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REBECA KRUSE MED10 Diarreia aguda INTRODUÇÃO: CONCEITO: é a alteração do hábito Intestinal caracterizada pelo aumento da frequência ou da fluidez das fezes que dura menos do que 2 semanas É um sinal/sintoma caracterizado por 2 componentes principais: × Aumento no número de evacuações (mais de 3x ao dia) × Diminuição da consistência Diarreia aguda: até 2 semanas (principal causa = infecção) Diarreia subaguda: entre 2 e 4 semanas Diarreia crônica: mais de 4 semanas (maior o tempo → menor a chance de ser infecciosa) ETIOLOGIA: NÃO INFECCIOSA (15%): Álcool: estimulante da motilidade intestinal Antiácidos com Mg: muito usado na pediatria para constipação, também aumenta a motilidade Antibióticos Anti-inflamatórios Dieta enteral Manitol: preparo de colonoscopia Metformina Intolerância a lactose Doença inflamatória intestinal* Síndrome do intestino irritável* Hipertireoidismo Diarreia diabética Apendicite Neoplasia de Cólon*: mais suspeito em idoso ou no paciente que tem uma diarreia com sangue *Mais na cronicidade INFECCIOSA (85%): Causas virais (são autolimitadas - se resolvem dentro de 3 a 4 dias): Rotavírus Vírus Norwalk Corona vírus Causas bacterianas: Shigella/Salmonella Vibrio Cholerae Salmonella E. coli S. aureus Yersinia enterocolitica Clostridium Difficile: relacionado na colonoscopia com colite pseudomembranosa (caracterizado um paciente internado/hospitalar em uso de vários antibióticos) PROVA DE RESIDÊNCIA: → Shigella: disenteria bacilar → E. coli Enterotoxigênica: adenilciclase/ diarreia dos viajantes → E. coli Enteroenvasiva: semelhante e shigelose → E. coli enterro-hemorrágica: síndrome hemolítico-urêmica/PTI AVALIAÇÃO CLÍNICA: Duração e início da diarreia Característica das fezes e número das evacuações Acorda a noite para evacuar? (Se não acorda para ir ao banheiro pensar em diarreia funcional – SII; se acorda pensar em diarreia orgânica) Uso recente de ATB ou outra medicação Ingesta de alimento suspeito? Comprometimento da função Imune? (HIV, corticoide, idoso) Exame físico: avaliar grau de desidratação (adulto é difícil desidratar; criança mais fácil) *Diarreia bacteriana: quase sempre são quadros mais agressivos; várias evacuações, pode ter febre alta. *Quadros decorrentes de vírus e protozoários tendem a ser mais leves, mas não existe nada comprovando ao certo. AVALIAÇÃO LABORATORIAL: Maioria dos casos: autolimitada Deve-se ter um cuidado a mais com pacientes imunossuprimidos, idosos e crianças REBECA KRUSE MED10 Desidratação importante → Febre → Dor intensa → Disenteria Em geral: se trata empiricamente → não se pede esses exames complementares FEZES: Recomendado: disenteria moderada a grave e nos casos em que os sintomas duram mais que 7 dias Lâmina direta das Fezes: pesquisa de hemácias e leucócitos Leucócitos nas fezes: bactérias (89% dos casos de diarreia bacteriana têm leucócitos nas fezes) Coprocultura Pesquisa de antígenos virais Parasitológico de fezes SANGUE: Hemograma Bioquímica IMAGEM: Rx de abd Colonoscopia: se suspeita de DII/colite pseudomembranosa; mais de 10 dias sem responder a ATB; AIDS TRATAMENTO: PROBIÓTICOS: são microrganismos vivos → se administrados em concentração adequada → fornecem benefícios ao hospedeiro → atuam na microbiota intestinal. Só está indicado para pacientes que tem diarreia associada ao uso de antibiótico ANTIBIÓTICO EMPIRICAMENTE: → Ciprofloxacino 500mg 12/12 por 3 dias ou Norfloxacino 400mg 12/12h Está indicado nos casos de diarreia do viajante (individuo viajou e volta com o quadro de diarreia) Febre moderada a intensa Disenteria (sangue ou pus nas fezes) Paciente que depois de 3, 4 dias não teve melhora da diarreia ou o número de evacuações aumentou Lâmina direta mostrando leucócitos Pacientes idosos ou imunossuprimidos mostrando queda do estado geral HIDRATAÇÃO: Soro caseiro Paciente desidratado: hidratação venosa Idoso desidratado: internamento (pode complicar com insuficiência renal ou outras doenças) EVITAR LEITE E DERIVADOS/ ALIMENTOS GORDUROSOS: Lactase fica nas vilosidades → na diarreia essas vilosidades vão se achatar → pode ter uma intolerância a lactose transitória Alimentos gordurosos: a gordura tem uma metabolização mais lenta → atrapalha o organismo de colocar as toxinas para fora durante o processo agudo ANTIDIARREICOS: Evitar em diarreia sanguinolenta (minoria) Loperamida: 01 comp. 2mg até dose máxima de 8mg/dia (por 48h) Racecatrodil (Tiorfan) - Inibidor Encefalinase intestinal. 01 comp. 100mg 8/8h por 3 dias SUBSALICILATO DE BISMUTO: medicação que pode ser usada para melhorar a consistência das fezes TRATAMENTO QUANDO IDENTIFICOU O PATÓGENO: Shigella/Campylobacter: Sempre tratar com ATB Salmonella: Tratar em caso de risco de bacteremia V.Cholerae: Tetraciclina C.Difficile: Vancomicina (não tem VO no BRA) ou Metronidazol V.O CASO CLÍNICO: Paciente é atendida no ambulatório de Gastro no Hospital Português no dia 22/02/16, têm 48 anos e uma história de diarreia com início há 35 dias. A diarreia ocorre em geral pela manhã, fezes liquidas, sem sangue e sem muco. Na primeira semana chegou a acordar á noite. No momento evacua 3 x dia, fezes líquidas. Paciente sem patologias e não faz uso de medicação. → Colonoscopia (16/02/16) – Normal → EDA (04/11/16) - Gastrite de corpo → Usg Abd Total: Mioma Uterino Sinais de alarme REBECA KRUSE MED10 → P.de fezes (-) / Hb= 12,9/Glicemia=88/TGO=57/TGP=17 Durante conversa com a paciente obteve-se a informação que a paciente ingeriu Sushi na véspera do início dos sintomas → Foi iniciado Ciprofloxacino 500mg 12/12h por 3 dias → 01/03/16= Paciente retorna assintomática IMPORTANTE! Por mais que, por definição esta diarreia não seja mais aguda, nunca se deve ignorar o fato de que a maioria das diarreias são de causa infecciosa. Nestes casos deve-se tratar o paciente para aquilo que é mais provável que ele tenha. Síndrome do intestino irritável ROME IV – 2016 é o consenso que avalia as doenças funcionais da gastroenterologia, que é dividida em 3 grupos de doença: → Doenças orgânicas: são casos em que se tem alguma alteração orgânica, por ex.: úlceras → Doenças de motilidade: doenças onde o órgão está normal estruturalmente, por ex.: paciente que tem gastroparesia (paciente que tem empachamento) ele tem alteração na função do órgão → Doenças funcionais: paciente que tem sintomas, tem doença gástrica, mas esta doença não consegue ser vista em nenhum exame. Não tem alteração estrutural e nem da função. CARACTERIZADA POR: dor abdominal recorrente, por pelo menos 3 meses (para ter SII tem que ter dor abdominal) associada a 2 ou mais destes critérios: Relacionada a defecação (quando vai no banheiro melhora ou piora) Associada com alteração da frequência das fezes (aumentado ou diminuído a frequência) Associada com mudança na forma/aparência das fezes (mais líquidas ou mais endurecidas) OBS: se época de maior estresse emocional sem dor abdominal → não é caracterizado como SII = somatização do estresse (exposição a situações de estresse agudo) A síndrome do intestino irritável é uma entidade clínica incluída no grupo de distúrbios funcionais. Caracteriza- se por alterações motoras e sensoriais dos diferentes segmentos do Trato digestivo (na SII é uma alteração sensorial do intestino): SII tipo Constipação (C) SII tipo Diarreia (D) SII Misto (D+C) DIAGNÓSTICO CLÍNICO: DOR E/OU DESCONFORTO ABDOMINAL: alivia com eliminação de fezes e/ou gases NÃO ACORDA ANOITE: doença funcional No tipo diarreia pode ser muco (NÃO TÊM SANGUE): × Pode haver várias evacuações × Pode haver urgência para evacuar No tipo constipação: pode existir queixa de distensão/ dor abdominal Bloating = inchaço DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Constipação crônica funcional (Constipação Crônica # SII tipo constipação): não tem queixa de dor abdominal e no intestino irritável vai ter dor As épocas de piora se relacionam muito com alimentação ou estresse, tem um comportamento flutuante e psicológico (geralmente são pacientes ansiosos, com depressão) TRATAMENTO: O tratamento vai avaliar vários aspectos da clínica do paciente, visando melhorar as queixas DIARREIA: Loperamida Diminuição da ingesta de glúten (muitos pacientes melhoram com esta medida) Dieta FODMAP – pobre em alimentos fermentados Colestiramina CONSTIPAÇÃO: Acrescento de fibras na dieta REBECA KRUSE MED10 Polietilenoglicol (laxativo osmótico) DOR ABDOMINAL: (na pratica este é um sintoma muito comum) Aliviam a dor espasmódica do intestino: Brometo de otilônio (lônio) Mebeverina Trimebutina Não adianta tratar somente o intestino quando há a descompensação devido a somatização do estresse: tratar ansiedade, depressão... Amitriptilina* Citalopram Paroxetina Sertralina Parasitose Maioria dos pacientes são assintomáticos 3º Consenso Brasileiro de H.Pylori recomenda tratamento de parasitose em pacientes com dispepsia funcional QUANDO INVESTIGAR: Anemia ou eosinofilia Sintomas gastrointestinais persistentes – as vezes o paciente se trata para gastrite ou DRGE, por exemplo, e continua com os sintomas; em pacientes com doenças do TGI pode se tratar parasitose empiricamente Indivíduos imunossuprimidos que vão receber terapia imunossupressora (importante tratar os pacientes com lúpus) TRATAMENTO: A OMS recomenda no Brasil: tratar parasitose uma vez ao ano (maioria de maneira empírica) No SUS: Albendazol 400mg 1x ao dia, por 3 dias e repete com 21 dias Quando acabar o tratamento com albendazol se inicia o uso de secnidazol 1000mg 2 comp, dose única. Consultório: Nitazoxanida 500mg de 12/12 por 3 dias (EA: urina fluorescente; não precisa repetir a dose) Albendazol: Ascaris Lumbricoides Stronglyloides: melhor tratada com ivermectina Necator Americanus Ancylostoma duodenale Trichuris Trichuria Enterobius Vermicularis Secnidazol: Entamoeba Histolitica Giardia Lamblia Evitar tratar na gestação e observar idade mínima para uso dos medicamentos Diarreia crônica CONCEITO: DEFINIÇÃO: aumento anormal na frequência das evacuações (mais de 3x ao dia) ou da fluidez das fezes Duração: mais de 4 semanas CLASSIFICAÇÃO: Diarreia osmótica: algo no intestino está “puxando” água (intolerância a lactose) Diarreia secretória: é quando algo no intestino está fazendo com que se aumente a secreção de íons Diarreia inflamatória: inflamação, pode ter ruptura de mucosa com sangue (retocolite, câncer...) DIARREIA OSMÓTICA: Ocorre pela presença de solutos intraluminais não digeridos ou mal absorvidos, osmoticamente ativos, que favorecem a passagem de solventes do plasma para o lúmen intestinal Causas: REBECA KRUSE MED10 Má absorção de carboidratos e outras substâncias (intolerância a lactose) Má absorção de gorduras (esteatorréia) Clínica: Melhora clínica com o jejum PH fecal ≤ 6,0 (como a substancia mais comum envolvida neste quadro é a lactose → fica presa no intestino → fermenta → PH mais ácido e produzindo gases Distensão abd/Meteorismo/ Flatulência Esteatorreia: fezes gordurosas, fétidas que aderem ao vaso sanitário Intolerância a lactose: Mais comum e mais importante das diarreias osmóticas Acredita-se que 40% da população brasileira tenha algum grau de intolerância a lactose Ingestão de açúcares não absorvidos (manitol, sorbitol, lactulose); hidróxido de magnésio/ sulfato de magnésio BLOATING: sensação de gases na barriga. A diarreia pode acontecer, mas não é muito comum Curva da lactose ou teste de tolerância a lactose: é um exame feito com o paciente em jejum onde vai se coletar a glicose dele; depois disto o indivíduo vai tomar 50g de lactose e de 15 em 15 minutos vai ser feita coleta para avaliar a glicemia. Este exame se baseia no princípio de que a lactose é quebrada pela enzima lactase em glicose + galactose, logo toda vez que se consome lactose tem um aumento da glicose; tem que ter um aumento de pelo menos 20 na glicemia, pelo menos uma vez para que seja descartada a intolerância a lactose. Se a glicemia do paciente não aumentar em pelo menos 20 pelo menos uma vez, vai se suspeitar de intolerância a lactose É um exame barato e de fácil acesso, a única crítica é que 50g de lactose corresponde a +/- 1 litro de leite, e dificilmente um adulto toma 1 litro de leite por dia (não seria um teste muito fidedigno, mas na prática funciona e é usado) Ex.: a glicemia em jejum do paciente era 100, depois de 15 minutos passou para 108 e depois de 15 minutos passou para 110, este paciente tem intolerância a lactose; a enzima não está quebrando a lactose Teste do hidrogênio expirado (padrão ouro): pela quantidade de hidrogênio na sua expiração vai dizer se tem ou não a intolerância. É um teste caro e que não é muito solicitado na pratica, o teste com a glicemia já resolve a grande maioria dos diagnósticos. Teoricamente o teste do hidrogênio classifica a intolerância a lactose como: leve, moderada ou severa; mas na pratica varia muito de cada paciente, geralmente as intolerâncias não são de 100% (teoricamente o paciente aguenta no mínimo 12g de lactose por dia) Tratamento: enzima exógena que se compra na farmácia ou restringir lactose da dieta Intolerância a frutose: Esta intolerância se origina não pelo consumo de frutas, e sim porque a frutose é usada como açúcar em diversos produtos químicos, como: suco de uva, refrigerante, alimentos processados, molhos, mel É um diagnóstico difícil, podem ser usados Teste Respiratório de Hidrogênio e Diário Alimentar Deve-se ter o cuidado de consumir frutas com baixo teor de Frutose Esteatorréia: Presença de gordura nas fezes (fezes que boiam e são fétidas) Não é uma queixa muito frequente Causas: Pancreatite crônica (causa mais comum) Insuficiência Pancreática (por doença celíaca, diabetes, cirurgia no pâncreas) Supercrescimento Bacteriano Alcoolismo Crônico (atrofia de vilosidades) Síndrome do Intestino curto Giardíase (causa comum) Doença de Whipple Doença Celíaca DIARREIA SECRETÓRIA: Diminuição da absorção ou aumento da secreção de íons Diarreias líquidas e volumosas Diarreia persiste com o jejum: ajuda a diferenciar de outros tipos de diarreia Desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos REBECA KRUSE MED10 Ph > 6,0 Causas: Abuso de Laxantes Drogas (antibióticos, AINES, anti- hipertensivos) Supercrescimento Bacteriano Hormônio-mediado (TSH, VIP, Serotonina) Neoplasia DII DIARREIA INFLAMATÓRIA: Interrupção da Integridade da mucosa, vai haver presença de sangue/ muco/ leucócitos nas fezes Causas: DII Colite Pseudomembranosa Causas Infecciosas (CMV, TB, HIV, Amebíase, Shigelose) Neoplasia Endometriose DIARREIA MOTORA: Ocorre quando a inervação do intestino não está funcionando como deveria. Dismotilidade primária/ acentuação dos movimentos peristálticos Causas: SII Esclerodermia / Hipertireoidismo Após Cirurgia (Vagotomia/ Gastrectomia) DIAGNÓSTICO: ANAMNESE: É o paciente que tem meses/anos de diarreia Quantas evacuações ao dia? Acorda na madrugada devido a diarreia? ApresentaMuco, Sangue ou pus nas fezes? A diarreia melhora com o jejum? (Osmótica/Alergia alimentar) Qual aspecto das fezes? Liquidas? Pastosas? Apresenta dor abdominal? Apresenta perda de peso? Apresenta dor no reto durante a evacuação? EXAME FÍSICO: quase sempre não vai ser útil Rigidez de pele = Esclerodermia (supercrescimento bacteriano) Sarcoma de Kaposi = AIDS Adenomegalia= AIDS, Tuberculose Derrame Pleural= Tuberculose Fistula e/ou abscesso Perianal = Doença de Crohn (+ comum) Úlceras orais = Doença de Crohn Retinopatia = CMV, DM EXAME DAS FEZES: Lâmina Direta: leucócitos PMN e hemácias (DII/ Doença Infecciosa) Parasitológico de Fezes: Pesquisa de Gordura fecal (o exame utilizado para pesquisa não é muito fidedigno) Ph fecal (um PH baixo sugere diarreia osmótica) Osmolaridade Cultura (Shighela, Salmonella, Yersinia) Elastase fecal: exame que ajuda a avaliar a função do pâncreas Calprotectina fecal: marcador de atividade muito usado para diagnostico de doença inflamatória intestinal (se tiver alto > 250 doença em atividade; <50 doença controlada) EXAMES LABORATORIAIS: Hemograma Completo Anti-HIV; anti-Endomísio IgA; Dosagem de IgA; Anti- Transglutaminase IgA; TSH/t4Livre (TSH baixo e T3T4 alto); Anti-ASCA – crohn /P-Anca – retocolite (para DD); Teste de Tolerância a Lactose; Na+/K+/Albumina EXAMES RADIOLÓGICOS Raio X de Abdome: dicas para o diagnóstico, ex.: calcificação pancreática (pancreatite crônica), semi- oclusão, megacólon tóxico TC de Abdome: pancreatite crônica, linfonodomegalia, estenose ileal (sugere doença de Crohn ou tuberculose), fistula perianal (também sugere doença de Crohn) EXAMES ENDOSCÓPICOS: EDA: Bx duodenal (doença celíaca) - cultura quantitativa de Duodeno (supercrescimento bacteriano) REBECA KRUSE MED10 Colonoscopia: diagnostica DII, neoplasia, tuberculose, retocolite, doença de Crohn, doença diverticular
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