genebra, 
milhares dessas crianças foram encaminhadas para o exterior sem que, 
sequer tivessem os documentos indispensáveis à regularização de sua 
situação” (FERNANDES, 2010, p. 1). 
Devido ao crescente número de adoções internacionais, em 
1956, o Serviço Social Internacional (ISS) estabeleceu os princípios 
fundamentais do Serviço de Adoção Internacional. Quatro anos 
depois, foi realizado o Seminário Europeu sobre Adoção, que elaborou 
o primeiro documento oficial sobre o assunto, bem como se realizou, 
em 1971, a Conferência Mundial sobre Adoção e Colocação Familiar, a 
fim de salvaguardar o interesse superior da criança, respeitando os seus 
direitos fundamentais, prevenindo o seu sequestro, venda e/ou tráfico 
(ROCHA, 2011, p. 32). 
41ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
Diante do exposto, nota-se que a evolução normativa da adoção, 
especificamente internacional, deu-se de maneira gradativa, buscando 
resguardar a inserção do menor em uma família substituta, mesmo que 
constituída por estrangeiros.
4 A adoção na Constituição Federal brasileira de 1988
A Constituição Federal brasileira de 1988 (CRFB/88), no seu 
capítulo VII, referente à ordem social, traz à luz a proteção à família, 
à criança, ao adolescente, em seu artigo 227, caput, encampando, 
definitivamente, a política de proteção integral da infância e da 
adolescência no Brasil.
Aproveitando o mote, a Carta Política, à luz do Princípio da 
Dignidade da Pessoa Humana, prevê o instituto da adoção internacional 
como direito à família e proteção do menor interpaíses, segundo se 
depreende do teor do artigo 227, §5º, da CRFB/88: “A adoção será 
assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e 
condições de sua efetivação por parte de estrangeiros.”.
Nesse sentido, o disposto na Constituição Federal 1988 merece 
uma atenção especial ao intérprete, o qual, quando da interpretação 
constitucional, deve efetivar a aplicabilidade concreta de regras, direitos, 
obrigações e princípios alinhavados por ela, sobretudo com relação à 
Dignidade da Pessoa Humana – fundamento da República Federativa do 
Brasil –, conforme o conteúdo do seu artigo 1º, inciso III, tornando-se ponto 
de partida para as interpretações levadas a efeito pelas Ciências Jurídicas.
Nessa toada, Alexandre de Moraes (2003, p. 128) ensina que a 
dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à 
pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente 
e responsável da própria vida, trazendo a concepção ao respeito pelas 
pessoas constituintes de uma sociedade.
Assim, a dignidade da pessoa humana deve ser tratada, ainda de 
acordo com Alexandre de Moraes (2003, p. 129), como direito individual 
42 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
protetivo (em relação ao próprio Estado ou à pessoa individualmente 
considerada) e como dever fundamental de tratamento igualitário.
Com o escopo de concretizar o postulado da dignidade da pessoa 
humana, garantindo aos menores abandonados em terrae brasilis a 
possibilidade de integrar uma unidade familiar e, consequentemente, 
uma convivência familiar, nota-se que a filiação adotiva, não apenas por 
imperativo constitucional (art. 227, §6º, da CRFB/1988), mas, também, 
por um ditame moral e afetivo, equipara-se, de direito e de fato, à filiação 
biológica, não havendo o mínimo espaço para o estabelecimento de 
regras discriminatórias, segundo ensinam Gagliano e Pamplona Filho 
(2014,p. 667).
No que se refere à condição do menor abandonado no Brasil, 
nota-se que as crianças e os adolescentes que não vivem em companhia 
de seus genitores, por estarem abrigados em instituições, tornam-se 
vítimas da situação na qual se encontram, porquanto, na maioria dos 
abrigos existentes, não se verifica empenho no sentido de salvaguardar 
os vínculos familiares dos infantes ou tentar a volta desses às famílias 
de origem, nas situações que haveria possibilidade, além de ser difícil 
a existência de condições dignas no que concerne à permanência dos 
internos nos abrigos, consoante prelecionam Leal Júnior e Pires (2008, 
p. 30-42).
Destarte, posto que o infante tenha de ser criado e educado, 
prioritariamente, no cerne de sua família biológica em razão dos laços 
familiares decorrentes do nascimento, extraordinariamente, o menor 
poderá permanecer dentro de uma família substituta, a qual passa a 
desempenhar as funções da família original, protegendo-o e buscando o 
seu desenvolvimento a partir de uma convivência harmoniosa, segundo 
os ditames do artigo 19 do ECA.
Dessa maneira, deve-se trazer à baila que há distinção entre a 
adoção e o tráfico de crianças. A adoção é revestida de amparo legal, 
sobretudo, pelo ECA, bem como exige a intervenção da autoridade 
judiciária, à qual cabe apreciar, decidir, controlar e fiscalizar todos os 
43ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
atos para a sua consecução. De outro vértice, o tráfico de crianças se 
consubstancia mediante fraude às leis, impedindo a intervenção e o 
controle pela autoridade judiciária.
A corroborar o exposto acima, Welter (2011, p. 1) ensina que:
[...] a adoção internacional e tráfico internacional de crianças 
são, portanto, formas de agir inteiramente distintas e situadas 
em polos opostos, embora destinados ambos à colocação 
de crianças em lares substitutos no exterior. Investigações 
estão sendo realizadas acerca da ação de grupos de tráfico de 
crianças, especialmente de uma quadrilha que age na Paraíba, 
com ramificações em Brasília, Paraná e Fortaleza. O relatório 
da Polícia Federal apresenta estimativas de que perto de três mil 
crianças deixam clandestinamente o País por ano, contra outras 
mil e quinhentas que partem com documentação em ordem.
Por fim, esse processo legal – adoção – encontra maiores 
dificuldades na sua esfera internacional, uma vez que não se pode 
garantir a efetiva proteção e/ou acompanhamento, diante do caso 
concreto, da criança no país estrangeiro.
5 Aspectos e Requisitos da Adoção Internacional
Inicialmente, é importante mencionar que o ECA sofreu alteração 
mais recente pela Lei n.º 13.509/2017, onde foram alterados artigos 
relativos à adoção internacional. 
Encontra-se no artigo 51, caput, do ECA, com redação dada pela 
Lei nº 13.509, de 2017, o que se deve entender por adoção internacional. 
Veja-se, in verbis:
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual 
o pretendente possui residência habitual em país-parte 
da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à 
44 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção 
Internacional, promulgada pelo Decreto n  3.087, de 21 
junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte 
da Convenção.
Outrossim, sob o ensinamento do Princípio da Prioridade 
da Própria Família ou Princípio da Excepcionalidade da Adoção 
Internacional, segundo o qual preleciona que toda criança tem o direito 
de ser criada e educada em sua própria família, em seu próprio país 
e sua própria cultura, o artigo 31 do ECA estabelece que a colocação 
em família substituta estrangeira é uma medida excepcional e somente 
admissível na modalidade de adoção.
Se a adoção já é uma exceção, a adoção internacional é a exceção 
da exceção, uma vez que somente terá lugar quando restar comprovado 
que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou 
adolescente em família adotiva brasileira (art. 51, §1º, inciso II, ECA).
Outro ponto importante na adoção internacional é o estágio de 
convivência, haja vista ser considerado indispensável para o deferimento 
do processo de adoção, bem como para coibir o tráfico de menores, 
garantindo-lhe, em sua integralidade, a integridade moral, psicológica 
e física. Nesse passo, os eminentes doutrinadores Cristiano Chaves de 
Farias e Nelson Rosenvald prelecionam (2019, p. 1042): “Não se esqueça 
que na adoção internacional o estágio de convivência é obrigatório, não 
podendo ser dispensado pelo magistrado, devendo ser, integralmente, 
cumprido no nosso país, com prazo de duração mínimo de trinta dias.”.
Ainda, faz-se mister mencionar que o artigo 50 do ECA dispõe 
que a autoridade judiciária deverá manter um cadastro de crianças aptas 
à adoção e de interessados em adotar. E, por sua vez, conforme será 
dito doravante, para auxiliar do processo de adoção transnacional, ficou 
normatizado na Convenção de Haia que cada Estado designará uma 
Autoridade Central encarregada de dar cumprimento às obrigações 
determinadas pela Convenção.
45ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
Por último, o estrangeiro interessado em adotar um menor 
brasileiro deverá ser representado por uma entidade estrangeira 
habilitada que atua no Brasil na seara das adoções, à luz do art. 52 do 
ECA.
6 Adoção Internacional Fraudulenta
Ab initio, faz-se mister salientar que o tráfico de seres humanos é 
considerado como uma forma moderna de escravidão, seja econômica, 
seja sexual, apresentando quanto ao tráfico de crianças números 
preocupantes.
De acordo com o Decreto n. 5.017, de 12 de março de 2004, a 
definição de tráfico de pessoas pode ser extraída do seu artigo 3º, letra 
“a”, segundo o qual:
Para efeitos do presente Protocolo:
a) A expressão “tráfico de pessoas” significa o recrutamento, 
o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento 
de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras 
formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso 
de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega 
ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o 
consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre 
outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no 
mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras 
formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, 
escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou 
a remoção de órgãos;
Nesse passo, estudos levados à cabo pela United Nations Office on 
Drugs and Crime (UNDOC), em 2003, e divulgados pelo Ministério da 
Justiça no Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (2008, 
p. 47), têm demonstrado que as principais vítimas do tráfico de seres 
46 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
humanos são mulheres, crianças e adolescentes, bem como apontam 
que 83% dos casos envolvem mulheres, 48% crianças ou adolescentes e 
apenas 4% dos casos têm homens como vítima.
Se não bastasse, constata-se que, por ano, conforme dados 
divulgados pelo UNDOC (Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico 
de Pessoas, 2008. p. 45), o lucro do tráfico de seres humanos chega a cerca 
de US$ 32 bilhões, tendo as novas tecnologias eletrônicas contribuído 
sistematicamente para a expansão nas redes sociais da comunicação 
entre pessoas de diferentes países.
Destarte, a adoção internacional, além de motivos sucessórios, 
o objetivo humanitário, sentimento de altruísmo, é aparentemente o 
grande mobilizador dessas adoções (ROCHA, 2011, p. 45), conquanto 
também pode se tornar um lucrativo negócio, com corrupção, mentiras 
e fraudes. 
Por último, embora os grupos criminosos escolham o tráfico de 
seres humanos pelos altos lucros, pelas vulnerabilidades econômicas 
e socais e o suposto baixo risco inerente ao “negócio”, a adoção 
internacional, desde que cumpridas as disposições na legislação nacional 
e alienígena,apresenta-se como solução ao abandono de menores, haja 
vista possuir um caráter humanitário e altruísta possibilitando àqueles 
sua inserção no meio familiar.
7 Legislação Infraconstitucional (ECA) e os Tratados Internacionais 
(Convenção de HAIA e Convenção Interamericana Contra o 
Tráfico de Menores)
Prima facie, a adoção por estrangeiro de criança brasileira tem 
sido enfrentada por muitos como um problema, porque pode conduzir 
ao tráfico de menor ou se prestar à corrupção. Nesse viés, o ECA, além de 
punir, nos artigos 238 e 239, com reclusão de 1 a 4 anos e multa ou 6 a 8 
anos e multa, havendo violência, quem promover ou auxiliar a efetivação 
de ato destinado a enviar menor para o exterior, sem a observância de 
47ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
formalidades legais, visando ao lucro, veio impor restrições às adoções 
internacionais, dificultando-as ou até mesmo interrompendo-as.
Além do mais, faz-se mister trazer à luz o teor dos artigos 238 e 
239, ambos do ECA, que se referem aos crimes praticados em desfavor 
da criança e do adolescente, in verbis:
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a 
terceiro, mediante paga ou recompensa:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou 
efetiva a paga ou recompensa.
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado 
ao envio de criança ou adolescente para o exterior com 
inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter 
lucro:
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça 
ou fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena 
correspondente à violência.
Nesse viés, dentro da problemática da adoção internacional e do tráfico 
de menores, o ECA, amparado pelas Convenções de Haia e Interamericana 
Contra o Tráfico de Menores, buscou medidas que dificultassem a 
consubstanciação desse delito, disciplinando sanção para o crime.
Com relação ao artigo 229 do ECA, com a criação deste dispositivo, 
procurou-se punir aqueles que promovem, impulsionam ou auxiliam 
a efetivação de ato destinado ao envio de criança ao estrangeiro sem 
observância das formalidades legais. Além disso, até mesmo aqueles 
que, mesmo respeitando as exigências e procedimentos estabelecidos 
no ECA, atuam com o fim de lucro e esquecem-se da proteção inerente 
à criança e ao adolescente.
48 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Nesse sentido, observe-se o seguinte julgado: 
PENAL E PROCESSO PENAL. ART. 239 DA LEI 8.069/90. 
TRÁFICO INTERNACIONAL. AUXILIAR O ENVIO DE 
CRIANÇA AO EXTERIOR. QUANTUM PENALÓGICO 
REDUZIDO. I – A norma do art. 239 da Lei n. 8.069/90, 
cuida do tráfico internacional de menores que ocorre por 
meio de duas condutas criminosas: a de promover e a de 
auxiliar, por meio ilícito, o envio de criança ou adolescente ao 
exterior. II – Crime de mera conduta que se consumou com 
a ação da agente que auxiliou no ato de enviar os menores 
aos Estados Unidos. III – O quantum penalógico revelou-se 
exacerbado, devendo ser reduzido para refletir a medida da 
reprovabilidade da conduta da acusada. IV – Apelação da ré 
parcialmente provida. (TRF1 – APELAÇÃO CRIMINAL: 
ACR 25772 MG 2003.38.00.025772-2 – Terceira Turma – 
Rel. Dês. Fed. Cândido Ribeiro – 27/052005, DJ, p.18)
Não obstante a previsão normativa do crime de tráfico de 
menores, tal conduta legislativa não foi suficiente para coibir a prática do 
supradito crime. Assim, influenciado pelo Plano Nacional de Combate 
ao Tráfico de Pessoas, o ECA sofreu modificações quanto ao processo de 
adoção e, sobretudo, adoção internacional, devido à Lei n.º 12.010/2009 
e à Lei n.º 13.509/2017.
Diante disso, essas mudanças, positivadas nos artigos 51 e 
52 do Estatuto, tiveram o condão de submeter o processo de adoção 
por estrangeiros a um extenso procedimento formal de proposição, 
comprovação, avaliação e julgamento.
Por conseguinte, para que ocorra o deferimento de uma 
adoção internacional, esta deverá se submeter a uma análise cautelosa 
no processo de habilitação, uma maior fiscalização no estágio de 
convivência e, ademais, o resguardo de que, no transcorrer do período 
de processamento de seu pedido, o menor não poderá sair do país.
49ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
Outrossim, após essas mudanças no procedimento para adoção 
por estrangeiros, houve uma diminuição nos números de adoções. 
Confira-se nas informações trazidas abaixo:
O número de crianças brasileiras adotadas por famílias 
estrangeiras despencou nos últimos cinco anos. Em São 
Paulo, a queda foi de 35%, com o número de adoções 
internacionais caindo de 207, em 2005, para 135, no ano 
passado. No mesmo período, o número de novos candidatos 
a pais adotivos não residentes no país ficou 20% menor, de 
432 para 348. A lista de países de origem dos pretendentes 
também encolheu e apresenta mudanças importantes.
Em 2005, 65 crianças e adolescentes foram adotados por 
famílias dos Estados Unidos. Em 2010, apenas 26. Só em São 
Paulo foram autorizadas judicialmente no ano passado 126 
adoções para a Itália (93% do total), país que nos últimos 
anos passou a liderar, com folga, as estatísticas do cadastro 
internacional de adoção. Somando-se todos os estados, 318 
crianças brasileiras foram adotadas em 2010 por famílias 
residentes na Itália, 12 a menos em comparação em 2009. 
França (63 adoções), Espanha (19) e Noruega (14) também 
aparecem como os principais destinos de meninos e meninas 
do Brasil, mas em escala bem menor. (PEREIRA, 2011, p. 1) 
Ademais, a Convenção de Haia previu que cada Estado contratante 
designará uma autoridade central encarregada de dar cumprimento 
às obrigações que lhe são impostas pela mencionada convenção, por 
exemplo, assegurar o retorno imediato das crianças.
Nesse sentido, pode-se ler, nos Comentários realizados pelos 
membros do Grupo Permanente de Estudos sobre a Convenção da Haia 
de 1980 (STF, s/d, p. 10), que o Brasil não se valeu da prerrogativa de 
designar mais de uma autoridade central, ainda que seja um Estado 
federal. Essa circunstância decorre, sobretudo, do fato de a União 
50 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
responder, no plano internacional, pelas obrigações provenientes dos 
tratados e convenções internacionais. Assim, a autoridade central 
brasileira é a Secretaria Especial de Direitos Humanos, segundo previsto 
no Decreto n. 3951/2001.
A corroborar o exposto acima, é o teor do art. 6º da supradita 
Convenção, in verbis:
Artigo 6º - Cada Estado Contratante designará uma 
Autoridade Central encarregada de dar cumprimento às 
obrigações que lhe são impostas pela presente Convenção. 
Estados federais, Estados em que vigorem vários sistemas 
legais ou Estados em que existam organizações territoriais 
autônomas terão a liberdade de designar mais de uma 
Autoridade Central e de especificar a extensão territorial 
dos poderes de cada uma delas. O Estado que utilize esta 
faculdade deverá designar a Autoridade Central à qual os 
pedidos poderão ser dirigidos para o efeito de virem a ser 
transmitidos à Autoridade Central internamente competente 
nesse Estado. (STF, s/d, p. 10)
À luz da Convenção Interamericana Contra o Tráfico de Menores, 
“Os Estados Partes comprometem-se a adotar, em conformidade com seu 
direito interno, medidas eficazes para prevenir e sancionar severamente 
a ocorrência de tráfico internacional de menores definido nesta 
Convenção”, segundo o conteúdo do artigo 7º da referida Convenção 
(Decreto nº 2.740, de 20 de agosto de 1998).
Se não bastasse, a supracitada Convenção estabelece, in verbis, 
que:
Artigo 8 - Os Estados Partes comprometem-se a: 
a) prestar, por meio de suas autoridades centrais e observados 
os limites da lei interna de cada Estado Parte e os tratados 
internacionaisaplicáveis, pronta e expedita assistência mútua 
51ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
para as diligências judiciais e administrativas, obtenção de 
provas e demais atos processuais necessários ao cumprimento 
dos objetivos desta Convenção; 
b) estabelecer, por meio de suas autoridades centrais, 
mecanismos de intercâmbio de informação sobre legislação 
nacional, jurisprudência, práticas administrativas, estatísticas 
e modalidades que tenha assumido o tráfico internacional de 
menores em seus territórios; e 
c) dispor sobre as medidas necessárias para a remoção dos 
obstáculos capazes de afetar a aplicação desta Convenção em 
seus respectivos Estados.
Nesse diapasão, a diminuição dos números de adoções por 
estrangeiros decorre da implementação da Lei n. 12.010/2009, que 
modificou o ECA, garantindo, assim, a redução do tráfico de menores 
em razão das cautelas implementadas no procedimento da adoção, 
buscando salvaguardar os direitos das crianças e dos adolescentes.
Logo, verifica-se que, no plano nacional, a Convenção de Haia 
– instrumento normativo que estabeleceu normas pré-procedimentais 
com a finalidade de assegurar a proteção dos interesses da criança – 
aprovada pelo Decreto Legislativo n. 1, de 14 de janeiro de 1999, e 
promulgada pelo Decreto n. 3.087, de 21 de junho de 1999, bem como a 
Convenção Interamericana Contra o Tráfico de Menores – instrumento 
normativo que coíbe e penaliza o tráfico de menores, nos aspectos civis 
e penais, visando à proteção dos direitos fundamentais e do interesse 
superior do menor –, aderida pela República Federativa do Brasil 
mediante o Decreto n. 2.740, de 20 de agosto de 1998 – juntamente com 
o ECA, da Política de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – Decreto 
n. 5.948, de 26 de outubro de 2006 – e o Plano Nacional de Combate 
ao Tráfico de Pessoas – Decreto n. 6.347, de 8 de janeiro de 2008 – 
dificultaram a prática do tráfico de menores a fim de salvaguardar o 
interesse superior da criança sobretudo o de ser inserido em um lar 
mesmo que se submeta à adoção internacional.
52 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
8 Comentários jurídicos da obra “Tráfico de Anjos” de Luiz Puntel
Foi em notícias de jornais que Luiz Puntel se inspirou para a criação 
da obra “Tráfico de Anjos.”. Autor este perturbado com a realidade do 
país, demonstrou em sua obra o lado sombrio de pessoas interessadas 
em obter lucros advindos da separação drástica de mães para com seus 
bebês, por meio da atuação meticulosa de uma quadrilha que raptava 
os recém-nascidos de suas mães ou, até mesmo, persuadindo-as até 
conseguir o que almejavam.
Nesse viés, a obra já se inicia com a falsa enfermeira raptando 
uma criança da maternidade. Confira-se trecho nas palavras do autor:
Junto com os funcionários, passou pela portaria uma 
enfermeira morena, desconhecida. Mostrava-se discreta. 
Enquanto as outras trocavam cumprimentos e comentários 
diversos, ela tratou de entrar rápido, sem ser percebida 
pelas funcionárias e pelo porteiro... Tomando-o os braços, 
colocou-o em uma sacola que trazia disfarçada junto aos 
seus pertences. Suspirou aliviada quando percebeu que 
o bebê não incomodou em ser acondicionado como um 
pacote. Imediatamente, a mulher saiu do berçário sem causar 
suspeitas. (PUNTEL, 1996, p. 6-8)
Conforme se vê nesta obra, o delegado Pinheiro, ao dialogar com 
os irmãos Aquiles e Vitor, traz à tona como se dá o tráfico de menores:
- Deixem-me explicar como o processo do tráfico de bebês 
funciona para saber onde precisamos chegar. – O delegado, 
muito didático, falou do trabalho que as quadrilhas 
desenvolviam junto às mães solteiras, convencendo-as a 
entregar seus filhos em troca de uma quantia sempre muito 
inferior ao que iam lucrar depois, com a venda do bebê: - Um 
recém-nascido vendido a estrangeiros está na faixa de oito a 
53ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
dez mil dólares. É só fazer a conversão em cruzeiros para se 
ver que é muito dinheiro. (PUNTEL, 1996, p. 113)
Prosseguindo com a leitura, depara-se com o delegado Pinheiro 
se referindo ao tráfico internacional de bebês, bem como a escolha 
destes em razão de características específicas:
– Isso quando não cobram mais. Se a família exige 
características físicas específicas, como cor da pele, cor dos 
olhos, sexo, pais reconhecidamente sadios, chegam a uns 
quinze mil dólares. Há também o caso de mães solteiras que, 
no sétimo mês, de gestação, são enviadas a Israel, França ou 
Alemanha. Vão ter o bebê lá e voltam sem ele. Aí os traficantes 
faturam até vinte mil dólares. (PUNTEL, 1996, p. 113)
À luz do Direito pátrio tais acontecimentos são recriminados. 
Prevê o artigo 149-A do Código Penal, in verbis: 
Art. 149-A: Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, 
comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, 
violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I – remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Coadunando com tal pensamento, preceitua o ECA, nos seus 
artigos 238 e 239, com reclusão de 1 a 4 anos e multa ou 6 a 8 anos 
e multa, havendo violência, quem promover ou auxiliar a efetivação 
de ato destinado a enviar menor para o exterior, sem a observância de 
formalidades legais, visando ao lucro, segundo dito alhures.
54 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
A fim de demonstrar a forma de atuação das pessoas integrantes 
da “quadrilha”, nota-se, em outra passagem da obra, que uma de suas 
personagens, Marly, ao conversar com uma das mães, Roseli – que 
entregou seu bebê aos criminosos –, empenhada para desmascarar os 
integrantes que traficavam menores, explica: “– Isso aconteceu com 
você, aconteceu com outras mães, Roseli. Estamos tentando descobrir 
quem está por trás dessas mulheres que se aproximam de vocês nas filas 
de ônibus, nas filas dos hospitais, que oferecem dinheiro em troca de 
seus filhos (...)” (PUNTEL, 1996, p. 127)
Certa ocasião, no bojo das páginas desta obra, em um diálogo 
entre a personagem Flávia e Wandeli, lê-se a passagem de que esta havia 
se envolvido com os criminosos, objetivando, ao final, entregar-lhe 
seu bebê: “– Eu caí na besteira de dar ouvidos a uma mulher. Ela me 
ofereceu dinheiro, se eu desse minha filha para ela. Agora eu não posso 
voltar atrás (...)” (PUNTEL, 1996, p. 131)
No que se refere à adoção por estrangeiros no Brasil de maneira 
fraudulenta, encontra-se, em uma passagem no texto, que um casal de 
italianos, ao dialogar com a irmã do orfanato, manifesta interesse em 
levar uma criança para a Itália:
– E noi non abbiamo figli. Però vogliamo adottare uno 
bambino. – O marido explicava a situação deles, dizendo que 
não tinham filhos e que queriam adotar um menino. Falando 
pausadamente, para que a freira o compreendesse, ele 
dizia chamar-se Paolo e sua mulher, Angelina. Engenheiro 
químico, viera há pouco da Itália, trabalhando em uma 
empresa italiana na região de Franca. Na volta a seu país de 
origem, queria dar aos pais a alegria de um neto brasileiro. 
(PUNTEL, 1996, p. 39-40)
Se não bastasse, o casal de italianos, com o ânimo de obterem 
um bebê para si se prontificaram a ajudar a mãe da criança, tendo, 
neste momento, a irmã dito: “Se queriam colaborar mesmo, a doação 
55ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
de uma casa traria segurança definitiva à mãe do guri (...)” (PUNTEL, 
1996, p. 41)
Diante disso, em razão da atuação do casal de italianos e dos 
integrantes da “quadrilha”, por exemplo, da irmã que toma conta do 
orfanato, há nítida violação às disposições estabelecidas no ECA e na 
Convenção de Haia quanto à adoção de estrangeiro levada a cabo no 
Brasil.9 Considerações finais
Ab initio, faz-se mister trazer à baila que as adoções fraudulentas 
não deverão ter o condão de afastar as feitas com o verdadeiro objetivo 
de amparar o menor deixado ao léu. Não seria melhor prover-lhe o bem-
estar afetivo, moral e material, dando-lhe uma morada digna, posto que 
no exterior, do que deixá-lo vagando nas ruas à mercê da própria sorte 
ou trancá-lo na Fundação Casa? Será possível mensurar o amor de um 
pai ou de uma mãe como nacional ou estrangeiro? Além disso, seria a 
nacionalidade, ou não, o fator determinante da caridade, bondade, do 
altruísmo e da maldade, de um pai ou de uma mãe?
De modo a responder tais indagações, encontra-se a resposta 
amparo na Constituição Cidadã, à luz do Princípio da Dignidade da 
Pessoa Humana – fundamento da República Federativa do Brasil, 
artigo 1º, inciso III, da CRFB/88 – que prevê o instituto da adoção 
internacional como direito à família e proteção do menor interpaíses, 
segundo se depreende do teor do artigo 227, §5º, da CRFB/88, consoante 
dito alhures.
Logo, o instituto da adoção transnacional propicia para inúmeras 
crianças e adolescentes abandonados em terrea brasilis a possibilidade 
de integrar uma unidade familiar, indo ao encontro do disposto no texto 
constitucional de 1988, segundo o qual prevê amparo à infância, bem 
como o dever conjunto da sociedade e do Estado de assegurar à criança 
e ao adolescente o direito à vida, à saúde, à alimentação, à dignidade, 
56 Tatyane Gondim Silva | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
ao respeito e à convivência familiar – artigo 227, caput, da CRFB/88 –, 
desde que cumpridos alguns requisitos, como, por exemplo, o Princípio 
da Prioridade da Própria Família, o estágio de convivência e um cadastro 
de crianças aptas à adoção e de interessados em adotar.
Por conseguinte, a obra “Tráfico de Anjos”, de Luiz Puntel, torna-
se imprescindível ao estudo da adoção ilegal e do tráfico de menores, 
trazendo a lume uma inter-relação entre Direito e Literatura, sendo 
a Ciência Jurídica um produto social em constante transformação, 
adquirindo, a partir da Literatura, uma nova visão, leitura e compreensão 
do fato que lhe dá origem.
Posto isso, não se deve perquirir a conveniência, ou não, de ser o 
menor brasileiro adotado por estrangeiro não domiciliado no Brasil, não 
obstante, sim, permitir seu ingresso numa família substituta, sem fazer 
quaisquer distinções à nacionalidade dos adotantes, buscando suporte 
legal no Direito pátrio (ECA) e na legislação alienígena (Convenção 
de Haia e Convenção Interamericana Contra o Tráfico de Menores), 
punindo, ao final, aos que explorarem ilegalmente a adoção.
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________. Decreto nº 2.740, de 20 de agosto de 1998. Promulga a 
Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional de Menores, 
assinada na Cidade do México em 18 de março de 1994. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2740.htm> Acesso em 
21 de maio de 2017.
________. Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga 
o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o 
57ADOÇÃO INTERNACIONAL E TRÁFICO DE MENORES À LUZ DA OBRA “TRÁFICO DE ANJOS” DE 
LUIZ PUNTEL
Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão 
e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm> Acesso em 21 de maio de 2017.
________. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto 
da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm> Acesso em 12 
de mar. de 2017.
________. Lei n. 12.010, de 3 de agosto de 2009. Dispõe sobre adoção 
e altera, entre outras, a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da 
Criança e do Adolescente) e a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 
(Código Civil). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
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________. Lei n.º 13.509, de 22 de novembro de 2017. Dispõe sobre 
adoção e altera, entre outras, a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 
(Estatuto da Criança e do Adolescente) e a Lei nº 10.406, de 10 de 
janeiro de 2002 (Código Civil). Disponível em: <http://www.planalto.
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gov.br/infancia/doutrina/id197.htm> Acesso em 03 de maio de 2017.
61
ABANDONO AFETIVO E O DEVER DE 
INDENIZAR
Larissa Stoduto da Rocha
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Resumo: O desenvolvimentodo presente estudo tem como tema o 
abandono afetivo, o dever de indenizar e a consequente aplicação da 
responsabilidade civil no Direito de Família. É de grande importância, 
uma vez que visa contribuir para a sociedade, por tratar-se de assunto 
pouco debatido, buscando soluções e indagações que serão levantadas. 
É certo que o tema não se encontra amplamente pacificado na 
jurisprudência, gerando correntes distintas, e, a partir desta análise, 
compreender os motivos plausíveis do dever de indenizar, quando 
será cabível, bem como os pressupostos essenciais de configuração do 
dano. Para melhor alcançar os objetivos delineados, foram utilizados, 
como fontes de pesquisa, doutrina e entendimentos jurisprudenciais 
relativos ao tema abordado, bem como artigos científicos. Trata-se de 
uma pesquisa com teor bibliográfico e levantamento documental, não 
sendo realizadas pesquisas de campo ou entrevistas físicas. Ademais, 
seria um mero enriquecimento ilícito ou uma forma de reprovar tais 
condutas daquele que deixou de arcar com suas obrigações no âmbito 
do poder familiar. Noutra vertente, coube analisar as disposições 
normativas quanto a esta questão, bem como as implicações quanto ao 
não cumprimento do dever normativo. Conclui-se que a condenação 
62 Larissa Stoduto da Rocha | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
em danos morais, proveniente do abandono afetivo, tem natureza de 
medida pedagógica e educativa, para que a sociedade entenda como 
conduta reprovável pelo ordenamento jurídico.
Palavras-chave: Abandono Afetivo; Responsabilidade Civil; Dever de 
Indenizar.
1 Introdução
O presente trabalho consistirá na análise do abandono afetivo e 
do dever de indenizar, a fim de demonstrar que o principal objetivo de 
tal instituto é causar ao responsável pelo abandono a plena consciência 
de que sua atitude é reprovável no âmbito jurídico e social, para que 
ele não persista no erro. Ressalta-se que a temática do tema abordado 
tem como fito não banalizar ou mercantilizar, tendo efeito preventivo e 
educativo de alcance à sociedade, para que não incorram em tal conduta. 
Trata-se da responsabilidade civil quanto ao abandono afetivo 
no âmbito do poder familiar, verificando as postulações jurídicas e 
doutrinárias presentes no ordenamento jurídico brasileiro, bem como 
os dispositivos legais de proteção ao poder de família, à criança e ao 
adolescente e princípios constitucionais.
Para melhor alcance dos objetivos delineados, serão utilizados, 
como fontes de pesquisa, doutrina e entendimentos jurisprudenciais 
relativos ao tema abordado, bem como artigos científicos. Tendo 
em vista que a escolha se deu devido à polêmica e por se tratar de 
instituto inovador no âmbito jurídico, para melhor compreensão, será 
utilizada pesquisa com teor bibliográfico e levantamento documental, 
demonstrando os entendimentos jurisprudenciais adotados pelos 
julgadores.
A temática abordará questões inerentes por parte de quem 
detém obrigações do poder familiar com a criança e o adolescente. 
Assim, pretende-se demonstrar que tal omissão pode gerar o dever de 
63ABANDONO AFETIVO E O DEVER DE INDENIZAR
indenizar. Tendo em vista os objetivos almejados, serão abordados os 
institutos jurídicos do Poder Familiar e a Responsabilidade Civil, ambos 
necessários para compor tal análise.
2 O Poder Familiar
Na consagrada Carta Magna brasileira, os artigos 226 e 227 
trazem expressamente o compromisso do Estado com a família e seu 
bem-estar, determinando ainda que ela é a base da sociedade, razão pela 
qual goza de proteção especial. Ademais, outros textos legais trazem 
com mais clareza a importância do instituto da família na formação 
do indivíduo, seus valores éticos, morais e sociais. Juntamente com a 
previsão legal constitucional, têm-se os demais textos legais, como o 
Código Civil Brasileiro, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), 
as Leis complementares, todas no sentido de proteger a criança no seio 
familiar e determinar aos pais o dever de assistir, criar e educar os filhos.
O poder de família a ser tratado aqui não é o de hierarquia, e sim 
o de responsabilidade dos pais com seus filhos menores, resguardando 
os direitos de proteção à criança e ao adolescente, colaborando com a 
educação em uma das fases de maior desenvolvimento do indivíduo, a 
qual requer inteira atenção.
Pois bem, a família contemporânea não é tradicionalmente 
baseada apenas com a formação do pai, da mãe e de seus filhos. Não se 
pode determinar pressuposto a ser aplicado igualmente, pois a relação 
de conhecimento como base da família são os laços afetivos, devido 
à diversidade e às situações concretas de cada um, pois, como família 
moderna, tem-se: os casais que optam pela adoção; os casais homoafetivos; 
os pais divorciados e, cada vez mais, reconhecimentos diversos de família 
ligada unicamente pela socioafetividade, não mais imperando apenas os 
aspectos biológicos como a fonte principal de ligação.
Antigamente, o poder de família era imposto ao pai, único 
provedor do lar. No entanto, com o passar dos tempos, depara-se com 
64 Larissa Stoduto da Rocha | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
famílias de pais divorciados, que, mesmo morando em residências 
distintas, permanecem ambos com a responsabilidade na criação, 
que vai além do dever de prestar alimentos, sendo necessário o 
acompanhamento escolar, religioso, ético e moral, os quais só resultam 
com a convivência e atenção. (FARIAS; ROSENVALD, 2019, p. 35)
Um direito legalmente reconhecido é o direito de visita de pais 
divorciados, para manter o contato contínuo na criação e decisões 
diárias de seus filhos, que, em casos de alienação parental, pode 
ser exigido judicialmente. Entretanto, o bom convívio entre os pais 
ainda é a melhor solução para a boa formação de seus filhos. Mesmo 
distante, o genitor que não detém a guarda do menor pode mostrar-se 
presente diariamente por meio de ligações, mensagens e diversas opções 
inovadoras que a tecnologia apresenta a cada dia, não tendo justificativa 
para se abster do dever de criação da prole. 
3 Afeto
O afeto tornou-se a base da família contemporânea, a qual independe 
de uma união matrimonial entre homem e mulher. Assim, tem-se que a 
família é vinculada por meio de laços afetivos. Entretanto, o afeto não é 
só um laço que envolve os indivíduos, mas sim um laço que une pessoas, 
ou seja, o Princípio da Afetividade é como um norteador das famílias 
contemporâneas. O afeto é elemento indispensável na busca pela felicidade 
do ser humano, compondo o aparato moral e as relações interpessoais. Não 
lhe conferir a tutela jurídica, é violar a dignidade humana.
É importante buscar compreender o que é o afeto. Conforme o 
Dicionário Aurélio (2015, p. 21), “afetividade é um termo que deriva 
da palavra afetivo e afeto. Designa a qualidade que abrange todos os 
fenômenos afetivos.”.
Já do ponto de vista da psicologia, o aspecto cognitivo é a principal 
área afetiva e pode vir a causar o impedimento da criança ou do adolescente 
de atingir o seu máximo potencial. (BICCA, 2015, p. 78-80)
65ABANDONO AFETIVO E O DEVER DE INDENIZAR
Os autores e especialistas na área da educação – Jean Piaget, 
Henri Wallon e Lev Vygotsky – concederam à afetividade uma elevada 
relevância no processo pedagógico. Dizem que “(...) a inteligência não 
é o elemento mais importante do desenvolvimento humano, mas esse 
desenvolvimento depende de três vertentes: a motora, a afetiva e a 
cognitiva.”. (SALLA, 2011)
A importância do afeto no Direito de Família muitas vezes 
prevalece sobre o vínculo biológico. No entanto, não se pode obrigar 
um pai a amar seu filho, mas a obrigação aqui questionada é a que 
envolve a responsabilidade civil, o dever de cuidar, zelar, educar 
e se fazer presente, a qual não é suprida apenas com a obrigação 
alimentar.
4 O Abandono Afetivo
O dever da família consiste no cuidado da criança e do adolescente 
e vai além dos direitos materiais e da proteção dos direitos fundamentais 
destes. É atribuídoaos pais o dever de criar e educar. A criança precisa 
de amor, carinho, atenção e compreensão para um desenvolvimento 
saudável, conforme está inserido no artigo 229 da Constituição Federal, 
onde se afirma que “(...) os pais têm o dever de assistir, criar e educar os 
filhos menores (...)”.
No Brasil, têm-se duas correntes desse entendimento. A primeira 
defende que o amor não pode ser monetarizado, assim o abandono 
afetivo não poderia ser estipulado em valores. Segundo Farias e 
Rosenvald (2019, p. 136):
Afeto, carinho, amor, atenção… são valores espirituais, 
dedicados a outrem por absoluta e exclusiva vontade pessoal, 
não por imposição jurídica. Reconhecer a indenizabilidade 
decorrente da negativa de afeto produziria uma verdadeira 
patrimonialização de algo que não possui tal característica 
66 Larissa Stoduto da Rocha | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
econômica. Seria subverter a evolução natural da ciência 
jurídica, retrocedendo a um período em que o ter valia mais 
do que o ser. 
A segunda corrente aduz que não é monetarização do afeto, e sim 
uma penalidade daquele que viola um dever de cuidado reconhecido 
constitucionalmente quanto aos pais, como a educação, a criação e a 
formação de seus filhos menores, tendo em vista que a ausência na 
criação de uma criança causa sérios transtornos psicológicos, muitas 
vezes irreparáveis. A segunda corrente defende a penalidade em forma 
de uma indenização por danos morais, concernente a uma imposição 
legal. Assim, pode-se comparar o dever de zelar com a obrigação 
alimentar, ambas de extrema importância no desenvolvimento da 
criança e adolescente.
O abandono afetivo constitui uma das mais graves violências 
contra a criança, e consiste na omissão de cuidado, criação, assistência 
moral, psíquica e social, que, de forma silenciosa e contínua, atinge 
tanto a vítima quanto o genitor que detém a guarda, com sentimento de 
angústia e impotência por não poder fazer nada.
Não existe uma forma de obrigar uma pessoa a amar outra. O afeto 
é construído com a convivência, que nem sempre é necessária no dia a 
dia, porém qualquer gesto de interesse é uma construção de afeto. No 
entanto, a falta deste interesse causa efeitos devastadores e irreparáveis. 
A lei nem sempre supre todas as questões inerentes às obrigações 
do indivíduo. Assim, em Direito de Família, é direito da criança ter, 
em seu registro civil, o reconhecimento de seus genitores, bem como a 
obrigação alimentar, em casos de pais que não possuem o matrimônio. 
No entanto, a afetividade ainda é um tema abordado com inúmeras 
divergências, tendo em vista ser impossível mensurar os danos causados 
em casos de abandono.
A obrigação inerente ao genitor que deixa de arcar com suas 
obrigações interfere no desenvolvimento da criança, que cresce com 
67ABANDONO AFETIVO E O DEVER DE INDENIZAR
pouca ou nenhuma referência familiar, sem contar o desempenho 
escolar, social e emocional, consequente de diversos danos imensuráveis.
Nesse sentido, a Ministra Nancy Andrighi cita: “Comprovar 
que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em 
se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão”. 
(REsp 1159242/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, 
julgado em 24/04/2012, DJe 10/05/2012).
Ressalta-se que pequenos gestos e exemplos cotidianos formam 
um cidadão honesto, de valor e com perspectivas, o que pode parecer 
pouco, mas a falta de afetividade entre aqueles que compõem o poder 
familiar vai contra todas as referências e leis inerentes ao direito da 
proteção e constituição da família.
É legalmente reconhecido o dever de convivência dos pais com 
seus filhos menores, expresso no artigo 229 da Constituição Federal de 
1988 e art. 1.634, incisos I e II, do Código Civil Brasileiro. Se a violação 
desse dever causar dano, estarão presentes os requisitos de ato ilícito. 
Para melhor elucidar a temática, veja-se entendimento jurisprudencial 
a seguir:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO 
AFETIVO. COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. 
POSSIBILIDADE. DANO IN RE IPSA. (...) 4. “A indenização 
do dano moral por abandono afetivo não é o preço do 
amor, não se trata de novação, mas de uma transformação 
em que a condenação para pagar quantia certa em dinheiro 
confirma a obrigação natural (moral) e a transforma 
em obrigação civil, mitigando a falta do que poderia ter 
sido melhor: faute de pouvoir faire mieux, fundamento da 
doutrina francesa sobre o dano moral. Não tendo tido o filho 
o melhor, que o dinheiro lhe sirva, como puder, para alguma 
melhoria.” (...). 5. “Dinheiro, advirta-se, seria ensejado à 
vítima, em casos que tais, não como simples mercê, mas, e 
sobretudo, como algo que correspondesse a uma satisfação 
68 Larissa Stoduto da Rocha | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
com vistas ao que foi lesado moralmente. Em verdade, 
os valores econômicos que se ensejassem à vítima, em 
tais situações, teriam, antes, um caráter satisfatório que, 
mesmo, ressarcitório.” (...).Por tratar-se de uma obrigação 
natural, um Juiz não pode obrigar um pai a amar uma 
filha. Mas não é só de amor que se trata quando o tema é a 
dignidade humana dos filhos e a paternidade responsável. 
Há, entre o abandono e o amor, o dever de cuidado. Amar 
é uma possibilidade; cuidar é uma obrigação civil. (...). 
Recurso conhecido e desprovido. (TJ-DF 20160610153899 
DF 0015096-12.2016.8.07.0006, Relator: Nídia Corrêa Lima, 
Data de Julgamento: 28/03/2019, 8ª Turma cível, Data de 
Publicação: Publicado no DJE : 04/04/2019 . Pág.: 404/405) 
(grifo nosso)
Como demonstrado, a reparação civil é uma maneira de satisfazer 
a ausência daquele que tem por obrigação criar, assistir e educar. Não se 
compra amor, nem mesmo se repara danos e transtornos psicológicos, 
que em alguns casos podem ser irreversíveis. No entanto, a medida é 
educativa tanto para quem o fez, quanto para a sociedade. 
5 Previsão Legal 
A Carta Magna dispõe em seus artigos que a família é a base de 
toda estrutura da sociedade e, por essa razão, goza de proteção especial. 
Tal artigo aduz que o indivíduo, no âmbito do Poder de Família, tem 
como principal responsabilidade ensinar valores éticos, morais e sociais.
O Princípio da Dignidade Humana, previsto no artigo 1º, inciso 
III, da Constituição Federal, compreende como garantia e proteção 
inerentes ao cidadão de direito.
Ademais, o Princípio da Solidariedade Social e Familiar, previsto 
no artigo 3º, inciso I, da Constituição Federal, consiste no vínculo de 
sentimentos, no qual impõe o dever de cooperação, ajuda, orientação, 
69ABANDONO AFETIVO E O DEVER DE INDENIZAR
assistência e amparo em relação a outras pessoas. Esse Princípio 
é pressuposto legal para o exercício do poder de família, sendo 
indispensável para o Direito de Família. Entretanto, na ausência desses 
princípios fundamentais no âmbito familiar, incorre-se em graves 
consequências psicológicas.
O doutrinador Rodrigo da Cunha Pereira, presidente do IBDFAM, 
citado por Tartuce (2018, p. 631), fundamenta a eventual reparabilidade 
pelos danos sofridos em casos tais na dignidade da pessoa humana:
O Direito de Família somente estará em consonância 
com a dignidade da pessoa humana se determinadas 
relações familiares, como o vínculo entre pais e filhos, 
não forem permeadas de cuidado e de responsabilidade, 
independentemente da relação entre os pais, se forem 
casados, se o filho nascer de uma relação extraconjugal, ou 
mesmo se não houver conjugalidade entre os pais, se ele foi 
planejado ou não. (...). Em outras palavras, afronta o princípio 
da dignidade humana o pai ou a mãe que abandona seu filho, 
isto é, deixa voluntariamente de conviver com ele. 
A Magna Carta, por sua vez, garante especial proteção à criança e 
ao adolescente, de acordo com o Capítulo VII. Observe-se com primazia 
o disposto nos artigos 227 e 229: 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado 
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com 
absoluta prioridade, o direitoà vida, à saúde, à alimentação, 
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar 
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma 
de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão.
70 Larissa Stoduto da Rocha | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os 
filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e 
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Entende-se, assim, que a assistência na criação da criança é 
um bem indisponível para o Direito de Família, na qual a ausência 
da presença e convívio com o genitor causa graves consequências, 
irreparáveis, e irreversíveis, previstas no artigo 1.634 do Código Civil, 
com redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua 
situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que 
consiste em, quanto aos filhos: 
I - dirigir-lhes a criação e a educação; 
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos 
do art. 1.584; 
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para 
casarem;
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para 
viajarem ao exterior; 
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para 
mudarem sua residência permanente para outro Município; 
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento 
autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o 
sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 
(dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, 
nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; 
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; 
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços 
próprios de sua idade e condição. 
O Código Civil Brasileiro regula as relações civis da sociedade. O 
legislador destinou parte deste Código para tratar do Direito de Família. 
71ABANDONO AFETIVO E O DEVER DE INDENIZAR
No entanto, não poderia o legislador prever todas as hipóteses existentes 
de situações fáticas em um texto normativo e tal omissão acaba por 
gerar demais dúvidas quanto a alguns temas.
A Lei 8.069/90, conhecida como Estatuto da Criança e do 
Adolescente, como sendo um dos institutos especializados na proteção à 
criança e ao adolescente, assegura no artigo 4º as seguintes garantias legais:
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral 
e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetiva-
ção dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educa-
ção, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignida-
de, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
In casu, tem total amparo legal o dever da obrigação dos pais 
com seus filhos, concernente à criação, orientação, assistência, ajuda, 
amparo, dentre outras necessidades.
6 Responsabilidade Civil
No ordenamento jurídico brasileiro, a regra, quando se trata 
de responsabilidade civil, é a denominada responsabilidade subjetiva, 
que decorre do ato doloso ou culposo. Seus elementos são: a conduta 
humana, o dano, nexo causal e a culpa ou dolo. É o que preceitua o 
artigo 186 do Código Civil Brasileiro. 
A análise aqui busca demonstrar a diferença entre a reparação 
civil e o enriquecimento ilícito, uma vez que amor não se compra. 
Pois bem, a responsabilidade civil decorre de um ato ilícito ou de uma 
imposição legal, quando a ordem jurídica é violada, gerando, assim, a 
obrigação de reparar. Logo, não há ganho ilícito, e sim uma reparação 
pelo dano, desde que devidamente comprovado.
A conduta é o principal elemento gerador da responsabilidade 
civil e decorre da conduta humana, em que o indivíduo tem a liberdade 
72 Larissa Stoduto da Rocha | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
de escolha de agir. No entanto, incide de forma contrária ao ordenamento 
jurídico. 
Tratando-se de responsabilização civil pelo abandono afetivo, 
claramente se está referindo aos casos de conduta omissiva dos genitores, 
pois a eles incumbe exercer o poder familiar.
O dano, pressuposto muito relevante da responsabilidade civil, 
visto que não se pode falar em indenização sem sua ocorrência, é 
o prejuízo. No abandono afetivo, o dano se caracteriza nos prejuízos 
advindos do mencionado não exercício do poder familiar, que atingem 
o desenvolvimento pleno da criança e do adolescente, o que pode refletir 
em toda a vida destes.
O nexo causal é o elo entre a conduta e o dano gerado. No 
abandono afetivo é o que liga o dano causado ao abandono sentido.
Existe, também, no ordenamento jurídico brasileiro, a 
denominada responsabilidade civil objetiva. Ela se encontra prevista 
no Código Civil Brasileiro, no parágrafo único do artigo 927: “Haverá 
obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos 
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida 
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos 
de outrem.”. Trata-se de exceção e não se aplica ao caso de abandono 
afetivo.
O caso em tela trata de uma reparação subjetiva, pois deriva 
de terceiro, com ou sem intenção de causar prejuízo a outrem. É 
reconhecida como uma espécie de sanção ao causador do dano, para 
que não mais incida no mesmo ato ilícito. Nesse sentido, conceituam os 
doutrinadores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, 
p. 72): “A sanção é a consequência lógico-jurídica da prática de um 
ato ilícito, pelo que, em função de tudo quanto foi exposto, a natureza 
jurídica da responsabilidade, seja civil, seja criminal, somente pode ser 
sancionadora”. 
Tal sanção ou penalidade não se limita ao ofensor, pelo contrário, 
serve como remédio para casos parecidos, ou seja, incide ao cunho 
73ABANDONO AFETIVO E O DEVER DE INDENIZAR
socioeducativo, tornando público que tal ato não será tolerado. Com 
isso, almeja-se o equilíbrio social.
A ideia central deste trabalho é comprovar que, de igual modo 
ao dever do genitor de assistir seu filho com a obrigação alimentícia, 
poderá este, em caso comprovado de abandono afetivo, buscar a tutela 
judicial em forma de indenização para reparar o dano causado, pois a 
imposição em educar, orientar, acompanhar, assistir não se distingue da 
obrigação alimentar, tornando-se, assim, obrigações similares ao dever 
dos pais com seus filhos.
Há uma violação ética, moral e social dos princípios constitucionais 
que regem o Direito de Família, quais sejam: dignidade da pessoa 
humana, igualdade, solidariedade, pluralismo das entidades familiares, 
paternidade/maternidade responsáveis, dever da convivência familiar, 
proteção integral da criança e do adolescente e isonomia entre os filhos.
O tema abordado demonstra que, da mesma forma que é 
imposta a obrigação alimentícia com penalidade de prisão em casos do 
inadimplemento, é legalmente reconhecido o direito à convivência, à 
atenção, à criação e a responsabilidade aos genitores para com seus filhos, 
podendo sofrer a reparação civil ou penal em casos de abandono. Ressalta-
se que o legislador não pode exigir que o genitor ausente dê amor ao seu 
filho, menos ainda que seja imposto o afeto. No entanto, há uma reparação 
como penalidade daquele que se encontra inerte quanto ao dever de assistir, 
criar e educar os filhos, desde que comprovada essa inércia.
7 Prescrição
De acordo com o posicionamento atual adotado nos julgados 
referentes ao tema abordado, está sendo seguido o prazo prescricional 
com fulcro no artigo 206, §3º, V, do Código Civil, prescrevendo a 
pretensão ao direito de indenização por abando afetivo após 3 (três) 
anos da maioridade do filho, de acordo com o acórdão prolatado pela 
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial 
74 Larissa Stoduto da Rocha | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
1.159.242/SP, do ano de 2012. Sendo assim, tal pretensão encerra-se 
quando o filho completa 21 (vinte e um) anosde idade, pois a contagem 
inicia-se a partir da maioridade. Conforme aduz o artigo 197, II, do 
Código Civil, não ocorre prescrição na constância do poder familiar 
relativo aos ascendentes e descendentes, o qual cessa após completar a 
maioridade. Entretanto, não é cessado o direito à pretensão da reparação 
civil, quando se trata de absolutamente incapazes, conforme Enunciado 
do artigo 198, I, do Código Civil. (Flávio Tartuce, 2017)
Nesse sentido, veja-se in verbis julgado do Tribunal de Justiça de 
Goiás (TJGO) deste ano de 2019:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR 
ABANDONO AFETIVO. PRESCRIÇÃO. RECURSO 
PROVIDO. 1. O abandono afetivo deve ser entendido como 
uma lesão extrapatrimonial a um interesse jurídico tutelado, 
causada por uma omissão no cumprimento do exercício do 
poder familiar, insculpido no artigo 1.634 do Código Civil, 
configurando um ilícito, que gera a obrigação indenizatória. 
2. Observa-se que a ação de indenização por abandono 
afetivo tem o prazo prescricional de 3 (três) anos, a contar 
da maioridade do filho. 3. Tal posicionamento respeita o 
princípio da segurança jurídica, ao impedir a existência de 
um dano moral por abandono afetivo imprescritível, o que 
é vedado em nossa legislação pátria. 4. Conclui-se que o 
apelante demonstrou estar presente a prescrição em relação 
ao pedido de dano moral por abandono afetivo, motivo pelo 
qual o recurso deve ser provido, com a cassação da sentença, 
para julgar improcedentes os pedidos iniciais, negando 
o pedido de indenização, pela ocorrência da prescrição. 
APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. (TJGO - APL: 
00962948220168090146, Relator: Ney Teles de Paula, Data 
de Julgamento: 08/08/2019, 3ª Câmara Cível, Data de 
Publicação: DJ de 08/08/2019)
75ABANDONO AFETIVO E O DEVER DE INDENIZAR
Assim, é recomendável que o pedido de indenização por 
abandono afetivo seja interposto em prazo tempestivo, bem como 
sejam apresentadas provas suficientes para tal caracterização, uma vez 
que é notório, em análise dos julgados que abordam a temática, não ser 
suficiente a simples ausência, e sim que esta cause efetivamente dano.
Ressalta-se que existem muitas peculiaridades diante do assunto, 
as quais devem ser analisadas em cada caso concreto.
8 Considerações Finais
A finalidade deste artigo é demonstrar, mais especificamente, que o 
direito pleiteado pode ser reivindicado com as normas preexistentes. Após 
minuciosa análise sobre o direito de reparação civil e seus pressupostos 
de admissibilidade, conclui-se que o genitor omisso, diante da inércia de 
exercer suas obrigações, deverá indenizar o filho que arcou com a privação 
de seu genitor ausente e consequentes danos psicológicos. 
Como explicitado em corrente contrária, a indenização deste 
instituto em hipótese alguma será confundida com enriquecimento 
ilícito por parte do promovente, pois o ordenamento jurídico prevê 
a reparação civil, se comprovados os requisitos ensejadores de 
responsabilidade. 
O tema abordado é de grande impasse no Judiciário, devido 
às inúmeras divergências de posicionamento, já que não há uma lei 
específica que garanta o direito aqui abordado. No entanto, as garantias 
asseguradas à criança e aos adolescentes resguardam seus direitos de 
convivência com os pais, mesmo em casos de família que residem em 
lugares distintos.
Ressalta-se, ainda, que a condenação em danos morais, 
proveniente do abandono afetivo, tem natureza de medida pedagógica e 
educativa, para que a sociedade a entenda como conduta reprovável pelo 
ordenamento jurídico, isso devido à gravidade e ao risco que possam 
causar na sociedade, visto que o índice de indivíduos que não concluem 
76 Larissa Stoduto da Rocha | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
os estudos ou não agem de acordo com as normas são maiores quando 
a criação é de um ou nenhum dos genitores.
Nesse sentido, é importante destacar que ninguém é obrigado a 
ter filhos e existem inúmeros meios de evitar. Entretanto, uma vez que 
tomada a decisão, é dever de cada um arcar com suas responsabilidades 
e obrigações. É necessário, para a plena formação física e mental deste 
novo indivíduo, o conceito de família que necessita de amparo, cuidado, 
orientação, amor, carinho, e, principalmente, exemplos, estes vindo da 
conduta dos pais. 
Assim, dada a importância do assunto, mesmo não sendo o 
foco deste trabalho, as privações do convívio familiar podem acarretar 
inúmeros transtornos psicológicos, que muitas vezes são irreversíveis, 
gerando danos catastróficos para a sociedade.
Portanto, entende-se a necessidade da aplicação de medida 
socioeducativa no intuito de educar a sociedade, à medida que for 
comprovado o abandono afetivo, a fim de compensar o dano sofrido.
9 Referências
AURÉLIO. Mini Dicionário. 8º ed. Curitiba: Positivo, 2015.
BICCA, Charles. Abandono Afetivo: O dever de cuidado e a 
responsabilidade civilidades por abandono de filhos. 2º ed. Brasília: 
OWL, 2015.
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do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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77ABANDONO AFETIVO E O DEVER DE INDENIZAR
_______. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil 
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FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito 
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__________. Manual de responsabilidade civil: volume único. Rio de 
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78 Larissa Stoduto da Rocha | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
TJDF. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. TJ-DF 20160610153899 
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Relator Ney Teles de Paula. Data de Julgamento: 08/08/2019. 3ª 
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02 de novembro de 2019. 
79
GUARDA COMPARTILHADA: UMA 
PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO 
PARENTAL
Laís Fernanda Almeida
Adriano Cielo Dotto
Resumo: O presente artigo teve como escopo analisar como a guarda 
compartilhada se tornou atualmente a maneira mais eficaz de prevenção 
contra a alienação parental, demonstrando, assim, a real importância da 
lei para que se possa evitar transtornos psicológicos e comportamentais 
no alienado. Foi realizada uma abordagem a respeito do poder familiar, 
uma breve análise do instituto da guarda e suas modalidades,bem como 
discutiu-se sobre a Alienação Parental, evidenciando, por fim, como a 
guarda compartilhada pode ser um meio eficaz para evitar uma possível 
interferência psicológica negativa na criança ou no adolescente. Com 
a finalidade de abarcar os pontos principais e, assim, conseguir atingir 
os objetivos mencionados, a pesquisa realizada teve natureza descritiva, 
tendo sido utilizadas como fontes de pesquisa doutrinas, artigos e 
legislação sobre o assunto. Chegou-se à conclusão de que a guarda 
compartilhada, se bem aplicada, tem grande chance de contribuir para 
evitar a alienação parental, já que o convívio do filho com os genitores é 
mais intenso e não se resume a visitações ocasionais.
Palavras-Chave: Alienação Parental. Guarda Compartilhada. Prevenção 
Jurídica. 
80 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
1 Introdução 
Com o principal objetivo de analisar como a guarda compartilhada 
se tornou o meio mais eficaz de prevenção contra a síndrome de 
alienação parental, incialmente foi realizada uma breve abordagem 
sobre o poder familiar, as modificações sofridas no decorrer do tempo e 
como este poder é exercido atualmente. 
Logo após, foi analisado o instituto da guarda, buscando verificar 
sua real importância para a criança e o adolescente, e delinear as 
principais modalidades desse instituto, iniciando pela guarda natural, 
depois pela guarda unilateral e, por último, pela guarda alternada, 
modalidade não prevista na lei brasileira. 
A modalidade de guarda compartilhada ganhou um espaço 
especial por ser este o principal tópico a ser analisado. Nascida com a 
Lei 11.698/08, logo sofreu alterações e passou a ser regulada pela Lei 
13.058/2014, que vigora atualmente. Esta modalidade está expressa no 
Código Civil de 2002 para melhor atender os interesses do menor. 
A alienação parental foi discutida ademais. Procurou-se explicar 
de forma ampla seu conceito, como também sua caracterização e 
análise dos principais artigos da Lei nº 12.318 de 26 de agosto de 2010, 
que regulamentou legalmente a alienação parental no ordenamento 
brasileiro. Tema de grande importância, em especial para o Direito de 
Família, a alienação parental é assunto recorrente em artigos e palestras 
no Brasil, apesar de ser relativamente novo quando se trata de sua 
previsão legal.
Por fim, com o intuito de apontar alguma maneira de prevenir e 
amenizar os efeitos da alienação parental, foi elaborado um tópico para 
demonstrar a real importância da lei para que se possa evitar transtornos 
psicológicos e comportamentais nos alienados.
Nesse sentido, indaga-se: Com que pretexto o legislador visou 
introduzir a guarda compartilhada no ordenamento jurídico pátrio? 
Seria mesmo a guarda compartilhada um meio eficaz no combate 
81GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL
à Alienação Parental? Serão essas as problemáticas exploradas e 
respondidas no decorrer deste artigo.
É imprescindível mencionar que as fontes aqui utilizadas como 
método de pesquisa são exclusivamente teóricas, utilizando-se, como 
suporte, a legislação vigente, decisões jurisprudenciais e doutrinas que 
versem sobre tal assunto.
2 Poder familiar
O poder familiar sofreu diversas modificações no decorrer do 
tempo. O Código Civil de 1916 utilizava a expressão “pátrio poder”, 
indicando que o poder familiar era exercido unilateralmente pelo pai. 
Com o passar do tempo e com as evoluções legislativas, a Constituição 
Federal de 1988 optou por dar fim às desigualdades de condições entre 
pai e mãe e implementou o poder familiar, que ganhou espaço no 
Código Civil de 2002 e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 
Dessa forma, esse termo substituiu a antiga denominação para a nova 
expressão, atualmente utilizada, chamada de “poder familiar”. 
Na concepção de Patrícia Ramos (2016, p. 36): “O Poder de Família 
é um conjunto de prerrogativas reconhecidas aos pais para a criação, 
orientação e proteção dos filhos menores de 18 (dezoito anos)”. Assim sendo, 
são os pais os responsáveis por repassar e ensinar aos filhos os valores éticos 
e morais, além de zelar por sua saúde, integridade física e bem-estar, até que 
estes atinjam a maioridade e se tornem, assim, responsáveis por si mesmos. 
Logo, convém reafirmar que o poder familiar trata daquele 
conjunto de prerrogativas, já mencionadas, que é imposto pelo Estado e 
destinado a ambos os pais, surgindo com o registro do filho e cessando 
com a maioridade ou emancipação. Acrescenta-se, ainda, que esse poder 
é irrenunciável, inalienável e imprescindível. Vale ressaltar que, com as 
modificações trazidas, quando o pai não é reconhecido no registro do 
filho, conforme o artigo 1.612 do Código Civil, o poder familiar é único 
e exclusivo da mãe.
82 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
Apesar de ser concedido aos pais, esse poder ou autoridade 
parental pode ser suspenso, perdido ou extinto, de acordo com os termos 
do Código Civil. O ato de suspensão do poder familiar ocorre quando 
há uma restrição no exercício das funções dos pais, que é estabelecido 
por meio de decisão judicial e que continuará restrito até quando for 
necessário para manter os interesses dos filhos. O artigo 1.637 do 
Código Civil estipula quando ocorrerá a suspensão do poder familiar: 
Art. 1.637. Se o pai ou a mãe abusar de sua autoridade, 
faltando aos deveres a ele inerentes ou arruinando os bens dos 
filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou Ministério 
Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela 
segurança do menor e seus haveres, até que suspendendo o 
poder familiar, quando convenha. 
A perda do poder familiar já vem expresso no artigo 1.638 do 
Código Civil, tratando-se de uma medida mais severa de punição de 
extrema gravidade, em que os genitores são proibidos definitivamente 
de exercer o poder familiar por terem descumprido os deveres 
impostos a eles. Desse modo, esses pais são definitivamente impedidos 
judicialmente de exercer tal dever. O artigo 1.638 traz as hipóteses de 
destituição do poder familiar:
Artigo 1.638: Perderá por ato judicial o poder familiar o pai 
ou a mãe que: 
I - Castigar imoderadamente o filho;
II - Deixar o filho em abandono;
III - Praticar atos contrários a moral e aos bons costumes;
IV - Incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo 
antecedente. 
Além dessas hipóteses, o ECA também regula situações da 
destituição do poder familiar em casos em que os pais venham a deixar 
83GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL
de cumprir obrigações em relação aos filhos, tais como os de guarda, 
sustento, educação e demais deveres que são essenciais para a criação 
menor. 
A extinção do poder familiar está expressa no artigo 1.635 do 
Código Civil e trata-se da interrupção definitiva do poder familiar que 
se dá com as hipóteses dos seus incisos, conforme se pode ler a seguir:
Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar: 
I - pela morte dos pais ou do filho;
II - pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.
Nota-se que o legislador pretendeu, com bastante cuidado, zelar 
pelo bem-estar do menor, a fim de proteger seus interesses para que 
essa criança ou adolescente não seja desamparado e, por qualquer 
circunstância, seja prejudicado por irresponsabilidade dos seus 
genitores. 
3 Guarda
O instituto da guarda está previsto no Código Civil de 2002 e vem 
com o intuito de proteger os interesses dos filhos. A palavra “guarda” 
já sugere algo como uma relação de proteção e cuidados inerentes a 
alguém, e, nesse contexto próprio, trazido pelo Código Civil, refere-se 
exclusivamente aos filhos. Nas palavras de Rolf Madaleno (2016, p. 482): 
Os pais como titulares do poder familiar têm o direito de 
ter consigo os filhos menores, pois só desta forma podem 
orientar a formação e educação da sua prole em toda a sua 
extensão, e na eventualidade de dissolução da sociedadeou 
do vínculo conjugal pela separação ou pelo divórcio direto 
84 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
consensual, dissolução de união estável ou em medida 
provisória ordena o artigo 1.584, inciso I, do Código Civil, 
seja observado o acordado pelos cônjuges sobre a guarda dos 
filhos.
Nessa mesma vertente, vale ressaltar que a guarda surge com o fim 
do casamento ou da dissolução da união estável, ou, até mesmo, quando 
os pais nunca viveram juntos. A guarda é a medida pela qual os interesses 
do menor são defendidos, a fim de que este não seja prejudicado de 
nenhuma forma. Logo, ambos os pais devem resguardá-lo de qualquer 
prejuízo que possa ser percebido durante seu desenvolvimento. 
Nesse sentido, é necessário destacar o Princípio do Melhor 
Interesse da Criança e do Adolescente, que está expresso na Carta 
Magna, em seu artigo 227, e no Estatuto da Criança e do Adolescente, 
em seu artigo 4º. Precisamente, Fábio Figueiredo e George Alexandridis 
(2014, p. 16) concluem que: 
[...] independentemente da origem da filiação e 
independentemente de a família estar constituída com a 
presença de ambos os pais, o fato é que o poder familiar 
deverá ser exercido – quer seja por ambos, quer por apenas 
um deles – para que se busque o desenvolvimento do filho 
menor, para que seja criado um ser humano com qualidades 
mínimas, sob o prisma da educação, dos preceitos morais e 
sociais, ou seja, da real proteção que se mostra necessária 
àquele que se desenvolve.
A guarda se inicia com o reconhecimento dos filhos. De acordo 
com o artigo 1.612 do Código Civil: “O filho reconhecido, enquanto 
menor, ficará sob a guarda do genitor que o reconheceu e se ambos o 
reconhecerem e não houver acordo, sob a de quem melhor atender os 
interesses do menor”. Entende-se, então, que a guarda cabe aos pais e só 
é reconhecido o vínculo de filiação quando ocorre o reconhecimento 
85GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL
da filiação, observando o interesse do menor. Esse tipo de guarda é 
denominado como guarda natural, que é iniciada logo que o filho é 
registrado. 
De acordo com Patrícia Ramos (2016, p. 48), “Ao efetuar a 
certidão de nascimento do filho, a mãe, o pai ou ambos garantem-lhe 
o direito ao nome, à nacionalidade, vínculos familiares e direitos daí 
decorrentes, bem como tornam-se titulares do poder familiar. A guarda 
natural é atributo decorrente do poder familiar”.
A guarda unilateral, por sua vez, é aquela em que apenas um 
dos pais ou quem o substitua detém a guarda do filho, ficando aquele 
responsável por cuidar, educar, dar um lar onde essa criança ou 
adolescente possa habitar, crescer e estabelecer vínculos, colaborando 
todos esses fatores efetivamente para a formação psíquica, ética e 
moral do filho. O outro pai, por sua vez, ficará responsável apenas pela 
prestação de pensão alimentícia e direito de visitação. Convém a este 
também supervisionar as atribuições do pai ou substituto detentor da 
guarda. 
O artigo 1.583, § 1º, do Código Civil, traz expressamente em seu 
texto a definição de guarda unilateral, veja-se: Artigo 1.583. “A guarda 
será unilateral ou compartilhada” e § 1º “Compreende-se por guarda 
unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua 
(...)”.
Dessa maneira, será apenas um dos genitores, ou seu substituto, 
detentor da guarda, que zelará pelos cuidados do menor como um ciclo 
estrutural efetivo, que trará suporte para que este chegue à maioridade 
capaz de se manter e cuidar de si próprio, cabendo ao outro genitor 
mero apoio financeiro, visitas regulares e observar se o detentor legal da 
guarda está agindo de forma coerente para a criação do menor.
Outra modalidade é a guarda alternada, a qual não é adotada pela 
legislação pátria. Nessa modalidade, a criança ou adolescente não tem 
residência fixa, há uma alternância de lar onde este menor morará, um 
período de tempo na casa da mãe e outro na casa do pai. O tempo que 
86 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
o menor ficará com o responsável pode variar, podendo ser semanal, 
quinzenal, mensal ou, até mesmo, anual. Isso variará de acordo com 
o que foi estabelecido entre os genitores. Vale salientar que o genitor 
responsável pelo menor, enquanto este estiver sob seus cuidados, terá 
o dever de exercer de forma exclusiva os deveres e direitos relativos ao 
filho. Christiano Cassettari (2018, p. 551) preceitua que: 
[...] neste modelo tanto a guarda jurídica quanto a material 
são atribuídas a um e a outro dos genitores, o que implica 
na alternância no período que o menor mora com cada um 
dos pais. Desta forma, cada um dos genitores no período 
de tempo preestabelecido a eles, exerce de forma exclusiva 
a totalidade dos direitos e deveres que integram o poder 
parental. Essa modalidade é repudiada pela doutrina e pela 
jurisprudência, pois a criança perde a referência já que não 
terá um lar fixo.
A perda da referência pela criança por não ter um lar fixo é o 
motivo pelo qual esse modelo não é adotado, isso porque a alternância 
pode atrapalhar consideravelmente na adaptação do menor e, assim, 
causar confusão e, até mesmo, um desequilíbrio, e no futuro poderá 
ocasionar prejuízos à sua formação.
Quando não há entre os genitores um consenso a respeito de 
quem ficará responsável pela guarda do menor, o Código Civil aponta 
como regra a guarda compartilhada, que será explanada no próximo 
tópico com mais clareza. 
4 Guarda compartilhada 
A guarda compartilhada foi trazida pela Lei 11.698/08, a qual 
regulou essa modalidade no direito brasileiro. Todavia, a prática 
ainda consagrava a guarda unilateral concedida à mãe. Logo, para 
que fosse realmente estabelecida e se utilizasse dessa modalidade de 
87GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL
guarda, surgiu a Lei 13.058/2014, tornando obrigatória a aplicação da 
guarda compartilhada, sempre que possível. Destaca-se que houve, 
inicialmente, objeções de que ela só se aplicaria se houvesse acordo 
entre os genitores. Contudo, a Lei regula o contrário dessa objeção, 
sendo aplicável também quando os genitores não acordam sobre quem 
será o responsável detentor da guarda do menor.
Primordialmente, deve-se compreender o conceito de guarda 
compartilhada. Na visão de Patrícia Ramos (2016, p. 53):
 
A expressão “guarda compartilhada” de crianças refere-se à 
possibilidade de os filhos de pais separados serem assistidos 
por ambos os pais. Nela, os pais têm efetiva e equivalente 
autoridade legal, não só para tomar decisões importantes 
quanto ao bem-estar de seus filhos, como também de 
conviver com esses filhos em igualdade de condições.
Nessa modalidade, ambos os genitores são encarregados de 
cuidar do menor e ter participação ativa e efetiva na vida deste, ou seja, 
ambos compartilham do tempo de forma equilibrada para poderem 
criar e educar o filho conjuntamente, apesar de não morarem juntos sob 
o mesmo teto. O menor mora na casa de um dos genitores, mas outro 
participa da vida como se morassem juntos, participando das atividades 
rotineiras da criança ou adolescente. 
Como já mencionado anteriormente, o Código Civil introduziu 
como regra a guarda compartilhada, prevendo, no artigo 1.583, § 1º, 
segunda parte do Código Civil, que: “[...] por guarda compartilhada a 
responsabilização conjunta do exercício de direitos e deveres do pai ou 
da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes o poder familiar 
dos filhos comuns.”.
Salienta-se, também, que o tempo de convívio dos pais deve ser 
equilibrado, de forma que prevaleçam os interesses do filho (§ 2º do 
artigo 1.583, CC/02). 
88 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
Rolf Madaleno (2016, p. 485) faz menção ao tempo de exercício 
da guarda compartilhada: 
Na guarda compartilhada não interessa quem estará detendo 
a custódia física do filho, como ocorre na guarda unilateral, 
ou no arremedo de uma guarda alternada, porque na guarda 
conjunta pura não deveria contar o tempode custódia, e 
na qual tratam os pais de repartir suas tarefas parentais, e 
assumem a efetiva responsabilidade pela criação, educação e 
lazer dos filhos, e não só um deles, como usualmente sucede. 
É importante destacar que a guarda compartilhada depende do 
bom relacionamento entre os genitores, pois, além de auxiliar que os filhos 
tenham convivência com ambos os pais de forma justa e equilibrada, 
também oportuniza que esses pais se relacionem de forma saudável, 
evitando, assim, confrontos e desgastes sobre tomadas de decisões em 
relação a eles, contribuindo para haja um bom desenvolvimento da guarda.
Nesta direção, posiciona-se Rolf Madaleno (2016, p. 485) sobre a 
importância da cooperação e o bom relacionamento dos pais: 
Importante, portanto, para o bom desenvolvimento da guarda 
compartilhada, será a cooperação dos pais, não existindo 
espaço para aquelas situações de completa dissensão dos 
genitores, sendo imperiosa a existência de uma relação 
pacificada dos pais e um desejo mútuo de contribuírem para 
a sadia educação e formação de seus filhos, ainda que fática e 
psicologicamente afetados pela separação de seus pais.
A guarda compartilhada surgiu com o propósito de prevenir 
eventuais problemas trazidos com os outros tipos de guarda, principalmente 
o fenômeno da alienação parental, que será abordado a seguir, além de ser a 
modalidade que melhor atende ao interesse dos menores.
89GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL
5 Alienação parental 
A alienação parental é um fenômeno ocorrido quando uma pessoa, 
normalmente um dos genitores do menor, por motivos diversos, entende por 
fazer interferências psicológicas na criança e no adolescente, prejudicando 
o convívio com o outro genitor. Fábio Vieira (2014, p. 39) ensina que:
[...] muitas das vezes um dos genitores implanta na pessoa 
do filho falsas ideias e memórias com relação ao outro, 
gerando, assim, uma busca em afastá-lo do convívio social, 
como forma de puni-lo, de se vingar, ou mesmo como intuito 
falso de supostamente proteger o filho menor como se o mal 
causado ao genitor fosse se repetir ao filho.
Para resguardar que ocorra tal interferência maléfica, foi criada 
a Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. A Lei de Alienação Parental 
brasileira não só é recente, datando de 2010, bem como é de pequena 
extensão. São apenas 11 (onze) artigos, sendo 2 (dois) vetados, 1 (um) 
que apresenta o assunto e 1 (um) que fala da sua vigência. Restam 7 
(sete) artigos para tratar especificamente da matéria.
A Lei citada, em seu artigo 2º, caracteriza o que é a alienação 
parental. Veja-se, in verbis:
Artigo 2º. Considera-se ato de alienação parental a 
interferência na formação psicológica da criança ou do 
adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, 
pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a 
sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor 
ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção 
de vínculos com este. 
Observa-se que esse artigo faz menção a quais pessoas são 
consideradas puníveis de alienação parental, que não são apenas as 
90 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
figuras dos pais/genitores, como também os avós, ou quem tenha 
influência sobre o menor. Logo, para que se configure a alienação 
parental, deve-se ater ao relacionamento de quem tenha o menor sobre 
sua guarda ou que tenha convívio corriqueiro com ele. 
Nesses mesmos moldes, é imprescindível analisar o parágrafo 
único do artigo 2º da Lei de alienação parental, que elenca formas 
exemplificativas de alienação. 
Art. 2º (...)
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação 
parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou 
constatados por perícia, praticados diretamente ou com 
auxílio de terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do 
genitor no exercício da paternidade ou maternidade; 
II - dificultar o exercício da autoridade parental; 
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; 
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de 
convivência familiar; 
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais 
relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, 
médicas e alterações de endereço; 
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra 
familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a 
convivência deles com a criança ou adolescente; 
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, 
visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente 
com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.
Observa-se que o ato disposto no inciso I do parágrafo 
único qualifica como ato de alienação parental qualquer tipo de 
conduta que faça com que o genitor seja afastado de sua condição 
de pai ou mãe. Ou seja, aquele que influencie de alguma forma a 
91GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL
desvinculação do filho com qualquer dos pais estará praticando o 
ato de alienar. 
O inciso II enfatiza que aquele que retirar a autoridade do genitor 
sobre o filho também praticará a alienação, pois, mesmo que não exista 
mais uma estrutura familiar, é direito e dever de ambos os genitores 
partilhar, de forma direta, da educação dos filhos, dos cuidados, 
prestando auxílio ao menor. 
A referência do inciso III caracteriza aquele ato que afasta do 
menor um dos pais, dificultando assim seu convívio e diminuindo 
os vínculos afetivos entre os dois. O inciso IV também teve o mesmo 
propósito de enfatizar a forma de afastamento do convívio, pois é direito 
dos pais, mesmo que não vivam no mesmo lar, conviver com os filhos 
regularmente, mediante exercício regular da guarda ou não. 
O inciso V inclui neste rol a omissão de informações sobre os 
filhos para os genitores, visto que estes devem ser informados de 
atividades ou situações importantes da vida dos filhos, como, por 
exemplo, se a criança está bem ou se passou por um mal estar e como 
ela está se saindo na vida escolar. São dados típicos e importantes que 
fazem parte de uma relação afetiva segura, em que são reafirmados os 
vínculos familiares. 
Fazer falsas denúncias sobre um dos genitores com o fim de 
prejudicar a relação dele para com o filho é constituído como ato de 
alienação parental expressamente explícito no inciso VI. O alienador, 
que tem como intuito prejudicar a relação familiar entre pais e filhos, 
não mede esforços para que o outro seja visto com maus olhos e que 
o filho queira cada vez mais estreitar os laços familiares com ele – o 
alienador. Fazer denúncias falsas é um meio de fazer com que isso 
ocorra cada vez mais rápido. 
O inciso VII é visto como a maneira mais utilizada de alienação 
parental. O alienador, com o fim de dificultar a convivência do filho para 
com o genitor, muda-se corriqueiramente de endereço sem informar 
para onde está se mudando, para que, assim, consiga cessar o contato 
92 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
do menor com os familiares e, de modo reflexivo, utiliza desse fim para 
inventar meios de dizer que são os avós ou o genitor que não querem ter 
contato ou não se importam com o neto/filho. 
Dessa forma, é necessário identificar o comportamento dos pais, 
avós ou outros responsáveis quanto à figura do menor. Quando se 
verifica que há alterações no comportamento da criança ou adolescente, 
como ansiedade, agressividade, nervosismo e, até mesmo, depressão, 
podem ser sérios indicativos de que, possivelmente, esteja ocorrendo 
uma alienação.
Conforme prevê o artigo 6º da Lei 12.318/10, que trata do tema, 
uma vez caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer 
conduta que dificulte a convivência da criança ou do adolescente com 
o genitor, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da 
decorrente responsabilidade civil ou criminal e segundo a gravidade do 
caso, adotar as seguintes medidas: 
Art. 6  (...)
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertiro 
alienador; 
II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do 
genitor alienado; 
III - estipular multa ao alienador; 
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou 
biopsicossocial; 
V - determinar a alteração da guarda para guarda 
compartilhada ou sua inversão; 
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou 
adolescente; 
VII - declarar a suspensão da autoridade parental. 
Por outro lado, se for caracterizada a mudança abusiva de 
endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar (visitas), 
o juiz também poderá determinar a alternância dos períodos de 
93GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL
convivência familiar (parágrafo único do art. 6º da Lei 12.318/10). 
O objetivo consiste em preservar o direito fundamental da 
convivência familiar saudável, preservando-se o afeto devido nas 
relações entre filhos e genitores no seio do grupo familiar.
É de suma importância ater-se às principais consequências da 
alienação parental. É muito difícil não correlacionar a alienação parental 
às suas consequências e sintomas, fatores geradores de desordem 
psíquica e até de uma inadequada formação ética e moral de quem sofre 
a alienação, que geralmente decorrem do fim da união familiar com o 
início das disputas referentes à guarda dos filhos menores. 
Os sintomas surgem em etapas. O primeiro sinal advém quando 
o alienado começa a captar a essência da alienação e ele mesmo começa 
a atacar o genitor como se aquele sentimento partisse dele, com motivos 
projetados como se reais fossem e que, na maioria das vezes, não o são, 
pois se trata de mentiras utilizadas com propósito de interferir, denegrir 
e destruir a imagem afetiva do genitor com o filho, resultando no fato de 
o menor acabar tomando partido e executando tais ações por vontade 
própria. 
A partir do momento que o menor toma partido e começa a ter 
atitudes de atacar o genitor alienado, o fluxo de condutas feito pelo 
alienador é diminuída, porque o trabalho para implantar o ódio já 
obteve êxito e este não precisará ficar estimulando o menor a denegrir 
o genitor. Isso se dá porque tal sentimento já será real e não palpável 
de culpa, não importando para o filho se o outro é bom, já que, na sua 
consciência, ele sempre será a pior pessoa do mundo, digna apenas 
repulsos. (MADALENO; MADALENO, 2017, p. 56)
Daí surge o distanciamento e o medo do genitor, a sensação de se 
estar em perigo quando se está próximo dele, resultando na construção 
da figura do genitor alienador como uma espécie de porto seguro, 
já que este será sempre bom e nunca terá a capacidade de lhe fazer 
mal. Imagina-se, então, como se sentirá o genitor acusado de coisas 
totalmente absurdas, e como é desesperador perceber o reflexo que isso 
94 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
gera no filho, ao vê-lo odiando-o e com medo de tê-lo por perto. São 
esses e outros diversos fatores que geram as consequências da alienação 
parental. 
As consequências tendem a ser bilaterais, uma vez que não 
ocorrem somente no menor, sendo, também, propensas a acarretar 
desgastes e sintomas no genitor acusado, na medida em que, ao perceber 
a ruptura do vínculo afetivo com o filho, por razões e circunstâncias 
as quais não foram motivadas, este tenderá a sofrer de ansiedade e 
insegurança em relação às atitudes futuras do menor. Notoriamente, 
essas aflições podem desencadear algum tipo de transtorno e, diversas 
vezes, uma depressão.
6 Guarda compartilhada como prevenção para a alienação parental 
A guarda compartilhada veio para resguardar a criança de eventual 
dano trazido pela guarda unilateral, tal como o convívio com apenas 
um dos genitores. A guarda compartilhada se tornou de preferência 
obrigatória, visto que, na ausência de acordo entre os genitores, será 
aplicada pelo juiz sempre que possível, assim como determina o § 2º do 
artigo 1.584 do Código Civil.
Nessa essência, Fábio Figueiredo e Georgios Alexandridis (2014, 
p. 97-98) mencionam a eficácia da guarda compartilhada como meio de 
prevenção da alienação parental: 
O instituto da guarda compartilhada, pois é um meio 
eficaz de evitar a concentração do poder familiar em um 
só genitor, cujo terreno é altamente propício para gerar 
a alienação parental, caracterizada com a programação, 
ou seja, com a alteração de consciência do menor, cuja 
síndrome aparece como definição de uma série de atos de 
abuso emocional, observada há anos no Poder Judiciário, 
mas jamais compreendida, identificada, vale dizer, nunca 
antes denunciada como hoje em dia ela se mostra tão clara, 
95GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL
e perversamente presente, como permitiram enxergar os 
profundos conhecimentos das áreas da psicologia e da 
psiquiatria, comprovando, ademais, os efeitos nocivos desses 
pais alienadores na criação de seus filhos.
Cumpre ressaltar que as disputas entre os genitores sobre a 
posse dos filhos são prejudiciais para a saúde psíquica destes e, por esse 
motivo, a alienação parental deveria ser tratada como questão de saúde 
pública, uma vez que a guerra travada entre os pais é refletida nos filhos 
negativamente, gerando problemas em sua formação. 
Por serem conjuntamente estabelecidos os direitos e os deveres 
da guarda compartilhada, os pais, em seus devidos papéis, efetivamente 
cuidam do filho de maneira que este não se sinta menosprezado por 
nenhum dos dois. O carinho e os laços afetivos podem ser diariamente 
reafirmados, até pelo simples fato que ambos se farão presentes na vida 
do menor. 
Observa-se que, se os pais cuidam juntos do filho, os dois 
concorrem para o desenvolvimento dele de forma saudável, as brigas 
serão menos frequentes e o sentimento do filho por qualquer um dos 
dois não será diminuído. Dessa maneira, a guarda compartilhada tem 
como missão acabar com essa estrutura de poder de que filho é só do 
pai ou da mãe. O filho é de ambos os pais e, por conseguinte, os dois 
têm como responsabilidade, de forma conjunta, auxiliarem-no em tudo 
o que for necessário para que se sinta feliz e realizado no ambiente 
familiar. Mesmo que os pais não estejam mais juntos, devem atender ao 
Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente.
A jurisprudência já é pacífica a esse respeito e, quando necessário, 
sempre será aplicada a guarda compartilhada com o fim de prevenir a 
alienação parental e evitar seus efeitos, como demonstrado a seguir: 
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. 
RELAÇÃO DE CONFLITUOSIDADE ENTRE OS 
GENITORES. ALIENAÇÃO PARENTAL PRATICADO PELA 
96 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
GENITORA. MANUTENÇÃO DO LAR DE REFERÊNCIA 
MATERNO. JUÍZO DE PROPORCIONALIDADE. 
PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. 
AMPLIAÇÃO GRADATIVA DO REGIME DE VISITAS. 
GUARDA COMPARTILHADA. 1. A prática da alienação 
parental perpetrada pela mãe pode acarretar para o menor 
prejuízos em seu desenvolvimento psicológico. Ademais, 
a prática dessa reprogramação da criança fere o seu direito 
fundamental à convivência familiar saudável, prejudica a 
realização de afeto nas relações com o genitor e constitui 
abuso moral contra a criança. Tal prática é fortemente repelida 
por nosso ordenamento jurídico, devendo o alienante estar 
atento quanto ao bem estar físico e psicológico da criança, 
sob pena de arcar com as consequências de atos por ele 
praticados e que possam prejudicar o menor, seja de forma 
direta ou indireta. 2. Na espécie, a despeito da comprovada 
alienação parental praticada pela mãe e das sanções que o ato 
enseja, é importante realizar um juízo de proporcionalidade 
entre as disposições legais e o princípio do melhor interesse 
da criança. Determinar a mudança para o lar paterno, apesar 
de ser cabível legalmente, pode ser traumático para a criança, 
pois durante o curso do processo restou demonstrado que 
o filho sempre residiu com a mãe e já passou meses sem ter 
contato com o pai. Neste momento, ampliar o regime de 
visitas do pai e construirpaulatinamente uma relação mais 
amorosa com o filho pode amenizar os efeitos deletérios da 
alienação no estado psicológico da criança e, aos poucos, 
resgatar relação entre eles. 3. No processo de ponderação 
entre as sanções legais e o princípio constitucional do melhor 
interesse da criança, da proteção integral e preservação 
da sua dignidade, vislumbra-se que a manutenção do lar 
de referência materno atende melhor às necessidades do 
infante, ressalvando que se a mãe permanecer recalcitrante 
em seu intento de destruir a figura paterna, bem como 
97GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL
inviabilizar a reaproximação dos laços afetivos entre eles, a 
situação poderá ser alterada, inclusive com a cominação da 
sanção de suspensão do poder familiar. 4. Ao realizar o juízo 
de ponderação entre as sanções previstas na lei e o princípio 
do melhor interesse do menor, este deve preponderar. A 
análise deve ser feita por meio de método comparativo 
entre os custos e benefícios da medida examinada, realizada 
não apenas por uma perspectiva estritamente legalista, 
mas tendo como pauta o sistema constitucional de valores. 
5. “Em atenção ao melhor interesse do menor, mesmo na 
ausência de consenso dos pais, a guarda compartilhada 
deve ser aplicada, cabendo ao Judiciário a imposição das 
atribuições de cada um. Contudo, essa regra cede quando os 
desentendimentos dos pais ultrapassarem o mero dissenso, 
podendo resvalar, em razão da imaturidade de ambos e da 
atenção aos próprios interesses antes dos do menor, em 
prejuízo de sua formação e saudável desenvolvimento (art. 
1.586 do CC/2002)”. (REsp 1417868/MG, Rel. Ministro JOÃO 
OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado 
em 10/05/2016, DJe 10/06/2016). 6. Apelo conhecido e 
parcialmente provido. Apelo adesivo conhecido e desprovido.
(TJ-DF 20130111698702 - Segredo de Justiça 0044829-
95.2013.8.07.0016, Relator: CARLOS RODRIGUES, Data 
de Julgamento: 14/12/2016, 6ª TURMA CÍVEL, Data de 
Publicação: Publicado no DJE : 24/01/2017 . Pág.: 736/791). 
(STJ, 2016, on-line).
Com o fim de diminuir os efeitos da alienação parental e evitar que 
desencadeie a síndrome da alienação parental, a guarda compartilhada 
é a melhor escolha. Ela promoverá um equilíbrio entre os genitores, 
diminuindo, consideravelmente, a possibilidade de um denegrir o 
outro. Portanto, o filho, convivendo constantemente com ambos os pais, 
poderá ele mesmo ter suas próprias conclusões sobre a figura do pai 
e da mãe, sem que seja influenciado por qualquer um dos dois. Além 
98 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
do mais, terá uma convivência familiar saudável, estabelecendo laços 
afetivos com ambos os genitores.
7 Considerações finais 
O presente artigo teve como finalidade abordar um assunto de 
grande relevância social, ademais constatar como a guarda compartilhada 
se tornou o meio eficaz de prevenção contra a alienação parental. Para 
isso, não se mediram esforços para deixar essa tese evidente. 
A questão da guarda é muito importante, pois trata do futuro do 
filho, de como este será educado, como seus cuidados serão exercidos 
e, se os genitores não colaborarem entre si, pode vir o filho a ser muito 
prejudicado durante toda sua fase de desenvolvimento.
O principal designo foi de esclarecer a real intenção da 
implementação da guarda compartilhada, além de discorrer sobre um 
tema tão importante que é a alienação parental e que vem ganhando 
espaço cada vez maior nos tribunais. 
A guarda compartilhada surgiu com a finalidade de evitar a 
síndrome da alienação parental, pelo simples fato desses efeitos não 
serem tratados. Apesar de muito comuns, não existe a finalidade saúde, 
ou seja, por mais que causem danos de desordem psiquíca nos alienados, 
não há tramento justificado para esses males.
É muito importante observar que, quando os pais não vivem 
mais juntos, seja pelo término do casamento, seja da união estável, 
ou, até mesmo, quando o filho foi fruto de uma relação na qual os pais 
nunca mais tiveram contato, tende haver disputa sobre os filhos, por 
entenderem que o filho é de posse de um ou outro ou por vigança pelo 
fim do relacionamento. Por motivos diversos, buscam uma maneira 
de atingir um ao outro por meio do filho, o que resulta na alienação 
parental.
Na guarda unilateral ocorre muito isso, porque o filho mora com 
um dos genitores e o outro apenas o visita. Na prática, o filho fica um 
99GUARDA COMPARTILHADA: UMA PREVENÇÃO JURÍDICA PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL
fim de semana com o genitor não detentor da guarda. Nessa modaliade, 
o vínculo entre pai e filho é muito escasso, o que dá dimensão e abertura 
para que surja a alienação parental. Quando é constatada juridicamente 
a existência dessa alienação, busca-se, por meio da alteração da 
modalidade de guarda unilateral para guarda compartilhada, evitar que 
surjam os efeitos decorrentes da síndrome da alienação parental. 
Na guarda compartilhada, os pais, de modo conjunto, devem 
cuidar e educar o filho e conviver com este filho períodos de tempo 
iguais, ou seja, de forma equilibrida. Isso tem grande chance de 
aumentar o vínculo entre pais e filho e, consequentemente, melhorar 
o convívio entre os genitores, diminuindo, assim, as disputas, além de 
aumentar os laços afetivos e propiciar um ambiente familiar saúdavel 
para a criança ou adolescente. Dessa forma, conclui-se que a guarda 
compartilhada vem sendo um meio mais eficaz de prevenção contra a 
alienação parental. 
8 Referências
CASSETTARI, Christiano. Elementos do direito civil. 6. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2018.
CNJ. Conselho Nacional de Justiça. Agência CNJ de Notícias. CNJ 
serviço: entenda o que é suspensão, extinção e perda do poder 
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jus.br/noticias/cnj/80757-cnj-servico-entenda-o-que-e-suspensao-
extincao-e-perda-do-poder-familiar>. Acessado em 10 de abril de 2019.
FIGUEIREDO, Fábio Vieira; ALEXANDRIDIS, Georgios. Alienação 
Parental. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. 
GRISARD FILHO, Waldir, Guarda Alternada: saiba por que não é 
aceita pelos tribunais brasileiros. Publicado em: 2015. Disponível em: 
100 Laís Fernanda Almeida | Adriano Cielo Dotto
https://contiekruchinski.jusbrasil.com.br/artigos/187855767/guarda-
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MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome 
da Alienação Parental: importância da detecção – aspectos legais e 
processuais. 4ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense. 2017. 
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 7ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de 
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RAMOS, Patrícia Pimentel de Oliveira Chambers. Poder familiar e 
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ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
SOUZA, Amabili Capella de. Análise da destituição do poder familiar 
prevista no código civil de 2002 em consonância com o estatuto da 
criança e do adolescente. Publicado em: 2014. Disponível em: <https://
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TJDF. Segredo de Justiça:0044829-95.2013.8.07.0016. Relator: Carlos 
Rodrigues. DJ: 14/12/2016. Jus Brasil, 2017. Disponível em: <https://
tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/425612763/20130111698702-
segredo-de-justica-0044829-9520138070016?ref=serp> Acessado em 
21/05/2019.
101
OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO 
TRIBUNAL FEDERAL QUE DECLAROU A 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 
1.790 DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO 
OS DIREITOS SUCESSÓRIOS DO 
COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
Ana Caroline Pereira Sampaio
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Resumo: Diante de inúmeras polêmicas e controvérsias versando 
sobre o artigo 1.790 do Código Civil, o STF, em maio de 2017, no 
julgamento dos Recursos Extraordinários n° 878.694/MG e nª 646.721/
RS, entendeu pela inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código 
Civil, equiparando os direitos sucessóriosdo companheiro aos direitos 
reconhecidos ao cônjuge, previsto no artigo 1.829 do CC/02. Desse 
modo, o presente trabalho incumbiu-se em abordar o Princípio da 
Igualdade entre cônjuges e companheiros no atual contexto histórico do 
país, analisando as principais consequências da decisão que equiparou 
os direitos sucessórios do companheiro aos do cônjuge, verificando a 
extensão dessa decisão, principalmente, no que concerne à inclusão 
ou não do companheiro no rol dos herdeiros necessários, previsto no 
art. 1.845 do CC/2002, bem como o direito real de habitação previsto 
no artigo 1.831 do CC/2002. Para alcançar os objetivos delineados 
neste artigo, foram utilizados como fontes, para sua elaboração, artigos 
102 Ana Caroline Pereira Sampaio | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
científicos que tratam do tema, bem como material doutrinário e 
jurisprudencial relativos ao tema em foco. Portanto, concluiu-se que, por 
mais que se trate de institutos diferentes quanto às suas formalidades, 
sua essência possui o mesmo significado, que é constituir família. Por 
essa razão, não existe hierarquização de institutos familiares, ou seja, 
a família constituída pelo casamento não é mais importante do que a 
família que se formou por meio de uma união estável. Assim, não pode 
haver divergências quanto à sucessão do cônjuge e do companheiro.
Palavras-chave: Direito de Família. Casamento. União Estável. Sucessão. 
1 Introdução
O presente artigo visa realizar o estudo sistemático envolvendo 
os direitos sucessórios do companheiro, após o reconhecimento da 
inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, que buscou 
equiparar os direitos do companheiro aos do cônjuge. 
Nesse sentido, após se realizar uma visão panorâmica sobre 
os institutos do casamento e da união estável, bem como a análise 
do reconhecimento da união estável como entidade familiar pela 
Constituição Federal de 1988, e das leis que regulamentavam o instituto, 
foi possível se observar o grande retrocesso trazido pelo Código 
Civil de 2002 em estabelecer o tratamento diferenciado atribuído ao 
companheiro em relação ao cônjuge por meio do artigo 1.790 do Código 
Civil, na sucessão.
Sob essa vertente, a discriminação conferida ao companheiro, 
pelo atual Código Civil, no dispositivo que versava sobre os direitos 
sucessórios, era descabida de razoabilidade, uma vez que a figura do 
convivente recebia tratamento bem diverso da do cônjuge, gerando 
diversos questionamentos sobre a inconstitucionalidade do dispositivo.
Desse modo, restou indispensável a manifestação do Supremo 
Tribunal Federal (STF), tido como o guardião da Constituição, para 
103OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DECLAROU A 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO OS DIREITOS 
SUCESSÓRIOS DO COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
resolver a questão suscitada envolvendo a inconstitucionalidade do 
artigo 1.790 do CC/02.
Portanto, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar 
os reflexos da decisão do Supremo Tribunal Federal que declarou a 
inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, equiparando os 
direitos sucessórios do companheiro aos do cônjuge.
São objetivos específicos os seguintes: compreender os aspectos 
jurídicos dos institutos da união estável e do casamento; analisar a 
distinção entre os direitos sucessórios do companheiro e do cônjuge 
pelo Código Civil de 2002; verificar a extensão da decisão do STF 
no que concerne a inclusão ou não inclusão do companheiro no 
rol dos herdeiros necessários, previsto no art. 1.845, e ao direito real 
de habilitação conferido ao companheiro, segundo o artigo 1.831 do 
Código Civil. 
No presente Trabalho de Curso, far-se-á necessária a utilização 
de doutrinas e jurisprudências que abordem o tema de forma clara 
e responsável, fornecendo respaldo teórico-metodológico a fim de 
consubstanciar o teor da presente pesquisa, contribuindo, sobretudo, 
para com sua riqueza acadêmica, em busca dos melhores resultados.
2 Os Aspectos Jurídicos do Casamento e da União Estável
De acordo com o Código Civil de 2002, em seu artigo 1.511, o 
casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade 
de direitos e deveres dos cônjuges (BRASIL, 2002). Conforme Carvalho 
(2012), o texto do artigo 1.511 do Código Civil destaca a responsabilização 
do casal frente à família, de forma conjunta, destacando-se os princípios 
da afetividade e da convivência familiar.
Em se tratando de família, é bom esclarecer o que se deve entender 
por casamento. O casamento é um ato jurídico negocial solene, público e 
complexo, mediante o qual um homem e uma mulher constituem família, 
pela livre manifestação de vontade e pelo reconhecimento do Estado. 
104 Ana Caroline Pereira Sampaio | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
A Constituição Federal brasileira de 1988 trata da família no seu 
CapítuloVII, dispondo nos parágrafos do artigo 226 sobre as entidades 
familiares, reconhecendo, expressamente, o casamento, a união estável e a 
família monoparental. Assim, a proteção estatal atribuída à família, no texto 
constitucional (caput do art. 226), deve ser concedida a todos os tipos de 
famílias, sejam elas constituídas por união estável, sejam por casamento. 
A respeito da união estável, o Código Civil de 2002 estabelece, 
em seu artigo 1.723, que “é reconhecida como entidade familiar a união 
estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, 
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de 
família”. Nesse sentido, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho (2019, 
p. 430) entendem que se trata de um instituto com “(...) uma relação 
afetiva de convivência pública ou duradora, entre duas pessoas, do mesmo 
sexo ou não, com o objetivo imediato de constituição de família.”. 
Entendem citados juristas que não há hierarquia entre os tipos de 
família. Esse é inclusive o posicionamento do Supremo Tribunal Federal, 
no julgamento da ADI 4277 e da ADPF 132, nas quais reconheceu a 
“inexistência de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre 
as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo 
doméstico” (ADI 4277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, j. 05.05.2011).
Portanto, da mesma forma como ocorre no casamento, os 
companheiros devem observar os direitos e os deveres recíprocos 
em suas relações pessoais, tais como o dever de lealdade, respeito, 
assistência, guarda, sustento e educação dos filhos, de acordo com o 
artigo 1.724 do Código Civil. Por essa razão, o ordenamento jurídico 
brasileiro estabelece inúmeras prerrogativas comuns ao cônjuge e ao 
companheiro, por se tratarem de institutos similares. Não obstante as 
semelhanças, existem diversas questões referentes ao casamento que 
não cabem aplicá-las à união estável. 
Todavia, o casamento e a união estável são institutos que 
apresentam características diferentes. Conforme apontam Rafael 
Mercadante Júnior e Leticia Nascimbem Colovati (2017, p. 37):
105OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DECLAROU A 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO OS DIREITOS 
SUCESSÓRIOS DO COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
Ao passo em que o casamento advém de atos solenes, formais, 
jurídicos e possui prova tangível de comprovação, a união estável 
não se atém a tais formalidades, bastando a convivência pública, 
contínua e duradoura e com o ânimo de constituir família, a 
qual deverá ser comprovada mediante análise de sua casuística.
É possível abstrair dessas informações que o casamento está 
consubstanciado em uma série de solenidades, formalidades e atos 
jurídicos, sendo que todos esses requisitos são exigidos por lei, enquanto 
a união estável não se prende a essas normas. Por meio disso, é possível 
tecer as principais diferenças legais entre tais institutos, as quais podem 
ser encontradas no Código Civil de 2002.
A primeira diferença entre o casamento e a união estável, a ser 
apontada neste estudo, refere-se à constituição de cadaum desses 
institutos. O casamento é um ato solene, que necessita de um processo 
de habilitação para que possa ocorrer (art. 1.512, parágrafo único, CC). 
Atendidos os requisitos exigidos nessa etapa, o casamento somente 
se realizará no momento em que o homem e a mulher manifestarem, 
perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal e o juiz os 
declarar casados (art. 1.514, CC). 
Por outro lado, para que a união estável seja reconhecida como 
entidade familiar, é necessário o preenchimento dos requisitos exigidos 
no artigo 1.723 do Código Civil, quais sejam: que a união estável seja 
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida 
com o objetivo de constituição de família. Não há exigência de ato 
formal, tal como um contrato de convivência.
Portanto, a principal diferença desses institutos são as formalidades 
exigidas por lei quanto aos seus reconhecimentos. Podem-se identificar, 
ainda, outras diferenças quanto ao casamento e à união estável no que 
tange ao regime de bens. 
O Código Civil de 2002 estabelece quatro regimes de bens: o 
regime de comunhão parcial de bens, o regime de comunhão universal 
106 Ana Caroline Pereira Sampaio | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
de bens, o regime de separação total de bens e o regime de participação 
final nos aquestos, que estão disciplinados nos artigos 1.639 a 1.688 
da Lei Civil. Acontece que, ao ler esses artigos, nota-se que não fazem 
menção ao “companheiro”, mas apenas ao cônjuge (MERCADANTE 
JÚNIOR; COLOVATI, 2017).
Assim, existe um debate doutrinário e divergências 
jurisprudenciais acerca de se as regras de separação obrigatória de bens 
para o casamento incidiriam também na união estável.
Outro aspecto importante é quanto aos impedimentos e às 
causas suspensivas do casamento. De acordo com o §1º do art. 1.723, os 
impedimentos se aplicam à união estável, com exceção do inciso VI, no 
caso de a pessoa casada estar separada de fato ou judicialmente. Quando 
às causas suspensivas, prevê o §2º do art. 1.723 que elas não impedirão 
a caracterização da união estável. 
Diante dessas particularidades existentes entre os dois institutos, 
e de diversas outras previstas no Código Civil de 2002, depreende-se 
que tratam de institutos bastante diferentes. Entretanto, as diferenças 
existentes entre o cônjuge e o companheiro não podem chegar ao ponto 
de dirimir direitos dos companheiros em detrimento dos cônjuges, ou 
vice-versa (MERCADANTE JÚNIOR; COLOVATI, 2017). Por essa 
razão, é preciso analisar atentamente o artigo 1.790 do Código Civil, 
assunto do próximo tópico.
3 Distinção entre os direitos sucessórios do companheiro e do 
cônjuge pelo Código Civil de 2002
A Constituição Federal de 1988 reconheceu a união estável 
como entidade familiar, em seu artigo 226, § 3º, nos seguintes termos: 
“Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre 
o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar a 
sua conversão em casamento”, direcionando ao entendimento de que a 
união estável não seria igual ao casamento, tendo em vista que institutos 
107OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DECLAROU A 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO OS DIREITOS 
SUCESSÓRIOS DO COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
iguais não se convertem um no outro. Por essa razão, é que havia um 
tratamento diferenciado do companheiro em relação aos direitos 
sucessórios do cônjuge, estabelecido no Código Civil de 2002.
Esse tratamento diferenciado apareceu na legislação jurídica civil, 
que, ao disciplinar sobre o tema da sucessão, reservou em seu Livro V 
(Do Direito Das Sucessões), Título I, no artigo 1.790, a possibilidade do 
direito de sucessão pelo companheiro, desde que haja a comprovação de 
que a aquisição dos bens resultou de forma onerosa durante a vigência 
da união. Confira-se a seguir:
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará 
da sucessão um do outro, quanto aos bens adquiridos 
onerosamente na vigência da união estável, nas seguintes 
condições:
I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota 
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II – se concorrer com descendentes só do autor da herança, 
tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; 
III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito 
a um terço da herança;
IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito a 
totalidade da herança. 
Nota-se que, com a simples leitura do dispositivo, é possível 
observar a divergência conferida pelo legislador às relações sucessórias 
do casamento e da união estável. Assim, enquanto o sistema sucessório do 
casamento está baseado em normas (principiológicas e regulatórias), as 
normas que norteiam a sucessão na união estável aplicáveis ao companheiro 
sobrevivente são notoriamente menos favoráveis, demonstrando a clara 
opção do legislador em prestigiar o sistema sucessório do casamento, de 
acordo com Farias e Rosenvald (2019, p. 286). 
Noutro giro, o artigo 1.829 do CC/02 reconhece o direito 
sucessório do cônjuge supérstite nos seguintes termos:
108 Ana Caroline Pereira Sampaio | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge 
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime 
da comunhão universal, ou no da separação obrigatória 
de bens; ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da 
herança não houver deixado bens particulares;
II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III – ao cônjuge sobrevivente;
IV – aos colaterais.
Em relação ao artigo 1.829 do CC, Farias e Rosenvald (2019) 
asseveram que:
Ignorou toda a evolução histórica da união estável e, ao 
mesmo tempo, atentou frontalmente contra a ideologia 
constitucional de proteção especial do Estado dedicada 
a quem vive em companheirismo. Trata-se de visível e 
indiscutível retrocesso. E, relembrando a sede constitucional 
da proteção da união estável, é de se pontuar a proibição 
de retrocesso social, também denominado proibição de 
evolução reacionária, que advém da mais avançada doutrina 
constitucional.
No mesmo sentido contrário às disposições do CC quanto à 
sucessão do companheiro, estabelecida pelo artigo 1.829, Maria Berenice 
Dias (2011, p. 161) faz o seguinte comentário:
As diferenças são absurdas. O tratamento diferenciado não 
é somente perverso, escancaradamente inconstitucional, 
afrontando de forma direta os princípios da igualdade e da 
dignidade da pessoa humana, sem falar na desequiparação 
preconizada entre duas células familiares: união estável e 
casamento. No mesmo dispositivo em que assegura especial 
proteção à família, a Constituição reconhece a união estável 
109OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DECLAROU A 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO OS DIREITOS 
SUCESSÓRIOS DO COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
como entidade familiar, não manifestando preferência por 
qualquer de suas formas. O retrocesso da lei se afasta da 
razoabilidade.
Embora parte da doutrina ainda propague a tese de compatibilidade 
do texto legal com a Constituição, sob a justificativa de que o próprio 
constituinte almejava priorizar o casamento em detrimento da união 
estável, a grande maioria dos doutrinadores se posiciona em sentindo 
oposto, identificando que a solidariedade, o respeito e a dignidade das 
pessoas que estão no casamento e na união estável são os mesmos, 
ao passo que o próprio Texto Constitucional determinou que toda e 
qualquer família merece especial proteção do Estado, defendendo, 
assim, a inconstitucionalidade do sistema de sucessão do companheiro. 
Nesse sentido, Tartuce (2019, p. 334) acentua que o tratamento 
deve ser o mesmo no caso de cônjuge ou companheiro homoafetivo, 
diante da evolução doutrinária e jurisprudencial que culminou com o 
pleno reconhecimento das famílias homoafetivas no Brasil, apesar da 
falta de regulamentaçãolegal até o presente momento jurídico nacional.
4 Principais consequências jurídicas no direito sucessório após a 
decisão que o reconheceu a inconstitucionalidade do artigo 1.790 
do Código Civil
O Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2017, decidiu, 
por maioria dos votos, que deve haver uma equiparação sucessória entre 
o casamento e a união estável, reconhecendo a inconstitucionalidade 
do artigo 1.790 do Código Civil (STF, Recurso Extraordinário 878.694/
MG, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, j. 10.05.2017). Nos termos do 
voto do relator, “não é legítimo desequiparar, para fins sucessórios, os 
cônjuges e os companheiros, isto é, a família formada pelo casamento e a 
formada pela união estável. A hierarquização entre entidades familiares 
é incompatível com a Constituição” (julgamento com repercussão 
110 Ana Caroline Pereira Sampaio | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
geral). A tese fixada, nesse histórico julgamento, foi a seguinte: “No 
sistema constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de regimes 
sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, 
em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002” 
(publicado no Informativo n. 864 da Corte). 
De acordo com o Ministro Luís Roberto Barroso – redator do 
acórdão do Recurso Extraordinário nº 646.721/RS – é inconstitucional 
a diferenciação estabelecida pelo Código Civil no artigo 1.790 e, em 
virtude disso, fundamenta o seu ponto de vista:
Não é legítimo desequiparar, para fins sucessórios, os 
cônjuges e os companheiros, isto é, a família formada pelo 
casamento e a formada por união estável. Tal hierarquização 
entre entidades familiares é incompatível com a Constituição 
de 1988. Assim sendo, o art. 1790 do Código Civil, ao 
revogar as Leis nº 8.971/1994 e nº 9.278/1996 e discriminar 
a companheira (ou o companheiro), dando-lhe direitos 
sucessórios bem inferiores aos conferidos à esposa (ou ao 
marido), entra em contraste com os princípios da igualdade, 
da dignidade humana, da proporcionalidade como vedação à 
proteção deficiente e da vedação do retrocesso. (STF. Recurso 
Extraordinário nº 646.721/RS. Rel. Min MARCO AURÉLIO. 
Brasília, 10 de maio de 2017).
A decisão que culminou no reconhecimento da 
inconstitucionalidade do artigo 1.790 do CC/02 deixou de fazer 
qualquer menção acerca da inserção ou não inserção do companheiro 
no rol dos herdeiros necessários, estabelecido no artigo 1.845 do 
CC/02, bem como sobre o direito real de habitação, previsto no artigo 
1.831 do CC/02, rendendo incontáveis discussões acerca das questões 
controvertidas envolvendo o tema do direito da sucessão, que será mais 
bem trabalhado a seguir. 
111OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DECLAROU A 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO OS DIREITOS 
SUCESSÓRIOS DO COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
4.1 Quanto à extensão dos direitos sucessórios 
4.1.1 Herdeiros necessários
O herdeiro necessário é aquele compreendido dentre os elencados 
no artigo 1.845 do CC/02 e possui direito a uma fração da herança 
deixada pelo falecido, compondo-se essa fração da metade do acervo 
hereditário, constituindo a chamada legítima.
Após a decisão do STF, que reconheceu a inconstitucionalidade 
do artigo 1.790 do CC/02, contundentes têm sido as discussões 
doutrinárias no que tange à inclusão ou não do companheiro no rol dos 
herdeiros necessários previsto no artigo 1.845 do Código Civil, levando 
em consideração principalmente a posição que o companheiro passou a 
ocupar para efeitos do artigo 1.829 do Código Civil. 
Salienta-se que o companheiro supérstite não foi abrangido por 
nenhum dos citados dispositivos como sendo herdeiro necessário, 
restando, assim, dúvidas acerca de qual seria a real intenção do legislador 
sobre a posição a ser ocupada pelo companheiro. 
A dúvida insurge quando questionada a posição ocupada pelo 
companheiro sobrevivente, se seria a de herdeiro necessário ao lado do 
cônjuge ou de herdeiro facultativo. Tal questionamento tem dividido o 
entendimento da doutrina, que ora manifesta-se pelo reconhecimento 
do convivente como herdeiro necessário, ora entende que sua posição se 
limita a de herdeiro facultativo.
Na visão da maior parte da doutrina, o companheiro deve ser 
considerado herdeiro necessário em respeito às normas constitucionais 
que tutelam a proteção plena da pessoa humana, devendo a família ser 
um espaço de enaltecimento pessoal, em que há o cumprimento dos 
direitos fundamentais mais básicos, com a valorização de todos os 
membros. Corroborando com esse entendimento, o autor Luiz Paulo 
Vieira de Carvalho defende que não se poderia aplicar analogicamente 
o art. 1.850 do CC/2002, que apresenta os herdeiros facultativos, ao 
112 Ana Caroline Pereira Sampaio | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
companheiro sobrevivente. Isso porque a interpretação analógica 
não deve ser utilizada para restringir direitos aos sujeitos, e sim para 
favorecê-los, manifestando pela aplicação analógica do art. 1.845 do 
CC/2002 à sucessão dos conviventes, conforme citação de Bárbara 
Valério Machado (2017, p. 55-57)
Parte da doutrina coloca-se a favor da inclusão do companheiro 
na condição de herdeiro necessário, entendendo tratar-se de uma 
norma de proteção patrimonial, que visa garantir ao companheiro 
o mínimo existencial, evitando que esse permaneça em condição de 
vulnerabilidade, principalmente no que diz respeito aos bens comuns 
constituídos na constância da união estável, defendendo a posição de 
que o companheiro deve ser incluído no rol dos herdeiros necessários 
do artigo 1.845 do Código Civil. 
Diante das acerbadas controvérsias envolvendo o assunto, o 
Instituto Brasileiro de Família (IBDFAM) opôs Embargos de Declaração 
no Recurso Extraordinário Nº 878.694, questionando a aplicabilidade, 
às uniões estáveis, do art. 1.845 e de outros dispositivos do Código 
Civil que conformam o regime sucessório dos cônjuges, como explica o 
professor Mário Luiz Delgado (2018). 
No julgamento, o STF se manifestou sustentando a tese de que 
inexiste omissão no acórdão embargado a ser sanada, uma vez que o objeto 
da repercussão geral reconhecida não abrangeu o dispositivo do artigo 
1.845, bem como qualquer outro dispositivo do Código Civil, limitando-se 
apenas à aplicação do art. 1.829 do Código Civil às uniões estáveis.
Nessa esteira, o IBDFAM pactua com o entendimento de que a 
decisão do STF se mostrou adequada e lógica com os atuais ditames da 
sociedade, eis que, ao se restringir a liberdade testamentária do autor 
da herança, no caso da união estável, demonstrar-se-ia um absoluto 
descompasso com a realidade social, marcada pela interinidade dos 
vínculos conjugais. 
Seguindo essa linha, têm-se que as leis gozam de presunção 
de legitimidade e de constitucionalidade, logo a não manifestação do 
113OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DECLAROU A 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO OS DIREITOS 
SUCESSÓRIOS DO COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
STF, com relação ao art. 1.845, que exclui o companheiro supérstite 
do rol de herdeiros necessários, presume-se a sua constitucionalidade. 
Consequentemente, não se pode, em absoluto, pressupor a sua 
inconstitucionalidade a fim de afastar a sua vigência, a menos que o STF 
volte a se manifestar sobre o tema
4.1.2 Direito real de habitação
O direito real de habitação está disposto no artigo 1.831 do Código 
Civil, é reconhecido ao cônjuge sobrevivente, independentemente do 
regime de bens do casamento, recaindo o direito real de habitação 
relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que 
seja o único daquela natureza a inventariar. 
Partindo desse pressuposto, o grande questionamento que se faz 
é se “o direito real de habitação do cônjuge, previsto no artigo 1.831 do 
Código Civil, deverá ser estendido ao companheiro, após a decretação de 
inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, ainda que seja uma 
norma de cunhopatrimonial e não existencial. Como ficará a situação de 
pessoas que optam por conviver em união estável, justamente com o objeto 
de não gerar contra o seu patrimônio os mesmos efeitos do casamento? 
Nessa esteira, segundo os ensinamentos do professor Flávio 
Tartuce (2019, p. 420), existem, no atual cenário, duas correntes 
doutrinárias que versam sobre o tema. Uma, retirada da obra doutrinária 
do Professor Francisco Cahali, entende que o companheiro não teria 
o citado direito real de habitação, em razão de ter agido o legislador 
de modo silente, não pretendendo assim tratar desse direito, pois não 
quis incluí-lo; na visão da segunda corrente, entende-se ser possível 
sustentar a aplicação analógica do art. 1.831 à união estável, estendendo, 
ao companheiro, em idênticas condições, o mesmo direito real de 
habitação assegurado ao cônjuge sobrevivente. 
Desse modo, o real direito de habitação, previsto no artigo 1.831 
do CC/02, trata de norma de proteção de cunho patrimonial, dispondo 
114 Ana Caroline Pereira Sampaio | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
ao cônjuge sobrevivente que, independentemente do regime de bens 
escolhido pelo casal, o direito de moradia estará assegurado, sem a 
necessidade de pagamento de qualquer quantia aos demais herdeiros.
No tocante à união estável, a concessão do direito real de habitação 
encontrava respaldo legal no bojo do art. 7º, parágrafo único, da Lei 
9.278/1996, o qual determinava que, após a dissolução da união estável 
por morte de um dos conviventes, o sobrevivente teria direito real de 
habitação, enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento, 
relativamente ao imóvel destinado à residência da família.
Não obstante, com a ulterior edição do Código Civil, o legislador, 
ao disciplinar os direitos relativos a sucessão do companheiro, em seu 
art. 1.790, foi silente, não fazendo qualquer menção ao direito real de 
habitação do companheiro. 
Nesse contexto, surgiram duas correntes doutrinárias. A primeira, 
sustentando a permanência do direito real de habitação, devido à ausência 
de revogação expressa do art. 7º, parágrafo único, da Lei 9.278/96, 
contrapondo-se à segunda corrente, que defendia que a referida norma 
havia sido tacitamente revogada pelo Código Civil de 2002.
Assim, segundo o julgado abaixo, citado por Bárbara Valério 
Machado (2017, p. 64), demonstra-se que o próprio Superior Tribunal 
de Justiça já havia se posicionado nesse sentido, concedendo o direito 
real de habitação ao companheiro, fundamentando-se na Constituição 
Federal de 1988, com a consequente aplicação analógica do art. 1.831 do 
CC/2002 ao companheiro sobrevivente. Veja-se:
ART. 1.831 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. 
1. O novo Código Civil regulou inteiramente a sucessão do 
companheiro, ab-rogando as leis da união estável, nos termos 
do art. 2º, § 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro - LINDB. 
2. É bem verdade que o art. 1.790 do Código Civil de 2002, 
norma que inovou o regime sucessório dos conviventes em 
união estável, não previu o direito real de habitação aos 
115OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DECLAROU A 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO OS DIREITOS 
SUCESSÓRIOS DO COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
companheiros. Tampouco a redação do art. 1.831 do Código 
Civil traz previsão expressa de direito real de habitação à 
companheira. Ocorre que a interpretação literal das normas 
conduziria à conclusão de que o cônjuge estaria em situação 
privilegiada em relação ao companheiro, o que deve ser 
rechaçado pelo ordenamento jurídico. 
3. A parte final do § 3º do art. 226 da Constituição Federal 
consiste, em verdade, tão somente em uma fórmula de facilitação 
da conversão da união estável em casamento. Aquela não rende 
ensejo a um estado civil de passagem, como um degrau inferior 
que, em menos ou mais tempo, cederá vez a este. 
4. No caso concreto, o fato de haver outros bens residenciais 
no espólio, um utilizado pela esposa como domicílio, outro 
pela companheira, não resulta automática exclusão do direito 
real de habitação desta, relativo ao imóvel da Av. Borges 
de Medeiros, Porto Alegre-RS, que lá residia desde 1990 
juntamente com o companheiro Jorge Augusto Leveridge 
Patterson, hoje falecido. 
5. O direito real de habitação concede ao consorte supérstite 
a utilização do imóvel que servia de residência ao casal com 
o fim de moradia, independentemente de filhos exclusivos do 
de cujus, como é o caso. 
6. Recurso especial não provido. 
(REsp 1329993/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, 
QUARTA TURMA, julgado em 17/12/2003, DJe 18/03/2014).
Ao declarar a inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código 
Civil, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela aplicação do art. 1.829 
da referida legislação, que trata da sucessão do cônjuge, também para 
os companheiros. Todavia, no que tange à concessão do direito real de 
habitação aos companheiros, de acordo com o entendimento acima 
mencionado, compreende-se que haveria a aplicação do art. 1.831 do 
CC/2002 em favor do companheiro sobrevivente.
116 Ana Caroline Pereira Sampaio | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
5 Considerações Finais
Este artigo pretendeu analisar os reflexos da decisão do Supremo 
Tribunal Federal que declarou a inconstitucionalidade do artigo 1.790 
do Código Civil, equiparando os direitos sucessórios do companheiro 
aos do cônjuge.
Diante das particularidades de cada instituto analisado (o 
casamento e a união estável), verifica-se que se trata de institutos 
diferentes. No entanto, são totalmente semelhantes no que diz respeito a 
constituírem núcleos familiares, ou seja, ambos os institutos constituem 
família e, por essa razão, as diferenças existentes entre o cônjuge e o 
companheiro não podem chegar ao ponto de retirar direitos dos 
companheiros em detrimento dos cônjuges, ou vice-versa.
Entretanto, o Código Civil de 2002 estabeleceu um tratamento 
diferenciado do companheiro em relação aos direitos sucessórios 
do cônjuge. Diante desse tratamento diferenciado entre o cônjuge e 
o companheiro, o qual prejudica este, o Supremo Tribunal Federal 
reconheceu a inconstitucionalidade da norma do artigo 1.970 do Código 
Civil, de modo que o tratamento sucessório do cônjuge e do companheiro 
foi equiparado por meio do julgamento da ADI 4277 e da ADPF 132. 
No que concerne ao companheiro na condição de herdeiro 
necessário, verificou-se que o ordenamento jurídico brasileiro, tanto 
na jurisprudência quanto na doutrina, coloca-se a favor da inclusão 
do companheiro na condição de herdeiro necessário, entendendo 
tratar-se de uma norma de proteção patrimonial, que visa garantir ao 
companheiro o mínimo existencial, evitando que este permaneça em 
condição de vulnerabilidade, principalmente no que diz respeito aos 
bens comuns constituídos na constância da união estável, defendendo 
a posição de que o companheiro deve ser incluído no rol dos herdeiros 
necessários do artigo 1.845 do Código Civil.
Todavia, no que tange à concessão do direito real de habitação 
aos companheiros, de acordo com o entendimento acima mencionado, 
117OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DECLAROU A 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO OS DIREITOS 
SUCESSÓRIOS DO COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
compreende-se que haveria a aplicação do art. 1.831 do CC/2002 em 
favor do companheiro sobrevivente.
Por mais que se trate de institutos diferentes quanto às suas 
formalidades, sua essência possui o mesmo significado, que é constituir 
família. Por essa razão, não existe hierarquização de institutos familiares, 
ou seja, a família constituída pelo casamento não é mais importante do 
que a família que se formou por meio de uma união estável. Assim, não 
pode haver divergências quanto à sucessão do cônjuge e do companheiro.
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119OS REFLEXOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DECLAROU A 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL, EQUIPARANDO OS DIREITOS 
SUCESSÓRIOS DO COMPANHEIRO AOS DO CÔNJUGE
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TARTUCE, Flávio. Direito Das Sucessões. 12° ed. v. 6. Rio de Janeiro: 
Editora Forense, 2019.
121
A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE 
DA INFIDELIDADE VIRTUAL
Amanda Cristina Lima
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Resumo: O presente artigo teve como propósito central analisar os 
reflexos da infidelidade virtual e sua repercussão jurídica, bem como 
as penalidades aplicadas a quem tem o dever de lealdade e fidelidade, 
em face da relação conjugal. Os objetivos específicos foram: verificar a 
possibilidade de ocorrer a responsabilidade civil em face da infidelidade 
virtual; discorrer sobre a aplicação dos princípios constitucionais na 
relação conjugal; diferenciar relacionamentos virtuais e relacionamentos 
reais; abordar o dano moral na infidelidade virtual. A metodologia 
utilizada foi na perspectiva qualitativa e teve caráter bibliográfico e 
documental, que se entendeu ser suficiente para o alcance dos objetivos 
propostos. Por conseguinte, foram utilizados materiais doutrinários, 
entendimentos jurisprudenciais, materiais eletrônicos extraídos de 
diversos sites, bem como a legislação pertinente ao conteúdo abordado. 
A infidelidade virtual é uma conduta recente, que tem ganhado 
dimensão cada vez maior, e vem invadindo o seio familiar, sendo uma 
das principais causas de rupturas dos relacionamentos, uma vez que as 
pessoas, na maioria das vezes, não estão sabendo lidar com os meios de 
comunicação disponíveis, sem desrespeitar quem escolheu para ser seu 
cônjuge/companheiro.
122 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
Palavras-chave: Infidelidade virtual. Relacionamentos Virtuais. 
Princípios. Dano Moral.
1 Introdução
O presente trabalho tem como propósito abordar a aplicação 
do dano moral à infidelidade, especificamente, em sua modalidade 
virtual. O avanço dos meios de comunicação gera cada vez mais um 
grande impacto nas relações entre pessoas e, principalmente, tem 
afetado diretamente os relacionamentos conjugais. Com o fácil acesso 
e a excessiva exposição das pessoas comprometidas, vem à tona este 
assunto delicado: a infidelidade virtual.
Trata-se de um tema recente, que vem tomando repercussão 
cada vez maior, uma vez que o ordenamento jurídico brasileiro não 
contempla norma específica para responsabilizar quem comete o ato de 
infidelidade virtual. Cumpre registrar que a tendência é que ocorra uma 
massificação dessa conduta, haja vista a grande facilidade que as pessoas 
têm de se relacionarem virtualmente. 
É de se pensar que não se trata de aplicação automática da 
responsabilidade civil no âmbito da infidelidade virtual. Sendo assim, 
de acordo com entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, para 
a aplicação do dano moral à infidelidade, será necessária a análise 
do caso concreto, bem como do conteúdo probatório, para aplicação 
desse instituto; logo, o dano moral, nessa modalidade de traição, não é 
presumido.
O presente artigo tem como objetivo central analisar os reflexos 
da infidelidade virtual e sua repercussão jurídica, bem como as 
penalidades aplicadas a quem tem o dever de lealdade e fidelidade, em 
face da relação conjugal.
Os objetivos específicos são os seguintes: verificar a possibilidade 
de ocorrer a responsabilidade civil em face da infidelidade virtual; 
123A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
discorrer sobre a aplicação dos princípios constitucionais na relação 
conjugal; diferenciar relacionamentos virtuais e relacionamentos reais; 
abordar o dano moral na infidelidade virtual.
O trabalho foi realizado na perspectiva qualitativa. A pesquisa 
tem caráter bibliográfico e documental, que se entende ser suficiente 
para o alcance dos objetivos propostos. Por conseguinte, serão utilizados 
materiais doutrinários, entendimentos jurisprudenciais, materiais 
eletrônicos extraídos de diversos sites, assim como legislação pertinente 
ao conteúdo abordado.
2 Direitos e deveres inerentes à relação conjugal
Para que os objetivos do presente trabalho sejam alcançados, 
primeiramente cumpre destacar as formas de relação conjugal, bem 
como identificar em que momento o instituto da infidelidade virtual 
seráaplicado a fim de responsabilizar o consorte que descumprir os 
deveres legais da relação conjugal.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
(CRFB/88) reconhece, no art. 226, as formas de relação conjugal – o 
casamento e a união estável –, ambas com a proteção do Estado, como 
se pode verificar:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção 
do Estado.
§ 1º O casamento é civil, e gratuita a celebração.
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união 
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, 
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento[...].
Em que pese a CRFB/88 estabelecer que é reconhecida a união 
estável entre o homem e a mulher, com a evolução no ordenamento 
jurídico brasileiro, nota-se que a relação conjugal não é imutável, uma 
124 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
vez que se tem admitido a união entre pessoas do mesmo sexo (união 
homoafetiva).
Importante destacar que a relação conjugal nada mais é que a 
união entre duas pessoas com a finalidade de convivência em comum, 
ou seja, tal relação se consuma quando duas pessoas, de forma livre, 
manifestam o interesse de estabelecer um vínculo conjugal, seja por 
meio do casamento, seja pela união estável.
Quanto ao casamento, Gagliano e Pamplona Filho (2019, p. 126-
127), o conceituam como sendo “(...) um contrato especial de Direito de 
Família, por meio do qual os cônjuges formam uma comunidade de afeto 
e existência, mediante a instituição de direitos e deveres, recíprocos e em 
face dos filhos, permitindo, assim, a realização dos seus projetos de vida.”. 
Em relação à união estável, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo 
Pamplona Filho (2019, 430) a conceituam como “(...) uma relação 
afetiva de convivência pública e duradoura entre duas pessoas, do mesmo 
sexo ou não, com o objetivo imediato de constituição de família.”.
O Código Civil Brasileiro de 2002 estabelece as disposições gerais 
do casamento. De acordo com o artigo 1.511, “O casamento estabelece 
comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres 
dos cônjuges.”. Nesse sentido, a CRFB/88 também é clara ao determinar 
que, em seu artigo 226, § 5º, “Os direitos e deveres referentes à sociedade 
conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.”.
No mesmo sentido, os ilustres autores Pablo Stolze Gagliano e 
Rodolfo Pamplona Filho (2019) entendem que na relação conjugal 
ocorre a incidência do princípio constitucional da isonomia em relação 
aos direitos e deveres dos cônjuges, que devem ser analisados de modo 
igualitário.
No que diz respeito à relação conjugal, vale a pena ressaltar que 
o Código Civil Brasileiro de 2002 estabelece os deveres resultantes da 
união entre duas pessoas. É o que determina a inteligente redação do 
art. 1.566, in verbis:
125A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.
O dever de fidelidade recíproca está ligado à noção de lealdade, 
ainda que não se confundam. A lealdade pode ser compreendida como 
uma qualidade de caráter da pessoa, que está atrelada não apenas a 
um comprometimento físico, mas também moral e espiritual entre os 
parceiros, com o objetivo de preservar a verdade intersubjetiva; de outro 
lado, a fidelidade possui dimensão restrita à exclusividade da relação 
afetiva e sexual. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019).
Dessa forma, compreende-se que a violação desse dever, 
independentemente de o adultério não ser considerado mais como 
crime, poderá acarretar consequências jurídicas e, sobretudo, 
indenizatórias, com objetivo de reparar aquele que de forma direta 
sofreu danos em decorrência da falta de fidelidade de um dos consortes, 
ainda que o dever de fidelidade não seja mais utilizado como requisito 
para separação judicial. 
Para Sílvio de Salvo Venosa (2017, p. 158), “A transgressão dos 
deveres conjugais pode gerar danos indenizáveis ao cônjuge inocente.”. 
No entanto, o ordenamento jurídico brasileiro não estabelece de forma 
positivada a aplicação do instituto do dano moral de forma presumida 
nos casos de infidelidade conjugal. Todavia, a incidência desse instituto 
tem sido reconhecida e aplicada no caso concreto, conforme abaixo será 
apresentado.
Cumpre destacar que o referido doutrinador acima se posiciona 
no sentido de que o descumprimento de um dos deveres conjugais, 
por si só, não deve configurar dano moral, devendo analisar-se o caso 
concreto. Da mesma forma, não será todo e qualquer tipo de infidelidade 
126 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
passível de indenização, posicionamento esse contrário aos interesses 
do presente trabalho, a saber: buscar demonstrar que o dano moral deve 
ser presumido em situações de infidelidade.
Conforme informação colhida no site da Câmara dos Deputados 
(2016), o deputado Rômulo Gouveia (PSD/PB) tentou, por meio do 
projeto de Lei. 5.716/16, incluir o art. 927-A no Código Civil Brasileiro, 
com a finalidade de transformar em norma o que vem sendo objeto 
de discussões pelos magistrados, no campo do Direito de Família, 
cuja redação é a seguinte: “Art. 927-A. O cônjuge que pratica conduta 
em evidente descumprimento do dever de fidelidade recíproca no 
casamento responde pelo dano moral provocado ao outro cônjuge.”.
Ao analisar o texto do artigo proposto pelo deputado acima 
mencionado, observa-se que o objetivo do referido dispositivo 
era determinar que a simples comprovação da infidelidade seria 
suficiente para aplicar o dano moral, que, neste contexto, independe de 
comprovação do efetivo dano experimentado pelo cônjuge. O projeto de 
lei encontra-se arquivado, haja vista as divergências nos entendimentos 
dos tribunais.
Contudo, mesmo diante de vários entendimentos jurisprudenciais 
divergentes, bem como dos diversos entendimentos doutrinários, 
nota-se que o Direito das Famílias, além da aplicação dos princípios 
constitucionais, vem integrando os princípios da responsabilidade 
civil, com o escopo de responsabilizar aquele que infringir o dever de 
fidelidade previsto no CCB, ainda que de forma limitada.
3 Aplicação dos princípios constitucionais à relação conjugal
Os princípios, fontes secundárias do Direito, são importantes 
mecanismos e de grande relevância na aplicação do Direito. O 
ordenamento jurídico brasileiro comporta inúmeros princípios. 
Alguns estão explícitos na CRFB/88, como também nas normas 
infraconstitucionais, e outros estão implícitos.
127A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
No presente trabalho, não serão esgotados todos os princípios 
aplicáveis ao Direito das Famílias, mas apenas aqueles que estão 
intimamente ligados à relação conjugal, quais sejam: o Princípio da 
Dignidade da Pessoa Humana e o da Igualdade.
3.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana
O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é fundamento 
republicano previsto no art. 1º da CRFB/88, o qual determina que:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos:
[...]
III - a dignidade da pessoa humana;
A CRFB/88 estabelece também em seu art. 226, §6º, que o 
planejamento familiar é fundado no Princípio da Dignidade da Pessoa 
Humana. Ressalte-se que esse Princípio pode ser compreendido como 
“um atributo da pessoa humana pelo simples fato de alguém ser humano, 
se tornando automaticamente merecedor de respeito e proteção, não 
importando sua origem, raça, sexo, idade, estado civil ou condição 
sócio-econômica” (MOTTA, 2018, p. 1).
Conforme preleciona Rolf Madaleno (2017, p. 105):
[...] a grande reviravolta surgida no Direito de Família com 
o advento daConstituição Federal foi a defesa intransigente 
dos componentes que formulam a inata estrutura humana, 
passando a prevalecer o respeito à personalização do homem 
e de sua família, preocupado o Estado Democrático de Direito 
com a defesa de cada um dos cidadãos. E a família passou a 
servir como espaço e instrumento de proteção à dignidade 
128 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
da pessoa, de tal sorte que todas as esparsas disposições 
pertinentes ao Direito de Família devem ser focadas sob a luz 
do Direito Constitucional. [...]
Nesse sentido, pode-se afirmar que a Constituição Federal 
estabelece, em seu corpo textual, a observância do Princípio da 
Dignidade da Pessoa Humana, o que foi um verdadeiro avanço para que 
seja respeitada a personalidade do homem e de sua família e, sobretudo, 
as demais normas devem ser pautadas respeitando este Princípio, que é 
inerente a cada ser humano. Cabe dizer que tal Princípio compreende 
exclusivamente à proteção humana, passando o ser humano a ter 
tratamento primordial.
Para os ilustres doutrinadores Cristiano Chaves de Faria, Nelson 
Rosenvald e Felipe Peixoto Braga Netto (2019, p. 38):
A dignidade da pessoa humana seria um juízo analítico 
revelado a priori pelo conhecimento. O predicado 
(dignidade) que atribuo ao sujeito (pessoa humana) integra 
a natureza deste e um processo de análise o extrai do próprio 
sujeito. Sendo a pessoa um fim em si – jamais um meio para 
se alcançar outros desideratos –, devemos ser conduzidos 
pelo valor supremo da dignidade.
Nesse sentido, verifica-se que o Princípio da Dignidade da 
Pessoa Humana é inerente a cada ser. Logo, como fundamento 
republicano, deve ser observado na relação conjugal (que tem por 
finalidade a constituição de família), com o objetivo de evitar que 
os excessos cometidos por um dos cônjuges/companheiros causem 
prejuízos irreparáveis ao seu consorte. Assim, os deveres da relação 
conjugal devem ser pautados na Dignidade da Pessoa Humana. Logo, 
aquele que praticar atos de infidelidade estará atacando à dignidade 
da pessoa humana.
129A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
3.2 Princípio da Igualdade na Relação Conjugal
O Princípio da Igualdade, que é aplicado na relação conjugal, tem 
o escopo de garantir um tratamento igualitário entre homens e mulheres, 
com o objetivo de alcançar à justiça. Portanto, na atualidade, o homem 
não mais se sobrepõe à mulher. Ambos são sujeitos de direitos e deveres 
em igualdade de condições, respeitadas às situações de desigualdades.
De acordo com Sílvia Patrícia Mota Mar (2017, p. 21), em relação 
à igualdade, a Constituição Federal identifica duas vertentes, quais 
sejam:
[...] a igualdade material, tipo de igualdade em que todos os 
seres humanos recebem um tratamento igual ou desigual, de 
acordo com a situação. Quando as situações são iguais, deve 
ser dado um tratamento igual, porém quando as situações 
se tornam adversas é importante que exista um tratamento 
diferenciado. E igualdade formal, consistindo em conceder a 
homens e mulheres e todos os cidadãos brasileiros tratamento 
idêntico, de acordo com o art.5º, da CRFB.
Ou seja, significa dizer que, de forma geral, todos os cidadãos 
devem ser tratados de forma igualitária. Todavia, cumpre registrar 
que devem os iguais ser tratados de acordo com suas igualdades, e 
os desiguais de acordo com suas desigualdades, de maneira a evitar 
injustiças.
A CRFB/88 é precisa em seu art. 5º, I, ao determinar que homens 
e mulheres são iguais em direitos e obrigações, os quais se estendem à 
relação conjugal, de forma a garantir o cumprimento dos deveres desta.
Não menos importante, o Código Civil Brasileiro, ao tratar do 
Direito das Famílias, consagra o Princípio da Igualdade em seu texto 
normativo, que se apoia no Princípio da Igualdade de Direitos e Deveres 
dos Cônjuges, prescrito no art. 1.511. O art. 1.567 destaca a mútua 
colaboração na condução da relação conjugal e o art. 1.566 estabelece os 
130 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
deveres recíprocos, que devem ser exercidos pelos consortes de forma 
igual na relação conjugal.
Assim, nota-se que tanto o Princípio da Dignidade da Pessoa 
Humana quanto o Princípio da Igualdade são importantes fontes que 
devem ser observadas na relação conjugal, com o objetivo de reparar os 
excessos cometidos por um dos companheiros que, de forma direta ou 
indireta, causar prejuízos, ainda que exclusivamente moral.
4 Os relacionamentos virtuais
A constante evolução dos meios de comunicação fez surgir um 
novo meio de se relacionar amorosamente, na medida em que criou 
formas que possibilitam até mesmo a visualização em tempo real dos 
comunicantes, por meio de celulares, tablets, notebooks, dentre outros, 
por meio de redes sociais, aplicativos e diversos sites de relacionamento, 
o que vem invadindo cada dia mais o domicílio familiar.
De acordo com Maria Berenice Dias (2016, p. 298):
A rede mundial de computadores fez surgir o espaço 
virtual que gerou a queda de todas as fronteiras e invadiu 
todos os lares, permitindo, com incrível agilidade, a 
comunicação em momento real. Assim, a internet, em pouco 
tempo, transformou-se no mais veloz, eficiente, prático e 
econômico meio para as pessoas se corresponderem. A 
comunicação virtual tornou-se um convite a uma nova 
forma de socialização. Por outro lado, a possibilidade de 
limitar o acesso às caixas de correspondência por meio de 
senhas, garante segurança e privacidade, tornando a troca 
de mensagens, músicas, fotos etc., um meio relativamente 
seguro para manter contatos reservados.
Extrai-se que a internet criou um novo modelo de socialização, o 
que vem facilitando a interação entre os interlocutores, que a utilizam 
131A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
para diversas finalidades, como trabalhos, pesquisas, entretenimento, 
diversão (jogos) e, especialmente, para estabelecer vínculos amorosos, 
os quais, em determinados momentos, acabam envolvendo pessoas que 
já possuem um vínculo conjugal.
Os relacionamentos virtuais permitem a criação de fantasias 
entre os interlocutores, mesmo que não haja contato físico entre 
ambos, bastando apenas ter em mão um celular, um computador ou 
qualquer outro aparelho de comunicação, para que seja estabelecido 
um diálogo virtual. Compreende-se que o interlocutor tem a 
discricionariedade para escolher qual ferramenta será utilizada, o 
que pode ser feito por meio de uma ligação direta, por mensagens de 
texto, vídeo-chamada ou troca de imagens. Nesse contexto, identifica-
se que o contato pessoal passou a ser substituído pelo mundo 
imaginário que os diversos programas interativos proporcionam 
para os seus usuários.
Conforme destaca Maria Berenice Dias (2016, p. 299):
A correspondência virtual se presta, como nenhum outro 
meio, à fuga da realidade frustrante. Abriram-se, assim, as 
portas para encontros, confidências e intimidades, tudo 
protegido pelo anonimato. No campo dos relacionamentos 
afetivos, o uso do computador possibilitou a utilização do 
véu virtual, rompendo com a necessidade antes inafastável 
do contato físico. Mas como não há “crime” perfeito, de 
modo bastante frequente acabam os parceiros descobrindo 
que seus cônjuges, companheiros ou namorados mantêm 
vínculos afetivos bastante intensos, íntimos e até tórridos no 
interior do próprio lar. Muitas vezes, na presença desatenta 
do par.
Um dos fatores que aceleram a quantidade de relacionamentos 
virtuais é justamente a facilidade com que a internet os permite, uma 
vez que a pessoa não precisa nem sair de sua residência para estabelecer 
132 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
diálogos e suprir suas carências, podendo, até mesmo, sem qualquer 
contato físico (conjunção carnal) com a pessoa envolvida, satisfazer 
seus desejos sexuais (sexo virtual).
4.1 A infidelidade virtual
Com o avanço tecnológico dos meios de comunicação, surgiu 
uma nova modalidadede infidelidade, qual seja, a virtual. Isso se dá 
devido à facilidade que, atualmente, as pessoas encontram em se 
relacionar com outras pessoas por meio das diversas ferramentas que 
os meios informatizados permitem, como, por exemplo, Whatsapp, 
Facebook e Instagram.
Cumpre registrar que grande parcela dos consortes que iniciam 
uma conversa, via meios de comunicações disponíveis, têm em mente 
que, em tal conduta, não há problema algum, por não haver contato 
físico entre os interlocutores; logo, tratam a questão como não sendo 
uma espécie de infidelidade, o que é manifestamente paradoxal, uma vez 
que, quando o cônjuge/companheiro traído virtualmente descobre tal 
conduta, sente-se ofendido, desonrado e, especialmente, desrespeitado, 
o que pode causar vários transtornos.
Segundo o ilustre doutrinador Rolf Madaleno (2017, p. 291):
A infidelidade também surge na sua versão virtual, quando 
um relacionamento erótico-afetivo é entretido através da 
Internet e suas inúmeras redes sociais, e, se a comunicação 
permitir, pode gerar encontros ortodoxos que terminem em 
intercurso sexual, consumando-se o adultério.
Ou seja, percebe-se que a infidelidade é reconhecida em sua 
esfera virtual, e que a comunicação via meios eletrônicos pode sair 
dessa esfera, podendo, assim, estabelecer um contato físico entre os 
comunicantes, passando de uma fantasia virtual para um contato físico. 
133A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
Nesse sentido, tem se posicionado Rof Madaleno (2017, p. 291-292), ao 
prescrever que:
A linha divisória entre a infidelidade material e moral, sendo 
que nessa última se encontra a infidelidade virtual, é que os 
laços eróticos e afetivos são mantidos diante da tela de um 
telefone celular, de um tablet ou de um computador, sendo 
alimentados rotineiramente, através de uma fantasia que pode 
sair do espaço virtual e levar ao contato físico e às relações 
sexuais de adultério. São variáveis as causas motivadoras dos 
relacionamentos virtuais, alguns porque se aventuram na 
prática de conhecer outras pessoas, enquanto outros buscam 
vencer o tédio e a solidão, e existem aqueles que buscam uma 
maior gratificação em seus relacionamentos pessoais, mas 
sempre representando uma inegável infidelidade.
A evolução dos meios de comunicação permitiram muitos 
benefícios, porém, como nem tudo são flores, aqueles, quando não 
utilizados de forma correta, podem causar prejuízos a outrem. É o que 
acontece com a pessoa que é vítima de uma infidelidade virtual e tem 
sua honra abalada de forma vexatória, quando um dos consortes não 
cumpre com o dever de fidelidade, colocando em jogo a dignidade da 
pessoa que com ele estabeleceu um vínculo conjugal.
Para Luana Lisenfeld (2017, p. 22), “(...) a infidelidade virtual é uma 
realidade que invade domicílios familiares, com confirmados efeitos na 
vida matrimonial. Essa infidelidade consiste em ligações amorosas com 
pessoas diferentes daquelas com quem se mantêm um relacionamento 
conjugal.”. Em outras palavras, significa dizer que a infidelidade virtual 
é o estabelecimento de um vínculo extraconjugal, por meios eletrônicos 
(celulares, notebooks, etc.), que permitem a interação de um dos consortes 
com pessoa(s) diferente daquela com quem se estabeleceu o dever de 
fidelidade, surgindo, assim, uma vez demonstrado o constrangimento 
suportado pelo consorte (traído), o dever de indenizar.
134 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
De acordo com o que estabelece Maria Berenice Dias (2016, p. 
156):
O princípio da boa-fé objetiva vem se infiltrando no direito 
das famílias. Ainda que tenha origem negocial, direciona-se à 
superação de sua última fronteira: a das relações existenciais. 
O dever de lealdade que se consubstancia na proibição de 
comportamento contraditório lastreia-se no princípio da 
confiança, que tem por fundamento o afeto.
Uma das grandes discussões é se os relacionamentos virtuais podem 
se enquadrar como infração ao dever de fidelidade, visto que surgem 
argumentos no sentido de questionar se esse dever alcança o plano virtual, 
em virtude de alguns entenderem inexistir sexo no plano virtual.
Nesse sentido, é o posicionamento de Valéria Silva Galdino 
Cardim (2012, p. 91):
Ressalte-se que a infidelidade virtual não caracteriza 
adultério, pois este consiste no encontro entre duas pessoas 
de sexos diversos para manter conjunção carnal, enquanto 
aquela viola o disposto no inciso V do art. 1566, ou seja, o 
respeito e a consideração mútua se for praticada de forma 
reiterada por um dos cônjuges, o que torna insuportável a 
vida em comum, justificando o ajuizamento do divórcio.
Observa-se que, para a autora acima citada, a infidelidade virtual 
está ligada ao dever de respeito e consideração mútuos entre os cônjuges, 
e não ao dever de fidelidade recíproca.
Já os ilustres doutrinadores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo 
Pamplona Filho (2019, p. 296) compreendem que:
A ruptura do dever de fidelidade poderá se dar de diversas 
maneiras, desde que se constate a convergência de um 
135A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
terceiro elemento não autorizado na esfera do casal, em 
espúria relação afetiva ou sexual com um dos cônjuges. Com 
isso, temos que não se rompe a fidelidade apenas mediante a 
conjunção carnal com amante. De maneira alguma. Carícias, 
afagos, conversas íntimas, enfim, todo comportamento que, 
de fato, demonstre invasão à esfera de exclusividade de afeto 
dos consortes, poderá caracterizar a infidelidade.
Por conseguinte, destacam que:
[...] é inteiramente improcedente o argumento daqueles 
que, unidos pelo matrimônio, imaginam estar fazendo “algo 
inocente”, quando mantêm íntimos diálogos com o seu 
amante, por meio da internet. 
Embora, tecnicamente, adultério não seja, dada a ausência de 
contato físico, a infidelidade moral, grave da mesma maneira, 
é de clareza meridiana! (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 
2019, p. 302)
Dessa forma, observa-se que vários são os entendimentos em 
relação à infidelidade virtual. Alguns a reconhecem como dever de 
fidelidade; outros, não. Entretanto, o dever de fidelidade não deve ser 
compreendido apenas com o contato físico (adultério). Ele vai além da 
mera conjunção carnal, na medida em que a traição, ainda que no campo 
virtual, é conduta desonrosa e desleal que coloca o consorte traído em 
posição de fragilidade. Portanto, merece, sim, ser responsabilizado 
aquele que praticar um ato de infidelidade contra seu parceiro. 
4.2 Aplicação do dano moral à infidelidade virtual
O anonimato nos relacionamentos virtuais possibilitou a 
incidência da infidelidade virtual, que, para aplicação do dano moral, 
segundo entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, deve ser 
136 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
devidamente comprovada, respeitando-se alguns requisitos exigidos em 
lei, não sendo aplicado de forma ilimitada.
O Código Civil de 2002 estabelece o dever de fidelidade como 
uma obrigação. Por conseguinte, sua violação pode ser compreendida 
como ato ilícito. Nesse sentido, vale mencionar que a conduta de 
infidelidade virtual pode ser enquadrada no que dispõe o art. 927 
(“Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a 
repará-lo.”), o art. 186 (“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, 
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda 
que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”) e o art. 187 (“Também 
comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, 
pela boa-fé ou pelos bons costumes, ambos do referido diploma legal.”), 
todos do Código Civil.
Segundo ensinamentos de Maria Berenice Dias (2016, p. 159):
Para a configuração do dever de indenizar não é suficiente 
que o ofendido demonstre seu sofrimento. Somente ocorre 
a responsabilidade civil se presentes todos os seus elementos 
essenciais: dano, ilicitude e nexo causal.Não cabe indenizar 
alguém pelo fim de uma relação conjugal. Pode-se afirmar 
que a dor e a frustração, se não são queridas, são ao menos 
previsíveis, lícitas e, portanto, não indenizáveis.
Assim, compreende-se que o dano moral decorre da prática de 
um ato ilícito, que cause dano a outrem, comprovada a prática dolosa ou 
culposa do ato, observando-se a existência destes pressupostos: a prática 
de ato ilícito, ofensa à honra ou à dignidade da pessoa e o nexo causal. 
Logo, percebe-se que o dano moral na infidelidade, em qualquer das 
modalidades (real ou virtual), não é aplicado in re ipsa, ou seja, o dano 
moral não é presumido. Nesse sentido, tem se posicionado o Egrégio 
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO). Veja-se:
137A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
Apelação Cível. Ação de divórcio consensual c/c indenização 
por danos pelo abandono afetivo. I - Abandono afetivo e 
infidelidade. Não comprovação do ato ilícito. Inexistência do 
dever de reparar o dano moral. É cediço que a infidelidade 
conjugal, por si só, embora constitua violação dos deveres 
do casamento, não gera o dever de indenizar, sendo 
necessária a prova de atos lesivos à honra da vítima. 
Afigura-se natural que o fim de um relacionamento 
conjugal, com a desestruturação da família, cause 
tristezas, desestabilização emocional e, muitas vezes, 
abalos psíquicos. Mas, por mais indesejados e desastrosos 
estes acontecimentos, sua ocorrência, por si só, não enseja 
a indenização por dano moral ao cônjuge traído. II - 
Usufruto do bem adquirido na constância do casamento. 
Regime de comunhão parcial de bens. A aquisição do único 
bem objeto da partilha pelo casal se deu na constância do 
casamento, impondo-se, pois, a manutenção da sentença 
que decidiu pelas sua partilha sem direito ao usufruto pela 
apelante, pois trata-se do único do bem adquirido pelo casal, 
sendo ambos os cônjuges idosos e recebem proventos de 
aposentadoria, de maneira que os dois necessitam do bem 
para refazerem suas vidas agora separadamente, devendo 
ser desprovido o apelo neste ponto. III - Litigância de má-
fé formulada nas contrarrazões do apelo. Inadmissibilidade. 
Não se conhece do requerimento de condenação à litigância 
de má-fé formulado em sede de contrarrazões, que deverá 
ser formulado em via própria e adequada. (Súmula nº 
27 do TJGO). Apelação Cível conhecida e desprovida.
(TJGO, Apelação (CPC) 5282030-88.2018.8.09.0091, Rel. 
CARLOS ALBERTO FRANÇA, 2ª Câmara Cível, julgado em 
09/10/2019, DJe de 09/10/2019) (grifo nosso)
Nessa mesma linha de raciocínio é o entendimento do Egrégio 
Tribunal de Justiça de Minas Gerais-MG, veja-se:
138 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
EMENTA: APELAÇÃO ADESIVA - AÇÃO 
DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL - 
PUBLICAÇÃO OFENSIVA EM REDE SOCIAL 
- DANO MORAL CONFIGURADO - FIXAÇÃO 
DO VALOR DA INDENIZAÇÃO - PRUDÊNCIA. 
A fixação do quantum do dano moral deve se ater: (1) à 
capacidade/possibilidade daquele que vai indenizar, já que 
não pode ser levado à ruína; (2) suficiência àquele que é 
indenizado, pela satisfação da compensação pelos danos 
sofridos. V.V. (RELATOR) 1. Não existe um conceito 
objetivo do que vem a configurar o ato de infidelidade, uma 
vez que se trata de viciosidade materializada a principio 
apenas no campo psicológico do adúltero, e que pode se 
manifestar no mundo fenomênico sob diversas formas 
e graus de intensidade do contato com o(s) terceiro(s). 
2. Assim, não se pode afirmar com toda a precisão se 
ele (o ato de infidelidade) se consuma tão somente na 
conjunção carnal do adúltero com terceiro, ou mesmo 
se está configurado apenas pela projeção ou prospecção 
hipotética, imaginária e/ou virtual do cônjuge infiel. 3. A 
despeito da dubiedade acerca da forma ou momento no 
qual se consuma a violação do dever de fidelidade, com 
relação à questão controvertida, incide a responsabilidade 
na sua modalidade subjetiva, assentada nos artigos 186 
e 927, caput, do Código Civil, devendo a respectiva a 
pretensão de indenização por dano moral ser interpretada 
à luz do elemento culpa (em seu sentido amplo), o que 
impõe a análise da intenção de um cônjuge em ridicularizar 
ou expor/lesar o outro. 4. Hipótese em que, a despeito de 
o teor da transcrição das mensagens virtuais de conteúdo/
conotação nitidamente sexual(is) envolvendo o cônjuge e o 
terceiro, não se infere das demais circunstâncias o elemento 
volitivo que demonstre sua intenção de ridicularizar ou expor 
dolosamente o marido. 5. Por outro lado, a jurisprudência 
139A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
é no sentido de que veiculação de conteúdo ofensivo ou 
pejorativo em redes sociais (ou outro instrumento de mídia), 
com o escopo de expor o cônjuge ou parceiro é suscetível 
de responsabilização civil por dano moral. 6. Pertinente 
à quantificação do dano, o artigo 944 do Código Civil nos 
informa que, como regra, a indenização mede-se pela 
extensão do prejuízo causado. Sabe-se que, quanto ao dano 
moral, inexistem critérios objetivos nesse mister, tendo a 
praxe jurisdicional e doutrinária se balizado em elementos 
como a condição econômica da vítima e do ofensor, buscando 
ainda uma finalidade pedagógica na medida, capaz de evitar 
a reiteração da conduta socialmente lesiva. (TJMG- Apelação 
Cível 1.0572.13.000343-5/001, Relator(a): Des.(a) Otávio 
Portes , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/11/2017, 
publicação da súmula em 22/11/2017) (grifo nosso)
Vale a pena destacar que o projeto de lei apresentado na Câmara 
dos Deputados pelo Deputado Rômulo Gouveia, com a inserção 
do art. 927-A no Código Civil, tinha, como propósito, permitir que 
a responsabilização do cônjuge traidor fosse presumida. Logo, o 
procedimento para fazer com que o consorte que cometeu ato de 
infidelidade indenizasse a pessoa traída não seria tão dificultoso, 
porquanto, conforme se verifica do entendimento dos tribunais, não 
basta o sofrimento que a pessoa sente em seu íntimo para que seja 
aplicado o instituto do dano moral em casos de infidelidade.
Ballone (2011, p. 1) destacou que:
Entre as vivências capazes de desencadear reações depressivas 
o conhecimento da traição é uma das mais fortes. Geralmente 
a pessoa traída ou deixada pela outra se mobiliza fortemente 
pela frustração da perda, pela constatação da mentira, 
pela deslealdade e, não menos importante, pelo vexame 
e constrangimento social e familiar. O sentimento mais 
imediato que a infidelidade provoca, no entanto, é uma 
140 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
mistura de mágoa, contrariedade, ira, arrependimento, ânsia 
de vingança ou revanche. A descoberta da infidelidade pode 
ser uma das mais sofríveis e devastadoras vivências.
Entretanto, quando se fala em infidelidade, deve se compreender 
que aquele que foi traído não sofre apenas pela quebra das regras 
inerentes ao matrimônio, mas pela perda da confiança, da reciprocidade, 
da lealdade da pessoa que escolheu para dividir a vida. Tal conduta, além 
de prejuízos à honra e a dignidade da pessoa, pode também acarretar 
prejuízos psicológicos, de forma subjetiva, na medida em que apenas 
quem passa por tal situação consegue mensurar a dor e o sofrimento 
ocasionado pela infidelidade de seu cônjuge/companheiro.
É o que revela o Dr. Cristiano Nabuco (2015) ao informar que:
Estudo publicado no Sexual Addiction & Compulsivity  re-
velou que cônjuges que possuem um alto padrão de infide-
lidade, quando confrontados aos eventos de deslealdade de 
seus parceiros, experimentam sintomas de estresse seme-
lhantes aos vividos pelos indivíduos com o transtorno de es-
tresse pós-traumático – aquele presente em pessoas que so-
freram com eventos como sequestros, guerras ou cataclismas 
naturais – um verdadeiro trauma. Não é a toa que pessoas 
que passaram por essa experiência descrevem a descoberta 
como se “uma faca tivesse atingido seu coração”. Assim, o 
dano emocional causado pela infidelidade pode ser de difícil 
superação,mesmo com a ajuda especializada.
Para Maria Berenice Dias (2016, p. 156):
A busca de indenização por dano moral transformou-se na 
panaceia para todos os males. Há uma acentuada tendência 
de ampliar o instituto da responsabilização civil. O eixo 
desloca-se do elemento do fato ilícito para, cada vez mais, 
141A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
preocupar-se com a reparação do dano injusto. De outro 
lado, o desdobramento dos direitos de personalidade faz 
aumentar as hipóteses de ofensa a tais direitos, ampliando 
as oportunidades para o reconhecimento da existência de 
danos. Visualiza-se abalo moral diante de qualquer fato que 
possa gerar algum desconforto, aflição, apreensão ou dissabor. 
Esta tendência acabou se alastrando às relações familiares, 
na tentativa de migrar a responsabilidade decorrente da 
manifestação de vontade para o âmbito dos vínculos afetivos.
Nota-se que houve uma ampliação do instituto da responsabilidade 
civil, de maneira a tentar evitar que injustiças cometidas no seio familiar 
fiquem isentas de uma possível indenização. Porém, diante do exposto, 
identifica-se que muitos casos de infidelidade passam sem qualquer 
penalidade para o traidor, tendo em vista que, em diversas situações, 
a pessoa, vítima da infidelidade, não consegue comprovar o dano da 
maneira que o judiciário exige, não bastando o sofrimento íntimo frente 
ao problema enfrentado.
Conforme aborda Sílvia Patrícia Mota Mar (2017, p. 43-44):
[...] a dificuldade em demonstrar as provas do dano sofrido 
nem sempre se dá de maneira fácil ou lícita, uma vez que 
para provar tal ilicitude é necessário comprovar a conduta 
de infidelidade virtual do outro consorte. De qualquer 
modo, a hipótese tem de respeitar a vedação ao uso de prova 
ilícita, garantida constitucionalmente (art. 5°, LVI da CRFB). 
Sendo assim, não se admite a prova que, obtida ilicitamente, 
demonstre a existência das relações extraconjugais. A 
descoberta da infidelidade virtual pelo cônjuge traído se dá, 
normalmente, na medida em que o mesmo acessa algum tipo 
de serviço de comunicação por internet utilizado pelo outro 
mediante tentativa de colocação de senha ou via softwares 
que auxiliam ao acesso (não permitido) a determinada 
informação, ou seja, o cônjuge traído invade o sítio virtual 
142 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
do traidor para angariar informações a respeito da traição e, 
neste aspecto, para o direito civil, a prova seria ilícita[...]
Dessa forma, percebe-se que não é tarefa fácil comprovar a infidelidade 
virtual, tendo em vista a vedação que o ordenamento jurídico faz em relação 
ao uso da prova ilícita, ainda que seja verdadeira. Portanto, caberá ao julgador 
apreciar ou não a prova colhida pela vítima do ato de infidelidade.
Assim, é notório que o ordenamento jurídico brasileiro precisa 
normatizar essa conduta que tende a se intensificar com o passar dos anos. 
A tendência é que o judiciário seja alvo de inúmeras ações questionando 
a responsabilização do cônjuge infiel. Em que pese o reconhecimento dos 
tribunais quanto à responsabilidade em face da infidelidade, esse é um 
tema que ainda deve ser alvo de muitas discussões, de modo a garantir 
melhor a responsabilidade de quem comete o ato de infidelidade.
5 Considerações finais
Em decorrência da acelerada evolução dos meios de comunicação, 
aumenta-se cada dia mais a possibilidade de se relacionar com uma ou 
mais pessoas por meio de celulares, notebooks, tablets ou qualquer outro 
aparelho eletrônico, surgindo, assim, os chamados relacionamentos 
virtuais. Nesse novo meio de se relacionar, a princípio, não há contato 
físico entre os interlocutores, ficando apenas no campo da imaginação 
(fantasias). Muitos casos ultrapassam, entretanto, a esfera virtual, 
permitindo o contato físico dos envolvidos; por outro lado, em outros 
jamais se consuma o contato real.
O grande problema é que nem todas as pessoas que se relacionam 
virtualmente estão livres para tal, uma vez que grande parte dos 
envolvidos, senão a maioria, possuem um vínculo conjugal, e praticam 
esse ato sem o conhecimento de seu cônjuge/companheiro, agindo de 
forma desleal, desrespeitosa e desonrosa, colocando em jogo a honra e 
a dignidade de quem com ele estabeleceu o compromisso de fidelidade.
143A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
Não há, no ordenamento jurídico brasileiro, norma específica 
para ser aplicada quando violado o dever de fidelidade. Todavia, o 
Direito das Famílias vem integralizando a responsabilidade civil no seio 
familiar, especialmente o dano moral, quando houver séria lesão ao 
íntimo da pessoa.
Quando se fala em infidelidade, virtual ou não, deve se 
compreender que aquele que foi traído não sofre apenas pela quebra 
das regras inerentes ao matrimônio, mas pela perda da confiança, da 
reciprocidade, da lealdade da pessoa que escolheu para dividir a vida. 
Tal conduta, além de prejuízos à honra e a dignidade da pessoa, pode 
também acarretar prejuízos psicológicos.
Constatou-se que há entendimentos dos tribunais brasileiros no 
sentido de que a violação do dever de fidelidade não constitui, por si só, 
ofensa à honra ou à dignidade do traído, a ensejar o dever de indenizar, 
isso porque se entende que o fracasso de um relacionamento conjugal é 
algo que qualquer um pode vivenciar.
Assim, compreende-se que essa modalidade de traição viola não 
só o dever de fidelidade, como pode atingir o direito de personalidade 
da pessoa vítima da traição. Como o dano moral é uma forma de punir o 
ofensor, tendo uma pessoa sua personalidade afetada pela infidelidade, 
a indenização é a medida que deve ser aplicada.
6 Referências
BALLONE, GJ. Depressão Pós-Traição. Publicado em 2011. Disponível 
em: <http://psiqweb.net/index.php/depressao-pos-traicao/>. Acesso 
em: 19 de set. de 2019.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 28 de set. de 2019.
144 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
_______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/
L10406.htm>. Acesso em: 28 de set. de 2019.
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Gouveia. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/
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2019.
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Paulo: Saraiva, 2012.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4 ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2016.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson; NETTO, Felipe 
Peixoto Braga. Curso de direito civil: responsabilidade civil. 6ª. ed. 
rev. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm, 2019.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso 
de Direito civil. Direito de Família. v. 6. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
LIESENFELD, Luana. Infidelidade virtual e indenização por 
danos morais. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Desktop/
TCC%20Amanda/LIESENFELD-L.-INFIDELIDADE-VIRTUAL-E-
INDENIZAÇÃO-POR-DANOS-MORAIS-1.pdf>. Acesso em: 25 de 
out. de 2019.
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 7ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de 
Janeiro: Saraiva, 2017.
145A POSSIBILIDADE DE INDENIZAR EM FACE DA INFIDELIDADE VIRTUAL
MAR, Sílvia Patrícia Mota. Infidelidade Virtual e a Possibilidade 
de Indenização por Dano Moral. Disponível em: <file:///C:/Users/
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humana e sua definição. Disponível em: http://www.ambito-juridico.
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NABUCO, Cristiano. O dano emocional da infidelidade.Disponível 
em: <https://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2015/02/11/o-
dano-emocional-da-infidelidade/>. Acesso em: 18 de nov. de 2019.
TJGO. Tribunal de Justiça de Goiás. Apelação Cível nº 0124042-
29.2013.8.09.0006. 1ª Câmara Cível. Relator: Des. Orloff Neves Rocha. 
Data de Julgamento: 31/07/2018. Disponível em: <https://www.tjgo.
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2019.
_______. Apelação (CPC) 5282030-88.2018.8.09.0091. Rel. Carlos 
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<https://projudi.tjgo.jus.br/BuscaArquivoPublico ?PaginaAtual=6&Id_
MovimentacaoArquivo=107353149&hash= 1503336958355171169869
10524893785217929 &CodigoVerificacao=true>. Acesso em: 18 de dez. 
de 2019.
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Portes. Data de Julgamento: 22/11/2017. Disponível em: <https://
146 Amanda Cristina Lima | Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia /pesquisaPalavrasEspelhoAcordao.
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2&paginaNumero=1&linhasPorPagina=1&palavras=indeniza%E7ao 
%20por%20dano%20moral%20infidelidade%20 virtual&pesquisarPor 
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VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: família; 17ª. ed. São Paulo: 
Atlas, 2017.
147
CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O 
DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO 
INDIVÍDUO
Karla Tereza de Castro
Adriano Cielo Dotto
Resumo: As teorias do desenvolvimento estudam a identidade, a 
moral, o desenvolvimento sensório-motor, o processamento emocional, 
a socialização, entre outros conceitos pertinentes para o estudo da 
complexa temática do desenvolvimento humano. Nesse contexto, as 
artes marciais, como o Karatê, podem ser um excelente suporte na 
formação biopsicossocial dos indivíduos, com pesquisas apresentando 
resultados notáveis de mudança de comportamento. Para povos 
orientais, a prática de atividades físicas está diretamente ligada com a 
forma de pensar, propiciando o fortalecimento do corpo e da mente, 
pois, nesta perspectiva, o controle do corpo significa o controle da 
mente. O praticante de Karatê deve internalizar as regras da arte marcial 
e utilizá-la em todos os âmbitos de sua vida. O Karatê apresenta, de 
maneira inquestionável, meios para a educação, que irão transformar 
comportamentos e fazer com que seus praticantes levem uma boa vida. 
Contudo, a figura do sensei é importante, sendo este a pessoa que passou 
pelo que as crianças e os adolescentes estão passando, podendo, desse 
modo, instruí-las. A prática do Karatê, quando iniciada desde criança, 
traz uma internalização mais rápida do significado dessa arte marcial, já 
148 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
que a criança está em processo de formação de identidade, autoestima e 
ainda não enraizou seus valores. Os ensinamentos pautados nas regras 
do Karatê se tornarão a base de seus comportamentos, fortalecerão o 
superego e farão com que a criança cresça sabendo como resolver seus 
conflitos e a agir com respeito e humildade. 
Palavras-chave: Desenvolvimento Psicossocial. Comportamento. 
Karatê.
1 Introdução
Vive-se em uma sociedade muito marcada pela presença do 
esporte, como atividade física para manutenção da saúde, estética ou 
como carreira profissional. A cultura do esporte está sendo cada vez 
mais incentivada por diversos meios, como ações das instâncias de 
governo, legislações de incentivo ao esporte e profissionais da área da 
saúde incentivando a prática constante de algum tipo de atividade física.
A prática de atividade física, de forma geral, está também 
relacionada à imagem corporal, à sensação de se viver uma vida ativa e, 
em indivíduos mais próximos à velhice, está ligada à própria questão da 
autonomia. O esporte, por si só, já é um agente de prevenção de doenças, 
socialização, antiestresse, além de ajudar na construção da confiança e 
melhora da estima. Esportes que envolvem competições trabalham a 
tolerância, a perda e o lidar com frustrações. Todo esse conjunto auxilia 
no desenvolvimento emocional, psicológico e social do indivíduo. 
Dentro da vasta gama de modalidades esportivas, será destacado 
neste artigo o Karatê, espécie de arte marcial. A prática de uma arte 
marcial traz algo além dos benefícios do esporte, uma vez que o 
caminho marcial é constituído de conhecimento e ideologia voltados 
ao desenvolvimento mental e espiritual de seu praticante. Muito além 
dos benefícios físicos de qualquer esporte, são ínsitos às artes marciais o 
atuar com honra, com respeito e com integridade. 
149CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO INDIVÍDUO
Sabe-se que o desenvolvimento humano possui várias teorias, 
sendo amplamente discutidas aquelas que veem o ser humano de 
maneira biopsicossocial e enfatizam a relação mútua entre ambiente, 
processos físicos, químicos e elétricos e a cognição, a qual se manifesta 
pelo comportamento e gera impactos no ambiente.
Levando-se em conta que teorias do desenvolvimento estudam 
identidade, moral, desenvolvimento sensório-motor, processamento 
emocional, socialização, entre outros conceitos, uma arte marcial como 
o Karatê é um ótimo exemplo para mostrar todos esses conceitos na 
prática e revelar resultados notáveis de modelagem do caráter, acréscimo 
de valores, estratégias de enfrentamento, raciocínio, moldando 
características na personalidade de seus praticantes, principalmente 
crianças e adolescentes. 
O objetivo deste artigo é realizar um levantamento bibliográfico 
sobre o Karatê, alinhado a pesquisas de desenvolvimento humano, 
estabelecendo relação entre a ideologia marcial do Karatê e a relação 
entre as lições morais do esporte no desenvolvimento, a fim de verificar 
cientificamente como o Karatê influencia diretamente na vida de 
crianças e adolescentes. 
Foi realizada pesquisa de caráter qualitativo, a partir do 
levantamento bibliográfico em livros e artigos sobre as teorias do 
desenvolvimento humano, a doutrina do Karatê e a relação entre Karatê 
e desenvolvimento e Karatê e valores morais. Foram utilizados três livros 
sobre desenvolvimento humano, dos quais foram retirados os conceitos 
de desenvolvimento humano e abordagens teóricas psicodinâmica de 
Freud, teoria da aprendizagem de Vygotsky e Teoria bioecológica de 
Bronfenbrenner.
Os livros sobre Karatê foram retirados de acervo pessoal, sendo 
utilizados os livros de Gichin Funakoshi, mestre que consolidou 
o Karatê no mundo, e, para apresentar as bases filosóficas dessa arte 
marcial, utilizou-se o Niju-Kun, o qual deve ser compreendido por todo 
Karateca, também escrito por Funakoshi. 
150 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
A busca de artigos relacionados ao tema foi realizada no site Google 
Acadêmico, utilizando as palavras-chave: Karatê e Desenvolvimento, 
Karatê e Caráter e Karatê e Valores Morais. Inicialmente, foi realizado 
o levantamento dos artigos com o objetivo de analisar os resultados 
já publicados sobre o assunto e maior clareza sobre o tema. Em 13 
páginas desse buscador, foram encontrados 122 artigos; apenas 15 
artigos, porém, foram considerados com relevância para este trabalho. 
A seleção dos artigos se baseou nos seguintes critérios de inclusão: 
relevância para este trabalho e utilização das obras de Gichin Funakoshi 
e trabalhos que englobassem a ciência do desenvolvimento humano. 
Foram considerados ainda os seguintes critérios de exclusão: referencial 
teórico utilizado pelos autores diferentes do tema pesquisa, assunto 
divergente do tratado neste artigo, sendo selecionados 7 (sete) artigos. 
2 O Karatê 
A origem das artes marciais é tão antiga que perpassa pela China 
em meados de 2.700 a.C.. Sensei Funakoshi (1998) relata o processo de 
desenvolvimento de técnicas de luta, sendo que a China era um país 
constantemente assolado pela guerra e, para defesa,era preciso criar 
novas formas de lutar. Nesse período, destacam-se três nomes: Ta-
Shang Lao-ch’un, Ta-yi Chen-jen e Yuan Shih-t’ien, fundadores de três 
escolas primitivas de técnicas marciais, passadas para gerações futuras e 
aperfeiçoadas até obter-se as técnicas modernas. 
O Karatê surgiu em uma ilha, que se tornou parte do território 
japonês, chamada Okinawa. Segundo a autobiografia de Gichin 
Funakoshi, pai do Karatê moderno, “A origem do Karatê permanece 
impenetravelmente oculta pelas névoas da lenda, mas pelo menos 
conhecemos este fato: ele se encaixou e é amplamente praticado em toda 
a Ásia.” (FUNAKOSHI, 1994, p. 3).
Vale ressaltar que, para os povos orientais, a prática de atividades 
físicas está diretamente ligada com a forma de pensar, em que fortalecer 
151CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO INDIVÍDUO
o corpo é fortalecer a mente e controlar o corpo significa controlar a 
mente. Atualmente, com o avanço da ciência, identificou-se que é uma 
questão fisiológica, movimentar o corpo e aprender novas habilidades 
motoras faz o cérebro criar novas conexões, diz Martorell (2014).
O karatê trabalha todos os músculos do corpo, desde os 
músculos externos à musculatura mais profunda, e transforma partes 
consideradas ineficientes para dar golpes em armas, como o uso da 
ponta dos dedos para atacar o osso esterno, garganta e costelas. Ajuda 
no desenvolvimento de coordenação motora, equilíbrio e agilidade, 
melhora o condicionamento cardiovascular, respiração e, por fim, com 
tantos benefícios à saúde, o sistema imunológico torna-se mais forte, 
elucida Funakoshi (1994). 
O controle do corpo e dos movimentos salienta o quanto é 
importante o sistema nervoso. Assim, pode-se dizer que o karatê 
desenvolve o sistema nervoso central e periférico, aguçando as 
habilidades motoras. A partir de 3 (três) anos, os avanços motores 
começam e primeiro se desenvolve as habilidades motoras grossas:
O desenvolvimento das áreas sensoriais e motoras do córtex 
cerebral permite uma melhor coordenação entre aquilo que 
a criança quer fazer e aquilo que pode fazer. Uma vez que 
seus ossos e músculos estão mais fortes e sua capacidade 
pulmonar é maior, ela e capaz de correr, pular, escalar mais 
longe e mais rápido. (PAPALIA, 2013, p. 251).
Desenvolver uma nova habilidade motora significa somar as 
habilidades adquiridas com as novas e, assim, criar capacidades mais 
complexas. As habilidades motoras finas se desenvolvem posteriormente 
e estão no controle de grupos musculares pequenos. Outro impacto 
do crescimento físico com a vida mental é evidenciado pela díade 
crescimento cerebral x desenvolvimento emocional, pois este é um 
processo bidirecional em que não apenas as experiências emocionais 
152 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
são afetadas pelo desenvolvimento do cérebro, mas também podem 
causar efeitos duradouros na estrutura cerebral, revela Papalia (2013). 
Já em relação às questões morais, religiões e filosofias, como 
budismo e taoísmo, têm forte ligação com o Karatê e, mesmo assim, 
ele é praticado por pessoas com crenças no islamismo, hinduísmo e 
até no ocidente, onde se encontram marcantemente religiões cristãs, 
como descrito por Funakoshi (1994). No entanto, cabe ressalvar que, 
para os japoneses, os valores morais e éticos são aprendidos por meio 
da religião, não sendo o Karatê especificamente dono de uma filosofia. 
O que ocorre é que o mestre Funakoshi e seus sensei e os sensei que 
vieram antes deles praticavam a religião xintoísta, budista e taoísta. Para 
os ocidentais, tais religiões são estranhas. Assim, os ensinamentos e as 
regras do Karatê parecem vir puramente como filosofia. A exemplo, 
tem-se a vivência de Funakoshi (1994), quando ia à uma casa de banho 
pública, a atendente sempre o cumprimentava. Devido a essa gentileza, 
Funakoshi decidiu que os Karatecas devem sempre cumprimentar, 
demonstrando gentileza, agradecimento, humildade e respeito. 
Mas, para que essa prática fosse difundida por todo o mundo, de 
acordo com Santos (2016), foi necessário que Gichin Funakoshi, em 1902, 
fizesse uma apresentação de Karatê ao inspetor escolar na escola em que 
lecionava japonês. Desse modo, o Karatê se tornou parte do currículo escolar 
no Japão e posteriormente Funakoshi estruturou regras, como o uso do dogi1 
e o sistema de graduação por faixas, tornando oficialmente o karatê um 
esporte. Até então, a prática dessa arte marcial era feita a portas fechadas e à 
noite, de maneira secreta, apenas para um seleto grupo de pessoas. No Brasil, 
com a imigração do Sensei Akamine, o Karatê começou a ser ensinado e, 
em 1956, o Sensei Mitsuki Harada abriu o primeiro dojo2 em São Paulo. No 
entanto, somente com Sadamo Uriu o Karatê ganhou popularidade. 
Gichin Funakoshi fez inúmeras contribuições literárias e 
desenvolveu o karatê a outro nível. Dentre suas obras, destaca-se o 
1 Vestimenta usada para o treinamento do Karatê.
2 Local de treinamento.
153CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO INDIVÍDUO
Niju-Kun, os vinte mandamentos de um karateca, os quais, apesar de 
serem frases curtas, têm seus significados profundos. Devido à sua 
importância, eles serão o assunto do próximo tópico.
3 O Niju-Kun
Sensei Funakoshi criou o Niju-Kun a partir dos ensinamentos de 
seus dois Sensei, Asato e Itosu. Após o treinamento físico, era ensinada 
a doutrina do To De3. Um karateca deve levar o código de ética para 
dentro e fora do tatame e entender o que significa o caminho das mãos 
vazias, caso contrário não será um lutador eficaz, um cidadão consciente 
e ativo e uma pessoa fiel a si mesma. Sem a ética e a moral do karatê, a 
pessoa será apenas alguém que sabe bater, inconsciente do que faz.
A atenção despendida nos escritos de Funakoshi aos bons 
modos, com ênfase na prudência e humildade, parece ser 
coerente com o que julgava mais urgente destacar, naquele 
momento aos praticantes de caratê, conforme podemos 
observar quando cita alunos que pensam de maneira 
diferente. A recorrência a esses valores não deve, porém, 
ser confundida com passividade e conformismo. Há 
observações claras acerca da obrigação da luta pelo que é 
justo. (BARREIRA; MASSIMI, 2002, p 7). 
Quando a criança ou o adolescente está no dojo, ela entra em contato 
com o Sensei, o karatê e seus colegas. Assim, aprende qual o papel do Sensei, 
qual a função do karatê como luta e método de vida, bem como o papel de 
seus colegas de treino e o seu próprio, criando repertórios comportamentais 
duradouros, sendo incentivados a utilizá-los fora do dojo.
Seria uma utopia acreditar que todos os praticantes de karatê 
seguem os valores morais e éticos ensinados pela arte marcial. Além 
3 Antes de ser chamado de Karatê – “mãos vazias” –, essa arte marcial era conhecida como 
To-De - “mãos chinesas”.
154 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
do mais, a sociedade atual é diferente da sociedade em que Funakoshi 
e seus sensei viveram, mas, se se deseja aprender com esta arte marcial, 
deve-se esforçar para introduzi-la fora do dojo. Aquele praticante que se 
recusa a fazê-lo, começará a achar o treino cansativo, repetitivo, chato 
e, consequentemente, irá desvincular-se da pratica do karatê, elucida 
Funakoshi (1994). 
O Niju-Kun4 compreende as seguintes regras:
1 Não se esqueça de que o karatê deve iniciar com saudação e 
terminar com saudação;
2 No karatê não existe atitude ofensiva;
3 O karatê é um apoio à justiça;
4 Conheça a si próprio antes de julgar os outros;
5 O espírito é mais importante que a técnica;
6 Evitar o descontrole do equilíbrio mental;
7 Os infortúnios são causados pela negligência;
8 O karatê não se limita apenas à academia;
9 O aprendizado do karatê deve ser perseguido durante toda a 
vida;
10 O karatê dará frutos quando associado à vida cotidiana;
11 O karatê é como água quente. Se não receber calor 
constantemente, esfria;
12 Não pense em vencer, pense em não ser vencido;
13 Mude de atitude conformeo adversário;
14 A luta depende de como se usam os pontos fracos e fortes;
15 Imagine que os membros de seus adversários são como 
espadas;
16 Para cada homem que sai do seu portão, existem milhões de 
adversários;
17 No início os movimentos são artificiais, mas com a evolução 
tornam-se naturais;
18 O treino das técnicas deve ser de acordo com o movimento 
correto, mas na aplicação tornam-se diferentes;
4 A língua japonesa não utiliza o plural com a letra “s”.
155CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO INDIVÍDUO
19 Não se esqueça de aplicar corretamente: alta e baixa 
intensidade de força, expansão e contração corporal, técnicas 
lentas e rápidas;
20 Estudar, praticar e aperfeiçoar-se sempre.
Utilizar normas como o Niju-Kun para ensinar o karatê às 
crianças e aos adolescentes pode funcionar, conforme abordado pela 
Psicanálise. Segundo Papalia (2013), a criança nasce somente com o 
Id - o princípio do prazer, buscando apenas satisfação de seus desejos, 
chamados de pulsões. Por volta de seu primeiro ano de vida, passa a 
desenvolver o Ego, o princípio da realidade, e este tenta equilibrar as 
pulsões entre o que é aceitável e inaceitável. Por volta dos cinco anos, o 
Superego começa a se desenvolver: valores morais, o certo e o errado. 
Uma criança que inicia o karatê por volta dessa idade terá benefícios 
na construção de seu Superego, desenvolvendo valores e ética propícios 
para uma boa convivência social e equilíbrio mental. 
Para Funakoshi (1998), o karatê traz princípios de educação para 
o praticante, e isso será uma base para se viver em sociedade, de forma 
que poderá contribuir para se ter um futuro melhor. Sendo assim, em 
um de seus próprios livros, Funakoshi (2012) explica os vinte Niju-Kun. 
Princípios como o primeiro, o oitavo, o nono, o décimo e o décimo 
primeiro Niju-Kun fazem referência ao respeito para com o outro e seu 
meio social e ambiental, humildade e gentileza, que devem se estender 
para fora da área de treino, ou seja, a vida. O segundo e o terceiro Niju-
Kun fazem alusão à não violência, pois o karatê não é uma forma de 
causar problemas, e sim de solucioná-los da forma mais pacífica possível, 
sendo o confronto físico o último recurso. Contudo, a pessoa não deve 
ser passiva, e sim ter uma postura ativa. O sexto Niju-Kun estabelece 
o equilíbrio emocional, relacionado à inteligência emocional, ao saber 
lidar com as emoções e entendê-las. 
O sétimo Niju-Kun ensina a aprender que as dificuldades da vida 
muitas vezes são impostas por si mesmo e, também, por que se age de 
156 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
forma passiva diante da vida. O karatê mostra como ser ativo na sua 
história. Já o quarto Niju-Kun mostra que, antes de se julgar alguém, o 
julgamento deve ser interno. Deve-se conhecer os limites, conhecer as 
capacidades, conhecer de verdade a própria essência e saber quem se é 
realmente. A quinta, a décima sétima, a décima oitava, a décima nona 
e a vigésima máximas são voltadas ao treino. No entanto, dependem da 
mente estar afiada no entendimento do karatê, ressaltando que o treino 
é para a vida toda. Por fim, o décimo segundo, o décimo terceiro, o 
décimo quarto, o décimo quinto e o décimo sexto Niju-Kun não falam 
somente sobre a luta física, mas também sobre as adversidades da vida. 
Os inimigos que serão enfrentados nunca podem ser subestimados, 
porém nunca se deve estar desprevenido ou se esquecer dos próprios 
pontos fracos e fortes, assim como o adversário. O karatê ensina a usá-
los na intensidade de força e no momento corretos. A luta nunca é 
somente física, mas também psicológica.
4 O karatê e o desenvolvimento psicossocial do indivíduo
Para Martorell (2014), características do ser humano, como o 
temperamento, são perspectivas da genética. No entanto, o ambiente 
atua na genética transformando suas qualidades. Uma criança de 
temperamento difícil, que se irrita facilmente, sente e expressa emoções 
de maneira intensa, é considerada complicada de lidar. Já as crianças de 
temperamento fácil se mostram mais alegres, espontâneas, pois abraçam 
novas experiências e, até mesmo, seu funcionamento biológico é regular. 
O terceiro tipo de temperamento são as crianças de aquecimento lento, 
resultando em uma mistura dos outros dois temperamentos, pois a 
criança é intensa, reage de maneira negativa, mas, depois pode mudar 
de ideia, é lenta na adaptação. 
Outra teoria que abarca o porquê do karatê proporcionar a 
aprendizagem e o desenvolvimento é a explicação de como o sensei funciona 
como um mediador, conforme apresentado na teoria de Lev Vygotsky, exposta 
157CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO INDIVÍDUO
por Martorell (2014). O adulto ou a pessoa que detém o conhecimento tem o 
dever de guiar o desenvolvimento da criança até que esta aprenda e passe a ter 
competência suficiente para fazer sozinha o que foi ensinado. 
Tanto no desenvolvimento físico do karatê quanto no moral, 
pode-se observar nitidamente como a teoria de Vygotsky funciona: a 
criança não consegue socar e chutar sozinha no começo. Então, o sensei 
passa a ensiná-la e a corrigi-la. Quando ela domina o conhecimento 
do soco e do chute, cabe a ela mesma melhorá-los. Além disso, o 
sensei ensina não somente técnicas de soco e de chute, mas também os 
significados por trás do que o praticante treina diariamente. 
O aluno que teve esse conhecimento enraizado em seu âmago 
se tornará um karateca completo, uma pessoa de caráter forte, 
emocionalmente equilibrada e socialmente ativa, respeitando todas as 
coisas ao seu redor. Dessa forma, cabe ao Sensei ampliar o horizonte 
desses jovens e ressaltar caminhos corretos, nos quais haverá desafio, 
demonstrando que, com persistência e luta, a vitória poderá ser uma 
possibilidade, exatamente como foi mostrado por Gichin Funakoshi 
(1994) e por Bronfenbrenner (1979):
O desenvolvimento representa uma transformação que 
atinge a pessoa, que não é de caráter passageiro ou pertinente 
apenas a situação ou a um dado contexto. Trata-se de uma 
reorganização que procede de maneira continuada dentro 
da unidade tempo-espaço. Esta modificação se realiza 
em diferentes níveis: das ações, das percepções da pessoa, 
das atividades e das interações com o seu mundo. O 
desenvolvimento humano é estimulado ou inibido pelo grau 
de interação com as pessoas, que ocupam uma variedade 
de papéis, e pela participação e engajamento em diferentes 
ambientes. (DESSEN, 2008, p 73).
Algumas crianças e adolescentes projetam na figura do sensei uma 
visão paterna/materna, devido a ele/ela se mostrar como uma pessoa 
158 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
idônea, detentora de conhecimento e que está ali para auxiliar o aluno 
em diversas questões de sua vida. Segundo Bronfenbrenner (1979), a 
aprendizagem e o desenvolvimento precisam de uma relação complexa 
e mútua, pautada em um afeto que não se rompera, pois ultrapassou 
o superficial, gerando, assim, um relacionamento com equilíbrio de 
poder que tende a pender para aquele que irá se desenvolver. Isso não 
significa que o aluno terá mais poder que o sensei, mas sim que adquiriu 
o comportamento desejado e em desenvolvimento. 
Outro conceito é a identidade. As crianças começam a ter sentido 
de uma identidade própria, diferente da mãe, a partir de um ano, pois 
nessa idade começam a criar consciência de si mesmas, a partir do 
autoconceito, definido por Papalia (2013) como a imagem total que se 
tem de si mesmo. Aos cinco anos, a criança começa a se definir usando 
diversas características, o que é uma evolução do autoconceito. Junto 
com a capacidade de se descrever, surge a autoestima, como se julga 
seu valor pessoal. Autoestima alta significa motivação para a criança, 
pois ela sente que, se não conseguiu atingir seu objetivo, é porque deve 
se esforçar mais. No karatê quer dizer que a criança irá treinar até 
conseguir realizar o movimento, não se deixando abalar ao ponto de 
querer desistir quando o senseia repreender. 
Uma das palavras de ordem no karatê é a disciplina, começando 
desde o momento que se entra no dojo. Sem disciplina, não há 
evolução física, das técnicas nem crescimento pessoal. Para a ciência 
do desenvolvimento, a disciplina refere-se aos métodos de se moldar 
o caráter e ensinar o autocontrole e o comportamento aceitável. Em 
Martorell (2014, p. 210), “as formas de se disciplinar uma criança são 
o reforço e punição, raciocínio indutivo, afirmação do poder e retirada 
do amor”. 
Existem 5 (cinco) preceitos (kun), que são usualmente falados ao 
final dos treinos por todos os caratecas. São denominados como Dojo 
kun e citados por Funakoshi (1994):
159CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO INDIVÍDUO
a) Hitotsu jinkaku kansei ni tsutomuru koto (Esforçar-se 
para a formação do caráter);
b) Hitotsu makoto no michi o mamoru koto (Fidelidade para 
com o verdadeiro caminho da razão);
c) Hitotsu do ryoku no seishin o yashinau koto (Cultivar o 
intuito do esforço);
d) Hitotsu reigi o omonzuru koto (Respeito acima de tudo); e
e) Hitotsu keki no yu o imashimeru koto (Conter o espírito 
de agressão).
Repetir esses Dojo kun a cada treino possibilita interiorizar suas 
verdades. Os sensei usam muito reforço, punição e raciocínio indutivo. 
Tendem a punir o aluno com exercícios físicos que ele – aluno – detesta 
quando faz algo errado dentro do dojo ou quando desrespeita o sensei e 
seus colegas. Usam o reforço na forma de elogios ao que o aluno faz bem 
ou simplesmente demonstram uma feição de aprovação. Tais momentos 
são raros dentro de um dojo que se considere tradicional e marcam 
muito mais o aluno do que a punição. Já o raciocínio indutivo acontece 
quando o sensei elucida questões ligadas aos ensinamentos filosóficos 
do karatê, explicando ou trazendo situações em que o aluno deve pensar 
em como reagir e analisar as consequências de seus atos. 
Outro fundamento essencial do karatê a ser explorado é o esforço. 
Sem o devido empenho, não se alcançará evolução:
Através dele que podemos garantir que crianças e jovens 
cresçam com um futuro brilhante [...] e assim usem a arte para 
auxiliar, a conseguir aquilo que mais se almeja, princípios 
que norteiam para se ter uma vida digna moral e ética dentro 
do contexto social. Esses aspectos podem ser iniciados desde 
cedo em crianças, para que jamais nada conduza o praticante 
a usar o karatê de forma a induzir a violência (MUSASHI, 
1984, apud SANTOS, 2016, p. 21).
160 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
Os alunos vêm de lares com estruturas diversas, tanto famílias 
bem estruturadas quanto famílias mal estruturadas. Este é o ambiente 
primário do indivíduo, a família. Posteriormente, inicia-se a vida 
escolar, em que se prima pelo conhecimento técnico e metodológico 
em detrimento de uma educação que irá considerar o indivíduo 
e suas capacidades. Nesse contexto, a prática do karatê estimula o 
enfrentamento de situações adversas, dedicação, persistência, além 
de inteligência emocional, de acordo com Sasaki (1993) apud Zucchi 
(2014). Todo esse movimento se dá por meio do esforço que o aluno 
coloca em seu treino.
Outra característica do karatê, junto com o esforço e a disciplina, é 
o equilíbrio, tanto emocional quanto mental, visto que, desde pequena, a 
criança pode aprender a controlar suas emoções. Papalia (2013) articula 
que o desenvolvimento emocional se inicia desde a primeira infância 
de maneira fisiológica. O bebê começa a ter noção das emoções básicas 
com o crescimento do córtex cerebral. Em seguida, os lobos frontais 
começam a se conectar com o sistema límbico e, posteriormente, 
as crianças começam a experienciar as emoções autoconscientes, 
tornando-se mais capacitadas em equilibrar suas emoções. Por fim, as 
mudanças hormonais acontecem junto com o surgimento de emoções 
avaliadoras. 
Saber falar dos sentimentos e diferenciar emoções é o começo 
para o equilíbrio e, posteriormente, a compreensão levará ao controle 
emocional, que significa saber como expressar os sentimentos, de 
acordo com Papalia (2013). O sensei não pode deixar uma criança que 
não sabe lidar com a raiva, por exemplo, aprender técnicas que irão 
machucar outras pessoas. Primeiro, essa criança deve compreender 
de onde vem sua raiva, entendê-la e controlar como se expressa. O 
equilíbrio emocional impacta diretamente na vida social, pois expressar 
as emoções move relacionamentos e gera comportamentos. 
É interessante mencionar a pesquisa conduzida por Palermo et al. 
(2006) com crianças que exibiam comportamentos fora do padrão tido 
161CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO INDIVÍDUO
como ideal, tais como: desobediência, déficit de atenção e hiperatividade. 
Essa pesquisa visou averiguar se o karatê teria eficácia como intervenção 
no ajuste desses comportamentos e teve como resultado que sim, a arte 
marcial bem ensinada tem esse potencial. Informaram que crianças 
praticantes do karatê, quando comparadas com as não praticantes, 
exibiram melhoras em casa e na escola. Outros impactos positivos do 
karatê nas crianças relatados por esses pesquisadores foram incrementos 
na autoconfiança, no autocontrole, na concentração, na atenção dirigida 
e na administração de habilidades, bem como melhoras nas habilidades 
sociais e no respeito mútuo.
Uma forma de se colher os benefícios do karatê está ligada ao 
impacto no desenvolvimento social. Isso acontece para além dos 
tradicionais dojo, uma vez que existem várias iniciativas de projetos 
sociais que utilizam o karatê como forma de resgate de crianças e 
adolescentes. São nesses espaços que o karatê age como esporte, trazendo 
todos os benefícios já citados e mostra sua força em suas regras e modo 
de vida, inclusive cumpre esse papel como ferramenta de melhoramento 
do indivíduo, uma vez que consegue dar sentido à vida, proporcionar 
autocontrole, disciplina e respeito (SANTOS, 2016).
O karatê funciona como método preventivo à delinquência: 
O comportamento antissocial parece ser influenciado por 
fatores de múltiplos níveis inter atuantes que variam de 
influências do microssistema como práticas de educação dos 
filhos e desvio comportamental de amigos a influências do 
microssistema como estrutura comunitária e apoio social 
da vizinhança [...] essa rede de influências começa a ser 
tecida cedo na infância. (BRONFENBRENNER, 1979, apud 
PAPALIA, 2013, p. 250).
Um comportamento antissocial, como acima dito, inclusive 
com impulsos agressivos, pode ser moldado de forma a se controlá-
los. Quando o sensei analisa os karatecas que estão ao seu ensino, há 
162 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
abertura para orientar e corrigir falhas comportamentais, colaborando 
para a construção do caráter de seus alunos.
O karatê é uma ferramenta de suporte para auxiliar na disciplina 
e no desenvolvimento comportamental. Inserir um dojo no meio de 
comunidades carentes pode ajudar no resgate de muitos jovens. Será um 
processo lento ensinar e educar esses jovens, mas o sensei pode mostrar 
outro caminho:
A sociedade vive um momento turbulento de desonestidade, 
violência, corrupção, onde as pessoas que deveriam dar o 
exemplo e trabalhar em prol da população, têm feito o oposto. 
Portanto, procurar desenvolver valores morais nas crianças 
pode ser a saída para um dia termos uma sociedade mais justa, 
honesta, solidária. O ambiente da academia de artes marciais 
favorece isso devido à preocupação com a conscientização do 
papel da pessoa na sociedade. (ARANHA, 2006, p 36).
Quanto aos adolescentes, eles se diferem das crianças no karatê, 
ao passo que os jovens já têm a mente mais desenvolvida e com opiniões 
formadas. Quando estes já estão no karatê desde crianças, os problemas 
da adolescência são amenizados; mas, quando eles entram no karatê 
estando na adolescência, o trabalho se torna mais difícil. 
Papalia (2013) explica que a chamada puberdade se inicia aos 
11 (onze) anos. É o que caracteriza o fim da infância, começandoas 
mudanças corporais, cognitivas, psicológicas e sociais. Tais mudanças 
acontecem a nível fisiológico e afetam o cérebro do adolescente, o 
qual sofre mudanças acentuadas em estruturas responsáveis pelas 
emoções, julgamento, comportamento e autocontrole. Somente 
quando a reestruturação cerebral se encerra, as conexões neurais que 
permaneceram são fortalecidas. 
O crescimento corporal também faz parte da puberdade, afeta 
a estatura, o peso, os ossos e os músculos. As alterações do surto 
do crescimento irão afetar o treino do karatê, pois o jovem será 
163CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO INDIVÍDUO
“desengonçado”, sem controle de seu corpo. A prática da atividade física 
poderá ajudar na consciência corporal de seu novo corpo e diminuir 
a preocupação com a aparência, já que esportes modelam o corpo 
(Papalia, 2013). 
No nível psicológico, os adolescentes têm uma busca constante 
por identidade. O autoconceito e a autoestima são revisados porque 
essa fase exige a obtenção de novas habilidades. O karatê pode ser essa 
nova habilidade, ajudando o adolescente a passar pelo processo da crise 
de identidade e se encontrar na arte marcial, confiando na figura do 
sensei como alguém que ajudará a resolver os conflitos e os problemas. 
Novamente, os conceitos aplicados ao desenvolvimento da criança 
podem ser replicados ao adolescente, e a dificuldade será transpassar a 
teimosia e rebeldia. Para isso, o sensei deve criar um vínculo de respeito 
mútuo, mostrar que entende o que ele está passando, mas nunca deixar 
de exigir esforço e disciplina. Como dito por Funakoshi (1998), aqueles 
que têm uma relação fraca e superficial com o karatê deixarão de praticá-
lo. Essa relação fraca se caracteriza pela não compreensão da essência 
do caminho do karatê.
Mais uma característica dos adolescentes é a luta por 
independência. Pais que criam seus filhos mostrando respeito à sua 
identidade, ouvindo-os, utilizando do raciocínio indutivo como forma de 
educar e que punem seus filhos quando apresentam mau comportamento 
tendem a ter mais sucesso. O sensei funciona da mesma forma nessa 
situação. Ele transmite seu conhecimento para agregar no caráter e na 
personalidade. Conversa com seus alunos, explica situações, pune e 
chama a atenção quando percebe comportamentos desrespeitosos ou 
violentos. Se desafiado, mostra que não está ensinando algo inventado 
por ele, afinal seu conhecimento tem bases profundas. 
Pais que desaprovam o filho o tempo todo são autoritários. Se 
ficam se punindo sem saber o lado do filho, tendem a ter menos sucesso. 
O sensei, aqui, entra como a figura que irá educar de forma assertiva. Ele 
será o modelo que o adolescente irá usar para se guiar.
164 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
Pais que não ligam para o que os filhos fazem não impõem 
limites e regras, não demonstram preocupação, causando danos 
no desenvolvimento tanto da criança quanto do adolescente. Na 
adolescência, ter-se-á um jovem que não irá obedecer ou respeitar e 
não adotará a imposição de normas facilmente. O sensei deve lidar com 
esse tipo de personalidade da mesma maneira que lida com crianças de 
temperamento difícil (Funakoshi, 1998). 
Em um experimento realizado por Silva Filho (2014) com 43 
crianças no projeto de extensão das escolas do Departamento de Educação 
Física (DEF), pôde-se comprovar resultados da influência do karatê na 
prática, descritos pelo autor: no início, não gostavam de regras, mas, com 
o passar das aulas, houve mudança de valores relacionados aos inúmeros 
princípios já citados neste trabalho, diminuição da agressividade, bem 
como melhora na convivência familiar. As crianças buscaram aprimorar-
se pautadas nos ensinamentos que o karatê proporciona. Nessa pesquisa, é 
notória a influência do Niju-Kun. Mesmo que o autor não tenha deixado 
explícito que as crianças foram ensinadas com esse conhecimento teórico, 
seus resultados mostram a importância do papel do sensei na transmissão 
do conhecimento. Pode-se afirmar que tudo o que Funakoshi deixou é de 
extrema relevância até os dias atuais. 
5 Considerações finais
O karatê apresenta várias evidências que demonstram sua eficácia 
como meio para educação, os quais irão transformar comportamentos e 
fazer com que seus praticantes levem uma boa vida. A figura do sensei 
é importante nesse processo, sendo a pessoa que vivenciou o que as 
crianças e os adolescentes estão passando, podendo instruí-las de forma 
mais eficaz. Sua postura no dojo também é importante. Em vez de 
ignorar os alunos tidos como difíceis, deve adotar novas metodologias, 
fazer o aluno se interessar e, finalmente, conseguir atingir seu âmago, 
provocando mudanças. 
165CONTRIBUIÇÕES DO KARATÊ PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO INDIVÍDUO
Cada aluno tem um temperamento. A arte marcial irá lapidá-lo 
com o intuito de extrair o melhor de cada indivíduo e ensinar novas 
formas de encarar o mundo, gerando formas positivas de agir na 
sociedade, encarar situações com inteligência e controle emocional e ter 
uma vida física e mental saudável. 
A prática do karatê, quando iniciada desde criança, traz uma 
internalização mais rápida do significado dessa arte marcial, já que a 
criança está em processo de formação de identidade, autoestima e 
ainda não enraizou seus valores. Os ensinamentos pautados nas regras 
do karatê se tornarão a base de seus comportamentos, fortalecerão o 
superego e farão com que a criança cresça sabendo como resolver seus 
conflitos e a agir com respeito e humildade. 
A maior facilidade de se provocar o desenvolvimento adequado 
em crianças não exclui a possibilidade de o sensei ser um mediador 
quando se trata de adolescentes. Neste caso, o karatê irá se tornar uma 
alternativa que o jovem poderá escolher seguir e, caso o faça, isso 
acarretará uma reestruturação de seus valores, possibilitando novos 
comportamentos com inúmeros benefícios. 
Na sociedade atual, o individualismo é tido como única forma 
de se alcançar os objetivos de vida. Numerosas injustiças acontecem. 
Aprender a agir de maneira assertiva contribuirá com a formação de um 
indivíduo resiliente, confiante, não tolerante às injustiças. Os praticantes 
devem entender que não se aprende karatê para lutar, e sim que se deve 
esforçar para aprendê-lo também por meio da luta. Para que o karatê dê 
resultados, ele não pode ser tratado apenas como esporte. O karatê deve 
ser utilizado como caminho, assim como os sensei ensinam.
166 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
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humanos. Revista Cientifica FAEMA. Ariquemes – RO. p. 1-32. 
2016. Disponível em: <http://repositorio.faema.edu.br:8000/
168 Karla Tereza de Castro | Adriano Cielo Dotto
bitstream/123456789/493/1/SANTOS%2C%20W.%20M.%20-%20
KARAT%C3%8A% 20COMO%20EST%C3%8DMULO%20%C3%80% 
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pdf>. Acesso em: 20 ago. 2019.
SILVA FILHO, L. A. P. Karatê e Formação de Valores: Vivencias 
nas Escolinhas do DEF. DSpace UEPB. Campina Grande – PB. p. 
1-27. 2014. Disponível em: <http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/
handle/123456789/4635>. Acesso em: 22 set. 2019.
SILVA, C. L, LACORDIA, R. C. Atividade física na infância, seus 
benefícios e as implicações na vida adulta. Revista eletrônica da 
faculdade metodista Ganbery. Juiz de Fora – MG. p. 1-24. 2016. 
Disponível em: <http://re.granbery.edu.br/artigos/NTU3.pdf>. Acesso 
em: 30 ago. 2019.
THIVIERGE, Robert. Diferença entre desporto e artes marciais. 
Disponível em: <https://www.lutasartesmarciais.com/artigos/diferen-
entre-desporto-artes-marciais>. Acesso em: 26 set. 2019.
ZUCCHI, S. L. O Karatê como processo educacional para a integralidade 
do desenvolvimento humano. Revista Eletrônica UFFS. Erechim 
– RS. p. 1-36. 2014. Disponível em: <https://rd.uffs.edu.br/handle/
prefix/2816>. Acesso em: 30 ago. 2019.
169
SOBRE OS AUTORES
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo
• Professora no Curso de Direito da Una Catalão;
• Diretora-presidente do Núcleo Catalão (GO) do Instituto Brasileiro 
de Direito de Família (IBDFAM); 
• Mestra em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás 
(UFG);
• Bacharela em Direito pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Adriano Cielo Dotto
• Professor no Curso de Direito da Una Catalão;
• Vice-Diretor do Núcleo Catalão (GO) do Instituto Brasileiro de 
Direito de Família (IBDFAM); 
• Mestre em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento pela 
Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUCGO);
• Licenciado em Letras pelo Claretiano Centro Universitário;
• Especialista em Direito Educacional Processo Ensino-Aprendizagem 
pela União das Faculdades Claretianas de São Paulo (UNICLAR);
• Bacharel em Direito pelo Centro de Ensino Superior de Catalão 
(CESUC). 
• Faixa preta 2º Dan de Karatê Shotokan.
170
Anna Caroline da Silva Resende
• Licenciada em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG);
• Servidora pública estadual no Ministério Público de Goiás, Comarca 
de Cumari;
• Bacharelanda em Direito pela Una Catalão.
Tatyane Gondim Silva
• Bacharela em Direito pelo Centro de Ensino Superior de Catalão 
(CESUC);
• Pós-graduada em Processo Penal pelo Complexo de Ensino Damásio;
• Pós-graduanda em Direito Constitucional pelo Complexo de Ensino 
Damásio;
• Pós-graduanda em Processo Civil pelo Complexo de Ensino 
Damásio;
• Pós-graduanda em Ciências Criminais e Segurança Pública pelo 
Centro de Ensino superior de São Gotardo;
• Advogada OAB/GO. 
Larissa Stoduto da Rocha
• Conciliadora e Mediadora pela Escola Judicial do Tribunal de Justiça 
do Estado de Goiás (EJUG);
• Bacharelanda em Direito pela Una Catalão;
• Graduada em Gastronomia pelo Instituto de Educação Superior de 
Brasília – IESB (com ênfase em administração de empresas);
• Membro do Núcleo Catalão (GO) do Instituto Brasileiro de Direito 
de Família (IBDFAM).
Laís Fernanda Almeida
• Bacharelanda em Direito pela Una Catalão.
171
Ana Caroline Pereira Sampaio
• Bacharelanda em Direito pela Una Catalão.
• Membro do Núcleo Catalão (GO) do Instituto Brasileiro de Direito 
de Família (IBDFAM).
Amanda Cristina Lima
• Bacharelanda em Direito pela Una Catalão.
Karla Tereza de Castro
• Bacharelanda em Psicologia pela Una Catalão.
• Faixa preta 1º Dan de Karatê Shotokan.
ABORDAGENS 
COMPORTAMENTAL E 
JURÍDICA NAS RELAÇÕES 
FAMILIARES
ISBN 978-65-5081-055-9
Essa obra coletiva traz variados temas da seara do Direito das 
Famílias que estão em profícuo debate entre conceituados 
juristas, bem como nos tribunais pátrios. No primeiro capítulo, 
foram trazidas discussões que envolveram a novidade jurídica 
do divórcio impositivo ou unilateral. No segundo, abordou-se a 
adoção internacional pela ótica constitucional, enfrentando a 
questão problemática do tráfico de menores, na qual se fez uma 
correlação da afronta da dignidade humana com a obra “Tráfico 
de Anjos”, de Luiz Puntel. No terceiro, os temas abarcados foram 
o abandono afetivo, o dever de indenizar e a consequente 
aplicação da responsabilidade civil no Direito das Famílias. Já 
no quarto, analisou-se a guarda compartilhada como um meio 
eficaz de prevenção contra a alienação parental. No quinto, 
realizou-se um estudo sistemático envolvendo os direitos 
sucessórios do companheiro, após o reconhecimento da 
inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, que 
buscou equiparar os direitos do companheiro aos do cônjuge. 
No sexto, abordou-se a aplicação do dano moral à infidelidade, 
especificamente, em sua modalidade virtual. Por fim, no último 
capítulo, encerrou-se com uma contribuição ao estudo 
menorista, verificando cientificamente como o Karatê pode 
influenciar diretamente na vida de crianças e adolescentes. 
Dentre os temas trabalhados, encontram-se tendências para 
2020 relacionadas ao estudo do Direito das Famílias e das 
Sucessões, constituindo grande atualidade à presente obra.
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ORGANIZADORES
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo 
Adriano Cielo Dotto
AUTORES
Patrícia Fortes Lopes Donzele Cielo 
Adriano Cielo Dotto
Amanda Cristina Lima
Ana Caroline Pereira Sampaio
Anna Caroline da Silva Resende
Karla Tereza de Castro
Laís Fernanda Almeida
Larissa Stoduto da Rocha
Tatyane Gondim Silva
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