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1 ially mariana SOI V 2020.2 OBJ 1 – MORFOFISIOLOGIA DAS MENINGES Meninges são as três camadas de membranas que circundam o cérebro e a medula espinhal. A sua função é proteger o sistema nervoso central, sustentar os vasos sanguíneos e formar uma cavidade preenchida por LCR. De superficial para profundo, elas são: Dura-máter Aracnóide Pia-máter DURA-MÁTER é a meninge mais externa e localiza-se diretamente abaixo do crânio. Ela é formada por duas membranas; uma periosteal externa, que é bastante aderente ao crânio, e uma meníngea interna. A dura-máter, meninge mais externa, é composta por tecido conjuntivo denso, é formada por duas partes, um folheto que fica em contato com a calota craniana e um folheto que fica em contato com a aracnoide, o qual possui algumas clivagens, que formam as estruturas como foice do cérebro, tenda do cerebelo e seio cavernoso, ou seja, nessas regiões os dois folhetos da dura-máter se separam para formar essas invaginações. Além disso, a dura-máter tem uma parte craniana, que é contínua com o periósteo cranianos, e uma parte espinal, sendo que a parte em contato com a aracnoide é separada do periósteo das vértebras, formando entre os dois (dura-máter e canal vertebral) o espaço peridural, no qual há veias delgadas, tecido conjuntivo frouxo e tecido conjuntivo adiposo. Entre a dura-máter e a aracnoide há o espaço subdural, porém este espaço é virtual, não existindo em condições normais, apenas quando há o hematoma subdural, por exemplo. Além disso, a superfície interna da dura- -máter (externa do canal vertebral) é formada por epitélio simples pavimentoso de origem mesenquimatosa. SE LIGA! Hematoma subdural consiste na acumulação de sangue no espaço subdural, o que após trauma cranioencefálico. É uma complicação grave, que cursa com cefaleia, confusão mental, síncope/pré-síncope, náuseas e vômitos. A dura-máter, ao contrário das outras meninges, é ricamente inervada. Como o encéfalo não possui terminações nervosas sensitivas, toda ou qualquer sensibilidade intracraniana se localiza na dura-máter, que é responsável pela maioria das dores de cabeça. Pregas da Dura-máter: em algumas áreas o folheto interno da dura-máter destaca-se do externo para formar pregas que dividem a cavidade craniana em compartimentos que se comunicam amplamente. As principais pregas são: Foice do Cérebro: é um septo vertical mediano em forma de foice que ocupa a fissura longitudinal do cérebro, separando os dois hemisférios. Tenda do Cerebelo: projeta-se para diante como um septo transversal entre os lobos occipitais e o cerebelo. A tenda do cerebelo separa a fossa posterior da fossa média do crânio, dividindo a cavidade craniana em um compartimento superior, ou supratentorial, e outro inferior, ou infratentorial. A borda anterior livre da tenda do cerebelo, denominada incisura da tenda, ajusta-se ao mesencéfalo. https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cerebro https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-da-medula-espinhal 2 ially mariana SOI V 2020.2 Foice do Cerebelo: pequeno septo vertical mediano, situado abaixo da tenda do cerebelo entre os dois hemisférios cerebelares. Diafragma da Sela: pequena lâmina horizontal que fecha superiormente a sela túrcica, deixando apenas um orifício de passagem para a haste hipofisára. Cavidades da dura-máter: em determinada área, os dois folhetos da dura-máter do encéfalo separam-se delimitando cavidades. Uma delas é o cavo trigeminal, que contém o gânglio trigeminal. Outras cavidades são revestidas de endotélio e contém sangue, constituído os seios da dura-máter, que se dispõem principalmente ao longo da inserção das pregas da dura-máter. Os seios da dura-máter foram estudados no sistema cardiovascular junto com o sistema venoso. ARACNÓIDE é a meninge do meio. Ela se encontra logo abaixo da dura- máter, mas sem estar aderida a ela. Em alguns pontos, a aracnóide possui protrusões para dentro da dura-máter, chamadas de granulações aracnóideas. Estas estruturas permitem o efluxo do LCR. A aracnoide também é dividida em duas partes, uma parte que fica em contato com a dura-máter, em forma de membrana, e uma parte formada por trabéculas que a ligam à pia-máter. Basicamente esta meninge é formada por tecido conjuntivo sem vasos sanguíneos revestido por epitélio simples pavimentoso. Entre a aracnoide e a pia-máter há as trabéculas aracnoides e essa região é chamada de espaço subaracnoide, o qual é preenchido por um líquido chamado de líquido cefalorraquidiado (LCR) ou líquor. Essa porção tem contato íntimo com os ventrículos cerebrais, que são as cavidades por onde o líquor circular. Este líquor é importante porque funciona como um colchão hidráulico, protegendo o SNC de traumas e confere a característica de flutuabilidade do sistema nervoso. A aracnoide possui ainda expansões que perfuram a dura- máter, como nas saliências em seios venosos e nas vilosidades ou granulações da aracnoide, que são dilatações fechadas, cuja função é transferir líquor para o sangue no processo de reabsorção deste líquido que está sendo produzido constantemente pelo plexo coroide. O líquor atravessa a parede da vilosidade e seio venoso, entrando para a circulação sanguínea. Cisternas Subaracnoideas: a aracnoide justapõe-se à dura- máter e ambas acompanham apenas grosseiramente o encéfalo e a sua superfície. A pia-máter adere intimamente a esta superfície que acompanha os giros, os sulcos e depressões. Deste modo, a distância entre as duas membranas, ou seja, a profundidade do espaço subaracnoideo é muito variável, sendo muito pequena nos giros e grande nas áreas onde parte do encéfalo se afasta da parede craniana. Forma-se assim nestas áreas, dilatações do espaço subaracnoideo, as cisternas subaracnoideas, que contém uma grande quantidade de liquor. As cisternas mais importantes são as seguintes: Cisterna Magna: ocupa o espaço entre a face inferior do cerebelo e a face dorsal do bulbo e do tecto do III ventrículo. Continua caudalmente com o espaço subaracnoideo da medula e liga-se ao IV ventrículo através da abertura mediana. A cisterna magna é a maior e mais importante, sendo às vezes utilizada para obtenção de liquor através de punções. Cisterna Pontina: situada ventralmente a ponte. Cisterna Interpeduncular: localizada na fossa interpeduncular. Cisterna Quiasmática: situada diante o quiasma óptico. Cisterna Superior: situada dorsalmente ao tecto mesencefálico, entre o cerebelo e o esplênio do corpo caloso. A cisterna superior corresponde, pelo menos em parte, à cisterna ambiens, termo usado pelos clínicos. Cisterna da Fossa Lateral do Cérebro: corresponde à depressão formada pelo sulco lateral de cada hemisfério. 3 ially mariana SOI V 2020.2 Granulações Aracnoides: em alguns pontos da aracnoide, formam-se pequenos tufos que penetram no interior dos seios da dura-máter, constituindo as granulações aracnoideas, mais abundantes no seio sagital superior. As granulações aracnoideas levam pequenos prolongamentos do espaço subaracnoideo, verdadeiros divertículos deste espaço, nos quais o liquor está separado do sangue apenas pelo endotélio do seio e uma delgada camada de aracnoide. São estruturas admiravelmente adaptadas à absorção do liquor, que neste ponto, vai para o sangue. 4 ially mariana SOI V 2020.2 PIA-MÁTER é a camada mais profunda e se adere aos tecidos do cérebro, entrando em seus sulcos e fissuras. Juntas, a aracnóide e a pia- máter são conhecidas como “leptomeninges”. A membrana interna da dura-máter, a aracnóide e a pia-máter atravessam o forame magno para circundar a medula espinhal, formando as meninges espinhais. A pia-máter é a aderida ao sistema nervoso (encéfalo e medula), e sua principal característica é o fato de ser extremamente vascularizada. Porém, esta meninge não entra em contato com células ou fibras nervosas, havendo entreessas estruturas prolongamentos de astrócitos, que separam a pia-máter dos elementos nervosos. Lembrando que os astrócitos são células da neuroglia, que são responsáveis pelo suporte e nutrição dos neurônios. A superfície externa da pia-máter é formada por células achatadas do mesênquima embrionário, a superfície interna possui os vasos sanguíneos, que penetram o tecido nervoso por túneis revestidos por pia-máter (espaços perivasculares), ou seja, a pia-máter envolve o vaso até o momento em que ele se torna capilar (espaços perivasculares somem), protegendo o tecido nervoso do contato com o vaso sanguíneo, e isso auxilia na formação da barreira hematoencefálica. Os capilares também são envolvidos pelos astrócitos. O plexo coroide é formado por dobras da pia-máter, ricas em capilares fenestrados e dilatados, que provocam uma saliência para o interior dos ventrículos, localizados assim no teto do III e IV ventrículos e em parte dos ventrículos laterais. É nessa região que o líquor é produzido e secretado, que além de proteger contra traumas no SNC, é importante para o metabolismo do SNC. O plexo coroide então, é formado por tecido conjuntivo frouxo da pia-máter, células transportadoras de íons, para permitir a produção do LCR, e revestimento de epitélio simples cúbico ou colunar baixo. Existem três espaços entre as meninges. O espaço epidural (extradural), um espaço virtual entre as duas membranas da dura-máter, o espaço subdural, um espaço virtual entre a dura- máter e a aracnóide e o espaço subaracnóide, um espaço real entre a aracnóide e a pia-máter.O espaço subaracnóide contém vasos cerebrais e líquido cefalorraquidiano (LCR). As duas membranas da dura-máter são separadas em quatro pontos por septos, formando os seios venosos durais. Os quatro septos fibrosos são: Foice do cérebro: separa os hemisférios cerebrais esquerdo e direito e contém os seios sagitais superior e inferior Tenda do cerebelo: separa o cérebro do cerebelo e contém os seios transverso, reto e petroso superior Foice do cerebelo: separa os dois hemisférios cerebelares e contém o seio occipital Diafragma da sela: forma um teto sobre a fossa hipofisária, onde a glândula pituitária se localiza, e contém os seios intracavernosos anterior e posterior. SE LIGA! A barreira hematoencefálica é uma barreira funcional, ou seja, não é uma barreira anatômica, que confere menor permeabilidade dos capilares sanguíneos no tecido nervoso, dificultando a passagem de substâncias do sangue para o tecido nervoso, protegendo o sistema nervoso de alguns antibióticos, toxinas e agentes químicos, por exemplo, pois ou neurônios são muito sensíveis. Os principais componentes dessa barreira são o capilar, pois o endotélio do capilar nervoso é totalmente ocluído (junções oclusivas), além dos prolongamentos dos astrócitos. https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cerebelo-e-tronco-cerebral 5 ially mariana SOI V 2020.2 OBJ – PRINCIPAIS PROCESSOS INFECCIOSOS DO SNC E OS SEUS MECANISMOS DE INFECÇÃO Artigo 6 ially mariana SOI V 2020.2 7 ially mariana SOI V 2020.2 8 ially mariana SOI V 2020.2 9 ially mariana SOI V 2020.2 10 ially mariana SOI V 2020.2 11 ially mariana SOI V 2020.2 12 ially mariana SOI V 2020.2 13 ially mariana SOI V 2020.2 14 ially mariana SOI V 2020.2 15 ially mariana SOI V 2020.2 16 ially mariana SOI V 2020.2 17 ially mariana SOI V 2020.2 OBJ 3 – SÍNDROMES MENÍNGEAS As meningites são as infecções agudas mais temidas, por serem responsáveis por grande número de mortes e seqüelas neurológicas. Algumas bactérias como a Neisseria meningitidis possuem grande importância epidemiológica, pelos riscos constantes de epidemias e elevados índices de morbimortalidade. No entanto, os avanços terapêuticos e as medidas de suporte avançado reduziram a letalidade, que varia hoje de 5 a 20%. Para isso, é de fundamental importância o diagnóstico e o tratamento precoces. Meningite é um processo inflamatório do espaço subaracnóideo e das leptomeninges (pia-aracnóide), que envolvem o encéfalo e a medula espinal. PRINCIPAIS AGENTES E TIOLÓGICOS DAS MENINGITES Bactérias Gram-negativas: meningococo, hemófilo, E. coli, Salmonela sp., Proteus, Klebsiela, Pseudomonas Gram-positivas: pneumococo, estreptococo, estafilococo, Listeria Micobactérias Espiroquetas: Leptospira, Treponema Vírus Enterovírus (echo, coxsackie e poliovírus), arbovírus, vírus da caxumba, herpes (simplex, tipo 6, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, variscela- zoster), sarampo, rubéola, parvovírus, rotavírus, varíola, VIH-1 (vírus da imunodeficiência-1) e alguns vírus que acometem o trato respiratório Fungos Criptococo, Candida, Histoplasma Outros parasitas Cisticerco, ameba, toxoplasma, tripanosoma, plasmódio, esquistossomo, Strongyloides stercoralis DIAGNÓSTICO CLÍNICO Será considerado como suspeito de meningite todo paciente com síndrome febril com sinais neurológicos. No caso de doença meningocócica, também os pacientes com síndrome febril hemorrágica. Algumas complicações freqüentes são: trombose e necrose isquêmica do tecido cerebral ou abscessos (localizados classicamente na substância branca dos hemisférios cerebrais ou do cerebelo). O quadro clínico resume-se em: síndrome infecciosa (febre, anorexia, mal-estar geral, prostração, mialgia, estado toxêmico), lesões exantemáticas, lesões petequiais, lesões purpúricas, equimoses coalescentes e até sufusões hemorrágicas. A síndrome de hipertensão intracraniana é composta de cefaléia holocraniana (que geralmente não cede com analgésico comum), vômitos (geralmente incoercíveis, sem relação com a alimentação), alteração do nível de consciência (vai do torpor mental, obnubilação, coma superficial, podendo chegar até o coma profundo), sinais de estimulação simpática (taquicardia, palidez, hipertensão arterial, pulso fino e rápido, além de sudorese), edema de papila ao exame do fundo de olho (diminuição da acuidade visual e auditiva), convulsões generalizadas ou localizadas e sinais neurológicos localizatórios (paresia ou paralisia espástica). A síndrome do comprometimento meníngeo é composta de rigidez de nuca, decorrente da compressão do exsudato purulento sobre a emergência dos nervos raquidianos, opistótono (grau máximo de rigidez de nuca, mais contratura extensora máxima da musculatura dorsal). 18 ially mariana SOI V 2020.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O hemograma apresenta-se com uma importante leucocitose, mas o diagnóstico principal é feito pelo líquor, através da punção lombar, que é realizada com pacientes em decúbito lateral, entre os espaços de L3-L4, L4-L5, L5-S1, sub-occipital ou ventricular (em crianças). O procedimento deve ser feito exclusivamente na Sala de Punção. São realizadas análises macroscópicas, bioquímicas, citológicas, bacteriológicas e micológicas no Laboratório de Bacteriologia. Lembrar sempre de coletar um mínimo de 1 ml (20 gotas de líquor. A realização de exames de imagem (tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética) é cabível apenas quando a resposta clínica à terapêutica é atípica, levando-se à suspeita de empiema ou abscesso cerebral. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DO LÍQUOR NAS MENINGITES Tipo de meningite Aspecto do líquor Citometria Citologia Glicose Proteínas Cultura Coloração com a tinta da China Líquor normal Claro 0 a 5 - 2/3 da glicemia <40mg/dl Negativa - Meningite bacteriana aguda Turvo ou purulento >500 PMN Diminuída >40mg/dl Positiva - Meningite bacteriana aguda em uso de antibiótico Claro ou pouco turvo <500 PMN ou MN Diminuída ou normal Normal ou aumentada Positiva (rara) - Meningite tuberculosa Claro ou pouco turvo <500 MN Diminuída >40mg/dl Positiva (rara) - Meningite fúngica Claro <500 MN Diminuída ounormal >40mg/dl Negativa Positiva Meningite viral Claro <500 MN Normal >40mg/dl Negativa - A hemocultura constitui outro meio importante para identificar o agente etiológico no caso de meningite de etiologia bacteriana. A escarificação das lesões petequiais para a realização da coloração de Gram é muito importante na doença meningocócica. O imunodiagnóstico pode ser feito através da contra- imunoeletroforese e pela aglutinação pelo látex (quando disponíveis). Pacientes com suspeita de meningoencefalite viral deverão se submeter a coleta de líquor a ser entregue à Gerência de Virologia (Núcleo de Arbovirologia e Doenças Emergentes) para encaminhamento do material para unidade de referência nacional. SINAIS DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA Meningismo diz respeito à tríade de sintomas composta por rigidez nucal, fotofobia e cefaleia. É causada pela irritação das meninges, mais comumente devido à sua inflamação (meningite) mas também atribuída a hemorragia subaracnóidea. As meningites bacterianas são extremamente comuns no Brasil, respondendo por quase 90% de todos os casos. +RIGIDEZ NUCAL 19 ially mariana SOI V 2020.2 SINAIS E SINTOMAS A tríade do meningismo é composta por rigidez nucal, fotofobia e cefaleia, não raramente associada a síndrome toxêmica – febre, mal-estar e prostração. É importante ressaltar que diversos desses achados ficam difíceis ao exame físico em crianças muito pequenas, devendo a suspeição da doença através de choro intenso e agitação requerer uma investigação liquórica imediata. A rigidez de nuca pode ser testada através da incapacidade do paciente em realizar a flexão do pescoço ou quando este apresenta flexão do joelho ou quadril em resposta ao movimento forçado do pescoço (sinal de Brudzinski). Ambos denotam irritação meníngea, que pode ser ainda investigada através da presença de resistência ou dor em membro inferior quando o joelho é estendido após flexão do quadril (sinal de Kernig). Esses sinais estão presentes em ao menos 60 a 80% das crianças com meningite bacteriana em um quarto das crianças com pesquisa liquórica normal, não devendo ser testados em pacientes comatosos ou com déficits neurológicos severos. A cefaleia com fotofobia é decorrente da hipertensão craniana por edema cerebral, usualmente acompanhada de náuseas e vômitos em 30 a 40% dos casos de meningite bacteriana. O achado pode ser confirmado por edema papilar na fundoscopia. Se focal, a cefaleia pode indicar uma vasculite associada a infarto isquêmico do parênquima. A meningite viral geralmente tem duração menor e curso benigno se comparada à bacteriana. Também podem apresentar a tríade do meningismo, bem como manifestações encefálicas, especialmente no lobo temporal por HSV. Sequelas como surdez, retardo no desenvolvimento motor ou convulsões dependem do agente etiológico e do estado de imunossupressão da criança. COMO CONFIRMAR O DIAGNÓSTICO Crianças com sinais de meningismo devem ser investigadas primariamente para meningite bacteriana, especialmente se história de infecção de vias aéreas superiores ou otite recentes e vacinação (pentavalente) inadequada. A conduta inicial deve incluir a solicitação de raquicentese (punção lombar diagnóstica) e hemocultura (exceto se piodermite no local da punção ou hipertensão intracraniana grave na ausência de profissional experiente no procedimento). Na vigência de rebaixamento de nível de consciência ou déficits focais, está indicada a investigação de áreas de isquemia por ressonância magnética logo após coleta de hemoculturas – nos demais casos, ela pode ser feita com menos urgência. Nas meningites virais, além da raquicentese, devem ser solicitadas amostras de soro, fezes e secreções da nasofaringe (se doença com menos de três dias). Os valores esperados após exame liquórico nos pacientes hígidos e com meningite viral ou bacteriana estão dispostos a seguir: 20 ially mariana SOI V 2020.2 Nos pacientes com meningite bacteriana o exame liquórico pode apresentar positividade na aglutinação de antígenos pelo látex e no exame microbiológico. A suspeita diferencial de hemorragia subaracnóidea deve ser reforçada se a cor do líquido for e permanecer xantocrômica – devido a pigmentos de bilirrubina derivados de hemólise. OBJ 4 – TIPOS DE ISOLAMENTO PARA EVITAR TRANSMISSÃO DA MENINGITE O meningococo possui vários sorotipos, como A, B, C, Y e W 135, sendo o tipo C o mais prevalente no Brasil. O homem doente ou portador é o único reservatório natural. A transmissão é de pessoa a pessoa, por via respiratória, através de gotículas e secreções do nariz e garganta, ao tossir, falar ou espirrar havendo necessidade de contato íntimo e prolongado. O período de incubação é de 2 a 10 dias (geralmente 3 a 4 dias). A transmissibilidade persiste até o desaparecimento do meningococo das secreções nasofaríngeas do doente ou portador. Cerca de 10% dos adolescentes e adultos são portadores assintomáticos da bactéria na orofaringe (“garganta”) e podem transmitir a bactéria, mesmo sem adoecer. O risco de transmissão desaparece após 24 horas de tratamento com antibióticos. O estado de portador pode ser até 10 meses. É uma doença universal, ocorrendo tanto em regiões urbanos como rurais. A aglomeração intra-domiciliar é um fator para transmissão cruzada. É mais freqüente nos meses mais frios favorecendo as epidemias. Em menos de 1% dos indivíduos infectados, a bactéria consegue penetrar na mucosa respiratória e atinge a corrente sanguínea levando ao aparecimento da doença meningocócica. A invasão geralmente ocorre nos primeiros cinco dias após o contágio. Os fatores que determinam o aparecimento de doença invasiva ainda não são totalmente esclarecidos. A medida mais eficiente para bloquear o surgimento de novos casos é a quimioprofilaxia com uso de antibióticos, na medida em que a vacina não traz proteção imediata. A meningite é uma doença de notificação compulsória e deve ser notificada a autoridade de saúde o mais rapidamente possível. MEDIDAS DE CONTROLE APÓS EXPOSIÇÃO ÀS MENINGITES E DOENÇA MENINGOCÓCICA Em adição às precauções padrões, precauções com gotículas são recomendadas até 24 horas após o início da terapia antimicrobiana efetiva. MEDIDAS DE CONTROLE (A) QUIMIOPROFILAXIA O risco de contrair doença meningocóccica invasiva entre contactantes de indivíduos infectados é o fator determinante na decisão de dar ou não a quimioprofilaxia. A taxa de ataque para contactantes intra domiciliares é 500 a 800 vezes maior que para a população geral. A Rifampicina deve ser administrada simultaneamente a todos os contatos íntimos, idealmente dentro das primeiras 24-48 horas a partir da data de exposição à fonte de infecção. Em virtude dos períodos de transmissibilidade e de incubação da doença, geralmente considera-se um prazo de 10 (ou até 15 dias) a partir da data de exposição para o meningococo. A Ceftriaxona está recomendada como opção para grávidas. Em caso de hepatopatia, intolerância, ou alergia conhecida, à Rifampicina, recomenda-se o uso de Ciprofloxacino ou Ceftriaxona. Conforme orientação do Ministério da Saúde (2008), até o momento a rifampicina tem sido recomendada para gestantes. Um dos exemplos é o tratamento da tuberculose em gestantes, mas somente o médico deve definir qual será a melhor prescrição em cada caso. No entanto existem controvérsias na literatura quanto ao uso de Rifampicina durante a gravidez. Contactante íntimo de qualquer pessoa com doença meningocóccica invasiva, seja esporádico ou em um surto, estão sob maior risco e devem receber a quimioprofilaxia, idealmente dentro das 24 horas após o diagnóstico do caso primário. Culturas da garganta e nasofaringe não têm valor para a decisão de quem deve receber a quimioprofilaxia e não são recomendadas. RECOMENDAÇÕES PARA USO DE QUIMIOPROFILAXIA ALTO RISCO: QUIMIOPROFILAXIA RECOMENDADA (CONTATO ÍNTIMO). Contactantesintra-domiciliares, especialmente crianças jovens. Crianças em “escolinhas”, creche ou berçário durante os 7 dias antes do início da doença. Pessoas com exposição direta à secreções do caso índice através de beijo ou uso compartilhado de escova de dentes, talheres, durante os 7 dias do início da doença. Reanimação boca a boca, intubação endotraqueal ou aspiração de via aérea ou tubo sem uso de máscara durante os 7 dias antes do início da doença. Pessoas que freqüentemente dormiam ou comiam no mesmo ambiente domiciliar da casa durante os 7 dias antes do início da doença. Passageiros sentados diretamente próximo do caso, durante vôos com mais que 8 horas de duração. BAIXO RISCO: QUIMIOPROFILAXIA NÃO RECOMENDADA Contactante ou contato casual: Sem história de exposição direta a secreções orais do caso índice (ex: escola e trabalho). Contato ou contactante indireto: Pessoa que teve contato com um contactante de alto risco (veja acima), mas não teve contato direto com o paciente índice. 21 ially mariana SOI V 2020.2 Profissionais de saúde que não tiveram exposição direta às secreções orais do paciente. A principal forma de prevenção é a detecção e o tratamento precoce dos casos, evitando-se, principalmente, que a doença seja transmitida a outras pessoas. Existem vacinas para prevenir alguns tipos de meningite onde estão disponíveis no calendário básico de vacinação da criança as seguintes vacinas: BCG, que previne as formas graves de tuberculose, incluindo a meningite tuberculosa, e a vacina contra a meningite por Haemophilus influenzae tipo b. As vacinas contra meningococo C são utilizadas somente em situações especiais. Outras formas de prevenção incluem: evitar aglomerações, manter os ambientes ventilados e a higiene ambiental. PRECAUÇÕES ADOTADAS A NÍVEL HOSPITALAR PRECAUÇÕES RESPIRATÓRIAS COM GOTÍCULAS Indicadas para pacientes para suspeita ou confirmação de doenças com transmissão por gotículas (partículas > 5 micra de diâmetro) eliminadas pelas vias aéreas durante tosse, espirro ou fala. A aplicação das precauções respiratórias para gotículas inclui as seguintes medidas: ACOMODAÇÃO Quarto privativo, de preferência. Quando o isolamento em quarto privativo não for possível, o quarto poderá ser compartilhado com pacientes infectados pelo mesmo microorganismo. Trocar os equipamentos de proteção exigidos para cada caso e realizar a higienização das mãos entre contatos com pacientes no mesmo quarto, independentemente de um paciente, ou ambos os pacientes, estarem sob Precauções com gotículas. Nas instituições de longa-permanência e serviços de atendimento domiciliar a decisão quanto ao tipo de isolamento deverá ser considerada caso a caso. Deverão ser considerados os riscos de infecção para os outros pacientes do quarto e as alternativas disponíveis. Nos serviços ambulatoriais, os doentes que necessitam de precauções com gotículas deverão ser colocados em um consultório examinados o mais rapidamente possível. Instruir os pacientes a seguir recomendações para Higiene respiratória/Etiqueta ao tossir. Associação mineira de epidemiologia e controle de infecções
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