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DESCRIÇÃO As perspectivas e as tendências da Psicologia da Saúde em processos de promoção, prevenção e reabilitação na área de trabalho e no campo de conhecimento da saúde. PROPÓSITO Compreender a estrutura do campo de conhecimento da Psicologia da Saúde, principalmente, em sua intersecção com as políticas públicas e o trabalho com a população, para traçar as tendências das práticas futuras nas perspectivas da promoção, prevenção e reabilitação executadas nos níveis primário, secundário e terciário da hierarquia de complexidades do cuidado em saúde. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir os marcos lógicos e legais que norteiam a Psicologia da Saúde MÓDULO 2 Identificar as relações causais entre condições socioeconômicas, a produção de saúde e doença e seus impactos na prática da Psicologia MÓDULO 3 Reconhecer o SUS e o trabalho da Psicologia nos diferentes níveis de cuidado à saúde INTRODUÇÃO A partir de agora, iremos situar historicamente a Psicologia da Saúde, visando entender sua relação com a Psicologia em geral, para focarmos nas diferenças entre a prática nas instituições de saúde e a clínica tradicional, descrevendo os caminhos mais prováveis que tomarão as novas práticas e campos de trabalho. Vamos também falar das especificidades da prática psicológica nos diferentes níveis de atenção, dando destaque ao trabalho na atenção primária, nos centros de atenção psicossocial (CAPS) e dentro dos hospitais e dos novos dispositivos técnicos que permeiam esse trabalho, como a Clínica Ampliada, que prioriza a atuação institucional e em grupos. MÓDULO 1 Definir os marcos lógicos e legais que norteiam a Psicologia da Saúde PERSPECTIVA HISTÓRICA Compreender as perspectivas e tendências da Psicologia da Saúde é uma tarefa desafiadora, pois estamos diante de um campo novo que produz modificações sistemáticas devido a sua própria natureza, que é, ao mesmo tempo: CIENTÍFICA Transforma-se com o avanço das pesquisas estando em constante evolução e adequação às situações novas. POLÍTICA Depende de direções e investimentos realizados pelo Estado. Pode ainda se ver obrigada a operar mudanças decorrentes da influência de acontecimentos inesperados, como a pandemia por Covid-19. Então, não é exagero dizer que a Psicologia da Saúde é um campo que ainda está em constituição e em constante transformação. O nascimento da psicologia tem como marco inaugural a fundação do laboratório de Wilhelm Wundt, em 1879, marcado pela orientação para a compreensão da normalidade do comportamento e suas manifestações em organizações, como fábricas e escolas. Somente a Psicanálise e a Psiquiatria, ambas exercidas por médicos, manifestavam interesse pelas formas psicopatológicas que assumiam o sofrimento humano. A partir da década de 50, observa-se a emergência de diversos questionamentos que colidiriam nas reformas manicomiais pelo mundo na década de 1960, e a Psicologia volta seu interesse para esse campo, produzindo uma área em comum, a Psicologia Clínica. No Brasil, a profissão foi regularizada em 1962, sofrendo influência deste momento marcado por uma guinada em direção à clínica na Psicologia internacional. Esse também foi o período que antecedeu a instalação da ditadura militar no país, que criou um ambiente acadêmico despolitizado, esvaziando o espaço para a discussão crítica. Vários autores apontam esses dois fatores presentes nos primeiros anos da profissão – a guinada internacional em direção à clínica e o golpe militar – como decisivos na estruturação inicial da profissão, onde a prática clínica ocupou lugar central, com maior destaque ao atendimento individual realizado em consultório privado por profissionais autônomos. A Psicologia foi, durante muitas décadas, uma profissão elitizada, exercida por profissionais de classes sociais abastadas para uma clientela que não destoava economicamente dos seus quadros. Assim, a identidade da Psicologia brasileira foi construída ligada à prática clínica, e a maior parte do seu conhecimento privilegiou uma perspectiva intrapsíquica e familiarista, que faz leituras do sujeito a partir da sua biografia e da sua história familiar, com escassa problematização dos condicionantes históricos e socioeconômicos, tão determinantes na saúde pública. Na década de 80, com o afrouxamento da ditadura militar, surgiram diversos movimentos sociais reivindicando desde o direito à saúde, moradia, terra, proteção da infância, saneamento básico, condições dignas de trabalho, entre outros, que colidiram na constituinte de 1988 e na criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e na promulgação do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Surgiram, então, os primeiros trabalhos em Psicologia voltados para a população empobrecida, realizado pioneiramente por projetos de extensão de universidades, ou por trabalhadoras da saúde relacionadas à Reforma Sanitária e por psicólogos militantes ligados a movimentos sociais. Essa nova área de conhecimento recebeu o título de Psicologia Comunitária e sua direção criou espaço para o desenvolvimento de novas práticas, técnicas e fundamentações teóricas que não coincidem com o fazer clínico tradicional. Em 1981, foi criada a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) que passa a promover espaços de discussão, troca e sistematização do conhecimento em Psicologia Social, que acolherá parte das discussões em Psicologia da Saúde, aquela de cunho mais comunitário. Os estudos da época apontam os impasses da inserção do psicólogo em equipes de saúde na esfera pública, tendo em vista seu despreparo nos quadros curriculares marcados por escassez de estágios e discussões em saúde pública, ou mesmo junto às camadas mais empobrecidas da população. Os primeiros trabalhos evidenciam a transposição descontextualizada da prática, que não reconhece as especificidades de outras populações e locais de atuação. Nos últimos anos, o perfil do psicólogo começa a mudar. O SUS, originado em 1990, abre um novo campo de trabalho e, rapidamente, passa a ser o maior empregador de psicólogos do Brasil. Nossa reforma manicomial, ocorrida em 2001, demanda um novo modelo de atuação territorial e ambulatorial, que começa a dar destaque à Psicologia. Podemos citar ainda como fatores de transformação da Psicologia brasileira o incremento de novas políticas públicas a partir dos anos 2000, como a ampliação do SUS – o “Pacto pela Saúde” (2006) que amplia a atenção básica e o institui como padrão o modelo de Clínica da Família – a criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e a regulamentação da atuação dos psicólogos nas redes públicas escolares (2019), criando um campo de trabalho que emprega cerca de 200 mil psicólogos brasileiros, em torno de 60% da categoria. A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA DA SAÚDE O que é a Psicologia da Saúde hoje? Segundo Matarazzo (1980), podemos identificar a Psicologia da Saúde como o conjunto de diversas contribuições que a Psicologia aporta em relação à prevenção, promoção e manutenção da saúde, assim como em relação à identificação de etiologia, diagnóstico e terapêuticas do processo saúde- doença, com a possibilidade de propiciar melhorias no sistema e regulamentação da saúde. Esta definição contempla as três perspectivas de atenção à saúde preconizadas pelo SUS: promoção, prevenção terapêutica e reabilitação de saúde, que ocorrem nos diversos níveis de atenção oferecidos. Também pode ser aplicada à rede suplementar, que é formada pelo setor privado de planos de saúde. Fonte: Shutterstock.com SAIBA MAIS A saúde pública é a área que mais emprega psicólogos no Brasil. É preciso, então, produzir novos saberes para responder à demanda por uma prática profissional mais crítica, interdisciplinar, comunitária e que prioriza o trabalho institucional e em grupos, em detrimento do atendimento clínico tradicional. Hoje, a área de Psicologia da Saúde é uma das mais importantes dentro da Psicologia. Entretanto, ela só foi reconhecida como especialidadeem 2016, na resolução CFP n. 03/2016, que a inclui como a XII especialidade em Psicologia, ao lado das outras 11 anteriormente listadas pela resolução do CFP n. 13/2007. Segundo esta resolução, cabe ao profissional de Psicologia da Saúde: ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO DA SAÚDE Atuar em equipes multiprofissionais e interdisciplinares no campo da saúde, utilizando os princípios, as técnicas e os conhecimentos relacionados à produção de subjetividade para a análise, o planejamento e a intervenção nos processos de saúde e doença, em diferentes estabelecimentos e contextos da rede de atenção à saúde. Considerar os contextos sociais e culturais nos quais se insere, estabelece estratégias de intervenção com populações e grupos específicos, contribuindo para a melhoria das condições de vida de indivíduos, famílias e coletividade. Desenvolver ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e vigilância em saúde junto a usuários, profissionais de saúde e ambiente institucional, colaborando em processos de negociação e fomento à participação social e de articulação de redes de atenção à saúde. Pode ainda desenvolver ações de gestão dos vários serviços de saúde e de formação de trabalhadores, dominando conhecimento sobre a reforma sanitária brasileira e as políticas de saúde no Brasil, a legislação e o funcionamento do SUS, gestão do trabalho e Educação Permanente em Saúde, financiamento, avaliação e monitoramento de serviços de saúde, podendo exercer funções em instâncias municipais, estaduais ou nacional. (Resolução CFP 03/2016) COMPETÊNCIAS DO PSICÓLOGO DA SAÚDE DE HOJE E DO FUTURO É importante destacar que houve uma ampliação das competências esperadas do egresso do curso de Psicologia mais adequadas aos contextos institucionais e às coletividades. Características como liderança, aptidão para o trabalho em equipe, habilidades de comunicação, empreendedorismo, saber interagir com outros profissionais e com o público, ter iniciativa, administrar a força de trabalho, recursos físicos ou materiais, entre outras, estão aliadas em igualdade com a aptidão para desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde psicológica e psicossocial. Vale lembrar a importância dada à observação dos princípios da ética/bioética, à fundamentação do trabalho em evidências científicas e à responsabilidade pela continuação permanente pelo aprimoramento profissional. ATENÇÃO Todas essas características tão essenciais ao novo perfil do profissional de Psicologia coadunam com aquilo que descreveremos a partir de agora como o novo campo de trabalho da Psicologia da Saúde, que deixou de ser exclusivamente hospitalar e centrado no atendimento individual, para ter também caráter preventivo e educativo, realizado em equipes multiprofissionais. CREPOP, RESOLUÇÕES E DOCUMENTOS Todo psicólogo que trabalhe com políticas públicas deve conhecer o CREPOP. Ele é um instrumento produzido pelo Sistema Conselho – Conselho Federal de Psicologia para qualificar e orientar os profissionais que trabalham em política pública, além de sistematizar e difundir o conhecimento. Foi criado em 2006 após a deliberação do 5º Congresso Nacional de Psicologia e tem como público-alvo psicólogos, estudantes de Psicologia, gestores e instituições do ensino superior. SAIBA MAIS A produção de referências é realizada em um processo participativo, no qual os profissionais que já atuam na área investigada são protagonistas. Seguindo uma série de etapas investigativas qualitativas, quantitativas e abertas à colaboração dos profissionais, produz-se um relatório regional que, junto a 24 regionais, comporão um relatório preliminar nacional, que será revisado por todos, inclusive, por consulta aberta à categoria. Findo o processo, a referência é lançada na forma de livro impresso que será distribuído aos profissionais atuantes na área e fica disponível para download aberto e gratuito no site do CFP. Consideramos relevantes as seguintes edições aos profissionais que atuam no trabalho em instituições de saúde: Mulheres em Situações de Violência; Atenção Básica à Saúde; Serviços Hospitalares do SUS; Saúde do trabalhador; Álcool e Outras Drogas; CAPES; Gestores do SUS; Relações Raciais; Rede de Proteção à Crianças e Adolescentes em Situação de Violência Sexual. Podemos citar outros quatro volumes que estão em fase final de elaboração: Direitos Sexuais e Reprodutivos; Idosos; Diversidade Sexual e de Gênero e Riscos, Emergências e Desastres. PSICOLOGIA DA SAÚDE: MARCOS LEGAIS E CONCEITUAIS VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERANDO A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA DA SAÚDE, APONTE A ALTERNATIVA QUE NÃO CORRESPONDE A UM ACONTECIMENTO QUE INFLUENCIOU A PSICOLOGIA. A) As primeiras décadas da Psicologia no mundo foram voltadas para a compreensão da normalidade sem interesse pela patologia. B) A Psicologia começa a se interessar pelo sofrimento e pelas formas psicopatológicas somente nas décadas que antecedem às reformas manicomiais. C) A identidade da Psicologia brasileira está associada à imagem do psicólogo clínico. D) Desde a sua fundação, a Psicologia no Brasil tem um trabalho expressivo junto à população empobrecida. E) Durante a ditadura militar, houve censura a uma postura crítica, que favoreceu o crescimento da Psicologia Clínica. 2. A ÁREA DE PSICOLOGIA DA SAÚDE FOI RECONHECIDA COMO ESPECIALIDADE EM 2016, NA RESOLUÇÃO CFP N. 03/2016. DETERMINE, ENTRE AS ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO DA SAÚDE LISTADAS, AQUELA QUE NÃO CONDIZ COM ESSA RESOLUÇÃO: A) Atuar em equipes multiprofissionais no campo da saúde. B) Desenvolver ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e vigilância em saúde. C) Encaminhar pacientes da saúde pública para atendimentos em consultórios particulares. D) Desenvolver ações de gestão e de formação de trabalhadores. E) Estabelecer estratégias de intervenção com grupos e populações específicos. GABARITO 1. Considerando a história da Psicologia da Saúde, aponte a alternativa que não corresponde a um acontecimento que influenciou a Psicologia. A alternativa "D " está correta. Os trabalhos junto à população empobrecida só ganharam expressão a partir da década de 80, com os movimentos sociais que tiveram espaço no afrouxamento da ditadura. 2. A área de Psicologia da Saúde foi reconhecida como especialidade em 2016, na resolução CFP n. 03/2016. Determine, entre as atribuições do psicólogo da saúde listadas, aquela que não condiz com essa resolução: A alternativa "C " está correta. Não é atribuição da Psicologia encaminhar pacientes da saúde pública para atendimentos em consultórios particulares. MÓDULO 2 Identificar as relações causais entre condições socioeconômicas, a produção de saúde e doença e seus impactos na prática da Psicologia VULNERABILIDADE SOCIAL E DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE: NOVOS CONCEITOS A partir do final dos anos 1990, surgem estudos que abordam as situações de vulnerabilidade, não se restringindo àqueles setores afetados pelo desemprego ou pela ausência de ocupação. Estes estudos propõem a substituição do termo exclusão social pelo termo vulnerabilidade social, pois acreditam que o termo exclusão social, junto às chamadas políticas de inclusão, focava em problematizações que giravam em torno de situações de pobreza e marginalidade, não promovendo a estruturação de políticas públicas para conhecê-las. Fonte: Shutterstock.com Hoje, já não se trata mais de incluir, mas de problematizar o sistema econômico como um todo, pois acredita-se que a grande maioria da população está em risco de vulnerabilidade, mas em diferentes graus. Trata-se de analisar dinâmicas que criam situações intermediárias de desigualdade que determinam o risco social de cada grupo, de acordo com as suas fragilidades e as possibilidades de mobilidade econômica oferecidas pelo seu ambiente. Esses estudos indicam uma direção extremamente proveitosa, quando consideramos a incidência dos problemas sociais em questões de saúde. A partir de um olhar atentoàs políticas públicas, são pensadas “zonas de vulnerabilidade”, ou seja, gradações de exposição ao desemprego, à precariedade do trabalho, à pobreza e à falta de proteção social que influenciam nas condições de saúde. SAIBA MAIS Para o aprofundamento dessas questões, existe uma corrente de teóricos que se debruça sobre o conceito de Determinantes Sociais de Saúde (DSS). Eles expressam a ideia de que o modo como vivemos, trabalhamos, habitamos ou nos alimentamos influencia definitivamente em nossa saúde, seja como indivíduos seja como população. Os DSS são “os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população” (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007, p. 78). Os estudos de DSS, hoje, concentram-se em estabelecer hierarquias ou ordenamentos entre os fatores de natureza social, econômica, política e o modo como influenciam a saúde de grupos e pessoas, pretendendo identificar as melhores maneiras de intervir, a fim de potencializar o impacto das ações. Os dois modelos representados nas figuras a seguir são os mais aceitos atualmente. Eles expressam, sob ângulos diferentes, os impactos das questões sociais na saúde dos indivíduos, grupos e comunidades. Fonte: EnsineMe Os resultados destes estudos apontam diversos níveis eficazes de intervenção, mas, principalmente, políticas de combate às desigualdades sociais, relacionadas com o mercado de trabalho, a educação e a seguridade social, pois acredita-se que elas podem diminuir os diferenciais de exposição a riscos se promoverem habitações, alimentação e trabalhos dignos e seguros. SAIBA MAIS O Brasil possui um programa bastante amplo, chamado de Benefício de Prestação Continuada (BPC), que apoia com um salário-mínimo portadores de deficiência e idosos acima de 65 anos. É preciso destacar ainda o fortalecimento comunitário e promover a participação social nas políticas e programas de saúde. Outro ponto importante a ser abordado é o crescimento das pautas com discussões sobre racismo e as questões relacionadas a gênero, como fatores que geram importantes impactos sobre a saúde dos indivíduos. Embora o investimento nas políticas inclusivas ou reparatórias relacionadas a pautas identitárias varie muito de acordo com a orientação ideológica dos governos, existe uma tendência concreta à permanência deste tema no meio acadêmico. O incremento das pesquisas e publicações que partem desses fatores para investigar processos de adoecimento individual ou coletivo é visível no aumento das jornadas acadêmicas, congressos, disciplinas eletivas ofertadas, linhas de pesquisa, projetos de extensão, ciclos de debates e grupos de estudos sobre o tema. Podemos afirmar que esses estudos, conhecidos como estudos decoloniais, são uma grande tendência dentro da área acadêmica da Psicologia como um todo e da Psicologia da Saúde. A PSICOLOGIA DA SAÚDE E A PSICOLOGIA TRADICIONAL DIFERENÇAS ENTRE A PSICOLOGIA DA SAÚDE E A PSICOLOGIA TRADICIONAL Em pesquisa-referência, Magda Dimenstein (2000) aponta os problemas que a transposição das práticas psicológicas da clínica tradicional para o campo da saúde coletiva acarreta ao cotidiano das instituições públicas da saúde e as consequências da hegemonia de uma determinada forma de subjetividade e de uma concepção de Psicologia. A pesquisadora elenca como principais impactos no Sistema de Saúde: CONFLITO javascript:void(0) EFICÁCIA ABANDONO SELEÇÃO RESISTÊNCIA Uma das características mais marcantes da Psicologia Moderna é a marca do individualismo. Se observarmos os atributos mais marcantes da cultura da Psicologia, veremos que elas têm origem em um paradigma que é chamado de individualismo. Ele investe na categoria “indivíduo”, não apenas como membro e condição fundamental de qualquer sociedade, mas como configuração abstrata: A IDEIA DE UM INDIVÍDUO AUTÔNOMO, SENHOR DE SI E INDEPENDENTE, OU SEJA, AUSENTE DE VÍNCULOS E DOS DETERMINISMOS UNIVERSALMENTE DEFINIDOS PELA CULTURA, QUE MARCA A IDEOLOGIA OCIDENTAL MODERNA. (DIMENSTEIN, 2000) A universalização da ideia de que a existência de cada homem é fruto de suas escolhas individuais, ou seja, tudo o que os homens colhem foi plantado por eles mesmos, é importante para a Psicologia da Saúde quando esta passa a trabalhar com populações em vulnerabilidade social, como na Saúde Pública. A oposição entre determinantes sociais e escolhas individuais, porém, não é totalmente antagônica, pois, em certa medida, as duas perspectivas coexistem, cada uma contribuindo na composição da situação de risco social em que se encontram as famílias e comunidades e em suas condições de saúde. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Shutterstock.com O final do século XIX marca a emergência de um campo que podemos chamar de “campo psi”, formado pela Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia. Este campo surge no mundo no mesmo momento em que o ideário individualista se firma como verdade universal, estabelecendo como normal os valores ligados a um tipo específico de subjetividade dentro das sociedades modernas, ou em seu principal segmento, à classe média urbana formada pela família nuclear monogâmica patriarcal. O advento da Psicanálise e a difusão dos saberes psi na sociedade corroboraram para o autocultivo e a autoestima. Fonte: Shutterstock.com A Psicanálise passa a trabalhar com uma nova concepção de sujeito, que Dimenstein intitula de “sujeito psicológico”, constituído e governado por seus desejos inconscientes, forjando uma concepção de subjetividade guiada pela biografia familiar pessoal e singular. A partir desse momento, passamos a nos explicar pelas nossas histórias familiares, principalmente, as primeiras experiências com o pai e a mãe. Alguns autores acreditam que a Psicanálise atingiu um grau de popularização tão alto que extrapolou as fronteiras dos saberes psi e tomou a forma de uma cultura, a cultura psicanalítica, que passou a funcionar como uma espécie de “visão de mundo”. A Psicanálise provocou impactos em todos os saberes psi, mesmo em outras perspectivas teóricas, sobretudo por se tratar de um discurso cultural. Entre eles, podemos elencar: ÊNFASE INCREMENTO VALORIZAÇÃO DESTAQUE INCENTIVO javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) PROCURA PROMOÇÃO ESVAZIAMENTO Lo Bianco (1994), em uma pesquisa de referência, estudou as balizas teóricas e as práticas desse modelo tradicional de Psicologia Clínica e afirma que a Psicologia que vem sendo construída nas universidades brasileiras tem a pretensão de ser apolítica e neutra e, por isso, está atravessada por ideais e valores da classe média que a produz, podendo agir para o controle e a conservação de relações sociais de dominação de uma classe sobre outra, um gênero sobre outro, uma forma de exercer a sexualidade sobre outras, ou ainda, de uma cor de pele sobre outras, tornando-se ingênua e ineficaz em contextos sociais diferentes. A clínica que segue um modelo intitulado tradicional, segundo Lo Bianco, é caracterizada por: Atividades exercidas em consultórios particulares por profissionais autônomos. Existência de psicodiagnósticos e aplicação de testes. Ênfase em processos intrapsíquicos, que privilegiam as marcas da história familiar, centrados em um indivíduo a-histórico e abstrato. Hegemonia do modelo médico, com aceitação da autoridade do saber na relação médico-paciente. Construção de categorias de normalidade versus anormalidade, comparando o indivíduo a uma norma classificatória. Funcionamento dentro de quatro paredes com decoração neutra, com horário marcado e mediante demanda do atendido. Aderência de responsabilidade do paciente e, em caso de descontinuidade, não há inversão da demanda. As primeiras discussões sobre o atendimento em saúde pautadas por estes marcos teóricos giravam em torno de questões que hoje nos parecemtotalmente despropositadas e equivocadas, como a possibilidade da clínica sem pagamento, já que este item sempre foi central para o enquadre javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) psicológico. Logo se viu que este problema estava longe de ser o importante nesse cenário. Dentro de uma sociedade estratificada como os grandes centros urbanos brasileiros, com pouca comunicação e trocas entre classes sociais distintas, o psicólogo passa a ter contato com uma clientela e com um tipo de demanda absolutamente diferente daquela dos consultórios particulares. Constituída pela população de baixa renda, geralmente, encaminhada por outra instituição ou profissional de saúde, eles chegam com demandas bastante distintas daquela que busca atendimento nos consultórios por vontade própria, em busca de “se conhecer”, “se tratar”. Ela deseja explicitamente a eliminação, o mais imediatamente possível, dos sintomas de sofrimento. O resultado são tratamentos psicológicos abandonados, caracterizados por faltas e atrasos, dificuldades de comunicação e parcos resultados, onde, geralmente, o usuário é responsabilizado, atribuindo-lhe falta de interesse ou capacidade de compreensão da tarefa terapêutica. É claro que isso vai contra as diretrizes doutrinárias do SUS, principalmente, da equidade, tão comentada nos dias de hoje, desde a implementação da Clínica Ampliada, onde a equipe tem a responsabilidade de construir vias de aderência dos diferentes usuários aos tratamentos oferecidos. Fonte: Shutterstock.com SAIBA MAIS Uma das principais consequências no contexto da saúde pública é a seleção de clientela. Quando as visões de mundo e projetos de vida de terapeutas e pacientes são radicalmente diferentes, por estarem inseridos em contextos culturais distintos, acabam não conseguindo a criação de projetos terapêuticos compatíveis com as expectativas de ambos. Para compensar o abandono, os psicólogos costumam selecionar entre os pacientes aqueles que possuem afinidade com sua visão de mundo, ou seja, que possuem formas de sofrimento que se expressam mais facilmente ao modelo da escuta terapêutica. Aqueles que expressam seu sofrimento de maneiras mais corpóreas, demandando alívio imediato para suas dores, não compartilhando das representações sobre as causas e as direções da sua cura, acabam sendo desqualificados, como se houvesse um desinteresse ou incompetência por parte deles para realizar o tratamento. Desta forma, passam a engrossar as filas dos psiquiatras buscando uma intervenção medicalizadora. A ESCUTA NA SAÚDE E A ESCUTA PSICOLÓGICA Todo ser humano possui a capacidade de ouvir. Mesmo em um ponto de ônibus, podemos ouvir alguém falar sobre seus problemas. Por isso, em Psicologia, fazemos uma diferença entre ouvir e escutar. Todo mundo pode ouvir, mas escutar é algo diferente. Por isso, é preciso conhecer a escuta dentro dos domínios da Psicologia e a escuta nas demais profissões da saúde, apontando as especificidades. Utilizamos o termo escuta psicológica, quando nos referimos aos domínios da Psicologia. Os demais termos podem ser utilizados por todos os profissionais, são eles: escuta clínica; escuta qualificada; escuta transformativa; escuta ativa; escuta integral; escuta atenta; escuta reflexiva; escuta compreensiva; e escuta terapêutica. Diversos pesquisadores demonstram que a escuta é fundamental para a construção de relações produtivas entre a equipe de saúde, os pacientes e seus familiares. Para isso, é preciso desenvolver habilidades de comunicação interpessoais, que promovam o cuidado emocional de quem vivencia o estresse psicológico de um tratamento de saúde. A escuta é a base da comunicação, ela é essencial para a compreensão do outro, envolvendo uma atitude positiva de calor, interesse e respeito. A ESCUTA PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DA SAÚDE A escuta psicológica possui especificidades que a diferenciam da escuta de outros profissionais de saúde. Em primeiro lugar, a escuta em Psicologia não é apenas um meio de obter informações sobre a saúde do paciente para aplicar um tratamento médico. A escuta psicológica é o instrumento e a finalidade do tratamento psicológico. Geralmente, em situações de saúde, quando falamos em escuta psicológica, estamos falando de processos mais prolongados e de pacientes mais complexos, ou seja, pacientes com um quadro que demanda uma atenção especializada e duradoura. Fonte: Shutterstock.com A principal especificidade desse escutar está em, por meio do diálogo que se desenvolve, possibilitar ao indivíduo ouvir o que está proferindo, induzindo-o a uma autorreflexão e a produzir novos significados que podem transformar modos de sentir, pensar e agir. Na escuta, conhecemos melhor o paciente, o contexto em que se vive, sua história, seus valores e suas influências, para que possamos compreender melhor as suas motivações, efetivando um atendimento mais profundo para, posteriormente, ajudar a promover suas potencialidades. ATENÇÃO Para os psicólogos, escutar implica em uma compreensão empática que significa deixar de lado, durante o atendimento, nossos mais preciosos valores e pontos de vista, para prestar um acolhimento sem preconceitos ou julgamentos. Escutar implica em se deixar de lado e, por isso, exige, além de disposição, um treinamento para estar suficientemente seguro de que não se perderá no mundo do outro, que, muitas vezes, pode ser estranho e bizarro e de que poderá retornar sem dificuldades ao seu próprio mundo no final do atendimento. No cuidado de saúde, a escuta pode amenizar bastante as angústias do paciente, implicando no reconhecimento do seu sofrimento. ESCUTA E ACOLHIMENTO NA EQUIPE DE SAÚDE A Política Nacional de Humanização (PNH) do Ministério da Saúde (BRASIL, 2013) instituiu a escuta como parte da assistência em saúde. Essa legislação abriu as portas para muitos psicólogos no SUS, pois reconhece seu principal instrumento de trabalho como essencial no cuidado à saúde, abrindo espaço para que os psicólogos participem como agentes de treinamento dos demais profissionais e intervenham institucionalmente nas equipes para a humanização. O principal dispositivo de implementação da escuta no SUS é a Clínica Ampliada. Para a PNH, escutar significa “acolher toda a queixa ou relato do usuário, mesmo quando possa parecer não interessar para o diagnóstico e ao tratamento” (BRASIL, 2013). A escuta é o instrumento através do qual podemos ajudar os pacientes na difícil tarefa de entender e integrar seu adoecimento a sua história de vida. Implica em escutar não só o sujeito, mas também as famílias, para conhecê-lo sem se restringir aos contornos ditados pelas patologias do corpo ou da mente. Esta prática está alinhada com as diretrizes da PNH, que determinam que as práticas de saúde devem valorizar a subjetividade humana e incentivar a autonomia dos sujeitos nos tratamentos pelo SUS. Fonte: Shutterstock.com ATENÇÃO O fundamento dessa escuta é uma postura acolhedora e sensível. Por acolhimento, entende-se um compromisso coletivo em “cultivar os vínculos de maneira responsável, reconhecendo e incluindo diferenças, estimulando a coprodução de autonomia e a valorização da vida” (BRASIL, 2013). Todos os encontros produzidos em saúde dizem respeito à produção de modos de relação, a arte de produzir encontros. O TRABALHO EM GRUPO O trabalho em grupo é o mais recomendado no contexto das políticas públicas por muitas razões, como a aproximação entre os participantes e o terapeuta, o fato de a linguagem ficar mais acessível e ainda podermos contar com a colaboração de todos na compreensão dos conteúdos. Como a demanda de assistência é intensa, o grupo também propicia um aumento na capacidade de atendimentos, mas é preciso não perder de vista a perspectiva ética da Psicologia, colocando em primeiro plano, além da sua demanda específica e da singularidade de cada participante, a necessidade da composição do grupo. É fundamental avaliar individualmente a colaboraçãode cada usuário na dinâmica grupal, respeitando os limites de participações, para que o espaço se torne produtivo. Um número alto de participantes, orientado pela necessidade de produtividade, pode comprometer o trabalho terapêutico. Fonte: Shutterstock.com O grupo viabiliza diversos processos essenciais para a qualidade de vida dos indivíduos, como autovalorização, reconhecimento de suas qualidades e de seus defeitos. Esses processos se dão coletivamente e são frutos de exercícios de escolha, que levam os indivíduos a tomadas de decisão sobre a própria vida e de seu grupo. O grupo precisa estimular o diálogo como forma de resolver os conflitos e as divergências, para que seus membros possam apreender a conviver e até admirar as diferenças entre si, identificando os limites e as possibilidades de cada situação experenciada, para reconhecer e nomear seus afetos e desejos, promovendo sua ressignificação, tanto no espaço grupal, quanto fora dele. No SUS, existem programas e temáticas já consagradas para o atendimento em grupos, que podemos encontrar em vários equipamentos de saúde, entre eles: PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DO TABAGISMO (PNCT) Presente na atenção básica e ambulatórios especializados, tem como objetivo reduzir a morbimortalidade relacionada ao uso do tabaco e aos seus derivados. Contempla ações educativas, de comunicação e de atenção à saúde. Além do apoio psiquiátrico com medicação, estão previstos grupos sistemáticos de suporte aos sujeitos em processo de extinção do hábito. PROGRAMAS DE TRATAMENTO AO ABUSO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS COM BASE NA REDUÇÃO DE DANOS Está nos CAPS, principalmente, os CAPSad, mas também na atenção primária e nos Consultórios de Rua. Existem duas formas de se lidar com o chamado fenômeno das drogas. A primeira delas, intitulada de Proibicionismo (modelo norte-americano), direciona seus esforços para reprimir a oferta por substâncias psicoativas consideradas danosas, através da criminalização da produção, do comércio e do uso dessas substâncias. A segunda (modelos europeus, canadense, outros) é chamada de estratégia de redução de danos e concentra seu foco no enfrentamento dos problemas de saúde, sociais e econômicos relacionados ao uso dessas mesmas substâncias, evitando realizar julgamentos morais. Os planos de ação e as metas de tratamento são elaborados junto aos usuários de drogas. Neste contexto, os grupos e as rodas de conversa são espaços imprescindíveis para o enfrentamento dos problemas decorrentes do abuso. GRUPOS DE MANEJO DE ESTRESSE Também presente na rede de saúde (UBS, Clínicas da Família e ambulatórios especializados), o grupo terapêutico tem caráter psicoterapêutico e educativo. Pretende dar suporte informativo e emocional a pessoas que estão experimentando situações de estresse e ansiedade em suas vidas. Sua metodologia específica viabiliza o reconhecimento dos fatores estressores através do incremento da percepção de si, possibilitando aos participantes desenvolver estratégias de enfrentamento do estresse, incentivando outras formas mais saudáveis de lidar com as exigências e tensões do dia a dia. GRUPOS COM PACIENTES CRÔNICOS Mais utilizado nos serviços hospitalares, os grupos de pacientes com quadros de longa permanência no sistema têm por objetivo aumentar a adesão ao tratamento, oferecer acolhimento, suporte e trocas, viabilizando redes de solidariedade entre seus integrantes. Esse tipo de grupo tende a reunir pacientes com o mesmo tipo de enfermidade, com objetivo de informar, refletir e de dar suporte aos seus participantes no trato com a doença. Normalmente, é coordenado por dois ou mais profissionais de saúde que atuam conjuntamente. GRUPOS SOBRE SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA Mais presentes na atenção básica, objetivam, principalmente, a redução de gravidez e de transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) nesta faixa etária. O grupo com adolescentes tem se mostrado um poderoso instrumento de ajuda nos conflitos das transformações tão delicadas nessa etapa do desenvolvimento. Ele auxilia a refletir e elaborar sentimentos, além de compartilhar e trabalhar dúvidas e conhecimentos face à sexualidade, sempre considerando as angústias e inseguranças, dialogando sobre os afetos envolvidos na vivência da sexualidade e pertencimento de gênero. GRUPO DA TERCEIRA IDADE Mais presentes na atenção básica, esses grupos trazem grandes melhorias e mudanças na vida dos idosos, como saúde, autoestima e autovalorização, contribuindo para o desenvolvimento das funções da vida diária, além de proporcionar reconhecimento, tanto pelos familiares como pela sociedade em geral. RODA DE TERAPIA COMUNITÁRIA Modalidade de terapia difundida a partir da PNH no SUS, muito utilizada na atenção básica, a Terapia Comunitária Integrativa é uma roda de conversa em que se procura compartilhar experiências de vida de forma horizontal e circular. Trabalha a escuta das histórias trazidas e escolhidas pelos participantes para, por meio de uma metodologia estruturada (técnica do Baú de Histórias), implicar a todos na busca de soluções para superar os desafios do cotidiano. Abre o espaço para conversações coletivas que nos permitem construir redes solidárias de estímulo de qualidade de vida, mobilizando e promovendo as competências dos indivíduos, das famílias e das comunidades. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DIVERSOS AUTORES, COMO MAGDA DIMENSTEIN, ALERTAM PARA OS PROBLEMAS DA SIMPLES TRANSIÇÃO DO MODELO TRADICIONAL DE CLÍNICA PSICOLÓGICA PARA A PRÁTICA EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE SAÚDE. ELA ELENCA AS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS DESTA TRANSPOSIÇÃO. QUAL DOS PROBLEMAS ABAIXO NÃO ESTÁ ENTRE OS CITADOS PELA AUTORA NA SUA PESQUISA: A) Alta adesão a práticas de avaliação que problematizam o atendimento. B) Ineficiência dos tratamentos psicológicos. C) Alto índice de abandono dos tratamentos. D) Seleção e hierarquização da clientela. E) Atrasos e faltas frequentes dos pacientes nos tratamentos. 2. O TRABALHO EM GRUPO PRODUZ MUITOS BENEFÍCIOS NOS CONTEXTOS DA SAÚDE PÚBLICA, TANTO NO NÍVEL PRIMÁRIO, QUANTO NA ATENÇÃO HOSPITALAR. ENTRE ESSES BENEFÍCIOS NÃO ESTÁ INCLUÍDO: A) O terapeuta tem a compreensão e interpretação facilitada com o auxílio dos participantes. B) O trabalho é feito exclusivamente pela linguagem verbal, e isso viabiliza o acesso às emoções. C) Pode atingir um número maior de pessoas atendidas, sem comprometer a qualidade. D) Potencializa as relações comunitárias e interpessoais de apoio entre os participantes. E) Estimula o sentimento de grupalidade. GABARITO 1. Diversos autores, como Magda Dimenstein, alertam para os problemas da simples transição do modelo tradicional de clínica psicológica para a prática em instituições públicas de saúde. Ela elenca as principais consequências desta transposição. Qual dos problemas abaixo não está entre os citados pela autora na sua pesquisa: A alternativa "A " está correta. Os psicólogos não têm adesão às práticas avaliativas 2. O trabalho em grupo produz muitos benefícios nos contextos da saúde pública, tanto no nível primário, quanto na atenção hospitalar. Entre esses benefícios não está incluído: A alternativa "B " está correta. O grupo não trabalha somente com linguagem verbal. MÓDULO 3 Reconhecer o SUS e o trabalho da Psicologia nos diferentes níveis de cuidado à saúde CONCEITOS IMPORTANTES Toda a política de saúde está consolida no SUS. Ele é o maior sistema de saúde gratuito do mundo e ocupa todo território nacional com uma organização complexa. Agora, vamos compreender esta organização e o papel da Psicologia neste sistema. REDE É um conjunto de instituições e agentes interligados uns aos outros. A saúde se apoia na ideia de rede para definir os papéis de cada agente no plano, onde se fazem necessárias comunicação e trocas constantes, de elementos materiais ou imateriais entre os entes envolvidos, de acordo com regras bem definidas. REGIÃO DE SAÚDE Uma região de saúde é uma limitação definida no espaçogeográfico. Geralmente corresponde a um conjunto de municípios que compartilham fronteiras, apresentam identidades culturais, econômicas e sociais em comum. Necessitam de boas redes de comunicação e infraestrutura de transportes que viabilizem a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde. O conceito de região de saúde é extremamente importante, pois cada Unidade Básica de Saúde (UBS) atende a um território geográfico específico (bairro ou um conjunto de ruas) que corresponde a um pedaço da cidade, dividida e atribuída a uma equipe de referência. Nos territórios, são estabelecidas redes de serviços que devem ser ofertadas pelo Município, Estado ou União segundo o pacto federativo. PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS Estipulados na carta da 8° conferência da Saúde, em 1986, o SUS possui 3 princípios doutrinários. Universalidade: Todo cidadão tem direito à saúde gratuita. Antes do SUS, somente os trabalhadores com carteira assinada tinham esse direito. Aos pobres, eram ofertados serviços de caridade ligados a ordens religiosas. Integralidade: O SUS, organizado em níveis crescentes de complexidade, será responsável pela promoção, prevenção, terapêutica e reabilitação de todos os agravos de saúde, excluindo apenas tratamentos experimentais. Equidade: O SUS dará prioridade às populações mais vulneráveis e com dificuldades de acesso, trabalhando a demanda de modo diferenciado, com políticas específicas para cada população. O esforço para o acesso de toda população passa a ser responsabilidade do SUS e não somente do usuário. PRINCÍPIOS ORGANIZACIONAIS Podemos considerar 3 princípios organizacionais. São princípios pragmáticos que complementam os doutrinários, tornando-os possíveis. Hierarquização: O SUS se estrutura em 3 níveis. Baixa complexidade: onde fica a atenção primária (UBS, Clínicas da Família, NASF e Consultórios de Rua). É a porta de entrada do sistema e está referenciada no território por microáreas, na proporção de uma equipe para cada 4 mil famílias. Média complexidade: compreende a atenção prestada pelos hospitais gerais e serviços de urgência e emergência. Alta complexidade: são os hospitais altamente especializados, para casos graves e complicados, que exigem tecnologias e profissionais avançados. O paciente deve ser encaminhado a níveis de complexidade maiores na medida que seu caso exigir, por isso é importante o funcionamento em rede. Controle social: Como é chamada a Participação Popular no SUS. Todo usuário pode ajudar na gestão. Os mecanismos vão desde reuniões comunitárias nas UBS até através dos Conselhos e Conferências de Saúde. Descentralização: Os equipamentos de saúde têm que estar perto da população, nos contextos comunitários, e a gestão deve ser pactuada entre município, estado e União. CLÍNICA AMPLIADA E POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO – PNH A metodologia da PNH é caracterizada pela utilização de ferramentas para fortalecer redes, vínculos e promover a corresponsabilidade entre usuários, trabalhadores e gestores. A instituição da PNH é um marco inicial de intervenções na gestão das equipes, que passam a ser alvo de diversas ações no intuito de reorganizar o sistema que estava precarizado, abrindo espaço para atuações inovadoras, incluindo diversas práticas da Psicologia. CLÍNICA AMPLIADA A Clínica Ampliada é uma das principais inovações trazidas pela PNH. Partindo do entendimento de que o homem é um ser biopsicossocial, a Clínica Ampliada propõe um espaço maior ao psicológico e ao social no ambiente de saúde, visando um maior equilíbrio entre esses três enfoques (biológico, psicológico e social), embora reconheça que, em dado momento e situação, possa existir uma predominância de um dos enfoques. Esse dispositivo também passa a valorizar a atuação do psicólogo nas equipes de saúde. Fonte: Shutterstock.com No sistema hospitalar, faz-se necessária uma atenção especial ao usuário, devido à fragilidade causada pela doença e pelo afastamento do ambiente familiar. O abandono dos tratamentos sempre foi um grande problema para o SUS, além dos impactos sociais e emocionais provocados pelas perdas de vidas, é preciso considerar o desperdício de recursos em tratamentos inacabados que levam à necessidade de investimentos ainda maiores quando o caso se agrava. A Clínica Ampliada acredita que a adesão do paciente ao plano terapêutico é maior quando este, além de devidamente escutado e acolhido através do estímulo a sua participação e a sua autonomia, torna-se corresponsável pelo seu próprio projeto terapêutico. Normalmente, quando pensamos em clínica médica ou tratamentos hospitalares, imaginamos um profissional de saúde, geralmente, um médico requerendo exames para fechar um diagnóstico ou prescrevendo remédios para curar uma doença. A Clínica Ampliada acredita que uma clínica precisa ser muito mais do que isso. ATENÇÃO O diagnóstico de uma doença supõe alguma regularidade nos sintomas, assim como uma igualdade entre os indivíduos. Torna-se necessário um esforço para que se abra espaço para a singularidade de cada usuário. Isso implica na ampliação do objeto de trabalho, ou seja, apesar de trabalharmos com as doenças, as epidemias e os problemas sociais, precisamos sempre lembrar que eles acontecem com pessoas. É preciso tratar não só a doença, mas os doentes e suas famílias. Dessa forma, a escuta torna-se um dos principais pontos de sustentação desta clínica. Escutar significa acolher aquilo que o paciente fala, sem direcionar ou cortar seu relato, mesmo que o profissional suponha que seja irrelevante para o diagnóstico e tratamento. Com a intervenção, este espaço ajuda o paciente a entender e respeitar os motivos do seu processo de adoecimento e a estabelecer conexões entre seu adoecimento e sua vida, pois, quanto mais a doença for assimilada na vida das pessoas, maior a chance de sucesso dos tratamentos. Fonte: Shutterstock.com A Clínica Ampliada propõe a construção compartilhada dos diagnósticos e condutas terapêuticas entre os usuários e famílias; a equipe e sua direção; serviços de saúde e ação intersetorial. Para que se torne possível transformar os instrumentos de trabalho, é preciso dar suporte aos profissionais. Aqui, destaca- se a necessidade das reuniões de equipe e o estímulo à comunicação dentro da equipe e entre as equipes, além de técnicas relacionais que permitam o compartilhamento da clínica. PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR – PTS O PTS é um dos principais instrumentos da Clínica Ampliada. Ele consiste na proposição e negociação de condutas terapêuticas para um sujeito, coletivo ou comunidade. Essas propostas são elaboradas pela equipe interdisciplinar após discussões de caso, contando, às vezes, com o Apoio Matricial. Aqui, é considerada a singularidade de cada usuário, atentando-se às diferenças que transcendem os diagnósticos. Podemos dizer que o PTS é uma ampliação da discussão de caso clínico, que é geralmente dedicado a situações mais complexas. O PTS ganhou importância e amplitude na Saúde Mental, principalmente, nos CAPS, como uma atuação integrada, que valoriza outros aspectos do sujeito, para além do diagnóstico e da medicação psiquiátrica no tratamento dos usuários. SAIBA MAIS O trabalho do psicólogo na equipe de saúde, quando norteado pelo conceito de Clínica Ampliada, abre muitas frentes, desde o trabalho com a equipe, para resolução de conflitos, aumento de potencial da escuta, estímulo à comunicação, até o trabalho com os usuários, na escuta singular e qualificada dos fatores que interferem nos projetos terapêuticos, na construção da corresponsabilização etc. ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF A ESF está associada ao programa de agentes comunitários, que são pessoas da comunidade treinadas e contratadas para trabalhar a interface entre os usuários e a equipe, que trabalha com promoção e prevenção de saúde, além de cuidados básicos. No SUS, podemos usar aquele velho ditado: “é bem melhor prevenir do que remediar”. Estima-se queem um sistema de saúde eficiente, entre 80 e 85% dos pacientes sejam atendidos na atenção primária, mitigando o número de doenças evitáveis. O investimento em prevenção torna um sistema de saúde sustentável, reduzindo o custo nos setores onde o cuidado é mais caro e complexo, que são os níveis interventivos secundário e terciário. NÚCLEO DE APOIO SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Como não existe previsão de psicólogos na equipe mínima da ESF, normalmente, os psicólogos trabalham no Núcleo de Apoio Saúde da Família – NASF. Esses núcleos atuam junto às equipes de saúde das clínicas da família de seu território, prestando atendimento aos casos de maior complexidade. Neste atendimento, devem produzir e compartilhar um saber sobre o caso específico e sobre a situação de saúde, que servirá de subsídio para a equipe da clínica da família em casos semelhantes. Por isso, esses atendimentos são realizados por vários profissionais, em um modelo semelhante ao das residências de medicina. ATENÇÃO O objetivo é aumentar a abrangência e a resolubilidade da atenção básica, pois diminui a necessidade de encaminhar pacientes ao setor secundário. Visando à integralidade do cuidado, otimiza a capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, no âmbito clínico, sanitário e ambiental, aumentando a qualidade de vida nos territórios atendidos. A atuação do NASF, intitulada Apoio Matricial, deve ser integrada ao atendimento já realizado, ou seja, a atendimentos clínicos, a visitas domiciliares, incluindo também as discussões de casos, as ações intersetoriais e de prevenção e promoção da saúde, sempre caminhando na direção da construção conjunta de projetos terapêuticos. A composição da equipe do NASF é definida pelos gestores municipais, seguindo os critérios de prioridade identificados a partir dos dados epidemiológicos. A PSICOLOGIA E O NASF Os psicólogos são profissionais frequentes no NASF, onde ocupam um espaço estratégico. A recomendação é de que os psicólogos não realizem psicoterapia individual, mas priorizem o apoio matricial. É notório o alto índice de demanda de intervenções em saúde mental, realizada tanto pelos próprios pacientes, como pelas equipes, que os encaminham. A presença constante de psicólogos na saúde é uma reinvindicação de diversos movimentos sociais, concretizada nas últimas Conferências Nacionais de Saúde e regionais de Saúde Mental. O papel do psicólogo ainda não está suficientemente estruturado e institucionalizado, o que se expressa no esforço em refletir sobre a atuação, o que tem favorecido a construção de novas práticas eticamente comprometidas com o público-alvo e com as equipes. Esse esforço tem sido realizado tanto no meio acadêmico, através de projetos de pesquisa em campos de estágios, extensões, mestrados e doutorados, como pelas entidades de classe, como CFP, sindicatos e ABEP, que promovem encontros, seminários e jornadas para trocas, que posteriormente são publicadas e compartilhadas. Uma das novidades nesse campo é o trabalho com prevenção e promoção de saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define como promoção da saúde o processo que permite às pessoas melhorar sua condição de saúde pelo conhecimento e aumentar o controle sobre os fatores que intervêm nesta, principalmente os determinantes sociais de saúde. É um processo social e político, onde a participação é essencial para sustentar as ações. Privilegia ações voltadas para o fortalecimento das capacidades e habilidades da população atendida. Preocupa-se também com mudanças nas condições sociais, ambientais e econômicas que impactam na saúde. A prevenção é um trabalho mais focado em resultados. Com base em informações científicas e recomendações normativas, exige uma ação antecipada, subsidiada pelo conhecimento epidemiológico da doença, visando o controle e redução do risco. EXEMPLO Um exemplo de prevenção de saúde mental é o setembro amarelo, mês em que se estruturam campanhas informativas e educativas voltadas para prevenção ao suicídio. Os exemplos de ações de promoção de saúde são muitos, e vão desde rodas de conversa livre, atividades socioeducativas, até palestras ou Programa Saúde na Escola, realizado com a colaboração de psicólogos. É claro que, para atuar neste contexto, o psicólogo deve possuir uma abordagem mais comunitária do que clínica, seu foco não pode estar voltado apenas para as patologias ou conflitos individuais, mas para o fortalecimento das relações entre as pessoas, operando na articulação indivíduo, sociedade e serviço. Deve ter também um perfil institucional, pois atuará com gestão de equipes e elaboração de projetos. O Apoio Matricial é a principal ferramenta de trabalho dos psicólogos, que deve ser prestado por uma equipe do NASF às equipes de saúde da família de um território. Seu principal objetivo é ampliar e qualificar o cuidado às pessoas com transtornos mentais, prestando cuidado à família, às redes sociais e culturais do usuário e valorizando a sua subjetividade. É nessa área que está previsto o ingresso de psicólogos. Embora os gestores municipais tenham a prerrogativa de escolher entre três categorias profissionais de saúde mental (psicólogos, psiquiatras e terapeutas ocupacionais), pesquisas apontam para uma preferência pela contração de psicólogos. Fonte: Shutterstock.com O psicólogo também pode realizar atividades socioeducativas, que devem ser voltadas para temas diversos de interesse da comunidade e os grupos. As visitas domiciliares estão entre as tarefas mais realizadas por psicólogos no NASF. Elas acontecem de acordo com as solicitações das equipes de referência e são realizadas junto com os agentes de saúde. SAIBA MAIS Embora existam recomendações de que o atendimento ambulatorial não é prioridade do NASF e não deve ser realizado pelos psicólogos, ainda há profissionais que aderem a essa prática. Essa tendência para a clínica individual, para o lugar “seguro” dos modelos perspectivas teórico-metodológicas tradicionais, é ainda bastante observada. Isso é causado, provavelmente, pelo excesso de exposição desses modelos nas grades curriculares dos cursos de Psicologia. Os profissionais que trabalham no NASF devem reservar algum tempo para o registro de suas atividades. Esse registro é uma exigência das secretarias municipais de saúde para prestação de contas, através de relatórios das atividades e de fichas de produtividade. Os registros são utilizados como uma forma de comunicação escrita entre os profissionais da equipe e devem estar de acordo com as determinações do CFP presentes nas resoluções CFP nº 009/2010 e 006/2019. PROGRAMA DE SAÚDE NA ESCOLA – PSE O PSE é uma política intersetorial entre o Ministério da Saúde e o da Educação, que começou em 2007. Ele oferece atividades voltadas para a saúde e educação para crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública. É uma estratégia orientada para o desenvolvimento da cidadania e da qualificação dessas duas políticas públicas que são básicas e, por isso, as mais importantes. Essa articulação intersetorial não implica simplesmente em aumento de oferta de serviços em um mesmo território, mas ações a partir da construção de redes de corresponsabilidade, propiciando a sustentabilidade da rede. SAIBA MAIS Em contextos de população empobrecida e vulnerável, as escolas abrigam uma série de problemas relacionados às condições socioeconômicas do território como as más condições de habitação, alimentação, segurança, transporte, saneamento e exposição a situações de violência, fatores que desafiam o cotidiano escolar e sua gestão. O psicólogo que trabalha no NASF participa ativamente das ações do PSE. As ações da Psicologia no PSE têm três componentes: avaliação clínica e psicossocial, promoção e prevenção à saúde e formação profissional. As ações da Psicologia impactam o ambiente escolar, oferecendo matriciamento e capacitações aos professores, orientando-os quanto aos temas pertinentes. Há espaçopara rodas de conversa que são um lugar de escuta das aflições produzidas no cotidiano de trabalho dos professores, onde podem compartilhar as angústias decorrentes dos problemas que atingem a profissão, como desmanche político, precarização das condições de trabalho, baixa remuneração etc. São ofertados também encontros temáticos para a população, onde são discutidos temas pertinentes à comunidade. Fonte: Shutterstock.com Também partem da escola e das equipes de saúde pedidos de avaliação, diagnóstico e tratamento psicológico. As expressões de sofrimento e mal-estar costumam ser trazidas pelos pacientes como transtornos de saúde mental. Não é raro observar que o autodiagnóstico e a solicitação de medicação utilizados para suprimir o desconforto fazem parte da rotina dos profissionais. É necessário ponderar que, apesar de ser fácil perceber diversas formas de sofrimento nas famílias, muitas vezes, a demanda para atendimento é originada em um desconforto que as famílias provocam nas equipes. Assim, torna- se ainda mais necessária uma intervenção dentro da escola e das equipes de saúde para trabalhar os critérios de encaminhamento, aumentando a eficácia das solicitações. Toda a comunidade tem a ganhar com o aumento da interlocução entre a saúde e a escola. PSICOLOGIA NA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – RAPS A política nacional de saúde mental, regulamentada pela Lei 10.216/01, institui um modelo de atenção à saúde mental aberto e de base comunitária. Representa uma mudança em relação ao modelo anterior, onde o tratamento psiquiátrico era sinônimo de isolamento e afastamento das pessoas de suas famílias e da comunidade. A partir desta lei, todos os pacientes com transtornos mentais passam a ter direito ao tratamento adequado às suas necessidades. Eles devem ser tratados com humanidade e respeito, tendo como meta alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade. Os pacientes deverão ser protegidos contra qualquer forma de abuso e exploração, tendo garantia de sigilo e respeito de sua doença. ATENÇÃO A Psicologia na RAPS foi instituída como uma rede intersetorial de serviços e equipamentos. Suas ações podem ser divididas em atenção psicossocial básica, atenção psicossocial estratégica, reabilitação psicossocial e atenção residencial de caráter transitório e definitivo. Em todas essas dimensões, o trabalho do psicólogo se faz presente. Agora, apresentaremos os equipamentos mais expressivos da sua atuação: o CAPS e o Consultório de Rua. CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS O CAPS é um equipamento que pertence à rede de atenção secundária, de média complexidade. Segundo os últimos dados, há 2.465 equipamentos do tipo CAPS presentes distribuídos nos 5.570 municípios brasileiros. Embora não seja obrigatória a contratação de psicólogos nesta modalidade, quase a totalidade das equipes opta pela contratação. ATENÇÃO A atenção à crise representa um dos momentos mais difíceis em Saúde Mental. No modelo psiquiátrico tradicional, a crise é entendida como uma situação grave que requer isolamento e contenção física e química. No CAPS, a crise é entendida como uma situação que demanda intervenção e produção de cuidado, mas não necessariamente demanda isolamento. Esse momento envolve uma série de fatores, muitos de origem social, que indicam não se tratar apenas de uma situação puramente biológica ou psicológica, por isso, falamos em processo psicossocial. Os CAPS funcionam com sistema de portas abertas, sem exigência de encaminhamento de outros equipamentos de saúde. Devem ter uma estrutura bastante flexível para que não se tornem espaços burocratizados e repetitivos. Por isso, o espaço é permeado pela arte, com oficinas terapêuticas de música, teatro, artesanato, reciclagem, pintura e escultura, tornando-se ambientes alegres, decorados pelas obras dos usuários. Ainda estão previstas as visitas domiciliares, atendimento aos familiares e articulações intersetoriais e nos casos de CAPSIII, apoio e permanência noturna. CONSULTÓRIO DE RUA É uma estratégia criada pela política nacional de atenção básica, em 2011, e tem por objetivo realizar a ampliação do acesso da população em situação de rua aos serviços de saúde, ofertando atenção integral aos que se encontram em condições de vulnerabilidade e com os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados. São equipes multiprofissionais volantes que desenvolvem ações integrais, adequadas às necessidades dessa população, através de uma atuação itinerante, que perambula pelo território indo ao encontro de seu público-alvo. Frequentemente, envolvem ações conjuntas com as equipes das UBS de referência. SAIBA MAIS Em 2018, foram contabilizadas 161 equipes de Consultório de Rua no país. A exemplo do que acontece nos CAPS, a contratação de psicólogos não é obrigatória. Eles integram a equipe compondo o entendimento sobre os usuários com seu saber sobre as dinâmicas psicológicas, realizando abordagens, participando da estruturação e pactuação dos projetos terapêuticos, entre outras. Atuam também junto à equipe, auxiliando na comunicação, aumentando a grupalidade e ouvindo as frustrações, visando elaborá-las. Pode também atuar junto à comunidade, em projetos que visem diminuir o preconceito e contribuam para a integração da população em situação de rua. PSICÓLOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR A Psicologia da Saúde contempla ações nos setores primários, secundário e terciário. A Psicologia Hospitalar compreende as ações que se desenvolvem em equipamentos dos hospitais, nos serviços de média e alta complexidade. Pesquisa recente aponta que apenas 3% dos psicólogos atuam em hospitais não psiquiátricos, fazendo com que esta área ocupe a posição 11 no ranking de locais de trabalho (LHULLIER, 2013). Há registros bastante antigos de psicólogos atuando em hospitais, mesmo antes de a Psicologia existir oficialmente. A primeira intervenção é datada de 1818 e foi realizada no Hospital McLean, em Massachussetts, com a inclusão de um psicólogo em uma equipe multiprofissional. Em 1904, foi inaugurado um laboratório de Psicologia que desenvolveu as primeiras pesquisas em Psicologia Hospitalar. Fonte: Shutterstock.com No Brasil nos anos de 1930, foram fundados os primeiros serviços de Higiene Mental que contaram com participação ativa de psicólogos, que traziam propostas muito diferentes daquelas da Psiquiatria. Em 1950, dá-se a primeira inserção de psicólogos em hospital geral, no Hospital de Clínicas da USP, realizando uma pesquisa sobre o alojamento conjunto em maternidade. Em 1997, é fundada a Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH), que dá impulso e legitimidade às práticas efetuadas, além de proporcionar espaços para troca e sistematização dos conhecimentos. Segundo o CFP (2019), “a Psicologia Hospitalar corresponde ao campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento quando este ocasiona uma internação hospitalar”. Nesse entendimento, evidencia-se a dimensão biopsicossocial das doenças. Essa visão abre espaço para práticas mais focadas no paciente e menos nos sintomas ou na doença; para a Psicologia Hospitalar, o objetivo de sua atuação é “tratar doentes, não doenças” (CFP, 2019). Não é fácil cuidar das pessoas em processos de adoecimento, significa estar atento a todos os aspectos psicológicos que formam a dinâmica psíquica, independentemente se são ou não relacionadas à doença. Significa construir com o paciente espaços onde ele se sinta confortável para se implicar na sua experiência. Por isso, é importante levar em consideração a rede de relações que interage nesse momento, como família, equipe e instituição de saúde, ajudando a contextualizar o cuidado. ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO HOSPITALAR Atua em instituições de saúde, participando da prestação de serviços de nível secundário ou terciário da atenção à saúde. Atua também em instituições de ensino superior e/ou centros de estudo e de pesquisa, visandoao aperfeiçoamento ou à especialização de profissionais em sua área de competência, ou à complementação da formação de outros profissionais de saúde de nível médio ou superior, incluindo pós-graduação lato e stricto sensu. Atende a pacientes, familiares e/ou responsáveis pelo paciente; membros da comunidade dentro de sua área de atuação; membros da equipe multiprofissional e eventualmente administrativa, buscando o bem estar físico e emocional do paciente; e, alunos e pesquisadores, quando estes estejam atuando em pesquisa e assistência. Oferece e desenvolve atividades em diferentes níveis de tratamento, tendo como sua principal tarefa a avaliação e acompanhamento de intercorrências psíquicas dos pacientes que estão ou serão submetidos a procedimentos médicos, visando basicamente à promoção e/ou à recuperação da saúde física e mental. Promove intervenções direcionadas à relação médico/paciente, paciente/família, e paciente/paciente e do paciente em relação ao processo do adoecer, hospitalização e repercussões emocionais que emergem neste processo. O acompanhamento pode ser dirigido a pacientes em atendimento clínico ou cirúrgico, nas diferentes especialidades médicas. Podem ser desenvolvidas diferentes modalidades de intervenção, dependendo da demanda e da formação do profissional específico; dentre elas, ressaltam-se: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e Unidade de Terapia Intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsultoria. No trabalho com a equipe multidisciplinar, preferencialmente interdisciplinar, participa de decisões em relação à conduta a ser adotada pela equipe, objetivando promover apoio e segurança ao paciente e família, aportando informações pertinentes à sua área de atuação, bem como na forma de grupo de reflexão, no qual o suporte e manejo estão voltados para possíveis dificuldades operacionais e/ou subjetivas dos membros da equipe. (Resolução CFP 13/2017) A PSICOLOGIA E A PANDEMIA POR COVID-19 Devido à pandemia de Covid-19 que se estabeleceu no Brasil a partir de março de 2020, houve uma grande contratação de psicólogos para trabalhar em hospitais gerais e de campanha no enfrentamento deste vírus. Por tratar-se de um evento ainda em andamento, é difícil traçar os limites deste campo, mas é possível apontar algumas tendências no trabalho destes profissionais que se mostraram essenciais nestes espaços. Antes da pandemia, a Psicologia atuava pouco com pacientes com doenças contagiosas, que não constituíam um número significativo. A partir deste ano, a participação do psicólogo na rotina hospitalar tornou-se importantíssima e estes profissionais se viram frente a novos desafios e angústias, como o perigo de contágio, a paramentação de alta segurança e o acolhimento diário e cotidiano, em frequência nunca imaginada, às famílias enlutadas. Fonte: Shutterstock.com O trabalho no hospital tem sido caracterizado por uma adaptação ao trabalho efetuado em hospitais em geral, mas atentando à alta mortalidade dos pacientes e risco constante de contaminação na equipe, que gera apreensões e preocupações específicas. As principais tarefas descritas são atendimento aos pacientes em leitos de enfermaria e CTI, visando diminuir as angústias inerentes ao tratamento; organizar ou ajudar a organizar o acolhimento e apoio a visitas virtuais de familiares, aquelas que acontecem via celular ou outros dispositivos de comunicação; suporte aos familiares, lembrando que não é atribuição do psicólogo passar boletim médico; apoio à equipe médica em diagnósticos e notícias de óbitos, considerando que não é atribuição do psicólogo comunicar diretamente diagnósticos ou dar notícias de óbito, e sim estar presente nesses momentos para oferecer apoio e suporte emocional aos pacientes e ou familiares. SAIBA MAIS Cabe ressaltar que muitos pacientes contaminados pela Covid-19 passam por longos processos de recuperação, onde a atuação do psicólogo pode auxiliar na reabilitação da condição respiratória e condicionamento físico geral, bem como quadros de depressão, que tem se mostrado comum na recuperação. Para além dos pacientes infectados, a pandemia afeta toda a sociedade pelos impactos sociais e econômicos que produz, ao ponto de a OMS anunciar que a quarta onda da pandemia será de impactos na Saúde Mental, fazendo necessário, no futuro, a atenção a este tema junto às equipes nas UBS. As pessoas em isolamento também desenvolvem quadros de sofrimento decorrentes do medo de contaminação, da sensação de impotência perante os acontecimentos. Estão propensas a sentirem medos como o de adoecer e morrer, de perder as pessoas que amam, de perder a renda, de ser excluído socialmente ou de ser separado de entes queridos e, ainda, de transmitir o vírus a outras pessoas. Fonte: Shutterstock.com Esse contexto tem precipitado conflitos e alterações de padrão de comportamento que interferem na sociedade como um todo, e tem se multiplicado nos atendimentos de psicólogos na saúde. A lista de sintomas é farta e não difere substancialmente dos sintomas mais comum dos quadros de sofrimento frequentes, como humor deprimido, sintomas de pânico e ansiedade e distúrbios de sono e alimentação, mas apresentando-se em uma frequência nunca vista. DICA Embora ainda seja cedo para fazer afirmações sobre a pandemia de Covid-19, cuja totalidade de efeitos ainda estamos por conhecer, podemos, neste momento, afirmar que eles se manifestarão nos três níveis de atenção à saúde (primário, secundário e terciário) e as ações envolverão necessariamente o cuidado em saúde mental, com participação efetiva da Psicologia. PSICOLOGIA, SAÚDE E POLÍTICAS PÚBLICAS VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO, CRIADA PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA SER INTRODUZIDA NO SUS EM 2003, PRETENDE TRANSFORMAR A PRÓPRIA IDEIA DO ATENDIMENTO CLÍNICO, A PARTIR DO CONCEITO DE QUE O HOMEM É UM SER BIOPSICOSSOCIAL. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CONTÉM UM CONCEITO QUE NÃO ESTÁ CONTEMPLADO NESTA PRÁTICA: A) A escuta é um dos principais pontos de sustentação da Clínica Ampliada. B) A equipe deve acolher toda queixa ou relato do usuário, mesmo quando aparentemente não interessar diretamente para o diagnóstico e tratamento. C) A Clínica Ampliada propõe a construção compartilhada dos diagnósticos e terapêuticas entre os usuários e a equipe de saúde. D) Entende que a gestão dos processos de trabalho nas equipes é tão importante quanto o próprio atendimento. E) Propõe que a opinião do médico seja considerada mais importante que a dos outros profissionais. 2. AS AÇÕES DE SAÚDE ESTRUTURAM-SE EM NÍVEIS DE COMPLEXIDADE CRESCENTE, SEGUNDO O PRINCÍPIO ORGANIZACIONAL DA HIERARQUIZAÇÃO. CONSIDERANDO ESSE PRINCÍPIO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Na atenção básica, estão os equipamentos hospitalares. B) Os CAPS estão situados na atenção secundária. C) O NASF está referenciado na atenção secundária. D) Os hospitais especializados estão localizados na atenção primária. E) Os consultórios de rua estão são equipamentos de alta complexidade. GABARITO 1. A Política Nacional de Humanização, criada pelo Ministério da Saúde para ser introduzida no SUS em 2003, pretende transformar a própria ideia do atendimento clínico, a partir do conceito de que o homem é um ser biopsicossocial. Assinale a alternativa que contém um conceito que não está contemplado nesta prática: A alternativa "E " está correta. Com estímulo à interdisciplinaridade, a Clínica Ampliada propõe que todos os profissionais tenham igual importância na equipe. 2. As ações de saúde estruturam-se em níveis de complexidade crescente, segundo o princípio organizacional da hierarquização. Considerando esse princípio, assinale a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. O CAPS é um equipamento que pertence a rede deatenção secundária, de média complexidade. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Procuramos apontar as forças que construíram historicamente a Psicologia e a Psicologia da Saúde, visando entender a relação entre essas duas áreas de conhecimento, para nos focarmos nas diferenças entre a prática nas instituições de saúde e a clínica tradicional. Falamos das especificidades da prática psicológica nos diferentes níveis de atenção, dando destaque ao trabalho na atenção primária, nos CAPS e dentro dos hospitais e, ainda, dos novos dispositivos técnicos que permeiam esse trabalho, como a Clínica Ampliada que prioriza a atuação institucional e em grupos. Indicamos também as especificidades desta área de conhecimento que, por possuir uma intersecção com as políticas públicas e trabalhar com a população mais empobrecida, está sempre sujeita a transformações, seja por forças políticas, seja pela evolução própria da ciência, ou ainda pelo impacto de acontecimentos novos, como a pandemia por Covid-19. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de janeiro: FIOCRUZ, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Clínica Ampliada e compartilhada, Brasília: M.S., 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização. Brasília: M.S., 2013. BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Rio de Janeiro: Physis, v. 17, n. 1, 2007. CAMPOS, R. H. F. (org.). Psicologia Social Comunitária. Da solidariedade à autonomia. pp. 15-28, Petrópolis: Vozes, 1996. CFP. Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) nos serviços hospitalares do SUS. Brasília: CFP, 2019. Conselho Federal de Psicologia. Brasília: CFP, 2013. DIEESE. Levantamento de informações sobre a inserção dos psicólogos no mercado de trabalho brasileiro. Brasília: CFP, 2016. DIMENSTEIN, M. A cultura profissional do psicólogo e o ideário individualista: implicações para a prática no campo da assistência pública à saúde. Estudos de Psicologia, 95-121, 2000. FERREIRA NETO, J. L. Uma genealogia da formação do psicólogo brasileiro. Memorandum, n. 18, abr 2010, p. 130-142. LANE, S. Histórico e fundamentos da Psicologia Comunitária no Brasil. In Campos, Regina Helena de Freitas (org.). Psicologia Social Comunitária. Da solidariedade à autonomia. Petrópolis: Vozes, 1996. LHULLIER, L. A. (org). Quem é a Psicóloga brasileira? Mulher, Psicologia e Trabalho. LIMA, M.; BRITO, M.; FIRMINO, A. Formação em Psicologia para a atenção básica à saúde e a integração universidade-serviço-comunidade. Psicologia: ciência e profissão, Brasília, v. 31, n. 4, p. 856-867, 2011. LO BIANCO, A. C. et al. Concepções e Atividades Emergentes na Psicologia Clínica; implicações para a formação. In: ACHCAR, Rosemary. (Coord.) Psicólogo Brasileiro; práticas emergentes e desafios para a formação – Conselho Federal de Psicologia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. MATARAZZO, J. Behavioural health's challenge to academic, scientific and professional Psychology. New York: American Psychologist, 1980. MESQUITA, A. C.; CARVALHO, E. C. A. Escuta Terapêutica como estratégia de intervenção em saúde: uma revisão integrativa. São Paulo: Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2014. OSÓRIO, C. Psicologia Grupal. Porto Alegre: Artmed, 2003. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema, confira: No site do CRP, todas as edições do CREPOP para download gratuito. As excelentes publicações e cartilhas sobre atuação em saúde, que estão na biblioteca da FIOCRUZ. As cartilhas sobre programas específicos para profissionais e população em geral, disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Pesquise sobre elas e fique atento às próximas publicações. O texto “A saúde e seus determinantes sociais” de Buss e Pellegrini Filho, publicado pela Revista Physis em 2007, e tenha mais informações sobre os modelos de determinantes sociais de Dahlgren e Whitehead e de Diderichsen e Hallqvist no texto. CONTEUDISTA Anelise Lusser Teixeira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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