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Pré Projeto TCC LEONARDO GONÇALVES FESP FINAL

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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
REVISTA ÍNTIMA EM PRESÍDIOS:
Violação do princípio da dignidade da pessoa humana?
LEONARDO CÍCERO RAFAEL GONÇALVES
 
JOÃO PESSOA/PB
2015
LEONARDO CÍCERO RAFAEL GONÇALVES
 
REVISTA ÍNTIMA EM PRESÍDIOS:
VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA?
 
 
Pré-projeto de Trabalho de Conclusão de Curso a ser apresentado na Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP.
JOÃO PESSOA/PB
2015
INTRODUÇÃO
	
A revista íntima realizada em familiares e visitantes de presos é um assunto bastante polêmico no ordenamento jurídico brasileiro. A expressão revista íntima, na verdade consiste em um procedimento mais invasivo e agressivo na pessoa que queira adentrar a um estabelecimento prisional ou congênere, pois exige o exame do próprio corpo do indivíduo, com atos de despir e quando necessário, toques ou contatos físicos conduzidos pelo revistador, que normalmente é servidor do sistema prisional brasileiro. Existem também revistas íntimas para acesso também a estabelecimentos privados por parte dos funcionários que laboram nessas empresas, mas esse não é o foco do trabalho em questão.
A Constituição Federal Brasileira de 1988 (CF/88), mais precisamente em seu artigo 5º, inciso III, diz que “ninguém pode ser submetido a tortura ou a tratamento cruel ou desumano”. A dignidade humana, de outro lado, é o valor-síntese do nosso Estado constitucional de direito (art. 1º, III, da CF).
O exercício da autoridade pública tem a obrigação de respeitar os limites do Estado de direito, que são superiores ao poder do Estado e inerentes à dignidade humana.
No plano internacional, várias são as normas jurídicas vigentes que regem a matéria envolvida, destacando-se a Convenção Americana de Direitos Humanos, que em seu artigo 5º, proíbe medida degradante ou tortura assim como a transcendência da pena para outras pessoas. O artigo XXI traz ainda a proteção da privacidade, da honra e da dignidade, o XIX traz normas de proteção as crianças e o XXIV fala da proteção das mulheres. 
Para se estabelecer a inspeção vaginal, segundo a jurisprudência internacional, deve o Estado cumprir quatro condições: (a) absoluta necessidade; (b) inexistência de nenhuma outra alternativa; (c) ordem judicial (em princípio); (d) concretização unicamente por profissionais da saúde pública. Acontece que na maioria dos casos, alguns desses itens são desrespeitados ou até a totalidade deles.
Recentemente, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária recomendou, em resolução publicada no Diário Oficial da União, na data de 02 de setembro de 2014, conforme conta do anexo I, o fim da revista íntima nos presídios brasileiros, considerada por eles, uma prática "vexatória, desumana ou degradante”. O conselho pede o fim do desnudamento (parcial ou total), da introdução de objetos nas pessoas revistadas, dos agachamentos ou saltos e do uso de cães ou animais farejadores durante o procedimento.
Cabe então fazer aqui uma pergunta crucial: a revista íntima em presídios, viola o princípio da dignidade da pessoa humana? É realmente necessário o uso deste tipo de procedimento para que se combata a entrada de produtos ilícitos nos presídios brasileiros? Diante do posicionamento acima evidenciado, iremos discorrer durante esta obra, sobre os aspectos que levam a adoção da revista íntima e nos casos em que ela deve ser abolida de vez do nosso cotidiano, seguindo uma tendência mundial de valorização dos direitos humanos e levando em consideração a integridade física do visitante.
METODOLOGIA
Apesar de não existir uma literatura vasta no Brasil que trate do tema proposto neste estudo, ainda assim foram consultadas algumas obras impressas e outras encontradas na rede mundial de computadores que serviram de base para tratar do tema escolhido. A pesquisa bibliográfica encontrada está intrinsecamente ligada a autores que laboram na atividade prisional e também por aqueles que de alguma forma trabalham na defesa dos direitos humanos e fundamentais dos encarcerados. 
A pesquisa bibliográfica implica em um conjunto ordenado de procedimentos de busca por soluções, atento ao objeto de estudo, e que, é por isso que ele não pode ser um instrumento aleatório de pesquisa.
Entende-se ainda por pesquisa, aquilo que é considerado como um processo no qual o pesquisador tem “uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente”, pois realiza uma atividade de aproximações sucessivas da realidade, sendo que esta apresenta “uma carga histórica” e reflete posições frente à realidade (MINAYO, 1994, p.23).
Reafirma-se a pesquisa bibliográfica como um procedimento metodológico importante na produção do conhecimento científico capaz de gerar, especialmente em temas pouco explorados, a postulação de hipóteses ou interpretações que servirão de ponto de partida para outras pesquisas.
Por conseguinte, conclui-se, após as definições supracitadas, que a pesquisa bibliográfica é uma das etapas da investigação científica e por ser um trabalho minucioso, requer tempo, dedicação e atenção por parte de quem resolve empreendê-la. Por essa razão, a literatura encontrada, ainda que escassa por se tratar de tema pouco debatido na doutrina, foi de fundamental importância para que esta obra fosse elaborada e enriquecida com o material encontrado. 
1. A REVISTA ÍNTIMA PESSOAL E O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO
O Sistema Prisional Brasileiro, como todos sabemos, visa punir o indivíduo infrator num primeiro momento, para posteriormente buscar a reintegração do preso a sociedade. Sabendo então que o indivíduo que infringe a lei é, antes de tudo, um ser humano, direitos devem ser assegurados, pois a Constituição Federal, lei maior de uma nação, deve ser observada em todos os aspectos, garantindo assim os direitos fundamentais e evitando desrespeito a condição elementar de ser humano. Por esse motivo, é que o sistema prisional tem a obrigação e a necessidade de respeitar os direitos humanos, a integridade física e moral do indivíduo, além de outras garantias constitucionais básicas.
É visível, especialmente no Brasil, que o sistema prisional se apresenta totalmente falido, pois as condições dos presídios brasileiros são precárias e são encontrados em quase todos os estabelecimentos penais, superlotação, violência, estruturas físicas comprometidas, sujeira, facções criminosas comandando o crime de dentro dessas cadeias, diversos tipos de infrações aos direitos humanos dentre outras situações que acabam por agravar a incidência da violência nessas unidades. A única exceção que cabe aqui ressaltar, são as condições dos presídios federais brasileiros, dotados de infraestrutura moderna, material humano bem treinado e qualificado, recursos financeiros disponíveis, além de apoio irrestrito do Governo Federal para a consecução da sua atividade fim. 
Em decorrência da falta de estrutura da grande maioria dos estabelecimentos prisionais no país, direitos básicos são constantemente transgredidos, o que acaba por piorar o comportamento destes apenados, conforme vemos a seguir: 
O fato é que, a prisão, “não é qualquer instituição pública que promova ou auxilie o bem estar das pessoas que nela ingressam, mesmo que para realizar uma visita. É um poder que exerce a violência institucional, reprimindo as necessidades reais de direitos humanos com um enorme grau de violação dos direitos fundamentais” (DUTRA, 2008)
Diante da problemática acima exposta, foram criados dispositivos legais cujo objetivo principal seria assegurar e garantir os direitos humanos do apenado, como forma de fornecer o mínimo necessário nesse campo, uma vez que a prisão, ainda que temporariamente, retira do preso alguns direitos que eram garantidos antes da transgressão. Citando um desses direitosque foram minorados, talvez pela incidência do que chamamos de “Direito Penal do Inimigo”, é o direito à intimidade dos presos, como a visita íntima, que foi conferida como um direito constitucionalmente aos presos, segundo a Resolução n.º 1, de 30 de março de 1999, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Tal normativo foi criado para assegurar a privacidade e inviolabilidade dessas visitas nestes estabelecimentos. Além da resolução supracitada, podemos também destacar o direito à intimidade, elencado no artigo 5º, X da CF/88.
Vale também ressaltar, que através de outra resolução criada por este mesmo Conselho, a de nº 14, de 11 de novembro de 1994, fixou as normas mínimas para tratamento dos presos, ou seja, foi garantido ao preso, o direito de se comunicar, sob vigilância, com sua família, parentes e amigos, por correspondência ou por meio de visitas, sendo estabelecidos, dias e horários próprios para a sua realização.
Posteriormente, essa permissão foi revista pela Resolução nº 9, de 12 de julho de 2006, do mesmo Conselho, que coube da necessidade de dotar os estabelecimentos penais de meios e procedimentos adequados para a manutenção da ordem e disciplina no seu interior, bem como evitar excessos no controle do ingresso de cidadãos livres nesses estabelecimentos, e ainda, diante da necessidade de preservar a dignidade pessoal desse cidadão livre que adentra o sistema carcerário, recomendando ainda que seja feita em pessoas na qualidade de visitantes, servidores ou prestadores de serviços, bem como nos objetos por eles portados.
Outrossim, tal dispositivo, informa claramente, que a revista manual e íntima, deverá ser realizada em caráter de excepcionalidade, e ainda quando houver fundadas suspeitas de porte de substância ilegal que venham por em risco a segurança do estabelecimento prisional, devendo ainda esta revista, ser realizada em local reservado, preservando a honra e a dignidade do revistado. A revista, conforme entendimento de Carlos Roberto Mariath:
“ante a ausência de autorização judicial, a regra para a realização de revista preventiva em estabelecimentos penais é a revista indireta, ou seja, aquela em que não há contato físico entre o agente público e o revistado, realizada por meio de aparelhos de detectores de metal ou espectrômetros. Já, nos casos de fundada suspeita, excepcionalmente, é permitida a revista direta, manual, superficial, realizada sobre o corpo e a roupa do revistado.”
É na verdade, uma medida atrelada à política de segurança pública, pois é por meio dela que se coíbe a entrada nestas unidades penais, produtos considerados irregulares e proibidos, que possam trazer alguma consequência negativa para o habitat dessas cadeias. O objetivo na verdade é garantir a segurança nos estabelecimentos prisionais através das revistas realizadas por servidores, nos visitantes e parentes dos presos. Essas revistas, segundo o entendimento de Adílson Luís Franco Nassaro (2007), podem ser segundo a natureza jurídica, preventiva e processual, ao nível de restrição de direitos individuais impostos (preliminar e minuciosa), ao sujeito passivo (individual e coletiva), ou ainda, quanto à tangibilidade corporal (direta e indireta).
Quando falamos de estabelecimentos prisionais, levando em consideração as classificações acima descritas, a revista apresenta um caráter de prevenção, pois visa dificultar e evitar que produtos ilícitos adentrem de forma dissimulada nos presídios. Entretanto, cabe ressaltar que, em consonância com a Resolução nº 9, de 12 de julho de 2006, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, tal objetivo se baseia em um critério subjetivo de desconfiança, uma suspeita de esse visitante vir a querer adentrar o presídio com algo proibido.
Nesse sentido, tem-se que:
“A aplicação subjetiva do critério já referido da fundada suspeita como um procedimento autoritário, e há muito ultrapassado, só serve para obscurecer e deslegitimar qualquer Governo que tenha o mínimo de preocupação em respeitar os direitos e garantias do cidadão e pretende ser Democrático e de Direito” (SANCHEZ, 2010).
	
Em sentido diametralmente oposto, em caso de fundadas suspeitas de que algum visitante esteja na iminência de adentrar com algo proibido em algum estabelecimento prisional, assim como discorre o artigo 5º, § 5 º da resolução acima descrita, deverá ser aplicada a revista eletrônica, na qual o equipamento de vigilância supostamente detectará sinal de possível irregularidade quanto à pessoa do revistando, caracterizando a fundada suspeita, e aí sim nesse caso, devendo o revistando ser submetido à revista manual e/ou íntima. Acontece que tal procedimento nem sempre é respeitado na ordem acima exposta e em muitas vezes o visitante é violado em sua intimidade, o que as vezes, acaba até por concordar, pois muitas das vezes ele pretende fazer o que for preciso, para que possa rever seu familiar que se encontra encarcerado.
A visita aos presos, é vista como uma ferramenta que permite que sejam mantidos os vínculos familiares e em razão disso, gerando o estímulo e a vontade de retornar ao convívio social por parte do reeducando. Não obstante, a revista intima se procede: 
“A fim de preservar a ordem e os bons costumes, tem-se entendido que se deve permitir apenas a visita íntima do cônjuge ou da companheira, quando há relação amorosa estável e continuada, excluindo-se a de caráter homossexual e a visita de prostitutas” (BATISTELA; AMARAL, 2009).
Entretanto, tal entendimento acima exposto, mais especificamente com relação as visitas de caráter homossexual, já não mais prevalece. Os detentos homossexuais terão direito à visita íntima nos presídios de todo o país. A resolução n.° 4 de 29 de junho de 2011, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), do Ministério da Justiça, traz o entendimento mais atual de que "o direito de visita íntima é, também, assegurado às pessoas presas casadas, em união estável ou em relação homoafetiva". A medida está em vigor e revogou a Resolução nº 01/99 de 30 de março de 1999, publicada no Diário Oficial da União de 5 de abril de 1999, que omitia, na recomendação sobre a visita íntima feita aos departamentos penitenciários estaduais, o relacionamento gay. Esta visita íntima, deve ser assegurada pela direção do estabelecimento prisional pelo menos uma vez por mês.
 Como comentado anteriormente, para que se aconteça a realização da visita no interior de um estabelecimento prisional, é necessário passar por um processo de revista, que muitas vezes, configuram abusos e afrontamento a direitos fundamentais do indivíduo. Um fato bastante relevante e a ser levado em consideração nesse aspecto, é que, quando do acontecimento destas visitas, a pena não pode passar da pessoa do condenado, pois penalizar o familiar do apenado que o visita, é uma afronta e uma lesão a direitos assegurados constitucionalmente. Nesse sentido, a dignidade da pessoa humana deve ser preservada, visto que tal direito:
“se manifesta singularmente na autoderminação consciente e responsável por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humano” (MORAES, 2003, pág.60).   
Nesse mesmo contexto, em consonância com o artigo 5º, inciso XXXV, da CF/88, devem ser garantidos e realizados o pleno respeito aos direitos fundamentais, não podendo a lei excluir de sua apreciação, qualquer lesão ou ameaça a esses direitos.
2. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NAS VISITAS ÍNTIMAS E SOCIAIS NOS PRESÍDIOS BRASILEIROS E ESTRANGEIROS
Nos dias atuais, há uma discussão em vigor, que trata das visitas íntimas nos presídios brasileiros. A CF/88 traz expressamente que:
“ninguém pode ser submetido à tortura ou a tratamento cruel ou desumano” (art. 5º, inc. III); “a dignidade da pessoa humana” (art. 1º, III); “construiruma sociedade livre, justa e solidária” e “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art. 3º, I e IV).
A Lei de Execuções Penais (LEP), instituída pela LEI Nº 7.210, de 11 de julho de 1984, garante ao preso a “visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados” (art. 40, X). Conforme já comentado em Título anterior, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária publicou, em 30 de março de 1999, a resolução RESOLUÇÃO Nº 01 sobre visita íntima:
“Art. 1º - A visita íntima é entendida como a recepção pelo preso, nacional ou estrangeiro, homem ou mulher, de cônjuge ou outro parceiro, no estabelecimento prisional em que estiver recolhido, em ambiente reservado, cuja privacidade e inviolabilidade sejam asseguradas.”
Art. 2º - O direito de visita íntima, é, também, assegurado aos presos casados entre si ou em união estável. Art. 3º - A direção do estabelecimento prisional deve assegurar ao preso visita íntima de, pelo menos, uma vez por mês.
Art. 3º - A direção do estabelecimento prisional deve assegurar ao preso visita íntima de, pelo menos, uma vez por mês”.
Em 29 de junho de 2011, foi publicada a resolução n° 4, que revogou a resolução n° 1, de 30 de março de 1988, que também garante a visita íntima:
“Art. 1º - A visita íntima é entendida como a recepção pela pessoa presa, nacional ou estrangeira, homem ou mulher, de cônjuge ou outro parceiro ou parceira, no estabelecimento prisional em que estiver recolhido, em ambiente reservado, cuja privacidade e inviolabilidade sejam asseguradas às relações heteroafetivas e homoafetivas.
Art. 2º - O direito de visita íntima, é, também, assegurado às pessoas presas casadas entre si, em união estável ou em relação homoafetiva.
Art. 3º - A direção do estabelecimento prisional deve assegurar a pessoa presa visita íntima de, pelo menos, uma vez por mês”.
Partindo para o campo internacional da questão, em se tratando de revistas nas visitas íntimas e sociais nos presídios federais dos Estados Unidos, principalmente nas unidades chamadas de “Supermax”, que serviram de modelo para a construção e idealização das Penitenciárias Federais Brasileiras, pode-se dizer que não existe tais revistas em decorrência de não existir o contato físico entre preso x visitante. Nessas prisões americanas, o preso não tem direito ao contato físico com o seu familiar, mas sim contato por meio de um sistema de comunicação eletrônica através de interfones, no qual ele fica em um parlatório separado do seu familiar por um vidro blindado. Como os presos que estão cumprindo pena nas cadeias “Supermax”, ele é considerado um preso dentro de um regime diferenciado de cumprimento da pena, onde vários tipos de direitos são cortados, como por exemplo a visita íntima, em decorrência de sua estadia nestas unidades.
No Sistema Penitenciário Argentino, as características das visitas são bem assemelhadas as do Sistema Brasileiro. Nas prisões federais argentinas, assim como no Brasil, a visita é um direito do preso e não um privilégio para aqueles que possuem bom comportamento. As revistas são similares 
Conforme visto no título anterior deste trabalho, fora introduzido um novo entendimento e posicionamento dos Tribunais Superiores com relação a matéria, pois nos artigos 1º e 2º da resolução nº 4, a palavra “homoafetivas”, ou seja, a visita íntima assegura que os homoafetivos – pessoas que sentem atração sexual ou afetiva pelo mesmo sexo - possam ter relações sexuais ou simples trocas de carinhos dentro dos presídios.
É do conhecimento da população brasileira que estupros acontecem nos presídios de todos os países e que a visita íntima também visa reduzir os casos de estupros dentro destes estabelecimentos prisionais, pois o ser humano, mesmo preso, continua tendo seu instinto sexual. O indivíduo é quem perde sua liberdade em razão de delito, e o que se está punindo é a sua liberdade, de forma que o prisioneiro possa se ressocializar e resgatar sua dignidade retornando o mais breve possível ao convívio social. 
Vale ainda trazer à tona, os dizeres de Freud sobre o instinto sexual, que é uma das energias mais fortes na natureza humana e que muitos dos problemas de ordem comportamental se deviam as repressões a sexualidade humana pelos dogmas religiosos.
A visita íntima nos presídios, traz também como escopo, a manutenção familiar. Os laços afetivos e familiares são extremamente importantes para que ocorra a ressocialização dos presidiários, pois estes veem que, apesar de a sociedade tirar suas liberdades, a mesma sociedade deseja que os presidiários retornem ao seio social e de suas famílias, sem que voltem a transgredir novamente.
É do conhecimento de todos, que algumas pessoas são contra as visitas íntimas, pois se a pessoa foi condenada, e está presa, é de se supor que a visita íntima distorça a medida educativa da pena e transforma os presídios brasileiros em verdadeiros locais para diversões, badernas e orgias, além de gerar um custo alto para o Estado. Tal argumento cresce diante dos noticiários que trazem “à tona situações diversas em que presidiários transformam as prisões em centros de excelência de oportunidades de continuação de suas atividades delituosas, desde narcotráfico, estelionatos com ajuda de aparelhos celulares, ordens de execuções e todo e qualquer tipo de crime extramuros.
Pelas situações encontradas nos presídios brasileiros, as revistas íntimas passaram a ser aplicadas com certa frequência e as vezes até como único meio de repressão contra a entrada de objetos ilícitos nestes estabelecimentos. 
Há relatos de assédio sexual durante revistas íntimas feita por servidores penitenciários, o que acaba por ferir a o princípio da dignidade da pessoa humana daqueles vão visitar os presidiários.
É preciso garantir os direitos, e não violá-los em benefício de uma suposta garantia de segurança. Essas pessoas têm que ser vistas como sujeitos de direitos também. Esses procedimentos invasivos violam a integridade, intimidade e privacidade das pessoas que fazem visitas.
Hoje em dia, existem mecanismos tecnológicos para revistar pessoas que visitam os presídios, como scanner corporal, aparelho de raios-X e detectores de metais. Cabe aqui ressaltar que as artimanhas dos criminosos não param e eles criam situações para burlar tais mecanismos eletrônicos. É verificado ainda situações em que o visitante apresenta laudo médico que o impossibilite de ser monitorado pelos aparelhos tecnológicos, e aí nesses casos sim e em última circunstância, deveria ocorrer a revista íntima, sempre respeitando a dignidade dos visitantes.
Diante de tal celeuma, acredito que este tipo de revista é desnecessária quando se tem ao alcance os equipamentos eletrônicos anteriormente elencados, capazes de detectar objetos ilícitos com clareza. A revista manual poderá também ser feita apenas em casos excepcionais, quando a tecnologia não for suficiente para identificar armas, explosivos, drogas e outros objetos não permitidos. Esse é o fator que deve prevalecer para que não haja abusos nem violações aos princípios da dignidade da pessoa humana. O entendimento que prevalece hoje é que a necessidade de prevenir crimes no sistema penitenciário não pode afastar o respeito ao Estado Democrático de Direito. Entretanto tal posicionamento deve progredir apenas quando não se possa colocar em risco o mais importante bem fundamental e indisponível no direito universal: a vida.
3. A TRANSFERÊNCIA DA PENA DA PESSOA CONDENADA PARA A VISITANTE
É observado que na falta de uma legislação específica para criar um procedimento padrão de revista íntima, os estabelecimentos prisionais, acabam por conferir uma discricionariedade para sobre os métodos empregados e os seus limites, criando condições para que se cometam os mais diversos tipos de constrangimento para com os visitantes.
A transferência da penalização recebida pelo preso à sua família ocorre também no meio social. Os parentes dos presos sofrem preconceito nas mais diversasesferas da sociedade, quer seja na vida pessoal ou profissional. Na medida que se tem uma pessoa que encontra-se encarcerada na família, os olhares se voltam para essas pessoas com certa discriminação, como se elas próprias tivessem cometido e que fossem condenadas por esses crimes. Assim podemos citar:
“O preconceito que o familiar de recluso sofre fora do muro e dentro da sociedade, punibiliza-o em sua dignidade, pois, sendo pessoas livres, são perseguidas de várias formas, tanto em sua liberdade e direito de trabalhar, como de frequentar certos lugares, como de viver uma vida sem se sentir culpado e ser constantemente punido pela sociedade por um crime que não cometeu” (DUTRA, 2008).
O simples fato de ser familiar de um condenado impõe a ele uma marca que acarreta graves consequências, não apenas no âmbito social, comprometendo as relações afetivas, mas também em sua condição econômica, em decorrência de que o mercado de trabalho dificulta a entrada de pessoas com essas condições, o que de fato não deveria ocorrer. Em certas situações os filhos da pessoa presa sofrem rotulações pejorativas de todas as formas e em muitos casos são também considerados de forma absurda como meliantes. Tudo isso pela conduta criminosa dos pais praticada no passado, provocando consequências psíquicas irreversíveis em certas pessoas, podendo ainda serem determinantes para a formação desse indivíduo e a forma como ele venha a se comportar na sociedade.
Por conseguinte, é verificado que os procedimentos de revista íntima e pessoal, que se configuram como medidas de segurança adotadas pelos estabelecimentos prisionais, são ações que estigmatizam socialmente os seus familiares, uma vez que são tratados como indivíduos suspeitos, ocasionando situações recorrentes de abordagens preventivas, monitoramento durante a sua permanência no presídio e condutas infringidoras dos direitos humanos.
Segundo levantamento da campanha "Pelo fim da revista vexatória", da Rede de Justiça Criminal de São Paulo, apenas 0,03% das revistas íntimas nos presídios leva à apreensão de algum material proibido, como drogas, armas e celulares. Os dados apontam também que a apreensão de objetos com parentes é quatro vezes menor do que os encontrados com os presos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil, não é raro ver reportagens e matérias sobre o precário estado em que se encontram os presídios. Os presos na grande maioria desses estabelecimentos são maltratados e não têm em muitos casos seus direitos humanos resguardados. 
A revista pessoal e íntima a que são submetidos os familiares de presos para ingresso nos estabelecimentos prisionais onde se encontram seus parentes, muitas das vezes ferem o princípio da dignidade da pessoa humana, pois em certas situações, esses familiares necessitam passar por completa vistoria de forma invasiva em sua intimidade, tendo que ficarem despidos na presença de servidores e demais funcionários que trabalham nesses procedimentos de revista.
É comum crianças e mulheres terem que se agachar completamente despidos, embaixo de espelhos, para fins de fiscalização para saber se tal pessoa está portando alguma substância ilícita. Tal procedimento não há de ser mantido em nosso sistema penal e essa é a intenção dos legisladores e operadores do direito. Diversos magistrados têm manifestado suas decisões no intuito de abolir tais revista, ou então exigir que elas sejam feitas usando equipamento eletrônico de revista, tais como “escâner corporal”, detectores de metais, máquinas de raio-x dentre outros.
Realmente, se existe a disposição daqueles que laboram no ambiente prisional equipamentos eletrônicos capazes de auxiliar no combate a entrada de objetos ilícitos, por que motivo ainda seria utilizado revistas íntimas invasivas nos familiares de presos. Essa é uma pergunta realmente difícil de ser respondida e nos leva a crer que a razão desses da manutenção desses procedimentos seria justamente a falta destes por parte dos estados e municípios que encontram-se com seus presídios e demais estabelecimentos prisionais totalmente sucateados.
É interessante frisar também, que parte desse problema advém também das condições em que trabalham os agentes e demais servidores do sistema penitenciário. Muitos deles recebem salários baixíssimos, laboram em ambiente insalubre e de certa forma encontram-se “encarcerados” assim como seus “clientes”. 
Dessa forma, uma solução palpável para esse problema brasileiro, seria tratar e investir com seriedade e compromisso no sistema penitenciário, assim como foi feito nas construções dos presídios federais, com a aquisição de equipamentos modernos de detecção de produtos ilegais, além da criação de novas leis que tratem de forma atual a problemática vivenciada, introduzindo no ordenamento punições severas para aqueles que venham a transgredir os direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana, claro sem colocar em risco o Sistema Penitenciário como um todo. Tais medidas poderiam de fato ressocializar o preso e melhorar o ambiente prisional, para que o reeducando retornasse ao convívio da sociedade sem precisar e nem ter o intuito de voltar a transgredir. Uma das ferramentas que deveriam ser colocadas em prática num primeiro momento e de forma responsável, seria justamente como tratar e receber essas pessoas que por algum motivo na vida necessitam visitar seus entes que encontram-se encarcerados, respeitando assim seus direitos e garantias asseverados pela lei maior desta nação.
REFERÊNCIAS
BATISTELA Jamila Eliza; AMARAL, Marilda Ruiz Andrade. As regras mínimas para o tratamento de prisioneiros da onu e a lei de execução penal brasileira: uma breve comparação. 2009. Disponível em: http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1661/1583 Acesso em: 17.11.14
BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional[contemporâneo: natureza jurídica, conteúdos mínimos e critérios de aplicação. 2010. Disponível em: http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/uploads/2010/12/Dignidade_texto-base_11dez2010.pdf. Acesso em: 17.11.14.
CARVALHO, Everaldo. A Face Maculada: dilemas em torno do cárcere. São Paulo: Biblioteca24horas, Seven System International Ltda, 2010.
Sítio do SISTEMA PENITENCIÁRIO FEDERAL ARGENTINO. http://www.ppn.gov.ar/?q=info-visitas Acesso em 31 de agosto de 2015.
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Colisões entre princípios constitucionais. Curitiba: Jarua, 2006.
DE OLIVEIRA, Márcio Luís O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: interface com o direito constitucional contemporâneo. Belo Horizonte: Editora del Rey, 2007. 
DUTRA, Yuri Frederico. A realidade da revista íntima nas prisões catarinenses. Florianópolis - 25 a 28 de agosto de 2008. Disponível em http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST42/Yuri_Frederico_Dutra_42.pdf Acesso em: 19.11.14.
DUTRA, Yuri Frederico. “Como se estivesse morrendo”: O Sistema Prisional e a Revista íntima em familiares de reclusos. Florianópolis-SC, 2008.  Disponível em www.lumenjuris.com.br/?sub=produto&id=2830&acao Acesso em: 29 de Novembro de 2014.
DUTRA, Yuri Frederico A inconstitucionalidade da revista íntima realizada em familiares de presos, a segurança prisional e o princípio da dignidade da pessoa humana. Disponível em: www.siaiweb06.univali.br/seer/index.php/nej/article/download/1145 Acesso em: 30 de novembro de 2014.
MARIATH, Carlos Roberto. Limites da Revista Corporal no âmbito do Sistema
Penitenciário. Brasília: Depen, S/D. Disponível em:
http://portal.mj.gov.br/services/DocumentManagement/FileDownload.EZTSvc.as
ANEXO I
CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA
CRIMINAL E PENITENCIÁRIA
RESOLUÇÃO Nº 5, DE 28 DE AGOSTO DE 2014
O Presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), no uso de suas atribuições legais e regimentais,
CONSIDERANDO que a dignidade da pessoa humana é princípio fundamental do Estado Democrático de Direito, instituído pelo art. 1º, inciso III, da Constituição Federal;
CONSIDERANDO o disposto no art.5º, inciso X, ab initio, da Constituição Federal, que estabelece a inviolabilidade da intimidade e da honra das pessoas;
CONSIDERANDO a necessidade de coibir qualquer forma de tratamento desumano ou degradante, expressamente vedado no art. 5º, inciso III, da Constituição Federal;
CONSIDERANDO a necessidade de manter a integridade física e moral dos internos, visitantes, servidores e autoridades que visitem ou exerçam suas funções no sistema penitenciário brasileiro;
CONSIDERANDO o disposto no art. 3º da Lei nº 10.792/2003, que determina que todos que queiram ter acesso aos estabelecimentos penais devem se submeter aos aparelhos detectores de metais, independentemente de cargo ou função pública;
CONSIDERANDO que o art. 74 da Lei de Execução Penal determina que o departamento penitenciário local deve supervisionar e coordenar o funcionamento dos estabelecimentos penais que possuir;
CONSIDERANDO que a necessidade de prevenir crimes no sistema penitenciário não pode afastar o respeito ao Estado Democrático de Direito, resolve: recomendar que a revista de pessoas por ocasião do ingresso nos estabelecimentos penais seja efetuada com observância do seguinte:
Art. 1º. A revista pessoal é a inspeção que se efetua, com fins de segurança, em todas as pessoas que pretendem ingressar em locais de privação de liberdade e que venham a ter contato direto ou indireto com pessoas privadas de liberdade ou com o interior do estabelecimento, devendo preservar a integridade física, psicológica e moral da pessoa revistada.
Parágrafo único. A revista pessoal deverá ocorrer mediante uso de equipamentos eletrônicos detectores de metais, aparelhos de raio-x, scanner corporal, dentre outras tecnologias e equipamentos de segurança capazes de identificar armas, explosivos, drogas ou outros objetos ilícitos, ou, excepcionalmente, de forma manual.
Art. 2º. São vedadas quaisquer formas de revista vexatória, desumana ou degradante.
Parágrafo único. Consideram-se, dentre outras, formas de revista vexatória, desumana ou degradante:
I - desnudamento parcial ou total;
II - qualquer conduta que implique a introdução de objetos nas cavidades corporais da pessoa revistada;
III - uso de cães ou animais farejadores, ainda que treinados para esse fim;
IV - agachamento ou saltos.
Art. 3º. O acesso de gestantes ou pessoas com qualquer limitação física impeditiva da utilização de recursos tecnológicos aos estabelecimentos prisionais será assegurado pelas autoridades administrativas, observado o disposto nesta Resolução.
Art. 4º. A revista pessoal em crianças e adolescentes deve ser precedida de autorização expressa de seu representante legal e somente será realizada na presença deste.
Art. 5º. Cabe à administração penitenciária estabelecer medidas de segurança e de controle de acesso às unidades prisionais, observado o disposto nesta Resolução.
Art. 6º. Revogam-se as Resoluções nº 01/2000 e 09/2006 do C N P C P.
Art. 7º. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
LUIZ ANTÔNIO SILVA BRESSANE

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