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O PROBLEMA RELIGIOSO Uma manifestação tipicamente humana é a religião. Trata-se de uma manifestação que, por abarcar a humanidade inteira, tanto no espaço quanto no tempo, assume proporções notáveis. Todas as culturas são profundamente marcadas pela religião, e que as melhores produções artísticas e literárias – não apenas das civilizações antigas, mas também modernas – inspiram-se em motivos religiosos. A dimensão religiosa se impõe como uma constante do ser humano, mesmo que não seja cultivada por todos os indivíduos da espécie. A religião, é um fenômeno real, típico do homem, porém é também um fenômeno muito problemático e o mais problemático de todos. Motivo bastante claro: enquanto todas as outras atividades humanas referem-se a objetos cuja existência está fora de discussão, a atividade religiosa, ao contrário, dirige-se a um objeto do qual até sua existência é colocada em questão. Principais interpretações filosóficas da religião A questão religiosa sempre esteve presente nas fases mais importantes da história da filosofia (no período antigo, na Idade Média, no início da época moderna). Foi a partir principalmente de Hume e Kant que a questão religiosa tornou-se um dos pontos centrais da reflexão filosófica. Os filósofos modernos separaram-se em duas apostas: De um lado trataram de demonstrar que a religião está destituída de qualquer fundamento objetivo e desenvolvem uma crítica negativa e desmistificadora; De outro defendem o valor objetivo da religião, na medida em que esta se basearia numa relação do homem com a realidade absoluta, e elaboram uma crítica positiva e construtiva do fenômeno religioso. Desmistificação da religião Feuerbach sustenta que as coisas estão precisamente no oposto: Deus é só uma ideia inventada pelo homem com o fito de obter a realização plena de si mesmo; portanto, a realidade suprema não é Deus, mas sim o homem. Em a Essência do Cristianismo, argumenta que a religião se origina de um processo de hipostatização das necessidades e dos ideais do homem. Karl Marx fala que a religião é um produto inventado por esta sociedade para realizar a exploração das classes: ela é instrumento de evasão para os explorados e de justificação para os exploradores. A religião é o ópio do povo. Comte, todo o universo provém da matéria por meio da evolução. O homem também é um resultado da evolução. Com seu aparecimento no cenário do mundo inicia-se a história cujas fases principais, conforme a célebre classificação de Comte, são três: religiosa, metafísica e científica; que correspondem a três modos distintos de conceber e explicar as coisas. No início da época moderna, com o desenvolvimento do método científico, a humanidade finalmente alcançou a idade adulta e pode, portanto, das as costas à religião ou à metafísica. Antes que dirigir sua atenção para os seres sobrenaturais ou recônditos, ela pode agora cuidar de si mesma. Esse é o único culto ( o Culto da Humanidade) que ela deve promover. Nietzsche, a religião aparece como uma engenhosa invenção dos homens; não dos fortes, para terem sob seu jugo os fracos, mas sim dos fracos para se defenderem da prepotência dos fortes, dos super-homens. Freud, a falta de fundamento da religião é dada como certa à medida que, a seu ver, é óbvio que fora do mundo e do homem não existe nenhum outro ser. Sartre crítica grande parte do pensamento religioso, que atribui a Deus a criação do ser humano, dotado de certa essência, que determinaria sua vida antes mesmo de nascer. Neopositivistas extraem a conclusão, lógica e necessária de sentido, não expressa nada: está privada de qualquer valor objetivo. Defesa da Religião Kierkegaard proclama que a religião não pode ser reduzida a um momento lógico de um sistema geral de pensamento, pois ela pertence à esfera da existência, da vida. Bergson, no célebre ensaio As duas fontes da moral e da religião, coloca em exame o fenômeno religioso em algumas de suas manifestações mais elevadas, como o misticismo grego e oriental, o profetismo hebraico e o misticismo cristão. Justifica o fenômeno religioso partindo de suas expressões mais autênticas. Blondel trata de baseá-lo na análise do dinamismo humano considerado na sua estrutura essencial. Conforme ele, um exame atento e aprofundado da ação conduz logicamente ao reconhecimento da existência de Deus. William James, baseia sua defesa em motivações fe ordem mística como em Bergson, mais do que sobre especulações de ordem teórica, como em Blondel. James não acredita ser possível transformar a religião num sistema de proposições científicas claramente demonstráveis. A seu ver, o fundamento da religião não é a razão, mas a fé, o sentimento e outras experiências particulares como a oração, conversam com o invisível, visões, etc. Scheler coloca o fenômeno religioso no centro de sua pesquisa filosófica. Afirma o caráter absoluto e perene da experiência religiosa. Destaca como, fenomenologicamente, “também o fetiche mais primitivo apresenta, ainda que rudemente, a essência indedutível do divino, qual esfera global do ser absoluto guarnecido de todas as características do santo”. No concerne à esfera religiosa, Scheler considera ser motivo último de sua aceitação a evidência imediata do objeto que se dá como tal em ações de conhecimento específico, no caso nas ações religiosas. Otto, em seu famoso ensaio Das Heilige descreve com extraordinária agudeza as diferentes modalidades da experiência religiosa. Esta configura-se, antes de tudo, como sentimento do numinoso. O numinoso, por sua vez, assume dois aspectos que o caracterizam de modo inequívoco: a) o aspecto de mysterium tremendum e b) o aspecto de mysterium fascinans. O sagrado todavia, além do aspecto “irracional”, representado pela categoria do numinoso, reveste-se também de um aspecto “racional”; este encontra expressão principalmente nos “símbolos” e nos “dogmas”. Definição da religião e sua diferenciação da arte, da filosofia e da moral A religião é o conjunto de conhecimentos, ações e estruturas com as quais o homem expressa reconhecimento, dependência e veneração em relação ao sagrado. Esta definição, como se nota, compreende dois elementos, um relativo ao sujeito e outro ao objeto. Quanto ao sujeito, ela indica a atitude que o homem adota quando se expressa religiosamente. Com efeito, nem toda relação com o Sagrado é a atividade “religiosa”. O aspecto subjetivo do fenômeno religioso é formado pelo reconhecimento da realidade do Sagrado, pelo sentimento de total dependência em relação a ele e pela atitude veneração perante ele. O objeto da religião é o sagrado. Dentro da esfera religiosa, o Sagrado toma características bem próprias, inconfundíveis, que permitem descrevê-los de forma inequívoca. Entre as características mais importantes lembramos aquelas tão evidenciadas por Rudolf Otto: a numnosidade, a misteiorisade, a majestade, o fascínio. Mas também estas outras características são importantes: a objetividade, a axiologia, a transcendência e a personalisticidade. Aquilo que diferencia a religião da filosofia é principalmente o elemento subjetivo; o que distingue a religião da arte, é opostamente, o elemento objetivo e a religião e moral, apesar de estarem estreitamente ligadas uma à outra, são essencialmente diferentes. Fundamentação Teórica da Religião. Para resolvê-lo, podemos seguir duas vias. Porém nenhuma está em condições de garantir que se alcance a meta e ambas trazem grandes dificuldades. A metafísica que tem o mérito de apoiar-se basicamente nas forças da razão pura; mas justamente por isso, tem escassas probabilidades de solucionar um problema tão difícil. Sua aspiração máxima é provar a existência de Deus, a criação do mundo e a possibilidade da revelação. Contudo, essas verdades são insuficientes para alimentar a vida religiosa, uma vida feita de intimidade, amor, devoção, adoração e oração.A Hermenêutica tomando como ponto de partida um evento histórico particular vê-se na dificuldade de demonstrar como um evento histórico de caráter particular possa elevar-se a valor universal, absoluto. A solução adequada do problema religioso não pode ser obtida com a razão pura, mas somente por intermédio da fé, isto é, mediante uma humilde e plena submissão de todo o ser do homem àquele que constitui o centro, o coração, a alma da esfera religiosa: Deus.
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