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Pesquisa Gravidez na Adolescência

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS 
 CENTRO DE CIÊNCIAS DA VIDA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
ANA BEATRIZ TANAKA
VICTÓRIA PIANCASTELLI
BEATRIZ RIZZO GIANOTTO
ANA LAURA MONTEIRO COSTA
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UMA PERSPECTIVA DO FILME “JUNO”
CAMPINAS 
2021
ANA BEATRIZ TANAKA
VICTÓRIA PIANCASTELLI
BEATRIZ RIZZO GIANOTTO
ANA LAURA MONTEIRO COSTA
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UMA PERSPECTIVA DO FILME “JUNO”
Projeto de Pesquisa apresentado à disciplina Pesquisa em Psicologia II, da Faculdade de Psicologia, do Centro de Ciências da Vida, como parte das atividades de laboratório exigidas para aprovação.
Orientadora: Prof. Dra. Maria Adelina Biondi Guanais.
Monitor(a)(s): Lara Souza Morello e Vitória Damas.
PUC-CAMPINAS
 2021
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO..............................................................03
2 INTRODUÇÃO....................................................................05
3 OBJETIVOS........................................................................08
2.1 Objetivo geral...................................................................08
2.2 Objetivo específico...........................................................08
4 MÉTODO.............................................................................10
3.1 Procedimentos.................................................................10
3.2 Material ............................................................................11
5 RESULTADOS....................................................................11
6 DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................13
7 REFERÊNCIAS...................................................................17
1. APRESENTAÇÃO
A escolha do tema gravidez na adolescência foi idealizada de acordo com o interesse em aprofundar o conhecimento sobre o assunto e entender as causas, conflitos e decisões a serem tomadas pelas jovens na busca por compreender melhor os aspectos psicológicos de adolescentes grávidas, a influência do aprendizado sobre sexualidade e métodos contraceptivos, a relação com as famílias de condições financeiras favoráveis e desfavoráveis e, por fim, a análise entre semelhanças e diferenças existentes sobre esse tema no Brasil e em outros países. 
O presente trabalho visou compreender as implicações da gravidez na adolescência e o processo de adoção, assim como os seus obstáculos, aspectos psicológicos e as diferenças entre realidades e países distintos. Para atingir tal objetivo, a pesquisa utilizou como base diversos artigos acerca do tema, sustentados pela análise do filme “Juno”, que aborda o conteúdo em questão.
Sabe-se que a problemática é muito ampla e envolve diversos fatores, o que nos instigou a fazer uma investigação para garantir a compreensão e o aprofundamento sobre o assunto de maneira clara e de fácil entendimento. Por interesse do grupo em pesquisar sobre a gravidez nesse período da vida, buscou-se definir quais são os obstáculos encontrados pelos jovens, assim como suas possíveis soluções. Adoção, aborto ou a decisão de criar a criança, por exemplo, foram temas analisados no filme citado, assim como suas possíveis consequências.
De forma geral, pode-se dizer que a concepção do trabalho envolvendo o assunto escolhido se deu baseada na necessidade em compreender melhor os desdobramentos desse tema, que possuem grande impacto social e que geram uma longa discussão acerca de si mesmo. O engajamento do grupo em realizar as pesquisas científicas girou em torno do desejo de superar o conhecimento oriundo do senso comum. Dessa maneira, pode-se dizer que a elaboração do trabalho agregou conhecimento científico e experiência, contribuindo para a formação acadêmica de todas as alunas.
Por fim, considera-se as implicações e os debates da pesquisa bastante relevantes, à medida que eles podem esclarecer e acrescentar conhecimento, como ao se tornarem capazes de incentivar a necessidade de se ter um oferecimento da educação sexual aos jovens. Espera-se que com a ajuda e a análise do filme, possamos obter conclusões sobre o tema e contribuir futuramente para a área escolhida, visto que a gravidez, principalmente na adolescência, é um tema polêmico, atual e necessário.
2. INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a gravidez na adolescência é considerada aquela que ocorre entre os 10 e 20 anos de idade. Apontada como uma gestação de alto risco para a mãe e para o bebê, ela causa inúmeros problemas sociais, psicológicos, biológicos e econômicos, e os motivos mais pertinentes para tal acontecimento são a precariedade da educação sexual e da saúde pública, sendo um exemplo disso a falta de acesso às informações sobre métodos contraceptivos. Além disso, sabe-se que a desigualdade social muitas vezes impacta os cuidados pré-natais e a decisão de ter o bebê ou não, o que pode levar à opção de abortar ou colocá-lo para adoção; sendo assim, é correto afirmar que há implicação da situação financeira, uma vez que ela é determinante para a saúde física e mental da mãe, do filho e dos familiares. (DIAS; TEIXEIRA, 2009). 
Como foi dito anteriormente, é importante citar o problema da má distribuição de renda enfrentada pela maioria das adolescentes grávidas; isso, por muitas vezes, implica em riscos para as jovens, como em relação à falta do acompanhamento da gravidez com exames pré-natais, ultrassonografias e também aos cuidados com o recém-nascido após o parto. Também há dificuldade na tomada de decisão em criar ou não o bebê pelo fato de não conseguirem sustentar a família, o que faz com que a população menos favorecida financeiramente enfrente muitos obstáculos e opte pela adoção ou pelo aborto, que na maioria das vezes acontece de forma clandestina e nociva para a saúde da gestante, podendo resultar até mesmo em morte. (GAMA; SZWARCWALD; LEAL, 2001). 
Outra consequência social da gravidez é a dificuldade enfrentada pelas mães adolescentes no que diz respeito ao futuro próximo, onde precisam buscar possibilidades de melhorias em suas condições socioeconômicas, já que na maioria das vezes se veem na obrigação de abandonar os estudos para se dedicar ao bebe. (PINTO E RODRIGUES, 1999). Porém, dizer que todos esses problemas são causados pela idade é em partes controverso, pois a desigualdade social e financeira são os maiores motivos para tal acontecimento, onde grupos menos favorecidos sofrem com a falta do básico. (MEDRADO; LYRA, 1999).
Conforme se apontou, a gestação está relacionada com diferentes contextos, entre os quais o estilo de vida e os serviços de saúde que estão disponíveis para cada cidadão. Em estudos realizados em grandes capitais brasileiras, foram observados que os maiores influenciadores para que o índice de gravidez na adolescência crescesse no Brasil têm relação com o grau de escolaridade e a barreira existente entre o livre acesso à saúde e diversos outros serviços públicos; com o nascimento dos bebês e por não possuírem condições de bancar a si mesmos e a seus filhos, muitas mães passam por um intenso sofrimento psíquico e uma baixa esperança para um futuro positivo, situação que acarretará de forma negativa a vida de ambos. (NASCIMENTO et al., 2020). Contudo, em 2009, observou-se uma redução nos números de gestações na adolescência no Brasil, referenciado ao aumento do grau de escolaridade, campanhas de uso dos preservativos e o maior acesso a métodos contraceptivos. 
Há regiões no país em que o acesso a esses métodos é precário. Um exemplo disso é que nem toda Unidade Básica de Saúde oferece todos os métodos contraceptivos, entre eles a pílula do dia seguinte. Com acesso limitado, menos informações e a dificuldade comum às meninas novas em aderir a procedimentos que exigem regularidade de uso, a proteção, muitas vezes, falha. (FERREIRA et al., 2011). Logo, pode-se concluir que a falta de informação e acesso a métodos contraceptivos, como foi citado anteriormente, pode acarretar uma gravidez indesejada. Isso gera um desespero na vida de ambos os genitorese na maioria das vezes, faz com que a mulher acabe sendo mãe “solo”, pelo fato do pai não querer assumir o filho. Em situações como essa, grande parte das pessoas, por não conseguirem se bancar e muito menos bancar um filho, acabam optando por colocá-lo para adoção. (ESPINDOLA; VIANA; OLIVEIRA, 2019). Além disso, com o surgimento dos anticoncepcionais, criou-se a possibilidade de escolha em relação ao melhor momento de se ter uma criança, já que a pílula anticoncepcional tem como maior finalidade a contenção da gravidez. De tal modo cabe a adolescente assumir a responsabilidade do uso, principalmente se possuir uma vida sexualmente ativa. Porém, vale ressaltar que nenhum método contraceptivo é cem por cento eficaz. (FERREIRA et al., 2011).
Por outro lado, quando se trata de um contexto privilegiado, é possível observar opções de escolha mais seguras para a adolescente grávida. No caso, ao ter condições financeiras favoráveis para a família, a jovem tem a possibilidade de realizar um aborto que não a coloque a jovem em risco de saúde, pois em muitos casos, pela falta de dinheiro, adolescentes vão a óbito ou podem ter efeitos colaterais por realizar um aborto clandestino sem segurança. (ANJOS; SANTOS; SOUZAS; EUGÊNIO, 2013).
Existem diferentes visões relacionadas a quais papéis sociais as mulheres deveriam desempenhar, levando em conta seu status socioeconômico e a idade na qual acontece a gravidez. Em um estudo realizado com adolescentes gravidas desenvolvido por Doering (1989), evidencia-se que adolescentes de classe média que frequentavam clínicas privadas de aborto rejeitavam a gravidez, afirmando que essa situação dificultaria seus estudos e perspectivas de trabalho, pois nesta classe a maternidade não é prioridade social. Entre as adolescentes de hospitais públicos, 58% disseram que prefeririam aceitar a gravidez porque "gostam de crianças". Para essas jovens da classe popular, a maternidade parece ser a única perspectiva de vida, e o papel social mais importante que desempenham nessas classes é o de serem mães.
O desenvolvimento da sexualidade é de extrema importância para o crescimento do indivíduo. No entanto, sabe-se que mudanças de comportamento em adolescentes relacionadas à sexualidade requerem muita atenção devido às consequências de tal ato, principalmente a vulnerabilidade relacionada à saúde reprodutiva. (HERCOWITZ, 2002). Quando o assunto é gravidez nessa faixa etária, um dos principais motivos pela desinformação de tantos jovens é a ausência da educação sexual; o tema gera opiniões frequentemente negacionistas, sendo exposto de forma pejorativa e com cunho sexual explícito, fato totalmente equivocado. O principal objetivo da educação sexual, principalmente nos âmbitos escolares, é justamente ensinar o adolescente a lidar com a puberdade e aprender sobre sexo de maneira correta e segura, além de falar sobre a importância dos métodos contraceptivos, conhecer melhor sua própria anatomia e o mais importante: compreender e aceitar que a educação sexual não é um grande tabu. (NOGUEIRA; SZWARCWALD; LEAL, 2001).
A adoção, por sua vez, é um marco na vida de inúmeras crianças e adolescentes, que muitas vezes são criados por pessoas estranhas sem o estímulo ideal que o vínculo familiar poderia gerar. Dentre os motivos para que sejam levados a um abrigo, pode-se destacar que as condições financeiras, psicológicas e sociais de seus responsáveis legais são as maiores dificuldades, logo os pais visam um futuro mais seguro e estável para a vida de seus filhos. (ESPINDOLA; VIANA; OLIVEIRA, 2019). É fato que o passado afeta a vida de cada indivíduo para sempre, e dependendo do contexto em que a criança foi colocada no abrigo, a raiva que pode sentir por todos seus familiares possui chances de ser eterna, assim como o pensamento de que foram abandonados pode os afetá-los diariamente. (ESPINDOLA; VIANA; OLIVEIRA, 2019).
A gravidez na adolescência, na maioria das vezes, é indesejada. Isso ocorre por se tratar de uma fase com a formação da própria personalidade, de investir em estudos para ser uma pessoa bem-sucedida profissionalmente no futuro, cursar faculdades e aproveitar as relações sociais. Além disso, criar um filho exige muita responsabilidade e uma condição financeira estável, o que é muito difícil encontrar em adolescentes que estão começando a vida profissional. Logo, é comum passar por momentos complicados de confusão envolvendo aspectos psicológicos. (FRIZZO; KAHL; FERNANDES DE OLIVEIRA, 2005).
Sabe-se que a transição da infância para a fase adulta é um processo lento; no entanto, se uma adolescente engravida, essa fase é transposta aos saltos, quando ainda está se adaptando às transformações que estão ocorrendo, tanto em nível físico quanto psicológico. O aborto, por exemplo, é uma prática comum em todas as classes sociais e idades, porém é fato que os riscos são maiores dependendo das condições financeiras dos indivíduos; isso porque as jovens de família de maior poder aquisitivo utilizam as clínicas especializadas e têm acesso à assistência qualificada; enquanto, na maioria das vezes, as pobres realizam o aborto de forma clandestina, o que leva a graves complicações. Portanto, é válido lembrar que a realização dessa prática é um assunto conhecido por todos e considerado um ato ilegal no Brasil, mas não deixa de ser uma questão de saúde pública que merece ser debatida com cada vez mais frequência. (SOUZA; CORRÊA; SOUZA; BESERRA, 2001). 
A gestação na adolescência tem grandes repercussões e as reações podem ser muito variadas, indo desde alegria e entusiasmo até nervosismo, medo, rejeição e preocupação. Os medos mais comuns estão relacionados ao parto, à saúde da criança, ao risco de aborto, à troca de papéis (antes filha, agora mãe) e à insegurança de não saber cuidar do bebê. Além disso, é válido citar que o enfrentamento dessas situações está diretamente relacionado à falta de apoio do parceiro e da família da jovem, somado ao fato de que ter um bebê é uma decisão bastante difícil e envolve muitas renúncias. (FRIZZO; KAHL; FERNANDES DE OLIVEIRA, 2005). 
 No entanto, não é fácil para as mulheres jovens se adaptarem ao papel de mãe enquanto ainda são filhas adolescentes. Na verdade, as mudanças emocionais e cognitivas que os adolescentes experimentam durante este período de desenvolvimento, tornam ainda mais difícil o cumprimento satisfatório do papel de mãe, já que na maioria dos casos, elas não possuem os recursos psicológicos necessários para compreender e tolerar as necessidades diárias. (SILVA & SALOMÃO, 2003).
Deutsch (1974), acredita que a interrupção prematura da relação de apego entre a filha e a mãe não só produzirá uma solidão desesperadora na adolescente, mas também um forte desejo de união para suprir o medo do abandono, assim, buscará restaurar a relação mãe-filha por meio da sua própria maternidade. Para a autora, a gravidez na adolescência é um "comportamento compulsivo" em que o vínculo de dependência, juntamente com a identificação e o apego, se fortalece. Isso pode acontecer quando a própria mãe do adolescente já foi uma adolescente grávida ou quando a jovem "doa" seu filho à mãe para criá-lo e mantém o papel de irmã, invertendo-os totalmente. 
Portanto, as dificuldades, inseguranças e falta de habilidades associadas ao conhecimento escasso dos adolescentes sobre o desenvolvimento e vida de um bebê, podem representar cenários de risco tanto para a criança, como para a jovem, visto que as respostas das mães precoces às demandas de seus filhos deveriam ser postas além das suas necessidades. Contudo alguns estudos mostram que, se a jovem recebe apoio, seja ele da família ou de pessoas próximas, ela pode superar essas dificuldades e ter uma relação saudável com seu filho. (BIGRAS & PAQUETTE, 2007). 
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Analisar as causas e consequências da gravidez na adolescência, incluindo as relações familiares;
2.2. Objetivo específico
Identificar influências da gestação sobre a vida da adolescente de acordo com as condições financeiras e os aspectossocioculturais, através de análises realizadas a partir do filme “Juno” (2007).
3. MÉTODO
Para a elaboração do presente trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica, a qual, de acordo com Gil (1991), procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos e busca, ainda, conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas sobre um determinado assunto, tema ou problema, produzidas num tempo distante.
Como material de base, também foram utilizadas fontes de pesquisas teóricas e artigos científicos atuais de plataformas digitais de pesquisa acadêmica (Google acadêmico) como Scielo e Pepsic, dentre outros. Ademais, livros e revistas também ajudaram na composição da teoria apresentada, assim como o filme “Juno”, que procurou relacionar e analisar os acontecimentos e trajetórias da personagem principal, à perspectiva da realidade de uma adolescente grávida.
3.1. Procedimento
Para a elaboração deste trabalho, o tema foi escolhido dentre inúmeras opções estabelecidas inicialmente, sendo todas relacionadas à assuntos atuais e de grande relevância social. Uma vez estabelecido, foram realizadas pesquisas sobre as implicações deste, através da leitura de escritos científicos que abordavam o assunto. Ademais, o filme “Juno” foi assistido individualmente e discutido entre as pesquisadoras, sendo utilizado como material de análise para tratar e discorrer as implicações propostas, associando as cenas do longa aos escritos científicos analisados acerca do tema.
Com objetivo de centralizar os principais objetivos, foram ordenados 7 principais categorias, dentre elas a mudança nos relacionamentos sociais, diferenças socioculturais na adoção, os aspectos psicológicos, aborto, processo após a descoberta da gravidez, processo de adoção e a realização de um sonho para os pais adotivos.
3.2. Material
Título:	 Juno (Original)
Ano de produção:	 2007
Direção:	 Jason Reitman
Estreia:	 22 de fevereiro de 2008 (Brasil)
Duração:	 96 minutos
Classificação indicativa: 10 anos
Gênero:	 Comédia, drama, romance
Países de Origem:	 Estados Unidos da América
Sinopse: “O filme mostra situações de uma menina de 16 anos chamada Juno, que engravida de seu companheiro de classe Bleeker, e desiste de fazer um aborto. Com a ajuda do pai, da madrasta e da melhor amiga Leah, a jovem adolescente procura o casal "perfeito" para criar seu filho, e encara situações delicadas e incomuns para sua maturidade.” (Disponível em: <https://omelete.com.br/filmes/juno/>).
4. RESULTADOS
A seguir apresentam-se os resultados do trabalho de análise e interpretação do material escolhido para iluminar as contribuições teóricas elencadas neste projeto, agrupamos em categorias conforme preconizam Minayo (2012), dentre outros autores.
O método de análise por categorias temáticas, apresenta a junção de instrumentos metodológicos e técnicas, em que há a interpretação e conclusão de conhecimentos sobre a produção. Assim, a análise categorial é uma técnica com a finalidade de interpretar os dados coletados pelo pesquisador, portanto é possível compreender melhor a pesquisa (BARDIN, 1977/2010).
Existem dois tipos de análise categorial, a primeira é a quantitativa e é relacionada a frequência das características presentes nos materiais analisados, já a qualitativa é caracterizada pela presença ou ausência da informação nos textos (CAREGNATO; MUTTI, 2006).
	Categoria Teórica
	Cena 
	Tempo 
	Representação no filme
	Mudanças nos relacionamentos sociais
	
1
	
1:02:08
	Juno começa a perceber que a gravidez lhe geraria responsabilidades e perdas em seu convívio social, observa-se na cena em que Paulie não a convida para o baile de formatura.
	Diferenças socioculturais na adoção
	
2
	
1:29:07
	A forma de adoção do bebê de Juno é conhecida como adoção arranjada, quando em cena, logo após o nascimento do bebê, a criança vai para a casa dos pais adotantes. Esse tipo de adoção não é comum no Brasil.
	Aspectos psicológicos
	
3
	
1:27:22
	Há consequências negativas à saúde mental da adolescente Juno, a mesma chora no hospital após o parto e acaba decidindo, junto com o namorado, Paulie, por não ver o bebê.
	Aborto
	
4
	
00:19:18
	Logo após a descoberta de sua gravidez, Juno vai até uma clínica de aborto e ao preencher o formulário, reflete sobre a situação. Depois de ver as mulheres à sua volta na recepção e pensar mais um pouco sobre o assunto, desiste e retorna para casa.
	Processo após a descoberta da gravidez
	
5
	
00:23:37
	Juno precisou contar para o pai da criança sobre a situação e o mesmo disse que apoiaria ela em qualquer decisão. 
	Processo de adoção
	
6
	
00:23:40
	Juno opta por realizar o parto e entregar o bebê para um casal que está esperando uma oportunidade de adoção há muito tempo. É possível observar isso na cena em que a adolescente e seu pai vão conhecer os futuros responsáveis pela criança.
	Realização de um sonho para os pais adotivos
	
7
	
1:28:27
	A mãe adotiva fica extremamente feliz e emocionada ao receber o bebê, e isso ocorre mesmo com ela não estando mais com o marido. Através das cenas, é possível observar quantas mulheres têm o desejo de engravidar e não são capazes.
	
	
	
	
5. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gravidez na adolescência nos convida a compreender e refletir sobre o modo no qual a sociedade a enxerga, e a partir disso, procurar mecanismos capazes de lidar com esse acontecimento. Na pesquisa apresentada, são colocadas em evidência as consequências de uma gestação precoce e o modo como elas tendem a ser negativas do ponto de vista biológico, social e psicológico. Como já foi retratado, a gravidez na adolescência apresenta diversos riscos à saúde da mãe e do bebê, como também uma mudança drástica na rotina e na vida da jovem, o que pode gerar problemas até mesmo no seu desenvolvimento estudantil e lazer. 
Como foi exposto, Juno, uma adolescente de 16 anos, engravida acidentalmente do melhor amigo, Paulie Bleeker. Inicialmente, ela decide fazer um aborto, mas ao chegar à clínica acaba mudando de ideia. Assim, passa a procurar em jornais um casal a quem possa entregar o bebê logo ao nascer, já que não se considera em condições de criá-lo. Juno acaba conhecendo Vanessa e Mark, um casal com boas condições financeiras que está disposto a bancar todas as suas despesas médicas. Contudo, pode-se notar a diferença entre abandonar e doar uma criança. Ao abandonar, comete-se o crime de maus-tratos, onde a criança é deixada de lado, sem cuidados básicos, muitas vezes sozinha. Já na doação, a mãe é privada de permanecer com seu filho, mas visa seu bem-estar e cuidado (MENEZES; DIAS, 2011).
De acordo com o texto, pode-se afirmar que a gravidez na adolescência não é uma experiência estritamente igual entre as jovens, visto que dependendo de seu contexto social, o impacto que a gestação traz pode ser muito diferente. Em níveis mais altos da sociedade, a gravidez tende a não influenciar tão negativamente a rotina e os estudos da jovem, pois sua base familiar usufrui de meios mais qualificados e de maiores oportunidades. Em comparação, as classes sociais menos favorecidas sofrem a procura de recursos e enfrentam dificuldades maiores quando o assunto é qualidade de vida, seja do bebe ou da mãe. Portanto, do ponto de vista da educação escolar e do profissionalismo, as oportunidades dadas às meninas grávidas de classe média não são tão fortemente afetadas quanto às oportunidades dadas às meninas de nível inferior. E no caso de Juno, sua vida era estável financeiramente, regada a um contexto privilegiado, lhe possibilitando um acompanhamento com médicos (pré-natais, ultrassonografias), já tendo um lar com seus pertences, suas roupas e um ambiente seguro para viver (ANJOS; SANTOS; SOUZAS; EUGÊNIO, 2013).
Entretanto, não se deve resumir uma gravidez precoce apenas em aspectos negativos, a jovem pode, muitas das vezes, desejar terum filho e se reconhecer na maternidade. Muitas meninas lidam com o fato de estarem grávidas como um novo sentido para a vida, possibilitando novos planos, aprendizados e metas futuras. Porém, quando se menciona a saúde pública, os aspectos positivos são praticamente nulos, visto que os riscos de cuidados inadequados à criança, empobrecimento na educação escolar e a falta de oportunidade de empregos se tornam cada vez mais difíceis no ponto de vista da jovem de classe baixa. Sabe-se que existem diversos modos de ser adolescente e viver a adolescência, sendo a maternidade uma delas, o que muda é o modo como cada um vê esse fato. Pode-se observar que Juno é uma adolescente proativa e independente, que toma decisões por conta própria. Isso aparece desde o momento em que descreve sua relação sexual com Paulie, o que considera ter sido uma decisão e escolha unicamente sua. 
Também é importante observar o contexto social e econômico retratado no filme, já que a garota e sua família apresentam uma realidade econômica privilegiada e isso influencia no modo como lidaram com a situação da gravidez, pelo fato de terem condições financeiras para sustentar qualquer decisão que fosse tomada. Infelizmente, essa realidade não está presente na maioria das famílias, pois inúmeras adolescentes grávidas não têm condições de criar o seu filho e muitas vezes acabam recorrendo a métodos precários como o aborto clandestino (GAMA; SZWARCWALD; LEAL, 2001).
O aborto é uma prática comum embora ilegal no Brasil, e que, dependendo das condições socioeconômicas da mulher, pode ter seus riscos aumentados ou diminuídos, deixando evidente a discrepância de recursos ligados a saúde nas diferentes classes sociais. As adolescentes de maior poder aquisitivo possuem acesso à assistência qualificada e clínicas especializadas, enquanto, na maioria das vezes, as adolescentes pobres não possuem condições de recorrerem a locais especializados, sendo assim, suas únicas opções são métodos rudimentares ou clínicas clandestinas, o que na maioria dos casos, levam a complicações e até mesmo a morte. Assim, a gravidez e o aborto clandestino nessa fase da vida, se torna uma das principais causas da morte de adolescentes de 15 a 19 anos (SOUZA, 2001), mas que no caso da personagem Juno, poderia acontecer de forma mais segura e responsável, tudo por conta de seu poder aquisitivo. 
Ao longo da gestação, observa-se que Juno mantém sua rotina de adolescente e estudante, vivenciando a gravidez como um estado passageiro e incômodo que, em breve, teria um fim. Essa sua postura repercute também em sua relação com Paulie, já que ela o desresponsabiliza de quaisquer participações na gestação ou de sua paternidade, pois lhe comunica sobre a gravidez já informando sobre o aborto e depois sobre a adoção. Estudos têm evidenciado que a presença do parceiro influencia muito positivamente na evolução da gravidez e diminui eventuais riscos e ocorrências adversas à saúde da criança, visto que a insegurança e o sentimento de solidão podem causar riscos físicos e psicológicos à mulher, principalmente, quando se trata de uma adolescente. (SANTANNA; COATES, 2001; LIMA, 2002).
Ademais, deve-se pôr em pauta o tema da sexualidade e educação sexual, onde as intervenções não devem ser restringidas apenas a métodos contraceptivos e suas informações, mas também a buscar participar ativamente na vida dos adolescentes, de modo que entendam as diversas etapas de um relacionamento do tipo e não tratem o assunto como um “tabu”. Fazendo isso, o uso de contraceptivos, a naturalização do acesso à educação sexual e a vivência saudável com a sua própria sexualidade se tornarão cada vez mais naturais na vida dos jovens.
Logo, com base em fundamentos teóricos e resultados obtidos na presente pesquisa, a conclusão final foi que é necessário ressaltar a importância do tema gravidez na adolescência, de modo que foram apresentados os diversos aspectos a respeito do assunto e um exemplo da realidade vivida por uma jovem como a do filme. A maternidade na adolescência traz consigo inúmeras mudanças no âmbito familiar e social, sendo necessária uma discussão a respeito de métodos contraceptivos, legalização do aborto, preparação por parte da futura mãe e sua transição para uma nova vida, renúncias que deverá fazer e a diferença entre o modo como isso é tratado em países ricos e pobres, assim como em famílias estruturadas ou desestruturadas. O filme “Juno”, portanto, retrata muitos pontos relevantes da gravidez na adolescência, sendo de extrema importância a análise deste para compreender a visão das jovens que acabam optando por terem o bebê.
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