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Farmacologia – Prof: Isis Ornelas – 06/08/21 FARMACOCINÉTICA I O que é Farmacologia? • Estudo dos efeitos dos fármacos no funcionamento de sistemas vivos • “Ramo da Ciência que estuda os medicamentos nos seus diferentes aspectos (história, origem, propriedades, efeitos fisiológicos e bioquímicos, mecanismos de ação, toxicidades, efeitos acessórios, incompatibilidades, etc.)” Na farmacologia, podemos estudar os sistemas – como os fármacos agem em cada um dos sistemas, farmacocinética, farmacodinâmica, farmacologia molecular, farmagenética, farmacologia clínica, etc.. O que é Droga, Fármaco e Medicamento? • Droga é uma substância química de estrutura conhecida, que não seja um nutriente ou um ingrediente essencial da dieta que, quando administrada a um organismo vivo, produz um efeito biológico. (não necessariamente um efeito ruim) Ex: cocaína, aspirina, etc. • Fármacos são drogas usadas com finalidades terapêuticas Ex: aspirina tem efeito terapêutico (diferente da cocaína) • Medicamento é uma preparação química, que contém uma ou mais drogas, (além de conservantes, corantes, etc) administradas com a intenção de produzir um efeito terapêutico Ex: Tylenol - é um medicamento que possui o paracetamol como fármaco e sabor como conservantes. O medicamento é mais completo, possui outros componentes para facilitar, permitir a administração daquele medicamento. A finalidade terapêutica envolve planejamento de tomada das doses, dosagem, via de administração específica, etc para chegar a um efeito terapêutico. Se for administrado incorretamente, fazer uso demais ou misturar pode ser nocivo e ter um efeito tóxico. O fármaco deve ser utilizado dentro do que é recomendado em uma situação clínica. Por que estudar farmacologia? R: a maior parte das terapias visando cura, alívio está baseado em fármacos, a chamada terapia farmacológica. Mas existem também outras terapias, como alimentação, massagem, meditação, acupuntura, exercício físico, etc. Por isso é essencial estudar a farmacologia. Farmacocinética De modo geral, a farmacocinética refere-se a todos os processos que o organismo faz com o fármaco. Ex: absorção do fármaco, distribuição dele pelo corpo, atinge o seu local de ação, metabolização, excretado, etc. A farmacocinética é particular de cada medicamento. Enquanto a farmacodinâmica relaciona-se com os eventos que o fármaco desencadeia no organismo pela sua interação com receptores específicos, por exemplo, originando o efeito farmacológico. Basicamente é o que o fármaco faz com que organismo. Dose do fármaco (pode ser administrado de diversas maneiras) - liberação e absorção - e distribuído para um compartimento central (a circulação sanguínea) e vai sendo distribuído para vários locais do corpo para começar a ação terapêutica. Se eles se ligarem em um local indesejado, pode causar efeitos colaterais. O fármaco pode parar em regiões que acabam “sequestrando” esse fármaco, ele fica em reservatórios residuais, vai se espalhando. Processo de Biotransformação ou Metabolismo – transforma o fármaco, o metaboliza - Principalmente as células do fígado por exemplo, tem-se enzimas que modificam o fármaco, modificam a estrutura química deles. Para que isso serve? Tem alguma consequência nisso? - A maioria dos remédios, a gente já absorve eles na sua forma ativa e vai sendo distribuídos, ligados, etc. - A maioria deles são xenobióticos – xeno são aquelas coisas estranhas ao nosso corpo. São coisas que a gente não faz, por exemplo nós não produzimos aspirina e o corpo fica querendo eliminar essas coisas que não deveriam estar lá. - Grande parte do metabolismo desses fármacos, que acontece no fígado, ela tem como consequência a modificação estrutural desse fármaco que permite duas coisas: a inativação do fármaco e a facilitar a eliminação do fármaco. Então, a biotransformação tem a função de: Inativar e ajudar a eliminar o fármaco. Isso acontece por modificações enzimáticas. Existem fármacos que eles são administrados na sua forma inativa, chamada pró-fármaco. Para essa categoria de fármacos, eles são administrados e quando passam pelo fígado e são transformados quimicamente e enzimaticamente, eles tornam-se são ativos. A biotransformação para a categoria de pró-fármacos tem a função de ativação dos mesmos. Esse mecanismo geralmente não acontece. Concomitantemente, a gente tem a excreção do fármaco, eliminação dele. Ele pode ser eliminado tanto na sua forma biotransformada, quanto ele é eliminado também na sua forma ativa, tem fármaco que é eliminado quase totalmente na sua forma ativa (depende de fármaco para fármaco). Esses processos não são necessariamente sequenciais, eles podem acontecer simultaneamente. Processos básicos da farmacocinética Em 4 processos: ADME - Absorção: transferência do fármaco do local administrado para a circulação sistêmica. - Distribuição: transferência do fármaco dos líquidos de circulação (sangue e linfa) – do compartimento central - para diversos tecidos e órgãos. Ele vai passando pelas células-alvo para gerar sua ação terapêutica. Chegou no acesso central e vai sendo distribuído pelo corpo - Metabolismo: conversão do fármaco em outra entidade química (que geralmente ocorre por ação de enzimas – concentradas principalmente no fígado). Grande parte do metabolismo ocorre no fígado. Lembrando que esse metabolismo ajuda a inativar e eliminar esses fármacos. Mas pode ativar o fármaco também, no caso dos pró-fármacos. - Eliminação ou excreção: remoção irreversível do fármaco no organismo, por via urinária (maior parte da eliminação dos fármacos ocorre por essa via), ou excretado pelas fezes, pela bile, pelo leite, pelo suor, pelo ar exalado pelos pulmões. (em menor quantidade) Os fármacos devem ser capazes de atravessar diversas barreiras, as barreiras celulares – para se movimentar no corpo. Como os fármacos atravessam as barreiras celulares? Para se movimentar pelos compartimentos do corpo, seja durante a absorção para acessar a circulação, ou atingir seus alvos farmacológicos, para penetrar nos néfrons e ser eliminado nos rins, ou para entrar nas células do fígado onde grande parte do metabolismo ocorre os fármacos encontram barreiras. Essas barreiras são essencialmente as membranas celulares. As membranas biológicas são formadas por uma matriz fosfolipídica com proteínas embebidas Para o fármaco entrar, precisa passar pela membrana plasmática da célula. Estrutura da membrana plasmática: • bicamada de fosfolipídios, proteínas (periféricas e transmembrana). • Cabeça dos fosfolipídicos: polar – interage com a água, que está fora • Cauda: formada por ácidos graxos – são apolar • Meio da membrana – é lipídico, hidrofóbico. Isso confirma a permeabilidade seletiva: Os compostos que forem hidrofóbicos, ou seja, lipofílicos (dissolvidos em lipídios) conseguem atravessar essa parte da membrana. Porém, se eles possuírem carga elétrica – ânion e cátion - e forem grandes, não conseguem ultrapassar a membrana. Só passam compostos, moléculas lipofílicas Como os fármacos atravessam as barreiras celulares? R: temos tipos de passagem Entre as células (não e comum, pois as mucosas, os revestimentos são bem presos), geralmente acontece com as coisas passando por dentro das células. • Fármacos lipídicos (ou hidrofóbicos) = passam direto (azul na imagem, atravessam sem ajuda) • Outros fármacos = proteínas de membrana • Alguns fármacos são grandes, como o caso dos anticorpos, as células fazem endocitose Os principais mecanismos vão ser a difusão simples e a ajuda de proteínas de membrana Difusão Simples: a passagem direta através da bicamada lipídica Moléculas apolares (hidrofóbicas) e pequenas moléculas polares não carregadas •Passagem direta através da bicamada lipídica •Não requer gasto de energia (passivo) •Depende de um gradiente e ocorre sempre a favor do gradiente de concentração (do lado mais concentrado para o menos concentrado) •Transporte rápido Diversos fármacos são ácidosou bases fracas que transitam entre suas formas ionizadas e não ionizadas Vários fármacos são ácidos e bases fracos. Ex: ácido acetilsalicílico – ácido fraco. Como podemos observar na imagem, o ácido acetilsalicílico é um ácido fraco e dessa forma, ele coexiste na forma neutra (sem carga – não ionizada) e na solução aquosa ela se dissocia em H + e um ânion do ácido acetilsalicílico. Isso ocorre para diversos medicamentos, que são ácidos ou bases fracas. Então, como visto na imagem, temos uma forma não ionizada – não tem carga – e a forma ionizada. O medicamento na sua forma não ionizada atravessa melhor a membrana? R: Sim, pois ele não tem carga. Como foi visto anteriormente, a forma ionizada, que tem carga é muito menos capaz de atravessar a membrana. A forma não ionizada (sem carga) atravessa melhor a bicamada lipídica do que as formas ionizadas Ácido fraco acetilsalicílico: tem a forma não ionizada – se dissocia em – H+ e um ânion (forma ionizada) Base fraca ionizada: base ligada ao H+ - se dissocia em base neutra (sem carga) + H+ Como saber se o fármaco está mais na forma ionizada ou não ionizada? Influência do pH nos fármacos ionizáveis Dependendo do pH da solução aquosa onde o ácido está, ele pode se apresentar mais em uma forma do que na outra. Na fórmula, temos: pKa = pH + log na base 10 da razão entre a forma ionizada sobre a não ionizada Pka = constante de ionização do ácido fraco e base fraca Na mesma proporção de forma ionizada e não ionizada: pKa = pH Ex: aspirina – pKa= 3,5. Isso quer dizer que se eu jogar aspirina em uma solução aquosa de pH 3,5 e for medir, metade estará na forma ionizada e metade na forma não ionizada. Se jogar ela numa solução mais ácida ou uma solução mais básica, ela terá outra distribuição. Exemplo 1: - pKa = 4,4 - Composto ácido - Ele foi colocado em um ambiente com pH menor que o pKa, em um pH de 1,4 (muito baixo) Em um pH super baixo, temos muito H+, ou seja, no suco gástrico tem muito H+. Esse excesso de H+ vai levar a reação para o sentido de consumir esse H+, ou seja, vai deslocar a equação para esquerda. Então ambiente do suco gástrico, iremos encontrar mais na forma não ionizada. Quando o pH for menor que o coeficiente ionizante, o ácido fica mais na forma não ionizada e fica mais propenso a passar pela barreira. Quando o pKa mais alto que o pH, terá menos H+. Nesse caso, a equação será deslocada para direita, para ficar em equilíbrio a concentração de H+ e vai tender a ficar na forma mais ionizada (no caso do plasma – olhar a figura acima). - Aprisionamento do íon Influência do pH no ácido fraco HA H+ + A-⇄ Um ácido fraco tende ficar predominantemente em sua forma ionizada (aprisionado) em pH mais básico Laranja: forma ionizada Vermelho: forma não ionizada - Suco Gástrico: forma ionizada na mesma proporção da não ionizada - Plasma: forma ionizada em maior proporção. Quanto mais alto for o pH, mais a forma ionizada é favorecida. O conceito de aprisionamento do íons funciona da seguinte maneira: Na urina por exemplo, temos um pH alto, isto é, uma concentração maior da forma ionizada. Como a forma ionizada tem uma dificuldade de ultrapassar a membrana, ela fica aprisionada na urina (e isso sim favorece a eliminação do ânion – pela urina). Uma urina mais alcalina comparada com o plasma, favorece a eliminação de ácidos fracos. Em caso de superdosagem da aspirina, uma das estratégias utilizadas é alcalinizar a urina (dar bicarbonato) para que consiga eliminar o ácido fraco – que nesse caso é a aspirina – que está em grande quantidade. Influência do pH na base fraca BH+ B + H+ ⇄ Uma base fraca tende ficar predominantemente em sua forma ionizada (aprisionada) em pH mais ácido Lilás: forma ionizada Roxo: forma não ionizada - Urina: quase um equilíbrio (pelo pKa e pH), mas ainda acaba tendo mais na forma ionizada – pH um pouco abaixo do pKa. Quanto menor for o pH (meio mais ácido), mais a base ionizada será favorecida. Ocorre o contrário do ácido! O ácido fica aprisionado em um pH alto, acima do seu pKa, enquanto a base fica aprisionada em um pH baixo, abaixo do seu pKa. - A maioria das substâncias são absorvidas no duodeno – intestino delgado. Consequências da partição pelo pH • A acidificação da urina acelera a eliminação de bases fracas, uma vez que ocorre o aprisionamento da forma ionizada no interior do néfron, e retarda a de ácidos fracos • A alcalinização da urina acelera a eliminação dos ácidos fracos. Ex. intoxicação por aspirina (como explicado anteriormente) • O aumento do pH do plasma (pela administração de bicarbonato de sódio por exemplo), faz com que ácidos fracos sejam direcionados ao plasma em detrimento do SN • A cloroquina, um fármaco antimalárico que é uma base, tende a ser aprisionada nos compartimentos ácidos digestivos do parasita onde exercendo seu efeito farmacológico – não deixa o parasita exercer as funções digestivas, deixa de se alimentar de hemoglobina. - Na base fraca, quanto mais alcalino (como no ambiente intestinal) mais fácil ela vai penetrar na membrana. - A partir do estudo desses mecanismos, podemos traçar estratégias para aumentar ou retardar a eliminação pela urina. - As bases e ácidos fracos vão passar na membrana na sua forma não ionizada, enquanto a forma ionizada ficará aprisionada em algum lugar. Como os fármacos atravessam as barreiras? Nem só de difusão simples vivem os fármacos. Os fármacos que são polares, que possuem carga não vão atravessar a membrana por difusão simples. Na membrana temos transportadores, que são proteínas integrais de membrana, que são capazes de carregar um soluto, nesse caso os fármacos através da membrana. Relembrando: Difusão facilitada= a proteína transmembrana/carregador, ele se liga ao fármaco de um lado da membrana, causam mudanças conformacionais que fazem desligar o fármaco (qualquer soluto a qual ele tenha afinidade) do outro lado da membrana. Ela vai transportar uma molécula de um lado para outro da membrana e sem gasto nenhum de energia – a favor do gradiente de concentração, o chamado transporte passivo. Esses carreadores são moléculas que reconhecem seletivamente esses solutos a serem transportados, a afinidade entre eles. Mas algumas são transportadas contra o seu gradiente de concentração, e nesse caso é preciso gastar energia. Temos dois tipos de transporte ativo: • Primário: a proteína que faz o transporte quebra ATP, gasta diretamente ATP para fazer o transporte. Ex: bomba de sódio e potássio – joga 3 sódio para fora e 2 potássio para dentro – ambos contra o gradiente de concentração, e nesse processo quebra ATP. Bomba de prótons = acidifica a membrana, bomba de cálcio = joga cálcio para o retículo e para mitocôndria, transportadores ABC, etc. • Secundário: a proteína não quebra o ATP diretamente, ela usa o gradiente que já foi formado, por exemplo, ela usa o sódio que está bem mais concentrado do lado de fora da membrana e que vai entrar na membrana para mover outra molécula contra o gradiente (pode sair ou entrar, desde que seja contra o gradiente). A proteína não gasta energia por si só, ela usa um gradiente já preestabelecido com o gasto de energia. (transporta mais de um soluto ao mesmo tempo, sendo que o soluto está a favor do gradiente – geralmente é o sódio e o outro vai contra “pega carona”). ◦ Uniporte: transporta uma molécula só. ◦ Co transporte: transporta mais de uma vez. ◦ Simporte: manda as duas coisas para o mesmo lado. (amarelo na imagem) ◦ Antiporte: uma vai para dentro e outra para fora. (rosa na imagem) Transportadores de membrana nas vias farmacocinéticas Vários fármacos precisam passar, atravessar as membranas com a ajuda de transportadores de membrana, não passam direto para a membrana. Esses transportadores estão presentes em células de diversos tecidos. Temos transportadores no intestino – que vão ajudar na absorção dessas moléculas, no coração, no pulmão, no cérebro, na glândula mamária,nos rins, no fígado, etc. Esses transportadores vão auxiliar na movimentação e distribuição também dos fármacos, que possuem afinidade. Isso é relevante para a absorção, distribuição entre órgãos e tecidos, excreção, para entrar no fígado e ser metabolizado, etc. Transportadores de membrana • Transportadores SLC (solute carrier family), que compreende mais de 300 transportadores de membrana conhecidos. 52 famílias SLC Não são bombas, são carreadores e que podem fazer tanto o uniporte e fazem a difusão simples, ou eles podem transportar mais de um soluto ao mesmo tempo – transporte secundário (e não quebram diretamente o ATP). Eles possuem muita relevância pois são importantes para transportar os fármacos, para que eles se movimentem mas também porque esses transportadores são alvos farmacológicos de alguns medicamentos. Alguns medicamentos agem inibindo a atividade de alguns fármacos. Ex: inibidores de recaptação de serotonina – fluoxetina. A fluoxetina é um antidepressivo dessa classe de inibidores, e o que o fármaco faz é inibir o transportador de serotonina no cérebro. Resumindo: SLC são proteínas transportadoras transmembrana que se ligam ao soluto de um lado, mudam a conformação e desligam do outro. Não quebram ATP diretamente e podem fazer transporte ativo secundário (co transporte ou uniporte, como mostrado na imagem). • Transportadores ABC (ATP Binding Cassete), que compreende a glicoproteína P e MDR1 – multidrug resistance) Essas proteínas possuem dois cassetes de interação com o ATP, elas quebram ATP para fazer transporte ativo primário e elas estão envolvidas em fenômenos bem conhecidos. Ex: algumas células de câncer expressam esses transportadores e quando o quimioterápico entra na célula, o transportador joga ele para fora. Elas se tornam resistentes a quimioterápicos. Possui estrutura dupla (como na figura) Geralmente a droga é jogada para fora, mas quando a droga entra ela se liga ao transportador (situação 2 na figura) e a quebra d ATP geram mudanças conformacionais nessa proteína e joga o fármaco para outro lado da membrana. - Ele confere resistência à droga, porque basicamente quando a droga entra ele expulsa ela. Trasnporte ABC: - Intestino: ajuda na absorção e eliminação de algumas drogas - Fígado: ajuda no transporte de algumas moléculas para o fígado - Rim: ajudam na excreção de alguns compostos - Barreira hematoencefálica: semelhante a cancerígena, esses transportadores ficam jogando determinadas coisas para fora do sistema nervoso, joga de volta no plasma. Não são todos os fármacos que penetram no sistema nervoso, eles precisam ser bem hidrofóbicos. Tem alguns que são hidrofóbicos e os transportadores ABC jogam ele para fora. Tem-se alguns transportadores ABC na placenta também, para jogar algumas coisas de volta para o sangue da mãe. - Os transportadores ABC normalmente transportam compostos neutros (que passariam facilmente pela membrana) ou catiônicos grandes, vários xenobióticos e jogam esses compostos contra o seu gradiente de concentração (concentrando o outro lado). - SLC6 – muito importantes pois são transportadores de neurotransmissores Os transportadores não transportam só fármacos, eles também participam da fisiologia. Alguns transportadores são de fato alvos farmacológicos de medicamentos conhecidos, como visto na tabela acima. Processos básicos da Farmacocinética ADME – Absorção Transferência de um fármaco do seu local de administração para o compar1mento central (plasma) Nem toda dose que dá para o paciente vai atingir a circulação sistêmica – para o sangue. Assim, criou-se o conceito de biodisponibilidade. Biodisponibilidade (F) Percentual com que a dose administrada do fármaco atinge um líquido biológico (circulação sistêmica - plasma) Quando um fármaco é injetado direto na veia, a biodisponibilidade dele é 100%, pois não passa pelo processo de absorção – foi direto para o sangue. Biodisponibilidade varia com a via de administração do fármaco A via oral é a mais conveniente, porém a biodisponibilidade varia muito, assim como a via retal, inalatória, etc. A via intravenosa é a mais eficaz, porém nem sempre é a mais vantajosa. Ex: alguns medicamentos não precisam ter eficácia tão rápido, é preciso que seja distribuído lentamente. A via de administração adequada vai depender da demanda daquela terapia que foi estabelecido pelo paciente. Lembrando: Estamos falando de dosagem, concentração (mg) e não volume (ml). Ex: É fácil injetar 10ml intravenoso, consegue até muito mais, mas não consegue injetar 10ml intramuscular, muito menos subcutâneo. Principais vias de administração de fármacos: • Oral • Retal • Sublingual • Injeção (parenteral – o que não passa pelo TGI, pelo digestivo) - Intravenosa - Intramuscular - Intradérmica - Intratecal • Inalação • Aplicação tópica: - Cutânea (passa pomada, adesivo) - Colírios Existem também aplicação tópica em mucosas, como, por exemplo, cremes vaginais, que são inseridos na mucosa vaginal e possuem uma ação local. Via oral – Via de administração mais comum • Ingestão do medicamento – coloca na boca e engole • Vantagens: - Seguro, conveniente e econômico – permite a autoadministração do paciente com muita facilidade. - Via de fácil aceitação e a mais usada • Desvantagens: - Absorção limitada de alguns fármacos, pois eles têm que ser solúveis a água e nem todos são. - Ambiente “hostil” com pH ácido e enzimas digestivas – tem fármaco que vai ser degradado no estômago por exemplo, um peptídeo. - Bactérias do TGI podem metabolizar os fármacos (antes mesmo de ser absorvido). Essas desvantagens diminuem a biodisponibilidade. • A absorção pelo TGI é limitada por fatores como área absortiva disponível, fluxo sanguíneo na superfície absortiva, forma física do medicamento (solução, suspensão ou preparação sólida – por exemplo, para que o medicamento resista esse ambiente hostil do estômago e libere o conteúdo no intestino), hidrossolubilidade e concentração Ex: Fluxo sanguíneo – quando a pessoa está relaxada, depois que comeu por exemplo, o sistema nervoso parassimpático é estimulado e aumenta o fluxo de sangue para o TGI, para a absorção. Por outro lado, em uma situação de fuga e luta, o sistema simpático é estimulado e vai diminuir a absorção. • Absorção estômago X intestino - pH e área absortiva - Esvaziamento gástrico – regula a taxa de absorção. Se acelerar o esvaziamento gástrico, acelera também a absorção pois vai para o intestino delgado mais rápido. A área absortiva do estômago é muito menor que a área do intestino, ele não possui as microvilosidades que o intestino tem. O intestino tem uma superfície de absorção de cerca de 200m2. Então na prática, muitos medicamentos mesmo sendo ácidos fracos ou não, a maioria deles serão absorvidos no lúmen intestinal – intestino delgado. Via oral e efeito de primeira passagem - Sistema porta hepático. O sangue que sai do trato digestivo, quando temos a absorção os nutrientes e fármacos vão todos para o sangue. Esse sangue antes de entrar na circulação sistêmica, ele vai para o fígado. Resumindo: o sangue vai do intestino para o fígado antes de entrar na circulação sistêmica, e levando todos os nutrientes e fármacos abosrvidos. - Os medicamentos absorvidos no intestino delgado passam primeiro pelo fígado onde podem ser metabolizados antes de atingir a circulação sistêmica – Para os pró fármacos isso é ok, pois eles vão passar e ser ativados porém na maioria dos fármacos vão ser metabolizados antes mesmo de passar pela circulação sistêmica. Excesso de medicação, álcool, etc tudo é metabolizado no fígado e pode sobrecarregá-lo, levando a hepatite. - Redução da biodisponibilidade Esse efeito de primeira passagem pode ser um mecanismo de defesa, freando os compostos que ingerimos. Administração sublingual O medicamento vai ser solubilizado embaixo da língua e serão absorvidos dessa forma. Possui uma absorção rápida. • Superfície de absorção pequena • Altamente vascularizada• Drenagem da boca pela veia cava superior (escapa do efeito de primeira passagem) – aumenta a biodisponibilidade do fármaco • Dependência da solubilidade Ex: medicamentos como nitroglicerina, administrada a pacientes que estão com angina, infarto do miocárdio, etc. Via retal • Efeito de primeira passagem menor quando comparada com a via oral – nem todos os medicamentos via reto vão sofrer com o efeito de primeira passagem. • Absorção irregular e incompleta • Irritação da mucosa • Ex. Opióides (para aliviar a dor) em pacientes em cuidados paliativos, também é usado na pediatria. Os famosos supositórios. Injeção parenteral – fora do sistema digestivo • Administração da dose com mais precisão (exata) • Maior biodisponibilidade • Não sofrem efeito de primeira passagem no fígado • Permite a administração em pacientes inconscientes • Usada também para fármacos pouco absorvidos no trato GI (TGI) (ex. heparina) e para os que são instáveis no TGI (ex., insulina) Absorção rápida. • Necessidade de assepsia • Dor e incômodo Injeção parenteral: Intravenosa • Medicamento é introduzido diretamente nas veias • Doses únicas (bolus) ou infusão contínua – é mais incômodo pois depende que tenha um acesso venoso que se mantém ali. • Biodisponibilidade total (F=1) – 100% • Permite administração de soluções irritantes (fármaco se dilui rapidamente) • Exige determinação cuidadosa da dose • Manutenção do acesso para administração contínua • Não podem ser usados fármacos que causam hemólise, trombose ou precipitam Injeção parenteral: Intramuscular Normalmente são usados o deltoide, glúteo, região dorsoglútea, vasto lateral (na perna) • Medicamento é introduzido diretamente nos músculos • Podem estar em soluções aquosas, que são absorvidas rapidamente, ou em preparações especializadas de depósito, que são absorvidas lentamente • Volumes relativamente “grandes” (2, 3, 4mL) – não se compara com a intravenosa Ex: utilizada para aplicação de antibióticos (como a penicilina), corticoide, vacinas, etc. Injeção parenteral: Subcutânea – boa disponibilidade e não tem efeito de primeira passagem • Oferece absorção por difusão simples e é mais lenta do que a via IV. • Minimiza os riscos de hemólise ou trombose associados à injeção IV • Pode proporcionar efeitos lentos, constantes e prolongados. • Não deve ser usada com fármacos que causam irritação do tecido (pode causar necrose) • Fármacos administrados comumente por via SC incluem insulina e heparina. Injeção parenteral: Intratecal • Injeção do medicamento no espaço subaracnóideo – para passar na barreira hematoencefálica • Efeito rápido e não tem metabolismo de primeira passagem • Usado para medicamentos cuja ação é no SNC que “não atravessariam” a BHE ou seriam exportados (como pelo transportador ABC) • Analgésicos, anestésicos e quimioterápicos Na coluna espinal ou até mesmo no encéfalo. Inalação • Usado para fármacos gasosos voláteis – fármacos entram nas vias aéreas • Absorção ocorre através do epitélio pulmonar e das vias aéreas – entram nos capilares e vão para circulação sistêmica • Absorção rápida (grande área absortiva) • Escapa do metabolismo de primeira passagem hepático • Anestésicos voláteis e gasosos, glicocorticoides, broncodilatadores • Insulina inalável: Afrezza – epitélio pulmonar absorve alguns peptídeos Aplicação tópica: Cutânea – creme, adesivo • Efeito local na pele ou sistêmico limitado (absorção transdérmica) • Usado para esteroides tópicos (local) • Adesivos de nicotina, testosterona ou estrogênio, nitroglicerina, escopolamina (sistêmico) – são bem lipossolúveis e vão passando pelas camadas da derme, epiderme, etc. • Risco de intoxicação acidental pela absorção de substâncias altamente lipossolúveis (ex. inseticidas organofosforados) Aplicação tópica: Colírios • Absorção pelo epitélio do saco conjuntival • Usado para efeitos locais (ex. dorzolamida para glaucoma) • Pode ocorrer alguma absorção sistêmica (ex. timolol e causa broncoespasmos)
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