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Brasília-DF. Medicina RespiRatóRia e toRácica, sisteMa digestóRio, Fígado e cavidade abdoMinal Elaboração Ana Cláudia de Souza Andrade Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I MEDICINA RESPIRATÓRIA ....................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 TÓRAX ................................................................................................................................... 10 CAPÍTULO 2 TRATO RESPIRATÓRIO .............................................................................................................. 17 UNIDADE II SISTEMA DIGESTÓRIO, FÍGADO E CAVIDADE ABDOMINAL ..................................................................... 46 CAPÍTULO 1 SISTEMA DIGESTÓRIO ............................................................................................................. 52 CAPÍTULO 2 FÍGADO ................................................................................................................................. 90 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 120 ANEXOS ........................................................................................................................................ 126 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução O organismo animal é uma máquina de reações químicas maravilhosa, sobre o qual, pouco nos damos conta, mas o estudo anatômico e fisiológico das espécies nos relembra dessa sensacional atividade. As várias partes do corpo devem funcionar em harmonia, fato aparentemente simples e automático, porém, observado a fundo, percebemos sua complexidade que resulta em numerosas interações. Influências externas isoladas, como as doenças, podem levar à ausência de sintonia, incapacitando o corpo de realizar efetivamente bem suas defesas e funções. Os sistemas e órgãos estudados no presente módulo são de suma importância para que se entenda o gato como um todo. Sua alimentação essencialmente carnívora fez com que o organismo felídeo desenvolvesse adaptações anatômicas, fisiológicas, metabólicas e comportamentais únicos. Como carnívoros estritos, os gatos dependem de nutrientes encontrados nos tecidos animais para suprir suas necessidades específicas e peculiares. Necessitando consumir uma dieta com alto valor proteico e pobre em carboidratos. Nutricionalmente, os gatos são chamados de carnívoros essenciais ou verdadeiros, e não possuem dentes mastigatórios. Sua boca é anatomicamente desenvolvida para se abrir muito bem e permitir a passagem de alimentos onde seus dentes carniceiros possam rasgar a carne. Todo o sistema do felino é adaptado para sua alimentação estritamente carnívora, por isso seu organismo possui várias particularidades, o que gera desafios aos estudiosos da espécie. A respiração constitui um componente amplo e complexo. Basicamente, tem como objetivo levar oxigênio para dentro do organismo e retirar o dióxido de carbono, garantindo o ciclo respiratório e sua homeostase. Dessa feita, observaremos as estruturas que compreendem esse ciclo e a função de cada órgão que compõe o sistema respiratório. Esse sistema também proporciona ao animal a produção de sua voz, regulação de temperatura e regulação do seu pH; todos com o intuito de proporcionar o bem estar do animal. O trato gastrointestinal do felino constitui o ponto de entrada de toda a energia metabólica no interior do seu organismo, estabelecendo uma interface importante entre o organismo e o ambiente externo. 8 Os processos de digestão, absorção e eliminação são altamente complexos, envolvendo a regulação coordenada de degradação mecânica e química de alimentos, do processamento enzimático, da absorção de mucosa, do transporte de nutrientes e da regulação do fluxo eletrolítico e fluxo hídrico. O funcionamento correto do trato gastrointestinal depende da presença e da função de outros órgãos como o fígado e pâncreas. Dentro dos sistemas estudados, abordaremos também algumas doenças que são de certa forma corriqueiras na rotina da clínica médica de felinos. Essas doenças, além de serem diagnosticadas e tratadas, servem para que o clínico possa ter um olhar mais apurado para alguns sinais peculiares apresentados pelos felinos, pois, pelo fato de serem predadores naturais, eles acabam por mascarar muitas doenças, já sendo tarde quando seus tutores as notam. Objetivos » Diferenciar respiração interna e externa. » Listar as estruturas do sistema respiratório. » Listar as funções das estruturas dos órgãos do sistema respiratório. » Definiro ato da troca gasosa. » Compreender as enfermidades mais comuns do sistema respiratório. » Listar as funções que o sistema digestório desenvolve. » Listar as estruturas dos órgãos do sistema digestório. » Nomear os dentes dos felinos. » Definir o tempo de maturação do dente. » Definir a função do intestino delgado. » Definir a função do intestino grosso. » Definir a função do fígado no sistema digestório. » Compreender a função da secreção biliar. » Compreender as enfermidades mais comuns dos sistemas estudados. 9 UNIDADE IMEDICINA RESPIRATÓRIA O sistema respiratório tem como função primordial levar o oxigênio (O2) para o interior da estrutura respiratória e retirar o gás carbônico (CO2) da mesma. É necessário que a troca gasosa seja constante para que ocorra a homeostase do organismo. Assim, o oxigênio permite queimar os nutrientes e produzir energia, sendo o resíduo originário de tais reações excretado após o término do ciclo. Esse ciclo se inicia pela respiração que ocorre de modo contínuo: respiração externa e interna. A respiração externa transcorre no pulmão e a respiração interna ocorre por todo o organismo, consistindo na troca gasosa entre o sangue nos capilares e células do organismo. Além de realizar seu intuito primário de troca gasosa, o sistema respiratório tem outras atividades secundárias como: regulação do pH, termorregulação, olfato e a fonação. A regulação do equilíbrio acidobásico é de extrema importância para a homeostase do organismo; e, para que as reações químicas ocorram normalmente, a alcalinidade e acidez relativa no ambiente devem ser rigorosamente controladas. O pH corporal vária de 0 e 14, sendo que, quanto menor o valor de pH mais ácido será o meio, quanto maior mais alcalino é o ambiente, sendo 7 o pH neutro. Logo, quando o pH do sangue se encontra menor ou maior de 7,35 - 7,45 significa risco para a homeostase do animal. Para que o sistema respiratório mantenha esse equilíbrio, ele auxilia no processo de regulação acidobásico, pois é fator de influência no valor sérico de CO2 sanguíneo, no ato de inspirar e expirar. De acordo com a velocidade da respiração, o sistema regula a medida do CO2 presente no organismo do animal, promovendo a homeostase. O sistema respiratório auxilia na regulação da temperatura corporal do organismo para que este mantenha-se ajustado. Em temperaturas baixas, a rede de vasos localizada abaixo das passagens nasais aquece o ar inalado, fazendo com que ele chegue aos pulmões na temperatura adequada, esse amparo evita a possibilidade do animal desenvolver hipotermia. 10 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA Quando se trata de locais com altas temperaturas, o sistema auxilia no resfriamento, aumentando a quantidade de respiração por minuto, deixando o animal ofegante. Esse método faz com que aumente a evaporação de fluídos do organismo, resfriando o sangue que está circulando. O sentido olfativo é importante para os animais, como na caça, por exemplo, momento em que necessitam farejar suas presas. Os receptores para o olfato estão presentes em segmentos do epitélio sensorial localizados na região dorso-caudal das passagens nasais. A fonação é um processo que tem início na laringe, local onde estão presentes duas tiras de conjunto fibroso conhecidas como pregas vocais. Estas se distendem pelo lúmen da laringe e vibram quando ocorre a passagem de ar, originando o som da voz do animal. CAPÍTULO 1 Tórax O tórax é constituído por ossos, músculos e cartilagens. É delimitado pelas doze vértebras torácicas e músculos intercostais lateralmente, e ventralmente pelo esterno. As costelas articulam-se com as vértebras torácicas denominadas articulação costovertebral, e com a cartilagem costal chamada de articulação costocondral. O esterno é constituído pelo manúbrio e xifoide, e se articula com a cartilagem costal originando a articulação esternocondral. Seguindo a anatomia topográfica, cada espaço entre cada uma das costelas denomina-se espaço intercostal, nesse espaço temos feixes vasculho-nervosos juntamente com os músculos intercostais. A cavidade torácica contém dois pulmões; coração; grandes vasos sanguíneos; nervos; traqueia; esôfago; vasos linfáticos e linfonodos. Uma membrana fina denominada pleura recobre os órgãos e estruturas do tórax revestindo toda a cavidade. A membrana que cobre os órgãos torácicos e as estruturas é denominada pleura visceral e a parte que reveste a cavidade pleura parietal. Entre essas duas pleuras existem um espaço que é preenchido com uma pequena quantidade de fluído lubrificante. 11 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I As superfícies lisas das membranas pleurais lubrificadas com o fluído pleural garantem que as superfícies dos órgãos, especialmente pulmão, deslizem facilmente pelo revestimento do tórax durante a respiração. O mediastino é a parte do tórax entre os pulmões, ele abriga o coração e a maioria das outras estruturas torácicas. O diafragma é uma camada fina de músculo esquelético que forma o limite caudal do tórax e age como um importante músculo respiratório. Em estado relaxado, o diafragma assume uma forma de cúpula com sua superfície convexa voltada cranialmente. As bases dos pulmões estão posicionadas diretamente na superfície cranial da cúpula do diafragma, com o fígado logo atrás. Quando o diafragma se contrai, sua forma de cúpula fica ainda mais esticada, isso aumenta o volume do tórax e ajuda no processo de inspiração. Felinos possuem alta incidência de hérnias traumáticas, uma das principais é a hérnia diafragmática. As hérnias diafragmáticas ou pleuroperitoniais podem ser definidas como uma solução de continuidade existente no diafragma, que age permitindo passagem de vísceras da cavidade abdominal para torácica. A maioria das hérnias diafragmáticas que acometem tanto gatos como cães são adquiridas, consequente, de traumas, principalmente automobilísticos. Os órgãos abdominais que passam para a cavidade torácica e se encarceram possuem graus variáveis de congestão venosa, e isso podem gerar as complicações patológicas. Não existe nenhuma raça com predisposição à ocorrência desse tipo de hérnia, todas podem ser acometidas, já que é consequência de acidentes traumáticos. No entanto, podemos observar que os animais mais jovens (gatos entre 1 e 2 anos), errantes ou semidomiciliados, não castrados, do sexo masculino, são os mais frequentemente diagnosticados, pois são aqueles com maior tendência a acidentes de natureza traumática (HUNT; JOHSON, 2003; FOSSUM et al., 2007; OZER et al., 2007; LUIDWING et al., 2010). Existe, contudo, hérnia diafragmática de origem congênita, quando ocorre um desenvolvimento incompleto e anormal do diafragma. Já a adquirida, acontece nos casos de traumatismos diretos e indiretos sobre esse músculo. Podem ainda ser classificadas como verdadeiras e falsas; onde na verdadeira as vísceras estão dentro de um saco herniário, já nas falsas, as vísceras encontram-se soltas no espaço pleural, como nos casos de ruptura diafragmática e defeito diafragmático congênito (OLIVEIRA, 1999). 12 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA A taxa de mortalidade dos animais com hérnia diafragmática traumática é 15% antes do procedimento cirúrgico, e 20 a 30% durante a fase cirúrgica (trans e pós). Porém, nos pacientes com hérnia diafragmática crônica o índice pode ser superior aos 50%. Observa-se que o índice de mortalidade em pacientes submetidos à cirurgia, em até 24 horas após o trauma, é mais elevado que aqueles operados após 24 horas, gerando conflitos na literatura. O diafragma é uma divisão musculotendinosa que separa os órgãos abdominais e torácicos, ajudando na ventilação e tem papel importante no movimento do fluido linfático. É composto por uma seção tendinosa central forte e três músculos separados: costal, esternal e lombar. As fibras musculares adentram ao longo do arco costal, onde se encontram com as fibras do músculo transverso do abdome, em seguida continuampara surgir ao longo da superfície dorsal da cartilagem xifoide para se tornarem as do lado oposto. Todas as fibras das porções costais e esternal estão direcionadas no sentido do centro tendíneo (SLATTER, 2007). Nos felinos, existem três forames no diafragma: o hiato aórtico, que se localiza dorsalmente, permitindo assim a passagem da aorta, da veia áziga e do ducto torácico; o hiato esofágico está situado ao lado direito, conduzindo o esôfago, troncos vagais dorsal e ventral e seus vasos associados; e o forame da veia cava, que está situado mais ventralmente (PERRY et al., 2010). O suprimento de sangue ao diafragma deriva principalmente das artérias frênicas principais. Elas emergem das artérias frenicoabdominais pareadas e estendem-se para frente, para ramificar de forma subperitoneal no ramo do diafragma. Esses vasos passam medialmente às extensões dorsais do centro tendinoso, então se dividem sobre a parte tendinosa, e dividem-se novamente na musculatura periférica (EVANS, 1993). Os nervos frênicos se dividem em ramos direito e esquerdo, que são envolvidos pela prega da veia cava e pelo mediastino. Depois, se ramificam ainda em três estruturas que irão inervar os três músculos do diafragma, sendo os únicos nervos motores responsáveis pela inervação diafragmática (EVANS, 1993). A lesão pode ocorrer de forma direta ou indireta. As lesões diretas por golpe toracoabdominal e feridas por arma de fogo raramente são encontradas nos animais. A lesão iatrogênica do diafragma pode ocorrer durante a toracocentese, com drenos torácicos posicionados de forma inadequada ou devido à extensão da incisão de celiotomia na linha média mais rostral do que o processo xifoide (FOSSUM, 2005). 13 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I Acredita-se que, o mecanismo para a lesão indireta ao diafragma seja o aumento repentino na pressão intra-abdominal com a glote aberta, onde, durante a inspiração silenciosa, o gradiente de pressão pleuroperitoneal normalmente varia de 7 a 20 cm H2O, porém se eleva além de 100 cm H2O na inspiração máxima. A aplicação de uma força à cavidade abdominal com a glote aberta eleva esse gradiente, assim a herniação da víscera ocorre, em geral, imediatamente após a ruptura do diafragma (SLATTER, 2007). Em razão da natureza do trauma por automóvel, a lesão multissistêmica e o choque são complicadores potenciais na hérnia diafragmática traumática. A hérnia diafragmática deve ser diferenciada da eventração diafragmática, que é uma elevação permanente da musculatura frênica, devido à aplasia, paralisia ou atrofia, porém o diafragma mantém sua continuidade e inserção na margem costal, raramente produzindo sintomas e não requerendo tratamento. Em pacientes sintomáticos, a plicatura do diafragma pode oferecer alívio dos sintomas (SLATTER, 2007). Os principais efeitos da herniação nas vísceras abdominais envolvem o encarceramento, obstrução e estrangulamento, e, muitas vezes, se dá pela pressão aplicada da extremidade da laceração diafragmática, à medida que o órgão passa sobre ela, ou resultam da formação de aderências fibrosas e constrições. A interferência não aliviada com a função cardiorrespiratória pela compressão da veia cava caudal e dos pulmões é rapidamente fatal (SLATTER, 2007). Choque, redução na perfusão tissular, hipóxia e insuficiência multiorgânica também podem ser produzidos pelo trauma que produziu a hérnia. Presentes em 12% dos pacientes com hérnia, as disritmias cardíacas, sobretudo a taquicardia ventricular, diminuem a perfusão tissular e agrava o choque. A função pulmonar deteriora-se mais ainda no choque, após um aumento na permeabilidade da vasculatura pulmonar, no edema pulmonar e na hipoventilação, causando desequilíbrio ventilação/perfusão. Com o rompimento do diafragma, o contato do espaço pleural com os pulmões, normalmente mantido por 0,5 a 1 mmHg de pressão negativa, é perdido. Os músculos abdominais e torácicos assumem a função do diafragma, e as pressões pleural e peritoneal se igualam (SLATTER, 2007). Em casos de hérnia diafragmática crônica, os sinais clínicos mais frequentemente encontrados envolvem o sistema respiratório ou gastrointestinal, podendo apresentar sinais como dispneia, intolerância a exercícios, anorexia, depressão, 14 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA vômito, diarreia, perda de peso e/ou dor após ingestão de alimentos (FOSSUM, 2005). Embora nenhum sinal patognomônico de hérnia diafragmática tenha sido identificado, os sinais respiratórios predominam e 38% dos animais lesados têm dispneia e intolerância ao exercício. Alguns animais adotam a posição sentada ou em estação, com os cotovelos abduzidos e a cabeça estendida. Os sinais gastroentéricos incluem vômito, disfagia, diarreia e constipação. Outros sinais são depressão, perda de peso e dificuldade em deitar-se. alguns animais podem assumir uma postura que alivie os sinais respiratórios e, geralmente, relutam em deitar-se (SLATTER, 2007). Os sintomas estão interligados com a seriedade da ruptura e da quantidade de vísceras abdominais presentes no tórax. A dispneia é o principal distúrbio respiratório, sendo assim o mais descrito na literatura, mas outros sinais, como inquietação, estação com relutância em deitar ou andar são comuns (BOUDRIEAU, 2006). Animais com hérnia diafragmática traumática, durante o exame físico, se apresentam para tratamento frequentemente em choque, portanto os sinais clínicos podem incluir membranas mucosas pálidas ou cianóticas, taquipneia, taquicardia e/ou oligúria. Arritmias cardíacas são comuns e se associam à morbidade significativa. Outros sinais clínicos dependem de quais órgãos foram envolvidos na herniação. Na hérnia diafragmática, a dispneia é o sinal clínico mais comum. Além da falta do diafragma funcional, a insuficiência respiratória pode resultar do choque e da disfunção da parede torácica, do espaço pleural, dos pulmões, das vias aéreas e do sistema cardiovascular (FOSSUM, 2005; SLATTER, 2007). Durante a auscultação podemos detectar sons cardíacos abafados, isso se dá pelo encarceramento dos lobos hepáticos na transudação originária. Essa complicação gera sinais de insuficiência cardíaca direita. Outros sinais compreendem inquietação e estação com relutância em deitar ou andar (CUNHA et al., 2000). Para o diagnóstico da hérnia diafragmática o histórico e sinais clínicos encontrados são importantíssimos, bem como observar se a respiração melhora ao posicionar o animal na vertical, mas o exame radiográfico é primordial para a conclusão, sendo algumas vezes necessária a utilização de técnicas contrastadas, como trânsito gastrointestinal ou até mesmo de ultrassonografia para a confirmação do diagnóstico. 15 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I O exame hematológico não fornece evidências desse trauma. Com isso, serão observadas alterações decorrentes de uma possível lesão no sistema cardiovascular, ou mesmo hemoconcentração devido à anorexia (ARAGÃO et al., 2010). As enzimas hepáticas poderão estar elevadas devido ao frequente encarceramento hepático, ou mesmo uma concussão no órgão no momento do acidente. Assim, as elevações das aminotransferases (AST e ALT) indicarão lesão hepática, a qual deve ser traumática na hérnia diafragmática traumática aguda e isquêmica na hérnia diafragmática traumática crônica (CARREGARO, 2012). Os sinais radiográficos de hérnia diafragmática podem incluir perdas da linha diafragmática, da silhueta cardíaca, deslocamento dorsal ou lateral dos campos pulmonares, presença de gás, ou estômago e intestinos preenchidos por bário na cavidade torácica, derrame pleural e/ou falha em encontrar o estomago ou o fígado no abdômen (SLATTER, 2007). O animal que se encontrar com quadro de dispneia deverá receber oxigênio por meio de máscara facial, insuflação nasal ou tenda de oxigênio, a fim de aliviar o quadro do paciente. Se ocorrer derrame pleural moderado ou intenso, deve- se realizar uma toracocentese. Se o animal se encontrar em choque,dever-se-á administrar fluidoterapia e antibióticos (FOSSUM, 2005). Uma vez diagnosticado para hérnia diafragmática aguda ou crônica no pré-operatório, baseados em exames radiológicos ou no intraoperatório, procede-se o tratamento cirúrgico com a sutura do diafragma (PEREIRA JÚNIOR, 2000). Através da celiotomia, são realizadas em conjunto com a herniorrafia o reparo dos órgãos abdominais prejudicados e a correção da obstrução, do encarceramento e do estrangulamento das vísceras abdominais. Celiotomia na linha média, esternotomia mediana, toracotomia intercostal e toracotomia transesternal são as possíveis abordagens cirúrgicas. A capacidade de localizar o lado da hérnia e sua gravidade, com respeito às aderências intratorácicas, são os fatores que influenciam a seleção da abordagem (SLATTER, 2007). O prognóstico é reservado. A taxa de sobrevivência total para os animais diagnosticados com hérnia diafragmática varia entre 52 e 92%. Vários estudos indicaram que aproximadamente 15% dos animais morrem antes da apresentação para anestesia e correção cirúrgica. As mortes pré-operatórias são decorrentes 16 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA da compressão pulmonar pelas vísceras abdominais, hipoventilação, choque, insuficiência multiorgânica e disritmias cardíacas (SLATTER, 2007). Caso Clínico » ATENDIMENTO: 20/10/2016. » ESPÉCIE: Felina. » SEXO: Macho inteiro. » RAÇA: Doméstica (SRD). » IDADE: 3 anos. » PESO: 4 Kg. Histórico: O felino macho, não castrado, semidomiciliado, chegou até nossa clínica apresentando lesões de escoriações na face e nos membros, que sugeriam atropelamento, estando bastante dispneico. Durante o exame físico, apresentou temperatura normal, auscultação cardíaca normal, auscultação pulmonar dentro da normalidade, porém com aspecto de abafamento. Suspeitou-se de hérnia diafragmática e fez-se a manobra de colocar o animal na posição vertical, a qual proporcionou grande melhora da respiração. Encaminhou-se o animal para exame de imagem (raio-X ) de tórax, onde pode ser evidenciada a hérnia. O tratamento cirúrgico foi oferecido , porém a tutora decidiu por não fazê-lo, devido seu valor monetário, e assumiu o risco de levar o animal para casa da forma que estava. Não tendo dado notícias posteriores do mesmo. 17 CAPÍTULO 2 Trato respiratório O trato ou sistema respiratório é composto pelo sistema respiratório superior e sistema respiratório inferior, que são constituídos por: Trato Respiratório Superior: » Narinas. » Passagens nasais. » Faringe. » Laringe. » Glote. » Epiglote. » Traqueia. Trato Respiratório Inferior: » Brônquio. » Bronquíolos. » Ductos alveolares. » Alvéolos. Tanto o sistema respiratório superior quanto o inferior dos felinos podem ser acometidos por doenças frequentemente encontradas na rotina clínica. Essas doenças podem variar de leves a gravíssimas, podendo haver tanto doenças primariamente respiratórias quanto aquelas que não são de origem respiratória, mas se manifestam também nesse sistema. Trato respiratório superior As vias superiores são compreendidas pelas estruturas: nariz, faringe (garganta), laringe (fonação), taqueia (passagem de ar). Todo o ar que entra e deixa os pulmões passa por essas estruturas do trato respiratório superior. 18 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA Uma das patologias mais comuns no trato respiratório superior de gatos domésticos é o calicivírus felino (FCV), especialmente em ambientes populosos. O FCV é um vírus RNA de fita simples não envelopado, pertencemao mesmo subgrupo e à família Caliciviridae. A infecção causada pelo FCV pode ocorrer, de formas clínicas agudas e crônicas, no trato respiratório e cavidade oral dos felinos domésticos. O FCV é um vírus de elevada capacidade de mutação, provoca quadros variáveis da doença, indo desde uma infecção assintomática do trato respiratório superior de quadro leve a muito grave, até uma ulceração na cavidade oral, claudicação e pneumonia. A manifestação dos sinais clínicos depende da via de infecção (oral ou respiratória), além da cepa do vírus. Deve-se, portanto, ter especial observação em gatos que apresentam inchaço em suas articulações, ainda que não apresentem nenhum outro sinal respiratório (PALMERO, 2014; PEDERSEN et al., 2000). A enfermidade afeta gatos de todas as faixas etárias, mas possui elevada mortalidade em gatos adultos, pois provoca uma resposta inflamatória sistêmica grave pelo fato de ser altamente virulento. O sistema imune da maioria dos gatos infectados normalmente elimina o vírus em cerca de setenta e cinco dias. Porém, a reinfecção com novas cepas é comum. A transmissão é realizada através de fômites contaminados, cuidadores de animais, confinamentos, lixos, alimentos e água. Instrumentos não esterilizados também podem desempenhar um papel relevante na transmissão do vírus em hospitais (LOWSON,2004; SCHORR-EVANS et al., 2003). A patogênese da doença pode incluir evolução dos componentes imunomediados, assim como fatores ambientais e de manejo, causando uma vasculite sistêmica nos animais afetados. Animais infectados podem desempenhar um papel significante na transmissão, uma vez que o vírus pode persistir em ambientes secos por até vinte e oito dias. Sendo, porém, facilmente eliminado com desinfetantes a base de hipoclorito. A calicivirose tradicional nos felinos se caracteriza por alterações do sistema respiratório superior, como a presença de secreções nasais e orais, úlceras orais estomatite, febre e, por vezes, claudicação, sendo, geralmente, uma doença autolimitante (LOWSON, 2004). Além das doenças do trato respiratório superior, o FCV pode causar sinais clínicos diferentes e variáveis, tais como febre alta, edema facial e de membros; dispneia, 19 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I devido ao edema pulmonar; dermatite ulcerativa com alopecia no focinho, ponta da orelha e coxins; enterite; pneumonia; alterações renais; além de icterícia devido à hepatite necrótica; pancreatite e anorexia. Podem ser vistos também, tromboembolismo e coagulopatia devido à Coagulação Intravascular Disseminada (CID), que se manifesta como petéquias, equimoses, epistaxe ou fezes com sangue (HOFFMAN, 2016). O diagnóstico é desafiador e deve ser baseado nos sinais clínicos, na sua contagiosidade e em sua alta mortalidade. A confirmação da doença pode ser obtida através da imuno-histoquímica, cultura e PCR. Também pode ser feito exame histopatológico post-mortem de tecidos como língua, pulmão, fígado, rins, baço e sistema digestivo, nos quais se observa as lesões típicas, pois o exame de necropsia pode ser sugestivo da doença. O uso de cultura viral e PCR são feitos a partir de amostras de esfregaços da orofaringe em meio de transporte viral ou tubo de sangue heparinizado ou até mesmo o tubo com EDTA (PALMERO, 2014). O tratamento inclui terapia intensiva de suporte como fluidoterapia e antibióticos, sendo os mais utilizados: ampicilina na dose de 22 mg/kg a cada 8 horas, por via oral ou intravenosa; amoxicilina 22 mg/kg a cada 8-12 horas, por via oral ou intravenosa; azitromicina 5-10 mg/kg a cada 24 horas por 3 a 5 dias por via oral; vaporizador de 15-20 minutos associados a corticoides inalantes; interferon alfa 2ß humano recombinante a cada 24 horas, por 30 dias, via oral ou em mucosas; suplementação de vitaminas B12, A, B e C (HOFFMAN, 2016). O tempo exato de excreção viral no ambiente, a partir de um gato exposto é desconhecido. Num mesmo ambiente pode haver gatos que virão a óbito devido à calicivirose e outros que não apresentarão sequer sintomas. Dessa forma, não sendo possível adotar medidas totais de desinfecção, deve-se esperar quatro meses para obter a morte natural do vírus (PALMEIRO, 2014). Contudo, medidas de prevenção devem ser feitas quando um surto ocorrer, sendo de suma importância isolar os gatos doentes dos saudáveis. Devem-se manipular os animais com luvas descartáveis, aventais e limpar qualquerobjeto que teve contato com os infectados com uma solução de hipoclorito de sódio a 5% na diluição 1:3 ou peroximonosulfato. Assim, o ciclo de transmissão do vírus termina evitando a transmissão por fômites e implementando procedimentos de limpeza e de manuseio mais rigorosos. Outro meio de desativação do vírus é limpar os objetos com água sanitária, esse produto 20 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA tem se demonstrado mais eficaz que os produtos de amônia quaternária na desativação do vírus. Porém, há quem refira que é importante estabelecer de sete a quatorze dias de quarentena (PALMEIRO, 2014; LOWSON 2004,; SCHORR- EVANS et al., 2003). Se o surto de FCV ocorrer em uma comunidade, abrigo ou gatil, onde os animais são vacinados adequadamente e somente poderá introduzir novos gatos no local se a desinfecção for realizada corretamente. Caso não seja possível, é preciso aguardar quatro meses para que se possa introduzir um novo gato no ambiente. Os felinos que foram expostos ao vírus devem permanecer isolados por três meses para sair da comunidade, pela capacidade de atuarem como portadores assintomáticos e espalharem o vírus (SCHORR-EVANS et al., 2003; FOLEY et al., 2006) . As vacinas atuais contra calicivírus não protegem contra todas as cepas de FCV, porque são usadas cepas antigas. Em cada surto relatado observou-se que os gatos vacinados sucumbiram à infecção, sugerindo que as vacinas disponíveis não protegem contra as formas mais virulentas da doença, pois todas as cepas, até agora, têm sido diferentes, sendo mais difícil fazer a atualização e aumentar a eficácia dessas vacinas. Apesar de afetar todas as faixas etárias, o FCV provoca uma elevada taxa de mortalidade principalmente em gatos adultos, o que torna o prognóstico normalmente desfavorável (PALMEIRO, 2014; COYNE et al., 2013; CARRACEDO et al., 2007) Caso Clínico » DATA DE ATENDIMENTO: 25/6/2017. » ESPÉCIE: Felina. » SEXO: Macho inteiro. » RAÇA: Doméstica (SRD). » IDADE: 6 meses. » PESO: 1,8 Kg. Histórico: O animal foi levado até a clínica com histórico de corrimento nasal e ocular, inchaço em articulações e anorexia há alguns dias. Animal proveniente de abrigo. 21 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I Exame clínico: Frequência cardíaca e respiratória dentro da normalidade, temperatura alta (40°C), linfonodomegalia submandibular. Demais parâmetros dentro da normalidade. Suspeitas: 1. Complexo Respiratório Viral Felino (CRF). 2. Imunodeficiência Felina (FIV), Leucemia Viral Felina (FeLV). Exames realizados: 1. SNAP FIV e FeLV (Idexx). 2. Ultrassom Abdominal. 3. Hemograma e Bioquímicos completos. Resultados: 1. SNAP: Não reagente. 2. ULTRASSOM: Linfonodomegalia disseminada. 3. Hemograma: apresentou linfopenia. Tratamento: » Internamento por 5 dias. » Ceftriaxona 30 mg/kg SID, IV. » Dexametasona 1 mg/Kg BID IV. » Tobramicina 2 gotas em cada olho QUID, tópico. » Lavagem nasal com soro fisiológico BID. Nariz O nariz é a parte mais externa do sistema respiratório e sua primeira estrutura. Está localizado nos ossos da face, sendo a principal via do fluxo de ar, que entra pelas narinas revestidas por mucosas respiratórias que o aquecem ou resfriam, de acordo com a necessidade do animal, seguindo para dentro e fora dos pulmões. 22 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA Sua principal função é filtrar todo o ar que está adentrando o sistema respiratório, retendo assim partículas maiores, como germes e esporos, através de seus cílios e pelos, presentes ainda nas narinas e partículas menores, barradas pelo muco que as reveste. Contudo, o nariz do gato oferece ainda uma função importante em sua característica de predador, sendo sobreposto somente pela visão e audição, o olfato. O olfato tem um papel muito importante também em suas relações sociais e no momento de sua alimentação. Sendo uma percepção sensível e qualitativa. Figura 1. Ilustração anatômica da cavidade nasal do gato. Cavidade Nasal do Gato 1. Ar entrando pelas narinas 2. Canal médio do nariz 3. Corneto nasal dorsal 4. Bulbo olfativo 5. Nasofaringe 6. Canal ventral do nariz 7. Corneto nasal ventral Fonte: VAISSAIRE et al. Enciclopédia do gato Royal Canin ,2001. As passagens nasais estão localizadas nas narinas e faringe, separadas pelo septo nasal, que divide a narina esquerda e direita, além dos palatos mole e duro. São revestidas por voltas, denominadas conchas nasais, que são ossos finos e constituídos de epitélio nasal. Por fim temos os seios paranasais, estes são passagens nasais que se encontram em espaços localizados nos ossos do crânio. Os seios paranasais têm como função eliminar constantemente o muco que é produzido nos seios para as passagens nasais, assim, tendo sua estrutura mucosa ciliada. A cavidade nasal está suscetível à infecção pelo Herpesvírus tipo 1 (FHV-1), esta é comum entre felinos e extremamente contagiosa, resultando em sinais clínicos respiratórios e oculares severos, é uma doença de distribuição mundial. O vírus pertence à família Herpesviridae subfamília Alphavirinae, gênero Varicellovirus. 23 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I O calicivírus felino (CVF) juntamente com o FHV-1 constituem as duas principais causas de doença respiratória em gatos. A exposição a secreções oronasais provenientes de gatos infectados é a principal forma de contaminação pelo FHV-1. Esses animais podem eliminar grande quantidade de vírus nos corrimentos nasais e oculares e na saliva durante várias semanas. Durante a fase aguda da infecção observa-se febre, secreções nasais e oculares acentuadas, espirros, conjuntivite, tosse e dispneia. O FHV-1 persiste como infecção crônica latente após a infecção primária, e pelo menos 80% (oitenta por cento) dos gatos tornam-se portadores. A eliminação viral ocorre por meio da secreção oral e nasal, se dá quando os animais são acometidos por outra doença concomitante, sofrem qualquer episódio de estresse ou em locais onde se observa grande número de animais. A disseminação do vírus pode ser alta nos períodos de ativação viral, resultando em infecção a outros gatos. Conjuntivite recorrente, ceratite, espirro e secreção nasal são manifestações clínicas comuns nos animais que apresentaram reativação viral. Entre os métodos diagnósticos mais utilizados destaca-se o PCR, isolamento viral, imunofluorescência direta e indireta e identificação de corpúsculos de inclusão em material de biópsia, swab ou raspado nasal. O PCR é o método mais específico e sensível para detectar a infecção pelo FHV-1, tanto em gatos infectados de modo agudo, como naqueles carreadores crônicos. Infiltração neutrofílica, inflamação e necrose multifocal no epitélio oral, conjuntival e nasal são observados na histopatologia. As vacinas disponíveis apresentam efeitos satisfatórios no controle da doença, evitando o aparecimento dos sinais clínicos, entretanto, nenhuma vacina protege contra a infecção ou estado de portador. As vacinas atualmente disponíveis são compostas por vírus vivo modificado ou vírus inativado, combinando o FHV- 1 a outros agentes como a panleucopenia, calicivirose, clamidiose e leucemia viral felina. Uma proteção menos efetiva poderá ser observada em alguns indivíduos vacinados em circunstâncias particulares, como animais imunodeprimidos ou submetidos a desafio intenso. Recomenda-se vacinar com a primeira dose aos sessenta dias de idade, seguida de uma segunda dose quatro semanas após a primeira, com doses de reforço realizadas anualmente, principalmente naqueles animais com acesso ao meio exterior e em contato com outros gatos, situação considerada de alto risco. Para animais que 24 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA vivem sem contato com outros animais ou com o meio externo, a vacinação pode ser realizada num intervalo de três anos. Os cuidados de enfermagem tornam-se essenciais em animais com FHV-1, a reposição de fluidos, eletrólitos, manutenção do equilíbrio acidobásico e utilização de sondanasogástrica é de fundamental importância, principalmente nos animais que não estão se alimentando. Geralmente, devido à diminuição ou até mesmo ausência de sensação olfativa ou na presença de quadros ulcerativos na cavidade oral, o paciente pode apresentar hiporexia ou até anorexia. Na presença de descarga nasal, pode ser utilizada solução salina 0,9% para limpeza, a qual deverá ser feita várias vezes ao dia, conforme a gravidade do caso, podendo também fazer uso da nebulização com descongestionantes nasais. A utilização de antibióticos de largo espectro, com boa penetração no trato respiratório, é recomendada para o controle das infecções bacterianas secundárias, dentre eles cita-se a amoxicilina associada ao clavulanato de potássio. Os animais devem ser reexaminados quatro a cinco dias após o tratamento e, se necessário, deve-se realizar cultura e antibiograma. Diversos fármacos antivirais estão sendo testados em gatos com FHV-1, dentre eles o ganciclovir e o cidofovir parecem apresentar eficácia, porém ainda sem estudos confirmatórios. Outra medicação, mas com poucos estudos clínicos, é o interferon felino, que se mostrou útil no controle das infecções respiratórias e lesões oculares. A grande dificuldade para a utilização do interferon felino é que ele não se encontra a venda no Brasil. A L-Lisina, um antagonista da arginina, essencial para a replicação viral do FHV-1, também vem sendo recomendada como protocolo de tratamento para o tratamento do Herpesvírus em gatos. Essa medicação tem demonstrado efeitos inibitórios na replicação viral e na severidade dos sinais clínicos em pacientes que receberam sua suplementação oral. Os espirros reversos são a inspiração paroxística, barulhenta e laboriosa que pode ser iniciada por irritação nasofaríngea. Tal irritação pode ser o resultado de corpo estranho localizado dorsalmente ao palato mole ou pode estar associada à inflamação nasofaríngea. Corpos estranhos, usualmente, originam-se de material de gramíneas ou plantas que ficam presas na cavidade oral e que, presumivelmente, é tossido acima ou migram pela nasofaringe. Aprisionamento do palato mole na epiglote também foi proposto como uma causa. 25 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I Muitos casos desta enfermidade são idiopáticos. O paroxismo dura poucos segundos e não interfere significativamente na oxigenação. Embora esses animais geralmente apresentem esses sintomas durante toda a vida, raramente ocorre a progressão e a piora do quadro. A anamnese e exame físico minucioso são indicados para identificar sinais de potenciais doenças subjacentes nasais ou faríngeas. Avaliações adicionais são necessárias se síncope, intolerância a exercícios ou sinais de doença respiratória forem reportados pelos tutores, ou caso os espirros reversos forem severos e progressivos. Na ausência de distúrbios subjacentes raramente é necessário o tratamento contra os espirros reversos, afinal os episódios quase sempre são autolimitados. Alguns tutores reportam que a massagem no pescoço resulta no encurtamento do tempo do episódio, ou que a administração de anti-histamínicos diminui a frequência e severidade dos episódios e não há, no entanto, estudos controlados. Outra síndrome de importância na clínica de felinos é a síndrome das vias aéreas braquicefálicas. Raças braquicéfalas possuem a “carinha achatada”, como Persa, Himalaios e Exóticos. Essa anormalidade anatômica predominante em tais raças incluem narinas estenosadas, palato mole alongado e até traqueia hipoplásica. A obstrução prolongada das vias aéreas superiores resulta no esforço inspiratório aumentado, podendo levar a eversão dos sáculos laríngeos e, finalmente, ao colapso da laringe. A gravidade dessa anormalidade é variável, e uma ou qualquer combinação dessas anormalidades pode estar presente em qualquer gato braquicefálico. Sinais gastrintestinais concomitantes, como ptialismo, regurgitação, vômito, são comuns nessa síndrome. Uma doença gastrintestinal de base pode ser um problema simultâneo nessas raças, o que pode resultar ou agravar-se pelo aumento da pressão intratorácica em resposta à obstrução das vias aéreas superiores. As anormalidades associadas a essa síndrome prejudicam o fluxo de ar através das vias aéreas extratorácicas e causam manifestações clínicas da obstrução das vias aéreas superiores, incluindo respiração ruidosa, estertores, aumento do esforço inspiratório, cianose e síncope. Os sinais clínicos podem ser exacerbados com exercício físico, excitação e altas temperaturas ambientais. O aumento do esforço respiratório está comumente associado a essa síndrome, que pode causar edema e inflamação secundária da mucosa da laringe e da faringe, estreitando ainda mais a glote, acentuando os sinais clínicos, e criando um circulo 26 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA vicioso. Como resultado, alguns animais podem apresentar-se com obstrução das vias aéreas superiores que ameaça a vida do paciente e requer terapia de emergência imediata. Sinais gastrointestinais concomitantes são relatados com frequência. A tentativa de diagnóstico é realizada com base em raça, manifestação clínica e aparência externa das narinas. As narinas estenosadas são, em geral, bilateralmente assimétricas, e as dobras alares podem ser sugadas para dentro durante a inspiração, agravando, assim, a obstrução do fluxo de ar. Laringoscopia e avaliação radiográficas da traqueia são necessárias para avaliar completamente a extensão e a gravidade das anormalidades. A maioria das outras causas de obstrução das vias aéreas superiores pode, também, ser incluída ou descartada com base nos resultados desses testes diagnósticos. O tratamento deve ser delineado para melhora da passagem de ar através das vias aéreas superiores e minimizar os fatores que exacerbam os sinais clínicos. A correção cirúrgica dos defeitos anatômicos é o tratamento de escolha. O procedimento cirúrgico específico selecionado depende da natureza dos problemas existentes. Pode incluir o alargamento das narinas externas, remoção do palato mole excessivo e até os sáculos laríngeos evertidos. A correção das narinas estenosadas é um procedimento simples e pode resultar em alívio surpreendente dos sinais. As narinas estenosadas podem ser corrigidas com segurança aos três meses de idade, de preferência antes que os sinais clínicos se desenvolvam. Contudo, é importante que o tutor tenha consciência de que as recidivas são comuns. O palato mole deve ser avaliado ao mesmo tempo e corrigido se estiver alongado. Tal alívio precoce da obstrução pode diminuir a pressão negativa aplicada nas estruturas da faringe e da laringe durante a inspiração, e deve diminuir a progressão da doença. O tratamento médico paliativo consiste na administração de glicocorticoides de curta ação como prednisolona 1 mg/kg/VO/BID e repouso para que se reduza a inflamação e edema secundários da faringe e da laringe, e melhorar o fluxo de ar, mas não irá eliminar o problema. Terapia de emergência pode ser necessária para aliviar a obstrução das vias aéreas superiores em animais que apresentam angústia respiratória. Controle do peso e tratamento concomitante para a doença gastrointestinal não devem ser negligenciados em pacientes com síndrome das vias aéreas braquicefálicas. O prognóstico depende da magnitude das anormalidades no momento do diagnóstico e da possibilidade de corrigi-los cirurgicamente. 27 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I As manifestações clínicas irão piorar progressivamente se os problemas de base seguirem sem correção. O prognóstico, após a correção cirúrgica, é bom, porém é reservado para os sem correção. Caso Clínico » DATA DE ATENDIMENTO: 31/1/2018. » ESPÉCIE: Felina. » SEXO: Macho inteiro. » RAÇA: Persa. » IDADE: 4 anos. » PESO: 4 Kg. Histórico: O felino chegou até a clínica com histórico de esforço para respirar (silvando na expiração), com som de “ronqueira” e língua arroxeada. Apresentava também cansaçoapós ser estimulado ao esforço físico. Exame clínico: Frequência cardíaca e respiratória dentro da normalidade, temperatura febril (38° C) e as narinas apresentavam-se mais estreitas que o considerado normal. Suspeitas: 1. Estenose de narinas. Exames realizados: 1. Raio-X: apresentou-se normal Tratamento: Tratamento cirúrgico (rinoplastia) para aumento das narinas. 28 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA Faringe A faringe é um órgão de via comum, tanto para o sistema respiratório quanto para o digestório. Ela está divida pelo palato mole em orofaringe (sistema digestivo ventral) e nasofaringe (sistema respiratório dorsal), sendo nos mamíferos o ponto de encontro entre os dois sistemas. Na região nasofaringe há uma abertura de comunicação com o óstio faríngico. É uma cavidade dorsal ao palato mole que conecta a cavidade nasal à laringe, epitélio colunar pseudo estratificado ciliado com células caliciformes. Lâmina própria, submucosa típica possuindo tonsilas e tecido linfático difuso. Possui glândulas tubuloalveolares ramificadas e camada muscular composta de músculo esquelético em várias direções. O fenômeno denominado deglutição ocorre na cavidade faríngea, quando a musculatura hioide movimenta a epiglote, tampando a traqueia para que o alimento passe para o esôfago. Em humanos, a faringe se assemelha a um funil irregular. Várias são as doenças que podem atingir a faringe, devido à sua posição anatômica. Uma delas, contudo, pode apresentar, além de lesões na parede da estrutura faringeana, circundando as criptas tonsilares, lesões em região oral e dentária, sendo denominada gengivo-estomatite faringeana, bastante frequente na clínica de felinos. Laringe Órgão de tubo curto, irregular, na qual conecta a faringe com a traqueia. A laringe se constitui por várias cartilagens e está apoiada no osso hioide. As cartilagens hialinas encontradas são cartilagem tireoidiana, cricóide e a maior parte das aritenóides. Já a epiglote e demais, são do tipo elástico. A laringe tem como função a fonação, respiração, regulação da pressão intratorácica, retração do lúmen da traqueia no ato de deglutição. A sua entrada é conhecida como glote e, acima dessa estrutura, assemelhando-se a uma língua, encontra-se a epiglote, que atua como uma válvula, que se fecha sobre a laringe durante a deglutição, impedindo dessa forma que os alimentos ingeridos sigam até as vias aéreas. A epiglote é a cartilagem que se projeta para frente na região ventral da laringe. No momento em que o animal está respirando a epiglote se posiciona com sua parte distal atrás do palato mole. Já no momento de deglutição a epiglote é retraída, cobrindo então a laringe. 29 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I Figura 2. Ilustração anatômica da epiglote. Epiglote Rima Glótica Dobra Vestibular (Falsa Corda Cocal) Cartilagem Cuneiforme Cartilagem Corniculada Pregas Vocais (Verdadeiras) Cartilagem Aritenóide Entalhe Interaritenóideo Base da língua Fonte: <https://www.portalped.com.br/wp-content/uploads/2017/05/anatomia-epiglote.png>. Além disso, a laringe é o órgão responsável pela fonação. Tubo muscular esquelético, reforçado por cartilagem hialina e elástica. Tecido pavimentoso estratificado (cordas vocais e epiglote) ou respiratório. Sua mucosa é formada por dois pares de pregas. As primeiras denominadas cordas (ou pregas) vocais falsas ou vestibulares, e o segundo par são as cordas vocais verdadeiras. Sendo que, a formação do som é feito por elas, quando da passagem de ar por essa estrutura. A laringe é revestida por epitélio disforme, estratificado pavimentoso, não queratinizado em sua face ventral e nas demais regiões sendo do tipo respiratório, possuindo inclusive cílios que se direcionam para a região faringeana. Possui lâmina própria, fibrosa e elástica, com glândulas mistas e submucosa indefinida. Figura 3. Ilustração anatômica da laringe. Epiglote Osso Hioide Membrana Tíreo-hióidea Cartilagem Tireoide Músculo Cricotireóideo Cartilagem Cricoide Traqueia Ligamento cricoideano Fonte: <https://i.ytimg.com/vi/qmKnHcQW2PM/maxresdefault.jpg>. 30 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA O ronronar do gato O gato ronrona normalmente quando se encontra em estado de alegria ou tranquilidade, mas pode ocorrer também quando sente dor ou angústia. Sendo que, não é raro observar os filhotes recém-nascidos ronronarem em sua primeira mamada. O ronronar é um comportamento comum aos felinos, facilmente audível e palpável na maioria dos gatos domésticos. Esse ato parece representar um estado de excitação (REMMERS et al,1972). A presença ou ausência do ato de ronronar nos felídeos está, tradicionalmente, relacionada às diferenças no osso hioide, este contém um ligamento cartilaginoso, que é ossificado nas demais espécies. (PETERS et al., 1994). As cordas vocais são anexas às cartilagens aritenoides. A fonação ocorre no momento em que os músculos trabalham e ajustam a pressão do ar que passa pelas pregas vocais esticadas, que vibram e originam o som. Nos animais não ruminantes existem as chamadas pregas vestibulares e/ou pregas falsas, elas encontram-se localizadas na laringe, mas não estão envolvidas no processo de fonação, mas na produção de uma condição chamada hemiplegia laríngea, conhecida como ronqueira. De certa forma, as laringopatias são incomuns em gatos, contudo há relatos de paralisia laringe, mas que é muito mais comum em cães. Inclusive, as neoplasias laringeanas são raras em gatos, e afetam principalmente gatos adultos. Em gatos idosos ou de meia idade existe uma disfunção endócrina bastante comum, o hipertireoidismo, causada pelo excesso de produção da tiroxina (t4) e triiodotironina (T3), que são produzidas pela tireoide. Diferentemente de humanos, em felinos essa patogenia é causada principalmente por disfunção autonômica da tireoide e não por alterações no hipotálamo ou hipófise. As glândulas tireoides são estruturas pares, alongadas e vermelho-escuras, fixadas na porção proximal da traqueia, caudalmente à laringe. Nos gatos adultos, elas têm 2 cm de comprimento e 0,3 cm de largura, mas são palpadas apenas quando aumentadas de tamanho. Já as glândulas paratireoides externas situam-se na superfície craniolateral da tireoide e podem ser distinguidas pela sua coloração mais clara e pelo seu formato arredondado (FERGUSON et al, 2006). 31 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I O tecido tireóideo, acessório funcional, é comum ao longo da traqueia, do mediastino e da porção torácica da aorta descendente, por isso não ocorre hipotireoidismo quando se realiza a tireoidectomia bilateral. Uma pequena percentagem de gatos possui tecido paratireoide ectópico no mediastino anterior, porém esse tecido não é capaz de manter os níveis de calcemia normais imediatamente após a paratireoidectomia. Essa alteração pode ocorrer em gatos de qualquer idade, contudo observa-se maior frequência entre os gatos de meia idade, por volta de 10 anos. Não existe predileção por raça ou sexo, embora estudos apontem as raças Himalaia e Siamês como sendo menos pré-dispostas. Apesar da sua patogenia não estar bem elucidada, pressupõe-se que fatores circulatórios (imunoglobulinas), nutricionais (iodo na dieta) e ambientais (toxinas bociogênicas) possam influenciar em sua patogênese. Alguns estudos apontam que gatos que se alimentam de ração enlatada e aqueles que usam granulado sanitário têm um aumento significativo nas afecções de tireoide (EDINBORO et al., 2004). Devido à associação dessa enfermidade com a dieta, foram desenvolvidas pesquisas que consideraram o iodo a causa da progressão da doença. A concentração de iodo contido na comida enlatada, não raramente, pode estar acima de dez vezes mais que o nível máximo recomendado, o que pode levar o gato a desenvolver hipertireoidismo. Suas alterações são progressivas e mais da metade dos felinos apresentam essas alterações por meses ou até anos, antes que seus tutoresbusquem ajuda profissional. Essa demora em procurar ajuda se dá, principalmente, pela apresentação clínica inicial, que gera aumento de apetite e hiperatividade, o que leva a ser confundida com um estado saudável. Contudo, essa fase é seguida de um cansaço extremo. A demora em diagnosticar a alteração tireoidiana pode levar o felino a apresentar um estágio avançado da doença. A maioria dos sinais clínicos ocorre devido a taxa metabólica basal acelerada, com aumento do consumo de oxigênio pelos tecidos, e elevada sensibilidade às catecolaminas pelo aumento do número e da afinidade aos receptores beta adrenérgicos na superfície celular. A apresentação clínica clássica inclui taquicardia, hiperatividade, emaciação progressiva, polifagia, diarreia, êmese, poliúria e polidipsia. 32 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA O estado hipermetabólico resulta em aumento da contração e do consumo do oxigênio pelo miocárdio, do débito cardíaco e do gasto de energia, levando a uma hipertrofia cardíaca compensatória. Na ausculta cardíaca pode-se evidenciar taquicardia, ritmo de galope, sopro sistólico e arritmia, que, após a correção do estado hipertireóideo, normalmente regridem. O aumento da pressão arterial sistólica ocorre em 87% dos casos e as prováveis causas dessa manifestação são as combinações do estado hiperdinâmico do coração; a retenção de sódio; os baixos níveis de vasodilatadores renais; a perda de autorregulação da pressão sanguínea glomerular e a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (OLSON, 2001). Dificilmente a hipertensão se resolve de imediato após a normalização de T4 total. Sendo que, no caso dela ser de nível moderada a severa, pode ser tratada com fármacos como atenolol, amlodipina ou algum outro inibidor da enzima conversora de angiotensina. Figura 4. Felino com hipertireoidismo. Fonte: CUNHA et al. Hipertireoidismo Felino. Universidade de Santa Maria. 2008. A perda de peso, principal característica da doença, ocorre na maioria dos casos secundária ao aumento do metabolismo basal, que necessita de maior demanda calórica e acarreta uma ingestão maior de alimentos, levando à polifagia, chegando muitas vezes a apresentar-se de forma voraz, aumentando dessa feita também a ingestão hídrica. O clínico a confundir seu diagnóstico com diabetes mellitus, caso não faça os devidos exames clínicos. Em casos avançados, comumente, ocorre anorexia, devido à severa perda de peso, fraqueza e perda de massa muscular pelo catabolismo proteico. Ocorre também 33 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I a hipermotilidade e má absorção intestinal, além da polifagia. Por esses motivos, não raramente, os felinos têm aumento na frequência de defecação e a diarreia, geralmente acompanhados de esteatorreia. O vômito recorrente pode ser resultado da ação direta do hormônio tireóideo ou da distensão gástrica aguda, resultante da grande quantidade de alimento ingerida rapidamente. A astenia muscular, que ocorre em alguns dos casos, pode ocorrer devido à hipocalemia ou à deficiência de tiamina (vitamina B1). Problemas dermatológicos podem ocorrer em quase metade dos gatos afetados, que apresentam alopecia pelo excesso de lambedura ou à avulsão pilar, devido à intolerância ao calor. Muitos desses gatos também podem apresentar seus pelos emaranhados, pois, não raramente, deixam de fazer a auto-higienização, devido à apatia decorrente da doença. Não raramente, esses animais podem apresentar também agressividade e crescimento acelerado de suas unhas. O tratamento se dá pela suplementação de tiroxina sódica (T4) sintética. O prognóstico é de reservado à ruim, dependendo da causa que levou ao hipertireoidismo. Figura 5. Palpação das cartilagens tireoidianas, demonstrando o aumento de volume da região. Fonte: DANIEL. Casos em Medicina Felina. 1. ed. 2015. O diagnóstico é feito pelo histórico do animal, achados clínicos e confirmado pelo aumento da concentração sérica de T4 total. O tratamento consiste em controlar a excessiva secreção de hormônio tireoidiano. 34 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA O hipertireoidismo felino pode ser tratado com iodo radioativo ou pela administração de fármacos antitireoidianos. Sendo que, na maioria dos casos, o prognóstico é bastante favorável. Figura 6. Ilustração da musculatura da laringe felina. Cartilagem cricóide Cartilagem tireoide Corno caudal Epiglote Corno rostral Osso ceratoioide Osso tiroioideo TM CLM CM ADM ATM VM Legenda: VM: músculo ventricular. ATM: músculo aritenóideo transverso. TM: músculo tireoaritenóideo. CLM: músculo cricoaritenóideo lateral. CM: músculo cricoaritenóideo. ADM: músculo aritenóideo dorsal. Fonte: <https://www.sciencedirect.com/topics/veterinary-science-and-veterinary-medicine/larynx>. 1. Como ocorre a troca gasosa no sistema respiratório? 2. Diferencie a respiração interna da externa. 3. Quais as funções primordiais da respiração? Explique como ocorre o aquecimento e a umidificação do ar na respiração. 4. De que forma as estruturas anatômicas originam o som? 5. Discorra sobre a hemiplegia da laringe. 6. Qual a particularidade que o felino possui anatomicamente que o permite realizar o ato de ronronar? Traqueia A traqueia é um órgão tubular, ímpar, flexível, com cerca de oito centímetros de comprimento no gato, e dá seguimento à laringe. 35 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I Localiza-se da laringe até o tórax e se bifurca em dois brônquios que adentram o pulmão, essa bifurcação se localiza próximo à base do coração. É constituída por anéis de cartilagem hialina, que são formados por tecido fibroso e músculo liso. A traqueia mantém-se aberta constantemente para evitar colabamento do órgão quando o animal inalar o ar. Os anéis cartilaginosos da traqueia possuem uma conformação de acordo com a espécie, em carnívoros e equinos apresentam-se achatados dorso-ventralmente. Figura 7. Corte histológico do anel traqueal do gato. Fonte: <https://pt.depositphotos.com/180037880/stock-photo-trachea.html>. A traqueia possui uma mucosa ciliada, esta realiza a movimentação de materiais estranhos até a laringe. Na presença de estímulo como lugares poluídos, há uma superprodução de muco para revestir a traqueia, essa grande quantidade de muco estimula o reflexo da tosse para que, deste modo, as passagens nasais sejam limpas. O colapso traqueal pode acontecer também em gatos, prejudicando sua respiração. Sendo que em felinos ela é comumente observada quando há uma superinflação de sondas endotraqueais de gatos sujeitados a procedimentos cirúrgicos. O gato afetado pode desenvolver dispneia progressiva após cirurgias. Seu prognóstico é ruim, causando, inclusive, morte devido às complicações respiratórias durante o procedimento. Trato respiratório inferior Esse sistema, também chamado de vias aéreas inferiores, tem início nos brônquios e finaliza nos alvéolos pulmonares. Juntamente com o trato respiratório superior é 36 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA responsável por manter a permeabilidade das trocas gasosas que ocorrem a nível pulmonar. Árvore brônquica A traqueia possui duas subdivisões: brônquios e bronquíolos, que são denominados árvore brônquica pela sua morfologia que lembra a imagem de uma árvore. Ao adentrar nos pulmões os brônquios se dividem em vários fragmentos, esses fragmentos se dividem novamente e são então denominados bronquíolos, e microscopicamente temos os ductos alveolares, esses, por sua vez, possuem um aspecto que remete a um cacho de uva. O conjunto de ductos alveolares é denominado sacos alveolares. Segundo Melo (2010), os brônquios têm o epitélio muco-ciliar que adere poeira e bactérias presentes na suspensão do ar inalado que são “varridas para fora’’, expelidas e engolidas pelo epitélio. Figura 8. Ilustração anatômica da árvore brônquica. Brônquio Primário Esquerdo Brônquio Primário Direito Brônquios Secundários Brônquios Terciários BronquíolosLaringe Traqueia Fonte: <https://1.bp.blogspot.com/-2X3rGfob5RI/Vyik6XGUkeI/AAAAAAAAOfs/ybyMM8L1WJsit12LZYjxRYWbGTEKbnnnACLcB/s1600/ bronchial.jpeg>. As vias aéreas dos gatos são muito mais reativas e tendem a apresentar maior broncoconstrição, assim a bronquite felina idiopática é uma enfermidade rotineira na 37 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I clínica de felinos. A bronquite idiopática pode se desenvolver em gatos de qualquer idade, no entanto é mais comum em gatos jovens e de meia-idade. As principais manifestações clínicas são tosse e dificuldade respiratória. Alguns tutores confundem a tosse com a tentativa de vomitar uma bola de pelo. Os tutores podem relatar sibilos audíveis durante um episódio, em geral os sintomas são lentamente progressivos. Perda de peso, anorexia, depressão e outros sintomas sistêmicos não estão presentes, caso forem observados é provável a existência de outro processo que requer esforço adicional para o diagnóstico. Os tutores devem ser cuidadosamente indagados a respeito de outras situações que possam levar a sinais semelhantes, como possível exposição a agentes alérgenos, substâncias irritantes ou exposição a baixíssimas temperaturas. As considerações ambientais incluem a exposição a areia sanitária, principalmente as perfumadas, mas pode ser a qualquer tipo de areia, cigarros ou fumaça de lareira, produtos de limpeza de carpetes, e itens da família, como perfumes e desodorantes. As anormalidades encontradas no exame físico são taquipneia, aumento do esforço respiratório, sibilos respiratórios, crepitações, hiperinsuflação dos pulmões, tosses e, não raramente, espirros. O diagnóstico é estabelecido com base no exame físico, histórico típico, anormalidades radiográficas torácicas, hemograma completo, este normalmente apresenta eosinofilia periférica. Na radiografia torácica os gatos com bronquite apresentam um padrão brônquico, aumento no padrão intersticial e opacidade irregular dos alvéolos. Os pulmões podem estar hiperinsuflados como resultado do aprisionamento do ar e, ocasionalmente, é observado colapso do lobo médio direito. Porém, a radiográfica no gato com bronquite pode se apresentar em normalidade, pois os sintomas podem preceder as alterações radiográficas, assim as radiografias não detectam alterações moderadas em vias aéreas. Os achados citológicos do lavado traqueal são geralmente representativos de inflamação das vias aéreas, consistem no aumento do número de células inflamatórias e aumento na quantidade do muco. A inflamação pode ser eosinofílica, neutrofílica ou mista. 38 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA É importante que o fluído seja enviado para cultura bacteriana, para elucidar possível infecção causada por agentes bacterianos. O paciente felino com dificuldade respiratória deve ser estabilizado antes de qualquer realização de testes diagnósticos. O tratamento inclui broncodilatadores como a terbutalina na dose de 2,5 mg/gato a cada 12 horas e corticoides, preferencialmente a prednisolona ou dexametasona, utilizando dose de trauma de 1 a 2 mg/kg a cada 12 horas. Pode-se fazer também tratamento de nebulização com corticoides de três a quatro vezes ao dia. O prognóstico é bom para a maioria dos gatos, contudo, não existem relatos de cura completa, sendo que, a maior parte dos gatos requer medicação contínua. Gatos que apresentam crises asmáticas agudas e graves estão mais propensos a entrar em óbito súbito. Gatos com inflamação persistente e não tratada das vias aéreas podem desenvolver alterações crônicas da bronquite e enfisema. Caso Clínico » DATA DE ATENDIMENTO: 15/4/2015. » ESPÉCIE: Felina. » SEXO: Macho castrado. » RAÇA: Maine Coon. » IDADE: 1 ano e 6 meses. » PESO: 10 Kg. Histórico: O animal chegou até a clínica apresentando espirros com coriza e secreção purulenta, histórico de tosses frequentes e tratamento prévio com antibioticoterapia, estipulados por três médicos veterinários diferentes. Foi realizado exame físico, mostrando-se dentro da normalidade, porém com auscultação pulmonar apresentava-se um pouco crepitante. Realizou-se cultura bacteriana do muco nasal e exame de raio-X do pulmão. Observando-se então o padrão alveolar do mesmo e fechando-se o diagnóstico de bronquite. Tratamento: 39 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I Estipulou-se tratamento com amoxicilina com clavulanato a 25 mg/kg VO BID por 10 dias e prednisolona 2 mg/kg VO BID por 5 dias. Também houve a orientação de se fazer inalação com Clenil® A QUID por 10 dias, e que fosse retornado para nova avaliação após esse período. No retorno, o animal apresentou melhora de 90% do quadro e manteve-se somente a inalação por mais 5 dias. Tendo então sido solucionado o caso, foi orientado à tutora que fizesse as inalações quando necessário. Alvéolos Nos alvéolos ocorre a respiração externa, aqui o oxigênio e o dióxido de carbono são trocados da respiração para o sangue e do sangue para o ar. Nos alvéolos também temos a pressão alveolar, isto é, a pressão do ar dentro dos alvéolos. Figura 9. Ilustração anatômica dos alvéolos pulmonares. Bronquíolo Terminal Arteríola Pulmonar Vênulas Pulmonares Capilares Saco Alveolar Alvéolos Ducto Alveolar Fibra Muscular Lisa Fonte: Colville et al. Anatomia e Fisiologia Clínica para Medicina Veterinária, 2. ed. 2010. Pulmão Segundo MELO (2010), os pulmões são órgãos esponjosos com variação de tamanho e coloração. Ocupam a cavidade torácica juntamente com o coração, cada um é envolvida por uma membrana serosa chamada pleura. Pesam 1% do peso do corpo. 40 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA Na base de cada pulmão, que se localiza caudalmente na cavidade torácica, encontra-se o diafragma, um órgão musculomembranoso cuja função é separar o pulmão da cavidade abdominal. Juntamente com os músculos intercostais e nervo frênico promovem o ato da respiração. O diafragma está presente apenas em mamíferos. Durante a inspiração o diafragma contrai-se e aumenta o volume da caixa torácica para trás. Ele é ajudado pelos músculos intercostais externos. Esse aumento de volume gera uma depressão no espaço compreendido entre os pulmões e a parede torácica (espaço pleural), o que causa a penetração do ar. Em condições normais a expiração se dá passivamente. A elasticidade dos pulmões e tórax os leva de volta a sua posição de repouso, mandando o ar para fora dos pulmões. Quando necessário, os músculos abdominais podem contrair-se, assim, acelerando a inspiração. A frequência respiratória do gato em repouso varia entre 20 e 40 ciclos por minuto. A cada novo ciclo, a quantidade de ar mobilizado, denominado volume corrente, é na ordem de 30 ml. O resultado na vazão ventilatória varia de 0,5 e 1 litro por minuto em repouso. Durante o esforço, a vazão aumenta devido ao elevado nível do volume corrente e, principalmente, da frequência respiratória. Figura 10. Órgãos contidos na cavidade torácica do gato. Diafragma Coração Pulmão Fígado Vesícula biliar Intestino delgado Fonte: <http://anatomycorner.com/main/virtual-cat-dissection/cat-virtual-dissection-organs/>. Uma enfermidade comum no trato respiratório dos felinos é a asma felina. A asma é uma doença crônica dos pulmões, na qual as vias respiratórias se estreitam e a respiração se torna mais difícil. As vias respiratórias em um animal asmático são extremamente sensíveis a certos fatores, conhecidos como desencadeantes. Quando estimuladas por 41 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I esses desencadeantes, as vias respiratórias reagem desesperadamente com uma inflamação anormal que leva ao edema, aumento da secreção de muco e contração muscular das vias áreas. O fluxo de ar normal é interrompido por esses fatores, entretanto, os sintomas são reversíveis e podem ocorrer horas depois de uma primeira crise. Os felinos podem ser asmáticos, e estudos mostram que eles podem ser ainda mais suscetíveis às crises de asma que os próprios sereshumanos. A asma em um animal de estimação, assim como em casos de bronquite, pode ser agravada por alérgenos ou irritantes encontrados no ambiente do animal. Os gatilhos mais comuns para os animais costumam ser a grama, poeira, pólen de flores, fumaça do escapamento do carro, poluição do ar, fungos, mofo, cigarro, sprays domésticos e soluções químicas, tais como: sprays de cabelo, desodorantes, fragrâncias de material de limpeza, odorizadores de ambiente e sprays para pulgas. Também podem ser fatores desencadeantes da asma: alergias alimentares, exercícios e sensibilidade ao frio ou calor. Essa enfermidade pode acometer gatos de qualquer idade ou raça, porém os Persas têm maior predisposição. O diagnóstico da asma é feito baseado no histórico de tosse crônica com duração de dias ou meses na ausência de outras doenças ativas, bem como na presença de alterações características nas radiografias torácicas. Uma vez diagnosticada, diversos tratamentos podem ser adotados. O teste de provocação insere proteínas misturadas de alérgenos sobre a pele do animal através de uma agulha ou tecido contendo os alérgenos, acoplados à pele por 24 horas, onde se mede o halo de inflamação gerado. Há ainda o método denominado ELISA, que é mensurada por aparelhos calibrados e direcionados apenas para este fim, garantindo sensibilidade e especificidade infinitamente superior ao método macroscópico, além disso, não existe desconforto para o paciente. Conseguir identificar o alérgeno específico que desencadeia o processo alérgico no animal é essencial para que o médico veterinário tenha sucesso no tratamento e na prevenção. Grande parte do sucesso no tratamento da asma é determinar quais são os gatilhos. Se os gatilhos forem identificados e eliminados, ela pode ser resolvida sem que seja necessário nenhum tratamento adicional. No entanto, raramente é 42 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA possível identificar todos os gatilhos, ou mesmo se eles estiverem identificados, pode ser impraticável eliminá-los. Nesses casos o animal pode precisar ser medicado por toda a vida para evitar que novos ataques de asma ocorram. O Tratamento medicamentoso pode ser feito com drogas terapêuticas convencionais: Broncodilatadores, corticosteroides e anti-histamínicos. Bem como as conhecidas “bombinhas” a base de sulfato de salbutramol, em caso de crises agudas Conforme FEREZ (2012), o pulmão direito apresenta três lóbulos sendo lóbulo superior, médio e inferior, já o esquerdo apresenta apenas dois, superiores e inferiores. Figura 11. Ilustração anatômica das divisões dos lobos pulmonares do gato. PULMÕES DO GATO 1. Lóbulo superior direito. 2. Lóbulo médio. 3. Lóbulo inferior direito. 4. Lóbulo acessório. 5. Lóbulo inferior esquerdo (parte caudal). 6. Lóbulo superior esquerdo (parte caldal). 7. Lóbulo superior esquerdo (parte cranial). Fonte: Vaissaire et al. Enciclopédia do gato. 1. ed. 2001. De acordo com COLVILLE et al. (2010), cada lobo pulmonar possui uma área definida chamada hilo, esse local aloja nervos, linfo, sangue e ar. O suprimento sanguíneo que entra e sai dos pulmões é chamada circulação pulmonar. O sangue circulante na artéria pulmonar é de cor vermelha escura, pois contém pouco oxigênio e muito dióxido de carbono, participa das trocas gasosas e supre os bronquíolos respiratórios. A artéria adentra o coração pelo lado direito dividindo-se em artéria pulmonar esquerda e direita, levando consigo sangue rico em oxigênio e nutrientes para o pulmão. A pressão existente dentro do tórax se apresenta negativa em relação à pressão atmosférica, ou seja, existe um vácuo dentro dele. 43 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I O pulmão, por ser um órgão esponjoso, adapta-se ao formato do interior da parede do tórax, e a pleura se torna responsável pela lubrificação dos pulmões. Desse modo, quando se tem a movimentação do tórax e do diafragma alternadamente o volume de ar aumenta e diminui, originando assim a inspiração e expiração. A pressão negativa auxilia também no fluxo sanguíneo para o retorno no coração, pois impulsiona o sangue para as grandes veias localizadas no mediastino. Os hilos pulmonares são locais onde ocorre a inserção dos brônquios principais, artérias pulmonares, veias pulmonares, artérias e veias bronquiais, e vasos linfáticos. Existe uma diferença entre o pulmão esquerdo e o direito dos animais, sendo que a fissura cardíaca do pulmão esquerdo é mais profunda que do pulmão direito. O parênquima pulmonar é o local onde ocorrem as trocas gasosas, sendo que ele compreende os bronquíolos e seus ramos e os alvéolos terminais. Cada divisão dos brônquios dentro dos pulmões é dicotômica ou tricotômica, ou seja, vão reduzindo o seu diâmetro, formando a árvore brônquica. Figura 12. Ilustração anatômica das vísceras da cavidade torácica. Lobo Cranial Diafragma Lobo Caudal Coração Diafragma Lobo Caudal Lobo Médio Coração Lobo Cranial Fonte: (COLVILLE et al., ANATOMIA E FISIOLOGIA CLÍNICA PARA MEDICINA VETERINÁRIA, 2. ed. 2010). 44 UNIDADE I │ MEDICINA RESPIRATÓRIA Para a renovação do ar nos pulmões, os ciclos respiratórios da inspiração e expiração, exercem no gato três papéis, são eles: a regulagem de oxigênio transportado no sangue arterial, que é demonstrado por sua pressão parcial PaO2 na ordem de 95 a 100 mmHg; regulagem no equilíbrio acidobásico do sangue arterial permitindo a regulagem da pressão parcial em gás carbônico tendo PaCO2 entre 35 e 40 mmHg. O gato não possui capacidade de suar, sendo assim, ele participa ativamente na eliminação do calor sob a forma de vapor de água, trocando calor com o ambiente. O pulmão é revestido de células pavimentosas simples com o núcleo que se projeta para a luz do alvéolo. Células secretoras do revestimento dos alvéolos: Pneumócitos I e II, os pneumócitos do tipo I ocupam 95% de área do alvéolo. Alvéolos: Pneumócitos tipo II, Arredondada ou cúbica, Potencial mitótico - fonte dos pneumócitos I e II, as secreções de surfactantes que estabiliza os alvéolos, garantindo que permaneçam de tamanho uniforme e reduz o trabalho de inspiração. Os macrófagos pulmonares complementam o trabalho de proteção pulmonar juntamente com o fluido brônquico e o aparelho mucociliar. Como explica DUKES (1996), a respiração se resume em movimentos cíclicos que são representados pela inspiração e expiração, na qual participam o diafragma e músculos intercostais. Durante a inspiração ocorre a contração dos músculos respiratórios elevando as costelas para fora e aumentando o volume de ar nos pulmões, como decorrência desse movimento a pressão do tórax se torna subatmosférica. Já na expiração ocorre o contrário, com o relaxamento do diafragma e músculos intercostais o volume de ar diminui. Pneumonias ou inflamação do parênquima pulmonar não são comuns em gatos, contudo várias são as formas que elas podem ser apresentadas, dentre elas certamente a mais comum é a pneumonia bacteriana, incluindo a E. coli, Klebsiella, Pasteurella, Pseudomonas, Bordertella e estreptococos. Dessas, a Bordertella bronchiospira pode exercer papel primário em alguns casos de pneumonia felina. Quando se trata de pneumonia viral, o vírus mais comumente encontrado é o FCV, cujo padrão é de uma pneumonia tipicamente intersticial. Nas pneumonias micóticas, os principais microrganismos são o Cryptococus, Blastomyces, Aspergillus e Coccidioides spp. Seu tratamento é feito com antifúngicos sistêmicos como o cetoconazol (bastante hepatotóxico para felinos e recomendado a ser usado com cautela), fluconazol e itraconazol, este mais seguro e geralmente utilizado na dose de 10 mg/kg, por 30 dias. 45 MEDICINA RESPIRATÓRIA │ UNIDADE I A pneumonia por aspiração pode ocorrer quando o gato inala líquidos ou materiais particulados. Geralmente, está associada a causas já pré-existentes, como fenda palatina (que pode ser congênita ou adquirida por trauma), megaesôfago (raro em felinos) ou
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