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BNCC Ciclo de Alfabetização E s p E c i a l Veja como desenvolver escrita, leitura e oralidade com as turmas dos Anos Iniciais e confira boas ideias de professores que levaram a Base para suas realidades Índice 1. como organizar a formação continuada ........................................... 4 2. como desenvolver escrita, leitura e oralidade no ensino remoto ............ 31 3. como se planejar para as aulas e construir atividades alinhadas à BNcc ............................. 46 4. Exemplos práticos: atividades impressas, Whatsapp e parceria com a família .............................................. 68 3 im ag em : a nd ré a sa hi da 4 Im ag em : G et ty im ag es 1. Como planejar a formação continuada Entenda os principais conceitos da Base e conheça orientações para apoiar os professores do 1º e 2º ano do Fundamental camila cecílio | 10 de Março de 2021 Im ag em : G et ty im ag es 5 a Base Nacional comum curricular (BNcc) teve seu primeiro ano de aplicação em sala de aula impactada pela pandemia do novo coronavírus. assim, dúvidas antigas e novas associadas a como transpor as habilidades e competências do documento para o planejamento e prática ainda são comuns entre os educadores. Neste cenário, a formação continuada, conduzida pelos coordenadores pedagógicos, é um guia importante para auxiliar no trabalho da sala de aula. Fazer a leitura da Base, entender quais são as habilidades prioritárias considerando o ano letivo de 2020 e 2021 e ter clareza dos conteúdos e objetivos que esperam ser atingidos no ano são os primeiros passos para planejar de forma alinhada https://novaescola.org.br/conteudo/19943/como-fica-a-bncc-no-planejamento-de-2021 https://novaescola.org.br/conteudo/19943/como-fica-a-bncc-no-planejamento-de-2021 https://novaescola.org.br/conteudo/19943/como-fica-a-bncc-no-planejamento-de-2021 https://novaescola.org.br/conteudo/19943/como-fica-a-bncc-no-planejamento-de-2021 https://novaescola.org.br/conteudo/18822/como-alinhar-meu-planejamento-a-bncc 6 ao documento. “É a partir daí que o educador poderá planejar a sua atividade”, aponta selene coletti, vice-diretora da Escola Municipal de Educação Básica philomena Zupardo, em itatiba (sp), formadora de professores e colunista do site de NOVa EscOla. “Geralmente acontece o contrário: pensa-se na atividade e depois em quais habilidades se adequam. Esse é um ponto importante a ser trabalhado, independente de qual for o referencial”. O ponto de partida para que o coordenador possa promover o trabalho de formação da BNcc com a sua equipe de professores é identificar o que sabem sobre https://novaescola.org.br/conteudo/18822/como-alinhar-meu-planejamento-a-bncc https://novaescola.org.br/autor/576/selene-coletti https://novaescola.org.br/autor/576/selene-coletti https://novaescola.org.br/autor/576/selene-coletti 7 o assunto. Desse modo, vale uma recapitulação sobre a BNcc do ciclo de alfabetização. 1. O que é a BNCC? a Base Nacional comum curricular é um documento que determina os conhecimentos essenciais que todos os alunos da Educação Básica — ou seja, da Educação infantil até o Ensino Médio — devem aprender, ano a ano, independentemente do lugar onde moram e estudam. Todos os currículos de todas as redes públicas e particulares do país deverão ser adaptados para contemplar os conceitos e as propostas da Base. 2. Base é currículo? a BNcc não é o novo currículo. cada rede construiu ou reformulou seu currículo baseado no documento. 8 a BNcc estabelece o essencial, ou seja, o que todos os currículos, de todas as redes, devem contemplar. porém, cada rede poderá incluir, além do que determina o documento, os conhecimentos regionais que julgarem pertinentes. O currículo é algo mais abrangente se comparado à BNcc. 3. Quais elementos integram a estrutura da Base do Ensino Fundamental 1? Objetos do conhecimento, unidades temáticas, competências e habilidades são elementos que estruturam a Base do Ensino Fundamental. 4. O que significa o segundo par de letras do código (EF15LP01)? O segundo par de letras do código (EF15lp01) é referente ao nome do 9 componente curricular. as letras "lp" se referem ao componente de língua portuguesa". 5. O que significa o primeiro par de números do código (EF15LP01)? O primeiro par de números se refere aos anos do Fundamental. sendo: 15 = 1º ao 5º ano 69 = 6º ao 9º ano 12 = 1º e 2º anos 35 = 3º ao 5º ano 67 = 6º e 7º anos 89 = 8º e 9º anos 6. Quais são os eixos da Base de LP? segundo a Base, os eixos são: "oralidade, leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica) e análise linguística/semiótica (que envolve conhecimentos linguísticos – sobre o sistema de escrita, o 10 sistema da língua e a norma- padrão –, textuais, discursivos e sobre os modos de organização e os elementos de outras semioses)". 7. Quais são os campos de atuação dos Anos Iniciais da BNCC? Nos anos iniciais, os campos de atuação são: da vida cotidiana, artístico-literário, das práticas de estudo e pesquisa, da vida pública. Na Educação infantil existem os campos de experiência. Coloque a equipe para refletir a BNCC Para provocar a reflexão da equipe de professores sobre o raciocínio e o fluxo por traz do planejamento de uma aula alinhada à BNcc, um dos caminhos possíveis é analisar 11 um bom plano de aula (NOVa EscOla oferece um acervo de mais de 6 mil planos de aula alinhados à Base que podem ser usados para aplicar esta sugestão – confira clicando aqui), sugere selene. O coordenador pedagógico pode trazer questionamentos no horário de trabalho pedagógico coletivo (HpTc) – virtual ou presencial – sobre como as habilidades indicadas na apresentação dos planos se desdobram na atividade proposta. Depois de discutido este tópico, o time de professores também pode ser questionado sobre como aqueles objetivos propostos podem ser constatados que foram atingidos com aquela aula no contexto do ensino remoto ou presencial, dependendo da realidade que a escola se encontra naquele momento. https://planosdeaula.novaescola.org.br/ https://planosdeaula.novaescola.org.br/ 12 Para entender o básico da BNCC do Ciclo de Alfabetização ao contrário dos currículos municipais e dos parâmetros curriculares Nacionais (pcNs), que traziam orientações didáticas (o “como ensinar”), a BNcc concentra-se no desenvolvimento das competências e habilidades (trazendo “o que ensinar”). Na Base, há habilidades específicas previstas em cada componente curricular para todos os anos da Educação Básica. Há também as competências específicas das áreas do conhecimento e aquelas gerais (também muitas vezes chamadas de socioemocionais) que são transversais da Educação infantil ao Ensino Médio. https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2194/qual-e-a-diferenca-entre-as-competencias-gerais-da-bncc-e-as-socioemocionais https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2194/qual-e-a-diferenca-entre-as-competencias-gerais-da-bncc-e-as-socioemocionais 13 De acordo com a BNCC... “Competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”. “para garantir o desenvolvimento das competências específicas, cada componente curricular apresenta um conjunto de habilidades. Essas habilidades estão relacionadas a diferentes objetos de conhecimento – aqui entendidos como conteúdos, conceitos e processos –, que, por sua vez, são organizados em unidades temáticas.” 14 selene explica que a Base do ciclo de alfabetização está pautada na centralidade do texto e no trabalho com as práticas sociais de leitura e escrita, o que implica o uso e produção de textos que dialoguem com contextos reais (como a produção de uma lista de compras ou uma receita). além disso,está embasada em atividades nas quais os alunos precisam refletir sobre o sistema de escrita alfabética, no trabalho com a consciência fonológica e no conhecimento das letras para ajudar a criança a evoluir em suas hipóteses de escrita. 15 Por onde começar: quais são as dúvidas dos professores? O coordenador pedagógico deve planejar uma formação continuada de acordo com as necessidades da sua equipe e realidade de desafios enfrentados no ensino de suas turmas. Um bom caminho para identificar qual é o perfil do time é elaborar perguntas que ajudem a identificar o que os professores sabem sobre a BNcc do ciclo de alfabetização. para fazer isso com cuidado, é recomendável utilizar ferramentas como o Google Formulário, em que cada um possa responder sem o risco de não se sentir à vontade, o que pode acontecer em uma 16 roda de conversa presencial. Outra opção é enviar o teste do início desta reportagem previamente para os docentes fazerem uma autorreflexão sobre como estão seus conhecimentos sobre a Base dos anos que atuam pode ser um bom começo de conversa. a partir de dinâmicas como as sugeridas, o coordenador terá informações para mapear quais conhecimentos sua equipe precisa aprofundar e conseguir planejar formações mais significativas para o desenvolvimento da equipe. É nisso que tem apostado simone souza da silva cordaro, coordenadora pedagógica do Fundamental 1 da Escola Municipal de Ensino Fundamental Eduardo prado, na zona norte de são paulo. para a educadora, 17 o ponto de partida de qualquer formação são os saberes do time. Recém-chegada à escola, ela conta que o primeiro passo foi fazer um diagnóstico inicial para saber o que os professores sabem, o que vivem na rotina de pandemia da covid-19 e de quais formações já participaram associadas ao tema, por exemplo. com essas informações será possível nortear o trabalho pedagógico de simone, que neste ano, seguirá sendo de forma remota. “Nossas formações têm olhado para o currículo da cidade, elaborado a partir da BNcc, e explorado a proposta do documento, que enfatiza a linguagem como lugar de interlocução, procurando sempre se aproximar da tecnologia para auxiliar as crianças no processo da alfabetização”, explica simone. 18 A experiência na minha escola pública Juliana Rodrigues da Rocha Fattori está há quatro anos à frente da coordenação pedagógica dos anos iniciais e Finais na Escola Municipal de Educação Básica philomena salvia Zupardo, em itatiba, no interior de são paulo. Ela conta que, neste ano, a equipe vem realizando um estudo aprofundado da BNcc para o ciclo de alfabetização. Essa análise da Base é feita por meio do currículo municipal que foi readequado de acordo com o documento e o currículo paulista. “Diante das necessidades práticas das novas professoras em abordar a questão da alfabetização, estamos apresentando e estudando os 19 subsídios que a BNcc oferta”, conta Juliana. “com isso, a intenção é que as professoras reflitam sobre as propostas e as atividades a serem desenvolvidas em sala de aula”. Os estudos teóricos estão ocorrendo nas reuniões de HTpc da escola. Na prática, a coordenadora tem buscado mapear as dúvidas e as dificuldades dos professores e, com isso, elaborar as pautas formativas, de acordo com as necessidades dos docentes. além do levantamento de conhecimentos prévios, ela leva para os encontros a parte teórica e reflexiva da Base sobre o Ciclo de alfabetização. a partir dos estudos, discutem e analisam as práticas em sala de aula que propiciem condições e estímulos para a apropriação do sistema de escrita alfabética. 20 Ela explica ainda que a equipe está explorando a BNcc, mas a proposta é estudar as concepções que o documento traz em relação à Educação, analisando e discutindo como inserir as competências gerais nas práticas pedagógicas. com os estudos e com os dados da avaliação diagnóstica com foco na hipótese de escrita, a ideia é explorar modelos e sugestões de atividades que sejam significativas e desafiadoras. “Assim, propiciamos ao aluno não somente o avanço no processo da alfabetização, mas também contribuímos para o seu desenvolvimento integral, sendo crítico, autônomo e responsável perante as mais diversas situações e contextos”, completa a coordenadora. 21 Checklist para apoiar a pauta de formação Confira nove dicas que podem ajudar na orientação do planejamento do coordenador pedagógico 1. Retome a estrutura do documento de forma breve, pois a grande maioria dos professores já conhece. Mas, caso haja alguém na turma que ainda não teve contato com a Base, trabalhe de forma individualizada os pontos necessários para apoiar o desenvolvimento deste profissional ou de um grupo. 2. aborde com a equipe a concepção que cada um tem sobre alfabetização e como a criança aprende e se alfabetiza a fim de estabelecer ligações com as ideias do documento. 22 É sabido que a concepção está conectada à prática. por isso, propor essa reflexão é fundamental e pode ajudar a concretizar mais quais são as ações necessárias para transpor a Base da teoria para a prática. 3. aposte em analisar bons modelos e caminhos possíveis para planejar uma aula alinhada à BNcc e peça para que os professores também tragam suas experiências pessoais para discutir e construir um conhecimento coletivo que considere as necessidades do time. 4. Discuta com o grupo como a pandemia tem sido um complicador da implementação da BNcc, buscando alternativas 23 para mudar este quadro. Ouça o grupo, dê sugestões e exemplos de como fazê-lo, se for o caso. 5. Organize a formação conforme a necessidade e perfil do grupo de professores buscando as estratégias formativas que melhor se adequem ao mesmo. 6. Identifique como cada professor planeja a sua aula. isto é, se pensa na habilidade para poder planejar a proposta ou se tenta encaixar a proposta em uma habilidade, uma vez que o recomendável é, primeiro, o professor ter claro o que quer trabalhar para, então, planejar sua aula. Especialmente em 2021, será necessário um trabalho de planejamento que considere as habilidades prioritárias de 2020 e do https://novaescola.org.br/conteudo/19772/bncc-como-priorizar-as-aprendizagens-de-2020-e-2021 24 ano atual (saiba mais aqui). para isso, analise os semanários ou mesmo observe as aulas, dando devolutivas para o professor por meio de boas perguntas promovendo a reflexão sobre a prática em questão. 7. promova momentos nos quais o professor faça análise do que vem planejando e do como vem planejando. É primordial que o coordenador crie estes espaços na escola. E quando for o caso, planeje juntamente com aquele profissional que ainda está encontrando dificuldades para fazê-lo. 8. combine no início do encontro para alguém registrar as principais ideias para compartilhar essa sistematização com todo o grupo (o registro também pode ser feito de https://novaescola.org.br/conteudo/19772/bncc-como-priorizar-as-aprendizagens-de-2020-e-2021 25 forma coletiva, especialmente se ele for realizado de forma online, em que todos podem incluir comentários em tempo real num documento ou num quadro de post-its). além de ser um registro do encontro, pode ser consultado no futuro para retomar ideias para serem testadas no planejamento das atividades. 9. Tematize a prática observada, ou seja, traga para reflexão e discussão as atividades didáticas observadas na sala de aula (vídeos, propostas didáticas) buscando analisar as concepções que estão nelas implícitas e por consequência as intervenções que permitem o avanço do processo de ensino e aprendizagem. https://cursos.novaescola.org.br/curso/11376/google-drive-como-usar-o-hangouts-e-o-docs/resumo https://cursos.novaescola.org.br/curso/11376/google-drive-como-usar-o-hangouts-e-o-docs/resumo 26 Em que ponto a equipe docente está Sugestões para entender o que ogrupo sabe e o que ainda precisa aprofundar sobre a BNCC com o objetivo de mapear o nível de conhecimento da equipe sobre o documento, o coordenador pode trazer perguntas que permitam obter um perfil do grupo, além de delinear ações para estimular a reflexão sobre a prática e para promover o avanço do processo de ensino. a seguir, apresentamos algumas possibilidades de perguntas-guia, que podem ser respondidas no Google Formulários, em dinâmicas online ou presenciais, ou que podem, por exemplo, ser utilizadas como um guia para elaborar uma pauta de reflexão e observação 27 das próprias aulas dos professores, sendo registradas nos semanários docentes ou planejamento de aulas ou mesmo acompanhadas pelo coordenador nas observações de sala. para mapear o nível de conhecimento sobre o documento: • como você costuma planejar suas aulas? • Você costuma fazer o planejamento segundo a BNcc? • como você usa a Base para planejar suas aulas? • como você entende os conceitos de habilidades, competências e eixos temáticos contidos na BNcc? 28 • Você utiliza habilidades, competências e eixos temáticos da Base na sua prática diária (ou ao planejar suas aulas)? para mapear o nível de conhecimento sobre a aplicação prática do documento: • como você usa as habilidades na hora de planejar uma atividade? • como você utiliza os conceitos de habilidades, competências e eixos temáticos no seu planejamento? • Você planeja suas aulas a partir das habilidades e competências? • sua aula está focada em uma única habilidade? 29 as respostas obtidas serão o norte do planejamento das formações e intervenções que o coordenador irá realizar ao longo de um período. 30 im ag em : a nd ré a sa hi da 31 Im ag em : G et ty im ag es 2. Como desenvolver escrita, leitura e oralidade no ensino remoto Entenda como planejar atividades alinhadas à BNCC e conheça a experiência de duas professoras de escolas públicas durante a pandemia paula salas | 24 de Março de 2021 Im ag em : G et ty im ag es 32 Na Escola Municipal analice Maciel de Jesus, em Tartarugalzinho (ap), o trabalho durante o ensino remoto apenas foi possível com atividades impressas, que eram corrigidas e devolvidas às famílias. antes da pandemia, a professora Tamila Tavares conseguiu fazer as atividades diagnósticas. "apesar de ser uma turma de 1º ano, alguns já liam palavras ou conheciam o alfabeto", relata. a leitura, escrita e oralidade estiveram presentes em todas as propostas de atividades, entregues quinzenalmente para as famílias. O trabalho de Tamila é baseado em textos simples - como, por exemplo, parlendas, cantigas ou poemas - que possam ser lidos para ou pelos alunos, dependendo do nível de aprendizagem que ele já se 33 encontra. É a partir de uma história ou textos que envolvem situações reais (como uma lista de compras ou o passo a passo de uma receita básica) que a professora desenvolve o trabalho com as palavras. "O aluno consegue compreender porque está trabalhando aquelas letras. Ele vê um todo para depois olhar para uma palavra", explica. as propostas conectam leitura, escrita e oralidade. para aquelas famílias que possuem acesso ao Whatsapp, ela propôs que as crianças contassem histórias que foram criadas por eles por áudios. "No início eram muito simples, mas depois começaram a vir áudios elaborados", relata. "Entre os 25 alunos da minha turma no ano passado, 22 alunos retiraram as atividades impressas. Desses, 18 conseguiram avançar". 34 a Base Nacional comum curricular (BNcc) propõe que as atividades de leitura, escuta e produção textual em várias mídias (como os próprios textos em papel ou mesmo os áudios de Whatsapp) trabalhem o desenvolvimento de habilidades para o uso significativo da linguagem e de forma a sempre relacionar os textos a seus contextos de produção e funções sociais. O documento é estruturado em campos de atuação (vida cotidiana, artístico-literário, estudo e pesquisa, e vida pública), que representam tipos de textos que estão inseridos em cada um desses espaços sociais. Em cada um, os professores têm uma série de habilidades relacionadas a cada prática de linguagem (leitura e escuta, produção de texto, oralidade, e análise linguística/semiótica). 35 Como planejar atividades de escrita, leitura e oralidade? "Escrever é mais complicado do que completar letras de uma palavra", diz Maria José da Nóbrega, formadora de professores e consultora pedagógica de língua portuguesa. “Eu aprendo a escrever imitando outros autores, me apropriando de referências", complementa. por isso, é importante o trabalho de forma contextualizada baseado em textos reais – o que não impede que o professor faça exercícios de sistematização ou de trabalhar com “palavras soltas”. Dentro dessa perspectiva, a especialista explica que o professor pode partir de um texto – uma 36 situação contextualizada – e ir para a palavra para fazer uma reflexão sobre a escrita, mas não pode deixar de voltar para o texto. Em um exemplo: se o docente tem a intenção de trabalhar a escrita da palavra casa, pode fazer a leitura do conto dos Três porquinhos ou da música a casa, de Vinicius de Moraes, e destacar o termo para levar a criança a pensar sobre o uso das letras. isto é, ele sai do texto para estudar a palavra. Mas, depois, o professor sempre deve devolvê- la para seu contexto de forma a que a criança possa empregar o que aprendeu em uma situação de maior complexidade. O professor pode voltar para o texto para revisar e ler o que foi trabalhado ou colocar um problema para que o aluno identifique uma regularidade de escrita no texto. 37 ao planejar uma sequência didática sobre determinado gênero textual, Maria José recomenda que o docente passe por todas as práticas de linguagem relacionadas ao campo de atuação que está sendo abordado. Mas, é possível criar momentos em que a atividade proposta mobilize unicamente habilidades de leitura, por exemplo. O importante é que, na sequência completa, o professor não deixe nenhuma prática de linguagem de fora. "se o professor quer que a criança produza um texto, ela precisa ser repertoriada sobre esse gênero para entender como funciona", explica a formadora. por isso, é necessário passar por todos os eixos. assim, se a expectativa é uma produção de texto sobre fábula para desenvolver habilidades de escrita, é preciso antes ter o momento de leitura, 38 fazer a análise linguística dentro de textos desse gênero, desenvolver habilidades específicas do campo artístico-literário e trabalhar a oralidade para que a criança perceba as características do texto. Aprender com quem faz na prática Em Tianguá, interior do ceará, a professora Emanuela Barbosa da silva dá aula para o 2º ano na Escola Municipal Frei Gervásio. a maioria dos alunos são da zona rural. Quando a pandemia começou, o diagnóstico tinha sido feito, mas muitas crianças ainda não sabiam ler. "Ninguém esperava trabalhar assim e as crianças não tinham acesso à internet, mas, na turma de 24 alunos, apenas 3 famílias 39 não possuíam Whatsapp", conta a educadora. Este se tornou o principal canal de comunicação para as aulas. Diariamente, a professora compartilhava uma "agenda explicativa", em que eram passadas as instruções de cada atividade do dia, com a disciplina, o assunto e a proposta - geralmente acompanhada de um vídeo explicativo. Os alunos sem acesso, recebiam em casa os roteiros impressos. Todos os dias, as crianças enviavam vídeos ou faziam uma chamada por vídeo com a professora para fazer a leitura diária. ao receber esses materiais, Emanuela passava dicas para melhorar a leitura e também ajudava as crianças a pensar nos próximos textos que poderiam ser enviados. Fotos das 40 atividades realizadas, as correções e o feedback para as famílias também entraram na nova rotina. para planejaras aulas, a professora pensa em atividades de fácil compreensão para os alunos. Geralmente, assim como Tamila, ela parte de um texto para depois seguir para a atividade. O assunto trabalhado numa proposta se desdobra em todas as disciplinas. Quando o tema foi Tangram, por exemplo, Emanuela gravou um vídeo em que mostrava uma versão do jogo feito de madeira e contava a história. Depois, pedia para que eles recortassem do livro didático as peças do jogo e montassem os desenhos. a leitura do dia também era associada à história do Tangram. 41 Outra atividade que deu certo em 2020 foram as sextas literárias, em que a professora gravava um áudio contando a história de um livro. para que os alunos pudessem acompanhar a leitura, também eram enviados os textos. Depois, eles tinham que contar, em áudio, o que eles tinham acabado de ouvir e fazer a reescrita da história. O planejamento para 2021 para continuar com a mesma turma, a professora Tamila dará aula para o 2º ano em 2021. Ela conta que, por enquanto, continuarão com o ensino remoto em um esquema semelhante ao do ano passado. Mas, ela já tem planos do que gostaria de fazer diferente: "Quero estimular ainda mais a leitura e aumentar a produção 42 textual", conta. Ela diz que até o final do ano quer que os alunos consigam escrever textos de três parágrafos. Depois de um ano de ensino remoto, ela também já se sente mais confiante para explorar recursos digitais e quer gravar mais vídeos para os alunos. "Já tenho vídeos de TikTok prontos para este ano. O que for surgindo de ideia, vou desenvolvendo". Diferente de Tamila, Emanuela não conhece pessoalmente sua turma deste ano. as crianças também carregam as defasagens do ano anterior. "Quando chegam no 2º ano, geralmente, são poucas as crianças que não sabem ler, mas este ano está diferente. Eles vêm com dificuldade do 1º ano pela falta de acesso e acompanhamento aos conteúdos, então são poucos que já leem", 43 explica a educadora. por isso, além da continuidade com os roteiros de estudo, foram organizadas aulões pelo Google Meets, entre todas as turmas do 2º ano, como uma forma de reforço. Então, toda semana nesses encontros é trabalhado um assunto que as educadoras identificaram que os alunos têm dificuldade, em geral, partindo de um gênero textual diferente (receita, poema, contos e outros). Em uma etapa tão desafiadora para ser feita a distância, as professoras ressaltam a importância da parceria com as famílias. a professora Emanuela criou uma medalha para aqueles que conseguissem participar muito das aulas, e as famílias também recebiam um cartão parabenizando pelo compromisso 44 com a escola. “Foi uma forma de dar confiança para eles. Quando eles se sentem confiantes, o retorno é bem melhor”, diz a alfabetizadora. a professora Tamila também destaca o envolvimento dos pais e responsáveis: “se não fosse pelo comprometimento deles, não teria tido o sucesso que tive”. 45 im ag em : a nd ré a sa hi da 46 Im ag em : G et ty im ag es 3. Como se planejar para as aulas e construir atividades alinhadas à BNCC A professora Mara Mansani compartilha o passo a passo do seu planejamento para o ensino remoto e para o retorno presencial Mara Mansani | 17 de Março de 2021 Im ag em : G et ty im ag es 47 como alfabetizadora, após um ano de pandemia cheguei à conclusão de que a Base Nacional comum curricular (BNcc) foi o principal documento orientador dos caminhos traçados para o ensino remoto. Em meio a tantas dúvidas, incertezas e preocupações com a aprendizagem dos alunos, uma coisa era certa: sabíamos quais habilidades teríamos que explorar e desenvolver para a alfabetizá-los. Fico pensando como teria sido ainda mais difícil esse período se não tivéssemos nossos currículos construídos a partir da Base e da clareza das aprendizagens que ela traz. Mas, se por um lado, sabíamos o caminho, por outro, tivemos o grande desafio de aprender o “como fazer”. Esse foi meu principal 48 questionamento (mesmo depois de mais de 30 anos de vivências e experiências em sala de aula) e, com certeza, foi também o de muitos outros alfabetizadores nesse período. penso que não há uma única resposta, mas que todas elas passam por um bom planejamento. Foi também por isso que, durante a pandemia, li e estudei ainda mais: fiz cursos online, debati com colegas de profissão, compartilhei e troquei experiências, me inspirei em materiais de referência. Nesse movimento, descobri que o grande desafio que nos foi colocado também nos levou a novas possibilidades para o desenvolvimento do processo de alfabetização. 49 Primeiros passos do planejamento aplicado na prática O bom planejamento das nossas aulas na alfabetização leva em conta alguns elementos fundamentais, como: 1. o currículo (competências e habilidades previstas para o ano em questão); 2. a clareza do objetivo da aula (intencionalidade pedagógica); 3. o diagnóstico do que os alunos já sabem e o que ainda precisam aprender; 50 4. a boa seleção de materiais de apoio e de referência; 5. a definição da metodologia e de quais instrumentos e estratégias são as mais adequadas para a aprendizagem; 6. a organização do tempo e espaço na rotina de estudos; 7. o conhecimento prévio do formato do ensino possível para sua turma de acordo com a realidade do aluno (ainda mais agora em tempos de pandemia). para começar meu planejamento de aula, o primeiro passo é ter em mãos o currículo e o diagnóstico da turma. É a partir da combinação dos dois, baseado nas necessidades de 51 aprendizagem dos alunos, que defino o objetivo das atividades. Quando começamos o planejamento a partir das atividades que queremos dar – o que muitas vezes fazemos –, há uma grande chance de acontecer desvios e distorções da intencionalidade pensada inicialmente. isso acontece porque, ao fazer o caminho inverso (tentar encaixar uma atividade num objetivo de aprendizagem), nem sempre atendemos aos elementos fundamentais que envolvem um planejamento coerente e de acordo com as necessidades de aprendizagens dos alunos. Um dos elementos mais importantes no planejamento das nossas aulas é uma análise cuidadosa do diagnóstico da turma para propor práticas que atendam os diferentes 52 níveis de aprendizagem entre os alunos. Mesmo quando estamos explorando a mesma habilidade com todos, a proposta pode variar para cada grupo de aluno. Usando um exemplo de habilidade da BNcc: (EF12LP04) ler e compreender, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor ou já com certa autonomia, listas, agendas, calendários, avisos, convites, receitas, instruções de montagem (digitais ou impressos), dentre outros gêneros do campo da vida cotidiana, considerando a situação comunicativa e o tema/assunto do texto e relacionando sua forma de organização à sua finalidade. se um determinado grupo já lê com autonomia, diferentemente de outro 53 que ainda precisa do apoio na leitura, não é adequado propor a atividade a ser feita da mesma forma para todos. precisamos pensar em variações na complexidade. a própria habilidade já vai indicando esse caminho. assim, por exemplo, se a proposta é que as crianças leiam uma lista de compras de supermercado: • alunos com autonomia leem sozinhos e podem, a partir da leitura da lista, separar produtos alimentícios de outros itens (como produtos de limpeza); • os que tem autonomia média podem ler em pares (alunos com hipóteses próximas), fazendo a mesma separação que a proposta para o primeiro grupo; 54 • os ainda sem autonomia na leitura, podem ser colocados para ler em pares e também individualmente, mas com o apoio e intervenção pontual e mais personalizada do professor – que vai ditando palavras da lista, ao mesmo tempo que vai fazendo perguntas que os façam refletir sobre a escrita. Mas como diagnosticar afase da aprendizagem que o aluno se encontra no ensino remoto? Realmente é um desafio para todos nós alfabetizadores. Em 2020, fiz a sondagem via Google Meet e chamada de Whatsapp com alguns alunos. a família apoiava na organização e acesso, mas sem fazer interferências. Era eu e o aluno. Demora muito mais que fazer em 55 sala de aula presencialmente, mas funciona bem. Já no presencial, tenho visto professores recebendo um aluno a cada hora – de forma que não haja aglomeração e seguindo os protocolos de segurança – para fazer a sondagem. Minha rotina de planejamento No ensino presencial, planejo minhas aulas semanalmente; no remoto, quinzenalmente. No semanal, faço um quadro de rotinas, com colunas de segunda a sexta-feira, em que distribuo as atividades de acordo com as habilidades selecionadas como prioritárias (saiba como priorizar as aprendizagens de 2020 e 2021 clicando aqui). https://novaescola.org.br/conteudo/16/5-principios-para-a-hora-de-pensar-numa-sondagem-na-alfabetizacao https://novaescola.org.br/conteudo/19772/bncc-como-priorizar-as-aprendizagens-de-2020-e-2021 https://novaescola.org.br/conteudo/19772/bncc-como-priorizar-as-aprendizagens-de-2020-e-2021 https://novaescola.org.br/conteudo/19772/bncc-como-priorizar-as-aprendizagens-de-2020-e-2021 56 No planejamento da rotina de alfabetização, todos os dias estão previstas atividades de língua portuguesa distribuídas entre leitura/ escuta, escrita, oralidade e análise linguística/semiótica (bem dentro do que explicita a BNcc). Entrego as propostas para a coordenação pedagógica em formato digital, envio nos grupos para as famílias e imprimo para seguir durante a aula. costumo combinar e usar temas de História, Geografia e Ciências, integrando-os nas práticas de língua portuguesa. como, por exemplo, o uso de máscaras (tema de cuidados de saúde em ciências) rendem boas situações de leitura e escrita em língua portuguesa. Dessa forma, aproveito e organizo melhor os tempos na rotina. 57 Tenho muitos cadernos de anotação de vários anos. para mim, são “tesouros” em que vou registrando ideias, descobertas na aprendizagem dos alunos, materiais de referência inspiradores, possíveis projetos, entre tantas outras reflexões que surgem no dia a dia docente. Também registro links interessantes e outros conteúdos que encontro na internet em um documento Word. agora estou aprendendo a buscar inspirações com o Tiktok! Já selecionei 30 conteúdos super bacanas para aprimorar minhas práticas em sala de aula. Essas anotações todas são boas fontes de consulta que facilitam meu trabalho em sala de aula. para quem busca inspiração, os planos de aula NOVa EscOla são uma ótima sugestão. https://planosdeaula.novaescola.org.br/ https://planosdeaula.novaescola.org.br/ 58 Na minha rotina estão previstas também pelo menos uma sequência didática por mês e uma ou duas atividades de projetos mais especiais – geralmente aqueles mais elaborados que são definidos em conjunto com meu grupo de colegas da alfabetização na escola. Neste momento, estamos conversando sobre a possibilidade de elaborarmos juntas um projeto especial de leitura de poemas. O que estou planejando para a minha turma do ensino remoto neste ano, por enquanto, a proposta será de sondagem online. Estamos usando o Whatsapp para a comunicação e certa interação com os alunos. Entretanto, assim que voltarmos presencialmente, 59 eu e minhas colegas faremos nossa avaliação diagnóstica também presencialmente. Essa parceria também está se dando na preparação para o retorno presencial e na construção da nossa proposta de ensino híbrido. acreditamos que o modelo pode ser uma ótima metodologia e estratégia para alfabetizar, mas nosso desafio será conseguir que todos tenham acesso, já que nossa realidade é complexa e de muitas desigualdades. Não queremos construir algo que se resuma a mescla de aulas presenciais e aulas online e uso de recursos tecnológicos. por isso, vamos enviar uma pesquisa para as famílias para entendermos mais as realidades dos nossos alunos, tanto em relação ao acesso digital, 60 quanto à participação dos estudos para pensarmos alternativas. ainda para o ensino híbrido, estamos estudando e compartilhando saberes entre os colegas porque queremos usar tudo o que for possível em nossas aulas: podcast, playlists, músicas, plataformas, dinâmicas e muito mais. Eu, por exemplo, ensinarei sobre o uso de murais digitais. para todas essas atividades, estamos dando nosso melhor, em estudos e trabalho colaborativo. as palavras de ordem para o nosso planejamento de alfabetizadores são: prioridades no currículo, estudo, flexibilidade, colaboração e compartilhamento de saberes. para este ano, eu e minhas colegas alfabetizadoras, queremos 61 também consolidar e ampliar as parcerias com as famílias de nossos alunos principalmente nos projetos, para que percebam o quanto são importantes para a aprendizagem das crianças. para o ensino remoto (e depois também no híbrido), estamos preparando materiais para apoiar o ensino em casa, como caixas matemáticas, mala viajante de leitura, materiais para criar um ambiente alfabetizador na casa das crianças com alfabeto móvel, crachás de mesa e outros itens. Tudo para que os alunos tenham referências e suporte para a aprendizagem. Ideias e sugestões E como anda seu planejamento? Há muito o que explorar com as crianças, seja na sala de aula ou a 62 distância. No ensino remoto, com o auxílio da tecnologia em aplicativos, principalmente o Whatsapp, é possível propor muitas práticas de alfabetização. Dá para criar rotinas de leitura, de escrita e oralidade, possíveis de serem realizadas no contexto familiar com vídeos, áudios e tutorais escritos de orientações para os responsáveis. Na leitura, por exemplo, uma possível rotina de leitura poderia ser assim: • segunda-feira: envio de um vídeo gravado ou realização de uma vídeo-chamada de uma leitura feita pelo professor; • Terça-feira: as crianças ouvem um podcast de contos tradicionais indicado pelo docente; 63 • Quarta-feira: a leitura fica por conta da família, que deve contar uma história oralmente; • Quinta-feira: mesmo modelo da segunda, com a leitura sendo feita pelo docente; • sexta-feira: a família lê um livro enviado pela escola ou por meio de um pDF enviado no grupo de Whatsapp da turma. se o aluno já tiver autonomia, ele pode ler para a família. para o ensino híbrido, no contexto familiar com apoio de recursos tecnológicos, aumentam ainda mais as possibilidades na alfabetização. 64 Na escrita, gostaria de compartilhar uma proposta com sugestões que podem ser incluídas em uma rotina semanal da turma: • Em casa: as crianças ouvem e participam da leitura de um livro de literatura infantil com a família, assistem vídeos curtos que exploram o tema da aula na escrita, participam de jogos online relacionados à leitura, fazem uma tarefa prévia de escrita relacionada às atividades anteriores. • Na sala de aula: usam todo repertório adquirido com as atividades e referências exploradas em casa para então participar da atividade principal 65 de produção textual proposta e acompanhada pelo professor. Então, fazemos um diagnóstico da aprendizagem para ver se foi realmente efetiva. 66 Dica para escolher bem as atividades para organizar o estudo e agilizar seu tempo na busca de atividades, o professor pode criar um banco de atividades organizando-as por habilidades. assim, por exemplo, quando você tiver definido o objetivo da aula, é só buscar entre os seus materiais, a mais adequada para explorar com os alunos. para multiplicar as ideias, é possível inclusive combinar entre os colegas de fazer um banco de atividades colaborativo (no Google Drive, por exemplo). 67 im ag em : a nd ré a sa hi da 68 Im ag em : G et ty im ag es 4. Exemplos práticos: atividadesimpressas, WhatsApp e parceria com a família Conheça a experiência de três professoras de escolas públicas que buscaram se adaptar dentro de suas realidades para avançar com a leitura e escrita no ensino remoto paula salas, camila cecílio | 31 de Março de 2021 Im ag em : G et ty im ag es 69 No 1º ano do Ensino Fundamental, muitos dos alunos ainda estão conhecendo o mundo letrado e se familiarizando com ele. a organização do espaço na alfabetização, a rotina de atividades e o acompanhamento que o professor estabelece com as crianças visam estimular que elas descubram, compreendam e se apropriem do sistema de escrita. “Na sala de aula, temos um ambiente alfabetizador. Em casa, isso faz falta”, afirma Elaine Capote, professora de 1º ano na Escola Municipal presidente Vargas, em pariquera-açu (sp). Entretanto, é com criatividade e parceria que muitos professores nas escolas públicas brasileiras têm conseguido transpor um pouco dessa realidade para as casas das crianças. “Os pais e responsáveis são meus 70 parceiros, me ajudaram muito no ano passado”, afirma Elaine. Foi devido a essa parceria que muitas crianças terminaram o ano lendo. “Uma das mães teve a ideia de etiquetar a casa toda com o nome dos objetos, algo que fazemos na escola”. Mesmo com o material impresso sendo a principal estratégia utilizada pela escola, foi possível estimular que a parceria acontecesse. Elaine, por exemplo, para incentivar que as famílias criassem momentos de leitura, mandava livros junto com as atividades impressas e gravava contações de histórias por áudios compartilhados como material extra no Whatsapp. Não foi possível utilizar ferramentas digitais para além do aplicativo, mas, em 2021, ela também utilizou 71 o recurso para fazer chamadas por vídeo com os alunos para realizar a sondagem da leitura e escrita. Os áudios de Whatsapp também viraram ferramenta de apoio da alfabetização na turma da sonia antunes caregnato, professora de 1º ano na Escola Municipal Jean piaget, em Marechal cândido Rondon (pR). sonia gravava áudios lendo textos simples que eram enviados para as crianças e usados para trabalhar a compreensão oral e levantar questionamentos que instigassem a identificação dos padrões da língua (como, por exemplo, letras iniciais e finais repetidas nas diferentes palavras). Ela percebeu que atividades com rimas, brincadeiras de trava-línguas 72 ou de aliteração funcionaram bem. "É algo mais próximo das crianças e é uma forma delas se familiarizarem com a escrita e oralidade", explica sonia. para fazer o acompanhamento, além da correção das atividades impressas, as famílias faziam registros das crianças contando para a professora o que havia aprendido ou como estava conseguindo escrever e ler. Sarau a distância para incentivar a leitura com a pandemia, a Escola Municipal de Educação Básica professora ngela lygia parodi scavone, em itatiba (sp), decidiu manter o vínculo com os estudantes pelo Whatsapp. “Eu compartilhava textos para os alunos lerem e discutirem com suas 73 famílias, mas isso não me satisfazia. ainda tinha aquela inquietação sobre como eu poderia incentivar mais as crianças a lerem”, conta a professora Kátia Baptistella. No movimento de buscar inspirações, ela se deparou com experiências de sarau literário, evento que viu potencial para instigar a leitura na sua turma de 2º ano e como oportunidade de dar sequência ao trabalho que ela já havia realizado quando a mesma turma estava no 1º ano. a proposta foi apresentada à turma e cada aluno teve liberdade para escolher o texto que quisesse ler, independente do gênero, e se preparar para o sarau, que seria realizado por vídeos ou áudios gravados previamente. a diretora e outras professoras da escola também 74 se envolveram na ação e gravaram vídeos com leituras especiais para motivar as crianças. Durante o evento online foram compartilhados os vídeos das leituras das professoras e, por fim, a leitura dos estudantes. “a participação dos alunos me surpreendeu muito. aqueles que ainda não liam de forma convencional também participaram e deu para perceber que se prepararam para aquele momento”, lembra Kátia. “Foi muito gratificante ver até quem ainda não sabia ler, lendo a partir de um livro ou de um papel”. além de reforçar a leitura como uma importante aliada, o sarau elevou a autoestima dos alunos, que se prepararam para ler para os colegas. “Elas se sentiram valorizadas e 75 seguras, principalmente aquelas que ainda não sabiam ler totalmente e viram que podem e conseguem”, diz Kátia. a professora lembra, ainda que, a literatura é um dos fatores que colaboram para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. “Ela traz uma oportunidade de levar a criança a conhecer outros mundos, a adentrar lugares imaginários, a se colocar no lugar das personagens, a vivenciar situações como se fossem elas próprias as protagonistas”, pondera a professora. sonia também olhou para o emocional das crianças no início deste ano. Ela convidou as crianças para assistir com as famílias o filme Divertida Mente e, a partir dele, preparou uma sequência de atividades sobre as emoções. Entre 76 as propostas, as crianças tinham que identificar os sentimentos relacionados a cada uma das situações, como uma forma de conseguir dar nome ao que sentiam. "É um desafio muito grande estar a distância e acompanhar o que a criança precisa", afirma sonia. por isso, as professoras se mantêm conectadas às famílias e buscam, cada vez mais, essa parceria para garantir um olhar integral para os estudantes. 77 4 pontos para considerar no uso de tecnologia na Alfabetização Nesta etapa, as crianças ainda não desenvolveram autonomia para manusear, quando tem acesso, celulares ou computadores para um uso que não seja recreativo. por isso, vale: • Usar comandos simples. as orientações devem ser objetivas e a linguagem, simples. • Explorar áudios e vídeos. Eles facilitam a comunicação e explicação das atividades e também dão autonomia para que as crianças ouçam novamente as instruções. 78 • Escolha materiais de fontes confiáveis: ao fazer a curadoria do que será enviado para a turma, considere a confiabilidade e qualidade dos materiais. • Preze pela qualidade e não pela quantidade: a comunicação digital facilita o envio de informações e materiais diversos, mas se considere um curador e selecione aquilo que será acessível para elas. 79 Edição Laís Semis Texto Camila Cecílio, Paula Salas e Mara Mansani consultoria pedagógica Selene Coletti Diagramação Tiago Araujo ilustrações André Asahida N O Va E s c O l a • 2 0 2 1
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