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Ação revisional FGTS

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA __ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE JABOATÃO/PE
JAIMESON FREIRE DA SILVA, brasileiro, inscrito no RG nº 4.503.238, CPF nº 962.880.864-87, residente e domiciliado na Rua Travessa da Bandeira, 6, Cavaleiro, Jaboatão dos Guararapes, CEP: 54.250-111, sem endereço eletrônico, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, através de seus procuradores signatários, propor a presente:
AÇÃO REVISIONAL DE FGTS
(DIFERENÇA DE CORREÇÃO MONETÁRIA)
Em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa pública, inscrita no CNPJ sob nº 00.360.305/0648-54, com sede no Praça Nossa Sra. do Rosário, 520 - Centro, Jaboatão dos Guararapes - PE, 54110-130, com endereço eletrônico desconhecido, pelos fatos e fundamentos de direito que a seguir passa a expor:
I – DOS FATOS
A parte autora foi optante do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, entre 1º de janeiro de 1999 e a presente data, possuindo diversas contas vinculadas ao fundo ao longo de sua vida laboral, conforme cópias da CTPS e extrato analítico do FGTS, em anexo.
Nesse contexto, a entidade ré, enquanto administradora do fundo, vem lesando a demandante desde o ano de 1991, ao aplicar ao saldo das contas de FGTS, como índice de correção monetária, a Taxa Referencial (TR).
Não se desconhece, por oportuno, que a Lei nº 8.036/90, que rege o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, prevê que a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL deve depositar nas contas de FGTS a correção monetária e os juros devidos. Já a Lei 8.177/91 prevê que, a partir de fevereiro de 1991, o FGTS deve ser remunerado pela taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança e pelas taxas de juros previstas na legislação do FGTS em vigor, sendo essas taxas de juros, consideradas como adicionais à remuneração pela taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança.
Ocorre que a taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança desde 1991 é a Taxa Referencial (TR), que, conforme já decidido pelo Supremo Tribunal Federal, não é índice de correção monetária (ao passo que não reflete a inflação do período).
Desde o ano de 1991, portanto, a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL deixou de aplicar índice de correção monetária as contas de FGTS, aplicando apenas os juros remuneratórios consistentes na Taxa Referencial, acrescida dos juros legais previstos na legislação do FGTS.
De outro lado, tendo em vista que a TR não reflete a inflação, e que desde 1999 se encontra progressivamente abaixo dos índices inflacionários, com diferença de até 6% ao ano, a utilização dos índices da TR como índice de correção monetária vem causando sérios prejuízos à parte que aqui se socorre, não restando alternativa senão a socorrer-se ao judiciário.
A parte autora, a seu turno, possui várias contas vinculadas ao FGTS, sendo as inscrições, merecendo ser revisadas.
Dessa forma, impõe-se ao Poder Judiciário que, reconhecendo a ilegalidade da aplicação da Taxa Referencial (TR) às contas do FGTS, determine à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL a correta recomposição dos créditos depositados, nos termos da fundamentação a seguir, bem como que efetue o pagamento das respectivas diferenças, a serem apuradas em liquidação de sentença.
Esta, portanto, é a realidade fática.
II – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
O autor não possui condições de pagar as custas e despesas do processo sem prejuízo próprio ou de sua família, conforme declaração de hipossuficiência em anexo, com fundamento no artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal e art. 98 do Código de Processos Civil.
Desse modo, o instituto da gratuidade de justiça visa garantir o acesso ao Poder Judiciário, direito constitucional, àqueles que não possuem recursos suficientes para arcar com as custas e despesas inerentes a tal direito.
Logo, requer seja concedida a gratuidade de justiça ao requerente, nos termos do art. 98, do Código de Processo Civil, e Lei 1.060/50.
III – PRELIMINARMENTE
A) DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Antes de adentrar no âmago da questão, propriamente, há de se consignar que, através do art. 7º, da Lei 8.036/1990, o legislador atribuiu à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL a competência de administrar e operar o FGTS, sendo, a partir da qualidade antes expressa, a legitimidade para figurar no polo passivo.
Ainda, instado a se manifestar sobre a questão, o Superior Tribunal de Justiça emendou a Súmula nº 249, com o seguinte texto: “a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL tem legitimidade passiva para integrar processo em que se discute correção monetária do FGTS”.
Neste sentido, consoante entendimento já consolidado na jurisprudência pátria, e conforme emerge da lei, é incontroverso que a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL é parte legítima para figurar no polo passivo da presente demanda.
B) DA AUSÊNCIA DE PRESCRIÇÃO
No que se refere ao prazo prescricional, registra-se que o lapso temporal para se invocar o direito ora pleiteado (revisão do FGTS) é trintenário (30 anos), conforme entendimento já pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termos da Súmula nº 210, in verbis: 
Súmula nº 210, STJ: a ação de cobrança das contribuições para FGTS prescreve em (30) trinta anos.
[Grifo nosso]
Por esta razão, verifica-se, de plano, que a pretensão ora formulada não está alcançada pela prescrição trintenária antes citada, tendo em vista que, conforme o laudo anexo, os créditos das contas vinculadas ao FGTS passaram a ser erroneamente corrigidos pela Taxa Referencial (TR) a partir de 1999.
IV – DO MÉRITO
A) DO FGTS COMO PROPRIEDADE DO TRABALHADOR E DA CORREÇÃO MONETÁRIA COMO SUA GARANTIA
A Constituição Federal garante ao trabalhador, dento dos direitos sociais, a formação de um Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS (art. 7, inciso III), cuja principal finalidade é a proteção contra a despedida sem justa causa. Em 1966, através da Lei n
º 5.170, ficou instituído o fundo, e, em 1990, este passou a ser regido pela Lei nº 8.036, atribuindo à entidade ré a qualidade de agente operador do fundo (art. 7º). 
O FGTS, por função, visa proteger o trabalhador, com a garantia de que terá uma reserva financeira em casos de necessidade, como no desemprego involuntário, ou para facilitar a aquisição de imóvel ou ainda para garantir melhores condições na velhice ou em caso de doença, como ocorre na hipótese de aposentadoria.
Por esta razão, para que se efetive o intuito de proteger o trabalhador, é imperioso que os depósitos em conta vinculada de FGTS sejam atualizados por índice de correção monetária que garanta a recuperação do valor da moeda frente ao processo inflacionário ocorrido durante o período em que o dinheiro permaneceu aplicado na conta de FGTS, sob responsabilidade da entidade ré.
Conforme entendimento já pacificado pelo Superior Tribunal do Trabalho, os depósitos (de FGTS) constituem salário diferido, sendo incontestável a natureza de crédito trabalhista, advindo da imposição estatal de poupança forçada, a fim de amparar o trabalhador em situações excepcionais, como a despedida arbitrária ou aposentadoria, por exemplo.
Portanto, ao ser depositado em conta vinculada, o valor a título de FTGS passa a incorporar o patrimônio jurídico do trabalhador (embora de posse do agente operador), motivo pelo qual deve incidir a proteção constitucional ao direito de propriedade (art. 5º, XXI, CF).
Diante desta perspectiva, ao se reconhecer a natureza de poupança forçada do seu patrimônio, os valores depositados em contas do FGTS, evidentemente, devem receber correção monetária, a fim de garantir a própria subsistência do direito de propriedade.
Quanto à matéria, por oportuno, o Ministro Gilmar Mendes, em brilhante passagem de sua obra, discorreu sobre a propriedade e a sua correlação à correção monetária, senão vejamos: 
Constitui autêntico truísmo ressaltar que, hodiernamente, coexistem, lado a lado, o valor da moeda, conferido pelo Estado, e o seu valor de troca interno e externo. Enquanto o valor nominal da moeda se mostra inalterável, salvo decisão em contrário do próprio Estado, o seu valor de troca sofrealterações intrínsecas em virtude do processo inflacionário ou de outros fatores que influem na sua relação com outros padrões monetários. [...] A amplitude conferida modernamente ao conceito constitucional de propriedade e a ideia de que os valores de índole patrimonial, inclusive depósitos bancários e outros direitos análogos, são abrangidos por essa garantia estão a exigir, efetivamente, que eventual alteração do padrão monetário seja contemplada, igualmente, como problema concernente à garantia constitucional da propriedade.[footnoteRef:1] [1: MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO, Inocêncio Martires. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 433-436.] 
[Grifo nosso]
O que se depreende, na espécie, é que não se trata de beneficiar alguém, mas tão somente evitar que a perda do valor da moeda implique no empobrecimento de uma das partes, quer seja o beneficiário do FGTS. Se conhecido o índice de depreciação do valor real da moeda, é ele que por inteiro vai recair sobre a expressão financeira do instituto jurídico protegido.
Nesta perspectiva, a não aplicação da correção monetária, idônea a refletir o processo inflacionário, acaba por ferir o direito de propriedade do trabalhador, tendo em vista que seus depósitos na conta de FGTS não podem ser sacados a qualquer momento, nem transferidos a outra aplicação mais rentável. Dessa forma, o ato praticado pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL acarreta enriquecimento ilícito, já que, no final das contas, irá lucrar com as diferenças não repassadas ao trabalhador.
Soma-se, ainda, que o FGTS foi criado com objetivo de proteger o trabalhador, com a garantia de que terá uma reserva financeira em casos de necessidade, como no recente saque emergencial. Se o trabalhador não possui livre disposição de sua reserva financeira, somente podendo dispor dela em momento posterior, a não incidência de correção monetária capaz de refletir a inflação obviamente acarreta prejuízo flagrante a seu direito de propriedade.
Por estra razão, para que se efetive o intuito de proteger o trabalhador, é imperioso que os depósitos em conta vinculada de FGTS sejam atualizados por índice de correção monetária que garanta a recuperação do valor da moeda frente ao processo inflacionário, durante o período em que o dinheiro do trabalhador permaneceu aplicado em conta vinculada, de posse da entidade ré.
B) DA INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DA TAXA REFERENCIAL (TR) COMO CRITÉRIO DE CORREÇÃO MONETÁRIA
A partir do exposto no tópico anterior, o FGTS, enquanto salário diferido, de natureza trabalhista, possui o caráter de propriedade do trabalhador, motivo pelo qual deve ser atualizado de modo a não perder valor frente à desvalorização da moeda.
Em se tratando de índices de correção do FGTS, a matéria está disciplinada na Lei nº 8.036/90, em seu art. 13, como também na Lei nº 8.177/91, no art. 17, que assim prescrevem:
Art. 13, Lei nº 8.036/90: Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e capitalização juros de (três) por cento ao ano.
Art. 17, Lei nº 8.177/91: A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança com data de aniversário no dia 1º, observada a periodicidade mensal para remuneração.
[Grifo nosso]
Desta forma, em apertada síntese, os saldos constantes nas contas vinculadas estão sujeitos a dois parâmetros: (a) capitalização de juros, no patamar de 3% (três por cento) a.a., e (b) atualização monetária, equivalente aos “parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de poupança”, denominada Taxa Referencial (TR).
Neste cenário, o segundo parâmetro, enquanto índice de correção monetária, deveria ser responsável por manter o valor da moeda no presente, o que, de fato, não ocorre. Valer-se da Taxa Referencial (TR), na espécie, implica em não adotar critério de atualização monetária capaz de refletir idoneamente o fenômeno inflacionário, não se atingindo o fim a que se destina.
Isso se dá porque, inicialmente, a TR foi criada para remunerar as cadernetas de poupança com a expectativa de inflação futura no período de aplicação, no lugar da inflação passada. Desindexava-se, assim, a caderneta de poupança (principal ativo financeiro na época) dos índices de inflação passada.
Com efeito, a Lei nº 8.177, de 1990, em seu art. 1º e parágrafos, determina os critérios de fixação da Taxa Referencial (TR), conforme:
Art. 1º. O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado Federal.
§ 1º - (Revogado)
§ 2º - As instituições que venham a ser utilizadas como bancos de referência, dentre elas, necessariamente, as dez maiores do País, classificadas pelo volume de depósitos a prazo fixo, estão obrigadas a fornecer as informações de que trata este artigo, segundo normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, sujeitando-se a instituição e seus administradores, no caso de infração às referidas normas, às penas estabelecidas no art. 44 da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964.
§ 3º - Enquanto não aprovada a metodologia de cálculo de que trata este artigo, o Banco Central do Brasil fixará a TR.
A metodologia, hoje vigente, é a que se encontra no parágrafo terceiro do diploma acima transcrito, na forma da Resolução nº 3.354, de 31 de março de 2006. No entanto, conforme será demonstrado, a Taxa Referencial (TR) não serve como índice de correção monetária, nem sequer vem atualizando os valores das contas do FGTS, consoante determina a lei que o rege.
Tanto é verdade que o Supremo Tribunal de Federal, ao enfrentar o tema da natureza jurídica da Taxa Referencial (TR), através da ADI nº 493-0/DF, consignou o seguinte:
A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda.
[Grifo nosso]
Nesta oportunidade (julgamento da ADI), o STF reconheceu que a Taxa Referencial (TR) possui a natureza de taxa de juros, tão somente, o que fere diretamente a legislação que trata dos rendimentos do FGTS, quer seja de manter o poder aquisitivo do capital das contas vinculas. A ementa da ADI, a seu turno, possui a seguinte redação:
Ação direta de inconstitucionalidade. Se a lei alcançar os efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai interferir na causa, que é um ato ou fato ocorrido no passado. O disposto no artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva. Precedente do STF. Ocorrência, no caso, de violação de direito adquirido. A taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda. Por isso, não há necessidade de se examinar a questão de saber se as normas que alteram índice de correção monetária se aplicam imediatamente, alcançando, pois, as prestações futuras de contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no artigo 5º, XXXVI, da Carta Magna. Também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o critério de reajuste das prestações nos contratosjá celebrados pelo sistema do Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional (PES/CP). Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18, "caput" e parágrafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da Lei 8.177, de 1 de maio de 1991. (ADI 493, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 25/06/1992, DJ 04-09-1992 PP- 14089 EMENT VOL-01674-02 PP-00260 RTJ VOL-00143-03 PP-00724)
[Grifo nosso]
Portanto, resta-se claro que a Taxa Referencial (TR), enquanto índice de correção monetária, não é meio idôneo para atingir sua finalidade, eis que não reflete a desvalorização da moeda frente à inflação. Em outras palavras, isso quer dizer que o dinheiro oriundo dos depósitos de FGTS, de propriedade do trabalhador, perde valor econômico (poder aquisitivo) pelo mero transcurso do tempo.
Ao certo, por muito tempo, apesar de nunca ter sido fixada em percentual correspondente à inflação, a Taxa Referencial (TR) esteve muito próxima dos indicadores INPC e IPCA, pois o redutor aplicado a ela era razoável e visava, efetivamente, corrigir o valor do capital. Entretanto, a partir do ano de 1999, o índice da TR deixou de crescer no mesmo ritmo dos demais indexadores, evidenciando que não está havendo a efetiva correção monetária nos termos da lei.
A partir da análise das tabelas de indicadores em anexo, até o ano de 1999, a Taxa Referencial (TR) evoluiu em taxas semelhantes às do INPC e do IPCA, em um patamar de crescimento muito próximos. Após aquele ano, contudo, o INPC e IPCA continuaram no mesmo ritmo de crescimento, mas a TR teve seu crescimento desacelerado, chegando praticamente à estagnação em 2012.
A alteração na evolução dos indicadores da Taxa Referencial (TR) não está relacionada exclusivamente às oscilações da economia, mas principalmente à metodologia de cálculo que vem sendo adotada pelo Banco Central, o qual tem por lei (artigo 1º da Lei n. 8.177/91 e artigo 5º da Lei n. 10.192/01) a atribuição de regulamentação da metodologia de cálculo do referido indicador.
A referida instituição, então, passou a calcular a Taxa Referencial (TR) a partir da remuneração mensal média dos certificados e recibos de depósito bancário (CDB/RDB), emitidos pelas 30 maiores instituições financeiras (a partir da Resolução nº 4.240, de 28 de junho de 2013, esse número passou a ser de 20) e de um redutor, determinado por resolução do Conselho Monetário Nacional, independentemente de qualquer previsão legal.
A TR, a seu turno, é a taxa que resulta, com a utilização das complexas e sucessivas fórmulas contidas na Resolução nº 1085 do Conselho Monetário Nacional, e que deveria cumprir a função de índice de correção monetária. Segundo voto do Ministro Moreira Alves, na ADI 4425, no sentido de que a TR não mais reflete idoneamente o fenômeno inflacionário:
A variação dos valores das taxas desse custo prefixados por essas entidades decorre de fatores econômicos vários, inclusive peculiares a cada uma delas (assim, suas necessidades de liquidez) ou comuns a todas (como, por exemplo, a concorrência com outras fontes de captação de dinheiro, a política de juros adotada pelo Banco Central, a maior ou menor oferta de moeda), e fatores esses que nada têm que ver com o valor de troca da moeda, mas, sim – o que é diverso -, com o custo da captação desta.
O que se conclui, portanto, é que o § 12 do art. 100 da Constituição Federal acabou por artificializar o conceito de atualização monetária. Conceito, este, que está ontologicamente associado à manutenção do valor real da moeda frente à inflação. Valor real que só se mantém pela aplicação de índice que reflita a desvalorização dessa moeda em determinado período, o que, de fato, não veio a ocorrer a partir 1999.
Dessa forma, a lei que rege o FGTS é clara ao garantir, em seu art. 2º, a atualização monetária e os juros dos fundos vinculados. Quando a TR é igual a zero, em virtude do referido redutor, ou desproporcional em relação à inflação, há violação ao mencionado dispositivo de lei, e o patrimônio constituído pelo trabalhador é subtraído e indevidamente utilizado pela empresa pública que tem o dever legal de administrá-lo.
Os danos ocasionados aos assalariados (ou àqueles aposentados ou desempregados) em virtude da indexação do FGTS ao TR são graves e evidentes. Mesmo com a incidência de juros de 3% (três por cento) ao ano, desde 2002 o fundo vem rendendo menos que a inflação.
A matéria, a seu turno, encontra-se sob crivo do Supremo Tribunal Federal – STF, através do julgamento da ADI 5090 (sem data designada), o qual afetará todos os processos em trâmite no que se refere ao rendimento do FGTS. Portanto, a presente demanda deve respeitar a decisão que será emanada pela Corte Suprema.
A Taxa Referencial (TR), portanto, não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda, motivo pelo qual deve ser afastado por este juízo.
C) DA CORREÇÃO MONETÁRIA DO FGTS
Como visto, a partir do ano de 1999, com a nova metodologia adotada pelo Banco Central, a Taxa Referencial (TR) não vem mais corrigindo monetariamente os depósitos vinculados às contas de FGTS, motivo pelo qual deve ser substituída por outro parâmetro que se mostre idôneo frente à desvalorização da moeda nacional.
A Lei n. 8.036/90, que rege o FGTS, contempla expressamente a obrigatoriedade de atualização monetária sobre os saldos das contas vinculadas, dispondo, no caput do art. 2º, o seguinte:
O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados com atualização monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigações.
Já o salário-mínimo nacional, como cediço, é corrigido pelo INPC, índice previsto na Lei nº 12.382, de 25 de fevereiro de 2011, nos seguintes termos:
Art. 2º. Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de valorização do salário mínimo a vigorar entre 2012 e 2015, inclusive, a serem aplicadas em 1o de janeiro do respectivo ano.
1º. Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário mínimo corresponderão à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado e divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, acumulada nos doze meses anteriores ao mês do reajuste.
O parâmetro de correção pelo INPC para atualização dos salários-mínimos vem justamente para preservar o seu poder aquisitivo. Se o salário-mínimo é corrigido por este índice, nada mais razoável que corrigir os depósitos vinculados ao FGTS pelo mesmo indexador, justamente por decorrerem diretamente de verba que possui natureza trabalhista (salário do trabalhador).
Desta forma, sendo inaplicável a Taxa Referencial (TR) como índice de atualização de contas vinculadas do FGTS, já que inconstitucional, cabendo a remuneração dos saldos ser atualizada por indicador idôneo, capaz de absorver a inflação do período até 1999, quer seja o INPC.
D) DOS JUROS DE MORA
Independentemente da incidência dos juros de capitalização assegurados pela lei, de 6% ao ano aos que optaram pelo fundo até a data de 22/09/71 (de acordo com a Lei nº 5.107/66 instituidora do FGTS, o artigo 11, parágrafo 3º da Lei 7.839/89 e o artigo 13, § 3º da Lei 8.036/90 e de 3% ao ano para todos os demais (artigo 13, caput da Lei 8.036/90), as diferenças devidas ao beneficiário do FGTS devem ser corrigidas e atualizadas, com incidência de juros de mora, nos moldes do Código Civil.
É o que requer.
E) ALTERNATIVAMENTE: DA SUBSTITUIÇÃO DA TAXA REFERENCIAL (TR) PELO IPCA, OU OUTRO ÍNDICE DE CORREÇÃO IDÔNEO
Em atenção ao princípio da eventualidade, em caso de não se reconhecer a aplicação do INPC como índice de correção monetária, nos meses em que a Taxa Referencial (TR) foi menor que a inflação do período, requer a aplicação do IPCA, ou outro índice de correção que leveem consideração a atualização monetária, corrigindo os depósitos efetuados, que este juízo entender correto.
V – DOS CÁLCULOS
Em atenção aos requisitos da inicial, constantes no Código de Processo Civil, bem como ao art. 3º, da Lei nº 10.259/2001, acosta-se as planilhas de cálculos em anexo, através das plataformas da JF/RS.
VI – DOS PEDIDOS
ANTE O EXPOSTO, requer:
a) a citação da entidade requerida, na pessoa de seu representante legal, para que, querendo, ofereça resposta à presente, sob pena de revelia;
b) a concessão do benefício da gratuidade da justiça ao requerente, em razão de suas condições econômicas, nos termos do art. 98, do Código de Processo Civil, e Lei 1.060/50;
c) a manifestação pela não designação de audiência de conciliação, em razão da prática forense, que tem se mostrado pouco exitosa em situações análogas;
d) no mérito, o julgamento de total procedência da demanda, para o fim de: (d.1) declarar inconstitucional a Taxa Referencial (TR) para correção monetária de contas vinculadas ao FGTS, (d.2) condenar a entidade ré a substituir a Taxa Referencial (TR) pelo INPC, a partir de 1999, vencidas e vincendas (d.3) com o consequente pagamento das diferenças decorrentes da aplicação do INPC aos valores vinculados, corrigido e atualizado, com incidência de juros de mora;
e) alternativamente, caso este juízo entenda por inaplicável o índice de correção INPC, a correção pelo índice IPCA, ou ainda outro índice que se mostre idôneo;
f) a condenação da parte requerida ao pagamento das despesas do processo e de verba de sucumbência, arbitrada na forma do art. 85, §§2º a 5º, do Código de Processo Civil, não inferiores a 10% (dez por cento); e
g) a produção de todo meio de prova em direito admitido, com finalidade de demonstrar o alegado, em especial à prova documental.
À causa, atribui-se o valor de R$ 7.000,00 (Sete mil reais).
Nestes termos, pede deferimento.
Jaboatão dos Guararapes/PE, 07 de outubro de 2021.
DIEGO HENRIQUE CAMPOS DA SILVA
OAB/PE 47.042
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