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Resenha - 1 momento da historiografia brasileira

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RESENHA SOBRE:
“1º Momento da Historiografia Brasileira” 
 
DISCIPLINA
HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
JÉSSICA RAMOS DA SILVA DANTAS
Rio de Janeiro
2021
· Quais os aspectos que marcaram o primeiro momento da historiografia brasileira?
· O primeiro momento da historiografia brasileira foi marcado pela escrita e o discurso a partir de crônicas, pode-se dizer que este formato era efetivamente uma produção historiográfica? Justifique.
· As obras feitas na primeira fase eram descritas a partir de um discurso setorizado e não sequencial o que não se consegue identificar através destas uma história total do Brasil, porém, qual o valor historiográfico essas produções tem para historiografia brasileira? 
Francisco Iglesias faz uma análise sobre o primeiro momento da historiografia brasileira, onde apresenta estudiosos e características literárias de cada um, ou seja, a forma como cada personagem escreve. Segundo Iglesias, João de Barros foi identificado como possível iniciador deste primeiro momento, com a característica da escrita como crônicas, foi um homem muito importante. O que propiciava sua motivação para seus escritos era o seu acesso à documentação, por ocupar cargos administrativos no serviço público. Iglesias cita uma obra produzida por João de Barros que foi a História da província de Santa Cruz, porém o autor lamenta por essa obra ter se perdido. 
Segundo Iglesias a historiografia brasileira foi marcada por características como o domínio do discurso e escrita narrativa. Discurso esse que enaltecia a fase colonial, que se preocupava com a oratória e o louvor a terra. O historiador Pero de Magalhães Gândavo tem sua produção identificada como a primeira a ser referida com o gênero, o cronista tinha a característica de uma escrita propagandista, onde tinha por aspecto o louvor a nova terra. Porém Iglesias é enfático em ressaltar que o historiador mesmo tendo a nova terra como base para suas escritas, ele não tinha um conhecimento efetivo do país, segundo Iglesias seu conhecimento era mais por referências do que por vivência, sendo uma obra pouco historiográfica.
Até então as produções no início da primeira fase tinham como característica serem descritivas, que pouco se parecia com a história, porém a enfática descrição dos homens e da terra. Mas o mérito pela primeira obra que teve o interesse de enfatizar sobre o país é dado sem dúvidas a Gândavo, mesmo ainda não tendo uma característica historiográfica. 
O aperfeiçoamento, logo após Gândavo vem através das crônicas jesuítas com uma fixação melhor sobre as ideias de nova terra. Como por exemplo, apontado por Iglesias caso de Fernão Cardim, que ao contrário de Gândavo teve vivência na nova terra, onde viveu por 40 anos, tendo oportunidade de escrever melhor sobre o Brasil e sua gente. Os textos de Cardim tiveram sua primeira publicação no século XVII, porém os mais significativos foram identificados ainda no século passado. Já no século XX Capistrano de Abreu no volume publicado em 1925 de título Tratados da Terra e Gente do Brasil, tem participação com notas introdutórias. 
Ainda, no século XVII, Gabriel Soares de Souza um português que morava na Bahia, viveu no Brasil por 17 anos, sua produção escrita foi publicada apenas no século XIX, com edição de Varnhagen. Gabriel foi considerado o que melhor descreveu sobre a nova terra no período colonial, mas, contudo, não foi uma obra historiográfica profissional. Em comparação entre Gabriel e Gândavo, a produção de Gândavo tem uma ênfase descritiva mais rica em relação a natureza, porém fraca na reconstituição histórica do país. 
A primeira obra da História do Brasil foi escrita no início de seiscentos por um brasileiro chamado Frei Vicente do Salvador que tinha um tom mais crítico em sua produção. Frei Vicente era baiano, passou por Pernambuco, Paraíba e Rio de Janeiro, no entanto, viveu maior parte do tempo da sua vida na Bahia, era um intelectual e muito culto, tinha um bom gosto sendo sua obra marcada por uma característica mais profissional, com uma composição mais leve e agradável. Por seu conhecimento e entendimento literário Frei Vicente foi um autor que teve acesso a documentos e literaturas, ainda tinha o conhecimento da tradição oral. Sua obra se caracterizou por sua simplicidade e naturalidade explicita, referindo-se a história, seu aspecto eloquente e retórico como era notado em Portugal. Porém, um notório exagero de como foi contada a História do Brasil, que segundo Capistrano de Abreu tinha mais um teor de estórias do efetivamente a história real do Brasil. Mas Frei Vicente tratou de uma realidade, preocupando-se em mostrar a verdadeira característica do Brasil colonial, retratando a vida e a luta dos índios, a subjugação dos brasileiros e a mau administração, referindo-se a desonestidade e abuso de poder, onde mesmo tímido denunciava através de suas escritas, principalmente a partir de uma característica um tanto nacionalista não tão expressiva, porém implícito. 
 No século XVII não modifica muita coisa, sendo até então a história produzida através das particularidades, não incluindo ainda uma visão geral, porém era compreensível. Segundo Iglesias essa falta de preocupação com uma história total, era porque ainda não havia uma consciência de nacionalidade no Brasil, o gerava uma fragmentação pela falta de conhecimento do país, onde apenas se conhecia partes dele, o que dificultava uma totalidade na História do país. 
No o século XVIII fora escrito e publicado pelo baiano Sebastião Rocha Pita a “História da América Portuguesa”. Rocha Pita foi um homem importante no meio acadêmico e nos setores públicos, era dedicado ao magistério, diferente de seu conterrâneo Frei Vicente. Rocha Pita não era nada simplista em seu discurso preciosista, grandiloquente, que fugiam da característica naturalista, através de uma linguagem rebuscada. Segundo as escritas de José Honório Rodrigues, Rocha Pita era o oposto de Frei Vicente. Para Rodrigues seus textos tinham explicito o preconceito e discriminação em relação aos índios, negros, judeus entre outros. Segundo Rodrigues tinha a característica de contra o Brasil e pró- Portugal.
Ainda essa primeira fase é caracterizada pelo conservadorismo que era ligado ao antipopularismo, relacionado à população brasileira e engrandecimento a Portugal, que enaltecia a figura do colonizador. 
André João Antonil era um jesuíta da Toscana que veio para o Brasil, e que desempenhou cargos sólidos junto aos jesuítas, sua escrita foi marcada pela característica da erudição, pela narrativa e pragmático, foi responsável por uma produção onde explicava com especificidade o detalhamento de técnicas de produção, plantio e extração de minérios. Está produção foi extraviada pelo governo, mas algumas partes apareceram e foram publicadas no século XIX. Em seus textos apesar de ser encontrado um comportamento de orgulho exagerado, no entanto, ele era muito crítico, em tempo que dificilmente encontrava-se uma capacidade de análise econômica. 
Contudo, ainda no século XVIII as características historiográficas tinham um aspecto político e a crônica pormenorizada sobre a vida política, religiosa, militar, onde a parte social e econômica quase nem é falada. Porém a linguagem dos textos é compreendida pelo aspecto redundante, mas mesmo assim muitas produções atingem um nível historiográfico, no qual os relatos e documentos produzidos no Brasil seguiram para Portugal, servindo de fontes historiográficas. Essas características são construídas através das produções, onde se tem a preocupação em reunir documentos e recuperar o que foi perdido, com isso é criada à constituição sistemática das disciplinas auxiliares, onde algumas noções adquirem técnicas eficazes, na construção de escolas de pesquisa. É então o início da cientificação da História, essa nova realidade traz aspectos de neutralidade e imparcialidade na forma de se escrever, no qual a partir disso levou-se ao chamado positivismo, ou seja, a produção deveria ser justificada por fontes e documentos, a partir disso ahistória deve ser vista como ciência. Com essa renovação no século XIX a historiografia brasileira nessa primeira fase ainda é marcada pela criação do IHGB em 1838, que fora criado a partir da repercussão desta nova realidade historiográfica.
Portanto os estudiosos, especialistas da primeira fase da historiografia brasileira não conseguiram com suas obras realmente contar a História efetiva do Brasil. Contudo, não se pode negar suas contribuições em relação a documentação que produziram, onde estas a partir da segunda fase são utilizadas como documentos fragmentados, sendo fontes a serem estudadas e reutilizadas de certa forma. A primeira fase na verdade foi feita de especialistas que, catalogaram, redigiram relatórios, crônicas e muitas vezes eram apenas narrativas sem muito senso crítico, o que não dava uma efetividade a História do Brasil. Essa fase foi marcada pelo conservadorismo, enaltecimento do colonizador, por apenas algumas especificidades, onde a interdisciplinaridade não existia e por fim foi marcada pelo positivismo. 
Referências: 
IGLÉSIAS, Francisco. A Historiografia Brasileira Atual e a Interdisciplinaridade. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 3, n. 5, p. 129-141, 1983. Disponível em: https://www.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=1714. Acesso em: 12/08/2021.
IGLÉSIAS, Francisco. Os Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

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