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“Por que”, exclama Mirabeau, “ir tão longe buscar a causa do esplendor da manufatura da Saxônia antes da Guerra dos Sete Anos? 180 milhões de dívidas do Estado!763 Sistema colonial, dívidas do Estado peso dos impostos, proteção, guerras comerciais etc., esses rebentos do período manufatureiro pro- priamente dito se agigantam durante a infância da grande indústria. O nascimento desta última é celebrado pelo grande rapto herodiano de crianças. Como a frota real, as fábricas recrutam por intermédio da imprensa. Por blasé764 que Sir F. M. Den seja diante dos horrores da expropriação do povo do campo de sua base fundiária, desde o último terço do século XV até sua época, o fim do século XVIII, por mais que vaidosamente se congratule por esse processo ser “necessário” para “estabelecer” a agricultura capitalista e “a verdadeira proporção entre a terra para lavoura e para pastagem”, ele não revela, entretanto, a mesma compreensão econômica da necessidade do roubo de crianças e de sua escravização para a transformação da empresa manufatureira em empresa fabril e o estabelecimento da verdadeira relação entre capital e força de trabalho. Ele diz: “Talvez mereça a consideração do público se uma manufatura, para sua eficaz realização, tenha de saquear cottages e Workhou- ses de crianças pobres, para que sejam esfalfadas em turmas que se revezam, e roubadas de seu descanso a maior parte da noite; uma manufatura que, além disso, amontoa gente de ambos os sexos, de diferentes idades e inclinações, de tal forma que a con- taminação do exemplo deve levar à depravação e libertinagem — tal manufatura pode aumentar a soma da felicidade nacional e individual?”765 “Em Derbyshire, Nottinghamshire e especial- mente em Lancashire”, diz Fielden, “a maquinaria recentemente inventada foi empregada em grandes fábricas, próximas a cor- rentezas capazes de girar a roda-d’água. Subitamente, milhares de braços tornaram-se necessários nesses lugares, longe das ci- dades; e Lancashire, a saber até então comparativamente pouco povoado e infértil, necessitava agora, sobretudo, de uma popula- ção. Os pequenos e ágeis dedos eram os mais requisitados. Surgiu logo o costume de procurar aprendizes (!) nas diferentes Work- houses paroquiais de Londres, Birmingham e de onde quer que fosse. Muitos, muitos milhares dessas pequenas criaturas desam- paradas, de 7 até 13 ou 14 anos, foram assim expedidos para o OS ECONOMISTAS 376 763 ”Porquoui aller chercher si loin la cause de l’éclat manufacturier de la Saxe avant la guerre? Cent quatre-vingt millions de dettes faîtes par les souverains!" (MIRABEAU. Op. cit., t. VI, p. 101.) 764 Esnobe. (N. dos T.) 765 EDEN. Op. cit., Livro Segundo. Cap. I, p. 421.
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