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Brasília-DF. Distúrbios Do sistema respiratório Elaboração Daniela da Silva Pereira Campinho Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 6 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 7 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 9 UNIDADE I PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS........................................................................................ 11 CAPÍTULO 1 RINITES ................................................................................................................................... 11 CAPÍTULO 2 PÓLIPOS NASOFARÍNGEOS ..................................................................................................... 21 CAPÍTULO 3 NEOPLASIAS NASAIS E PARANASAIS ......................................................................................... 23 UNIDADE II PRINCIPAIS DOENÇAS DA LARINGE ...................................................................................................... 33 CAPÍTULO 1 PARALISIA DE LARINGE............................................................................................................ 33 CAPÍTULO 2 LARINGITE .............................................................................................................................. 37 CAPÍTULO 3 NEOPLASIAS DA LARINGE ....................................................................................................... 39 UNIDADE III PRINCIPAIS DOENÇAS DA TRAQUEIA E BRÔNQUIOS .............................................................................. 42 CAPÍTULO 1 COLAPSO DE TRAQUEIA ......................................................................................................... 42 CAPÍTULO 2 OBSTRUÇÃO DE TRAQUEIA ..................................................................................................... 48 CAPÍTULO 3 OSLERUS OSLERI ..................................................................................................................... 50 CAPÍTULO 4 BRONQUITE CRÔNICA CANINA .............................................................................................. 53 CAPÍTULO 5 ASMA FELINA/ASMA BRÔNQUICA ........................................................................................... 57 UNIDADE IV PRINCIPAIS DOENÇAS PULMONARES .................................................................................................... 66 CAPÍTULO 1 PNEUMONIAS ......................................................................................................................... 66 CAPÍTULO 2 NEOPLASIAS PULMONARES ..................................................................................................... 94 UNIDADE V PRINCIPAIS DISTÚRBIOS DA CAVIDADE PLEURAL .................................................................................... 96 CAPÍTULO 1 EFUSÃO PLEURAL .................................................................................................................... 96 CAPÍTULO 2 PNEUMOTÓRAX .................................................................................................................... 115 CAPÍTULO 3 RUPTURA/HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA ....................................................................................... 119 UNIDADE VI OUTRAS DOENÇAS ............................................................................................................................ 122 CAPÍTULO 1 COMPLEXO RESPIRATÓRIO FELINO ....................................................................................... 122 CAPÍTULO 2 TRAQUEOBRONQUITE INFECCIOSA CANINA – TOSSE DOS CANIS ........................................ 128 CAPÍTULO 3 SÍNDROME DOS BRAQUICEFÁLICOS ..................................................................................... 133 UNIDADE VII SUPLEMENTAÇÃO DE OXIGÊNIO E VENTILAÇÃO ................................................................................. 139 CAPÍTULO 1 SUPLEMENTAÇÃO DE OXIGÊNIO ........................................................................................... 139 CAPÍTULO 2 SUPORTE VENTILATÓRIO ........................................................................................................ 146 UNIDADE VIII ANIMAIS SILVESTRES E EXÓTICOS ........................................................................................................ 150 CAPÍTULO 1 DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DE ANIMAIS SILVESTRES E EXÓTICOS ........................................... 150 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 154 6 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 7 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 8 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 9 Introdução O sistema respiratório é constituído anatomicamente narinas, coanas, seios paranasais, laringe, traqueia, brônquios principais,brônquios segmentares, bronquíolos, alvéolos. É dividido em vias aéreas superiores e inferiores, cujas funções principais são a de condução do ar até as unidades fisiológicas propiciando as troca gasosa. As doenças do sistema respiratório podem ser podem ser classificadas de acordo com suas causas, desta forma, elas podem ser primarias ou secundárias, e ainda pelo curso da doença em aguda ou crônica. Diversos agentes etiológicos podem está envolvidos no desencadeamento das patologias, tais como processos alérgicos, micro-organismos, traumas, neoplasias, corpo estranho e doenças periodontais. As doenças do sistema respiratório estão entre as maiores causas de morbidade e mortalidade em pequenos animais e são importantes por influenciarem na qualidade de vida de cães e gatos, bem como de seus proprietários e clínicos envolvidos. Muitos veterinários se deparam rotineiramente com casos de patologias do sistema respiratório, havendo necessidade de intervenção rápida para que não se corra o risco de piora do quadro que, muitas vezes, já se encontra crítico, é de suma importância um diagnóstico apropriado, incluindo a descoberta do seu agente etiológico, para que se institua um tratamento que seja eficaz e que reduza o impacto causado por essa enfermidade. Objetivos » Conhecer as principais enfermidades do sistema respiratório de pequenos animais. » Desenvolver o raciocínio clínico. » Compreender a etiopatogenia, sinais clínicos, prognóstico, terapêutica das diferentes doenças. » Estabelecer os diagnósticos diferenciais. 10 11 UNIDADE IPRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS As doenças nasais e paranasais podem ser classificadas de acordo com suas causas, desta forma, elas podem ser primárias ou secundárias. Podemos classificar como doenças primárias as alergias, infecções causadas por fungos e bactérias e neoplasias, por sua vez as doenças secundárias seriam causadas por traumas, corpo estranho, parasitas e doenças periodontais. As manifestações clínicas das cavidades nasal e paranasal são muito semelhantes e cursam tipicamente com secreção nasal que pode ser uni ou bilateral, espirros, estertores, deformidade facial, lesões em plano nasal, tosse e halitose. CAPÍTULO 1 Rinites Rinite bacteriana Fisiopatologia A rinite bacteriana primária é rara em cães e gatos, na maioria dos casos é uma complicação secundária, ocorrendo em quase todas as doenças da cavidade nasal. Isso por que as bactérias que colonizam a cavidade nasal dos animais possuem rápido crescimento, uma vez que há alteração nos mecanismos de defesa primários da mucosa. A rinite bacteriana aguda causada por Bordetella bronchiseptica ocorre ocasionalmente em gatos e raramente em cães, possivelmente o Mycoplasma seja o patógeno nasal primário. 12 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS Sinais clínicos Os sinais e sintomas da rinite bacteriana não são específicos tornando-se indistinguíveis dos sintomas de outras causas de rinite. Incluindo espirros e corrimento mucopurulento, que podem ser uni ou bilateral. Diagnóstico Sem sintomas específicos e por ser uma doença incomum nos cães e gatos é necessário determinar a causa base. Deve-se incluir uma completa avaliação da cavidade oral a fim de descartar doença periodontal, fístulas oronasais ou fenda palatina. Exames citológicos, culturas bacterianas e biopsias de mucosas nasais profundas podem ser realizados, além de radiografias e exame rinoscópico das cavidades nasais. O crescimento de muitas colônias de uma ou duas espécies de micro-organismos pode representar infecção importante. O crescimento de muitos organismos diferentes ou pequeno número de colônias provavelmente representa a microbiota normal. Comumente são isoladas colônias de Staphylococcus, Streptococcus, Escherichia coli, Proteus, Pasteurella, Corynebacterium, Bordetella e Pseudomonas. Os swabs Mycoplasma sp., devem ser colocados em meios de transporte apropriado para cultura em que serão usados métodos específicos de isolamento. Tratamento O tratamento consiste na utilização de antibióticos, nos casos de crescimento bacteriano significativo no cultivo, pode-se lançar mão do antibiograma para escolha do antibiótico. De forma geral, antibióticos de amplo espectro podem ser utilizados. Ampicilina (11 a 20 mg/kg/8h por via intravenosa ou oral), penicilina G (22.000 UI/kg/6h por via intravenosa ou intramuscular) é efetiva contra infecções causadas por Streptococcus, E. coli e Pasteurela. Amoxicilina (22 mg/kg/8-12h), trimetoprima-sulfadiazina (15 mg/kg/12h), cloranfenicol (50 mg/kg/6h para cães; 10 a 15 mg/kg/12h para gatos) ou clindamicina (5,5 a 11 mg/kg/12h). Doxiciclina (5 a 10 mg/kg/12h, seguida por bolus de água) ou cloranfenicol são normalmente eficazes contra Bordetella sp. e Mycoplasma sp. A azitromicina (5 a 10 mg/kg/24h por 3 dias e, então, a cada 72 h) pode ser prescrita para gatos difíceis de serem medicados. A terapia com antibióticos deve cursar por sete a dez dias nos casos de infecção aguda, em casos de infecção crônica é necessário tratamento mais prolongado, observando a resposta clínica do paciente, nos casos de resposta benéfica, a droga é continuada por um período mínimo de quatro a seis semanas. Nos casos em que após a suspensão da terapia os sinais retornarem, o mesmo antibiótico deve ser utilizados por período 13 PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS │ UNIDADE I mais prolongado. Se não houver resposta benéfica do animal na primeira semana de tratamento, o antibiótico deve ser suspenso, optando-se por outra droga, é importante garantir que outras doenças primárias não identificadas não estejam envolvidas. Deve ser instituída também uma terapia de suporte. As narinas deverão ser limpas externamente, hidratação sistêmica adequada e bom suporte nutricional são importantes. Pose-se realizar nebulização (20 min, 4 vezes/dia) no intuito de auxiliar na mobilização de secreções e no alívio das passagens nasais obstruídas, descongestionantes nasais (fenilefedrina, oximetazolina) têm demonstrado melhora no fluxo de ar, aumentando a drenagem e diminuindo a produção de secreções. Rinite fúngica A rinite fúngica é uma doença comum em cães e gatos. Embora a etiologia desta enfermidade seja na sua maioria alguma doença imunossupressora, ela também pode ocorrer concomitantemente ou secundariamente a tumor ou corpo estranho nasal, ou menos comumente, secundário a traumatismo nasal. Aspergilose Fisiopatologia Dentre as infecções fúngicas que acomete a cavidade nasal dos cães e gatos a Aspergilose é mais comum em cães. A Aspergilose possui basicamente duas apresentações clínicas: doença localizada na cavidade nasal e seios frontais, e doença disseminada (incluindo acometimento pulmonar). Quando se tem o envolvimento primário do trato respiratório o Aspergillus fumigatus é a espécie mais comumente encontrada, embora outras espécies do gênero Aspergillus já tenham sido isoladas, como A. flavus, A. niger, A. nidulans, A. deflectus e A. terreus. Cães das raças dolicocefálicas imunodeficientes são os mais predispostos a contrair aspergilose. A colonização do fungo na região nasal ocorre por meio de inalação de esporos do ambiente, a forma de bolor do organismo pode se desenvolver em placas fúngicas visíveis que invadem a mucosa nasal e granulomas fúngicos. De forma geral ocorre inicialmente a invasão da cavidade nasal que se estende para os seios frontais, tornando-se afecção sinonasal decorrente da endotoxina produzida pelo fungo, responsável, também, pela necrose e pela destruição dos turbinados e etmoturbinados. 14 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS Sinais clínicos Os sinais clínicos mais evidentes relacionados à cavidade nasal são secreção mucopurulenta ou muco-sanguinolenta, espirros, períodos alternados de epistaxe, crostas, ulceração das narinas acompanhadas ou não de despigmentação, com envolvimento uni ou bilateral. Em gatos, ocorreo contrário, as vias aéreas inferiores são mais acometidas que as superiores, dos quais os animais imunocomprometidos, são os mais atingidos. Diagnóstico Além da anamnese e dos achados do exame físico, exames complementares como citológico, sorológico, histológicos e isolamento fúngico podem auxiliar no diagnóstico. As avaliações hematológicas e bioquímicas geralmente apresentam-se sem alterações. Os achados radiográficos da aspergilose nasal demonstram perda da arquitetura dos turbinados, em especial rostralmente, e espessamento do osso nasal. Envolvimento do osso frontal é variável e é frequentemente identificado como densidade de tecidos moles dentro dos seios frontais. Pode-se observar opacidade de fluido no seio frontal, o que sugere um foco de infecção com acúmulo de secreção. A rinoscopia deve ser realizada após o estudo radiográfico, uma vez que a coleta de material no momento da realização do exame pode favorecer pequenas hemorragias que por sua vez podem mascarar os achados radiográficos. Durante a rinoscopia pode-se observar a formação dos granulomas ou placas fúngicas, deve-se coletar material para swab ou biopsia a fim de obter material para cultura microbiológica. O resultado da cultura deve ser avaliado com cautela, uma vez cães normais podem apresentar cultura positiva para tanto para Aspergillus sp. quanto para Penicillium sp., além de poder ocorrer infecções bacterianas secundárias que podem mascarar a ocorrência ou acompanhar a doença fúngica. Durante a rinoscopia deve-se realizar o debridamento das placas fúngicas para aumentar a eficácia da terapia tópica. Tratamento Diversos protocolos terapêuticos são descritos no tratamento das rinites fúngicas de cães e gatos, os quais incluem a terapia tópica ou sistêmica com resultados satisfatórios. A escolha da terapia está associada à disponibilidade da droga, efeitos colaterais e localização da infecção. Drogas de uso sistêmico são menos invasivas, porém requerem um tratamento mais longo o que o torna mais dispendioso além de comumente apresentarem efeitos colaterais, como hepatotoxidade, vômitos e anorexia. 15 PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS │ UNIDADE I Tratamento sistêmico para aspergilose nasal inclue fluconazol (2,5 mg/kg/ 12h ou intraconazol (10 mg/kg/24h), por um período de 60 a 90 dias ou mais. É relatado também, o uso de tiabendazol (10 mg/kg/12h) ou cetoconazol (5 a 10 mg/kg/12h), por 6 a 8 semanas. O tratamento tópico é preferível no caso da aspergilose, porém deve-se garantir que não há lesões na placa cribriforme ou adjacências do seio frontal, pois há risco da droga invadir a órbita ou o encéfalo. O Tratamento tópico inclui desbridamento das placas de fungos seguida da administração da terapia. O tratamento tópico é geralmente realizado com enilconazol ou clotrimazol e pode ser realizado de maneira invasiva e não invasiva. Ambos os procedimentos são realizados com o paciente sob anestesia. No procedimento invasivo são posicionados cateteres colocados por acesso cirúrgico, ou seja, por uma abertura pequena próxima aos seios frontais ou por trepanação clássica, onde a administração da medicação é realizada em casa, geralmente se faz o uso de enilconazol (10 mg/kg) diluído em igual volume de água imediatamente antes do uso. A dose é dividida igualmente e instilada em cada lado da cavidade nasal, 2 vezes/dia, durante 7 a 10 dias. O procedimento não invasivo realiza-se por meio de sondas do tipo Foley posicionadas em ambas cavidades nasais e na nasofaringe, realiza-se a lavagem com solução de clotrimazol a 1%. Todos os cães são reavaliados de 2 a 3 semanas após o tratamento. A rinoscopia, o desbridamento e o tratamento tópico são repetidos caso os sinais persistem. Criptococose Fisiopatologia A Criptococose é a infecção fúngica sistêmica mais comum em gatos, é causada pelo Cryptococcus neoformans. Acredita-se que a via de transmissão é a inalação de leveduras do ambiente, algumas cepas do organismo podem preferencialmente localizar-se na cavidade nasal, independentemente da porta de entrada. Os Cryptococcus spp. podem atuar como patógenos primários, entretanto, condições potencialmente imunossupressoras podem favorecer a infecção, tais como, administração de corticoides, erliquiose, neoplasias. Há uma maior ocorrência em gatos acometidos com doenças virais como vírus da leucemia felina (FeLV) e vírus da imunodeficiência dos felinos (FIV). Sinais clínicos As manifestações clínicas da criptococose incluem secreção nasal uni ou bilateral que pode variar de serosa a mucopurulenta, dificuldade respiratória alta e episódios de epistaxe, as lesões nas vias nasais podem causar inflamação nos ossos da face (nariz 16 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS de palhaço). Em gatos os sinais clínicos geralmente refletem a infecção da cavidade nasal, extensão da infecção por via linfática pode atingir o Sistema Nervoso Central (SNC), lesões cutâneas são as formas de afecção mais comuns observadas nesta espécie, juntamente com linfadenopatia regional. Em cães os sinais de envolvimento no SNC são mais comuns, seguido dos olhos além de linfadenopatia. Raças grandes parecem ser as mais afetadas. Os pulmões são comumente infectados em ambas as espécies, mas os sinais clínicos de envolvimento pulmonar são raros. Figura 1. Felino apresentando lesão micótica nasal, “nariz de palhaço”, por Cryptococcus neoformans. Fonte: gentilmente cedida por Amanda Castro. Diagnóstico O diagnóstico inclui achados de anamnese, exame físico e exames complementares, tais como, citológico (Figura 2), sorológico, histológicos e isolamento fúngico. As avaliações hematológicas e bioquímicas geralmente apresentam-se sem alterações. Nos cães com criptococose no SNC, a concentração das proteínas do líquido cefalorraquidiano (FCR) variam de normais a 500 mg/dl, a contagem celular varia de normal a 4.500 mg/µl, predominando neutrófilos e células monucleares, podendo ser observados também eosinófilos. Nas alterações radiográficas compatíveis com criptococose podem-se observar aumento de densidade dos tecidos moles na cavidade nasal, causada pelo granuloma fúngico, bem como deformidade e lise do osso nasal. Para uma definição mais detalhada do 17 PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS │ UNIDADE I acometimento das estruturas, em ambas as afecções fúngicas, pode-se lançar mão da tomografia e da ressonância magnética. Tratamento Tratamento com cetoconazol (10 mg/kg via oral/12h) parece ser altamente eficaz no tratamento da criptococose nasal em gatos. Itraconazol (10 mg/kg/24h) e fluconazol (50 mg/gato/12h) também têm sido utilizados, gatos respondem favoravelmente à terapia com fluconazol. O cetaconazol nos cães pode suprimir o efeito da testosterona e de cortisol, além de ser associado à catarata, por isso é menos utilizado que o intraconazol e o fluconazol. A duração do tratamento pode variar de 2 a 6,5 meses. Nos casos em que há envolvimento do SNC, opta-se pelo fluconazol, por atravessar a barreira hematoencefálica. Se ocorrer sinais de toxicidade ou aumento das atividades da alanina aminotrasnferase, o uso do fluconazol deve ser interrompido, e retomado com uma dosagem reduzida para 50% após o desaparecimento dos sinais. Figura 2. Exame citológico evidenciando leveduras de Cryptococcus neoformans. Fonte: gentilmente cedida por Amanda Castro. Rinite parasitária A rinite parasitária é de ocorrência rara, comumente cursa de forma silenciosa, mas alguns animais podem apresentar sinais clínicos moderados a severos. Nos cães está associada ao ácaro nasal Pneumonyssoides caninum ou ao nematoide nasal Capillaria boehmi. 18 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS Pneumonyssoides caninum Fisiopatologia O Pneumonyssoides caninum é um ácaro pequeno de aproximadamente 1 mm, comum em cães da Suécia e Noruega, porém já foi relatados em outras regiões. Habita cavidade nasal, nasofaringe e seios frontais. Pouco se sabe sobre o ciclode vida e a epidemiologia do parasita. Acredita-se que seja transmitido por contato direto, embora a transmissão indireta não possa ser excluída. Sinais clínicos Espirros, espirros invertidos, tremor de cabeça, secreção nasal crônica, epistaxe e o olfato prejudicado são alguns dos sinais clínicos associados à infecção por P. caninum. No entanto, a intensidade dos sinais clínicos pode variar de um cão para outro. Diagnóstico O diagnóstico é realizado pela identificação de nematódeos adultos ou ovos no lavado nasal, ovos em exame fecal e por amostras de biopsia nasal. Tratamento O tratamento contra o P. caninum, basea-se na utilização da milbemicina oxima (0,5 a 1 mg/kg, 7 a 10 dias), ivermectina (0,2 mg/kg por via subcutânea, a cada 3 semanaas) também pode se utilizada. Outra possibilidade terapêutica é a utilização de selamectina (6 a 24 mg/kg, a cada 2 semanas, topicamente) que tem mostrado ser efetiva, mas alopecia pode se desenvolver em doses maiores. Capillaria boehmi Fisiopatologia O Capillaria boehmi é um nematoide pouco estudado que habita a mucosa da cavidade nasal e seios paranasais de cães domésticos, raposas e lobos. O ciclo de vida biológico e a via de transmissão deste nematoide ainda são desconhecidos, mas estudos sugere que os animais são infectados pela ingestão de ovos contendo as larvas infectantes ou pela ingestão de minhocas que podem atuar como hospedeiros intermediários ou paratênicos facultativos. 19 PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS │ UNIDADE I Sinais clínicos Cães acometidos pelo Capillaria boehmi, frequentemente permanecem assintomáticos, mas em caso de maior carga parasitária, os animais podem mostrar aflição do trato respiratório superior com sinais clínicos variáveis, como tosse, espirros, espirros reversos, sibilos, secreção nasal mucopurulenta, com ou sem hemorragia. Além disso, a infecção com este parasita foi recentemente reconhecida como uma causa potencial de meningoencefalite crônica Levando a quadros de convulsões em cães. Diagnóstico O diagnóstico é realizado pela identificação de nematoideos adultos ou ovos no lavado nasal, ovos em exame fecal e por amostras de biopsia nasal. Tratamento O tratamento dos animais acometidos por Capillaria boehmi é realizado com fembendazol (50 mg/kg/24h por 10 dias, ou 25 a 50 mg/kg/12h durante 7 a 10 dias) ou ivermectina (0,2 mg/kg via subcutânea, em dose única). Deve-se realizar exames fecais repetidos, além da resolução dos sintomas para considerar o tratamento bem sucedido. O tratamento de contactantes diretos é recomendado. Rinite inflamatória Fisiopatologia Rinite crônica idiopática, também denominada rinite linfocítica plasmocítica, caracteriza-se por infiltrados linfoplasmocitários na mucosa nasal. Suspeita-se de rinite inflamatória em casos crônicos de rinite, sendo que uma de suas principais causas é a exposição à alérgenos e substâncias irritativas. Embora tenha sido descrita como uma doença imunomediada a patogênese da rinite linfoplasmocitária é desconhecida, mas está associada possivelmente a resposta estereotipada crônica a múltiplos fatores precipitantes. Ocorrem em cães dolicocefálicos e mesaticefálicos de grande porte, jovens e de meia-idade, embora Dachshund e Whippet sejam frequentemente afetados. Sinais clínicos A secreção nasal mucoide crônica ou mucopurulenta é o sinal clínico mais comum e é tipicamente bilateral. 20 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS Diagnóstico Ao exame radiográfico podem-se encontrar alterações como aumento de opacidade uni ou bilateral dentro das passagens aéreas, porém o exame pode-se revelar sem alterações. Os seios paranasais podem ou não estar envolvidos. Tratamento O tratamento raramente alcança a cura. Corticosteroides sistêmicos ou tópicos são raramente efetivos no controle dos sintomas e, na realidade, podem piorá-los. Recomendam-se doses imunossupressoras com prednisolona. Uma resposta positiva é esperada em 2 semanas, reduzindo-se a dose para a menor dose eficaz. Se não houver resposta à terapia inicial, outros fármacos imunossupressores como azatioprina podem ser utilizados. Administração de antibióticos com imunomoduladores eficazes combinados com agentes anti-inflamatórios não esteroides podem ser úteis em alguns cães. Entre eles, temos a doxiciclina (3 a 5 mg/kg/12h) ou azitromicina (5 mg/kg/24h), em combinação com piroxicam (0,3 mg/kg/24h). 21 CAPÍTULO 2 Pólipos nasofaríngeos Fisiopatologia Os pólipos nasofaríngeos ou pólipos inflamatórios são massas não neoplásicas (usualmente benignas), de coloração rosa, geralmente pedunculadas. Crescem para dentro da nasofaringe e/ou do canal auditivo externo, podendo se estender para o canal auditivo médio, faringe e cavidade nasal, podem ser uni ou bilaterais. Surge geralmente em gatos jovens, o que sugere uma relação congênita, embora estejam também descritos em gatos de meia idade a idosos. Não parece existir predisposição de raça ou gênero para esta patologia. A etiologia é desconhecida, mas pensa-se fortemente em algum elemento congênito, acreditando-se em resquícios de material do desenvolvimento embrionário. Outra teoria seria que possa estar associada a uma inflamação crônica do ouvido médio e/ou a uma infecção do trato respiratório superior. Sinais clínicos Muitas vezes os pacientes com pólipos apresentam sinais respiratórios de vias superiores cônicos, estes são muitas vezes submetidos a tratamentos de rinosinusites, porém os mesmos apresentam apenas melhora parcial da sintomatologia, já que não está sendo eliminada a causa primária. Os sinais respiratórios causados por pólipos nasofaríngeos podem incluir estertor respiratório, obstrução das vias aéreas superiores, dispneia inspiratória de leve a grave e secreção nasal serosa a mucopurulenta, espirros e perda da olfação. Em casos mais severos podem ocorrer cianose, episódios de sincope, epistaxe, disfagia, nos casos graves pode ocorrer infecção secundária graves, levando a quadros de otite externa e/ou otite média/interna, assim o animal acometido pode apresentar sinais como girar a cabeça, nistagmo ou síndrome de Horner. Diagnóstico Os pólipos nasofaríngeos devem ser incluídos em todo diagnóstico diferencial de doença do trato superior de felinos. O diagnóstico pode ser realizado por rinoscopia, esta permite a visualização do pólipo e permite também a realização de biopsia, diagnóstico definitivo. Histologicamente os pólipos apresentam-se como tecido de granulação cobertos por uma camada de epitélio, podendo conter células escamosas 22 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS estratificadas e/ou epitélio ciliado colunar pesudoestratificado, no qual cobre um tecido conjuntivo fibrovascular com presença de infiltrado inflamatório variável de eosinófilos, plasmócitos e linfócitos. A avaliação radiográfica também pode ser útil e mais acessível para o diagnóstico dos pólipos, pode-se observar um tecido mole opacificado acima do palato mole e a visualização simples de uma massa na nasofaringe, cavidade nasal, ou canal auditivo externo. Deve-se realizar a avaliação completa de gatos com pólipos, incluindo otoscopia profunda e radiografia ou tomografia da bula óssea no intuito de avaliar a extensão do envolvimento. Tratamento Uma vez diagnosticado os pólipos nasofaríngeos, o tratamento a ser instituído deve ser a exérese cirúrgica. De forma geral o acesso cirúrgico é pela cavidade oral, quando o pólipo estiver ligado a orelha média, pode-se realizar osteotomia ventral da bula. Raramente a rinotomia é necessária para a remoção completa do pólipo. Em gatos com evidência de envolvimento da bula óssea deve-se considerar a osteotomia da bula. Prognóstico O prognóstico é favorável, porém podem ocorrer recidivas. 23 CAPÍTULO 3 Neoplasias nasais e paranasais Neoplasias de plano nasal Fisiopatologia Neoplasia de plano nasal é infrequente em cães e comumente diagnosticado em gatos. A neoplasia mais diagnosticadanessa região é o carcinoma de células escamosas (CEC), porém outros tipos também podem ocorrer, tais como linfomas, fibrossarcomas, hemangiomas, melanomas, mastocitomas e fibromas. O desenvolvimento do CEC está associado à exposição crônica aos raios ultravioletas UVB e também mais recentemente ao papilomavírus, acomete principalmente felinos de idosos, cerca de 15% das neoplasias cutâneas dos felinos, e que apresentam áreas despigmentas e de alopecias ou hipotricose. Cães machos das raças Labrador (Figura 3) e Golden Retrivers acima de oito anos, são mais acometidos. Figura 3. Cão, Labrador com CEC em plano nasal. Fonte: autora. O CEC caracteriza-se por ser localmente invasivo e com baixas taxas de metástases, quando ocorrem é mais frequente em linfonodos regionais mandibulares e pulmão. Inicialmente o quadro de CEC se inicia com uma lesão pré-maligna, queratose actínica (Figura 4), caracterizada pela presença de eritema e crostas, com a exposição contínua 24 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS aos raios ultravioletas há evolução do quadro pra carcinoma in situ ou superficial (carcinoma confinado na epiderme) (Foto 5), com erosões superficiais, e finalmente para o carcinoma infiltrativo apresentando grandes lesões ulcerativas. Figura 4. Gato, SRD, com queratose actínica em plano nasal. Fonte: autora. Figura 5. Gata, SRD, com CEC em plano nasal. Fonte: gentilmente cedida por Denner Santos. 25 PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS │ UNIDADE I Sinais clínicos Os sinais clínicos do CEC são eritema, presença de crostas, lesões ulcerativas erosivas e desfigurantes. Diagnóstico A citologia aspirativa por agulha fina (PAAF) é um método simples e rápido para obtenção do diagnóstico, porém deve-se considerar que pode se obter apenas células inflamatórias na amostra o que não descarta o envolvimento neoplásico. A citologia de linfonodos regionais pode ser utilizada para avaliação de metástase e adequado estadiamento. Biopsias profundas é a melhor forma de diagnóstico, pois permitem determinar o grau de invasão e o tipo histológico de doença. Deve-se realizar esse procedimento sob anestesia geral devido à sensibilidade do plano nasal, além da grande vascularização da região, podendo ocorrer hemorragia temporária. Pode-se recorrer aos exames de imagens para pesquisa de metástases, a tomografia e a ressonância magnética são os mais adequados por permitirem a avaliação da extensão do tumor, além de auxiliar no estadiamento do paciente. Diagnóstico diferencial Podem-se incluir no diagnóstico diferencial das neoplasias de plano nasal os granulomas eosinofílicos, dermatopatias autoimunes, esporotricose, criptococose, além de outras dermatopatias. Tratamento Existem várias modalidades de tratamento para o carcinoma de células escamosas, incluindo cirurgia, criocirurgia, radiação ionizante, quimioterapia e terapia fotodinâmica. Porém a primeira medida a ser tomada é impedir o acesso do animal à exposição solar. São descritas na literatura o uso de tatuagens nas áreas que se tem lesões pré-malignas como medida protetora, porém não se tem mostrado efetivo em regiões inflamadas e ulceradas. O uso de protetor solar não é tão eficaz nessa região uma vez que o animal o remove facilmente. Derivados da vitamina A têm sido utilizados com sucesso em lesões pré-malignas. Carcinoma in situ ou dermatite actínica como não são lesões infiltrativas podem ser tratados com modalidades menos invasivas que a cirurgia e radioterapia, tais como 26 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS criocirurgia e terapia fotodinâmica. A criocirurgia não é uma técnica seletiva para o tecido normal ou o neoplásico, logo ocorrem edema, necrose e cicatrização por segunda intenção. Alguns autores não a recomendam como modalidade terapêutica única em felinos. A terapia fotodinâmica induz a citotoxicidade das células proliferativas por meio de uma fonte de luz, sendo necessários um agente fotossensibilizador, luz de comprimento de onda adequado e oxigênio molecular. A sua vantagem frente à criocirurgia é que produz mínima mutilação facial visto a destruição tecidual ser seletiva. A excisão cirúrgica é o tratamento de escolha, pois é o único a proporcionar margens livres do tumor, é recomendada quando se tem invasão de subcutâneo, fáscia, musculatura, cartilagem ou osso. A remoção com margens livres de um centímetro seria o ideal para CEC. A radioterapia pode ser utilizada, mas as desvantagens são a taxa de recidiva de aproximadamente 20 % e a falta de disponibilidade de centros de radioterapia, além do alto custo. A quimioterapia pode ser utiliza como tratamento, quando outras modalidades de tratamento não podem ser utilizadas. A quimioterapia intralesional com carboplatina demonstrou até 70 % de RC e 30 % de recidiva em gatos. Uma nova modalidade está disponível para o tratamento de neoplasias, a eletroquimioterapia (ECT), e se tem obtido excelentes respostas no tratamento de CEC. A ECT consiste na administração de um agente quimioterápico associado à aplicação de ondas que induzem o aumento de captação da droga pelas células tumorais. Eletroquimioterapia (ECT) envolve a administração de um agente quimioterápico concomitante a formas de ondas adequadas que induzem aumento da captação da droga por células tumorais. Pode-se combinar a administração local e sistêmica de quimioterápicos, que sozinhos tem pouca permeabilidade na membrana, como a bleomicina, com a eletropermeabilização por aplicação direta de pulsos elétricos em tumores, garantindo um maior efeito das drogas sob as células neoplásicas. Prognóstico O prognóstico para cães e gatos com carcinomas de plano nasal para lesões não infiltrativas é bom. Quando se tem pacientes que possuem lesões avançadas, o prognóstico é reservado. 27 PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS │ UNIDADE I Neoplasias de cavidade nasal e seios paranasais Fisiopatologia Tumores da cavidade nasal e seios paranasais são pouco comuns em animais domésticos, são responsáveis aproximadamente 1 % de todas as neoplasias em cães. Os cães machos com média de idade de nove a onze anos, têm uma maior predisposição de desenvolver neoplasias nasais e paranasais, respectivamente. Dolicocefálicos e raças de porte médio a grande têm maior risco de desenvolver esta afecção. Tem sido especulado, mas não provado, que cães dolicocefálicos ou cães vivendo em áreas urbanas, como resultado de filtração de poluentes, podem ter alto risco. São relatas as raças Ardale Terriers, Basset Hound, Pastoringlês, Scottish Terrier, Collie, Pastor de Shetland, Pointer-alemão de pelo curto, como sendo as raças de cães com maior predisposição ao desenvolvimento desta neoplasia. Em cães, a cavidade nasal é mais afetada do que seios paranasais e 80 % são de caráter maligno. Os carcinomas, incluindo adenocarcinoma, carcinoma de células escamosas (CEC) e indiferenciados, representam quase dois terços dos tumores intranasais caninos. Sarcomas (geralmente fibrossarcoma, condrossarcoma, osteossarcoma, sarcoma indiferenciado) compõem a maior parte dos cânceres restantes. Independente do tipo de neoplasia, a característica predominante de tumores nesta região é a invasão local e a baixa taxa de metástase no momento do diagnóstico, porém esta pode chegar 40 % a 50 % na hora da morte. Os locais mais comuns de metástases são os linfonodos regionais e os pulmões. Tumores nasais e paranasais em gatos são infrequentes, representam aproximadamente 1 % de todas as neoplasias felinas, porém cerca de 90 % dessas neoplasias possuem caráter maligno. Assim como nos cães, são localmente invasivas e capacidade de metastização à distância é baixa. Os animais machos e de meia-idade a idosos são os mais predispostos, apresentando em média dez anos, porém há estudos que descrevem estas neoplasias em animais mais jovens. Os siameses são descrito como a raça mais predisposta ao desenvolvimento destas neoplasias.A exposição ao fumo do tabaco tem sido sugerida como o fator de maior risco para o desenvolvimento destas neoplasias. Fatores genéticos, como por exemplos, a presença da mutação em nível do gene p53 e o aumento da expressão das ciclooxigenases 2 (COX-2) tem sido relatados como fatores predisponentes tanto em cães quanto em gatos. Nos gatos as neoplasias mais comuns são linfomas e neoplasias epiteliais carcinoma, adenocarcinoma e carcinoma das células escamosas. Em ambas as espécies são menos 28 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS frequentes os sarcomas, mastocitomas, melanomas, plasmocitomas neuroblastomas olfatórios e tumores benignos (Quadro 1). Quadro 1. Principais neoplasias nasais de cães e gatos. Neoplasias Epiteliais Adenocarcinoma (cão e gato) Carcinoma indiferenciado (cão e gato) Carcinoma e células escamosas (cão e gato) Carcinoma de células transicionais (cão) Neoplasias Mesenquimais Linfosarcoma (cão e gato) Fibrosarcoma (cão e gato) Sarcoma indiferenciado (cão e gato) Osteosarcoma (cão e gato) Leiomiosarcoma (cão) Miosarcoma (cão) Raddomiosarcoma (cão) Condrossarcoma (cão e gato) Hemangiosarcoma (cão e gato) Liposarcoma (cão) Sarcoma linfohistiocitico (gato) Outras Melanoma (cão e gato) Plasmocitoma extramedular (cão e gato) Tumor venéreo transmissível (cão) Neoplasias Benignas Adenoma (cão e gato) Osteoma (cão) Pólipo (cão e gato) Fibroma (cão e gato) Papiloma (cão e gato) Condroma (cão e gato) Fonte: Morrison, 2002. Sinais clínicos Os sinais clínicos são semelhantes a muitas doenças intranasais, uma forte suspeita de câncer é apropriada para animais mais velhos com uma história intermitente e progressiva de secreção serosa a mucopurolenta e/ou epistaxe. O tempo médio entre os primeiros sinais e o diagnóstico definitivo é de dois a três meses. Podem ser relatados também episódios de espirros, dispneia e respiração estertora devido à obstrução da cavidade nasal pelo tumor, o que dificulta o fluxo de ar por meio das narinas, exoftalmia e secreção ocular como resultado de obstrução mecânica do ducto do sistema nasolacrimal. A deformação dos ossos faciais, palato duro ou arcada dental maxilar pode estar visível, 29 PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS │ UNIDADE I devido à erosão óssea e subcutânea extensão do tumor. O tumor pode se estender para dentro da abobada craniana resultando em sinais neurológicos, tais como convulsão, paresia, andar em círculos e cegueira aguda. A maioria dos animais não apresentam sinais neurológicos, porém não se deve descartar a invasão, além da placa cribriforme. Figura 6. Felina, Fêmea, SRD, 11 anos, apresentando neoplasia epitelial e, região sinonasal direita. Fonte: autor. Diagnóstico O diagnóstico das neoplasias nasais deve-se basear na apresentação clínica do paciente associados aos exames complementares. A radiografia convencional pode ser realizada como um procedimento de triagem para investigação de cães suspeitos de terem tumores nasais. É possível observar a presença de opacidade de tecido mole, erosão dos ossos faciais e osso vômer, envolvimento do seio frontal aparece como densidade água substituindo as cavidades normais cheias de ar. Essas anormalidades sugerem quadro neoplásico e indicam a necessidade de melhor investigação. A tomografia computadorizada permite uma avaliação permite avaliação mais completa de toda cavidade nasal, fornece mais informações a respeito da localização e da extensão do tumor, além do grau de destruição, apresentando uma melhor avaliação do que imagens radiográficas de rotina. A avaliação da imagem transversal oferece a imagem transversal oferece melhor detalhe anatômico, permitindo a determinação precisa da extensão de tumor, avaliação da integridade da placa cribriforme e identificação de potencial extensão tumoral na abóbada craniana e localização de anormalidades da cavidade nasal, que são importantes critérios prognósticos. 30 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS A rinoscopia pode revelar a presença de lesões em massas de tecidos moles, permitindo uma boa visibilidade do tumor sendo útil para realização de coleta de material para citologia ou biopsia. Embora as características imaginológicas de neoplasia nasal possam levar a diagnóstico presuntivo com alto grau de confiança, bem como o exame citológico fornecer resultados conclusivos, o diagnóstico definitivo requer exame histopatológico. Linfonodos mandibulares devem ser examinados citologicamente para evidência de disseminação local. Apesar de metástases pulmonares serem incomum no diagnóstico inicial, deve-se realizar radiografias torácicas, bem como avaliação ultrassonográfica abdominal, para se obter um completo estadiamento. Pacientes diagnosticados com linfoma devem realizar avaliação citológica da medula óssea, os felinos devem ser testados para FIV/FELV. Figura 7. Exame radiográfico simples do crânio na projeção dorso-ventral, observa-se aumento de opacidade em seio nasal direito, de opacidade heterogênea; proliferação periosteal em região da parede medial da fossa pterigopalatina e a órbita (seta amarela). Possível área com aumento de opacidade, de aspecto massa (círculo e setas vermelhas), em região caudal da cavidade nasal. Fonte: cedida gentilmente pelo Hospital Veterinário da Univasf. 31 PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS │ UNIDADE I Figura 8. Tomografia Computadorizada de Crânio, observar proliferação sólida que ocupa a cavidade nasal direita, determinando extensa destruição óssea regional e efeito de massa em septo nasal e bulbo ocular ipisilateral. Fonte: autora. Diagnósticos diferenciais Pacientes que apresentam secreção nasal e/ou epistaxe deve-se considerar os diagnósticos diferenciais de rinite bacteriana, rinite linfocítica plasmocítica, doenças hemorrágicas, corpo estranho, hipertensão e anomalias do desenvolvimento. Tratamento A terapia é direcionada principalmente ao controle da doença local, uma vez que a invasão óssea ocorre precocemente. A radioterapia é o tratamento de escolha para a maioria dos outros tumores nasais malignos, podendo ser ou não associada à cirurgia. A radioterapia de megavoltagem tem sido o tratamento de eleição para neoplasias sinonasais caninos, tem sido relatada média de sobrevida entre oito e vinte meses. Como a radioterapia é uma modalidade de tratamento local, não apresenta efeitos sistêmicos como a quimioterapia, fator limitante quando se tem envolvimento de outros órgãos. A cirurgia como terapia isolada não é recomendada, uma vez que não demonstra aumento do tempo de sobrevida. Geralmente no momento do diagnóstico já há invasão óssea, o que não permite a retirada de todo tecido acometido. 32 UNIDADE I │ PRINCIPAIS DOENÇAS NASAIS E PARANASAIS A quimioterapia é indicada nos casos de linfoma nasal, que pode ser ou não associada à radioterapia. Quando a radioterapia e a cirurgia não são possíveis, ou em casos de doença residual ou sistêmica a quimioterapia é indicada. De forma geral como as neoplasias nasais possuem baixa taxa de metástase, o tratamento baseia-se no controle da doença local e das manifestações clínicas. O tempo de sobrevida é relativamente curto e frequentemente os tutores optam pela eutanásia em pela persistência da secreção nasal, epistaxe, respiração dificultosa, perda de peso, anorexia e sinais neurológicos. Prognóstico O prognóstico para cães e gatos com tumores nasais malignos é ruim, uma vez que o diagnóstico ocorre geralmente em estadiamento avançado, onde já há comprometimento ósseo. Atenção: é importante reconhecer que a detecção de uma massa na cavidade nasal de um paciente não é específica para o diagnóstico de neoplasia. Devem-se considerar outras causas tais como, doença inflamatória e infecções fúngicas. 33 UNIDADE II PRINCIPAIS DOENÇAS DA LARINGE A laringe é um órgão que desempenha diversas funções, tais como auxiliar no olfato, protege a via respiratóriainferior contra a entrada de alimentos e líquidos durante a deglutição, além da vocalização. As afecções que atingem a laringe possuem sinais clínicos semelhantes, com dificuldade respiratória e estridor, tosse, engasgos e mudança no latido ou miado dos pacientes. A maioria das doenças da laringe cursa de forma progressiva, ao longo de várias semanas e meses, os animais compensam a dificuldade respiratória geralmente por meio da restrição ao exercício, e quando submetidos à situação que levem a excitação apresentam os sinais clínicos respiratórios de forma aguda. CAPÍTULO 1 Paralisia de laringe Fisiopatologia A paralisia da laringe (PL) é definida como uma perda completa ou parcial da capacidade de abdução das cartilagens aritenoideias e pregas vocais durante a inspiração, criando uma obstrução aérea extratorácica. A doença pode afetar cães e gatos, mas os cães são apresentados com os sinais clínicos mais frequentemente, e na maioria dos casos, cães de raça grande a gigante e idade avançada. Algumas raças possuem uma forma congênita da enfermidade, raças como Bouvier de Flandes, Husky Siberiano e Malamute-do-Alasca. Dálmata, Rottweiler e Great Pireneans, podem desenvolver polineuropatia complexa com paralisia laringiana. A PL também pode ser adquirida como resultado de lesão em nível dos nervos laríngeos recorrentes ou dos músculos intrínsecos da laringe, associado a uma polineuropatia, 34 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DOENÇAS DA LARINGE polimiopatia, trauma acidental ou iatrogênico, massas intratorácicas ou extratorácicas, porém a causa idiopática é que ocorre na maioria dos casos. Quando existe uma disfunção do nervo laríngeo caudal ou do nervo laríngeo recorrente há perda de abdução das cartilagens aritenoideias realizada pelo músculo crico-aritenoideu dorsal, e incapacidade de realizar uma constrição ativa da glote ou relaxamento das pregas vocais. Essa afecção poder ser congênita, já descrita, ou adquirida, sendo as de caráter idiopático as mais comuns. As lesões adquiridas podem ser ocasionadas por trauma, doenças infiltrativas, massas ou manipulação cirúrgica, doenças imuno-mediadas, hipotiroidismo ou outras alterações sistémicas. Em gatos, tem sido descrita secundariamente à neoplasia do nervo vago e à intoxicação por chumbo ou associada à doença neuromuscular progressiva. Quadro 2. Possíveis Causas de Paralisia de Laringe. Idiopática Lesão Cervical Ventral Trauma nos nervos Trauma direto Inflamação Fibrose Neoplasia Outras lesões inflamatórias ou massas Lesão Torácica Anterior Neoplasia Trauma Pós-operatório Outras lesões inflamatórias ou massas Polineuropatia e Polimiopatia Idiopática Imunomediada Endocrinopatia Hipotireoidismo Outros distúrbios sistêmicos Toxicidade Doença congênita Miastenia Gravis Fonte: Couto, 2016. Um estudo em cães com paralisia de laringe idiopática avaliou a função esofágica e o estado neurológico. Foi possível concluir que a disfunção que se classificava como paralisia de laringe idiopática é na verdade uma polineuropatia crônica, progressiva com manifestações precoces de disfunção laríngea e esofágica. 35 PRINCIPAIS DOENÇAS DA LARINGE │ UNIDADE II Sinais clínicos Manifestações clínicas de desconforto respiratório e estridores, alteração da fonação, engasgos ou tosse, especialmente durante o ato de comer ou beber são resultado direto do estreitamento das vias aéreas nas cartilagens aritenoides e pregas vocais. Quando a paralisia é unilateral normalmente os cães são assintomáticos. Paralisia laringiana unilateral resulta em dispneia inspiratória e ruído inspiratório, ao passo que a paralisia laringiana bilateral leva a episódios de engasgos, cianose, dispneia inspiratória grave e colapso. Animais com angústia respiratória necessitam de tratamento de emergência imediato. Diagnóstico A auscultação da laringe em repouso permite a detecção de um ruído inspiratório, contudo este ruído é mais audível durante o exercício, os animais podem apresentar hipertermia devido à dificuldade em dissipar o calor pelo trato respiratório obstruído. O diagnóstico definitivo da PL é feito através da laringoscopia, a função laringiana é avaliada quando o animal estiver em plano superficial de anestesia. O uso de sedativos e opioides podem levar a depressão da função laríngea e a avaliação fica comprometida. O movimento das cartilagens aritenoides é observado, a laringe não apresenta o movimento coordenado normal associado à respiração, abrindo-se na inspiração e fechando-se na expiração. Na paralisia laríngea, a cartilagem aritenoide e as pregas vocais permanecem fechadas durante a inspiração e ligeiramente abertas durante a expiração. A laringoscopia transnasal, pode ser uma modalidade diagnóstica em animais de grande porte, a vantagem dessa técnica é que pode ser realizada após sedação intramuscular e anestesia tópica, sem uso de anestesia geral. Porém se faz necessário o uso de equipamento mais dispendioso e os resultados obtidos em relação ao diagnóstico e observação alcançados serem iguais ou inferiores. A ultrassonografia pode ser utilizada, podem ser observadas assimetria ou ausência de motilidade dos processos cuneiformes, movimentos aritenoides anormais, movimentos paradoxais, deslocamento caudal da laringe e colapso de laringe. Uma vez estabelecido o diagnóstico de paralisia laríngea exame neurológico completo, incluindo função faringiana e esofágica, deve ser realizado para avaliar problemas concorrentes ou de base. Devem-se descartar problemas pulmonares simultâneos. 36 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DOENÇAS DA LARINGE Tratamento Os animas que se apresentem em cianose ou em colapso necessitam de um tratamento de emergência, sendo essencial suplementar o animal com oxigênio para diminuir a hipóxia, manutenção da volemia e controle da temperatura corporal. Casos mais graves podem requerer intubação e anestesia em plano superficial até se resolver o edema laringiano, tubo de traqueostomia deverá ser colocado para evitar exacerbação do edema laringiano. Quando há suspeita de edema da laringe deve ser administrado um anti-inflamatório corticoesteroide como, por exemplo, dexametasona (0,1 a 0,5 mg/kg) ou succinato sódico de metilprednisolona (0,5 a 1 mg/kg). Cães com hipertermia (≥ 41ºC) devem ser tratados com sedativos, fluidos IV, banhos de água fria, ventiladores ou aplicação de álcool nas extremidades. Após a estabilização e uma avaliação diagnóstica meticulosa, a cirurgia é normalmente o tratamento de escolha. O objetivo da correção cirúrgica é ampliar a glote sem promover a aspiração de alimento e saliva. Cirurgia corretiva de paralisia laringiana pode estar associada a elevado índice de complicações pós-cirúrgicas (34,3%) e uma elevada taxa de mortalidade (19, 3%). Pneumonia por aspiração pós-cirúrgica é a complicação mais comum em cães submetidos à cirurgia. Estão descritas várias técnicas cirúrgicas para o tratamento da paralisia laríngea incluindo procedimento de lateralização da aritenoide (retroligadura), laringectomia parcial e laringoplastia encastelada. Nos casos em que a cirurgia não é uma opção, o tratamento terapêutico pode ser instituído. Utiliza-se doses anti-inflamatórias de glicocorticoides de curta ação (p. ex.: prednisona (0,5 mg/kg administrado por via oral, inicialmente, a cada 12 h) e repouso no intuito de reduzir inflamação e edema secundários da faringe e da laringe e melhorar o fluxo de ar. Para o tratamento em longo prazo, evitar situações que resultem em esforço respiratório prolongado e aumentado, tais como exercícios pesados e altas temperaturas ambiente. Prognóstico Os animais com sinais clínicos leves vivem bem sem cirurgia em um ambiente calmo. Contudo os que apresentam sinais clínicos moderados a graves podem desenvolver colapso laríngeo e obstrução respiratória aguda. Animais tratados cirurgicamente são de reservado a bom, apesar de evidência de doença generalizada e progressiva. 37 CAPÍTULO2 Laringite Fisiopatologia O processo inflamatório da laringe é denominado laringite, caracterizado por hiperemia da mucosa, devido dilatação dos capilares e infiltração leucocitária. É comum de ocorrer em cães e gatos, o quadro agudo leva a uma tosse contínua. Geralmente está associada à doença infecciosa sistêmica, como traqueobronquite infecciosa canina e de agentes do complexo respiratório felino, porém pode ter como causa uma doença isolada. A laringite obstrutiva ou doença inflamatória obstrutiva é uma infiltração de células inflamatórias devido a uma proliferação irregular, não neoplásica, levando a um quadro de hiperemia e edema de laringe. O aspecto macroscópico da lesão é bem semelhante a uma formação neoplasia, mas é diferenciada por meio de estudo histopatológico, onde se observam infiltrados inflamatórios granulomatosos, piogranulomatosos ou linfociticoplasmocíticos. Não se conhece uma causa base para que esse processo ocorra. Nos gatos o complexo granuloma eosinofílico pode estar associado à etiologia desse processo levando à formação de massa inflamatória laringiana. Pode-se incluir outras causas de laringite a intubação endotraqueal, picada de insetos, penetração de corpo estranho ou trauma por mordeduras, lesões por estrangulamento ou coleiras, processos alérgicos ou pode ser idiopática. Nos casos de picadas de insetos podem ocorrer edema grave de laringe, levando ao aumento rápido de dispneia inspiratória e expiratória, bem como estridor, trata-se de um processo agudo podendo levar o animal a óbito. Sinais clínicos Manifestações clínicas de obstrução de vias aéreas superiores, incluindo tosse alta e estridente, em casos graves tosse paroxística frequentemente leva a engasgos. Ocasionalmente, o animal pode apresentar-se febril, letárgico ou inapetente. Tratamento O tratamento é realizado de acordo com a causa base da laringite. O animal deve ser mantido em repouso, evitando situações que levem a excitação. Por vezes os cães 38 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DOENÇAS DA LARINGE podem deixar de ingerir água, devido à tosse a aos episódios de vômitos, porém a água umedece a mucosa laringiana, diminuindo a irritação, logo, nos casos de hipodpsia a água deverá ser administrada oralmente (20 ml para cão de 15 kg), várias vezes ao dia, de acordo com a frequência da tosse. Pode-se recorrer ao uso de antitussígenos, como butorfanol ou hidrocodona, nos casos de tosse excessiva os sedativos (Fenobarbital, 2 mg/kg, SID ou BId) podem ser utilizados, especialmente à noite. Os animais com laringite obstrutiva, de forma geral respondem a terapia com glicocorticoides, como prednisona ou prednisolona (1 mg/kg/12 h) inicialmente, após melhora dos sinais clínicos a pode ser diminuída para a menor dose que efetivamente mantém a remissão dos sinais clínicos. Ocasionalmente a ressecção cirúrgica dos tecidos que obstruem as vias aéreas possa ser necessária em animais com sinais graves de obstrução de vias aéreas superiores ou grandes massas granulomatosas. Nos casos agudos de laringite devido à picada de insetos deve-se realizar administração de corticosteroide, preferencialmente intravenoso, nos casos mais graves pode ser necessário intubação e traqueostomia deverão ser realizadas se ocorrer piora da dispneia. Quando se tem algum agente infeccioso envolvido no desenvolvimento da laringite, como nos cães acometidos com “tosse dos canis” ou gatos com CRF, deve-se investigar qual o agente envolvido para instituir a terapia, geralmente nesses casos é necessário instituir antibioticoterapia. Em cães o fármaco de escolha quando é Doxiciclina (5 a 10 mg/kg) nos casos de B. bronchiseptica. Felinos acometidos com CRF o tratamento consiste em antibioticoterapia, fluidos parenterais e terapia sintomática. Nos casos de laringite ocasionados pela intubação, geralmente a doença é autolimitante e se resolve com o tempo. Prognóstico O prognóstico frequentemente possui bom prognóstico, mas em alguns casos pode ser variável. Nos casos de laringite obstrutiva o prognóstico pode variar de acordo, com o tamanho da lesão, da severidade do dano à laringe e da resposta da lesão ao tratamento com glicocorticoides. Nos casos onde é necessária a intervenção cirúrgica o prognóstico é reservado, com alta taxa de mortalidade durante o período de diagnóstico inicial e o período de tratamento. 39 CAPÍTULO 3 Neoplasias da laringe Fisiopatologia Neoplasias primárias da laringe em cães e gatos ocorrem raramente, os tumores nessa região estão mais comumente associados aos tumores provenientes de tecidos adjacentes à laringe, tais como carcinoma de tireoide e linfoma que comprimem ou invadem a laringe. Carcinomas e oncocitomas ou rabdomiomas são relatados como os mais frequentes nessa região em cães, representando 34% e 24% dos casos, respectivamente, nos gatos são mais comuns carcinomas e linfomas. Outras neoplasias já foram descritas, como os mastocitomas, condrossarcomas, osteossarcomas melanomas, lipomas, adenocarcinomas, fibrossarcomas, liomiomas, linfomas e plasmocitomas. Não há predisposição de raça ou sexo para o aparecimento das neoplasias de laringe. Há uma maior ocorrência em animais idosos, com média de idade de sete anos em cães, embora o oncocitoma seja descrito principalmente em cães jovens adultos. Em gatos a média é de onze anos. Figura 9. Formação entre as cartilagens aritenoides (seta branca). Fonte: Daleck e Nardi, 2016. Sinais clínicos Os sinais clínicos de tumores laríngeos são semelhantes a outras doenças que acometem o órgão, que são respiração ruidosa, estridores, distrição respiratória inspiratória, 40 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DOENÇAS DA LARINGE cianose, síncope alterações progressivas no latido e miado, disfagia e emagrecimento progressivo. Os sinais e sintomas tendem a piorar quando o animal é submetido a situações de estresse, exercício físico e temperaturas elevadas. Diagnóstico Em geral, os tumores primários da laringe não são palpáveis, porém a integridade das estruturas cartilaginosas e a presença de aumentos em linfonodos cervicais podem ser observadas durante o exame físico, tumores extralaríngeos são frequentemente identificados pela palpação cervical. O exame radiográfico, ultrassonográfico e/ou tomografia computadorizada podem revelar distorções no lúmen da laringe, evidenciando redução no diâmetro de trânsito do ar, causada por massa intraluminal, sendo úteis para avaliar a extensão da doença, além de auxiliarem no estadiamento da doença. A laringoscopia pode ser utilizada para guiar coleta de material para citologia biopsia incisional. O exame citológico frequentemente proporciona um diagnóstico, porém o diagnóstico definitivo da neoplasia é realizado pelo estudo histopatológico e/ou imunohistoquímico de amostra tumor. Diagnósticos diferenciais Diagnósticos diferenciais incluem laringite obstrutiva, pólipo nasofaríngeo, corpo estranho, granuloma traumático e abscesso. Tratamento O tratamento depende do tipo histológico da neoplasia. A excisão cirúrgica pode ser benéfica e curativa nos casos de neoplasias benignas, como o rabdomioma ou oncocitoma, quando se preserva a função laringeana. Nas neoplasias malignas, existem poucos relatos de terapia de sucesso. Várias técnicas são descritas para a retirada cirúrgica de tumores laringianos: hemilaringectomia segmental, laringectomia total ou flap miocutâneo ampliado. Laringectomia completa e a traqueostomia permanente podem ser consideradas em alguns casos específicos. Tumores que não tem indicação cirúrgica, por serem infiltrativos, podem ser tratados com radioterapia, nos casos de linfoma também se recomenda a radioterapia. Gatos com linfossarcoma respondem bem a quimioterapia. 41 PRINCIPAIS DOENÇAS DA LARINGE │ UNIDADE II Prognóstico O prognóstico dos tumores laríngeos é reservado, depende do tipo histológico e da extensão da neoplasia. As neoplasias benignas quando ressecadas cirurgicamente tem prognóstico bom, neoplasias malignase irressecáveis possuem um prognóstico ruim. 42 UNIDADE III PRINCIPAIS DOENÇAS DA TRAQUEIA E BRÔNQUIOS A traqueia é um órgão circular constituinte da porção condutora de ar do sistema respiratório, forma junto com os brônquios, um sistema contínuo de tubos denominado árvore traqueobrônquica, cuja principal função é conduzir ar aos bronquíolos pulmonares para que se realize a hematose. Doenças da traqueia são frequentes em cães e incomuns em gatos. A principal doença de traqueia em cães é a traqueobronquite infecciosa canina, “tosse dos canis”, em gatos geralmente está associada à infecção secundária do trato respiratório. Outras enfermidades relacionadas à traqueia incluem colapso de traqueia, hipoplasia, obstrução e traumatismo traqueal, neoplasias e doenças parasitárias. Os brônquios primários ramificam-se da traqueia, penetram no pulmão pelo hilo, onde também entram as artérias, veias e vasos linfáticos. Os brônquios primários dão origem a outros brônquios, brônquios lobares, que continuam se dividindo repetidas vezes, até formar os bronquíolos. A doença dos brônquios mais comum nos cães e gatos é a bronquite, a infecção por Oslerus osleri deve ser considerada em cães jovens. Outras doenças que podem acometer os brônquios podem ocorrer concomitantes com doenças pulmonares. CAPÍTULO 1 Colapso de traqueia Fisiopatologia A etiologia do colapso traqueal não e bem descrita, mas sabe-se que é multifatorial, dentre estas podemos citar fatores genéticos, fatores nutricionais, alérgenos, anormalidades neurológicas, doença das pequenas vias aéreas e degeneração da matriz 43 PRINCIPAIS DOENÇAS DA TRAQUEIA E BRÔNQUIOS │ UNIDADE III cartilaginosa. O termo colapso de traqueia está relacionado ao estritamento do lúmen traqueal, isso ocorre porque a cartilagem hialina é substituída por fibrocartilagem e fibras colágenas, ao passo que também ocorre uma diminuição do sulfato de condroitina e glicosaminoglicano, com isso, os anéis cartilaginosos ficam frágeis e perdem sua capacidade de manter a conformação traqueal normal durante o ciclo respiratório. Essa condição pode ocorrer na traqueia extratorácica, intratorácica ou ambas. Outras condições como bronquite crônica, doença cardíaca crônica (como insuficiência da valva mitral), traumatismo traqueal, obesidade, aumento do tecido adiposo mediastinal e massas torácicas, podem estar associadas ao colapso traqueal. O colapso traqueal pode ser primário ou secundário. O primário compromete principalmente a porção cervical da traqueia e pode ser fixo ou dinâmico, geralmente acomete animais mais jovens e pode ser hereditário. O secundário compromete a porção torácica da traqueia e os brônquios principais, as causas mais prováveis são as pressões anormais transpulmonares nas vias respiratórias geradas pela tosse crônica e pela resistência elevada. Para alguns autores quando os brônquios principais também estão envolvidos, a condição é denominada traqueobroncomalacia. A broncomalacia é reconhecida em pessoas e cães. Alguns cães têm predisposição ao colapso, devido a anormalidades inerentes na composição de sua cartilagem, estes podem permanecer assintomáticos até alguns fatores que iniciam ou desencadeiam aconteçam, tais como inflamação das vias aéreas e/ou tosse. As raças de pequeno porte e miniatura (toys), como Chihuahua, Lulu-da-Pomerânia, Poodle Miniatura, Shih Tzu, Lhasa Apso e Yorkshire Terrier são as mais acometidas. O colapso de traqueia é raro em gatos e quando ocorre geralmente é secundário a uma obstrução da traqueia por tumor ou injuria traumática. Sinais clínicos No colapso traqueal as manifestações podem ocorrer de forma aguda, mas progridem lentamente no decorrer de meses a anos. É uma das causas mais comuns de obstrução das vias respiratórias nos cães de raças pequenas e é uma causa frequente de morbidade e mortalidade. O principal aspecto clínico é a tosse crônica e não produtiva, de alta sonoridade, descrita como um “grasnar de ganso” ou um engasgo, como se o animal quisesse eliminar algo. A tosse piora quando o animal é submetido a situações de estresse, exercício ou compressão pelo uso de coleiras. 44 UNIDADE III │ PRINCIPAIS DOENÇAS DA TRAQUEIA E BRÔNQUIOS Com o agravamento da doença pode ocorrer angustia respiratória, provocada pela obstrução do fluxo de ar para as vias aéreas, esses episódios tendem a ocorrer durante o esforço físico, estresse térmico ou em condições úmidas. Em casos mais graves pode ocorrer obstrução completa levando a quadros de cianose e síncope. Deve-se estar atendo a temperatura corporal em animais com sintomas de obstrução das vias respiratórias, pois a hipoventilação está associada à diminuição da capacidade de dissipar o calor, o que pode levar a um quadro de hipertermia que pode ser fatal. O colapso traqueal cervical geralmente provoca dificuldade respiratória na inspiração, enquanto o colapso intratorácico resulta em esforço expiratório. Diagnóstico O diagnóstico do colapso de traqueia é feito por meio de achados de anamnese, exame físico e exames complementares. Os exames diagnósticos devem ser realizados com cautela em pacientes que são acometidos com dispneia grave, devido ao risco de morte. Os principais exames complementares utilizados são os exames radiográficos, que devem ser realizados nas projeções dorsoventral e lateral das regiões cervical e torácica. As radiografias detectam simultaneamente desordens cardíacas e pulmonares, além do colapso. Para avaliar o tamanho do lúmen da traqueia extratorácica as radiografias da região cervical, são realizadas durante a inspiração, quando o estreitamento provocado pelo colapso traqueal é mais evidente por causa da pressão negativa nas vias aéreas. Quando se quer avaliar a porção torácica o exame realizado durante a expiração, observa-se colapso do segmento torácico e segmento cervical normal ou ligeiramente dilatado. Normalmente a região envolvida pelo colapso envolve cerca de um terço do segmento do comprimento da traqueia, e é caracterizada por uma membrana traqueal dorsal que se invagina para o lúmen traqueal, evidenciada por radiopacidade de tecido mole ao longo da margem dorsal da traqueia. Outros exames de imagem como a fluoroscopia, broncoscopia e ultrassonografia podem ser utilizados. A fluoroscopia é um estudo dinâmico em tempo real da função respiratória, fornece uma “imagem em movimento” da atividade das grandes vias aéreas, permitindo uma avaliação da traqueia de forma contínua ao longo de todas as fases da respiração, bem como durante a tosse. Os achados permitem avaliar a magnitude do colapso. A ultrassonografia também pode auxiliar a avaliação da movimentação dinâmica da traqueia, tem a vantagem de não expor animal à radiação, e pode ser realizada com pouca ou nenhuma sedação. O exame é limitado à avaliação do colapso traqueal cervical, 45 PRINCIPAIS DOENÇAS DA TRAQUEIA E BRÔNQUIOS │ UNIDADE III mas pode identificar simples alterações no formato da traqueia, de modo a caracterizar a lesão no momento do colapso. A broncoscopia é realizada com o paciente sob efeito de anestesia, o que compromete a indução da tosse. Junto com a fluroscopia é considerada o método de escolha para avaliar tanto a traqueia quanto as vias aéreas superiores, pois permite a visualização direta, permitindo a avaliação do grau de colapso traqueal I, II, III e IV. Esta técnica permite também a coleta de material de cultivo microbiológico bem como para exame citológico. Quadro 3. Classificação do colapso de traqueia. Grau I Diminuição de até 25% do lúmen traqueal. Achatamento discreto do anel. Grau II Diminuição de até 50% do lúmen traqueal. Achatamento moderado do anel. Grau III Diminuição de até 75% do lúmen traqueal. Achatamento grave do anel. Grua IV A membrana traqueal toca a superfície ventral da traqueia, ocasionando obliteração luminal total. Fonte: Adaptado de Thrall, 2014. Tratamento A terapia para o colapso de traqueia é dividida em abordagemaguda e terapia crônica. Pacientes que estão em crise aguda de colapso, com distrição respiratória deve ser abordado com uma emergência médica, requerendo uma intervenção rápida para estabilização do quadro. Torna-se necessário o fornecimento de oxigênio umidificado, alguns pacientes necessitam de intubação endotraqueal, o que muitas vezes pode ser hesitado, uma vez que o paciente pode ter uma extubação difícil, mas vale ressaltar que no momento de emergência o que deve ser priorizado é a vida do paciente. Posteriormente quando o animal estiver mais estável, medicado, com as vias aéreas úmidas, pode-se iniciar com cautela a extubação. Ao mesmo passo devem-se observar sinais clínicos relacionados a outros sistemas, como cardiovascular e nervoso. Nos casos em que seja necessário sedação pode ser realizada com butorfanol (0,05 a 0,1 mg/kg por via subcutânea [SC] a cada 4 a 6 h), pois é um fármaco que apresenta também potente ação antitussígena, pode ser utilizado como agente único ou associado à acepromazina (0,01 a 0,1 mg/kg SC a cada 4 a 6 h). Pode ocorrer edema traqueal e inflamação da laringe devido ao esforço respiratório, esses casos recomenda-se corticosteroides de ação rápida, dexametasona (0,04 mg/kg por via intravenosa). O uso de broncodilatadores é preconizado por diminuírem os espasmos das vias respiratórias menores, reduzirem a pressão intratorácica e a tendência das vias respiratórias maiores a entrarem em colapso. Deve-se lembrar de que esses pacientes tem predisposição ao desenvolvimento 46 UNIDADE III │ PRINCIPAIS DOENÇAS DA TRAQUEIA E BRÔNQUIOS de hipertermia, logo, devem ser mantidos em ambientes arejados e a avaliação da temperatura corporal deve ser constante. Nos processos crônicos, a terapia clínica é indicada para todos os animais que possuem menos de 50 % de colapso e sinais clínicos leves, pacientes graus I e II são os que melhor respondem a terapia. O tratamento cirúrgico é indicado para aqueles que respondem satisfatoriamente. É essencial identificar o fator desencadeador, por isso o tratamento é individual. Nos casos de fator alérgico envolvido, deve-se evitar o contato entre o animal e o alérgeno, pacientes obesos recomenda-se o controle do peso, não utilizar coleiras e sim peitorais, evitar situações de estresse e atividades físicas intensas. Deve-se também investigar outras comorbidades, que devem ser tratadas. A terapia baseia-se na diminuição da ansiedade com uso de antitussígenos, broncodilatadores, nebulização ou inalação com solução salina. Os broncodilatadores não agem na traqueia, porém, são benéficos naqueles pacientes com manifestações de dispneia e de bronquite crônica, melhorando o fluxo respiratório. Melhoram também a depuração mucociliar e redução da fadiga diafragmática. Os antitussígenos podem reduzir a irritação crônica ou o dano do epitélio traqueal causadas pela tosse. As principais medicações incluem butorfanol e codeína, doses e frequência devem ser ajustadas de forma individual. Recomenda-se começar com um intervalo de dosagem frequente e, gradualmente, prolongar o tempo entre cada administração, até que a dose eficaz mais baixa seja utilizada em intervalo mais longo. Os glicocorticoides são utilizados com o intuito de diminuir a inflamação traqueal, porém de forma eventual, pois apesar de aliviarem os sintomas pelo seu efeito anti-inflamatório, eles podem contribuir para o ganho de peso, além de propiciar a ocorrência de respiração ofegante, o que provoca pressão adicional sobre o sistema respiratório. Pode ser utilizada prednisona na dose anti-inflamatória, ou optar por Corticoides inalatórios, pois minimiza os efeitos colaterais sistêmicos. Pacientes que não respondem ao tratamento clínico e/ou com sinais clínicos de moderado a grave com redução de 50% ou mais do lúmen traqueal (grau III e IV), recomenda-se o tratamento cirúrgico. O objetivo da cirurgia é restaurar o diâmetro normal traqueal sem interromper o fluxo mucociliar. Muitas técnicas são descritas, as mais utilizadas na atualidade incluem a colocação de prótese extraluminal e, mais recentemente, o uso de stents intraluminais. Proteses extraluminais são restritas à traqueia cervical e a uma pequena porção proximal da torácica, são de polipropileno e podem ser em forma de anéis individuais 47 PRINCIPAIS DOENÇAS DA TRAQUEIA E BRÔNQUIOS │ UNIDADE III ou em espiral, dão sustentação estrutural às cartilagens e ao músculo traqueal, preservando ao máximo o aporte sanguíneo e a inervação da laringe e da traqueia. A principal complicação que pode surgir é a paralisia de laringe devido à lesão do nervo laríngeo recorrente durante a cirurgia. Os stents endotraqueais têm a vantagem de serem minimamente invasivos quando comparados à técnica extraluminal, com melhoria imediata da situação clínica e tempo de recuperação cirúrgico mais curto. O procedimento é realizado por meio de endoscopia e fluoroscopia, o que determina um procedimento minimamente invasivo. As principais complicações estão relacionadas com a migração ou o colapso da endoprótese, desenvolvimento de infecções e fatores que desestabilizam o aparato mucociliar, podendo agravar os sinais clínicos. Quadro 4. Fármacos utilizados nas doenças respiratórias em cães. Broncodilatadores Aminofilina 11 mg/kg/TID Teofilina 9 a 10 mg/kg/BID OU TID Terbutalina 0,625 a 5 mg/cão/BIT OU TID Albuterol 0,02 a 0,05 mg/kg/BI OU TID Corticosteroides Prednisona 0,5 mg/kg/BID Propionato de fluticasona 110 μg, administrado por máscara Antitussígenos Butorfanol 0,5 mg/kg de BID a QID Codeína 0,25 mg/kg de BID a QID Fonte: Jericó, 2015. Prognóstico O prognóstico depende mais dos problemas respiratórios intercorrentes (tais como paralisia ou colabamento laringeanos e broncopatia) que da localização ou da gravidade do colabamento traqueal. Sendo favorável para os pacientes que possuem os sinais clínicos controlados com o tratamento clínico, se o não for obeso e se o colabamento traqueal não for intenso. Os animais com manifestações clínicas exacerbadas, não responsivas ao tratamento clínico, tem um prognóstico reservado. Pacientes em que os tutores estejam dispostos devem ser encaminhados para possível correção cirúrgica. 48 CAPÍTULO 2 Obstrução de traqueia Fisiopatologia As obstruções traqueais podem ser classificadas como intraluminais e extraluminais. As obstruções intraluminais ocorrem devido algum fator estar obstruindo o lúmen do órgão, podendo ser incluídos os tumores traqueais primários, nódulos, pólipos, abcessos, granulomas, corpo estranho (CE) e parasitas. As obstruções extraluminais ocorrem por compressão e deslocamento da traqueia devido a formações na região cervical ou mediastinal cranial, tais como tumores esofágicos e linfoadenomegalia. Figura 10. Anéis traqueais retirados após intervenção cirúrgica de paciente felino que apresentava obstrução traqueal devido à neoplasia de crescimento intraluminal. Fonte: Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, Jericó 2015. Corpo estranho traqueal não é incomum entre cães e gatos, geralmente são diagnosticados em animais mais jovens. Já foram relatados CE como pedras, bola de gude, alfinetes e capim. Objetos maiores, geralmente, ficam retidos na carina, porém os menores, após serem inalados ou introduzidos por falsa via, podem passar pela traqueia e alojarem-se nos brônquios e causar pneumonia por aspiração, abscessos, piotórax e, em alguns casos, trajetos fistulosos. Sinais clínicos As manifestações clínicas apresentadas dependem do grau de obstrução. Os sintomas aparecem após a oclusão de metade do lúmen traqueal. Os pacientes apresentam 49 PRINCIPAIS DOENÇAS DA TRAQUEIA E BRÔNQUIOS │ UNIDADE III comumente tosse e intolerância ao exercício, mas podem apresentar quadros de distrição respiratória, estridor e cianose, tais sinais podem ser agudos ou crônicos, depende da causa da obstrução. Nos casos de obstrução parcial, próximo
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