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0 Autoria: Isabelle Mangueira de Paula Gaspar Isabelle M. P. Gaspar, Enfermeira. Mestre em Enfermagem (EEAN/UFRJ), 27 Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher (HESFA/UFRJ), Especialista em Gênero e Sexualidade (IMS/UERJ). Rafael Rodrigues Polakiewicz Doutorando em Ciências do Cuidado em Saúde (UFF). Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde (UFF), Especialista em Atenção Psicossocial. 1 Sumário 1. Introdução …………………………………………………………………………………………………………….. 3 2. Histórico e Contexto Atual ……………………………………………………………………………….. 4 3. Empreendedorismo e Enfermagem………………………………………………………………….. 5 3.1 Tipos de Empreendedorismo ………………………………………………………………………..6 4. Entrevista com Synara Melo ……………………………………………………………………………….9 5. Conclusão ……………………………………………………………………………………………………………. 21 6. Autoria ………………………………………………………………………………………………………………... 24 7. Contribuições …………………………………………………………………………………………………….. 25 8. Referências Bibliográficas ………………………………………………………………………………. 25 2 1. Introdução Consideramos o enfermeiro como uma potência para produção do cuidado, e por isso, apoiamos o empreendedorismo dos profissionais do meio. Pensando nisso, reunimos especialistas no campo do empreendedorismo para construir esse e-book, especialmente desenvolvido para quem deseja empreender e não sabe por quais caminhos seguir e como colocá-los em prática. Além do contexto histórico sobre o empreendedorismo, ao longo deste e-book você acompanhará uma entrevista com a enfermeira Synara Melo, mentora em Gestão e Marketing para enfermeiros, que ajuda profissionais a realizarem seus empreendimentos. Mas, antes, vamos conhecer um pouco sobre o que é o empreendedorismo. 3 2. Histórico e Contexto Atual O termo empreendedorismo aparece inicialmente por volta do século XV através da palavra entrepreneur, que quer dizer empreendedor, ou mesmo entreprender, que também quer dizer empreender. Os termos se associam ao significado de organizar, administrar e inovar um produto ou serviço. É uma ação para se chegar ao sucesso, por meio de um negócio que visa sanar uma dor existente. O Empreendedorismo vai para além do âmbito econômico, estando ligado diretamente à propulsão de inovação e ao desenvolvimento social da profissão. Apesar da importância do empreendedorismo devido às novas possibilidades de assistência à saúde, esse tema ainda é pouco discutido e difundido na sociedade. Por esse motivo, ampliar as discussões em relação ao empreendedorismo na enfermagem torna-se cada vez mais fundamental tendo em vista que tal atividade já faz parte das Diretrizes Curriculares do curso de Graduação em Enfermagem por meio da Resolução CNE/CES Nº 3 de 2001 e foi recomendado pelo Conselho Nacional de Saúde, através da Resolução Nº 573 de 2018. Mas como transformar uma ideia em produto ou serviço na enfermagem? Esse é o principal desafio dos jovens empreendedores. Como esse tema é muito significativo e gera modificação social da profissão, acreditamos que é no empreendedorismo que se pode propiciar um maior contato dos profissionais com a sociedade, e consequentemente, ampliar a visibilidade social e consolidação da enfermagem enquanto ciência e profissão autônoma. 4 3. Empreendedorismo e Enfermagem A enfermagem é uma profissão autônoma e liberal, garantida pela lei do exercício profissional (Lei 7498/86) e regulamentada pelo Decreto 94406/87 que atua em diversas áreas e por isso pode, inclusive, empreender. Florence Nightingale é considerada a pioneira na área do empreendedorismo na enfermagem e teve atuação forte na Guerra da Crimeia e na fundação da Escola de Enfermagem no Hospital Saint Thomas. Florence teve como ideal da enfermagem, a vocação, que requer dedicação exclusiva e árdua. Além dela, também podemos citar Anna Nery e Wanda de Aguiar Horta como enfermeiras empreendedoras. (CAPELLI et al, 2019) Há estudos que mostram que enfermeiros jovens e com menor tempo de trabalho na profissão são aqueles que mais empreendem, mas na verdade, qualquer profissional que desejar, pode empreender. 5 Ao se deparar com essa oportunidade de fazer algo novo, diferente do que normalmente é oferecido, e se resolver investir seu tempo e dinheiro nessa proposta, você vai reparar que seu bem-estar e o da sociedade poderão aumentar, acumulando competências e, ao mesmo tempo, usufruindo dos rendimentos do seu trabalho. 3.1 Tipos de Empreendedorismo Entretanto, é importante falar aqui que o empreendedorismo pode ser trabalhado de três formas diferentes: empreendedorismo empresarial, intraempreendedorismo e empreendedorismo social. Vamos falar sobre cada um deles? Empreendedorismo Empresarial Esse é o formato de empreender mais conhecido dos três e significa que o enfermeiro criará uma empresa após reunir capital e recursos para tal e trabalhará de forma autônoma com prestação de cuidados de enfermagem, educação e administração. 6 Intraempreendedorismo Nesse, o enfermeiro se motiva a partir do crescimento da empresa para a qual ele trabalha. Ele apresenta ideias e auxilia na tomada de decisões que ajudam a sua organização a passar por problemas, atravessar as dificuldades e a se manter no mercado. Empreendedorismo Social Já o enfermeiro empreendedor social é aquele que vai promover mudanças sociais onde trabalha, através da criação de estratégias e com foco na resolução dos problemas sociais. 7 Consultório de Enfermagem Dentre as possibilidades descritas, vamos falar um pouco sobre os consultórios de enfermagem. Esse tipo de empreendimento foi regulamentado pela Resolução 568/2018 do COFEN que aborda sobre conceitos, registro, licença de funcionamento e estrutura. A respectiva resolução traz que uma das atividades desempenhadas será a consulta de enfermagem, uma atividade privativa do enfermeiro, como consta no art. 11 da Lei n. 7498/1986, que dispõe sobre o exercício da profissão. Somado a isso, as atividades devem ser pautadas mediante a implementação do Processo de Enfermagem e da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) cujo teor se encontra na Resolução n. 538/2009 do COFEN. Recomendamos ainda que você, futuro empreendedor, mantenha seu registro de especialização atualizado no seu respectivo conselho profissional para ampliar a visibilidade social da enfermagem e consolidá-la enquanto profissão autônoma e empreendedora. Somado a isso, investimento em marketing de conteúdo e pessoal nas principais redes sociais. Acreditamos que o cuidado, pautado em alicerces científicos e técnicos, faz da enfermagem uma profissão protagonista e apta a transformar seus saberes em produtos, serviços e assim em um negócio. Empreender é criar mais possibilidades de trabalho e renda. Coloque suas ideias em prática, driblando algumas dificuldades básicas que serão aqui desmistificadas para ajudar você empreendedor. Dessa maneira, veja a importância do empreendedorismo na sua carreira e como você pode alavancar sua trajetória profissional. 8 4. Entrevista com Synara Melo Pensando nisso, fizemos algumas perguntas a Enfermeira Synara Melo do perfil Enfermeira Empreendedoras (@enfermeirasempreendedoras) que ajuda profissionais que buscam pelo tema a compreender melhor os passos para empreender na enfermagem. Synara, qual a sua história com o empreendedorismo? Eu comecei a empreender a partir de uma dor, e com minha parceira de trabalho, a Cláudia, que é de Ribeirão Preto, também foi assim. É importante falar isso porque começamos a perceber que essas dores e problemas não são só nossos, não são exclusividade nossa. É um problema muito comum aos enfermeiros, a sobrecarga de trabalho e a falta de remuneração condizente com a carga de trabalho. Eu trabalhei por quatro anos na atenção primária e vivenciei um período de demissões e redução de salário, algo que perdura até hoje. Por conta dessas questões, eu desenvolvi a Síndrome de Burnout. Por isso, juntei o conhecimento que eu tinha de marketing digital com a estratégia de vendas de produtos digitais,e comecei em 2019, ensinando enfermeiros a oferecer os seus serviços usando plataformas digitais como as redes sociais, sites e blogs, e trabalhando a sua marca pessoal e seu posicionamento dentro dessas plataformas. A Cláudia veio contribuindo muito com um olhar mais empresarial, mais da gestão, um olhar voltado para o marketing mas com um propósito que era muito parecido com o meu, essa missão de não somente ensinar, mas transformar os enfermeiros que passavam por todas essas situações que citei mas que não queriam desistir da enfermagem e sim conseguir 9 construir um novo caminho, que pode ser o empreendedorismo. Então começamos ensinando o enfermeiro a como empreender na enfermagem. Como começar a empreender na enfermagem? Recebemos, todos os dias, essa pergunta dos enfermeiros que nos seguem nas redes sociais. Quando o enfermeiro vai empreender, é muito importante que se pergunte o porquê começar? Qual o motivo de estar querendo seguir esse novo caminho? E isso vem muito do autoconhecimento e autorreflexão que muitos enfermeiros têm dificuldade de fazer. Dentro das nossas mentorias e treinamentos, fazemos esse trabalho inicial antes de ensinar qualquer estratégia e método, porque entendemos que é importante você entender de onde você está vindo e é igualmente importante entender para onde você quer ir. Eu percebo que muitos enfermeiros que empreendem hoje em dia, e que começaram sem estudo e preparação para isso, tem essa dificuldade, justamente por não ter tido esse preparo. Por isso, acreditamos que antes de começar qualquer coisa é importante saber o motivo pelo qual você quer fazer isso e a partir daí, começar a buscar outros pontos que são mais estratégicos, como em qual área você vai querer empreender, para quem você quer empreender ou oferecer seus serviços e quais são os serviços que você vai oferecer. São esses os pontos principais. Saber identificar dentro da sua área de atuação como enfermeiro qual é a sua especialidade? Qual a área que você trabalha que se identifica e que tem facilidade e habilidade para poder compartilhar com outras pessoas? Porque a partir do momento que você começa a usar a internet, para que as pessoas percebam que 10 seu trabalho é importante, você precisa trazer conhecimento dentro da plataforma para que assim comece a aumentar sua autoridade dentro da plataforma virtual. É preciso ter CNPJ para começar a empreender? Existem algumas formas em que o enfermeiro pode empreender. Por exemplo, o enfermeiro pode abrir um consultório de enfermagem, uma clínica de enfermagem, uma Instituição de Longa Permanência (ILPI), uma empresa de Home Care ou uma empresa de acompanhamento de atendimento individual, onde você realiza uma consulta de enfermagem, só que em domicilio. Além dessas opções, também existem os infoprodutos, que nada mais é do que oferecer o seu conhecimento e serviço de forma online, com mentorias, consultorias e cursos online. Quando você monta um consultório de enfermagem não é necessário CNPJ para começar, porque o CNPJ é necessário a partir do momento que você tem uma equipe e contratações de outros profissionais e de colaboradores. Porém, ter CNPJ dá benefícios para o empreendedor. O que nós orientamos aos nossos alunos é procurar um contador para poder sim fazer o CNPJ e ter todos esses benefícios, tanto na parte de compra de recursos e materiais, quanto na de contratação de funcionários. Mas para começar, se for começar sozinho, sem contratação, você como pessoa física consegue abrir o seu consultório. Agora, quando se trata de infoprodutos ele já não entra mais como enfermeiro pois tem um código para o Microempreendedor Individual (MEI) que é para cursos e treinamentos, então a pessoa pode ser MEI para ser infoprodutor, mas assim como 11 qualquer outra circunstância, é preciso se atentar ao limite de faturamento, além das regras específicas que o MEI possui. O que é melhor para o enfermeiro que quer começar a empreender, abrir um consultório de enfermagem, fazer atendimento domiciliar ou ter um infoproduto? Isso depende muito do que o enfermeiro quer e do seu poder aquisitivo para tal. Quando você constrói um consultório, é necessário um investimento inicial maior do que aquele que teria para começar com atendimento domiciliar apenas. Então, a gente sempre orienta a começar com atendimento domiciliar porque você consegue começar a oferecer o seu serviço e só precisa mesmo pensar nos recursos materiais e na sua mobilidade. É só você criar seu plano de negócios voltado pro atendimento domiciliar e assim consegue fazer seu atendimento de forma mais rápida. Para ter um estabelecimento de saúde é necessário ter alvará, autorização do corpo de bombeiros e uma série de documentações para que de fato você consiga colocar o seu consultório em funcionamento de forma legalizada, mas para o atendimento domiciliar e também para a construção de infoprodutos, é menos burocrático, além dos impostos serem maiores para o consultório de enfermagem. Ou seja, vai depender muito do que o enfermeiro quer, depende do seu bolso e do seu desejo. Alguns enfermeiros já tem a ideia pronta de ter seu próprio consultório, assim, nós o ajudamos a planejar para que ele consiga de fato abrir seu espaço, sem que “troque os pés pelas mãos”, porque um outro ponto que precisa ser muito 12 bem trabalhado com os enfermeiros é a questão da gestão financeira. O nosso trabalho também é ensinar a educação financeira de acordo com o que vivemos no nosso negócio, assim conseguimos ajudar os enfermeiros a trabalhar com essa mentalidade pois é um problema se não tiver essa preocupação logo no início para que, futuramente, você consiga não só manter o seu negócio aberto, funcionando bem mas também que consiga de fato crescer e obter um faturamento e lucro significativo. Quais os primeiros passos pro enfermeiro empreender? Os principais passos são: autoconhecimento, entender o porquê quer e quais são as suas motivações, mas às vezes isso não vai ser definido logo no início, é algo que encontramos somente no processo todo. Identificar a área em que quer atuar e fazer uma pesquisa de mercado dentro dessa área para saber se de fato, aquilo que você quer montar, tem demanda. A pesquisa de mercado se dá através das redes sociais, principalmente na plataforma do google e youtube que são as plataformas de busca mais utilizadas mundialmente, através de palavras chaves. A partir do momento que você define o seu nicho, a área que você quer atuar, fazer essa pesquisa de mercado é para entender quais são os serviços oferecidos dentro dessa área e o que você pode oferecer de diferente daquilo que já existe, para que assim você comece com um diferencial. Planeje suas ações. Não adianta querer começar a empreender de um dia para o outro e abrir o seu negócio, tem todo um plano que é preciso ser estruturado para que você depois coloque ele em prática e dentro desse plano você já analise e tente prever os possíveis erros, percalços e 13 obstáculos para que quando aconteça algum problema, você consiga gerenciar os bloqueios, o máximo possível. O risco existe e o enfermeiro precisa estar preparado para lidar com essas situações, pois a partir do momento que você deixa de ter o vínculo empregatício com uma instituição e você se torna autônomo, passa a ser seu próprio chefe, você tem as responsabilidades de um chefe ou seja você é responsável por tudo, pela parte financeira, pela parte técnica, pela parte operacional, de planejamento e marketing. São muitas coisas que precisam ser pensadas antes de serem colocadas em prática. Como você vê a necessidade de um projeto de negócio? Na produção de infoprodutos ou na produção de gerar serviço na rede, muitos não tem um plano, como você vê isso? Existem muitas pesquisas que falam que a maioria das empresas fecham justamente por conta dessa falta de preparo do empreendedor lá no início, então focamos muito no plano de negócios. Dentro do nosso treinamento,as mentorias são as primeiras a serem focadas no plano de negócios, pois é algo que a gente precisa trabalhar muito com os alunos. Eles querem assistir a aula e logo colocar em prática. Explicamos que há a necessidade de um preparo para isso, até porque tudo o que é feito no início, futuramente terá consequências que podem ser tanto positivas quanto negativas, então a necessidade de um plano de negócios é primordial e essencial. Na maioria dos casos, e eu posso falar com muita propriedade, dos que empreendem hoje em dia, não tem nem ideia do que é um plano de negócios, não sabem como estruturar 14 um projeto. E isso é muito grave porque o empreendedorismo vem crescendo muito na enfermagem, e como tudo que tem sua alta, também pode ser que de uma hora para outra, tenha uma queda drástica. A partir do momento que eles não têm esse preparo, não tem esse olhar do lado empresarial, de gestão de negócios e marketing, a chance dessas empresas que estão abrindo agora fecharem é muito grande. Quais são as principais áreas que os enfermeiros buscam para empreender? Dermatologia e tratamento de feridas e ostomias, área materno infantil, consultoria em amamentação, principalmente, perfuração de orelha e práticas integrativas de saúde como ventosaterapia, auriculoterapia, acupuntura e ozonioterapia são as mais procuradas quando o assunto é empreender. E sobre a formação das universidades, como é tratado o empreendedorismo na graduação? Atualmente, o tema ainda é pouco difundido nas universidades. Quando é mencionado de alguma forma, existe pouco conteúdo sobre o tema. A gente vem conversando com alguns coordenadores de universidades que pensam em formas de abordar o tema empreendedorismo para os acadêmicos, mas ainda é algo raso e superficial. O assunto vem à tona quando abordam o home care e empresas de cuidador de idoso, mas ainda sim de forma mais individual, não existe. 15 Não se fala que enfermeiro pode ter consultório e oferecer serviços individuais, mas acredito que isso é algo que vai mudar, mesmo que demore. Estamos em constante contato com universidades e isso já é um grande passo, diferente de outras categorias da saúde como nutrição, odontologia, medicina, que dentro da faculdade os acadêmicos já sabem que quando sair podem abrir o próprio consultório, o enfermeiro ainda não tem essa visão, e quando a gente não tem a perspectiva e não sabe o que pode fazer, a gente também não se interessa por aquilo, então se pelo menos dentro das universidade essa oportunidade for apresentada, já será um bom começo. É interessante pensar que quando saímos da faculdade e durante a vida, somos moldados dentro de uma caixinha, induzidos a só pensar no campo hospitalar como área de trabalho. Trabalhar em hospital ou demais unidades de saúde, fazer residência, especialização, mestrado e concurso público, não nos é apresentado outras coisas, mas existem outros caminhos e outras possibilidades e o grande diferencial é que você não precisa ter rios de dinheiro para ser um empreendedor, que é algo que muitos enfermeiros acham, que é preciso ter especialização na área de empreendedorismo para poder de fato começar, e colocam uma série de condições que chamamos de travas que acabam impedindo eles de fato a entrar nesse mercado. O empreendedorismo é um mercado que tem muito a ser explorado e tem muito potencial para o enfermeiro porque a partir do momento que a gente percebe que tem uma população, a nível nacional, que tem carência a assistência à saúde e ao acesso à saúde, tem muita gente que precisa da gente e precisa do nosso cuidado. 16 A partir do momento que eles enxergam isso, e que o serviço é essencial, ajuda o empreendedor a se dedicar ainda mais a esse mercado. Para o enfermeiro recém-formado ou aquele que está no mercado de trabalho há um tempo, como fazer para ter uma ideia, como funciona a criação da ideia para definir com o que empreender? Temos um método que ajuda o enfermeiro a identificar o que ele pode fazer não só através da vivência profissional, a gente tenta buscar desde a vida dele antes mesmo da enfermagem, as muitas habilidades que nos ajudam a ser o profissional que somos hoje, então, ajudamos a tentar identificar essas habilidades, preenchendo uma ficha com várias perguntas relacionadas à vida pessoal e profissional. Quando vamos para mentoria observamos quais os pontos fortes e fracos, quais as áreas da enfermagem que ele mais se identifica e já trabalhou e já se especializou. Tudo isso ajuda a tomar forma e saber no que ele pode construir mais a frente. Então primeiro fazemos o brainstorming que é a “tempestade de ideias” de trazer todas essas informações e a partir daí conseguir estruturar um plano de negócios voltado para alguma atividade que ele queira oferecer. Essa parte do idealizar é muito individual, cada um tem o seu momento e a sua forma, então como profissional que trabalho com eles, eu estou o tempo inteiro estudando e buscando novas formas de trabalhar melhor isso com os enfermeiros porque a mentalidade empreendedora é algo que precisa ser muito desenvolvida no enfermeiro. A parte do método em si é mais fácil, isso é cultural, a gente faz um trabalho muito individual, tentando identificar ali o contexto de vida daquela 17 pessoa, quase que uma análise para que consiga extrair o máximo possível do enfermeiro. É a partir da ideia que o enfermeiro define qual melhor infoproduto que ele tem para vender? Como é feita essa escolha? Como escolher o melhor infoproduto? O infoproduto está muito voltado para profissionais que tenham alguma experiência em alguma área, o nosso objetivo é qualificar cada vez mais os profissionais de enfermagem em diversas áreas. O que a gente ensina é que enfermeiros experientes transformem essa experiência em curso online e mentoria e que ele consiga ajudar profissionais menos experientes que ele, dessa forma qualificando muitos profissionais que são recém formados ou que caem de paraquedas em algum setor que não tem prática, e dessa forma garantem um cuidado e assistência de qualidade. A gente vê que tem muitos enfermeiros com dificuldade em diversos pontos, por exemplo, um enfermeiro que tem muita facilidade de lidar com equipe de liderança, ele pode criar uma mentoria que vai ajudar os enfermeiros que têm dificuldade de liderar a sua equipe para que eles liderem a equipe deles. O nosso objetivo é muito de disseminar para outros profissionais melhorando e qualificando a atuação do enfermeiro. Tem muito a ver com o propósito também, eu me sensibilizo muito com os enfermeiros porque eu passei por um problema que eu vejo que muitos enfermeiro passam e eu não quero que eles passem, então isso é muito forte em mim. 18 Eu por exemplo, já pensei em empreender em várias outras coisas. Já tive experiência em sala de curativo, cessação do tabagismo, mas o que fez meu coração cantar foi trabalhar e cuidar de outros profissionais. O meu Trabalho de Conclusão de Curso em enfermagem do trabalho e da residência em saúde mental foi falando de saúde do trabalhador, sobre o cuidar de trabalhadores e cuidar do enfermeiros, isso eu já pensava antes, mas agora com a pandemia isso se intensificou ainda mais pois no cenário de hoje, vemos muitos profissionais pedindo demissão e que não estão aguentando por conta da carga de trabalho e dificuldades que estão vivenciando. O fato de poder mostrar para esses profissionais que eles não estão no fim do túnel e que tem uma luz ali me deixa muito feliz, por isso temos que buscar aquilo que a gente gosta e que vai fazer sentido pra nossa vida, porque quando a gente vai empreender é porque quer ter um retorno financeiro sim, claro, todo mundo precisa pagar as contas, mas não é só o retorno financeiro que vai te fazer levantar todos os dias, fazer seu horário e colocar disciplina e fazer seu negócio ir pra frente, o que te faz fazer isso são as motivações e esse propósito, então quanto mais você busca isso dentro de vocêmenos difícil é esse processo porque empreender não é um mundo de rosas ele tem também as suas dificuldades, por isso é tão importante essa escolha do público alvo e a área que ele deseja atuar. 19 Quais são as principais dicas do que não fazer ao empreender? Há um tempo atrás, a relação que o profissional tinha com o paciente era distante e mais formal, mas agora, como estamos em uma era digital, se as empresas não estão na internet é praticamente como se elas não existissem, por isso o maior erro que eu posso pontuar é: não estar na internet. Conheço muitos enfermeiros que tem consultório de enfermagem, até tem um instagram da sua marca, sua empresa, mas não leva isso a sério, não entende que aquilo ali é também um local de trabalho, hoje em dia é de extrema importância a presença digital, porque o que o consumidor faz? Te procura! Pega o seu nome e coloca nas redes sociais para saber mais de você e se quando ele chegar na sua página, seja site, instagram ou youtube e ele não encontra nada, ele dificilmente vai confiar em você e te dar credibilidade e acaba que e vai se basear apenas sobre o seu preço ou se alguém indicar você. então o empreendedor não pode depender só de indicação e de ser comparado pelo preço. Quando ele usa a internet ele consegue aumentar a percepção do consumidor no valor que ele tem. Ele começa a ser visto como autoridade e como um profissional que pode ser confiado e isso é muito significativo para a enfermagem. As pessoas não sabem que um enfermeiro pode ter um consultório, então, quando você divulga sua rede social, e nela que existe consultório e que você pode trazer tais benefícios pra vida das pessoas e que você tem todo o respaldo ético e legal, além de trazer uma representatividade para enfermagem que é gigante, o uso das redes sociais é onde está a atenção das pessoas que estão o tempo inteiro olhando as redes sociais, então nada mais estratégico do que as empresas estarem dentro das redes sociais. O relacionamento também entre o profissional e o paciente mudou, hoje é mais 20 próximo, antigamente era a secretária que falava com o paciente, e agora não, é o próprio profissional que consegue estabelecer esse contato e essa relação, entender realmente quais são as necessidades do paciente dele e isso faz total diferença na hora de fidelizar o paciente, na hora que precisa que ele retorne pro atendimento. É um poder muito grande você saber usar a internet, principalmente as redes sociais de forma profissional não só com o objetivo de atrair pessoas mas também de fidelizar e ter o crescimento da empresa. 5. Conclusão Os enfermeiros possuem o cuidado como base sólida da profissão e, a partir disso, desenvolvem uma série de técnicas que são essenciais para o enfrentamento das questões de saúde. A produção do serviço de enfermagem historicamente se enraizou na relação de trabalho empregatícia, mas com as mudanças das relações de trabalho e com os avanços tecnológicos, empreender tornou-se uma possibilidade. De acordo com Trotte et.al. (2021), a tendência empreendedora dos alunos de graduação em enfermagem apresentam baixa tendência empreendedora, mas possuem impulso e determinação para realizar atividades empreendedoras. Além disso, revela a necessidade de investimento nas universidades no desenvolvimento de uma cultura empreendedora na enfermagem. Compreender as atribuições do enfermeiro e suas potencialidades é essencial para a construção do enfermeiro empreendedor. A enfermagem precisa 21 construir bases sólidas de identidade para valorizar melhor o saber dos profissionais. Empreender não é tarefa fácil, assim como qualquer outra área do conhecimento, depende de técnica e aprendizado numa construção que considere saberes de outras áreas do conhecimento. Isto é compreender que empreender está para além de abrir um negócio, há inovação atrelada ao ato de fazer. Empreender na enfermagem é uma reinvenção da prática, associado a inovação do processo de construção de possibilidades frente ao cuidado. Valença et.al (2020), nos lembra que o empreendedorismo na enfermagem brasileira é uma competência importante para as práticas de enfermagem com autonomia e uma característica que gera potência nas práticas de cuidado pelo caráter inovador que já há no próprio ato de empreender. Da Silva et.al revela que Empreendedorismo é mais do que abrir uma empresa, possui uma relação com a autonomia. É a criação e reinvenção de algo que já existe como prática, utilizando assim, melhores competências para criar algo diferente com elevado valor acrescentado. A possibilidade econômica diferente daquelas tradicionais já é, por si só, um benefício do empreendedorismo, transformando as práticas de cuidado em enfermagem, de acordo com a necessidade dos assistidos e do contexto social atual. Corpelli, Herdman e Santos (2019) contribuem relacionando o conceito de empreendedorismo com o próprio ato de fazer. "O empreendedorismo na Enfermagem está vinculado principalmente a características pessoais, o que permite associar o empreendedorismo a um comportamento e/ou perfil e/ou atitude do enfermeiro". O autor ainda explica que existem vários tipos de empreendedorismo, sendo o social e o empresarial, os principais. Descreve 22 enaltecendo a importância do empreendedorismo social, que está relacionado à atividade da própria profissão, onde a principal atividade é o cuidado. Esta forma de empreendedorismo valoriza o crescimento mútuo da sociedade enquanto o empreendedorismo empresarial e é aquele que visa ganho econômico de maneira autônoma aos tradicionais locais de produção de serviço. Se naquele, a relação é voltada a si, despertando em características pessoais que levam ao trabalho com desenvolvimento e inovação, neste, o empresarial, as estratégias são desenvolvidas por enfermeiros para o desenvolvimento do espírito de negócios e a busca de bons salários e estabilidade profissional. Como pode ser visto, o empreendedorismo pode ser desenvolvido de diversas formas, mas o importante é compreender que há possibilidade para que os profissionais da enfermagem possam vencer a condição social que os reduzem à condição de atuação profissional voltada para locais tradicionais. Além disso, o campo da inovação é amplo que faz com que o enfermeiro possa explorar ao máximo seus conhecimentos. Sendo assim, para empreender é necessário que o enfermeiro possa ver importância no processo de cuidado em saúde. Que possa compreender que a profissão precisa ser referência para outras áreas e também para que a sociedade saiba mais sobre o cuidado, tão caro para todas as áreas do conhecimento humano, uma vez que a maioria dos produtos e serviços que temos na sociedade são para cuidar de alguém de forma formal ou informal. 23 6. Autoria Isabelle Mangueira de Paula Gaspar Enfermeira com mestrado e residência em Saúde da Mulher (UFRJ) e especialista em Gênero e Sexualidade (UERJ). Rafael Rodrigues Polakiewicz Doutorando em Ciências do cuidado em saúde. Professor Universitário e escritor. Conteudista do Nursebook. 7. Contribuições Nathalia Schuengue Enfermeira Pediatra pelo Instituto Fernandes Figueira, Mestre em Saúde da Criança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Synara Melo MBA em Gestão de Negócios e Marketing, Residência Multiprofissional em Saúde Mental (Prefeitura do Rio) e Especialista em Saúde do Trabalhador. 24 8. Referências Bibliográficas Trotte L.A.C., et al. Tendência Empreendedora de Estudantes de Enfermagem: Comparação entre Alunos de Graduação Iniciantes e Concluintes. Rev. Lat. Am. Enfermagem v.29, Epub, 202. Ribeirão Preto, 2021. Da Silva et.al. Autonomia e Inovação: Empreendedorismo de Negócios na Enfermagem. Enfermagem Brasil. 2020, v.19 Issue 2, p.184-192. Valença, F.R.T. et.al. Perfil de Empreendedores da Enfermagem em Instituições de longa permanência para Idosos. Enfermagem Brasil 2020;19(5):411-422. Copelli FHS, Erdmann AL, Santos JLG. Entrepreneurship inNursing: An Integrative Literature Review. Rev. Bras. Enferm. 2019;72(suppl 1):289-98. Copelli Fernanda Hannah da Silva, Erdmann Alacoque Lorenzini, Santos José Luís Guedes dos. Empreendedorismo na Enfermagem: Revisão Integrativa da Literatura. Rev. Bras. Enferm. [Internet], 2019:72(Suppl 1): 289-298. Sabrina de Cássia ChagasI, Priscila Néria Milagres II, Mariana Cristina Rodrigues Silva III, Ricardo Bezerra Cavalcante, Patrícia Peres de Oliveira, Regina Consolação dos Santos. O Empreendedorismo de Negócios entre Enfermeiros. Rev. Enf. UERJ, 2018. Arnaert A, Mills J, Bruno FS, Ponzoni N. The Educational Gaps of Nurses in Entrepreneurial Roles: An Integrative Review. J Prof Nurs. 2018; 34(6):494-501. COFEN, Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 568/2018. Backes, Dirce Stein; Erdmann, Alacoque Lorenzini and Buscher, Andreas. O Cuidado de Enfermagem como Prática Empreendedora: Oportunidades e Possibilidades. Acta Paul. Enferm. 2010, v.23, n.3, p.341-347. Martins, Maria José Rosado Fernandes, Sérgio Joaquim Deodato. A Visibilidade da Enfermagem, dando Voz à Profissão: Revisão Integrativa. Revista de Enfermagem UFPE on line, [S.l.], v.8, n.7, p.2422-2433, maio 2014. ISSN 1981-8963. COFEN, Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 538/2009. 25 26
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