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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO LICENCIATURA EM PEDAGOGIA PRÁTICA DE ENSINO DAS SÉRIES INICIAIS Relatório final de estágio supervisionado das Séries Iniciais apresentado à disciplina Prática de Ensino e Estágio Supervisionado das Séries Iniciais. Professora: Irene Giambiagi THAYSA DE OLIVEIRA CALANDINO FARIA Rio de Janeiro 2017 Sumário o Introdução A Escola - Primeiras Impressões A Turma e a Professora Perfil dos Alunos Literatura na sala de aula Organização da sala de aula As crianças e o Lúdico Regência o Considerações finais Relatório final de estágio supervisionado Escola Municipal Roma: relatos de experiências no campo de estágio Introdução: O presente relatório se trata dos relatos das experiências vivenciadas no campo de estágio, vinculado à disciplina obrigatória Prática de Ensino das Séries Iniciais do curso de Pedagogia da UFRJ. O estágio é um requisito fundamental na formação do pedagogo, pois nessa etapa as concepções teóricas podem ser observadas e experimentadas com o objetivo de se aproximarem ao máximo de práticas consideradas ideais, atribuindo ao licenciando uma postura que só o tempo em sala de aula lhe oferece. Dessa forma, o campo de estágio é um espaço de aprendizagem, desconstrução, construção e consolidação dos referenciais teóricos. No total, os alunos do curso de Pedagogia da UFRJ ficam 90h efetivamente com a turma, exercendo atividades que envolvam o planejamento, a confecção de trabalhos, a observação da prática docente e acompanhando os alunos em diversas situações. O período de observação e participação com as crianças e professoras da escola aconteceu do dia 28 de agosto ao dia 10 de novembro, no ano de 2017. O estágio foi de extrema relevância para minha vida acadêmica e formação profissional, pois foi a oportunidade que tive de relacionar o que é posto na universidade, o que a teoria defende e o que de fato acontece da prática e como se caracteriza o atendimento às crianças numa escola municipal localizada na zona sul do Rio de Janeiro. A ESCOLA Primeiras impressões: Iniciei meu estágio na Escola Municipal Roma no dia 28 de agosto de 2017. Uma Escola Pública de Ensino Fundamental que fica localizada no bairro Copacabana no Rio de Janeiro. A escola está em atividade desde o ano de 1965 e atende às modalidades de ensino fundamental 1 e 2 nos turnos, manhã e tarde. É uma instituição reconhecida e que foi pensada para o bem estar das crianças. É considerada uma escola de fácil acesso, devido a sua localização ser em uma das principais vias do bairro de Copacabana, com um ponto de ônibus na porta que comporta diversas linhas para diversos trajetos. Boa parte dos estudantes da instituição são moradores dos arredores, das comunidades, Babilônia, Chapéu Mangueira, Pavão-Pavãozinho e Rocinha, que cercam a escola ou de crianças que são acompanhadas pelos pais que trabalham nas proximidades. Embora a escola apresente uma estrutura física antiga, não apresenta nenhum risco para os alunos. A escola tem água da rede pública, água filtrada, luz, merenda, energia da rede pública, esgoto da rede pública, lixo destinado a coleta periódica e acesso á internet. As paredes da escola são pintadas e o ambiente possui uma boa ventilação. Atualmente, a escola possui 738 matrículas ativas, as matrículas dos estudantes na instituição, é de responsabilidade da 2º Coordenadoria Regional de Educação (CRE), toda a rede das escolas e creches municipais são organizadas por micro região, e o remanejamento dos estudantes é realizado de acordo com a necessidade de cada micro região. Roma conta com 53 funcionários. Possui onze salas de aula e as demais dependências, como as salas da direção, dos professores, de leitura, secretaria, despensa, almoxarifado, cozinha, além de espaços adequados aos alunos, como o pátio verde e a quadra descoberta. As crianças que circulam nas dependências das escolas nos horários das aulas, se deslocam sozinhas pelos corredores e pátio. O que me preocupou é o fato das escadas não possuírem um piso antiderrapante e a parte superior da escada não possuir uma tela de proteção, o que facilita a ocorrência de algum acidente, pensando em crianças menores. E também, não possuir nenhuma rampa de acesso que atenderia as crianças com necessidades especiais. Assim que chegamos na instituição, podemos observar um espaço onde as pessoas se acomodam logo que chegam, sejam os alunos ou os seus responsáveis, é um espaço bem acolhedor, com vários murais, que instiga o nosso visual, esse é um dos aspectos positivos que me chamou atenção, a valorização do trabalho dos alunos, a exposição da produção dos alunos dentro e fora das salas de aula em forma de murais. Os espaços são bem organizados, as salas de aula comportam bem à quantidade de alunos de cada turma, levando em consideração a quantidade de cadeiras disponíveis em cada turma. O refeitório é organizado, assim como os horários das crianças, a comida é sempre fresquinha, e dão sobremesa também, uma fruta, e todos podem desfrutar, alunos, professores e até os estagiários. A escola sempre está limpa e entre um turno e outro as faxineiras limpam todas as salas para receberem o segundo turno de alunos. Porém, no banheiro dos estudantes nunca tem papel higiênico e sabonete para lavar as mãos. A TURMA E A PROFESSORA A turma em que atuei era a turma 1101, com alunos de 6 ou 7 anos. Ministrada pela professora Themis com ajuda de uma voluntária, a Claúdia. Nessa turma tinham 24 alunos, mesma quantidade de meninos e meninas. Na sala deles, tinham vários murais atrativos, todos coloridos, com os nomes deles, o alfabeto, os desenhos que as crianças fizeram, um ambiente bem aconchegante. Meu primeiro contato com a turma, foi numa tarde muito agitada para eles. Foi dia de blocagem, no dia de blocagem, a professora regente Themis não dá aula, são os professores de Inglês, Artes e Educação Física, então foge da rotina deles de todos os dias e eles falam muito, ficam em pé o tempo inteiro e querem brincar. Observei um menino, Noah, ele ficava o tempo inteiro fora de sala de aula e ficou sem recreio e sem aula de Educação Física, perguntei ao professor da disciplina porque ele estava sentado afastado dos outros sem participar da aula e ele disse que ele tem algum problema, é agitado e mal educado. Me questionei como ele pode rotular uma criança e a punir por isso. A turma é diversificada, tem crianças que vieram de outro país, crianças alfabetizadas e não- alfabetizadas, crianças de escola particular, crianças que faltam muito, são crianças bem comunicativas, que falam muito, ficam em pé, implicam um com o outro, mas que tem um bom desenvolvimento no geral. A professora regente Themis, é esforçada, mas se sente muito sozinha e sem apoio. A turma contém desde crianças alfabetizadas á crianças que não reconhecem as letras e o único material pedagógico que ela utiliza é a apostila do Município, como nos faz pensar Paulo Freire, o mal não está na aula expositiva, e sim na pura transferência de conhecimento, e não é só transferência, é troca. Então observei que é bem difícil o desenvolvimento das crianças. As crianças que são alfabetizadas e terminam os trabalhos rápidos acham a aula chata, como é o caso do Noah, que apesar de viver fora de sala de aula, é bem inteligente e acha a aula entediante. E, as crianças que não são alfabetizadas não conseguem mesmo acompanhar as aulas. É bem difícil ministrar ás aulas com essa diversidade de aprendizagem que eles trazem, uns sabem muitoe outros pouco, cada um com seu próprio ritmo. A didática acontece com mais facilidade nas aulas, quando a Claúdia, uma psicopedagoga voluntária da escola, que ajuda a Themis a ministrar ás aulas, esta presente. Claudia traz músicas para serem trabalhadas em sala de aula, confecciona os murais, faz chamadinha com as crianças e eu acabei me animando nessa. Bom, ao decorrer do estágio comecei a fazer trabalhos didáticos e lúdicos para as crianças e a ler histórias para elas ao final de cada aula, foi muito importante para mim e acredito que para eles também. PERFIL DOS ALUNOS Na turma, obtive um contato maior com três alunos, cada um com sua especificidade e dediquei toda a minha afetividade e atenção, não perdi o contato com a turma mas achei que precisava dar atenção a quem ninguém dava. Na metade do meu estágio, conheci Anthony, um menino colombiano que chegou na escola ao final do ano, de alguma forma, a história dele me tocou, o pai foi morto, e ele veio para o Brasil com a mãe e a avó, ele foi alfabetizado na Língua Espanhola e que não sabia nada da Língua Portuguesa e obteve dificuldades de comunicação, socialização e aprendizagem. Então, comecei a fazer trabalhos lúdicos com ele, e levei alguns gibis e obtivemos resultado quanto ao processo ensino – aprendizagem, e ele agora tem amigos. Figura 1 Fonte A Autora (ANTHONY COM OS AMIGOS) Conheci também Isabeli, uma menina que foi abusada pelo tio e que é completamente retraída, não conseguia identificar nenhuma letra e nem números. Aquela situação de não ter ninguém por ela me incomodou tanto que fiz trabalhos lúdicos para que ela pudesse aprender. Figura 2 Fonte A Autora ( ISABELI PINTANDO) Noah, foi o menino que observei desde o primeiro dia de estágio, esperto mas muito agitado, mordia a professora, jogava as coisas no chão, e acredito que isso tenha alguma ligação, como ele sabia as coisas achava as aulas monótonas e fazia bagunça para sair de sala de aula e ele sempre conseguia. Eu propus a ele alguns acordos, que ele fizesse os trabalhos que brincaríamos ao final das aulas e que também ele poderia ler gibis e fazer cruzadinhas, caça- palavras que era o que ele gostava. Apesar de estar funcionando, a professora e não só ela, comemoravam o dia que ele faltava á escola. De certo modo, a escola estava pressionando para que a mãe dele, o tirasse da escola e Noah já tinha saído ( “sendo expulso”) de duas escolas anteriores. Fiquei me perguntando qual é o papel da escola, é mais fácil tirar um aluno da escola do que lutar pela Educação dele e de certa maneira, isso me causou uma indignação. Figura 3 Fonte A Autora ( NOAH REALIZANDO ATIVIDADES NO LIVRINHO "PICOLÉ") LITERATURA NA SALA DE AULA “A linguagem constitui a expressão maior da cultura humana.” (GOUVEA, 2007, p. 116). A literatura infantil oferece uma grande variedade de gêneros que podem ser explorados em atividades de leitura na escola. A literatura e as narrativas não têm muito espaço nas práticas em que observei apesar de ter rodinha de leitura. A professora lia bastante histórias para eles mas na maioria das vezes, eles diziam que ela já havia contado aquela história. Quando a professora lia, ela lia e depois não passava nenhuma atividade, não perguntava o que eles haviam entendido, o interessante está em não apenas lê a história para a criança, mas também que lhe vá fazendo perguntas e comentários no decorrer da leitura. Porque dessa maneira, instiga a curiosidade, o pensamento crítico, a busca pelo entendimento. Deixar a criança também lhe dirigir algumas perguntas em busca de entender melhor a narrativa, podendo, muitas vezes, propor novos rumos para a mesma história. Como continuação, um novo final, estimulando a criatividade delas. A professora fala bastante que os alunos precisam aprender a escutar o outro e saber a hora de perguntar, acredito que a leitura seria um ótimo momento para ela fazer com que eles se apropriem desse novo conhecimento e comportamento. Na roda de leitura é importante que a professora também trabalhe o livro, fale sobre o tema que será abordado na história, para o gênero textual que será lido ou para aspectos contextuais da obra e seu autor, do título, o nome do autor, a imagem na capa do livro. E também, a oralidade, pedindo para que cada um leia uma parte ou quem não sabe ler, que descreva a imagem que está observando. Figura 4 Fonte A Autora ( PROFESSORA THEMIS NA RODINHA COM AS CRIANÇAS). ORGANIZAÇÃO DA SALA DE AULA Organizar o trabalho pedagógico na alfabetização também requer pensar a organização do espaço da sala de aula de modo que a interação entre as crianças e a professora possa ser facilitada. As carteiras da sala eram organizadas pela professora em um círculo gigante na sala e a professora sempre ficava no meio e a informação chegava a todos, não existia lugar fixo, viabilizando, assim, constante alteração da dinâmica de interação entre as crianças. Porém, após uma conversa na direção a professora mudou o remanejamento das carteiras, ficaram organizadas de duas em duas, com lugar fixo, para que o aluno com facilidade na aprendizagem ajudasse o aluno com dificuldade na aprendizagem. Não achei que funcionou muito bem, pois agora o acesso ao outro é limitado e as crianças não ajudam e sim copiam a tarefa que a outra já fez. Ao final do estágio, as carteiras voltaram a ficar posicionadas em roda, pois a professora da manhã coloca assim e a professora Themis não muda para não dar trabalho ao pessoal da limpeza. Figura 5 Fonte: A Autora A professora também escolhia diariamente os alunos ajudantes. Esse aluno tinha como atribuição auxiliar a professora na distribuição dos materiais didáticos utilizados no decorrer das aulas como as apostilas do Município. Durante as observações realizadas, foi possível perceber grande interesse das crianças em desempenhar o papel de ajudante, porque dessa maneira elas se sentem importantes e naquele dia, elas fizeram algo produtivo. É necessário que as crianças, tenha contato uma diversidade de materiais portadores da linguagem escrita e de outras formas de linguagem e, ainda, uma diversidade de maneiras de usar esses materiais nas salas de aulas. A sala apresenta fichas com letras do alfabeto, fixadas na parede ao lado da porta de entrada. Abaixo, um quadro um cantinho com fichas dos nomes dos alunos separados por meninos e meninas. Os livros ficam guardado dentro do armário no fundo da sala onde ficam guardados também os materiais de uso contínuo, como cola, tesoura, grampeador e folhas em branco. Figura 6 Fonte: A autora Figura 7 Fonte: A Autora Figura 8 Fonte: A autora AS CRIANÇAS E O LÚDICO “Longe de ser apenas uma atividade natural da criança, a brincadeira é uma aprendizagem social. As brincadeiras dos adultos com crianças bem pequenas são essenciais nessa aprendizagem.” (PORTO, 2009, p. 34.) As brincadeiras das crianças acontecem tanto dentro quanto fora da sala de aula, ou deveria. A brincadeira tem pouco espaço na sala de aula, conforme observei nos meus dias de estágio, o momento com maior espaço de tempo para brincar acontece normalmente na hora do recreio, onde o brincar acontece no tempo de espera, no tempo que sobra para liberação de energias, em que as crianças correm de um lado para o outro, ou, então, na hora da Educação Física. A brincadeira é uma forma privilegiada de aprendizagem. Na medida em que vão crescendo, as crianças trazem para suasbrincadeiras o que veem, escutam, observam, experimentam, elas revelam suas visões de mundo, suas descobertas e quando elas brincam se defrontam o tempo todo com os vestígios que as gerações mais velhas deixaram, quando se trabalha com o lúdico, as crianças aprendem com mais facilidade e com prazer. Além disso, a brincadeira permitir decidir, sentir emoções diferentes, pensar, competir, trabalhar coletivamente, construir, descobrir, e aceitar limites. Figura 9 Fonte: A Autora Figura 10 Fonte: A Autora REGÊNCIA Minha regência aconteceu no dia 10 de novembro de 2017, no meu último dia de estágio. Fiquei um pouco chateada que somente 10 crianças compareceram, porém fiquei feliz demais com o resultado. As crianças se empolgaram na hora da história, interagiram muito bem comigo, até me surpreenderam. Foi uma aula que nunca vou esquecer na vida, foi o meu primeiro contato com crianças de Séries Iniciais e eu amei cada detalhe. Á princípio, apresentei- lhes e expliquei a eles as formas geométricas planas, Depois li um livro sobre animais formados, com formas geométricas planas, chamei alguns para interação no cartaz e eles se ofereceram espontaneamente. Pedi, como atividade que cada um construísse um animal com as formas que levei recortadas num saquinho, logo em seguida que escrevessem uma frase e compartilhassem com a turma. Só tenho aspectos positivos, eles são maravilhosos. Todos fizeram, colaboraram, gostaram e apresentaram. E quando eu ouvi o Noah dizer “ Tia Thaysa, vai dar mais aulas pra gente?” Me senti completamente satisfeita e realizada, pois naquele momento percebi que tinha atingido meu objetivo. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estágio supervisionado na modalidade de Séries Iniciais foi uma experiência bem nova e enriquecedora para mim. Sinto-me privilegiada pelos momentos em que passei na Escola Municipal Roma e com as pessoas e crianças que convivi. As crianças ficavam felizes com a minha chegada e comemoravam com abraços e beijos. Acredito que algumas aulas, algumas leituras bibliográficas e a prática favoreceram de maneira positiva para minha formação. O campo de referenciais teóricos em Séries Iniciais e práticas no geral é extenso e a disciplina permitiu conhecer ainda mais sobre esta etapa de ensino. Essa relação foi importante porque culturalmente a instituição pública é vista como um depósito de crianças, e na realidade a escola é e deve ser um espaço de socialização, integração e de desenvolvimento do ser humano em todas as dimensões afetivas, cognitivas, intelectuais, culturais, históricas e sociais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Nilda & GARCIA, Regina Leite (orgs.). O sentido da escola. Petrópolis: DP et alii,2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1992. GOUVÊA, M. C. S. A criança e a linguagem: entre palavras e coisas. In: PAIVA, MARTINS, PAULINO, CORRÊA, VERSIANI (orgs). Literatura: saberes em movimento. Belo Horizonte: CEALE, autêntica, 2007. PAIVA, Aparecida & SOARES, Magda (orgs.). Literatura Infantil : políticas e concepções. Belo Horizonte : Autêntica, 2008. PORTO, Cristina Laclette. BRASIL. Brincadeira ou atividade lúdica? Ministério da Educação. Salto Para o Futuro. Jogos e brincadeiras: desafios e descobertas,2. Ano XVIII. Boletim 07, maio de 2008.
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