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PREVENÇÃO E ABORDAGEM NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DO TABAGISMO: Disciplina: programa de atenção primária à saúde. AÇÕES CONTRA O TABAGISMO: Medidas vêm sendo adotadas desde a década de 1980, frutos de leis aprovadas no Congresso Nacional e de decretos presidenciais. ESTRATÉGIA M POWER: meio por qual a OMS e a convenção-quadro orientam as ações contra o tabagismo: · Monitorar o uso de tabaco e políticas de prevenção · Aumentar os impostos sobre o tabaco · Fazer cumprir as proibições sobre publicidade, promoção e patrocínio · Advertir sobre os perigos do tabaco · Oferecer ajuda para cessação do fumo · Proteger a população contra a fumaça do tabaco. PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DE TABACO (implantada desde 1989 pelo MS e INCA e têm estratégias reforçadas na Política Nacional de promoção da saúde de 2006): Orienta as atuais atividades antitabaco no Brasil. Principais ações: intervenções para a prevenção da iniciação e a promoção da cessação de fumar, além da redução da poluição ambiental causada pela fumaça de produtos do tabaco. Ações regulatórias: · Proibição da propaganda de cigarros; · Exigência de advertências em maços de cigarro; · Aumento das alíquotas dos impostos para 85% · Proibição de fumódromos · Proibição pela ANVISA de aditivos de sabor do cigarro para inibir a iniciação do hábito. Ações preventivas para as DCNT na APS Atendimento clínico e as demais atividades da APS, incluindo as ações dos ACS fazem parte do Plano de Enfrentamento das DCNT. O sucesso na prevenção depende mais de ações de promoção à saúde e de prevenção primária, por meio de ações educativas e de estímulo à autonomia e empoderamento ao invés de rastreamento de doenças... ABORDAGEM PARA MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA: O controle dos agravos crônicos requer coordenação e integração do cuidado e corresponsabilização do indivíduo. Importante associar: Estratégias de educação em saúde + vontade individual + estratégias motivacionais + apoio profissional. MOTIVAÇÃO: aspecto-chave para compreender a forma que uma pessoa age e assim ajudá-la a modificar seu comportamento. A motivação pode mudar ao longo do tempo. Os fatores ambientais podem ter impacto positivo ou negativo sobre a motivação, exemplos: · Fator extrínseco negativo: alto custo de dietas mais saudáveis · Fator extrínseco positivo: suporte de um familiar/amigos para mudar um comportamento alimentar não saudável Para abordagem para mudança no estilo de vida pode-se usar ferramentas como: o modelo transteórico (MTT), entrevista motivacional. MODELO TRANSTEÓRICO- MTT: Desenvolvido na década de 80, inicialmente aplicável para comportamentos como o de fumar, mas pode ser expandida para alimentação saudável e atividade física: É constituído por 4 construtos: 1. Estágios de mudança do comportamento 2. Processos de mudança 3. Equilíbrio de decisões 4. Autoeficácia ESTÁGIOS DE MUDANÇA DE COMPORTAMENTO: Pré-contemplação (“I won’t”): Não considera a possibilidade de mudar, nem se preocupa com a questão. Contemplação (“I might”): Admite o problema, é ambivalente e considera adotar mudanças eventualmente (a mudança poderá ocorrer nos próximos seis meses). Preparação (“I will”): Inicia algumas mudanças, planeja, cria condições para mudar, revisa tentativas passadas (a mudança poderá ocorrer nos próximos 30 dias). Ação (“I am doing”): Implementa mudanças ambientais e comportamentais, investe tempo e energia na execução da mudança (a mudança vem ocorrendo há menos de seis meses). Manutenção (“I have been doing”): Dá continuidade ao processo de trabalho iniciado com a ação, para manter os ganhos e prevenir a recaída (a mudança vem ocorrendo há mais de seis meses). · O indivíduo pode estar em estágios mais avançados de comportamento (ação e manutenção) e mesmo assim sofrer recaídas retornando à estágios anteriores. · Recaída: falha em se manter em um estágio com a consequente retornada do hábito ou comportamento. · O indivíduo não caminha de forma linear entre os estágios · A pessoa pode progredir ou regredir; · É essencial reconhecer o estágio de mudança comportamental em que o indivíduo se encontra para identificar sua evolução no processo e tomar decisões sobre a metodologia a ser utilizada – abordagem personalizada, realista e fundamentada. · O MTT possibilita avaliar o momento em que ocorre a mudança de comportamento e como ela ocorre. Manual do INCA: · Considerar sucesso conseguir que um fumante em pre-contemplação mude para a contemplação ou preparação – deixar de fumar éum processo que demanda tempo · Enxergar ao tabagismo como uma doença crônica que pode envolver fases de remissão e de recidiva. · Fumantes que cessou o fumo mas que recaíram em uma abordagem anterior: procurar identificar os fatores que levaram a recair para que estejam mais bem preparados para a próxima tentativa. ABORDAGEM MOTIVAIONAL: · OBJETIVO: PROMOVER A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO · Inicialmente aplicada para consumo de álcool, tabaco e outras drogas. · Destinada a indivíduos que não reconhecem que precisam mudar, ou que recusam tratamento ou que se sentem uma dualidade muito grande · Costuma ser empregada em quatro a cinco consultas. · Envolve um espírito de colaboração, participação e autonomia tanto do indivíduo quanto do profissional. · A técnica de abordagem é centrada nas necessidades do indivíduo e suas experiências, evitando o confronto direto com ele. · Estimula a autoeficácia: indivíduo consegue realizar as mudanças propostas – forte impulso para mudar hábito e estilo de vida. · Princípios básicos: · Expressar empatia (sem julgamentos) · Desenvolver discrepância: fazer um contraponto entre o atual comportamento do indivíduo e seus objetivos mais amplos; · Evitar discussões, evitando o estabelecimento de resistências; · Dissipar a resistência ao invés de enfrenta-la: escuta crítica – constatar o que o paciente diz e acrescentar a isso o outro lado da ambivalência. · Estimular, apoiar e reforçar o sentimento de autoeficácia . (Reforçam a crença da pessoa na sua capacidade de conseguir alcançar seu objetivo. CONSIDERAÇÕES SOBRE O TABAGISMO: FATORES ASSOCIADOS AO TABAGISMO: 1. Homens Negros e pobres Pessoas com menor escolaridade Populações mais desfavorecidas das cidades. FATOR DE RISCO PARA VÁRIAS DCNT: doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias crônicas e diabetes. Mata de um terço à metade de seus usuários, em média 15 anos prematuramente. Outras doenças: · Periodontite e perda dentária · Comprometimento do paladar, do olfato e da visão · Osteoporose · Problemas digestivos · Impotência sexual · Infertilidade · Agravamento de diversas doenças comuns que adquirem maior significado com o avançar da idade O risco para os fumantes é dose-dependente: aumenta com a duração, quantidade e o tempo de exposição. GRUPOS DE ALTO RISCO: Grávidas expostas ao fumo: número de complicações na gestação. O feto pode ser considerado fumante passivo estando sujeito à mortalidade perinatal, atraso no desenvolvimento físico e mental, malformações congênitas. Depois de nascido verifica-se maior número de infecções respiratórias, baixo peso ao nascer, síndrome da morte súbita do recém-nascido. Mulheres que tomam anticoncepcional oral combinado e fumam: risco até 10 vezes maior de IAM, tromboembolismo e AVC. Crianças e adolescentes fumantes: especialmente vulneráveis devido aos efeitos deletérios sobre o organismo em desenvolvimento e à potencialidade de uma dependência de longa duração. Pessoas que já têm doenças relacionáveis com o tabagismo, como doenças respiratórias crônicas e doenças cardiovasculares Indivíduos com fatores de risco para doenças cardiovasculares, como hipertensão, dislipidemia, diabetes, obesidade, hiperuricemia, história familiar de morte súbita e sedentarismo. A ação carcinogênica do tabaco é aumentada pela exposição a outras substâncias cocarcinogênicas – álcool, fumo = risco de câncer de boca, laringee esôfago. TABAGISMO PASSIVO: · Efeitos a curto prazo: irritação dos olhos, nasal, tosse, cefaleia, e aumento dos problemas alérgico e cardíacos. · Efeitos a longo prazo: da capacidade respiratória, aumento em 30% do câncer de pulmão, 24% para o IAM e até 50% par infecções respiratórias em crianças em relação aos não fumantes e não expostos. DEPENDÊNCIA DE NICOTINA E SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA: · Nicotina é a droga do cigarro que causa mais adicção. · Características farmacológicas e comportamentais relacionadas com essa dependência são semelhantes àquelas que determinam o consumo de heroína e cocaína TESTE DE FAGERSTROM: · Avalia o grau de dependência à nicotina. O que pode ajudar a prever o desconforto mais intenso ao deixar de fumar (abstinência). Ajuda na decisão profissional de incluir ou não apoio medicamentoso no tratamento a ser oferecido. INTERPRETAÇÃO - GRAU DE DEPENDÊNCIA: · · 0 a 2 pontos= muito baixo · 3 a 4 pontos = baixo · 5 pontos = médio · 6 a 7 pontos = elevado · 8 a 10 pontos = muito elevado. PERGUNTAS RESPOSTAS PONTUAÇÃO 1- Em quanto tempo depois de acordar você fuma o seu primeiro cigarro? Dentre de 5 minutos 3 2- 6 a 30 minutos 2 3- 31 a 60 minutos 1 4- Mais de 60 min 0 5- Você acha difícil não fumar em lugares onde é proibido? (ex: igrejas, cinema, biblioteca...) Sim 1 6- Não 0 7- Que cigarro você mais sofre em deixar O primeiro da manhã 1 8- Qualquer um 0 9- Quantos cigarros você fuma por dia? 31 ou mais 3 10- 21-30 2 11- 11-20 1 12- 10 ou menos 0 13- Você fuma mais durantes as primeiras horas após acordar do que durante o resto do dia? Sim 1 14- Não 0 15- Você fuma mesmo estando tão doente que precise ficar de cama quase todo um dia? Sim 1 16- Não 0 As abordagens terapêuticas precisam levar em conta as três esferas da dependência: 1) Dependência física ou farmacológica: A geradora de tal dependência é a nicotina. A intervenção farmacológica pode ser indicada para o alívio dos sintomas de abstinência gerados a partir da supressão da nicotina. 2) Dependência psicológica: Refere-se ao valor afetivo atribuído ao cigarro e ao ato de fumar. Também são crenças e pensamentos automáticos associados. A intervenção adequada é a abordagem cognitivo comportamental, trabalhando-se crenças permissivas e de controle. 3) Dependência comportamental: É a associação de situações habituais com o comportamento de fumar. Intervenção: identificação de gatilhos – situações disparadoras de fissura ou desenvolvimento de estratégias de enfrentamento para tais momentos. É importante que o fumante compreenda esses componentes da dependência a fim de que possa planejar suas estratégias para a cessação de forma mais efetiva. ABORDAGEM CLÍNICA – Deve incluir: · Orientações direcionadas à prevenção primária, - orientações e acompanhamento para a cessação daqueles que são fumantes. · A APS proporciona cenário e oportunidade privilegiados para a abordagem do problema. · As equipes da ESF atuam junto às populações mais vulneráveis ao tabagismo, têm vínculo com essas comunidades e podem e devem intervir e proporcionar aconselhamento e tratamento aos dependentes de tabaco. · Tratamento na APS: alto potencial de redução de morbidade+ baixo custo · Questionar e abordar o tabagismo deve fazer parte da rotina dos profissionais de saúde. · Requer avaliação contínua, repetidas intervenções e frequentemente múltiplas tentativas de parar de fumar. Aspectos importantes a serem abordados para estabelecer plano terapêutico: · · história do tabagismo, · tentativas anteriores (fatores de sucesso na cessação ou situações que levam à recaída), · apoio social, · dependência, · grau de motivação e prontidão, · Doenças médicas e doenças psiquiátricas. · RECOMENDAÇÕES PARA ABORDAGEM CLÍNICA DO TABAGISTA · Todos os pacientes devem ser indagados sobre se fumam, e as respostas devem ser documentadas regularmente. · Cada paciente que fuma deveria ser alertado fortemente para deixar de fumar. · A dependência do tabaco é uma doença crônica e requer repetidas intervenções e múltiplas tentativas para parar. · Uma vez que o usuário de tabaco seja identificado e alertado para deixar de fumar, é preciso avaliar a vontade do paciente de atingir esse objetivo no momento atual. Caso o fumante não esteja desejando parar, deve-se realizar abordagem motivacional. · Intervenções breves, com duração inferior a três minutos, aumentam as taxas gerais de abstinência do fumo. · Há uma forte relação dose-resposta entre a duração do contato interpessoal e o sucesso do tratamento, justificando a preferência pelo uso de intervenções intensivas. · O tratamento com base no contato interpessoal, em quatro encontros ou mais, parece especialmente efetivo para aumentar a taxa de abstinência. · Aconselhamentos telefônicos pró-ativos, bem como aconselhamentos em grupo e individuais, são efetivos. · Intervenções que utilizam múltiplos recursos promocionais aumentam a taxa de abstinência e deveriam ser encorajadas. · Dois tipos de aconselhamento e terapia comportamental têm obtido melhores taxas de abstinência: 1) oferecer aos fumantes treinamento em capacidade de resolução de problemas; 2) auxiliar o fumante a obter suporte social fora do tratamento. · Todos os pacientes que querem deixar de fumar devem ser encorajados a parar usando a combinação de aconselhamento e acompanhamento junto às medicações, exceto na presença de circunstâncias especiais (contraindicação às medicações, gravidez, adolescência ou fumantes de menos de 10 cigarros por dia). · O uso combinado de mais de uma forma de nicotina, em pacientes que não conseguem parar de fumar utilizando apenas uma forma, pode aumentar a taxa de sucesso. · Fumantes grávidas sempre que possível devem receber intervenções psicossociais mais prolongadas ou aumentadas, excedendo o aconselhamento breve para parar de fumar · Usuários de charutos, cachimbos e formas não combustíveis de tabaco devem receber o mesmo incentivo para parar de fumar. · Todo profissional de saúde deveria receber treinamento de estratégias para auxiliar o fumante que quer parar de fumar e para motivar aqueles que ainda não querem. Ofertar programas de cessação · Tratamento para deixar de fumar são mais efetivos que tratamento da hipertensão e outras intervenções preventivas, como mamografia, preventivo, tratamento de dislipidemia... TRATAMENTO · Quando julgar necessário oferecer farmacoterapia. · Estratégias, guias e recomendadas: Terapia cognitivocomportamental, Intervenção em grupo, Farmacoterapia · Tanto o aconselhamento quanto a medicação são efetivos quando usados isoladamente, mas a combinação de ambos é ainda mais efetiva. · Recomenda-se considerar prescrição medicamentosa para fumantes: · pesados, ou seja, que fumam 20 ou mais cigarros por dia; · que fumam o primeiro cigarro até 30 minutos após acordar e fumam no mínimo 10 cigarros por dia; · com maior dependência pelo escore do teste de Fagerström igual ou maior do que 5, ou pela avaliação individual, a critério do profissional; ou que já tentaram parar de fumar antes apenas com a abordagem cognitivocomportamental, mas não obtiveram êxito; · E que não tenham contraindicações clínicas para o medicamento MEDICAMENTO DE PRIMEIRA LINHA: TERAPIA DE REPOSIÇÃO DE NICOTINA, BUPROPRIONA E VARENICLINA. PROGRAMA DE ABORDAGEM E TRATAMENTO DO TABAGISMO: · Atividades podem e devem envolver todos os funcionários e voluntários. · Modelo de tratamento no SUS, elaborado pelo INCA/MS, sugere abordagens de acordo com cada grau de motivação. · As instituições de saúde cadastradas no programa seguem a proposta de avaliação do fumante, terapia cognitivocomportamental e apoio medicamentoso gratuito quando necessário.