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Guia_01 de Direitos Humanos

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Direitos Humanos
DIREITOS HUMANOS
PROF. HENRY ATIQUE
Guia referente à disciplina de Direitos Humanos do 
Centro Universitário de Rio Preto, elaborado pelo 
Prof. Dr. Henry Atique.
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – SÃO PAULO – BRASIL
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO PRETO - UNIRP
Halim Atique Junior
Reitor
Manuela Kruchewsky Bastos Atique
Vice-Reitora
Anete Maria Lucas Veltroni Schiavinatto
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação
Agdamar Affini Suffredini
Pró-Reitora Acadêmica
Sérgio Luís Conti
Pró-Reitor Administrativo e Financeiro
Ricardo Costa
Pró-Reitor de Educação à Distância
APRESENTAÇÃO .............................................................. 6
1. Considerações iniciais sobre os direitos humanos ... 7
2. O princípio fundamental da dignidade da pessoa 
humana .............................................................................. 9
2.1. Definição de dignidade da pessoa humana .............. 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 17
REFERÊNCIAS .................................................................. 18
Direitos Humanos
6
APRESENTAÇÃO
Bem-vindo ao guia de estudos da disciplina de Direitos Humanos! 
Neste guia, estudaremos a parte introdutória quanto ao tema, fundamental para 
seu adequado conhecimento e sua adequada compreensão.
Para que este guia fosse produzido, utilizamos a mais celebrada 
doutrina no assunto, no sentido de encorpar o quanto exposto, mas, ao mesmo 
tempo, buscando trazer a questão de forma que todos – sejam ou não da área 
jurídica – possam refletir sobre o assunto.
A partir deste estudo, poderemos ter, em linhas gerais, um panorama 
preliminar sobre o que trata a mencionada disciplina.
Leia atentamente o guia. Esperamos que este texto o ajude em 
uma melhor compreensão. Bons estudos!
7
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Já é questão deveras consagrada que os direitos humanos 
fundamentais são parte definitivamente integrante do arcabouço de qualquer 
documento que se pretenda ser chamado de Constituição de um Estado. 
Atualmente, a grande maioria dos Estados reconhece ao menos um núcleo de 
direitos fundamentais no âmbito de suas Constituições ou aderiu a algum tratado 
internacional de direitos humanos.
O papel primordial desses direitos é o de servir como instrumental, 
como verdadeiras armas de concretização do princípio da dignidade da pessoa 
humana, princípio esse de difícil delimitação conceitual, como se verá. Por isso 
mesmo, longe se está da solução de todas as dúvidas, problemas e desafios que 
a matéria suscita.
Ao analisar a teoria dos direitos fundamentais, é necessário 
adotar um enfoque dentre as muitas possibilidades que se oferecem aos que 
pretendem se dedicar ao enfrentamento do tema. Como ponto de partida, vale a 
pena apresentar a lição de José Carlos Vieira de Andrade1, que se refere a três 
perspectivas, a saber: a) filosófica ou jusnaturalista, a qual trata do estudo dos 
direitos fundamentais como direitos de todos os homens, em todos os lugares 
e tempos; b) estatal ou constitucional, a qual cuida dos direitos ou liberdades 
fundamentais como reconhecidos aos homens em geral ou a certas categorias 
dentre eles, em um determinado tempo e lugar; e c) perspectiva universalista ou 
internacionalista, segundo a qual são direitos de todos os homens (ou categorias 
de homens) em todos os lugares, em um certo tempo.
Cumpre ressaltar que essa tríade de perspectivas não esgota as 
perspectivas que se podem ter como parâmetro no embate ao tema dos direitos 
humanos: há outras importantes e que não podem ser tratadas com menoscabo, 
tais como a perspectiva sociológica, histórica, ética, política, econômica, dentre 
outras, cada qual passível de apresentar aspectos e problemas específicos que 
suscitam análise. Vale dizer, conforme Ingo Wolfgang Sarlet2, “que também nesta 
seara, os únicos limites residem, em última análise, no alcance da criatividade e 
da imaginação humanas e no universo de abordagens que esta pode gerar”.
1 Os direitos fundamentais na Constituição portuguesa de 1976, p. 15-37.
2 A eficácia dos direitos fundamentais, p. 26.
1
Direitos Humanos
8
Reconhecendo a importância de todas as perspectivas, e sem 
olvidar a necessária interpenetração de todas elas, trabalharemos aqui com a 
perspectiva estatal, centrando a atenção na órbita do direito constitucional positivo; 
para isso, devemos delinear o sistema dos direitos fundamentais dentro de uma 
teoria geral constitucionalmente adequada.
De outro lado, forçosa é a analise do direito comparado, pois, em 
nível constitucional, cada vez mais se trata de categorias de cunho universal, 
especialmente ao tangenciar o campo dos direitos humanos. Nesse contexto, 
é nítida a aproximação do sistema brasileiro de proteção a esses direitos aos 
modelos lusitano e espanhol, que, por seu turno, são marcados pelos influxos do 
direito constitucional germânico.
Finalmente, é preciso avaliar o modo como a Constituição 
brasileira de 1988 disciplina a temática dos direitos humanos, com o considerável 
impacto causado pela ruptura com o regime militar autoritário instalado em 
1964, demarcando o processo de redemocratização do Estado brasileiro, e a 
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e, eventualmente, outras Cortes 
Constitucionais, pois a elas cabe, precipuamente (mesmo que, em alguns casos, 
não exclusivamente) e em última análise, a interpretação e o desenvolvimento do 
direito constitucional.
Evidentemente, não pretendemos, e nem seria possível esgotar, 
tão vasto e rico assunto nessas considerações. Assim, o objetivo que aqui se 
propõe é de apresentar algumas questões que se julgam relevantes para situar as 
ideias, de modo a observer certo critério evolutivo, até se chegar ao cerne do que 
se deseja desenvolver.
9
2 O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DIGNIDADE DA PESSOA 
HUMANA 
2.1 Definição de dignidade da pessoa humana
Tradicionalmente, as Constituições brasileiras preocupavam-se, em 
seu título inicial, com a organização do Estado, sob rubricas como “da organização 
federal” ou “da organização nacional” ou ainda se referindo ao Império.
Em que pese ser da natureza de uma Constituição, além de veicular 
os direitos fundamentais das pessoas, o papel de organizar o Estado3, o constituinte 
brasileiro de 1988 inovou nesse aspecto, ao iniciar a sua obra apresentando nortes 
diretivos para o intérprete, sob o título “dos princípios fundamentais”.
Isso quer dizer que o intérprete, ao examinar a Constituição 
atual, encontra, de plano, quais são os valores jurídicos de sustentação do país, 
devendo esses princípios fundamentais funcionarem como guias no processo 
hermenêutico constitucional, possuindo caráter mais amplo e abstrato, quando em 
face das regras constitucionais, essas, por seu turno, de caráter mais específico 
e concreto4.
Dentre esses princípios, a Constituição de 1988 elege como 
fundamento da República Federativa do Brasil e entrega especial destaque para 
a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III). De início, você deve-se atentar para 
a complexidade da busca de uma compreensão do conteúdo de dignidade da 
pessoa humana e, consequentemente, de sua correspondente definição jurídica, 
o que se justifica no pressuposto de que a dignidade trata da condição humana 
da pessoa e de suas complexas, imprevisíveis e incalculáveis manifestações da 
personalidade.
3 Friedrich Müller. Fragmento (sobre) o poder constituinte do povo. São 
Paulo: RT, 2004, p. 53-60.
4 Cf. Robert Alexy. Teoría de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de 
Estudios Constitucionales, 2001, p. 82-86, bem como Walter Claudius Rothenburg. 
Princípios constitucionais. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1999, p. 11-
49.
2
Direitos Humanos
10
O acordo acerca das palavras “dignidade da pessoa humana” 
não afasta, consoante a lição de Antonio Junqueira de Azevedo5, a grande 
controvérsia em torno de seu conteúdo, o que, por si, torna razoável a posição 
de que uma definição ou uma definição jurídica de “dignidade” nãoé possível de 
ser alcançada6, mesmo não sendo essa a posição aqui adotada. Por sua vez, é 
cediço na esmagadora doutrina constitucionalista a posição de que a dignidade 
da pessoa humana é o bem constitucional maior por excelência, tratando-se de 
um valor supremo7, uma referência constitucional unificadora de todos os direitos 
humanos fundamentais8. 
Para compreender o conteúdo e o significado, ou melhor, os 
conteúdos e os significados da dignidade da pessoa humana, devemos considerar 
o fato de que Direito e Filosofia caminham juntos, no sentido de que é preciso tomar 
a Filosofia para analisar a evolução do pensamento a respeito do que significa 
este ser humano e da compreensão do que é ser pessoa e de quais os valores 
que lhe são inerentes, já que isso vai servir para determinar o modo que o Direito 
reconhece e define qual dignidade será objeto de tutela por parte do Estado e qual 
proteção o Estado pode assegurar à dignidade9.
Nessa perspectiva, mas sem procurar afastar e incompatibilizar 
outras visões, Ingo Wolfgang Sarlet10 fala em “dimensões da dignidade da 
pessoa humana”, referindo-se, em um primeiro momento, “[à] complexidade 
da própria pessoa humana e [a]o meio no qual desenvolve sua personalidade”; 
além disso, para dar conta da heterogeneidade e da riqueza da vida, a noção de 
dignidade da pessoa humana “integra um conjunto de fundamentos e uma série 
de manifestações”, especialmente no campo do Direito, manifestações essas as 
quais, “ainda que diferenciadas entre si, guardam um elo comum, especialmente 
pelo fato de comporem o núcleo essencial da compreensão e, portanto, do próprio 
conceito de dignidade da pessoa humana”.
5 Caracterização jurídica da dignidade da pessoa humana. In: Revista dos 
Tribunais, v. 797, mar. 2002, p. 12.
6 Cf. Claire Neirinck. La dignité de la personne ou le mauvais usage d´une notion 
philosophique. In: Philippe Pedrot (Dir). Ethique, droit et dignité de la personne. Paris: Economica, 
1999, p. 50 e François Borella. Le concept de dignité de la personne humaine. In: Philippe Pedrot 
(dir). Ob. cit., p. 37.
7 José Afonso de Silva. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: 
Malheiros, 2004, p. 105.
8 José Joaquim Gomes Canotilho e Vital Moreira. Constituição da República 
Portuguesa anotada. 3ª ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1984, p. 58-59.
9 Ingo Wolfgang Sarlet. As dimensões da dignidade da pessoa humana: 
construindo uma compreensão jurídico-constitucional necessária e possível. In: 
Ingo Wolfgang Sarlet (org.). Dimensões da dignidade: ensaios de filosofia do 
direito e direito constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 16.
10 Ibid., p. 16-17.
Direitos Humanos
11
A mencionada dificuldade em se definir dignidade da pessoa 
humana reside da circunstância de que se trata de um conceito de contornos que 
não são precisos e objetivos, de um conceito caracterizado por sua ambiguidade 
e porosidade11, bem como por sua natureza polissêmica12. Além do mais, uma das 
principais dificuldades, conforme a lição de Michael Sachs13, é que a dignidade 
humana cuida de uma qualidade tida para a maioria da doutrina como inerente 
a todo ser humano, mas não de aspectos específicos da existência humana – 
como integridade física, intimidade, vida, propriedade, etc. –, o que acarretou 
que a dignidade passou a ser habitualmente definida como sendo o valor próprio 
que identifica o ser humano como tal; todavia essa definição não serve muito ao 
propósito de uma compreensão satisfatória do que efetivamente é o âmbito de 
proteção da dignidade em sua condição jurídico-normativa.
Ainda assim, e nesse caso sem maiores dificuldades, mesmo que 
não se possa estabelecê-las de forma exaustiva14, pode-se valer da verificação das 
muitas situações de agressão e de violação à dignidade da pessoa humana, para 
constatar que ela é algo real e vivenciado concretamente por cada ser humano, 
em que pese a dificuldade em explicitar em que esta consiste15.
Por sua vez, a doutrina e a jurisprudência foram, ao longo do tempo, 
estabelecendo alguns contornos basilares do conceito jurídico e concretizando o 
conteúdo da dignidade, mesmo que sem atingir tampouco uma definição genérica 
e abstrata consensualmente aceita. Alinhado a esse entendimento, Ingo Wolfgang 
Sarlet16 apresenta interessante proposição de que a dignidade pode constituir um 
conceito juridicamente apropriável, nos seguintes termos:
11 Cármen Lúcia Antunes Rocha. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana 
e a Exclusão Social. In: Revista Interesse Público, n° 04, 1999, p. 24. 
12 Cf. Francis Delpérée. O Direito à Dignidade Humana. In: Sérgio Resende 
de Barros e Fernando Aurélio Zilveti (coords.). Direito constitucional - estudos em 
homenagem a Manoel Gonçalves Ferreira Filho. São Paulo: Dialética, 1999, p. 153.
13 Verfassungsrecht II – Grundrechte. Berlin-Heidelberg-New York: 
Springer-Verlag, 2000, p. 173, apud. Ingo Wolfgang Sarlet. Ob. cit., p. 18.
14 Cf. Jesús González Pérez. La dignidad de la persona. Madrid: Civitas, 1986, 
p. 115.
15 Michel Renaud. A Dignidade do ser Humano como Fundamentação Ética 
dos Direitos do Homem. In: Brotéria – Revista de Cultura, v. 148, 1999, p. 36.
16 Ob. cit., p. 19.
Direitos Humanos
12
Neste contexto, bem refutando a tese de que a dignidade não constitui 
um conceito juridicamente apropriável e que não caberia — como parece 
sustentar Habermas — em princípio, aos Juízes ingressar na esfera 
do conteúdo ético da dignidade, relegando tal tarefa ao debate público 
que se processa notadamente na esfera parlamentar, assume relevo a 
percuciente observação de Denninger de que — diversamente do filósofo, 
para quem, de certo modo, é fácil exigir uma contenção e distanciamento 
no trato da matéria — para a jurisdição constitucional, quando provocada 
a intervir na solução de determinado conflito versando sobre as diversas 
dimensões da dignidade, não existe a possibilidade de recusar a sua 
manifestação, sendo, portanto, compelida a proferir uma decisão, razão 
pela qual já se percebe que não há como dispensar uma compreensão 
(ou conceito) jurídica da dignidade da pessoa humana, já que desta — e à 
luz do caso examinado pelos órgãos judiciais — haverão de ser extraídas 
determinadas conseqüências jurídicas, muitas vezes decisivas para a 
proteção da dignidade das pessoas concretamente consideradas.
Além dessas considerações quanto à dificuldade de definição da 
dignidade da pessoa humana, ao estudar o tema, vale destacar as suas dimensões, 
para assim buscar compreender o seu conceito de modo suficientemente 
abrangente e operacional. Ressalvamos que não pretendemos aqui esgotar o 
assunto e que tais dimensões não se revelam incompatíveis entre si e, tampouco, 
excludentes.
Ao assegurar a inviolabilidade do direito à vida, as Constituições, 
em um primeiro momento, tratam de proibir, em regra, a solução não espontânea 
do processo vital17. Entretanto, não estamos atento apenas à proteção do que se 
pode considerar sobrevivência, mas, sim, à conjugação entre vida e dignidade da 
pessoa humana. Por conta dessa visão, trata-se de estatuir determinados direitos 
e garantias exatamente para a promoção e proteção da vida com dignidade da 
pessoa. Nesse aspecto, podemos citar exemplos, como a proibição de penas 
cruéis, o direito à intimidade e à vida privada, dos quais são desdobramentos o 
sigilo das comunicações, a inviolabilidade do domicílio e o segredo de justiça no 
processo (art. 5º, LX, da CF) e ainda o direito à honra e o direito à imagem.
Ao ingressar nos textos normativos constitucionais, a vida assume 
um importante papel diretivo para o intérprete, o que vem bem expresso na 
seguinte colocação de Pietro de Jesús Lora Alarcón18:
17 Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Junior. Curso de direito 
constitucional, p. 104.
18 Patrimônio genético humano e sua proteção na Constituição Federal de 
1988, p. 181.
Direitos Humanos
13
Curiosamente, a vida humana como bem jurídico constitucional e 
direito fundamentalassume uma importante função integradora dentro 
do sistema, pois impregna todo o corpo normativo de uma unidade de 
sentido, impedindo a progressão de enfoques que priorizam o Estado por 
cima do indivíduo. Na verdade, o direito à vida permeia todo o desenho 
constitucional, permanecendo sempre como uma sombra pronta para 
servir de vetor de interpretação das mais diversas situações jurídicas.
O texto constitucional não leva em conta apenas o sentido biológico 
de vida, mas considera-a como algo dinâmico, que se transforma constantemente, 
um processo que se instaura com a concepção, transforma-se, progride, mantendo 
sua identidade, até que termina com a morte19.
Por outro lado, é importante dizer que não há direito absoluto, 
tampouco a vida, comportando o ordenamento jurídico alguma flexibilidade, como 
as possibilidades legais de aborto, a legítima defesa, o estado de necessidade, o 
estrito cumprimento do dever legal, a pena de morte, entre outros.
Todo ser dotado de vida é indivíduo, não podendo dividir-se sob 
pena de deixá-lo de ser. Assim, o homem é um indivíduo; no entanto, mais do 
que isso, é uma pessoa, já que, além dos caracteres do indivíduo biológico, ele 
tem os de unidade, identidade e continuidade substanciais; portanto, o objeto da 
proteção constitucional é a vida humana, integrada de elementos físicos, psíquicos 
e espirituais20; assim, decorrem desta proteção o direito à existência, à integridade 
física, à integridade moral, entre outros.
Ao lado desse aspecto do direito à vida, caminha a ideia de dignidade 
do ser humano, que passa a apresentar-se como pensamento independente de 
suas origens nos movimentos religiosos cristãos, para ser encarada como uma 
qualidade essencial à vida humana. Nas palavras de Eliana Franco Neme21:
Não há vida sem dignidade, e assim os dois preceitos encontram-
se em situação de igualdade como princípios de direito. Vida 
e dignidade são valores essencialmente independentes e 
necessariamente correlatos, num paradoxo necessário para a 
manutenção do seu conteúdo, e do mais alto grau de importância 
como determinantes da positivação jurídica.
19 José Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo, p. 196.
20 Cf. Recasén Siches. Vida humana, sociedad y derecho, p. 254.
21 Dignidade, igualdade e vagas reservadas. In: Luiz Alberto David Araujo (coord.). 
Defesa dos direitos das pessoas portadoras de deficiência, p. 136.
Direitos Humanos
14
Destarte, podemos afirmar que os mandamentos relativos à 
dignidade da pessoa humana são claros; entretanto, como já se afirmou, a 
definição desse conceito é tarefa difícil. Não existe unanimidade nem na literatura 
especializada, nem alguém que tenha conseguido dar conta de fazê-lo de 
maneira reconhecidamente exaustiva. Muitos são os pontos de ênfase e formas 
de tratamento da matéria, por isso vem obtendo maior sucesso uma definição 
negativa, que tenha como ponto de partida a intervenção ou violação da dignidade 
humana, que não pode ser justificada. Diante disso, a preocupação dogmática 
volta-se para a verificação do momento em que se pode afirmar ter ocorrido lesão 
à dignidade humana, o que demanda fundamentalmente a definição de sua área 
de proteção22.
O direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, já que se 
constitui em prerrequisito à existência e em exercício de todos os demais, em fonte 
primária do todos os outros bens jurídicos. É dizer, sem o gozo da vida, não é possível 
ter ou usufruir de nenhuma outra prerrogativa, devendo o Estado assegurá-lo em 
dupla acepção: uma relacionada ao direito de continuar vivo e outra no sentido da 
dignidade quanto à subsistência23. Além dessas, podemos considerar outras duas 
acepções: uma “relativa aos direitos referentes às manifestações vitais, sem as 
quais a vida não passaria de mera respiração, carecendo o sujeito da condição 
jurídica de expressar-se espiritualmente no mundo”; outra que “pode inferir-se da 
proteção da vida a partir da abordagem genética e suas atuais decorrências”24.
Constatamos, assim, que o direito à vida revela sua fundamentalidade 
no viés material, quando se fala de seu conteúdo como valor supremo para o ser 
humano, e, ao mesmo tempo, em sentido formal, quando se verifica a posição 
que recebeu do constituinte na escala normativa. Daí, por razões óbvias, temos 
esse direito como pedra angular, axiológica e lógica, para compreender o sistema 
jurídico25.
Finalmente, emerge como questão a ser abordada (mesmo que 
de passagem e sem intenção de enfrentar profundamente o problema, tampouco 
apresentar qualquer solução ou fincar posicionamento) a pretendida universalidade 
da dignidade da pessoa humana e dos direitos fundamentais que lhe são inerentes 
em contraposição ao respeito da diversidade e especificidades culturais.
22 Leonardo Martins (org.). Cinqüenta anos de jurisprudência do Tribunal 
Constitucional Federal alemão, p. 177-178.
23 Alexandre de Moraes. Direitos humanos fundamentais, p. 76; José Afonso 
da Silva. Ob. cit., p. 197.
24 Pietro de Jesús Lora Alarcón. Patrimônio genético humano e sua proteção na 
Constituição Federal de 1988, p. 191.
25 Walter Claudius Rothenburg. Direitos fundamentais e suas características. In: 
Revista de direito constitucional e internacional, jan.-mar. 2000, p. 146-157.
Direitos Humanos
15
A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU de 
1948, podemos afirmar que modelos antigos de Estado cederam espaço a novos 
modelos multiculturais de Estado, mesmo que essas mudanças ainda sejam 
controvertidas e vulneráveis ao retrocesso.
Em face disso, mesmo em se considerando o conceito de dignidade 
como universal, não há como evitar disparidades e até conflitos no momento 
de avaliar se uma determinada conduta é ou não ofensiva da dignidade26, 
especialmente em se verificando que qualquer sociedade civilizada tem seus 
próprios critérios e variáveis – conforme o local e a época – a respeito do que 
constitui o tratamento indigno27.
Vale registrar a advertência feita por Boaventura de Souza Santos28 
de que o conceito de dignidade e o conceito dos direitos humanos normalmente 
assentam em um conjunto de pressupostos tipicamente ocidentais, do mesmo 
modo que observa Otfried Höffe29 no sentido da vinculação dessas noções à 
tradição judaico-cristã ou à cultura europeia, quando, de fato, cada cultura possui 
sua concepção de dignidade humana, muito embora nem todas elas a concebam 
em termos de direitos humanos.
Impõem-se, nessa linha, o respeito ao multiculturalismo como uma 
evolução natural e lógica das normas de direitos humanos universais, especialmente 
no que diz respeito à liberdade individual e à igualdade, deslegitimando hierarquias 
étnicas e raciais tradicionais, segundo as quais alguns povos seriam superiores a 
outros e, por conseguinte, teriam o direito de lhes impor regras. Essa situação, que 
se costuma chamar de revolução dos direitos humanos, criou o espaço político 
para que grupos étnico-culturais contestassem hierarquias herdadas; porém, por 
outro lado, exigiu que esses grupos proponham as próprias reivindicações na 
linguagem específica dos direitos humanos, do liberalismo dos direitos civis e do 
constitucionalismo democrático30.
26 Cf. Miguel Angel Alegre Martínez. La dignidad de la persona como 
fundamento del ordenamiento constitucional español. León: Universidad de 
León, 1996, p. 26.
27 Ronald Dworkin. El dominio de la vida: una discusión acerca del aborto, 
la eutanasia y la liberdad individual. Barcelona: Ariel, 1998, p. 305.
28 Por uma concepção multicultural de direitos humanos. In: Revista crítica 
de ciências sociais, n. 48, 1997, p. 11-32.
29 Medizin ohne ethik? Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2002, p. 49, apud. 
Ingo Wolfgang Sarlet. Ob. cit., p. 38.
30 Will Kymlicka. Multiculturalismo liberal e direitos humanos. In: Daniel 
Sarmento, Daniela Ikawa e Flávia Piovesan (coords.). Igualdade, diferença e 
direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 218-221.
Direitos Humanos
16Em conclusão, não podemos olvidar que “a dignidade da pessoa 
humana exprime a abertura da República à ideia de comunidade constitucional 
inclusiva pautada pelo multiculturalismo mundividencial, religioso ou filosófico”; 
portanto, contrária a qualquer tipo de “fixismo” nesta seara e incompatível com 
uma compreensão reducionista da dignidade31. Devemos buscar a superação 
de qualquer visão unilateral e reducionista, para, assim, promover e proteger a 
dignidade de todas as pessoas em todos os lugares.
Na sequência, para uma melhor compreensão de seu conteúdo 
como princípio jurídico fundamental que dá ensejo a um leque de direitos e deveres 
fundamentais, importa destacar quais as principais dimensões da dignidade da 
pessoa humana, em face da já apresentada dificuldade de uma compreensão 
jurídico-constitucional a seu respeito.
31 José Joaquim Gomes Canotilho. Direito constitucional e teoria da 
Constituição. 7ª ed.. Coimbra: Almedina, 2004, p. 225-226.
Direitos Humanos
17
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse guia, estudamos a questão da consagração dos direitos 
humanos, desde o seu surgimento, passando pelas perspectivas possíveis, até 
a sua efetivação. Também analisamos a estreita relação desses direitos com o 
princípio basilar da dignidade da pessoa humana, em relação ao qual buscamos, 
por meio de possíveis enfoques, encontrar um conceito passível de concretização 
desse valor máximo.
Em um próximo estudo, faremos uma abordagem mais 
especificamente relacionada ao surgimento, ao reconhecimento e à evolução 
histórica dos direitos humanos, em busco de continuar a desenvolver a temática 
da presente disciplina.
Direitos Humanos
18
REFERÊNCIAS
ALARCÓN, Pietro de Jesús Lora. Patrimônio genético humano: e sua proteção 
na Constituição Federal de 1988. São Paulo: Método, 2004.
ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de 
Estudios Constitucionales, 2001.
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição 
portuguesa de 1976. 3ª ed. Coimbra: Almedina, 2004.
ARAUJO, Luiz Alberto David e NUNES JUNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito 
constitucional. São Paulo: Saraiva, 2003.
ARAUJO, Luiz Alberto David. Defesa dos Direitos das Pessoas Portadoras de 
Deficiência. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
AZEVEDO, Antonio Junqueira de. Caracterização jurídica da dignidade da pessoa 
humana. In: Revista dos Tribunais, v. 797, mar. 2002, p. 12.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes e MOREIRA, Vital. Constituição da 
República Portuguesa anotada. 3ª ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1984.
CANOTILHO. José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da 
Constituição. 7ª ed.. Coimbra: Almedina, 2004.
DELPÉRÉE, Francis. O Direito à Dignidade Humana. In: Sérgio Resende de 
Barros e Fernando Aurélio Zilveti (coords.). Direito constitucional - estudos em 
homenagem a Manoel Gonçalves Ferreira Filho. São Paulo: Dialética, 1999.
DWORKIN, Ronald. El dominio de la vida: una discusión acerca del aborto, la 
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