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1 Gabrielle Nunes DIARREIAS GENERALIDADES DEFINIÇÃO: Diminuição na consistência das fezes (aumento da fluidez), que causa urgência ou desconforto abdominal, ou aumento na frequência das evacuações. Além disso, normalmente vem acompanhada por um peso de fezes > 200 g/dia e um número de evacuações > 3x/dia. Ela ocorre quando há um desbalanço entre absorção e secreção de fluidos pelos intestinos (delgado e/ou cólon), seja por redução da absorção e/ou aumento da secreção. Apesar de a quantificação do peso fecal diário ser a forma mais precisa para se definir diarreia, esta medida é pouco prática e restrita ao academicismo necessário às pesquisas. Habitualmente, o peso médio diário das fezes é de 100 g/dia. CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O TEMPO DIARREIAS AGUDAS Têm duração menor que 2 semanas, tendo predominantemente causas infecciosas e acompanhada por febre. DIARREIAS PROLONGADAS OU PERSISTENTES Dura entre 2-4 semanas, sendo causada em maior parte por infecções também e é mais frequente em pacientes desnutridos e imunossuprimidos. Acontece muito quando o paciente com diarreia aguda não segue a dieta após o quadro inicial e acaba continuando com o quadro de diarreia por mais tempo. • Pode provocar desnutrição e desidratação. Pacientes que evoluem para diarreia persistente constituem um grupo com alto risco de complicações e elevada letalidade. DIARREIAS CRÔNICAS Diarreias com duração maior que 4 semanas. DE ACORDO COM A ORIGEM Para diferenciá-las usamos 4 parâmetros: volume, frequência, presença de tenesmo e achados. DIARREIAS ALTAS São diarreias provenientes do intestino delgado. • Volume: Temos episódios diarreicos com fezes aquosas e mais volumosos, isso porque a maior parte da absorção se dá no intestino delgado, logo, se ele não estiver absorvendo bem, teremos uma diarreia mais volumosa, podendo a perda líquida ultrapassar até 10 litros/dia, provocando um choque hipovolêmico. • Frequência: Baixa frequência. • Tenesmo: Não há tenesmo; • Achados: Podemos ter a presença de restos alimentares, já que o intestino delgado não está absorvendo direito, e também dor intermitente periumbilical ou em quadrante inferior do abdome; Diarreia com padrão secretor. • Sintomas associados: vômitos e náuseas e menos febre e prostração; DIARREIAS BAIXAS São diarreias provenientes do intestino grosso. • Volume: as evacuações são em menor quantidade, porque a maior parte da absorção já se deu no delgado, logo pouco volume sobra no intestino grosso. • Frequência: Alta frequência; • Tenesmo e urgência fecal (sintomas clássicos de irritação do reto): Há vontade de defecar constante mesmo que não haja fezes; • Achados: Podemos ter a presença de sangue, muco e/ou pus, caracterizando uma disenteria e fezes escuras; Diarreia com padrão inflamatório; Costuma-se dizer que o cólon "dorme" à noite. Isto significa que, se um paciente apresenta diarreia contínua, dia e noite, deve-se considerar que sua origem possivelmente não é colônica ou exclusivamente colônica. 2 Gabrielle Nunes DE ACORDO COM A FISIOPATOLOGIA Podemos classificar as diarreias em secretória, osmótica, inflamatória, disabsortiva e funcional, sendo importante lembrar que muitas doenças causam diarreia por mais de um desses mecanismos. SECRETÓRIA É provocada por distúrbios no transporte hidroelétrico por meio da mucosa enterocolônica. Algum fator está estimulando a secreção ou inibindo a absorção hidroeletrolítica pelo epitélio intestinal, e persiste com o jejum. Pode também resultar da produção excessiva de hormônios e outros secretagogos, como no gastrinoma (gastrina), na síndrome carcinoide (serotonina, prostaglandinas, calcitonina), na cólera pancreática (VIPomas), no adenoma viloso, na insuficiência adrenal e no hipoparatireoidismo. A diarreia secretória tem como característica o aumento de secreção intestinal de água e eletrólitos, principalmente os ânions cloreto e bicarbonato. Este fenômeno pode ser ocasionado por toxinas bacterianas ou pela ação direta de patógenos que aumentam a concentração intracelular dos nucleotídios cíclicos (como o AMP e o GMP) e também do cálcio, promovendo a secreção ativa de água e eletrólitos pelos enterócitos. Caracterizada pelo maior volume fecal l (> 10 ml/kg/h), com sódio fecal elevado (> 70 mEq/L). A desidratação ocorre rapidamente. A osmolalidade fecal na diarreia secretora é ≤ 100 mOsm/kg. Não é uma diarreia que cessa com o jejum. Exemplos: Caso de tumores secretores (vipomas, síndromes carcinoides); toxinas bacterianas; distúrbios de cálcio; Ativação AMPc (cólera, E. coli enterotoxigênica, Shigella, Salmonella, Campylobacter), Inibe o cotransportador Na/Cl e ativa a secreção ativa de cloreto para a luz; Ativação GMPc (toxina E. coli, Yersinia); mecanismo cálcio-dependente (toxina de C. difficile, neuroblastoma, tumor carcinoide) OSMÓTICA Acontece quando solutos ingeridos, pouco absorvíveis e osmoticamente ativos, atraem líquidos suficientes para o lúmen, excedendo a capacidade de reabsorção do cólon, e cessa com o jejum. Diarreias causadas pelo acúmulo de elementos osmoticamente ativos (gap osmolar fecal alto > 125 mOsm/L), e o quadro cessa com o jejum. Há uma retenção de líquidos dentro do lúmen intestinal devido à presença de solutos osmoticamente ativos não absorvidos, que carreiam a água para dentro da alça intestinal. Distúrbios digestivos (ex. deficiência de dissacaridases) > conteúdo intraluminal hiperosmolar > passagem de líquido para o lúmen > diarreia osmótica. Solutos que podem causar o desequilíbrio: magnésio, fosfato, lactulose, sorbitol, carboidratos (ex.: deficiência de lactase, diarreia por rotavírus); Lesão ao endotélio > dificuldade no processo de absorção de carboidratos p. exemplo > carboidratos no lúmen intestinal > as bactérias intestinais fermentam esse açúcar, formando ácidos orgânicos e gases que irritam a mucosa e deixam o pH fecal ácido. É uma diarreia secundária a um processo infeccioso que lesa os enterócitos. É possível detectar açúcar nas fezes A diminuição do pH fecal é responsável pela produção do eritema perianal (dermatite). Os gases produzidos determinam grande distensão abdominal, cólicas e fezes explosivas. Exemplos: uso de laxantes, deficiência de lactose, má absorção de glicose-galactose; rotavírus; Rotavírus: Perda das enzimas da borda em escova > má absorção de açucares complexos > perda hídrica por osmose: + efeito direto da enterotoxinas NSP4 e ativação do sistema nervoso entérico que leva a secreção de fluidos eletrólitos. INFLAMATÓRIA/ EXSUDATIVO Decorre da liberação de citocinas e mediadores inflamatórios por lesão direta da mucosa intestinal (enterite, colite ou enterocolite), o que estimula a secreção intestinal e o aumento da motilidade. Na diarreia invasiva (inflamatória) ocasionada por algumas bactérias (Shigella, Salmonella, Campylobacter etc.) a lesão da célula epitelial do intestino impede a absorção de nutrientes. É uma diarreia inflamatória com possível eliminação de muco, pus ou sangue. Aumento da calprotectina ou lactoferrina fecais. Nesta situação pode haver também um componente secretor, uma vez que a mucosa invadida produz substâncias (bradicinina e histamina) que estimulam a secreção de eletrólitos para o lúmen intestinal. Infecção pelo agente etiológico > aderência a mucosa e/ou submucosa do TGI > lesão ao epitélio (destruição das superficias absortivas das vilosidades) > processo inflamatório > presença de sangue, muco, pus, leucócitos nas fezes (> 5 leucócitos por campo) Ex.: Salmonella, Shigella, Amebíase, Yersinia, Campylobacter DISABSORTIVA É uma diarreia osmótica associada ao déficit da absorção – a má absorção de lipídeos pode induzir diarreia com fezes gordurosas, de odor fétido e difíceis de escoar, frequentemente associada a perda ponderal e déficit nutricional decorrente da má absorçãode aminoácidos e vitaminas. Por exemplo doença celíaca, doença de Crohn, doença de Whipple, giardíase, estrongiloidíase e linfoma intestinal. FUNCIONAL 3 Gabrielle Nunes Diagnóstico de exclusão, causada pela hipermotilidade ou hipomotilidade intestinal. Nela não existe uma lesão estrutural ou orgânica no intestino ESTEATORREIA Fezes amarelada, fétidas, oleosas (brilhantes) e aderentes; mais relacionadas ao processo de digestão dos lipídios, disabsorção de lipídios. Ex: Insuficiência pancreática exócrina. DISTÚRBIO FUNCIONAL Ausência de doença orgânica justificável. Possuem critérios específicos. AUMENTO DA MOTILIDADE Há diminuição do tempo de trânsito intestinal por aceleração da peristalse. As fezes têm aspecto normal. Dentre as principais causas, destacamos a síndrome do intestino irritável e o hipertireoidismo DIMINUIÇÃO DA MOTILIDADE Há defeito na unidade neuromuscular, com estase e supercrescimento bacteriano. Dentre as principais causas, destacamos a pseudo-obstrução intestinal e a síndrome da alça cega. DIMINUIÇÃO DA ÁREA DE SUPERFÍCIE Neste último caso, há diminuição da capacidade intestinal de absorção de água, eletrólitos e nutrientes de uma forma geral. O aspecto das fezes é aquoso. São exemplos: síndrome do intestino curto, doença celíaca e a enterite por rotavírus DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS (DDA) GENERALIDADES CARACTERÍSTICA DO QUADRO: início abrupto, etiologia presumivelmente infecciosa, potencialmente autolimitado, com duração inferior a 14 dias, aumento no volume e/ou na frequência de evacuações com consequente aumento das perdas de água e eletrólitos. Gravidade: varia de leve e autolimitado até casos graves que podem causar morte por perda rápida de água e eletrólitos, levando a desidratação, choque hipovolêmica e distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos. Devem ser consideradas como urgência médica devido aos riscos inerentes especialmente relacionados com a desidratação habitual nesses casos Morbimortalidade: está associada aos extremos de idade (menores de 1 ano e maiores de 70 anos), baixo nível socioeconômico, falta de saneamento básico, baixa escolaridade, qualidade e higiene deficientes dos alimentos, comorbidades, desnutrição ou imunodeficiência. ALIMENTOS E ÁGUA CONTAMINADA VIAJANTES USO RECENTE DE ANTIBIÓTICOS E. coli, norovírus, shigella E. coli, campylobacter, Shigella, Salmonela Colite pseudomembranosa ASILOS CRECHE IMUNODEFICIÊNCIA Colite pseudomembranosa Shigella, giardíase, criptosporidiose, rotavirose; Infecções oportunistas PISCINAS PROMISCUIDADE SEXUAL Giardiase, criptosporidiose Patógenos de transmissão fecal-oral SUBCLASSIFICAÇÕES DIARREIA AGUDA AQUOSA GAP OSMOLAR FECAL Trata-se de uma estimativa da contribuição de eletrólitos para a retenção de água no lúmen intestinal. Fórmula: 290-2x (Na+ + K+) fecal. • Em pacientes com diarreia osmótica o gap osmolar é maior do que 125 mosm/Kg, nesse caso a osmolaridade é dependente de outras substâncias nas fezes que não eletrólitos, já quando o gap osmolar é menor do que 50 mosm/Kg o diagnóstico provável é de diarreia secretória • Em processos mistos o gap varia entre 50 a 124 mosm/Kg 4 Gabrielle Nunes Diarreia que pode durar até 14 dias e determina perda de grande volume de fluidos e pode causar desidratação. Pode ser causada por bactérias e vírus, na maioria dos casos. A desnutrição eventualmente pode ocorrer se a alimentação não é fornecida de forma adequada e se episódios sucessivos acontecem DIARREIA AGUDA COM SANGUE (DISENTERIA) É caracterizada pela presença de sangue nas fezes. Representa lesão na mucosa intestinal. Pode associar-se com infecção sistêmica e outras complicações, incluindo desidratação. Bactérias do gênero Shigella são as principais causadoras de disenteria. DIARREIA AGUDA INFLAMATÓRIAS Geralmente afetam o cólon, ou seja, são diarreia baixa, manifestando-se com diarreia de pequeno volume e múltiplos episódios ao dia, além de dor no quadrante inferior esquerdo do abdome, tenesmo e urgência fecal (sinais de “irritação” do retossigmoide). Como exemplo dos principais causadores das diarreias inflamatórias temos: C. difficile, E. coli, Shigella, Salmonella e E. histolytica. DIARREIA AGUDA NÃO INFLAMATÓRIA São a maioria dos casos e geralmente afetam o intestino delgado, manifestando-se com diarreia alta, de grande volume, poucos episódios e dor periumbilical, não raro sendo acompanhadas pelos demais sinais e sintomas que constituem a síndrome de gastroenterite aguda (diarreia aguda, dor abdominal difusa, náuseas e vômitos). As causas mais comuns de diarreia aguda não inflamatória são por vírus (60% dos casos). ETIOLOGIA * O organismo saudável possui mecanismos de defesa que permitem resistir aos agentes lesivos e que incluem: • Suco gástrico, que é letal a muitos organismos pelo baixo pH; • A motilidade intestinal, que dificulta a aderência dos microrganismos à parede do intestino; • Os sistemas linfático e imune, que promovem a defesa celular e humoral contra os agentes nocivos; ETIOLOGIA: cerca de 90% das diarreias agudas são infecciosas e os vírus são a causa mais comum, seguidas por enterobactérias. No entanto, pode ser de origem não infecciosa podendo ser causada por medicamentos, como antibióticos, laxantes e quimioterápicos utilizados para tratamento de câncer, ingestão de grandes quantidades de adoçantes, gorduras não absorvidas, e até uso de bebidas alcoólicas, por exemplo. VÍRUS BACTÉRIAS Rotavírus, coronavírus, adenovírus, calicivírus (em especial o norovírus) e astrovírus. Herpes e HIV. E. coli enteropatogênica clássica, E. coli enterotoxigenica, E. coli enterohemorrágica, E. coli enteroinvasiva, E. coli enteroagregativa, Aeromonas, Pleisiomonas, Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, Vibrio cholerae, Yersinia PARASITOS FUNGOS Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Cryptosporidium, Isosopora S. mansoni, Cyclospora, Isospora Beli, Balantidium coli, Trichuris trichiura; Candida albicans DROGAS INTOXICAÇÕES Centenas de fármacos tem como efeito adverso a diarreia, sobretudo quimioterápicos, antidepressivos, antiinflamatórios, diuréticos, eritromicina, abuso de laxantes; Cogumelos, metais (arsênico), organofosforados, glutamato monossódico, toxina de peixes e frutos do mar; INTOLERÂNCIA E ALERGIA OUTRAS Alergia alimentar; sobrecarga de açucares; intolerância à lactose; nutrição enteral transpilórica; excessos de álcool, café ou chá; suplementos alimentares; Fatores emocionais; calite pseudomembranose; diarreia dos viajantes; trombose mesentérica; atletas; tumores secretantes; A investigação da etiologia da diarreia aguda não é obrigatória em todos os casos. Deve ser realizada nos casos graves e nos pacientes hospitalizados. Deve ser lembrado que os laboratórios, em geral, não dispõem de recursos para diagnosticar todas as bactérias e vírus causadores de diarreia aguda. Novos métodos diagnósticos utilizando a técnica de PCR multiplex estão em desenvolvimento e têm potencial para proporcionar, no futuro, o diagnóstico etiológico com maior rapidez e abrangência. COMPLICAÇÕES: Desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos; anemia e perda de peso; ABORDAGEM DO PACIENTE COM DIARREIA AGUDA ANAMNESE DESCREVER O QUADRO 5 Gabrielle Nunes Deve contemplar os seguintes dados: duração da diarreia, número diário de evacuações, presença de sangue nas fezes, número de episódios de vômitos, presença de febre ou outra manifestação clínica, qual a relação da diarreia com a alimentação (melhora com jejum ou não), práticas alimentares prévias e vigentes, outros casos de diarreia em casa ou na escola. Sintomas que geralmente estão associados: Cólicas abdominais, dor abdominal, febre, sangue ou muco nas fezes, náusea, mal- estar e vômitos. Repercussões sobre o estado geral: Hiporexia e prostração, que dependem da gravidade da infecção e da desidratação.Sintomas de desidratação: oligúria, sede, boca seca, olhos fundos, sensação de fraqueza, taquicardia, hipotensão postural e perfusão capilar diminuída. Em crianças: alterações no turgor da pele e na elasticidade, enoftalmia; Deve ser avaliado, também, a oferta e o consumo de líquidos, além do uso de medicamentos e o histórico de imunizações. É importante, também, obter informação sobre a diurese e peso recente, se conhecido. UMA FERRAMENTA IMPORTANTE NA AVALIAÇÃO DAS DIARREIAS É A ESCALA DE BRISTOL, A QUAL FOI CRIADA COM O OBJETIVO DE AVALIAR A CONSISTÊNCIA DAS FEZES. ▪ TIPO 1: Sinal de constipação severa ▪ TIPO 2: Sinal de constipação leve e de trânsito digestivo lento. ▪ TIPO 3: Evacuação normal, sinal de ótimo trânsito intestinal. ▪ TIPO 4: evacuação normal, sinal de ótimo trânsito intestinal. ▪ TIPO 5: Tendência à diarreia. ▪ TIPO 6: Diarreia, sinal de trânsito intestinal desregulado. ▪ TIPO 7: Diarreia, sinal de trânsito intestinal desregulado. HÁBITOS DE VIDA Investigar pistas diagnósticas: faixa etária, ocupação, histórico alimentar, uso de medicação e internamento recente, hábitos de vida e condições de moradia. Investigar a situação de saneamento da casa e de locais visitados recentemente, ingestão de água não tratada, alimentos suspeitos (preparados em condições artesanais, com higiene precária, conservados sem refrigeração ou mantidos expostos), viagens, contato com pessoas com diarreia na família ou no trabalho, história sexual, banhos em locais públicos. EXAME FÍSICO ESTADO GERAL: Sinais de toxemia indicam quadro mais grave e necessidade de maior cuidado clínico. Desta forma, presença de febre alta, taquipneia, vasodilatação periférica com hipotensão e pulsos rápidos e finos são sinais de alerta O exame físico do abdome normalmente exibe dor leve difusa à palpação, com possibilidade de descompressão brusca levemente dolorosa em situações de maior distensão de alças e dor mais intensa Os ruídos hidroaéreos estão frequentemente aumentados • Dor localizada, sinais de irritação peritoneal intensa, massas ou visceromegalias, distensão abdominal importante e ausência de ruídos são achados que devem direcionar para avaliação cuidadosa pela possibilidade de outras afecções abdominais. DIAGNÓSTICO A maioria dos episódios de diarreia aguda é leve, autolimitada e de resolução espontânea dentro dos primeiros 5 dias, não justificando o custo e a taxa de morbidade em potencial das intervenções diagnósticas. QUANDO PEDIR EXAMES? quando temos pelo menos 1 dos 9 sinais de alarme presentes: (01) Diarreia por mais de 7-10 dias; número de episódios maior ou igual a 6 por dia; idosos >70 anos; diarreia aquosa profusa, acompanhada de franca desidratação; diarreia adquirida no hospital (internação ≥ 3 dias); sinais de comprometimento sistêmico (ex.: alteração do estado mental, disfunção renal); sinais de diarreia inflamatória; piora progressiva; paciente imunodeprimido (ex.: AIDS, pós- transplante de órgãos). HEMOGRAMA: * Em pacientes que evoluem com formas mais graves da diarreia aguda, podem-se encontrar anemia e hemoconcentração • Nas diarreias por virus, linfocitose pode estar presente; • Leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda é frequente nas infecções bacterianas mais invasivas com diarreia inflamatória; EXAME DE FEZES E COPROCULTURA: Bom para diagnóstico de E. coli, Shigella, Salmonella; pesquisa de leucócitos e sangue nas fezes ou teste de lacotoferrina fecal; ▪ A realização da coprocultura deve ser reservada para casos suspeitos de diarreia infecciosa por bactérias invasivas, na presença de sangue oculto e leucócitos fecais ou para os casos de interesse epidemiológico BIOQUÍMICA SÉRICA: ureia, creatinina, eletrólitos como Na e K; EPF E PESQUISA DE ANTÍGENOS FECAIS: Na suspeita de parasitoses intestinais, como os protozoários Entamoeba e Giardia 6 Gabrielle Nunes PESQUISA DE TOXINAS do Clostridium difficile (solicitar na suspeita de infecção por Clostridium difficile). PRC E VHS em infecções virais FUNÇÃO RENAL E ELETRÓLITOS: A desidratação causa hipovolemia que altera a perfusão renal, fazendo com que haja elevação da creatinina e, principalmente, da ureia em depleções volêmicas mais importantes Essa complicação da diarreia deve ser prontamente diagnosticada principalmente em pacientes idosos. O distúrbio eletrolítico tem relação com perdas entéricas e deve ser corrigido quando presente TRATAMENTO O pilar do tratamento das diarreias agudas é a hidratação. Segundo o Ministério da Saúde, não se deve usar antidiarreicos e nem antieméticos; Antibioticoterapia deve ser realizada apenas em casos de disenteria (diarreia com sangue), paciente com comprometimento do estado geral ou em casos de cólera grave; Antiparasitários devem ser utilizados somente para amebíase (quando o tratamento para Shigella fracassar ou em casos em que se identifiquem trofozoítos de Entamoeba histolytica englobando hemácias) ou giardíase (quando a diarreia durar 14 dias ou mais, se identificarem cistos ou trofozoítos nas fezes ou no aspirado intestinal). CLASSIFICAÇÃO DO PACIENTE DESIDRATADO PLANO A PLANO B PLANO C Feito por via oral no domicílio do próprio paciente. É orientado que ele beba bastante líquido e fazemos reposição de zinco (20 mg/dia em > 6 meses por 10-14 dias). Orientar o paciente que retorne ao serviço de saúde se houver sinais de piora (piora da diarreia, recusa de alimentos, sangue nas fezes, vômitos repetidos, diminuição da diurese e muita sede). Tratamento em UBS via oral, com administração de solução de reidratação oral de 50-100 ml/kg por 4-6 horas. Temos que fazer a reavaliação constante desse paciente: se melhorar, adotamos o plano A; se continuar desidratado, passamos a sonda nasogástrica; e, se piorar, adotamos o plano C de reidratação. Hidratação endovenosa em unidade hospitalar, feita através de duas fases: expansão e manutenção e reposição. Na fase de expansão: para > 5 anos, vamos administrar soro fisiológico 0,9% (30 ml/kg por 30 min) + ringer lactato/solução polieletrolítica (70 ml/kg por 2h e 30 min). FASE DE MANUTENÇÃO Vamos dar ao paciente soro glicosado a 5% e soro fisiológico a 0,9% na proporção de 4 pra 1, sendo que o volume depende do peso do paciente: se ele tiver até 10 kg, daremos 100 ml/kg; se tiver entre 10-20 kg, 1000 ml + 50 ml por cada quilo que exceder os 10 kg; e, por fim, se tiver mais que 20 kg daremos 1500 ml + 20 ml a cada quilo que exceder 20kg. Na reposição, usaremos também soro glicosado com soro fisiológico, porém na proporção de 1-1, e o volume administrado será de 50 ml/Kg. Além disso, faremos reposição de cloreto de potássio (KCl) a 10% – 2 ml para cada 100 ml da fase de manutenção – e reavaliaremos constantemente esse paciente. Atentar que a fase de manutenção reposição acontecem ao mesmo tempo, repondo esse volume por 24 horas, e que, no plano C, o paciente tem que ser observado por pelo menos 6 horas. 7 Gabrielle Nunes LINK: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/cartazes/manejo_paciente_diarreia_cartaz.pdf TRATAMENTO ESPECÍFICO ANTIDIARRREICOS: em pacientes sem febre e sem disenteria • Agentes antidiarreicos e anticolinérgicos não devem ser usados em doença grave pelo risco de precipitar megacólon tóxico. PROBIÓTICOS: são espécies de bactérias que colonizam e se replicam no trato intestinal humano e promovem um efeito benéfico no hospedeiro. Existem baixas evidências quanto ao seu resultado eficiente nos casos de diarreia, entretanto, é conhecido seu benefício nos pacientes com diarreias provocadas por uso de antibióticos. DIETA: O paciente deve ser orientado para continuar alimentando-se durante o episódio de diarreia. • Aqueles que têm náuseas e vômitos devem dar preferência aos líquidos em pequenas quantidades de cada vez, para garantir a reposição das perdas. • Os alimentos visam à reposiçãocalórica, compensando assim o estado catabólico produzido pela diarreia, e, ao contrário do que se acreditava, não agravam o quadro diarreico, nem pioram a sua evolução Alguns alimentos devem ser evitados temporariamente por causa de seus efeitos sobre a dinâmica intestinal, como, por exemplo, aqueles que contêm cafeína, capazes de inibir a fosfodiesterase e, assim, elevar os níveis intracelulares de cAMP. - O mesmo ocorre com alimentos que contêm lactose, já que pode haver deficiência transitória de lactase. Alimentos com maior teor de gordura e as frituras também podem ter sua absorção reduzida e agravar a diarreia. ANTIBIÓTICOS QUANDO UTILIZAR ATB NA DIARREIA AGUDA? DOENÇA GRAVE Hipovolemia grave ou sepse (hipotensão, taquipneia, taquicardia, febre ou hipotermia). Considerar se febre e > 6 episódios de diarreia/ dia SINAIS DE DIARREIA INVASIVA Febre e produtos patológicos (sangue ou muco nas fezes) GRUPO DE RISCO • Idosos (>70 anos) e imunocomprometidos • Cardiopatas • Pacientes hospitalizados DIARREIA DO VIAJANTE Se diarreia intensa ou se limitar a viagem QUAL ATB PRESCREVER? Quadro clínico típico para algum agente específico ou coprocultura/protoparasitológico positivos > Tratamento ATB guiado. Caso não tenham um quadro típico ou resultados da coprocultura e o paciente apresente sinais de alarme > realizar tratamento empírico. Em geral, o tratamento com antibiótico é feito com os antibióticos abaixo, com base em alguns patógenos mais frequentes, e cobrem bem Shigella, Salmonella, E. coli, Campylobacter e Yersinia (exceções: cefalosporinas não cobre Campylobacter e azitromicina não cobre Yersenia). LEVOFLOXACINO 500mg VO dose única ou 3 dias de tratamento* CIPROFLOXACINO !! 750mg VO dose única OU 500mg VO por 3 dias* OU 200mh EV 2vx ao dia por 3-5 dias CEFTRIAXONE 2g EV 1xd 3-5d 250-500mg vO 2xd 3-5d OFLOXACINO 400mg VO dose única ou 3 dias de tratamento* AZITROMICINA!! 1g VO dose única (se disenteria ausente) OU 500mg VO por 3 dias * RIFAXIMINA*** 200mg VO 3xd por 3 dias *Se os sintomas não melhorarem em 24h, completar o tratamento de 3 dias ** Não utilizar de suspeita clínica de Campylobacter, Salmonella ou Shigella. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/cartazes/manejo_paciente_diarreia_cartaz.pdf 8 Gabrielle Nunes DIARREIAS INFECCIOSAS Muitos microrganismos alteram o equilíbrio de absorção e secreção no intestino delgado e são capazes de provocar diarreia. Alguns produzem enterotoxinas que ativam o mecanismo secretor e outros, por alterarem as vilosidades, prejudicam a absorção. • No íleo distal e cólon, a diarreia é causada principalmente por invasão e destruição do epitélio, que resulta em ulceração, infiltração da submucosa com eliminação de soro e sangue. Além disso, podem estimular resposta inflamatória local, que resulta na produção de vários secretagogos, como as prostaglandinas e interleucinas, e contribuem para a perda de líquidos para o lúmen intestinal. ETIOLOGIAS COMUNS DA INTOXICAÇÃO ALIMENTAR A intoxicação alimentar resulta da ingestão de alimentos contaminados por bactérias, fungos, vírus, parasitos ou substâncias químicas, tendo como destaque o envolvimento de uma coletividade que fez uso do mesmo alimento. A intoxicação surge, principalmente, em decorrência de substâncias químicas ou de toxinas pré-formadas por agentes infecciosos Para o diagnóstico, deve-se prestar atenção no intervalo relativamente curto entre a ingestão do alimento suspeito e o início dos sintomas: Quando for inferior a 6 h, a suspeita é da intoxicação pela toxina pré-formada por Staphylococcus aureus e Bacillus cereus; se, entre 8 e 14 h, sugere intoxicação por Clostridium perfringens; mas se, inferior a 1 h, deve-se pensar em intoxicação por uma substância química GASTROENTERITE VIRAL São a causa mais comum de diarreia infecciosa, sendo o mais importante o rotavírus ROTAVÍRUS Acontece mais em bebês, comumente no inverno, mas também diarreia aguda não sazonal, particularmente em idosos. Fisiopatologia: Interfere na dinâmica das células intestinais ao bloquear alguns transportadores, como o SGLT1, o que interrompe a absorção de sódio, glicose e agua provocando diarreia. Além disso, ativa vias de sinalização, como a do AMP cíclico, que aumentam os níveis de cálcio e promovem hipersecreção e diarreia. • Biopsias obtidas após a inoculação do vírus para induzir gastrenterite mostraram encurtamento de vilosidades da mucosa do duodeno e do jejuno, nas quais havia grande infiltração da lâmina própria de células mononucleares. Quadro clínico: As crianças infectadas pelo rotavírus reagem de modo variado, desde portadores assintomáticos até formas graves com desidratação e evolução para o óbito. A febre, geralmente baixa, e os vômitos precedem a diarreia. A febre pode persistir por até 1 a 2 dias, e os vômitos, em geral, não ultrapassam o 3° dia A diarreia é aquosa, profusa, de cor amarelada a esverdeada e raramente contém muco O número de evacuações pode ser de 8 ou mais por dia A duração média da gastrenterite é de 8 dias, mas pode haver crises mais prolongadas. Sintomas respiratórios estão presentes em torno da metade dos casos Complicações: enterocolite necrotizante, invaginação intestinal, atresia das vias biliares, complicações neurológicas como convulsões e encefalopatia NOROVÍRUS é a principal etiologia nos adultos; GASTROENTERITE BACTERIANA E.COLI É uma bactéria colonizadora da flora intestinal em sua forma não patogênica. Cepas patogênicas podem ser adquiridas e causar diarreias. Essas cepas podem ser diferenciadas a partir da cultura. E. COLI ENTEROTOXIGÊNICA (ETEC): • É a principal causadora de diarreia dos viajantes • Fisiopatologia: se adere a mucosa intestinal, produz toxinas termoestável e termosensível que estimulam a secreção de água para o lúmen intestinal. Como não ultrapassa a mucosa e não promove lesão. Diarreia cursa sem muco, pus ou sangue; Explosiva e de grande volume. Duração: 5 dias E. COLI ENTEROPATOGÊNICA (EPEC): • Fisiopatologia: Tem capacidade de se aderir a mucosa intestinal, promovendo alteração estrutural das células, com modificação do citoesqueleto e apagamento das vilosidades. A absorção e secreção ficam prejudicadas, levando a uma diarreia bem aquosa. • É comum surtos dessa cepa em crianças, principalmente nas que não são amamentadas. E.COLI ENTEROHEMORRÁGICA (EHEC) • Fisiopatologia: Se adere a mucosa e é capaz de produzir toxinas como a “shiga-like”. Essa toxina é a responsável por causar a colite hemorrágica e manifestações sistêmicas. Diarreia sanguinolenta, dor abdominal, podendo apresentar febre discreta. 9 Gabrielle Nunes Após 1 a 2 semanas, pode cursar com síndrome hemolítico-urêmica (anemia hemolítica microangiopática, insuficiência renal e plaquetopenia). E.COLI ENTEROINVASIVA (EIC) • Fisiopatologia: Penetra na mucosa intestinal e se reproduz nos enterócitos. Leva a lesão das células cursando, inicialmente, com diarreia aquosa e, posteriormente, sanguinolenta. Portanto, leva a um quadro de disenteria. E.COLI ENTEROAGREGATIVA (EAEC) • Leva a uma diarreia persistente em crianças e em pacientes com HIV. SHIGELLA (DESINTERIA BACILAR) Bactéria gram negativa resistente ao suco gástrico; Propagação de pessoa para pessoa; Quando clínico dividido em 4 fases: Incubação (1 a 4 dias); Diarreia aquosa inicial, acompanhada de febre, anorexia, mal-estar; Disenteria clássica: febre, cólicas, diarreia com muco e sangue, vômitos são pouco frequentes. Há perda pouco expressiva de líquidos, o que é característica das infecções do colón. Fase pós infecciosa; EXAMES COMPLEMENTARES: ▪ Leucócitos fecais presentes em até 70% dos casos; ▪ A coprocultura deve ser feita em amostras de fezes colocadas no meio de cultura imediatamente. Obtém-se melhor resultado com a parte mucoide das fezes. Outras técnicasmais sensíveis podem ser utilizadas como a PCR. SALMONELA SPP. Bactéria gram negativa transmitido a partir de alimentos de origem animal, como aves, leite e ovos; Complicações: gastroenterite, bacteremia e infecção endovascular, infecção focal como a osteomielite; pode levar a febre tifoide ao ganhar a circulação através dos macrófagos, por isso, todo paciente com suspeita de salmonella. deve pesquisar o sangue. Fisiopatologia: Inicia seu processo patogênico após uma falsa fagocitose pelo sistema imune. Após ser fagocitada, a Salmonella fica dentro do endossomo, que se funde com os lisossomos, formando o fagolisossomo. A Salmonella não morre lá dentro pois começa a produzir o SPI II, que injeta novas proteínas que fazem a Salmonella sobreviver. CLÍNICA: Provoca gastroenterite indistinguível, com náuseas, vômitos e diarreia dentro de 6 a 48 horas após ingestão do alimento ou água contaminada. A dor abdominal e a febre (38/ 39°C) são comuns e a diarreia pode ser invasiva (muco, pus e sangue) ou não invasiva EXAMES COMPLEMENTARES DIARREIA DO VIAJANTE: ▪ Cultura de fezes (coprocultura) para bactérias. ▪ pH das fezes: valores inferiores a 5,6 indicam participação de componente osmótico. ▪ Sangue e leucócitos nas fezes sugerem invasão do epitélio intestinal > SERIA ÚTIL P/ DIAGNÓSTICO MAIS RÁPIDO. FEBRE TIFOIFE A apresentação clássica da febre tifoide consiste em: 1. Primeira semana: febre alta e bacteriemia 2. Segunda semana: dor abdominal, rash cutâneo (manchas avermelhadas) no tórax e no abdome 3. Terceira semana: hepatoesplenomegalia, hemorragia digestiva e perfuração intestinal Essa última é resultante de hiperplasia linfoide das placas de Peyer na região ileocecal e pode causar bacteriemia e peritonite. A bradicardia, ou seja, a clássica dissociação pulsotemperatura, embora não permita firmar o diagnóstico, deve ser sempre lembrada. STAPHYLOCOCCUS AUREUS Principal etiologia das intoxicações alimentares: Resulta de alimentos submetidos à cocção inadequada ou mal refrigerados, que constituem fonte ideal para a proliferação de agentes infecciosos e de rápida produção de toxinas. CLÍNICA: Os pacientes apresentam náuseas, vômitos intensos, cólicas e diarreia aquosa; Podem evoluir para desidratação aguda e choque hipovolêmico; FISIOPATOLOGIA: Produz uma toxina termoestável TRATAMENTO: reposição hidroeletrolítica VO e sintomáticos, mas casos graves exigem hidratação IV; CLOSTRIDIUM DIFFILE: COLITE PSEUDOMEMBRANOSA Bactéria gram positiva muito comum em ambientes hospitalares; O C. difficile tem tendência a colonizar o intestino humano quando a flora normal é alterada, principalmente por terapia antibiótica. É responsável por 50 a 70% das diarreias nosocomiais associadas ao uso de antibióticos e que ocorrem até 6 semanas após sua administração. Podem ocorrer sem uso prévio de antimicrobianos. Fatores de risco: a idade avançada, doença de base grave, cateteres, anti-ácidos, cirurgias gastrointestinais. FISIOPATOLOGIA: Produzem toxinas e as liberam: Toxina A: promovem lesão direta do cólon por reação inflamatória, , a qual envolve exsudação de material proteico com neutrófilos e monócitos e formação de pseudomembranas (enterotoxina, principal fator patogênico); Toxina B: alteração do citoesqueleto (citotoxina, pouco ou nenhum fator deletério); 10 Gabrielle Nunes Para a doença é necessário a contaminação pela bactéria, uso de antibióticos, como cefalosporinas, que irão alterar a flora, e a presença de IgG contra a toxina A. CLÍNICA: varia de portadores assintomáticos, formas discretas e autolimitadas até formas fulminantes. A apresentação característica é de diarreia aquosa, com 10 a 12 evacuações/ dia, por vezes com raias de sangue. Fezes francamente hemorrágicas ocorrem raramente Pode haver distensão abdominal com descompressão dolorosa Os casos graves podem evoluir para megacólon tóxico, perfuração e alta mortalidade. Distúrbios eletrolíticos contribuem para a morbidade. As ulcerações extensas resultam em perdas de proteínas com hipoalbuminemia, principalmente quando o quadro se prolonga. São descritas outras complicações, como derrame pleural, ascite e a síndrome hemolítico-urêmica. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico da colite pseudomembranosa é feito através de uma combinação de critérios: 1. Diarreia com mais de 3 episódios de fezes não moldadas por dia, durante um tempo de 2 dias e que não possua outra causa; 2. Detecção de toxina A e B nas fezes ou detecção de C. difficile na coprocultura/PCR ou pseudomembranas na endoscopia do cólon; TRATAMENTO: O tratamento vai SE iniciar suspendendo o antibiótico que causou o quadro. Depois a conduta irá se basear em infecção primária ou recorrente. Geralmente, no tratamento utiliza-se metronidazol em casos leves a moderados e vancomincina ou fidaxomicina, em casos graves, por 10 dias. DIARREIAS MEDICAMENTOSAS Os medicamentos mais associados a quadros de diarreia são os antibióticos, particularmente clindamicina, ampicilina, cefalosporina, eritromicina; antiinflamatórios não esteroidais; anti-hipertensivos, como betabloqueadores, hidralazina, IECA, diuréticos. PESQUISA DA ETIOLOGIA Volume das evacuações Frequência das evacuações Sangue, muco ou pus nas fezes Características das fezes (coloração, odor, consistência) Presença de febre Dor abdominal associada, náuseas, vômitos ou outros sintomas Ausência de melhora após 48h Surtos na comunidade Viagens recentes Uso recente de antibióticos Idade do indivíduo (> 70 anos) e imunocomprometidos (ambos sinais de alarme) ESTUDOS HISTOLÓGICOS MOSTRAM QUE AS PSEUDOMEMBRANAS SÃO FORMADAS DE MATERIAL NECRÓTICO, MUCO E CÉLULAS INFLAMATÓRIAS QUE COBREM A SUPERFÍCIE EPITELIAL EM ÁREA ULCERADA 11 Gabrielle Nunes DIARREIAS CRÔNICAS GENERALIDADES CONCEITO: Persistência do quadro diarreico por um período superior a 6 ou a 8 semanas. uma manifestação clínica relativamente comum decorrente da alteração na absorção, secreção ou motilidade intestinal. • Afeta aproximadamente 3 a 5 % da população em algum momento da vida. • Diminuição da qualidade de vida. As causas da diarreia crônica são múltiplas e incluem: inflamação da mucosa; formação de gradiente osmótico; secreção de íons; causas iatrogênicas; má absorção de nutrientes; alteração da motilidade; As etiologias vão variar de acordo com a localidade dos pacientes. Em países em desenvolvimento pode-se citar: infecções crônicas (bacterianas, parasitoses, micobacterioses), doenças inflamatórias; ABORDAGEM DO PACIENTE COM DIARREIA CRÔNICA ANAMNESE HISTÓRIA CLÍNICA: Caracterizar a diarreia e duração dos sintomas; pesquisar a incontinência fecal (diarreia x incontinência); afastar sintomas de alarme [presença de sangue nas fezes; evacuações noturnas; emagrecimento; investigações anteriores; tempo de evolução; padrão da diarréia (contínua ou intermitente), idade superior a 50 anos]; pesquisar a associação entre o padrão da diarreia e o padrão da dor abdominal; pesquisar o uso de medicamentos; • DIFERENCIAR SE É UM CASO DE DIARREIA ALTA OU BAIXA (01) Diarréias com pequeno número de evacuações ao dia, porém volumosas, com odor fétido e presença de gordura ou alimentos não digeridos sugerem uma origem alta, com comprometimento da absorção ou digestão dos alimentos. (02) Diarréia em pequena quantidade, com presença de sangue vermelho vivo e acompanhadas de puxo e tenesmo sugerem o comprometimento do cólon distal por neoplasia ou inflamação. • DIFERENCIAL DE ACORDO COM A FISIOPATOLOGIA: Osmótica, secretória ou invasiva / inflamatória, esteatorreia; • ATENÇÃO PARA SINTOMAS EXTRA-INTESTINAIS: Muito comum em doenças inflamatórias intestinais: uveíte, episclerite, pioderma gangrenoso, eritema nodoso ou mesmo a presença de artrite ou artralgia.ANTECEDENTES PESSOAIS: doenças sistêmicas, como artrite soronegativa, diabetes mellitus, hipertireoidismo, doenças do colágeno, deficiência de imunoglobulinas, radioterapia, úlceras pépticas de repetição e cirurgias gastrintestinais são causas de diarréia crônica, simplificando algumas vezes o diagnóstico. Histórico de viagens; diário alimentar; associação com status psicológico; infecções recorrentes; ANTECEDENDENTES FAMILIARES: casos na família de doença inflamatória intestinal, doença celíaca e neoplasia de cólon também direcionam a investigação e facilitam a realização do diagnóstico. EXAME FÍSICO EXAME FÍSICO: na grande maioria dos casos, o exame físico é normal ou não contribui para o diagnóstico. Especial atenção deve ser dada ao estado nutricional e à hidratação. • Ectoscopia: linfadenopatia, desnutrição, exoftalmia; • Pele: flushing, rash, dermografismo; 12 Gabrielle Nunes • Tireoide • ausculta pulmonar e cardíaca • Abdome: timpanismo, ascite, hepatomegalia, massa • Avaliação perianal e toque retal: importante nas doenças inflamatórias intestinais; DIARREIAS INFLAMATÓRIAS DIARREIAS DISABSORTIVAS Presença de muco, sangue e/ou pus Presença de resíduos e/ou fezes brilhantes (esteatorreia) EXAMES COMPLEMENTARES Devem ser feitos em pacientes com suspeita de doença orgânica e que apresentaram falha na terapia empírica. PODE-SE REALIZAR EXAMES RESPIRATÓRIOS NA PESQUISA DA DISABSORÇÃO E REALIZAR A ANÁLISE FECAL COMPLETA (pH, GAP OSMOLAR FECAL, CALPROTECTINA, ELASTASE). REALIZAR EXAMES DE IMAGEM EM PACIENTES COM ESTEATORREIA, DIARRÉIA SECRETÁRIA, DOENÇA INFLAMATÓRIA: PESQUISA DE ANORMALIDADES ANATÔMICAS, EXTENSÃO DE INFLAMAÇÃO, PANCREATITE CRÔNICA E NEOPLASIAS. 13 Gabrielle Nunes DIARREIAS POR DISABSORÇÃO Má absorção é um termo comumente usado para descrever o resultado tanto de hidrólise ineficiente de nutrientes (má digestão) quanto de defeitos na absorção intestinal pela mucosa (má absorção propriamente dita) e no transporte de nutrientes adequadamente digeridos. • Resulta do mal funcionamento de um ou mais processos fisiológicos envolvidos na digestão e absorção, como: solubilização de nutrientes, vitaminas e minerais; secreção hormonal; hidrólise dos alimentos ou capacidade absortiva da mucosa intestinal; • Frequentemente estão associados a doenças do intestino delgado; • O quadro clínico é variável, mas geralmente há diarreia volumosa e esteatorreia; costuma ser apresentar fezes pálida e de odor fétido; Causas: deficiência de lipólise, deficiência na formação de micelas (queda das concentrações da bile no lúmen intestinal), intolerância à lactose, doença celíaca, trânsito intestinal rápido, giardíase e amebíase; ABORDAGEM DO PACIENTE COM SÍNDROME DA MÁ ABSORÇÃO Avaliação inicial: testes gerais e específicos de função pancreática, se supercrescimento bacteriano, de doenças de mucosa e teste de função ileal. Pesquisa de doenças estruturais na TC e testes sorológicos para doença celíaca. Os testes fecais são importantes para avaliar o pH fecal, uma vez que um pH mais ácido fala mais a favor de deficiência de lactase ou disabsorção de gorduras; e a osmolaridade diferencia uma diarreia osmótica de uma secretória. TESTE QUANTITATIVO DE GORDURA FECAL TESTE QUALITATIVO DE GORDURA FECAL TESTE DA D-XILOSE URINÁRIA TESTE DA BENTIROMIDA Quantidade de gordura presente nas fezes acumuladas em 72 horas Usa o corante para gorduras Sudan III A hiperproliferação bacteriana e a lesão da mucosa do intestino proximal reduzem a absorção de D-xilose É um peptídeo sintético ligado a um ácido, o PABA. Esta ligação é desfeita pela quimiotripsina, enzima pancreática DOSAGEM DA TRIPSINA SÉRICA TESTE DE SCHILLING TESTES RESPIRATÓRIOS OUTROS EXAMES Mais específico e menos sensível do que o teste da bentiromida urinária Se for identificada B12 na urina é sinal que não há má-absorção dessa vitamina - Teste C14-xilose - Teste de exalação da Lactose- H2 - Teste respiratório com H2 Trânsito intestinal, enteróclise, EDA e EDB, cultura de delgado; DEFICIÊNCIA DE LIPÓLISE Defeitos congênitos ou destruição do parênquima (pancreatites crônicas, fibrose cística, neoplasias): deficiência na lipase Fezes volumosas e carregadas de gordura (comumente > 30 g de gordura por dia); não é um quadro de diarreia aquosa porque os triglicerídeos não digeridos formam grandes gotículas de emulsão com pouca força osmótica e, ao contrário do que ocorre com os ácidos graxos, não estimulam a secreção de água e eletrólitos no cólon. INTOLERÂNCIA À LACTOSE: DEFICIÊNCIA DAS DISSACARIDASES Causa mais com um de má absorção seletiva de carboidratos. Tipicamente, adultos com deficiência de lactase se queixam de gases, distensão e diarreia após ingestão de leite ou laticínios, mas não perdem peso. A lactose não absorvida é osmoticamente ativa, arrastando água para o lume intestinal. As dissacaridases, incluindo a lactase, estão localizadas na membrana apical da borda em escova das células epiteliais absortivas das vilosidades. Pelo fato de o defeito ser bioquímico, as biópsias geralmente não são marcantes. Deficiência congênita de lactase: é um transtorno autossômico recessivo causado por uma mutação no gene que codifica a lactase; Manifesta-se como diarreia explosiva com fezes aquosas, espumantes e distensão abdominal após ingestão de leite; Os sintomas diminuem quando a exposição ao leite e produtos lácteos é encerrada, eliminando assim a lactose osmoticamente ativa, mas não absorvível da luz intestinal. Deficiência adquirida de lactase é causada por infrarregulação de expressão gênica da lactase. A infrarregulação da lactase ocorre no intestino após a infância, talvez refletindo o fato de que, antes da criação de animais leiteiros, a lactase era desnecessária após as crianças pararam de beber o leite da mãe. O início da deficiência de lactase adquirida é às vezes associado a infecções entéricas virais ou bacterianas. Secundário a doenças: Muitas doenças intestinais causam, secundariamente, deficiência de lactase reversível, por exemplo gastroenterite viral, doença celíaca, giardíase e supercrescimento bacteriano. ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA INTOLERÂNCIA À LACTOSE 14 Gabrielle Nunes Hipersensibilidade à ingestão de leite, inalação e/ou toque. Reações rápidas: Urticárias, broncoespasmo, manifestações gastrointestinais agudas e, eventualmente, anafilaxia; Reações tardias: gastrointestinais em pacientes com atopia (ex., dermatite atópica), sangue nas fezes em lactentes, vômitos, diarreia, déficit de crescimento, entre outros; As reações não dependem da quantidade de leite ingerido, não podendo nem pequenas quantidades do leite; Exames de sangue, prick test, teste de provocação oral em ambiente hospitalar. Diagnóstico clínico: dieta de exclusão por um prazo e teste de provocação com exposição ao alérgeno. Deficiência enzimática (carência ou baixa produção de lactase) dificultando o processo de absorção da lactase presente no leite. Mais comuns: diarreia (e/ou constipação), distensão abdominal, gases, náuseas e sintomas de má digestão; A severidade dos sintomas dependerá da quantidade de lactose ingerida, assim como da quantidade que o organismo tolera. Confirmação por exame: teste de tolerância à lactose, teste de hidrogênio na respiração e/ou teste de acidez nas fezes DOENÇA CELÍACA (DC) É uma doença induzida pelo consumo de proteínas presentes no trigo, centeio e cevada, que afeta primariamente o trato gastrintestinal em indivíduos geneticamente suscetíveis, levando a uma lesão característica, porém não específica da mucosa do intestino delgado, que resulta na má absorção de nutrientes pelo segmento envolvido, melhorando com a retirada do glúten na dieta. • Comumente, a doença celíaca se manifesta precocemente na vida do indivíduo, por voltados 2 anos de idade, depois da introdução do trigo na alimentação; ou, mais tarde, na segunda até a quarta década de vida. GENÉTICA: A predisposição genética é um fator bem estabelecido, demonstrada por concordância de 75% da doença entre gêmeos monozigóticos, com risco atribuído ao antígeno leucocitário humano (HLA) classe II, HLA-DQ2 e HLADQ-8, encontrados em cerca de 95% dos celíacos. FISIOPATOLOGIA: É complexa e envolve o sistema imune inato e adaptado em indivíduos geneticamente susceptíveis. Enteropatia mediada pelo sistema imunológico, pela ingestão de alimentos que contém glúten, hipersensibilidade que provoca distúrbios na digestão terminal e no transporte transepitelial. O glúten é digerido pelas enzimas luminais e da borda em escova em aminoácidos e peptídeos, incluindo um peptídeo α-gliadina – que é resistente à degradação pelas proteases gástricas, pancreáticas e do intestino delgado. A rede de reações imunológicas à gliadina é responsável por resultar na doença celíaca. Linfócitos da resposta imune se tornam citotóxicos e matam enterócitos; O dano epitelial resultante pode contribuir para o processo pelo qual os outros peptídeos da gliadina atravessam o epitélio para serem desaminados pela transglutaminase tecidual. Esses peptídeos podem interagir com células apresentadoras de antígenos e desencadear a liberação de células T, essas produzem citocinas que contribuem para o dano tecidual e a patologia mucosa característica. A transglutaminase tecidual é o antígeno-alvo do anticorpo antiendomísio e está envolvida na fisiopatogenia da doença celíaca de diversas maneiras. O anticorpo, quando se liga a transglutaminase, bloqueia sua ação e reduz a disponibilidade do TGF-beta na sua forma ativa QUADRO CLÍNICO Doença clássica: geralmente é oligossintomática, mas quando sintomática apresentam déficit de crescimento, desnutrição e diarreia crônica. Manifestações extraintestinais: Rash (dermatite herpetiforme), neurológicos (neuropatia periférica, ataxia, epilepsia), distúrbios psiquiátricos (depressão, paranoia) e distúrbios da reprodução. Em pacientes com lesão mucosa considerável: diarreia aquosa, perda de peso ou retardo do crescimento e com as manifestações clinicas de deficiências de vitaminas e sais minerais. CAUSAS DA DIARREIA: é causada por muitos mecanismos, incluindo a diminuição da área de superfície para absorção de água e eletrólitos, efeito osmótico dos nutrientes não absorvidos no lúmen intestinal, aumento da área de superfície para secreção de cloreto (hiperplasia da cripta) e estimulação da secreção de liquido intestinal por mediadores inflamatórios e ácidos graxos não absorvidos. DIAGNÓSTICO 15 Gabrielle Nunes O DIAGNÓSTICO É FEITO A PARTIR DA SOROLOGIA + DOCUMENTAÇÃO DA LESÃO INTESTINAL PELO ANATOMOPATOLÓGICO. 1. SOROLOGIA: Anticorpos antitransglutaminase IgA e antiendomísio IgA são utilizados como marcadores da doença (possuem alta sensibilidade e especificidade). 2. BIÓPSIA: atrofia vilosa, número aumentado de linfócitos intraepiteliais (LIEs) e proliferação epitelial com alongamento das criptas. 3. ENDOSCOPIA: diagnóstico pode ser suspeitado pela presença de pregas com aspecto serrilhado. Confirmação através da biópsia duodeno- jejunal (se houver atrofia das vilosidades é confirmatório); DERMATITE HERPETIFORME: LESÕES PAPULOVESICULARES EM COTOVELOS E JOELHOS - É uma doença bolhosa cutânea recorrente e rara associada à hipersensibilidade ao glúten. Manifesta‐se por erupções cutâneas cíclicas, intensamente pruriginosas, pápulas eritematosas ou placas urticariformes e agrupamento de vesículas ou bolhas tensas, atingindo principalmente as superfícies extensoras simetricamente. Constitui uma manifestação cutânea da doença celíaca, afectando entre 15 a 25 % destes doentes. O diagnóstico de DH é estabelecido através da clínica, da histologia cutânea e da serologia (anticorpos anti- transglutaminase tecidular e antiendomísio da classe Ig TRATAMENTO O tratamento atual consiste na retirada completa e definitiva do trigo, da cevada e do centeio da alimentação. A aveia pode ser tolerada pela maioria dos pacientes já em remissão da doença. PARASITOSES QUE CURSAM COM DIISABSORÇÃO GIARDÍASE AMEBÍASE - Cursa com síndromes disabsortiva principalmente em pacientes imunocomprometidos ou com deficiência em IgA; - Fisiopatologia: Má absorção ocorre quando muitos organismos recobrem o epitélio e provocam inflamação da mucosa, que resulta em achatamento das vilosidades e redução da área de superfície absortiva. - Diarreia aquosa persistente, as vezes com esteatorreia + distensão abdominal + sem febre - Tratamento: Metronidazol, Albendazol ou tinidazol - Fisiopatologia: o verme fixa-se no intestino grosso, onde ele pode causar coli não disentérica (diarreias nas sanguinolentas), colite disentérica e colite necrosante; - Diarreias crônicas + abscesso hepático; A manifestação clínica observada com maior frequência é a colite amebiana aguda. Em geral, ocorre início gradual com dor abdominal e diarreia com fezes líquidas contendo sangue e muco. Podem estar associados tenesmo, vômitos e flatulência. Febre não é frequente. - Fazer diagnóstico diferencial com as colites bacterianas a partir do hemograma eosinofílico das infecções parasitárias. Outros exames úteis: exame direto nas fezes e sorologia . - Tratamento: Metronidazol ESTRONGILOIDÍASE (STROONGYLOIDES STERCORALIS) TENÍASE A diarreia geralmente acomete apenas imunocomprometidos; - Hiperinfecção: o indivíduo é infectado por um número excessivo de larvas filarióides, cuja instalação é facilitada por situações de imunodepressão. Quando a infecção é disseminada e ocorre dano em todo o trato gastrintestinal, a diarreia resultante terá componentes osmótico, exsudativo, motor e bacteriano, sendo, portanto, multifatorial. Diarreia + Síndrome de Loeffer - Tratamento: Tiabendazol 50mg/kg dose única - Maior complicação: Neurocisticercose - Tratamento: Praziquantel 16 Gabrielle Nunes VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA Diarreia, má absorção e síndrome consumptiva são comuns em indivíduos com AIDS, mas são vistas menos frequentemente com a melhora da terapia antirretroviral. Comumente, a má absorção se deve à infecção por criptosporídios, organismos do complexo Mycobacterium avium intracellulare, Isospora belli ou microsporídios. Fisiopatologia: Os mecanismos de má absorção e diarreia são atrofia das vilosidades, aumento da permeabilidade intestinal, trânsito rápido no intestino delgado (em pacientes com infecção por protozoário) e dano ultra-estrutural de enterócitos (na enteropatia da AIDS). DICAS PRÁTICAS NA INVESTIGAÇÃO DA DISABSORÇÃO • As fezes podem ser macroscopicamente normais na esteatorreia • Diarreia aquosa, flatulência e distensão abdominal ocorrem dentro de 90 minutos da ingestão de carboidratos • A dor abdominal é incomum (exceto: pancreatite crônica, doença de Crohn ou pseudo-obstrução intestinal) • Pensar sempre na doença celíaca e parasitose • Valorizar o consumo de álcool DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS (DII) Refere-se principalmente à colite ulcerativa e doença de Crohn, embora outras doenças intestinais também estejam associadas à inflamação intestinal. Formas inflamatórias de diarreia tipicamente têm a presença de fezes líquidas com sangue e dor abdominal. • Quando não é possível classificar a doença inflamatória intestinal como doença de Crohn ou retocolite ulcerativa classifica-se o quadro como colite indeterminada. • Paciente com doença de Crohn ou colite ulcerativa têm diarreia com volume de fezes geralmente inferior a 1L/24 hora. Devido a difícil diferenciação entre a RCU e a DC, muitas vezes o diagnóstico é tardio e a maioria das internações ocorrem na fase ativa ou nas complicações dessas doenças, com 80% dos casos ocorrendo sob demanda de urgência.Por isso é importante realizar a investigação precisa, diagnóstico diferencial e tratamento precoce dessas doenças. EPIDEMIOLOGIA Aumento da incidência em países recém-industrializados; Acometem principalmente indivíduos entre os 15 e 45 anos e infelizmente, há poucas pesquisas sobre sua incidência no Brasil, mas as evidências apontam para seu aumento, com maior prevalência na região Sudeste (45,33%). QUADRO CLÍNICO SINTOMATOLOGIA NO TGI EM COMUM: as manifestações gastrointestinais dependem do segmento do trato que está envolvido e da sua extensão, mas de forma geral, podemos citar diarreia crônica, dor abdominal, náuseas e vômitos e perda ponderal importante (60%). Além disso, outros sintomas sistêmicos podem estar presentes, como febre, anorexia e mal-estar. • Dor abdominal tipo cólica, sem alívio com a liberação de flatos ou fezes (80%): Dor na fossa ilíaca direita geralmente associada a doença de Crohn e dor na fossa ilíaca esquerda geralmente associada a retocolite ulcerativa; MANIFESTÇÕES EXTRAINTESTINAIS: podem ocorrer entre 25 e 40% dos casos de DII, dependendo do centro de referência, sendo as principais: • Manifestações hepatobiliares: Colangite Esclerosante Primária; • Osteoarticulares: Artrite*; Artralgia; Espondilite anquilosante e sacroileíte (dor lombar crônica inflamatória com rigidez matinal e melhora com os movimentos); • Dermatológicas: Eritema nodoso*; Pioderma gangrenoso; • * É a manifestação cutânea mais comum e está presente em 3-10% dos pacientes na RCUI; está relacionada com a atividade intestinal, mas sem correlação com a gravidade; o tratamento é controlar a doença de base; • Oculares: Uveíte; Episclerite; Conjuntivite*; • Renais: Litíase renal; • Hematológicas: Hipercoagulobilidade (eventos trombóticos). DOENÇA DE CROHN RETOCOLITE ULCERATIVA - Pode acometer todo o TGI, sendo mais comum no íleo; - Acomete apenas o reto e o cólon; 17 Gabrielle Nunes - Infiltração da mucosa e submucosa com úlceras lineares; - Lesões saltatórias, alternadas com áreas de mucosa preservada; - Arquitetura das criptas preservada, há infiltrado inflamatório com predomínio linfocitário; - CLÍNICA: A desnutrição devido a síndrome disarbsotiva é muito comum pois o intestino delgado é afetado pela DC. Também pode causar obstruções mecânicas, fístulas e abcessos como complicações agudas - A lesão é restrita a mucosa superficial, possui um acometimento contínuo e ascendente, mais homogênea; - Na biópsia apresenta abscessos de cripta e criptite; - CLÍNICA: O envolvimento do reto pode causar sangramento nas fezes (90% dos pacientes relatam), além de urgência retal, tenesmo e, ocasionalmente, constipação grave DIAGNÓSTICO INVESTIGAÇÃO MULTIDISCIPLINAR: HDA + INVESTIGAÇÃO ENDOSCÓPICAS, HISTOLÓGICAS, RADIOLÓGICAS E / OU BIOQUÍMICAS. Associando os dados colhidos durante a investigação clínica com exames complementares, podemos diagnosticar essas doenças. Os de escolha atualmente estão elencados abaixo. A pesquisa de anticorpos pode também auxiliar a hipótese diagnóstica. LABORATÓRIO: hemograma, perfil de ferro, provas de atividade inflamatória, HIV/HBV/HCV, enzimas hepáticas, amilase, lipase, PCR CMV, ASCA, P-ANCA, calprotectina fecal, toxina A/B ou PCR clostridium difficille, coprocultura; EXAMES DE IMAGEM: Radiografias contrastadas (TIDE/ Enema opaco), Entero TC e entero RM (avaliação do delgado), RM de pelve (avaliação e prognóstico de fístulas perianais), cápsula endoscópica; enteroscopia; colonoscopia; Papel da colonoscopia na DII: diagnóstico e estadiamento; acompanhamento (resposta terapêutica, recorrência pós-operatória e rastreio de neoplasias); terapêutica em casos de dilatação e polipectomias; DOENÇA DE CROHN RETOCOLITE ULCERATIVA • Pode acometer todo o TGI; • Acometimento descontínuo e salteado; • Envolvimento transmural, podendo formar fístulas/estenoses; • Úlceras aftoides, serpinginosas ou longitudinais; • Aspecto em pedra de calçamento; • Uso do simple endoscopic score; • Restrita à mucosa da região • Edema, enantema, exsudato, friabilidade, erosões e ulcerações na mucosa; • Rara a ocorrência de úlceras aftoides e profundas; • Nítida demarcação entre mucosa acometida x normal; • Acomete desde o reto de forma ascendente e contínua; • Cicatrização > mucosa granular e nodular > pseudopólipos. • Uso do score de Mayo Sub Score LOCALIZAÇÃO: Íleo distal (55%), cólon exclusivamente (15%), íleo distal exclusivamente (14%), íleo distal e delgado proximal (13%), delgado proximal exclusivamente (3%), reto geralmente é poupado; LOCALIZAÇÃO: Retossigmoidite (60-70%); colite esquerda (15- 25%); pancolite (15%); “Backwash ileits” 5-10%; reto poupado (13%) LINK: https://www.youtube.com/watch?v=AQlWFPM57hQ CONCEITOS IMPORTANTES Intestino delgado: absorção dos nutrientes; Intestino grosso: absorção de água principalmente por osmose; https://www.youtube.com/watch?v=AQlWFPM57hQ 18 Gabrielle Nunes A absorção de Na+/Cl– pelas vilosidades leva a água passivamente através da mucosa. Isso se dá pela menor concentração de sódio no interior do enterócito em relação à luz intestinal. Essa via é inibida pelo cAMP e GMPc, que sofrem estimulação da adenililciclase e guanilciclase do enterócito. Essas enzimas podem ser ativadas pelas toxinas bacterianas URGÊNCIA FECAL PSEUDODIARREIA Eliminação involuntária das fezes, geralmente por distúrbios neuromusculares ou problemas estruturais anorretais, sem alteração do peso e consistência. Eliminação frequente de pequenos volumes de fezes, geralmente com urgência, sem alteração também da consistência e do peso. MATERIAL COMPLEMENTAR • https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/doencas-diarreicas-agudas • https://www.sanarmed.com/resumo-das-doencas-inflamatorias-intestinais-epidemiologia-fisiopatologia-investigacao-clinica- diagnostico-diferencial-e-tratamento-colunistas • https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2017/03/Guia-Pratico-Diarreia-Aguda.pdf • https://bvsms.saude.gov.br/bvs/cartazes/manejo_paciente_diarreia_cartaz.pdf https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/doencas-diarreicas-agudas https://www.sanarmed.com/resumo-das-doencas-inflamatorias-intestinais-epidemiologia-fisiopatologia-investigacao-clinica-diagnostico-diferencial-e-tratamento-colunistas https://www.sanarmed.com/resumo-das-doencas-inflamatorias-intestinais-epidemiologia-fisiopatologia-investigacao-clinica-diagnostico-diferencial-e-tratamento-colunistas https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2017/03/Guia-Pratico-Diarreia-Aguda.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/cartazes/manejo_paciente_diarreia_cartaz.pdf
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